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GUIA CULTURAL

Os Cantos de Maldoror – Lautréamont – Ducasse

O final do século XIX verá seu poeta. Ele nasceu em litorais americanos, na embocadura do Prata, ali onde dois povos, outrora rivais, agora se esforçam para ultrapassar-se no progresso material e moral. Buenos Aires, a rainha do Sul, e Montevidéu, a elegante, estendem-se as mãos amigas através das águas prateadas do grande estuário. Canto Primeiro.

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Diante da dificuldade de classificação, Os Cantos de Maldoror é, antes de tudo, um livro fascinante. Dirigindo-se diretamente ao leitor, a narrativa acompanha o misterioso Maldoror, em diferentes vozes, expressando as múltiplas metamorfoses do personagem. Divididos em seis cantos, carrega elementos sinistros, levando o leitor ao vislumbre de cenas brutais que se desenrolam em meio a um bestiário de aranhas, caranguejos, sapos e cães que nos tocam com suas garras, presas e ventosas. Um livro estranho e extraordinário.

Acrescenta-se a esse fascínio a própria história do autor, ou melhor, a ausência de informações sobre o poeta, cuja origem, durante muito tempo, foi completamente ignorada. Hoje sabemos que Conde de Lautréamont foi o pseudônimo utilizado pelo uruguaio Isidore Ducasse na edição completa de Os Cantos de Maldoror, feita pelo impressor belga Albert Lacroix, em 1869. Essa primeira edição não chegou ao público leitor, pois o editor, temendo processos, impediu a circulação. Só em 1890, pelas mãos de Leon Genonceaux, editor parisiense, que o livro ganhou nova edição e começou a circular, encantando gerações de artistas e transformando-se em verdadeiro objeto de culto entre os surrealistas, como, por exemplo, André Breton e Louis Aragon.

Isidore Ducasse nasceu em 1846 , filho de François Ducasse, funcionário do consulado francês em Montevidéu e de Célestine Jacquette Davezac, “uma cortadora de vestidos” que faleceria poucos meses depois de Isido-

O Enigma de Isidore Ducasse. O fotógrafo Man Ray reconstruiu este múltiplo no ano de 1920. Uma máquina de costura, coberta por feltro que nos remete a frase do poeta Lautréamont, que inspirou muitos surrealistas. “Belo como o encontro de uma máquina de costura e um guardachuva numa mesa de autópsias.” re nascer, sob suspeita de suicídio. Em 1859, aos 13 anos, foi enviado para França na região dos Pirineus, de onde vinham seus pais, na condição de estudante de colégio interno. Depois de um breve retorno a Montevidéu, em 1867, se encontra em Paris, onde, além de Os Cantos, publica em 1870, Poesias I e II, desta vez assinando com seu nome próprio. Poucos meses depois, falece no seu quarto, em circunstâncias ainda não completamente esclarecidas. Somado a essas parcas informações há outros poucos vestígios que foram sendo encontrados por obsessivos pesquisadores no último século, mas que não acrescentaram muito além disso.

A grande pergunta que acompanha os estudos da obra é exatamente a respeito de como um tão jovem escritor foi capaz de escrever um livro com tamanha intensidade e desespero. Um texto que para ser lido, como recomenda Cláudio Willer, o leitor precisa estar preparado para uma narrativa que só obedece à lógica do delírio e da negação. Trata-se de uma poesia que leva

RICARDO MACHADO é Doutor em História pela UFSC e professor na UFFS. Seus interesses estão relacionados à Teoria da História e à História da Arte. Atualmente é curador da Livraria Humana em Chapecó.

ao impossível. De modo que, mais do que uma reflexão sobre a literatura, os cantos de Maldoror são uma forma de rebelião extrema contra a sociedade e o mundo.

Talento catarinense no cenário nacional da música

Pega o café e vamos falar de música!

JANA MÔNEGO é jornalista, mãe do Pedro. Apaixonada por música, café e boas histórias.

Sempre gostei de valorizar o trabalho de quem está aqui pertinho, afinal, são tantos talentos catarinenses que brilham e batalham pela carreira musical. Nesta edição, escolhi escrever sobre um xanxerense que conheço há muito tempo. Pude ouvir a voz e prestigiar apresentações ainda no colégio, nos incríveis festivais estudantis do La Salle. Hoje, o cenário musical nacional ganha um talento catarinense que começou a se formar aos quatro anos e se apaixonou pelo violão e pelo canto. Augusto Gallon é a nova voz que vem fazendo sucesso neste cenário. Aos 22 anos, Augusto reside em São Paulo, onde se prepara para lançar três novos singles que contam com a produção artística de Leonardo Faé. Catarinense de Xaxim, Faé reside em São Paulo há 14 anos, onde se tornou produtor da cantora Tânia Mara e do diretor global Jayme Monjardim. O time de Augusto também conta com a produção musical de Thiago Gimenes, já conhecido no cenário pelos trabalhos de composição para novelas globais como Flor do Caribe, Em Família, Tempo de Amar e outras.

O repertório é eclético, com o pop e romântico, mas também com batidas eletrônicas que contrastam com os últimos lançamentos de 2020 e 2021, estes, inspirados na surf music. Em 2022, Augusto Gallon lançou o single Ouvir Sua Voz, que ganhou as plataformas em abril. Em julho veio Eu Sinto Falta, com videoclipe dirigido por Lennon Silva. Em outubro chega o terceiro single, que é uma aposta para o verão.

Nós ficamos por aqui, ansiosos com as novidades e torcendo pelo sucesso do Augusto Gallon.

The Offer

Mais uma merecida ode a O Poderoso Chefão.

e você gosta de filmes de gângsters, bom humor e considera – assim como nove entre 10 especialistas S – que a trilogia The Godfather é um dos melhores trabalhos de todos os tempos em termos de cinema, você precisa assistir The Offer.

A minissérie retrata os bastidores e os desafios que a equipe responsável pela obra-prima das telonas enfrentou para tornar O Poderoso Chefão realidade. Desde o processo criativo do escritor Mario Puzo, que foi considerado um traidor pela máfia que ele retratou corajosamente em seu livro, passando pelas dificuldades financeiras da Paramount, que não fazia um filme de sucesso há muito tempo, a série pincela referências aos filmes a todo momento, desde as mais sutis até as mais claras.

Também vemos, é claro, o diretor Francis Ford Coppola, magistralmente interpretado por Dan Floger (Animais Fantásticos) explicando suas ideias para o filme, mostrando que a genialidade que vemos na tela é mesmo fruto de sua criatividade e competência sem pares, mas principalmente de sua visão diferente do cinema e do mundo real.

Disponível no Paramount+, a minissérie explica também, para os que têm interesse nisso, todo o processo produtivo de um filme, desde convencer os executivos do estúdio a contratar os atores que você, como diretor, acredita que sejam os adequados, até conseguir que aqueles cujos interesses são contrários ao seu filme (no caso deste, os verdadeiros mafiosos) permitam que você o faça.

Tudo isso com um trilha sonora animadora, com o melhor do rock anos 70 e sem cair em nenhum momento em tecnicismos que não interessem e façam perder o ritmo. Você assiste leve, rindo, curtindo a beleza da narrativa. Vale a pena rever O Poderoso Chefão em qualquer momento, mas vale ainda mais revê-lo antes de assistir a essa maravilha de série em 10 capítulos.

ELVIS PICOLOTTO é membro fundador do Núcleo de Estudos em Cinema da UPF e gerente de comunicação na Berenice Criativa.

Xeque-mate!

Conheça a história do Clube de Xadrez de Chapecó.

MARCO BARBOSA trabalha como técnico de xadrez desde 1985, detém o título de Treinador Internacional da Federação Internacional (FIDE) desde 2005.

Em 16 de março de 1984, um grupo de aficcionados à modalidade de xadrez se reuniu e fundou o Clube de Xadrez de Chapecó. Isso mudou a história esportiva catarinense, brasileira e continental na modalidade, colocando Chapecó no radar dos grandes centros que dominam o esporte.

Desde então, Chapecó surgiu com força no cenário enxadrístico catarinense, confrontando grandes tradições. A partir daí, a modalidade foi se firmando no município e ocupando espaços, sendo hoje a 4ª cidade que mais marcou pontos nos Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC) de xadrez nestes 31 anos, ficando atrás apenas do “trio de ferro” – Blumenau, Joinville e Florianópolis. Normalmente, temos conseguido ser a 1ª ou 2ª cidade “só de catarinenses” nos JASC. A nível nacional, somos uma das cidades “não capitais” que mais tem enxadristas na lista internacional, contando com dois Mestres da Federação Internacional (FM = Fide Master) e um Treinador da Federação Internacional (Fide Trainer). Vale lembrar que em 2022 completamos 30 anos que o chapecoense Rodrigo Fontana sagrou-se o primeiro catarinense a ser campeão brasileiro em uma categoria “de menores” na história. O hoje Doutor em Física e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também foi o mais jovem enxadrista a se classificar à final do estadual adulto catarinense, em 1993, aos 11 anos de idade, detendo ainda este recorde.

Em 33 edições dos Joguinhos Abertos, Chapecó foi 16 vezes ao pódio de equipes no masculino e duas vezes no feminino. Atualmente o xadrez tem “garimpado” talentos dentro do Programa Atleta do Futuro (PAF), que é mantido pela Prefeitura de Chapecó, passando por ambos os Jogos Escolares de Santa Catarina (JESC) 14 e 17 e a Olimpíada Estudantil Catarinense (OLESC), culminando ao entrarem para e equipe de Joguinhos, sendo que muitos são aproveitados nas equipes de JASC, posteriormente. Dentro do PAF chegamos a atingir 300 crianças durante o período da pandemia (presencial e online).

Chapecó já foi campeã nos JESC e representou Santa Catarina nos Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs) em 1994, 2003, 2004 e 2008. E se há uma competição emocionante e envolvente, são os Parajasc. Já fomos campeões nos segmentos deficiência auditiva (DA), física (DF) e visual (DV) em várias ocasiões.

Chapecó formou também dois campeões Pan Americanos (Rodrigo Fontana em 1994 e Diego Pretto em 2000), e teve 11 representantes oficiais do Brasil em Mundiais e Pan (Rodrigo Bedin, Pietro Zottis, Raquel Pértile, Simone Pértile, Diego Pretto, Rodrigo Fontana, Fabio Moro, Gediel Luchetta, Katiucia Zanini, Dalvan Franceschina e Derlei Florianovitz).

Nosso município é referência na região e no Sul do Brasil, tanto enquanto clube quanto em escolas.

A modalidade tem mantido escolinhas em vários pontos da cidade, através da Fundação Municipal de Esportes, com vários polos do PAF, totalizando, no momento, 110 crianças e adolescentes envolvidos.

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