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COTIDIANO POLICIAL E REVOLTA DA VACINA Por Daniele dos Reis Crespo Rodrigues João
S
e as reformas urbanas alteraram profundamente a
cheiro dos miasmas que exalavam por todo lugar que se
fisionomia do Rio de Janeiro no início do século
fosse. A modernidade não poderia se esquivar de tão
XX, a Revolta da Vacina interferiu da mesma
grave problema e a reforma urbana tinha que ser aliada
forma na história da cidade. Tal revolta, que parecia fora da nova lógica dos avanços científicos e da capital federal que se modernizava, perpetuou-se na história e no senso comum, seja como exemplo de ignorância ou de vitória popular. A balbúrdia gerada transformou o cotidiano naqueles dias de novembro: transportes destruídos ou sem poder circular, casas de comércio saqueadas, delegacias invadidas, iluminação precária, telefones mudos. Dias de guerra e de estado de sítio. O presente artigo se propõe a uma análise do cotidiano policial no Rio de Janeiro, tendo como fonte os dados colhidos dos registros de ocorrências da 6ª delegacia de polícia São José, nesse tão conturbado período. E através de dados comparativos, observaremos se a revolta, após seu término, influenciou/modificou de alguma forma a ação policial. A Revolta da Vacina O progresso chegava. Era impossível não ouvir a música que o anunciava a cada picareta que encontrava um prédio velho e carcomido, a cada parede que desabava, fazendo subir o adorável pó de onde nasceria a modernidade. Porém, misturado à poeira que construía a beleza e a civilidade havia também o cheiro fétido de valas podres que corriam a céu aberto, o
a uma reforma sanitária.