Comentário à Regra da Militia Sanctae Mariae - 21 de setembro de 2016

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que a Igreja esteja em saída, que vá pelo mundo», o que nos mostra desde um enorme contraste que assenta no facto de que «enquanto os discípulos fechavam as portas com medo, Jesus os enviava em missão; [Jesus] quer que se abram as portas e se saia para espalhar o perdão e a paz de Deus, com a força do Espírito Santo». E termina dizendo que «este chamamento é também para nós». Diz-nos ainda que, independentemente da nossa condição de consagrados [à vida sacerdotal, religiosa, ou de leigos], somos muitas vezes levados pela tentação muito grande de permanecer fechados, «por medo ou comodidade, em nós mesmos e nos nossos setores» esquecendo que «a direção indicada por Jesus é de sentido único: sair de nós mesmos», uma direção que se encontra patente no Evangelho que nos diz o Papa ser o «livro vivo da misericórdia de Deus que devemos ler e reler continuamente, [e que] ainda tem páginas em branco no final: permanece um livro aberto, que somos chamados a escrever com o mesmo estilo, isto é, cumprindo obras de misericórdia». É preciso notar que este envio, esta Igreja em Saída não é uma invenção do Papa Francisco. Desde o Antigo Testamento que somos confrontados com um constante envio: Deus sempre enviou alguém. Enviou Abraão quando lhe disse: «Deixa o teu país, a tua família e a casa de teu pai e vai para o país que te mostrarei» (Gn 12,1). No livro do Êxodo, Moisés ouviu a chamada «Vai! Eu te envio» (Ex 3,10). Enviou também os profetas: Ezequiel: «Filho do homem, Eu te envio aos filhos de Israel» (Ez 2,3), ou Jeremias: «Irás onde eu te enviar» (Jr 1,7). E Jesus, na pessoa dos seus discípulos enviou cada um de nós, cada cristão e cada comunidade na procura de um caminho, de um bom combate, convidando-nos a sair da nossa própria comodidade e ter a coragem de alcançar aquilo que hoje o Papa Francisco define como sendo «as periferias que precisam da luz do Evangelho». O papel do Cristão no mundo de hoje, longe de ser o papel do guerreiro agarrado à sua espada, a impor pela força da arma a Fé, é o de um dialogante sobre as verdades da fé e as questões fundamentais da vida humana. George Augustin, na sua obra "Por uma Igreja em saída", editado pela Paulinas Editora, referese à coragem para falar de Deus dizendo que «os cristãos corajosos devem estar dispostos a encetar com o mundo secular um diálogo intenso sobre os temas centrais da fé cristã. Aqui, não se trata de aspetos de segundo plano, mas das questões fundamentais da vida humana: qual é o sentido da vida? Donde vimos e para onde vamos? Porque é que o ser humano deve agir moralmente? O que é a liberdade e qual é o fundamento que possibilita a verdadeira liberdade? O que significam a redenção e a consumação? E a ressurreição e a vida eterna?» realçando sempre o papel de Deus, anunciando-o «como amor infinito» mostrando que onde «estiver Deus, aí haverá futuro, aí reinará a confiança». Diz-nos ainda este mesmo autor que a nossa principal missão e que nos foi encomendada por Jesus se decide nas perguntas: «Deus existe? Se a resposta for positiva: Quem é Deus? Como é? Como é que o ser humano pode experimentar o seu amor e misericórdia?» e conclui: «Se não dermos resposta a estas perguntas, não vale a pena fazer mais perguntas». Posto isto, relembro a todos que a nossa Regra, a Regra dos Cavaleiros de Santa Maria é também um apelo à SAÍDA… já por várias vezes fomos confrontados com a palavra COMBATE. aparece muitas vezes… Livremente decidimos aceitar este combate. Façamo-lo com a força e o vigor que Deus nos impõe, procurando responder da melhor forma possível à pergunta que o Papa Francisco nos lançou ao terminar a sua homilia aos jovens em Cracóvia: «Como são as


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