Periferia de um Jardim

P E R I F E R I A D E U M J A R D IM

PERIFERIA DE UM JARDIM

CUT VERSION

FILIPA ROSA

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LIVRO PRIMEIRO

UM JARDIM

De acordo com a Bíblia ( Livro do Génesis , cap. 2 e 3), a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal estava localizada no centro do Jardim do Éden, onde Adão e Eva viviam.

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Deus proibiu Adão de comer do fruto dessa única árvore e avisou-o de que, se comesse aqueles frutos proibidos, estaria sujeito à morte.

Eva é tentada pela serpente que lhe diz que eles não morreriam por isso, mas que seriam como os deuses que conhecem o bem e o mal. Então Eva come um fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e dá-o também a Adão.

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Assim nasceu a consciência e com ela o eterno desassossego a que o homem se viu condenado. Nunca mais seria capaz de só existir, ou de não saber dessa existência.

Foi a expulsão para todo o sempre do jardim do Éden.

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Tormentas e buscas não terão fim.

Imagem: Detalhe da capa do livro Sidharta de Herman Hesse, Editorial Minerva, 1982. Pintura de Pedro Metello.

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Deseperadamente, e vezes sem conta, o Homem tentará a aproximação a esse estado primordial.

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LIVRO SEGUNDO

CIDADE

As culturas de humanos crescem e desenvolvem-se em aglomerados capazes de atingir proporções espetaculares.

Imagem: Earth Images | NASA

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São as cidades.

Imagem: Wikimedia Commons

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Nas cidades, o chão está quase totalmente coberto por asfalto, alcatrão, cimento, pedra, ou outro material que consiga conter a vontade errática da Natureza.

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Ela não é bem vinda. O desejo do Homem e o Dela não são compatíveis.

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O Homem ergue muros para cuidar e conservar fragmentos da Natureza, que tanto o fascina e assusta.

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Muros para que Ela não saia, ou que a Cidade e a sua babel entrem por ali adentro.

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O Homem faz com a Natureza o mesmo que com tudo o resto.

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Ele disseca, observa, mede, classifica e analisa metodicamente. A sua sede de conhecimento é insaciável para tudo entender, prever e controlar.

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Dentro dos muros circundantes do jardim monta-se uma vitrina da Natureza, protegida da azáfama criadora e desenfreada da urbe.

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Cá fora, a cadência e o ritmo da cidade não desaceleram.

O ser urbano move-se para cá e para lá, num vai e vem, num sobe e desce constante pelas artérias da arquitetura mutante, que é a cidade.

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Foi o movimento contínuo, do desejo e agitação dos Homens, que construiu as estradas, as ruas e os caminhos...

Imagem: Maxime Hotel Lisboa

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... e refúgios da cidade.

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LIVRO TERCEIRO

DOMUS

Domésticas, são as espécies (plantas ou animais) que são modificadas para servir os interesses do Homem.

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O Seu ‘porto seguro’ é tanto mais seguro e refúgio, quantas mais camadas de tapetes, soalhos, pavimentos ou pisos hostentar.

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[...] Então, “os olhos de ambos abriram-se e eles sabiam que estavam nus”.

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Por definição e condição Ele estará para sempre condenado à periferia de um jardim.

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