E-book - Tendências no mercado de ingredientes: soluções em saudabilidade e sustentabilidade

Page 1


Tendências no mercado de ingredientes: soluções em saudabilidade e sustentabilidade

Introdução

Nootrópicos: alimentos que prometem melhora intelectual

Impasses na inovação

Redesenho de alimentos

Resultados do redesenho de alimentos

Quais alimentos podem ser repensados

Ingredientes orientais para combate ao estresse

Ingredientes orientais para saúde hepática

Ingredientes orientais para saúde intestinal

Introdução

Novos ingredientes surgem em escala industrial, literalmente. Afinal, a capacidade de a indústria criar tem avançado em proporção geométrica nos últimos anos, com o apoio das novas tecnologias. Contudo, o que mais tem se destacado não são os ingredientes sintéticos de nomes complicados, mas, sim as soluções naturais.

Isso acompanha a tendência por um consumo mais consciente, tanto do ponto de vista ambiental quanto de saúde para quem consome. Foi-se o tempo em que só o sabor e a satisfação geriam o gosto do consumidor. Hoje, é preciso entregar tudo isso e muito mais.

Para saber o que exatamente significa esse algo a mais que o consumidor busca, a equipe da Fi South America foi para o Japão em companhia da Equilibrium. Diane Coelho, gerente da FiSA, conta que a ideia de ir até o outro lado do mundo foi “trazer o olhar que traduz e conecta com o mercado local”.

Além disso, Coelho destacou que o Japão tem investido durante muito tempo em produtos mais inovadores com foco em saudabilidade. “Fomos buscar diretamente na fonte. É um mercado tão bem posicionado nas partes de investimentos, P&D e inovação quanto na parte de consumo”, acrescenta. Nesse sentido, o ebook a seguir traz ingredientes para o setor de alimentos disseminados no Japão que buscam incrementar a saúde física e mental das pessoas.

A busca por ganhos relacionados à saúde física

já é conhecida. Agora, está sendo intensificada a busca por ingredientes que incrementam também a saúde e o desempenho do cérebro. Assim como no Japão, os Estados Unidos têm avançado rapidamente nessa direção, utilizando ingredientes que são acessíveis aos brasileiros e, por isso, também podem ser usados por aqui.

Augusto Ichisato, engenheiro de alimentos, executivo na FoodBrasil e colunista do Food Connection, menciona a tendência dos nootrópicos

na maior economia do mundo. Esses produtos estão relacionados ao desempenho cognitivo, aumento da concentração e do rendimento.

“Isso é uma tendência que já vem muito forte, de vários anos, que é a melhora de performance esportiva e da estética. Agora, essa é uma nova tendência, a melhora da performance intelectual através de alimentos, e eu acho que tende a ter muito apelo para a população no geral”, diz Ichisato.

Outra tendência para a qual a indústria brasileira deve se preparar é a de redesenho de alimentos.

Pelo mundo, grandes marcas estão sendo desafiadas a incluir ingredientes mais sustentáveis e saudáveis em seus produtos finais. E isso tem exigido não só tecnologia e processos bem elaborados, mas mudança de cultura. E, além de entregar saúde e sustentabilidade, os novos produtos prometem aumentar o aporte de substâncias carentes à maioria da população.

“Que tal pensar em um alimento proteico cuja maior parte dos ingredientes venha de sistemas que possuem indicativos de resultados regenerativos para a natureza?”, propõe Gustavo Righeto Alves, gerente de Inovação e Comunidades para América Latina da Fundação Ellen MacArthur.

Ele menciona a busca por ingredientes que possam ser reaproveitados e que sejam biodiversos “para enriquecer e diferenciar, e que seja comercializado em uma embalagem que não contenha plásticos problemáticos ou desnecessários”.

A meta é ambiciosa, mas a evolução da indústria de alimentos pelo mundo permite pensar que as soluções serão apresentadas em breve. Confira no ebook a seguir mais sobre essa busca pelo saudável, sustentável e nutritivo que está movimentando a indústria de alimentos.

Nootrópicos: alimentos que prometem melhora intelectual

Os produtos sem açúcar, sem lactose, sem glúten, sem adoçantes, sem corantes podem ganhar algum impulso com a imposição do rótulo frontal, que tem denunciado com mais eficiência produtos que levam essas substâncias em grande quantidade. Nesse mesmo sentido, é esperado o avanço de produtos naturais e saudáveis.

Mas a grande novidade deve ser os alimentos nootrópicos, relacionados à saúde do cérebro, desempenho cognitivo, aumento da concentração e do rendimento. Entre esses alimentos estão algumas espécies de cogumelos in natura ou em extrato, com destaque para o cogumelo conhecido como juba de leão.

Ichisato ressalta que o ingrediente pode ser inserido nos alimentos, contudo, a Anvisa não

liberou a alegação de que o produto incrementa o desempenho intelectual. Na prática, isso altera apenas as estratégias de comunicação, mas as empresas podem comercializar o produto.

Um alimento nootrópico bastante conhecido é o café. Contudo, o produto não é associado ao termo simplesmente porque, no Brasil, não há o costume de utilizar essa expressão.

“A cafeína oferece maior capacidade de concentração, tem muita comprovação sobre isso, e ela é amplamente utilizada, embora sem o termo nootrópico, que eu acho que passará a ser uma tendência, assim como nos Estados Unidos, onde (o termo) é muito utilizado”, detalha o engenheiro de alimentos.

“Uma tendência que já vem muito forte, de vários anos, é a melhora da performance esportiva e da estética. Agora, essa é uma nova tendência, a melhora da performance intelectual através de alimentos, e eu acho que tende a ter muito apelo para a população no geral”

Augusto Ichisato, engenheiro de alimentos, executivo na FoodBrasil e colunista do Food Connection.

Impasses na inovação

Ichisato ressalta que o Brasil tem dificuldades em promover a inovação de maneira rápida no setor de alimentos. Ele diz que as inovações nos grandes centros econômicos demoram de dois a três anos para chegarem aqui, mesmo com a internet ajudando a disseminar as informações. “Não só pela falta de velocidade e amadurecimento do mercado, mas também pela regulação”, explica.

Ele diz que o Brasil é muito lento na aprovação de novos produtos e ingredientes, enquanto os países que são referência em inovação colocam os produtos no mercado com muito mais agilidade.

Embora destaque um ponto controverso: países como os Estados Unidos não têm problemas em colocar à venda produtos ainda não aprovados.

Redesenho de alimentos

A inclusão de itens como extrato de cogumelo tem como finalidade mudar a composição dos alimentos para algo mais efetivo, saudável e sustentável. Iniciativas como essa são consideradas pelo Instituto Ellen MacArthur como essenciais para a revolução alimentar que o mundo precisa promover a fim de evitar o colapso ambiental e de saúde pública.

“Estamos convocando empresas e varejistas de alimentos a redesenhar nosso sistema alimentar para permitir que a natureza prospere”, diz o instituto em comunicado.

O instituto alerta que, da maneira como está estruturada historicamente, a indústria alimentícia é uma das maiores responsáveis pela perda de biodiversidade. Assim, o setor responde por um terço das emissões globais de gases de efeito estufa.

Nesse sentido, a fundação, em parceria com a Sustainable Food Trust, lançou o Big Food Redesign Challenge para catalisar e inspirar a indústria alimentícia a construir um sistema alimentar melhor que regenere a natureza, com base nos princípios de uma economia circular.

“O desafio reúne produtores, varejistas, startups e fornecedores ambiciosos para projetar novos produtos alimentícios – ou redesenhar os existentes –para regenerar a natureza”, explica o instituto.

O projeto é dividido em três fases: design, produção e varejo. “Atualmente, estamos na fase de produção, onde mais de 150 produtos de mais de 60 organizações estão dando vida aos seus produtos”, explica o comunicado da empresa.

“Ao repensar os ingredientes que usam e como seus produtos são feitos, as marcas de alimentos e supermercados têm o poder de tornar a comida positiva para a natureza. Elas podem fornecer escolhas que são melhores para os clientes, melhores para os agricultores e melhores para o clima”

Perfis de ingredientes sustentáveis

• Ingredientes de menor impacto: aqueles cujo cultivo tem um impacto ambiental mais positivo em comparação a ingredientes mais convencionais.

• Ingredientes diversos: representam as espécies atualmente menos encontradas no sistema alimentar, incluindo variedades genéticas diversas adaptadas aos diferentes contextos locais, como tipos de solo e clima, a fim de promover a biodiversidade

• Ingredientes reaproveitados através do upcycling: são aqueles que de outra forma não seriam destinados ao consumo humano, mas que podem ser incorporados à produção de um alimento e são adquiridos e produzidos a partir de cadeias de valor verificáveis e têm um impacto positivo no meio ambiente.

Definições da Fundação Ellen MacArthur

Instituto Ellen MacArthur

“Cada vez mais as empresas estão se abrindo para repensar seus portfólios de produtos pensando em como ser positivo para a natureza dentro disso tudo. As empresas querem, as empresas tentam. E isso é muito importante”

Gustavo Righeto Alves, gerente de Inovação e Comunidades para América Latina da Fundação Ellen MacArthur.

Resultados do redesenho de alimentos

Essa aplicação do design circular de alimentos poderia resultar em uma redução de 50% da perda de biodiversidade, 70% das emissões de gases de efeito estufa, além de aumento de 50% da produção total de alimentos e da lucratividade do agricultor por hectare, após um período de transição.

Essa análise foi feita pensando em quatro exemplos de ingredientes: trigo, laticínios, batatas e adoçantes no Reino Unido e na União Europeia. Os dados são da Fundação Ellen MacArthur. Assim, o impacto pode ser muito maior se consideradas as regiões mais profícuas na produção de alimentos, como a América Latina. Mais especificamente, o Brasil.

Assim como toda transição, esse redesenho envolve custos e esses custos devem ser identificados por parte das empresas e devem ser considerados nessa estratégia de inovação.

Gradativamente, as empresas vão aumentando os investimentos na produção de produtos que possuem um impacto climático melhor ao passo que começam a capturar valor sobre esses produtos. Além disso, o poder público também pode contribuir com mecanismos que facilitem essa transição, como incentivos para produtos e produções que tragam resultados regenerativos.

Segundo a Ellen MacArthur, o projeto tem sido um laboratório, uma oportunidade única de ver, na prática, como a mudança pode acontecer. “Nesse processo, vimos todas as decisões que foram fáceis ou difíceis de serem tomadas, onde estão os entraves, quais as oportunidades, e como tudo isso impacta no custo do produto”.

Além disso, o projeto tem procurado soluções para que esse custo seja cada vez mais acessível ao consumidor.

Quais alimentos podem ser repensados

Gustavo Alves, da Fundação Ellen MacArthur, diz que “não existe uma categoria que precisa ser redesenhada com mais urgência do que outra.

A crise climática é iminente e precisamos de urgência para a transformação em todas as áreas possíveis”.

O que ele vê é que existem oportunidades que podem ser aproveitadas em diversos segmentos. “Por exemplo, há uma tendência de busca por alimentos que entreguem a maior quantidade de proteínas na menor quantidade de calorias possíveis”, explica Alves.

“Que tal pensar em um alimento proteico cuja maior parte dos ingredientes venha de sistemas que possuem indicativos de resultados regenerativos para a natureza, cujo ingrediente principal seja um aproveitamento de algo que seria desperdiçado, que traga diversos ingredientes da biodiversidade brasileira para enriquecer e diferenciar e que seja comercializado em uma embalagem que não contenha plásticos problemáticos ou desnecessários? Essa é a reflexão que queremos gerar com o design circular de alimentos”

Gustavo Righeto Alves, gerente de Inovação e Comunidades para América Latina da Fundação Ellen MacArthur

Ingredientes orientais para combate ao estresse

Anteriormente, este ebook mencionou tendências nos Estado Unidos. Mas as inovações não vêm só do Norte, mas também do Oriente. Em viagem para a Hi Japão, feira de ingredientes organizada pela Informa Markets, a equipe da FiSA em parceria com a Equilibrium, trouxe insights para tendências que podem ser absorvidas também pela indústria brasileira.

Nesse sentido, vale mencionar que o Japão possui uma longa tradição de plantas e ingredientes que promovem o relaxamento e ajudam a reduzir o estresse. Ingredientes como o famoso Matcha, além de outros como Ashitaba (Angelica keiskei), Shiso (Perilla frutescens), Kava Kava (Piper methysticum) - embora originalmente da Polinésia, a kava é popular no Japão -, Yuzu e Raíz de Kudzu (Pueraria lobata) são opções para quem busca alimentos que ajudem a aliviar a pressão do dia a dia e outras alegações.

Mas o que mais chamou a atenção foi o Venetron da Takiwa, que promete benefícios para relaxamento e redução de estresse. O Venetron® é um extrato natural derivado das folhas de Apocynum venetum L., popularmente conhecido como Rafuma, uma planta tradicionalmente usada na medicina asiática para aliviar sintomas de ansiedade e promover o relaxamento.

Suas folhas são utilizadas como chá na China e Japão, e, além de suas propriedades relaxantes, são conhecidas por ajudar na melhora da qualidade do sono e na regulação da pressão arterial.

Estudos clínicos demonstram que o Venetron ajuda na redução do estresse e na melhora da concentração e foco, especialmente em situações de pressão. Um dos principais estudos apresentou os efeitos do Venetron em uma avaliação de estresse psicológico usando o Uchida-Kraepelin, um teste cognitivo desafiador conhecido por

induzir estresse. Os participantes que ingeriram Venetron (50 mg/dia) relataram uma redução significativa em sintomas de estresse, como nervosismo, inquietação e irritabilidade, quando comparados ao grupo placebo.

No Brasil, ele já é encontrado em farmácias de manipulação para ser usado de forma prescritiva por médicos.

Ingredientes orientais para saúde hepática

A Organização Mundial da Saúde destaca que o Japão registra uma das maiores incidências de doenças hepáticas no mundo devido ao consumo regular de álcool, (cerca de 6,6 litros per capita/ ano), que tem relação direta com doenças como cirrose hepática e câncer de fígado. Além disso, o consumo de álcool no Japão é impulsionado por práticas culturais e sociais, tornando o desafio de reduzir o consumo.

No Brasil, o problema é ainda maior, com consumo alcançando 13,3 litros per capita/ano. Sendo que a média mundial, segundo a OMS, é de 6,2 litros.

Para cuidar da saúde do fígado, a indústria japonesa tem contado com o D- BHB, ingrediente funcional a base de ácido orgânico produzido através da fermentação de matérias-primas como açúcares. Indicado para auxiliar na redução da gordura visceral em indivíduos com IMC mais alto.

• O D-BHB também pode ser ingerido por meio de suplementos. Após a ingestão, ele é absorvido no intestino delgado e entra na corrente sanguínea, onde é distribuído para os tecidos.

• Um estudo administrou 12,9 g de D-BHB diariamente para um grupo de participantes.

• Os participantes eram adultos saudáveis (homens e mulheres) com índice de massa corporal (IMC) entre 23 e 30 kg/m².

• O período de teste foi de 12 semanas, e a gordura visceral foi medida através de exames de tomografia computadorizada (TC).

• Resultados: após 12 semanas, observou-se uma redução significativa na área de gordura visceral dos participantes que consumiram D-BHB, com uma média de redução de 9,6 cm².

• Assim, o D-BHB também passou a ser indicado para controle de peso

Ingredientes orientais para saúde intestinal

Em 2023, o mercado de probióticos no Japão gerou uma receita de aproximadamente US$ 3,15 bilhões e espera-se que alcance US$ 8,21 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 14,7% no período. Entre as tendências está um ingrediente diferente, o sajiberry.

A fruta asiática de sabor levemente doce e ácido é rica em antioxidantes, fibras e compostos bioativos. Os benefícios para a saúde intestinal associados ao consumo do sajiberry são principalmente devido ao seu perfil nutricional, que inclui polifenóis, fibras solúveis e prebióticos naturais. Esses compostos ajudam na promoção de uma microbiota intestinal saudável, favorecendo o crescimento de bactérias benéficas, como os lactobacilos e as bifidobactérias.

Principais benefícios do sajiberry

• Apoio à microbiota intestinal: as fibras prebióticas presentes na fruta servem como alimento para as bactérias benéficas, promovendo o equilíbrio da microbiota e ajudando a inibir o crescimento de microrganismos patogênicos.

• Ação anti-inflamatória: os antioxidantes do sajiberry, como antocianinas e flavonoides, ajudam a reduzir a inflamação intestinal. Esse efeito é benéfico para pessoas com condições como a síndrome do intestino irritável e colite.

• Melhora na digestão e absorção de nutrientes: ao apoiar o crescimento de bactérias benéficas, o sajiberry contribui para uma digestão mais eficiente e uma melhor absorção de nutrientes, especialmente minerais como o cálcio e o ferro.

• Proteção contra doenças intestinais: O consumo regular de alimentos ricos em antioxidantes e fibras, como o sajiberry, pode ajudar a reduzir o risco de doenças intestinais crônicas, como a doença de Crohn e o câncer colorretal.

Conclusão

O mundo está acelerando a criação de novos alimentos, contando com ingredientes naturais para entregar à população as qualidades sempre esperadas para qualquer produto, como textura e sabor, acrescentando valores como sustentabilidade e saudabilidade.

Nesse sentido, Estados Unidos e Japão estão entre os pólos de inovação, apresentando ao mundo tendências importantes. Além de terem suas indústrias desenvolvidas nos âmbitos de pesquisa e desenvolvimento, os países têm um mercado de consumo igualmente desenvolvido, o que ajuda a apostar em novas criações.

O Brasil ainda está em amadurecimento.

Na média, segundo opinião de um dos especialistas consultados para este ebook, as inovações chegam ao Brasil com dois a três anos de atraso. A expectativa é que isso pode ser agilizado nos próximos anos.

Esse delay pode ser uma oportunidade para as empresas do setor. Aquelas que souberem combinar com rapidez e precisão as novas necessidades dos consumidores brasileiros com as tendências em alta das grandes economias podem saltar à frente da concorrência e se tornar referência em novos alimentos.

Isso pode ser decisivo no atual momento de revolução alimentar pelo qual passamos.

Quer mais informações sobre a indústria de alimentos, bebidas e ingredientes?

Acesse agora

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.