EVENTOS FEUP - Associações e Núcleos Estudantis 2º
Semestre 2019/20
IACES - INTERNATIONAL ASSOCIATION OF CIVIL ENGINEERING STUDENTS iacesporto.org
ICEC - International Civil Engineering Competition 19 de fevereiro - iaces@fe.up.pt
25 anos IACES – LC Porto 8 a 15 março - iaces@fe.up.pt
Concurso “FotografaCivil” março - iaces@fe.up.pt
JEC - IV Jornadas de Engenharia Civil 15 e 16 abril - iaces@fe.up.pt
AEFEUP - ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES DA FEUP www.facebook.com/aefeup
FEUP Engineering Days - 24 e 25 de março ped.emp@aefeup.pt
NEEEC - NÚCLEO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA E DE COMPUTADORES www.facebook.com/NEEECFEUP
NEEEL IT - 28 e 29 de março | neeec@fe.up.pt
NEEM - NÚCLEO DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA MECÂNICA - neemfeup.pt
Case Studies - fevereiro re@neemfeup.pt
Competição de Mecânica - fevereiro re@neemfeup.pt
Connectingears 2020 - 22 e 23 abril re@neemfeup.pt
NEEA - NÚCLEO ENGENHARIA DO AMBIENTE www.facebook.com/feup.neea
IX Fórum do Ambiente - 11 de março institucional.neeafeup@gmail.com
AGE-I-FEUP - ASSOCIAÇÃO DOS ALUNOS DE GESTÃO E ENGENHARIA INDUSTRIAL DA FEUP www.facebook.com/ageifeuporto
Motivational Weekend - 14 a 16 de fevereiro ageifeup@fe.up.pt
Tour Empresas - 20 e 21 de fevereiro ageifeup@fe.up.pt
Brain Trainer - março ageifeup@fe.up.pt
Company Visit & Business Case - 21 de abril ageifeup@fe.up.pt
Lean Six Sigma Local Course - abril ageifeup@fe.up.pt
“How to be an Entrepreneur” + Networking Session 28 de maio - ageifeup@fe.up.pt
BEST - BOARD OF EUROPEAN STUDENTS OF TECHNOLOGY - UNIVERSIDADE DO PORTO BEST - bestporto.org/website/pt
EBEC Porto - março - geral@bestporto.org
Summer Course - julho/agosto - geral@bestporto.org
JUNIFEUP - JÚNIOR EMPRESA DA FEUP - www.junifeup.pt www.facebook.com/junifeup
Formação em Project Management - 29 de fevereiro e 1 de março - junifeup@junifeup.pt
Another Day at the Office - ADATO - 11 de março junifeup@junifeup.pt
NEB-FEUP/ICBAS - NÚCLEO DE ESTUDANTES DE BIOENGENHARIA - nebfeupicbas.pt
Symposium on Bioengineering - 3, 4 e 5 abril direcao@nebfeupicbas.pt
EN GE NHA RIA 60
Conselho Editorial
Teixeira Lopes, Carlos Oliveira, Manuel Simões e Raquel Pires Equipa Redatorial Raquel Pires e Helena Peixoto noticias@fe.up.pt Design e Produção César Sanches design@fe.up.pt
Colaboram nesta Edição: Egídio Santos, Joana Guedes Pinto, João Pedro Pêgo, Sara Miguel Gonçalves e Susana Neves Publicidade publicidade@fe.up.pt
. Educação, Investigação e Inovação em Engenharia para a Sustentabilidade
John Goodenough - The L’ion King
E FUTURO
Mobilizar o cluster do calçado através da economia circular e a indústria 4.0
Engenharia Humanitária: a tecnologia aliada aos abrigos de emergência
. FEUP e CINTESIS vão criar app capaz de reconstruir a voz natural
NOVOS TALENTOS
Aequitas: um software que revela discriminações em sistemas de inteligência artificial
FEUP À CONQUISTA
. Estudantes da FEUP vencem competição mundial de tecnologia
Entrevista a Adão da Fonseca: “O grande amor é muito focado no rio Douro”
ADN FEUP
contributos da Engenharia para o Desenvolvimento Sustentável
AS NOSSAS PESSOAS
. Embaixadores Alumni @FEUP: Liliana Duarte Entrevista a Luís Valente de Oliveira: “À frente de tudo está a capacidade para aprender a aprender”
. Alumni Career Stories: Sara Dias, a Engenheira Mecânica que garante a manutenção de uma farmacêutica
. Entrevista a Vítor Oliveira: “Existe trabalho de excelência no nosso país”
AS NOSSAS PARCERIAS
Acreditamos no potencial dos alunos das faculdades onde instalamos as nossas antenas 5G
. Pequim - uma viagem ao futuro
AS NOSSAS MEMÓRIAS
Octante com Nónio “Dollond” (1804)
MUITO + QUE ENGENHARIA
. A futura engenheira que promete dar cartas nos Olímpicos de 2020
Os
Em 2015 as Nações Unidas acordaram nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a agenda de ação global até 2030. Estes objetivos são sobejamente conhecidos incluindo a erradicação da pobreza, a proteção do meio ambiente e o combate às alterações climáticas.
As sociedades têm hoje a responsabilidade de pugnar por um mundo mais sustentável, mais inclusivo e mais solidário, em que cada cidadão, começando no seio da família e continuando na educação escolar, seja sensibilizado e motivado para a importância que tem na construção desse mundo. As instituições de ensino superior têm uma particular responsabilidade.
A FEUP tem por missão desenvolver atividades de educação, investigação e inovação em todas as áreas de engenharia, ao serviço das pessoas e da sociedade. Para cumprir esta missão é também necessário um maior desenvolvimento de competências transversais (“soft skills”) por todos mas muito em particular pelos novos estudantes. No presente as nossas atividades estão já a ser alinhadas com os ODS sendo muito importante melhorar a avaliação dos impactos daquilo que fazemos. A FEUP tem de correr o risco de se envolver em mais projetos que considere relevantes para os ODS.
Não há dúvidas que em muitos casos a definição de políticas públicas e a contribuição da engenharia tem sido
EDUCAÇÃO, INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO EM ENGENHARIA PARA A SUSTENTABILIDADE
muito positiva. Veja-se por exemplo a evolução que tem existido na produção de energia de fontes renováveis, no tratamento de efluentes industriais e na qualidade da água dos rios e do mar.
Embora os desafios sejam globais requer-se execução e ações a vários níveis de responsabilidade, incluindo o nacional, organizacional e individual.
Sabemos que em 2018 Portugal tinha 21,6% da população em risco de pobreza, uma pequena evolução positiva dos 27,5% em 2004 (Pordata www.pordata.pt).
Sabemos por exemplo da quantidade de resíduos que são lançados nos mares: “Cada ano, aproximadamente 10 milhões de toneladas de lixo acabam nos mares e oceanos do planeta. Os plásticos, e muito em especial os resíduos de embalagens de plástico, como garrafas de bebidas e sacos não reutilizáveis, são de longe o principal tipo de detrito encontrado no ambiente marinho. E a lista continua: redes de pesca estragadas, cordas, pensos higiénicos, tampões, cotonetes, preservativos, pontas de cigarro, isqueiros descartáveis, etc.” (Agência Europeia do Ambiente www.eea.europa.eu).
Sabemos que Portugal se comprometeu internacionalmente com a “neutralidade carbónica” até 2050, objetivo de redução das emissões de gases com efeito de estufa para que o balanço entre as emissões e as remoções da atmosfera (p. ex.: plantas e árvores) seja nulo (Agência Portuguesa do Ambiente www.apambiente.pt).
Entre as iniciativas da FEUP que já se enquadram nestas perspetivas devo referir a atuação do Comissariado de Responsabilidade Social com diversas ações de apoio aos grupos com esta missão, alguns que aqui existem e outros que nos procuram.
Também o Comissariado de Sustentabilidade desenvolve ações de sensibilização que se têm refletido em alterações de políticas que permitiram por exemplo a redução ou eliminação de recipientes de uso único, em particular de plástico. Este comissariado acolheu na FEUP a 1ª Conferência Campus Sustentável (CCS 2019), sob o tema «Desenvolvimento Sustentável: Instituições de Ensino Superior como Agentes de Mudança». Esta iniciativa surge na sequência da criação da Rede Campus Sustentável, que reúne membros da comunidade do ensino superior nacional.
Considerando o presente contexto cada vez mais exigente em relação ao futuro, as nossas prioridades em educação, investigação e inovação têm de ser mais orientadas para os ODS. Temos uma preocupação intelectual e moral de trabalhar neste sentido. Os nossos projetos de investigação devem criar conhecimento que possa vir a ter impacto na sociedade através da educação e da inovação. Sem esquecer «Eu sou porque Tu és», uma inspiração para Nelson Mandela.
JOHN GOODENOUGH THE L’ION KING
corrente e-
ELETRÓLITO
PAI DAS BATERIAS DE IÕES DE LÍTIO (≈ 1980)
2019
PRÉMIO NOBEL DE QUÍMICA
2014
CARGA
IÕES DE LÍTIO
ÂNODO (-)
SEPARADOR
CÁTODO (+)
BATERIA DE LÍTIO COM ELETRÓLITO VÍTREO SUPERCONDUTOR:
corrente e-
ELETRÓLITO
2015
Helena Braga inicia o trabalho com John Goodenough na Universidade do Texas. Desde então têm vindo a aprimorar as baterias de eletrólito de vidro
Surge uma nova geração de baterias sólidas, patenteada pela U.Porto e pelo LNEG, pela mão de Helena Braga, investigadora e docente da FEUP 500 mil $
John Goodenough doou à FEUP para o desenvolvimento das baterias de eletrólito de vidro ao abrigo da política de mecenato da Faculdade
ÂNODO (-)
CARGA
IÕES DE LÍTIO
SEPARADOR (eletrólito de vidro)
VANTAGENS
+ capacidade
+ económicas
+ ecológicas
CÁTODO (+)
+ densidade energética
+ rapidez no carregamento
Alírio Rodrigues, professor catedrático jubilado, foi distinguido com a Medalha de Excelência em I&D&I, atribuída no 3.º Congresso Internacional de Engenharia Química (CIBIQ 2019) julho 2019
Catarina da Silva Lourenço, mestre em Bioengenharia, conquistou o 1.º prémio do Fraunhofer Portugal Challenge 2019 na categoria de Mestrado novembro 2019
Estudante internacional janeiro
Raquel distinguida
Fraunhofer Portuguesa setembro
Nelson Figueiredo de Pinho, doutorado em Engenharia e Gestão Industrial, recebeu o Platinum Club – Outstanding Achievers da Microsoft, considerado o mais prestigiante prémio da empresa a nível mundial
julho 2019
Humberto Varum, Professor Catedrático do Departamento de Engenharia Civil (DEC) foi selecionado para integrar a Academia de Engenharia do México
janeiro 2019
Alumni da FEUP dominam Prémios REN 2019 ao arrecadar quatros dos seis galardões atribuídos este ano às melhores teses de mestrado e doutoramento na área da energia dezembro 2019
FEUP NO MUNDO
para
Estudante da FEUP Miguel Ramalho vence prémio internacional em Computação Quântica janeiro 2019
Raquel Rodrigues, doutorada em Engenharia Química e Biológica, foi distinguida pela Sociedade Portuguesa de Engenharia Biomédica e pela Fraunhofer AICOS com o prémio de Melhor Tese de Doutoramento Portuguesa em Engenharia Biomédica setembro 2019
André Furtado, estudante de doutoramento em Engenharia Civil conquistou o Buildings Travel Award 2019, destinada aos melhores trabalhos de investigação na área dos edifícios março 2019
A aplicação “Anda”, criada pelos Transportes Intermodais do Porto em colaboração com a FEUP, foi premiada na 7.ª edição dos ‘Calypso Awards’, destinados a soluções inovadoras para transportes públicos dezembro 2019
Investigador do Departamento de Engenharia Civil José Correia foi distinguido por Universidades Chinesas pelos contributos científicos nas áreas da fadiga, fratura e integridade estrutural julho 2019
A equipa “FEUP Masters” sagrou-se campeã europeia de League of Legends, o torneio universitário de desportos eletrónicos junho 2019
Teresa Restivo, investigadora do Departamento de Eng.ª Mecânica, recebeu o prémio ‘Adolf Melezinek’ como reconhecimento da longa e ativa cooperação que tem mantido com a Sociedade de Pedagogia em Engenharia setembro de 2019
Mobilizar o cluster do calçado através da economia circular e a indústria 4.0
Um consórcio de 23 empresas nacionais ligadas ao setor do calçado quer mobilizar o setor e contribuir para inovar ao nível do design e produtos, materiais e componentes, bens de equipamento e processos, modelos de negócio, economia digital e desenvolvimento sustentável e responsável.
Só nos primeiros sete meses do ano as empresas portuguesas de calçado exportaram quase 50 milhões de pares de sapatos. É dos mercados extracomunitários que vêm as boas notícias: as vendas para os Estados Unidos crescem 17,6%, para 47,2 milhões de euros, e aumentam 45% para a China, que comprou, neste ano, mais de 17 milhões de euros em calçado português.
É um setor estratégico para Portugal que mobiliza 278 empresas, 14 mil postos de trabalho e um volume de negócios anual de 1100 milhões de euros. Para se manter competitivo, o cluster tem que apostar na criatividade, dominar todo o processo de produção e o ciclo de vida do produto, adicionando valor
em cada fase e abraçando os desafios, tendências e oportunidades sociais, de mercado, tecnológicas, a indústria 4.0 e a economia circular.
É neste contexto que surge o FAMEST – Footwear, Advanced Materials, Equipments and Software Technologies – um projeto promovido por um consórcio de 23 empresas nacionais com o objetivo de impulsionar o cluster do calçado e da moda e que abrange investigação em todo o processo de produção e ciclo de vida do produto. A Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) integra o FAMEST GREEN (uma das seis áreas em que se divide o projeto), especialmente direcionado para a reciclagem e valorização dos resíduos gerados pelo processo produtivo e consumo.
Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservadosSabia que...
O FAMEST é promovido por um consórcio de 23 empresas de toda a cadeia de valor do calçado: couros, palmilhas, solas, produtos químicos, software, equipamentos, logística e calçado, representativas e líderes nos seus setores, e nove entidades de I&DT com competências multidisciplinares que asseguram o desenvolvimento de resultados inovadores e a sua valorização económica pelos promotores nos mercados nacional e internacional.
Maiores clientes
A França mantém-se como o grande comprador de calçado made in Portugal com 9,7 milhões de pares no total de 236 milhões de euros? Alemanha e Países Baixos surgem em segundo e terceiro lugar no ranking, com compras de 197 milhões e de 160 milhões de euros cada. Mas, em quantidade, são os nossos vizinhos espanhóis que mais compram: 10,3 milhões de pares, mas pelos quais pagaram apenas 94,8 milhões de euros.
“Na indústria europeia de calçado estima-se a produção de cerca de 100 a 200 mil toneladas de resíduos de couro por ano, o que representa um custo na ordem dos 4 a 10 milhões de euros”, adverte Carlos Fonseca do Departamento de Engenharia Metalúrgica e Materiais e responsável pelo projeto na FEUP.
Mas há ainda outros resíduos de materiais poliméricos e compósitos aplicados em solas e palmilhas resultantes da união de espumas e têxteis que é preciso ter em conta, além do problema da gestão do calçado no fim do seu ciclo de vida. Para os investigadores da Faculdade de Engenharia é fundamental encontrar uma alternativa mais sustentável e assente na reciclagem para fabrico de novos materiais, em vez de se continuar a depositar a generalidade dos resíduos em aterros, desperdiçando o seu conteúdo material e energético.
Com um financiamento de 6 milhões de euros, o FAMEST GREEN está à procura de soluções que reduzam o consumo de matéria-prima na indústria do calçado. Para os investigadores uma das prioridades é a valorização de resíduos de couro através da produção de compósitos couro/borracha, já que isso poderá significar a transformação de um excedente de produção num produto com valor acrescentado, além de um vasto conjunto de interesses sociais e ambientais. Esta atividade conta com a colaboração da empresa Atlanta - Componentes para Calçado, Lda.
Outro dos objetivos do projeto é a valorização dos polímeros resultantes de resíduos e excedentes da produção de calçado, nomeadamente do EVA (acetato-vinilo de etileno) e poliuretano termoplástico. A equipa da FEUP, em estreita colaboração com investigadores do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e com a empresa Faprel, Lda, estão a
trabalhar no sentido de desenvolver estratégias de ligação eficaz entre estes e os componentes do betão, de modo a obter compósitos com boas propriedades mecânicas.
A incorporação de resíduos poliméricos ou outros em betão tem sido, aliás, uma técnica frequentemente usada para dar propriedades específicas ao betão (por exemplo, baixa densidade ou resistência a vibrações melhorada), ao mesmo tempo que valoriza resíduos de materiais tão diversos como os excedentes na produção do calçado (por exemplo, EVA e poliuretano). “A incorporação de polímeros tem sido bastante estudada, dados os problemas ambientais que levantam, tendo-se verificado que a densidade do betão diminui com o aumento da percentagem de polímero adicionado, dando origem a um betão leve e com menor condutividade térmica, embora com inferiores propriedades mecânicas”, explica o investigador da FEUP.
O projeto FAMEST acaba por preconizar uma tentativa de modernização do setor, sendo para isso fundamental que nesta fase se considere toda a cadeia de valor do calçado e os aspetos ambientais, desde a seleção das matérias-primas (passando pelo fabrico, a embalagem, o transporte e distribuição, a utilização e manutenção) até ao fim de vida do produto.
Certo é que para garantir a competitividade internacional do cluster do calçado, a aposta terá de forçosamente incidir na qualidade dos produtos de modo a que se tornem competitivos e superiores aos da concorrência.
famest.ctcp.pt
Engenharia Humanitária: a tecnologia aliada aos abrigos de emergência
O conceito está testado. A ideia de base é a criação de um abrigo de emergência com recurso a tecnologias inovadoras como a impressão 4D. Principais vantagens? A possibilidade de estas estruturas passarem a ser auto-montáveis, multifuncionais e até autorreparáveis. O registo de patente foi já submetido.
Oelevado número de desalojados devido a conflitos ou desastres naturais não pára de aumentar exponencialmente. De acordo com o relatório recente da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) o número de pessoas afetadas por guerras, perseguições e conflitos superou a marca dos 70 milhões, em 2018. “O que os dados revelam é uma tendência de crescimento no longo prazo do número de pessoas que necessitam de proteção”, pode ler-se no relatório.
A estes números impressionantes acresce ainda o fator tempo que é sempre pouco quando estamos a lidar com situações de emergência grave: numa altura em que praticamente tudo falha, é necessário criar soluções estruturais e que consigam ser mais eficazes do que as tendas em lona e com estruturas improvisadas pelos locais.
Um projeto de investigação no âmbito do Mestrado em Design Industrial e de Produto das Faculdades de Engenharia (FEUP) e Belas Artes da U.Porto, encabeçado por Alice Costa, pode muito bem ser a primeira tentativa para solucionar este problema. A proposta assenta essencialmente em “tecnologias inovadoras como a impressão 4D, onde é possível desenvolver estruturas 3D usando materiais com memória que
podem reagir posteriormente a estímulos ambientais como a água, luz, calor”, explica a aluna. “Ao contrário da impressão 3D que é estática, o fator tempo acrescenta uma dimensão 4D, fazendo com que estruturas possam ser automontáveis, multifuncionais ou até autorreparáveis”, salienta Alice Costa.
Foi desenvolvido um caso demonstrativo deste processo a uma escala adequada através da impressão com filamentos, nomeadamente ácido polilático (PLA) e polímeros com memória de forma (SMP) e validado o conceito sobre a possível aplicação da impressão 4D utilizando filamentos SMP no desenvolvimento de estruturas de fácil transporte e montagem para situações de emergência.
Sob orientação de Jorge Lino, diretor adjunto do Mestrado em Design Industrial e de Produto e também do Design Studio da FEUP, António Torres Marques e Bárbara Rangel, investigadores e professores da FEUP, o trabalho de investigação de Alice Costa permitiu validar um conceito inovador no que toca à montagem destes kits de emergência em situação de crise humanitária e lança, ao mesmo tempo, sugestões para a melhoria das propriedades “de rigidez e resistência específica que podem ser obtidas com a utilização de materiais compósitos”.
FEUP e CINTESIS vão criar app capaz de reconstruir a voz natural
É um projeto de investigação que procura ser uma solução para pacientes que sofrem de afonia temporária ou permanente. O sistema funcionará como um “amplificador modificado, mas inteligente”, capaz de projetar e de corrigir a voz, devolvendo a sua sonoridade natural.
Não ter voz pode ser um pesadelo. Afeta a comunicação e a autoestima, promove a frustração e pode desencadear a depressão. Para dar resposta a milhões de pessoas que são afetadas por falta de voz – ou voz disfónica – um grupo de investigadores portugueses está a desenvolver um projeto que tem por objetivo criar um sistema inovador para a reconstrução da voz natural.
Designado por DyNaVoiceR, o projeto reúne engenheiros, médicos especialistas em otorrinolaringologia e terapeutas da fala, da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Universidade de Aveiro, respetivamente. “O objetivo é criar um assistente tecnológico avançado que converta sinais de fala sussurrada em sinais de fala natural”, adianta Aníbal Ferreira, investigador principal e professor da (FEUP), realçando que “não se conhece nenhum sistema eficaz que dê solução convincente ao problema da comunicação oral dos pacientes com voz disfónica”.
Na prática, o projeto quer criar uma app que se apresente como uma solução para todos aqueles doentes que sofrem de um tipo de voz disfónica particular: a afonia (temporária ou permanente), que pode resultar de doenças oncológicas (como o cancro da tiroide ou da laringe), de transtornos neurológicos (como esclerose múltipla ou Parkinson), distúrbios psicológicos (como a ansiedade), entre outras causas.
“A voz é produzida pela vibração do ar que é expulso dos pulmões pelo diafragma e que passa pelas pregas vocais sendo depois modificado pela língua, palato e lábios. A emissão de uma voz saudável designa-se por eufonia, enquanto uma voz ‘doente’, ou seja, com algumas das suas características alteradas, tem o nome de disfonia”, explica Jorge Spratley, médico otorrinolaringologista e investiga-
dor do CINTESIS, responsável pela área clínica do projeto. As pessoas que sofrem de afonia de forma crónica, falando através de sussurros ou com muita rouquidão, veem a sua capacidade de comunicação muito diminuída e ficam condicionados na interação natural, já que a voz disfónica não transmite nem emoções nem a identidade do orador. O sistema a desenvolver deverá servir como um “amplificador modificado, mas inteligente”, que não só projeta a voz realçando a mensagem linguística, mas também a corrige, devolvendo a sua sonoridade natural e até a assinatura sonora do falante.
Tecnicamente, a voz pode ser decomposta e reconstruída para corrigir os aspetos pretendidos, incluindo a inserção de componentes em falta. Neste sentido, caberá ao CINTESIS recolher amostras da voz no local e momento em que ela é gerada pelas cordas vocais. “É como ir buscar a água diretamente à nascente, antes de passar por quaisquer riachos ou poluição que a alterem”, explica Jorge Spratley. Para isso, os investigadores vão recorrer a uma amostra de falantes voluntários saudáveis. O exame, não-invasivo, vai decorrer no Centro Hospitalar de São João e servirá para ajudar a recolher essa “impressão vocal” individual.
Essa informação será depois trabalhada pelos especialistas em engenharia, que ficarão encarregues de desenvolver técnicas e ferramentas para a síntese precisa e controlo das diferentes componentes do sinal de voz, fundamentais para a reconstrução de voz natural a partir de voz disfónica. Muito resumidamente, pretende-se “preservar e destacar a informação linguística, transmitir elementos distintivos da voz de um indivíduo, além de melhorar a projeção vocal”, explicam os investigadores.
Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), o projeto conta ainda com a participação da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Instituto de Engenharia Electrónica e Telemática de Aveiro (IEETA).
Aequitas: um software que revela discriminações em sistemas de inteligência artificial
O que era para ser uma curta estadia na Universidade de Chicago, nos EUA, acabou por se transformar na oportunidade de uma vida. Pedro Saleiro, 33 anos, doutorado em Engenharia Informática, acabou por ficar dois anos na equipa de Rayid Ghani, ex-analista de Barack Obama. O alumnus da Faculdade de Engenharia esteve envolvido em vários projetos que mostram como a análise de dados e a inteligência artificial podem ajudar o mundo.
Não é segredo para ninguém que cada vez mais se recorre à adoção generalizada de tecnologias baseadas em big data e machine learning no setor bancário, na saúde, administração pública ou até mesmo na justiça. A inteligência artificial tem um potencial enorme de melhoria da qualidade dos serviços públicos uma vez que permite aos governos alocarem recursos humanos e financeiros onde estes são efetivamente mais necessários e onde poderão ter maior impacto na sociedade. No entanto, algumas notícias recentes – sobretudo nos EUA
alertam para o risco da utilização de sistemas inteligentes que afetam injustamente os cidadãos porque aprendem e propagam as discriminações e preconceitos que existem na sociedade.
Pedro Saleiro, doutorado em Engenharia Informática pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e Data Science Manager na Feedzai, desenvolveu durante o seu post-doc na Universidade de Chicago, uma ferramenta que permite auditar sistemas de apoio à decisão baseados em inteligência artificial e detetar vários tipos de discriminações: raciais, de género, etárias ou até religiosas. A ferramenta chama-se Aequitas, tem como público-alvo cientistas de dados e entidades governamentais, e foi já mencionada num artigo da conceituada revista Nature.
Desenvolvida no Center for Data Science and Public Policy, a Aequitas é de utilização gratuita e permite auditar os modelos antes de estes serem utilizados em produção, decompondo diferentes
Texto: Raquel Pires Fotografia: direitos reservadosmétricas de erro por diferentes grupos da população e assim detetar vários tipos de discriminação. “Vamos imaginar que eu quero desenvolver um sistema que detete o risco de desenvolvimento de diabetes nos próximos três anos: é importante que o sistema não funcione pior no interior do país do que no litoral, ou em determinados grupos minoritários ou etnias, porque aí estaríamos a exacerbar desigualdades.
É imperativo auditar sistemas de apoio à decisão baseados em inteligência artificial e tornar públicos os resultados antes destes sistemas serem utilizados por entidades públicas”, explica o jovem investigador.
Durante o post-doc na Universidade de Chicago com a orientação de Rayid Ghani – o Chief Data Scientist por detrás da campanha de Obama em 2012 – Pedro Saleiro esteve sobretudo ligado a projetos de inteligência artificial no contexto de políticas públicas e impacto social, tanto em questões éticas e de transparência, como em projetos mais práticos em parcerias com instituiçôes públicas que têm problemas que podem ser resolvidos com grandes dados e aprendizagem computacional. O alumnus da FEUP acredita que “é fundamental formar cientistas de dados e quadros da
administração pública para que estes sejam capazes de avaliar os riscos éticos e o impacto a médio prazo de cada sistema inteligente que afete a vida dos cidadãos, independentemente do sistema ser desenvolvido in-house ou comprado a terceiros”.
Até porque – defende Pedro Saleiro – a tendência da utilização de modelos preditivos baseados em inteligência artificial é para aumentar: seja para decidir a fiança de detidos, admitir alunos em universidades, candidatos a uma vaga de emprego, já para não falar do acesso a crédito. Falamos sobretudo de situações em que é fundamental que os modelos preditivos utilizados funcionem sem que haja quaisquer tipos de descriminação ou motivos para que se levantem questões éticas.
aequitas.dssg.io
Estudantes da FEUP vencem competição mundial de tecnologia
Leonor Sá, Álvaro Samagaio e Diogo Malafaya – são estes os nomes dos estudantes de 5.º ano do Mestrado Integrado em Bioengenharia da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) que formaram a equipa vencedora da competição Devogame by Devoteam, iniciativa que premeia as melhores e mais inovadoras soluções tecnológicas propostas por estudantes universitários em todo o mundo.
Depois de terem ultrapassado uma primeira “missão online”, onde era pedido aos participantes que implementassem uma solução de Inteligência Artificial, os estudantes da FEUP participaram na semifinal da iniciativa, que decorreu passado dia 28 de novembro, no escritório da Devoteam em Portugal. Foi aí que apresentaram o projeto “TruCheck”, uma aplicação mobile que pretende combater as fake news e a crise de desinformação que vivemos atualmente através de um processo de verificação de factos em tempo real.
Batizada com o nome ‘405 Found’, a equipa FEUP foi a única representante portuguesa em toda a iniciativa e disputou a final mundial no passado dia
20 de dezembro, na sede mundial da Devoteam, em Paris, enfrentando cinco equipas provenientes de diferentes países: Alemanha, Arábia Saudita, França, Holanda e Sérvia.
A equipa ‘405 Found’ foi selecionada por um painel de júris liderado por Stanislas de Bentzmann, presidente e cofundador da Devoteam e foi o projeto favorito na votação online disponibilizada ao público em geral. Leonor, Álvaro e Diogo não escondem a alegria e o orgulho que sentem face à sua conquista: “Estamos muito contentes por ter provado ao júri o nosso valor. A vitória funcionou para nós como validação deste projeto e motivou-nos a possivelmente continuar a trabalhar e desenvolver esta ideia. É muito importante chamar a atenção das pessoas para as crises que estão a afetar o planeta e esta foi uma excelente forma de motivar estudantes a pensar fora da caixa e tentar encontrar soluções na tecnologia para resolver esses problemas”. Como forma de reconhecimento, os três estudantes foram premiados com uma viagem de sete dias a Singapura em março de 2020, altura em que decorre a conferência tecnológica de referência mundial ‘FossAsia Summit’ e para o qual também terão entradas gratuitas.
Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservadosTrês estudantes da FEUP conquistaram o grande prémio da 4ª edição da competição internacional Devogame by Devoteam, iniciativa que distingue as mais inovadoras soluções tecnológicas desenvolvidas por estudantes universitários de todo o mundo.
O grande amor é muito focado no rio Douro
O “Excellence Award for Civil Engineering” é um dos mais prestigiados prémios mundiais na área da engenharia civil e foi atribuído a Adão da Fonseca, professor aposentado da FEUP, como “reconhecimento pela relevância dos seus projetos para o bem-estar social e pela sua carreira de engenheiro civil em benefício da sociedade”. Apaixonado pela cidade invicta, é o projetista responsável por cinco travessias entre a cidade do Porto e Gaia. Esteve envolvido em todas as obras que marcaram a engenharia portuguesa do século XX: Pavilhão do Conhecimento na EXPO 98, Casa da Música, Oceanário... e também no estrangeiro, onde teve oportunidade de trabalhar com os melhores.
Li numa entrevista que o seu sonho era estudar engenharia naval. Como foi parar ao curso de engenharia civil?
Será que a Engenharia Civil não é apenas a Engenharia Naval não flutuante? Ou melhor! Será que a Engenharia Naval não será a Engenharia Civil flutuante? De facto, nenhuma das dúvidas é correta, pois a Engenharia Naval inclui todo o equipamento e maquinaria de propulsão. Bem! A verdade é que não havia ensino de Engenharia Naval em Portugal quando entrei na Universidade, e a família não podia pagar-me estudos no estrangeiro (seria em Glasgow).
Que memórias guarda dos anos que esteve no Imperial College, em 1980, a fazer o doutoramento?
Era uma sociedade muito diferente?
Quando em 1972 fui desafiado pelo Professor Correia de Araújo a aproveitar a abertura do concurso de bolsas de estudo de doutoramento no estrangeiro (uma iniciativa do então Ministro da Educação – Professor Veiga Simão – e do seu Secretário de Estado do Ensino Superior – Engenheiro Adelino Amaro da Costa), concorri às Universidades de Austin (Texas) e Urbana (Illinois), nos Estados Unidos, à Universidade de Estugarda (mais propriamente ao Professor e Grande Projetista de Pontes Fritz Leonhardt), na Alemanha, e ao Imperial College, em Londres. Fui aceite em todas elas e decidi pedir o conselho ao Engenheiro Júlio Ferry Borges, então Diretor do LNEC e que era um brilhante Investigador e homem de visão. Respondeu-me que, se era para aprender engenharia, devia vir para o LNEC, mas que me aconselhava a ir para Londres, onde, sendo uma cidade de grande cultura e vivência interna-
cional, a minha capacidade global, não só na engenharia, seria muito melhorada (em 1972, Portugal ainda permanecia muito fechado pela Ditadura).
Do Imperial College e de Londres guardo as memórias de tudo quanto o Engenheiro Ferry Borges antecipara. Guardo a recordação de uma cidade efervescente mas calma, onde tinha tempo para pensar e meditar. Guardo a recordação de excelentes concertos, óperas e teatro. E ao casar entretanto, ainda houve tempo para lá nascerem dois maravilhosos rapazes.
Foi difícil conciliar a carreira de professor com a de projetista de pontes? Conte-nos o segredo.
Sim, foi muito difícil e extremamente exigente. Mas recordo a compreensão de todos os meus colegas na Faculdade. O segredo foi garantir que a minha atividade de projetista de pontes estava em linha e potenciava a qualidade e competência da minha atividade de docente. E claro, vice-versa! Ao tentar fazer sempre melhor, procurava também envolver e valorizar os contributos dos meus colegas da FEUP, e até do LNEC.
Depois de ter projectado cinco pontes sobre o Douro, pode dizer-se que a sua relação com a cidade do Porto é já um caso de amor?
Bem! O grande amor é muito focado no rio Douro. É que além das pontes (felizmente, para mim, são femininas na língua portuguesa), vale a pena perguntar quantas regiões DOC (Denominações de Origem Controlada) existem desde Rioja até à Região do Douro.
Fale-nos da EXPO 98 e de ter trabalhado no projeto do Oceanário e do Pavilhão de Conhecimento. Foi a oportunidade do Portugal moderno se abrir ao mundo...
Tal como contei na minha Última Aula, quando no início dos anos 80 projetei a “minha” primeira ponte (sobre o rio Ouro) e no concurso da empreitada apareceu uma variante mais barata e completamente desinteressante, ouvi o Presidente da Freguesia Rural de Pedraça, onde a ponte ia ser construída, dizer: “A minha freguesia é de gente pobre, mas também
tem direito a uma ponte bonita”. Isto marcou a minha vida profissional pois o espaço urbano, sendo para todos, é tantas vezes o único espaço de qualidade de que os menos favorecidos podem usufruir.
Ora a EXPO 98 constituiu um passo fundamental para Portugal (não só para Lisboa) recuperar e afirmar a importância da qualidade do ambiente construído. Foi também a oportunidade de trabalhar com as grandes arquitetura e engenharia internacionais de edifícios. No caso do Oceanário, cheguei a deslocar-me a Boston para as reuniões com o Arquiteto Peter Chermayeff, integrando a equipa internacional da ARUP de Londres. Seguiram-se vários projetos de alta valia arquitetónica e estrutural na EXPO, alguns vencedores e construídos e outros perdedores, mas o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, com o Arquiteto Carrilho da Graça, terá sido o mais desafiador e inovador (o betão branco tem diversas exigências e foi a primeira vez que se utilizou em Portugal num grande edifício).
Na sua opinião, qual é a obra mais representativa do seu trabalho? E porquê?
Representativo será um percurso, começando nessa pequena e afinal simples ponte sobre o rio Ouro, no Concelho de Cabeceiras de Basto. Depois veio a ponte sobre o rio Cávado, em Amares, muito perto da ponte medieval denominada Ponte do Porto (inicialmente ponte romana, mais tarde reconstruída como ponte medieval, mas sempre a ponte para ir... para o Porto). Tivemos preocupações de vivência paisagística, respeito pelo ambiente e pela ponte já existentes, e pela presença de pescadores, que foram apoiadas pela então Junta Autónoma das Estradas. Já nos anos 90, muito importante foi ter o apoio dos responsáveis na Brisa para que as passagens superiores no troço da autoestrada A4, na aproximação mais montanhosa a Amarante, fossem especiais e não meras cópias “ampliadas” do que se construía em terrenos planos. Uma delas é até tecnicamente muito especial e original. Muito gratificante foi ouvir um aluno dizer-me que tinha optado pela Engenharia Civil ao ver construir uma dessas obras de arte. Mas é bem claro, que é com a Ponte do Infante, sobre o rio
Douro, e com a Ponte Pedro e Inês, sobre o rio Mondego, que, com a colaboração de jovens engenheiros brilhantes, materializo o meu ideal de “bem-fazer e avançar”. Porquê? Porque são obras da mais elevada arte da engenharia estrutural. São pontes otimizadas no seu comportamento estrutural, concebidas com cuidados imensos de análise e atrevimento, sempre fundados em estudos que exploraram todos os parâmetros que pudessem influenciar a sua segurança e funcionalidade.
Qual é o projetista que mais admira e porquê?
Todos os por todos reconhecidos: Eugene Freyssinet, Fritz Leonhardt, Jorg Slaich... e, certamente, Edgar Cardoso. Todos foram sonhadores, inovadores, e cientificamente muito profundos.
E se lhe pedir para me identificar uma obra-prima da engenharia, à escala mundial?
Difícil escolher entre as obras “incríveis” que são as grandes barragens, as obras “de impacto social” que são as redes de saneamento das cidades, as obras dos grandes edifícios que “se elevam na atmosfera”, e as grandes pontes que “voam” sobre os grandes rios e vales. Seguramente, a Ponte do Infante é uma obra-prima impressionante que não temos sabido valorizar e reconhecer!
Como foi a reação quando soube que ia receber o “Excellence Award for Civil Engineering”, considerado o Prémio Mundial de Engenharia Civil?
Os prémios que não resultam de uma competição, e certamente se não incluírem nada material, são mais que tudo um apontar do dedo a quem, pelo seu esforço e vontade de vida, constitui um estímulo para se viver e atuar com ideais e “pés na terra”. No caso deste prémio, é muito valorizado o contributo dado à excelência da Profissão de Engenheiro Civil, no meu caso materializado também na função de Presidente do “European Council of Civil Engineers” onde, entre outras iniciativas conhecidas pelos subscritores da proposta do meu nome, salientarei a autoria do Código de Conduta Ética dos Engenheiros Civis Europeus, aprovado por unanimidade na reunião de Roma, em 2000.
Considera que Portugal é um bom exemplo no que diz respeito à engenharia civil? Temos novos talentos com qualidade?
Sem a menor dúvida, e assim é internacionalmente reconhecido. Pelo menos na engenharia de estruturas, que conheço por experiência direta, há talentos de qualidade elevadíssima.
Que obra/projeto lhe falta fazer? Tem algum sonho ainda por realizar?
Com cinco filhos que servem com desvelo à sociedade e com 18 netos que exibem felicidade, não tenho qualquer obra, projeto ou sonho que sinta necessidade de realizar, mas entendo ter a obrigação de responder aos desafios que continuam a chegar.
Os contributos da Engenharia para o Desenvolvimento Sustentável
Tornou-se um dos pilares das agendas políticas e passou a nortear a estratégia de importantes conselhos de administração de empresas e instituições públicas respeitadas por todo o mundo. O conceito globalizou-se em 2015, altura em que a ONU aprovou por unanimidade os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e definiu a Agenda 2030 como uma prioridade. O compromisso assumido pelos líderes mundiais assenta na criação de um novo modelo global para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o ambiente e combater as alterações climáticas. Como pode a engenharia contribuir para que ninguém seja deixada para trás?
Oanúncio oficial da União Europeia, em junho de 2019, não surpreendeu os responsáveis que durante meses se dedicaram à candidatura para a criação de um campus interuniversitário na Europa. Com este projeto-piloto aprovado, a U.Porto é uma das primeiras 17 alianças de Universidades Europeias a integrar esta iniciativa comunitária que pretende dar resposta aos atuais desafios globais de saúde pública, do ambiente e da segurança alimentar.
O consórcio chama-se European University Alliance for Global Health (EUGLOH) e reúne – além da U.Porto – a Universidade Paris-Saclay (França), a Ludwig-Maximilians-University (Alemanha), a Universidade de Lund (Suécia) e a Universidade de Szeged (Hungria). Num universo de 54 candidaturas, a U.Porto garantiu um programa de financiamento que pode ir até aos 5 milhões de euros. O principal objetivo passa por trabalhar na criação de programas de ensino conjuntos, mas também na partilha de recursos, ferramentas e infraestruturas entre as cinco universidades, que, em conjunto, albergam mais de 200 mil estudantes. E nos próximos 10 anos afirmar-se como uma referência internacional do ensino superior, através da ligação sólida entre o conhecimento teórico e as competências profissionais necessárias à Europa do futuro.
E que papel têm as escolas neste ambicioso objetivo comunitário? De que forma pode a Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) contribuir para o reforço deste programa? Depois de uma pesquisa pormenorizada concluímos que há 226 projetos de I&D com intervenção direta da engenharia da FEUP desenvolvidos nos últimos anos na área da saúde e bem-estar. Metade destes projetos estão ainda em curso e vale a pena conhecê-los. E na impossibilidade de mencionar todos, aqui fica uma pequena amostra do potencial que a Faculdade de Engenharia tem vindo a acumular nestas áreas nos últimos anos.
SAÚDE
Na área da saúde a FEUP tem sobretudo produzido investigação em projetos ligados à bioengenharia, num espetro vasto que vai desde os novos fármacos, aos dispositivos médicos passando pela biomecânica. Um dos mais recentes está a ser desenvolvido no Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) e tem por objetivo desenvolver uma nova linha de investigação para inibir a resistência de bactérias a antibióticos. Com um financiamento de 1 milhão de euros do H2020, o projeto DelNAM reúne valências multidisciplinares e pretende reforçar competências de forma a desenvolver uma solução inovadora para combater este grave problema de saúde pública da resistência aos antibióticos. Liderado por Nuno
Azevedo (FEUP), a equipa de investigadores conta ainda com dois reconhecidos parceiros europeus: o Nucleid Acid Centre of Contact - University of Southern Denmark e o General Biochemestry and Physical Pharmacy da Ghent University, ambos na Dinamarca.
Nos dispositivos médicos também se têm conseguido importantes parcerias, como a que deu origem ao Waveguard™touch, um sistema de monitorização de sinais eletroencefalográficos (EEG) com base em elétrodos secos. O projeto desenvolvido por Carlos Fonseca, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e Materiais, em parceria com a Universidade Técnica de Ilmenau, Alemanha, deu origem a uma touca agora comercializada por uma empresa alemã e que é uma alternativa aos tradicionais elétrodos com gel, essenciais para o diagnóstico clínico de várias patologias cerebrais, bem como a estudos de neuropsicologia. Ainda no sentido de encontrar alternativas aos géis tradicionais para eletroencefalografia, foi desenvolvido um hidrogel que, para além de permitir um contacto mais estável com o escalpe, não suja a cabeça. Este produto foi objeto de uma patente e prosseguem esforços no sentido de vender a tecnologia, com a ajuda da UPIN.
Na área da biomecânica e da imagem médica um dos projetos diferenciadores da FEUP mobilizou equipas multidisciplinares do Departamento de Engenharia Mecânica com o propósito de solucionar disfunções do pavimento pélvico da mulher em idade adulta. De acordo com estudos médicos, estima-se que o problema do prolapso dos órgãos pélvicos afete 40% da população feminina mundial com a idade compreendida entre os 45 e os 85 anos. Encabeçado por Renato Natal, o BIOPELVIC desenvolveu um modelo anatómico com as respetivas características cinemáticas e dinâmicas da cavidade pélvica recorrendo a ultrassons, processamento de imagem e reconstrução 3D, que possa servir a comunidade médica no sentido de a ajudar a ponderar nas decisões relacionadas com o diagnóstico e tratamento traumático de pacientes e das respetivas famílias.
BEM-ESTAR
Do conjunto de projetos analisados do universo da FEUP é possível estabelecer algumas considerações. Desde logo importa realçar que o conceito de “bem-estar” é bastante abrangente e poderá aplicar-se à mobilidade sustentável, à eficiência energética aos projetos desenvolvidos no âmbito da qualidade do ambiente construído, à monitorização ambiental, sem esquecer a engenharia de segurança e higiene ocupacionais que habitualmente se dedicam às questões da acessibilidade e inclusão.
Um dos projetos incontornáveis e mais bem sucedidos da história da Faculdade de Engenharia em matéria de eficiência energética valeu ao investigador Adélio Mendes o lugar no pódio das patentes mais caras em Portugal: 5 milhões de euros foi quanto a empresa australiana Dyesol pagou em 2015 pela tecnologia de selagem de células solares de perovskita (PSC), capazes de possibilitar a conversão direta da luz solar em energia elétrica de forma renovável e sustentável. A tecnologia desenvolvida em colaboração com a EFACEC apresenta ainda um baixo custo de fabrico, uma eficiência energética elevada e uma durabilidade de 25 anos.
Os grupos de investigação do Departamento de Engenharia Civil são dos que mais têm contribuído para a mobilidade sustentável e a qualidade do ambiente construído na FEUP. O projeto Liquefact é um bom exemplo. Juntamente com outros parceiros europeus, a equipa liderada por António Viana da Fonseca dedicou-se ao estudo detalhado dos desastres por liquefação induzida por terramoto, responsáveis por perdas económicas diretas de aproximadamente 29 bilhões de euros, só na última década. Os números continuam trágicos no que toca à perda de vidas humanas: quase 19 mil mortes provocadas por terramotos. A liquefação é um fenómeno que se caracteriza pela perda de rigidez e resistência dos solos provocados pela atividade sísmica. Para os investigadores tornou-se evidente a necessidade de uma abordagem sistemática para avaliar a possibilidade de liquefação de um local, ainda antes da construção e depois implementar as
técnicas de mitigação mais apropriadas. O projeto lida não apenas com a resistência das estruturas aos eventos de liquefação mas também com a resiliência da comunidade urbana coletiva em relação à rápida recuperação de uma ocorrência.
Outra área onde se tem produzido investigação de elevada qualidade na FEUP envolve a robótica submarina e o Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática (LSTS) e o grupo liderado por João Tasso que garantiu um financiamento de 5 milhões de euros com o projeto EURMarineRobots. O consórcio reúne 15 parceiros europeus e pretende lançar uma infraestrutura para utilização de rede de sistemas autónomos marinhos, que integra veículos aéreos, de superfície e também subaquáticos. O principal objetivo é contribuir para a proteção e monitorização ambiental e o desenvolvimento sustentável dos oceanos, a região menos explorada do planeta Terra num futuro próximo, tirando partido das valências e potencialidades de cada parceiro europeu envolvido neste consórcio.
AGENDA 2030: O DESAFIO DA INCLUSÃO
Com o aumento da esperança média de vida, o envelhecimento da população e a preocupação da sociedade em cada vez mais contribuir para a inclusão dos cidadãos, abriu-se todo um leque de possibilidades em matéria de inovação tecnológica. Ciente dessa realidade o Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência de Computadores (LIACC) da FEUP desenvolveu uma cadeira de rodas inteligente que evita obstáculos e é comandada de modo flexível e multimodal. O projecto IntellWheels partiu da necessidade de se transformar uma cadeira de rodas comercial num equipamento inteligente, de custos reduzidos e com poucas alterações do ponto de vista ergonómico, permitindo uma maior autonomia aos seus utilizadores. Coordenado por Luís Paulo Reis o projeto na área da inteligência artificial garantiu 1 milhão de euros de financiamento do Portugal 2020 para um consórcio composto pela FEUP, Universidade de Aveiro e 3 empresas para a criação de um protótipo que possa vir a ser comercializado num futuro próximo.
Os próximos tempos vão ser desafiantes em várias áreas e a engenharia não é exceção. Muito pelo contrário. Como ficou provado neste artigo, a FEUP faz jus ao estatuto de primeira escola de engenharia em Portugal e continua a estar na vanguarda da investigação, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da nossa sociedade.
+ de 200 projetos de I&D com intervenção direta da engenharia da FEUP na área da saúde e bem-estar
EMBAIXADORES ALUMNI @FEUP: LILIANA DUARTE
Tripeira de gema, Liliana Duarte iniciou o seu percurso académico nas Ciências, mas rapidamente percebeu que era a Engenharia o seu caminho. Mestre em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela FEUP e Doutorada em Ciências pela Eidgenössische Technische Hochschule (ETH) em Zurique, a Embaixadora Alumni FEUP vive na Suíça há já quase 15 anos.
Porquê Engenharia e porquê a FEUP?
A área das Ciências e das Engenharias sempre me fascinou. Ainda estava no secundário e já sonhava com a Engenharia, naquela altura mais até com Engenharia Civil. Contudo, como a Matemática e a Física sempre foram as minhas paixões, acabei por me candidatar à Faculdade de Ciências da U.Porto. Estive dois anos no curso de Matemática e Física aplicada – especialização em Astronomia – que me trouxe excelentes bases das duas disciplinas e amigos para a vida, mas percebi que não era esse o caminho.
Sempre quis ter um papel mais ativo no mundo, e ser Engenheiro dá-nos esse “super-poder”: usar o conhecimento ao serviço de um mundo mais sustentável. Acredito que um Engenheiro faz parte das maiores mudanças do nosso mundo, nas mais diferentes áreas. A área de materiais fascinou-me logo de início e assim que entrei fiquei apaixonada pelo curso. Os grandes avanços da nossa era têm sempre acontecido porque temos conseguido quebrar barreiras com o fabrico de novos materiais, materiais resistentes ou então com propriedades específicas ou Materiais ditos inteligentes que trouxeram a possibilidade termos um mundo cada vez mais desenvolvido e tecnológico.
Quanto à escolha da Faculdade/Universidade, nem ponderei outra opção! Tenho o privilégio de ser do Porto e sempre foi um sonho concluir um curso
na FEUP. Mais tarde concretizei um outro – o de concluir o doutoramento na ETH em Zurique, mas nunca esqueço as minhas origens. Estar numa das melhores universidades do mundo só aumentou o meu orgulho por ser alumna da Faculdade de Engenharia, instituição com excelentes profissionais.
Como foi a sua mudança para a Suíça?
A minha vinda para a Suíça teve um início engraçado… Foi o Professor da FEUP Luís Filipe Malheiros que soube de uma oportunidade de Doutoramento aqui na Suíça e desde logo que achou que o tema (“Diagramas de fases de ligas metálicas”) era a minha cara. Sabendo também que eu tinha familiares na Suíça, apresentou-me a oportunidade. E qual não é o meu espanto quando percebi que o local era exatamente a cidade que eu visitava desde os meus cinco anos nas férias da escola!
A decisão de mudar de País não foi fácil, mas desde então já passaram 14 anos. Depois do Doutoramento, obtive uma bolsa Fellowship e depois surgiu a oportunidade de ir para a ABB, Coorporate Research, onde fui responsável pela investigação e desenvolvimento de novos métodos de soldadura de chips em componentes eletrónicos. Atualmente trabalho no centro de investigação ‘Instituto Paul Scherrer’ (PSI), onde sou responsável pela investigação do hidrogénio e do seu impacto nas propriedades dos materiais metálicos, estou a orientar duas teses de doutoramento no PSI e leciono o curso de “Advanced Joining Technologies” na ETH de Zurique a alunos do Mestrado de Materiais.
Foi fácil a adaptação a essa realidade?
A adaptação à Suíça foi relativamente fácil tendo em conta que tinha cá família e já conhecia muito bem o país
em especial Zurique. Desde muito nova que visitava os meus padrinhos nas férias escolares, o que promoveu o meu contacto à cultura e tradições da
Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservadosSuíça. Em Zurique a língua oficial é o alemão, pelo que esta foi sem dúvida a parte mais difícil. Contudo, tanto no trabalho como no dia a dia o Inglês é usado com muita frequência, o que ameniza a adaptação ao País.
Os costumes/tradições suíços não são muito diferentes dos nossos, mas claro que com as suas particularidades! Uma das tradições que tive oportunidade de aprender com os meus filhos foi a da procissão das velas com nabos decorados. Chama-se Räbeliechtli e faz lembrar o Halloween mas é celebrada perto da data de S. Martinho. Os meninos fazem desenhos nos nabos, usam-nos como lanternas e seguem para um ritual de procissão onde se cantam canções. No final come-se uma sopa de abóbora – aqui não se come sopa de nabos como em Gondomar :)!
Como faz a gestão familiar com quem ‘deixou’ em Portugal?
Eu nasci e estudei no Porto, mas cresci numa aldeia muito pequena chamada Sarnada (Paredes), que fica na fronteira com o concelho de Gondomar, perto de Melres, do rio Douro e das suas praias fluviais. A Senhora do Salto e do rio Sousa são sítios que me transmitem calma e me fazem sentir em casa, pelo que as saudades da minha aldeia e da minha cidade Porto são sempre muitas.
A minha família ainda mora na Sarnada, pelo que nas férias do verão aproveitamos o tempo em família e amigos. Não é possível ir com a regularidades que gostaríamos a Portugal – com filhos ficamos mais restringidos ao calendário escolar, mas fazemos os possíveis para marcar presença nos eventos mais importantes da família, principalmente no Natal.
Como surgiu a ideia de se candidatar a embaixadora Alumni?
Em 2014 foi organizado o primeiro encontro Alumni FEUP, em Basel, por Gonçalo Castro (embaixador alumni FEUP na altura) e nos anos seguintes a U.Porto organizou encontros em Genebra. Nenhum deles se realizou em Zurique e foi essa a grande
razão que me fez abraçar este projeto. O primeiro encontro Alumni FEUP em Zurique aconteceu logo em 2017 e a adesão foi fantástica! Este ano, o nosso encontro contou com cerca de 20 participantes, entre os quais o Cônsul Geral de Zurique – Paulo Maia Silva – que se tem mostrado muito empenhado em aproximar a comunidade do Consulado.
Quando abracei este projeto queria contribuir para a criação de uma rede de contactos de portugueses que trabalhem cá na Suíça, não só para criar laços mas também para partilhar experiências. Em Zurique, e em especial no inverno, tudo fica muito cinzento e deprimente, pelo que é importante dinamizar este tipo de encontros em que de uma forma descontraída falamos de temas que nos possam ser úteis para as mais diferentes questões.
Quero ver este grupo crescer e pretendo realizar um workshop com apresentações de empresas portuguesas e suíças, numa ótica de dinamização das relações entre os países. Este ano será o meu terceiro ‘mandato’.
Qual a importância de existirem embaixadas Alumni FEUP espalhadas pelo mundo?
O projeto dos embaixadores tem sido uma forma de manter a relação entre os ex-alunos e a faculdade. Tem sido uma maneira excelente de manter viva a “alma matter” dos antigos estudantes, que para mim é única quando comparada com outras faculdades!
Além disso, estas embaixadas são muito vantajosas para a Faculdade e para os alunos que ainda estudam. Já fui contactada por alguns alunos que estavam a preparar entrevistas de emprego na Suíça e queriam saber questões como a qualidade de vida e modo de trabalho.
Não podia terminar sem deixar um agradecimento a toda a equipa do Gabinete Alumni FEUP, que trabalha de forma excecional para nos ajudar a organizar os eventos, não só ao nível da divulgação, mas também com os presentes que nos enviam.
Sempre quis ter um papel mais ativo no mundo. Ser Engenheiro dá-nos esse “super-poder”: usar o conhecimento ao serviço de um mundo mais sustentável.
À frente de tudo está a capacidade para aprender a aprender
Luís Valente de Oliveira é a primeira personalidade a receber o Prémio Carreira da FEUP. É o reconhecimento pela “excecional, brilhante e polifacetada carreira dentro e fora da FEUP, como educador, como técnico, como político e como gestor”. Com uma vida dedicada à causa pública, assumiu responsabilidades políticas por diversas vezes e foi sempre uma personalidade carismática pelas organizações onde passou e nos convites que ainda hoje aceita. Continua muito ativo e empenhado em ter uma vida “física e mentalmente saudável”.
Licenciou-se em 1961 em Engenharia Civil na FEUP. Porquê Engenharia?
Eu sempre gostei de construções e de projetos. Desde jovem acompanhava sempre com interesse o que se passava nos grandes estaleiros de obras públicas. A escolha pela Engenharia Civil foi natural e não surpreendeu nem a família nem os amigos.
Estudou nas antigas instalações da Rua dos Bragas, mas esteve ligado, na sua génese, à idealização das novas instalações no Campus da Asprela. Que memórias guarda da transição do antigo edifício para este, em 2000?
Foi o Professor Armando Campos e Matos, ao tempo Diretor da Faculdade de Engenharia, que me incumbiu de elaborar o programa para fornecer aos arquitetos (que
iriam encarregar-se do projeto das novas instalações). Ouvi todos os professores da Faculdade. Uns queriam mudar e outros não, como sucede correntemente, nessas circunstâncias. Por isso, em colaboração com o Professor Barbosa de Abreu foi preconizada a organização dos espaços ao longo de um eixo, recomendando-se que se desse prioridade à construção dos departamentos que estavam em situação de maior aperto. Foram os fundos comunitários que permitiram lançar a obra toda de uma vez. Os arquitetos propuseram – e muito bem – desdobrar o eixo em dois com alguns espaços verdes entre eles. Os edifícios da Faculdade de Engenharia, na época em que foram construídos, representaram o maior empreendimento em construção na Europa, no setor do Ensino Superior. Mas eu já não vim para as novas instalações. Aposentei-me
Os edifícios da Faculdade de Engenharia, na época em que foram construídos,
do Ensino Superior
antes da grande operação de transferência, capitaneada pelo Professor Marques dos Santos, então Diretor da Faculdade.
Depois de um período de recessão económica em Portugal, em que o setor da construção foi um dos que mais sofreu, que leitura faz do atual estado de investimento nas obras públicas?
A crise repercutiu-se sobre as empresas de todos os tamanhos. Só sobraram algumas grandes e muitas pequenas. As que tinham capacidade para isso, foram para fora e afirmaram a sua competência em muitas partes do mundo. Para algumas pequenas e médias empresas foi uma catástrofe. Estamos agora a emergir com umas tantas valências novas, como é o setor da reabilitação da construção, responsável pela criação de algum emprego e pela especialização de novas empresas. Ajudaria muito se se dispusesse de um programa de médio-longo prazo, enunciando os principais empreendimentos que os poderes públicos entendem ser possível lançar.
Durante muitos anos dedicou-se ao Ensino Superior. Que conselhos dava aos estudantes na altura? O que era para si um bom aluno? Havia, nesse tempo, sessões com os estudantes, na ocasião em que eles escolhiam a especialidade que queriam seguir, para os elucidar acerca do que poderiam encontrar em cada uma delas. Eu sempre lhes recomendei que optassem pela que mais gostassem, porque se faz sempre melhor aquilo de que se gosta e porque a vida se encarrega de levar cada um para caminhos insuspeitados. É preciso aprender a pensar bem, a apresentar bem o trabalho que se faz e a ser muito exigente consigo próprio e com aqueles por quem se é responsável. O espaço em que hoje concorremos é cada vez mais amplo. Por isso, a capacidade profissional de cada um contará cada vez mais.
Na sua opinião, quais são os principais desafios da profissão de engenheiro?
À frente de tudo está a capacidade para aprender a aprender. Por isso sublinhei a importância de saber pensar. O que qualquer profissional do nosso tempo pode ter a certeza é que, dentro de uma
década, terá de exercer a profissão de modo muito diferente daquele como o faz hoje. Por isso, terá de aprender continuamente, sozinho ou voltando à escola de vez em quando.
Assumiu o Ministério da Educação e Investigação Cientifica em 1978-79, no Portugal pós-25 de Abril. Como surgiu este convite? E que memórias guarda desse tempo?
Foi o Primeiro-Ministro, Professor Mota Pinto, que me convidou. Eu não o conhecia antes disso, mas ele soube convencer-me de que todos devemos responder positivamente quando somos solicitados para o desempenho de funções públicas, por muito ásperas que elas sejam. Tenho escritas, noutro lado, as minhas memórias desse tempo. Não é possível resumi-las aqui. Só posso dizer que elas não foram traumatizantes. Pelo contrário! Até se revelaram muito estimulantes.
Acabou por assumir a pasta do Planeamento e Administração do Território em 1985-95 e foi Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação entre 2002-03. Podemos dizer que esteve sempre ligado à causa pública: é um legado de que se orgulha?
Quando acabei o curso de Engenharia Civil, em 1961, tive a possibilidade de escolher entre cinco ou seis lugares, alguns deles com boa remuneração no setor privado. Escolhi a Faculdade que, em termos materiais era o pior, mas era aquele que abria uma carreira mais estimulante. Foi, por isso, que fui para o setor público. Os lugares ministeriais que ocupei vieram na decorrência dessa opção inicial. Guardo do tempo em que tive a honra de servir o País, uma boa recordação. Não fiz mais do que a minha obrigação, mas sinto-me largamente gratificado.
Continua a ter uma vida profissional muito ativa. O que é que ainda gostava de fazer?
Gostava de me manter ativo até ao fim. Não posso dizer que tenha hoje uma vida profissional intensa. Trata-se antes, de uma ocupação muito variada que me preenche todo o tempo disponível, dando-me a ilusão de que ainda posso ser útil. E isso é importan-
representaram o maior empreendimento em construção na Europa, no setor
Caixa Biográfica
Nascido a 29 de agosto de 1937, em São João da Madeira, Luís Valente de Oliveira licenciou-se em Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia, onde se Doutorou e construiu uma carreira como Docente (Catedrático desde 1980) especializado em Planeamento dos Transportes, do Território e do Desenvolvimento Regional. O percurso académico não se limitou a Portugal Continental, uma vez que se diplomou em Planeamento Regional no Instituto de Estudos Sociais de Haia, na Holanda (1969) e alcançou o grau de Master of Science em Transportes pelo Imperial College de Londres (1971).
Luís Valente de Oliveira possui um vasto e notável currículo de participação cívica em diversas instituições de interesse público nacional, tendo-se notabilizado enquanto Ministro da Educação e Investigação Científica (1978-79), Ministro do Planeamento e Administração do Território (1985-95) e Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação (2002-03). Entre 1979 e 1985 assumiu ainda a Presidência da Comissão de Coordenação da Região do Norte (CCDRN).
Sobre o Prémio Carreira:
A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) lançou, no passado dia 29 de setembro, a 1.ª Edição do Prémio Carreira FEUP, iniciativa que nasce para reconhecer a excelência e simbolizar o orgulho sentido pela instituição na carreira dos seus diplomados.
Atribuído anualmente, este galardão destina-se a diplomados da Faculdade de Engenharia que se tenham distinguido ao longo
te para levar uma vida física e mentalmente saudável. Ainda gostaria de escrever mais qualquer coisa, mas fazê-lo de forma entremeada com atividades que me levem a interagir com outras pessoas e a participar em iniciativas que eu sinta serem úteis.
Foi distinguido inúmeras vezes ao longo da sua vida e da sua carreira. O que significa, para si ter recebido o 1º Prémio Carreira da FEUP?
O Prémio Carreira da FEUP é, para mim, uma distinção muito especial. A Escola onde fui aluno e Professor designou um júri que me escolheu, seguramente entre muitos outros candidatos de maior mérito, porque a Casa soube sempre gerá-los em quantidade. Trata-se de uma conjugação da generosidade dos membros do júri com a sorte que, manifestamente, me bafejou. O resultado, para mim é muito desvanecedor e, por isso, estou muito reconhecido a todos os que intervieram no processo, a começar pelo Diretor da Faculdade que soube promover esta homenagem com uma elegância enorme, tornando patente a sua grande capacidade para ocupar o lugar que ocupa.
da sua carreira, que constituam uma referência profissional para os seus pares e para a comunidade, e que tenham contribuído para a consolidação da imagem da FEUP enquanto escola de referência na área da Engenharia.
Na tomada de decisão final vão pesar uma série de critérios devidamente fundamentados, tais como a capacidade de inovação e de empreendedorismo, o contributo para o desenvolvimento da sociedade numa área específica e ainda o desenvolvimento de atividades de promoção e divulgação da FEUP em todo o percurso académico e profissional.
Outros prémios:
1980 Grã-Cruz da Ordem do Infante
1987 Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul, no Brasil
2002 Grã-Cruz da Ordem da Honra na Grécia
2004 Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo
2004 Medalha de Honra, grau de Ouro, pela Câmara
Municipal do Porto
2008 Chevalier de la Légion d’Honneur, em França
2012 Medalha de Mérito da Universidade do Porto
2013 Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
2013 Nomeação de chanceler das Ordens de Mérito Civil pelo Presidente da República Portuguesa
2017 Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
Sara Dias, a Engenheira Mecânica que garante a manutenção de uma farmacêutica
Adora o seu trabalho, mas não dispensa um bom passo de dança ou uma viagem em lazer. A antiga estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que integra também o coro da Porto Business School (PBS), é uma verdadeira entusiasta da Engenharia – basta falar um pouco sobre a sua profissão e os olhos de Sara brilham! Bastante ativa no que respeita o networking pessoal e profissional – é adepta do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho –, a Engenheira Mecânica lidera a equipa da Secção de Engenharia e Manutenção do Grupo BIAL desde 2013 e atesta a importância da estreita ligação entre o mundo académico e empresarial – perspetiva desde há muito defendida pelo grupo farmacêutico que integra.
Conte-nos brevemente o seu percurso académico e profissional.
Ainda durante o meu último ano do curso na FEUP (01/02), fiz um semestre de Erasmus na Universidade de Girona Catalunha (01/02). Assim que me graduei, inscrevi-me num curso intensivo de italiano em Perúgia, na “Universitá per Stranieri de Perugia” e nesse mesmo ano (2002) iniciei o meu percurso profissional ao abrigo do programa de Estágios Internacionais INOV Contacto na empresa FREZITE em Portugal e, posteriormente, numa empresa desse grupo, J.PRATT em Sabadell, Catalunha. Após a minha estadia em Espanha regressei a Portugal e ingressei na Martifer como Preparadora de Obra, mas, em 2006, voltei a aventurar-me além-mar: realizei um intercâmbio de estudos no Brasil, Rio Grande do Sul, organizado pelo “Rotary Foundation”. Esta experiência
foi um marco importante na minha vida, uma vez que tive a oportunidade de conhecer uma nova cultura pessoal e profissional, novas formas de trabalhar e de estar no mercado / concorrência. Visitei várias empresas de renome, das quais destaco a Randon, MarcoPolo, Todeschini e Tramontina. Terminado o intercâmbio, o destino voltou a levar-me ao país de ‘nuestros hermanos’: fui para Barcelona, Catalunha, onde estive na empresa Spark Iberica, do Grupo Vincie Energies, como Diretora de Obra.
Depois de tantas oportunidades e experiências no estrangeiro, decidi que estava na hora de voltar ao meu país: fui contratada pela empresa Politérmica para desempenhar a função de Direção de Obra de AVAC. Em 2013 passei a integrar o grupo de colaboradores do Grupo BIAL, onde desempenho o cargo de Responsável de Engenharia e Manutenção já desde 2013.
“Trabalho e verdade” regem profissionalmente a responsável pela Secção de Engenharia e Manutenção do Grupo BIAL. Com uma equipa de 11 pessoas a seu cargo, a alumna FEUP trabalha diariamente para garantir o bom funcionamento da conceituada empresa farmacêutica.
Nome: Sara Dias
Idade: 40 anos
Formação: Licenciatura em Engenharia Mecânica, opção de Fluídos e Calor, FEUP (1997-02)
Pós Graduação em Climatização pela “Escola Técnica Superior d’Enginyeria Industrial de Barcelona” com o apoio da Fundação UPC da Universidade Politécnica Catalunha (2006)
Empresa onde trabalha: BIAL
Função que desempenha: Responsável de Engenharia e Manutenção
O que faz exatamente na BIAL?
Antes de entrar nas minhas funções específicas dentro da empresa, gostaria de partilhar uma curiosidade sobre a minha entrada na BIAL: foi a partir de uma ‘mailing list’ enviada para os participantes do INOVContacto da edição em que participei (nº6) que tive conhecimento da oportunidade!
A listagem das minhas responsabilidades na BIAL enquanto Responsável de Engenharia e Manutenção é bastante extensa. Algumas delas passsam por planear, organizar e controlar as atividades da Secção de Engenharia e Manutenção (SEM), maximizando os recursos disponíveis, assim como a parte de gestão de projetos de Engenharia associados aos Equipamentos, Infraestruturas e Edifícios (EIE). Além disso, é da minha responsabilidade garantir a elaboração e execução do Plano Anual de Manutenção Preventiva, seguimento das Manutenções Corretivas e monitorizar os KPIs do Serviço de Manutenção Industrial ($MI) e do Serviço de Engenharia e Qualificações ($EQ). A elaboração de orçamento e plano estratégico a três anos também passa por mim, assim como a monitorização do cumprimento orçamental da SEM. No fundo, eu e a minha equipa de 11 elementos, trabalhamos numa lógica diária para o bom funcionamento da empresa.
A BIAL é uma empresa de referência a nível nacional e internacional. Em termos de estratégia, é uma instituição com uma relação próxima com a academia?
O Grupo BIAL possui um longo historial de colaboração com as universidades, nomeadamente ao nível de parcerias e programas de colaboração e valoriza a formação contínua dos seus colaboradores. A título de exemplo, tive o apoio da empresa para realizar em 2015 uma formação feita à medida “Develop 4 The Future”, uma parceria da farmacêutica com a Porto Business School (PBS). O balanço desta formação, na qual tive a oportunidade de cursar algumas cadeiras de MBA, foi extremamente positivo. Em 2019 voltei a ter uma oportunidade de formação, desta vez em Gestão de Projetos através do Open Executive Programme da PBS.
Voltando um pouco atrás no tempo… Que memórias guarda com carinho da FEUP?
A Rua dos Bragas, onde se localizava inicialmente a Faculdade e onde estive nos três primeiros anos, traz-me recordações maravilhosas. Apesar da dispersão física dos
edifícios, sentia-se muita proximidade entre os colegas dos vários cursos! A Engenharia Rádio também me traz algumas memórias engraçadas, não só pelos colegas que nela participavam, mas também pelos “programas” que faziam. A praxe do meu ano foi efetivamente de integração, divertida e motivadora. Recordo que fui sempre muito mimada/ acarinhada pelos colegas de curso. Tive muito apoio do coordenador do curso de Engenharia Mecânica, na altura o Professor Carlos Magalhães Oliveira, especialmente quando, por volta do 3º ano, comecei a ter algumas dúvidas sobre se teria feito a escolha de curso mais acertada.
Sou grata pelas bases académicas que a Escola me deu, pelos contactos que estabeleci com colegas e Professores e pela forma como aprendi a encarar as situações na vida: perante um desafio e um problema, há sempre uma solução.
Considera que a FEUP tem o ‘poder’ de manter a ligação com os seus graduados?
Sim. Sinto que existe uma preocupação muito grande com todos os Alumni, visível nas várias atividades que promovem. Estive presente neste último evento de Regresso a Casa da FEUP (2019), e considero que foi um sucesso, gostei mesmo muito! Muito bem organizado, com atividades de “teambuilding” e uma verdadeira oportunidade de reencontrar colegas que já não via há algum tempo.
Que conselhos daria aos estudantes que neste momento estão a estudar e querem ter sucesso na vida profissional?
Boas bases académicas e alguma ginástica mental são fundamentais para se atingir o sucesso profissional e para se adquirir conhecimentos transversais. Mesmo que seja uma certeza que nunca vamos saber tudo, é muito importante saber onde procurar e a quem recorrer; pedir ajuda não é sinal de fraqueza!
tinyurl.com/ro2ngrn
Existe trabalho de excelência no nosso país
tem 44 anos e é Investigador Principal no Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente (CITTA) da FEUP. O seu percurso académico começou na Faculdade de Arquitetura (FAUP), onde se licenciou, mas depois de concluir o Mestrado em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano, um curso de colaboração FAUP/FEUP, não mais deixou a Engenharia. Doutorou-se em 2008 em Engenharia Civil e em 2002 integrou o CITTA, onde se dedica à temática em que é especialista - a Morfologia Urbana.
Ecomo é que alguém faz investigação é, em simultâneo, Professor Auxiliar na Universidade Lusófona do Porto, Secretário Geral do International Seminar on Urban Form, Membro do Editorial Board da revista Urban Morphology, Presidente da ‘Rede Lusófona de Morfologia Urbana’, Membro do Quadro Editorial em várias revistas e ainda responsável pelo lançamento de quatro livros no espaço de um ano? Fomos tentar descobrir.
Entrevista: Helena Peixoto Fotografia: Egídio Santos Vítor Manuel Araújo de OliveiraNota biográfica
Licenciado em Arquitetura (FAUP) e Doutorado em Engenharia Civil (FEUP), Vítor Oliveira é Membro Integrado e Investigador Principal no CITTA (entrou para o centro em 2002). As suas principais áreas de investigação são a morfologia urbana, o planeamento urbano, a arquitetura e as cidades. Dentro destas temáticas, o investigador é autor de cerca de 200 publicações e comunicações, incluindo 32 artigos publicados em revistas internacionais listadas no Scopus ou ISI. Vítor Oliveira tem trabalhado em diferentes projetos de investigação financiados por entidades nacionais e
internacionais e tem integrado vários comités científicos e de organização de conferências internacionais – incluindo o 21º ‘International Seminar on Urban Form’. Em 2016 publicou o livro ‘Urban morphology. An introduction to the study of the physical form of cities’ (Springer), um manual sobre morfologia urbana utilizado pelo investigador em cursos em dez universidades em Portugal, Brasil, Espanha e China. Os seus últimos livros são ‘Teaching urban morphology’ e ‘JWR Whitehand and the historico-geographical approach to urban morphology’.
Porquê a escolha do CITTA e da ‘Morfologia Urbana’ como área de estudo?
Em 2002 ingressei no Mestrado em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano. Quase em simultâneo abriu uma bolsa de investigação para o CITTA, que dava os seus primeiros passos. Consegui a bolsa e trazia já comigo uma enorme paixão por cidades, em particular pela forma física das cidades: as ruas, os quarteirões, as parcelas e os edifícios (os especiais e os comuns). E se já tinha como referência chave um notável professor da FAUP – Alfredo Matos Ferreira, encontrei na FEUP o professor Paulo Pinho (responsável pelo CITTA) que, literalmente, me ensinou a fazer investigação e foi, inclusive, o meu orientador das teses de mestrado e doutoramento. Como ‘pano de fundo’, o Centro deu-me multidisciplinariedade para analisar um objeto tão complexo como a cidade e a FEUP as condições institucionais para começar a construir o meu espaço num contexto alargado.
Como definiria as suas principais funções no centro? Neste momento tenho dois projetos em mãos. O primeiro chama-se Spatial Planning for Change (SPLACH) e consiste num projeto que envolve o Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e a Universidade de Aveiro: tem como objetivo partir de uma leitura atenta do território nacional para preparar um compêndio de políticas urbanas. Eu estou a coordenar uma das linhas do projeto, dedicado à influência da forma urbana sobre o metabolismo da cidade. O segundo projeto, Emerging Perspectives on Urban Morphology (EPUM), envolve mais quatro parceiros Europeus e procura combinar diferentes abordagens em morfologia urbana (diferentes modos de olhar para a forma física das cidades) através do ensino. Estou a coordenar a participação da FEUP, contribuindo com o meu conhecimento sobre uma dessas abordagens, designada como histórico-geográfica.
Qual ‘O projeto’ que sonha um dia desenvolver (ou que já está a concretizar) no CITTA?
Gostaria muito de desenvolver um olhar abrangente sobre o Passado, o Presente e os possíveis Futuros da cidade, tornando evidente o impacto da forma urbana nas diferentes
dimensões da nossa vida diária no espaço urbano. Em 2018 apresentei uma candidatura à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) centrada neste projeto – intitulado Morpho –, e consegui financiamento. O projeto acaba de arrancar.
Como é que se consegue publicar quatro livros no espaço de apenas um ano?
Em primeiro lugar, é muito importante perceber que são quatro livros publicados no mesmo ano, mas cuja preparação começa em anos diferentes. O facto de terem saído todos em 2018 é uma coincidência! Desde 2011 que tenho mantido uma média de um livro por ano.
Em segundo lugar e não menos importante, referir que todos os livros são fruto de trabalho de equipa. Eu monto o projeto, coordeno o processo e sou autor de alguns capítulos em cada um dos livros, mas recebo contributos de um conjunto de colegas. Por exemplo, o último destes livros, que lançamos em Birmingham em meados de dezembro de 2018, foi JWR Whitehand and the historico-geographical approach to urban morphology. O livro é uma reflexão sobre o contributo de um geógrafo britânico, Jeremy Whitehand, para uma abordagem específica em morfologia urbana. Após um período de investigação escrevi um capitulo em que identificava cinco dimensões em que este contributo podia ser decomposto. Ao invés de escrever os cinco capítulos, explorando detalhadamente essas cinco dimensões, convidei as cinco pessoas que me pareciam estar em melhores condições para explorar essas dimensões.
O seu trabalho é já reconhecido a nível internacional. Um dos seus livros está inclusivamente a ser traduzido para Persa! Qual a ‘sensação’ de chegar ao mundo? Sim, ‘Urban morphology: an introduction to the study of the physical form of cities’ está a ser traduzido para Persa e está a ser muito bem aceite – o seu formato digital tem quase 20.000 downloads pagos! Um dos países onde tem despertado maior interesse é o Irão e uma das razões fundamentais prende-se com a inexistência de livros com este carácter abrangente e introdutório ao campo da morfologia urbana. O livro consiste num manual para um curso de
Morfologia Urbana e, além de Portugal, já dei este curso no Brasil, na China e em Espanha. Um dos meus artigos já tinha sido traduzido para Mandarim, mas esta é a primeira vez que vejo um livro meu ser traduzido para uma língua que não o Inglês ou o Português. Há muita dedicação envolvida no meu trabalho de investigação e é muito gratificante ver o esforço e qualidade dos resultados reconhecidos por diferentes pessoas em diferentes continentes.
Adicionalmente, este reconhecimento internacional permite-me trabalhar com pessoas com diferentes ‘culturas urbanas’ (quer em projetos quer na orientação de Doutoramentos) e lidar com diferentes objetos (cidades). Pela natureza especifica da Morfologia Urbana, a diversidade da amostra permite-me perceber cada vez melhor o objeto ‘cidade’.
O CITTA é também um centro com reconhecimento nacional e internacional. Porquê?
Identificaria três causas fundamentais. Em primeiro lugar, a liderança do Prof. Paulo Pinho, que ao longo desta década e meia, e entre altos e baixos por que o país e o centro passaram, foi sempre capaz de tomar as decisões estratégicas mais acertadas, não só em termos de conteúdos científicos, mas também em termos de captação de recursos humanos e financeiros. Em segundo lugar, destacar a equipa de investigadores que integram o Centro – juntos temos desenvolvido investigação fundamental na área do Planeamento e Transportes. Nos últimos cinco anos os investigadores do CITTA foram responsáveis por 40% dos artigos nacionais nestas duas áreas e cada investigador do centro publicou anualmente um número de artigos acima da média europeia! Por fim, destacaria a importância institucional das duas instituições que suportam o centro de investigação: a FEUP e a Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Portugal está no bom caminho em termos de investigação na área da Morfologia Urbana?
A criação da ‘Rede Lusófona de Morfologia Urbana’ / ‘Portuguese-language Network of Urban Morphology (PNUM)’ em 2010 veio tornar evidente uma premissa: existe trabalho de excelência no nosso país, seja em centros de investigação onde a morfologia urbana tem um papel mais ou menos central, ou em trabalhos desenvolvidos por investigadores a nível individual. Diria que os desafios mais aliciantes que se colocam a este trabalho de inves-
tigação nos próximos anos passam por conseguir uma melhor comunicação dos seus conteúdos, evidenciando o contributo que esta área do conhecimento pode dar à nossa vida e aumentar a influência sobre o planeamento e o desenho da forma física das nossas cidades.
Defende que a Morfologia Urbana e a prática profissional do Planeamento e Arquitetura devem ser indissociáveis. Porquê?
A morfologia urbana fornece ‘conhecimento’ para ‘agir’ sobre a forma física das cidades, que é um dos propósitos do Planeamento e da Arquitetura. Naturalmente, este conhecimento adquire múltiplas expressões. Apenas um exemplo: o modo como utilizamos o recurso ‘solo’ nas nossas cidades. Ao estudar esta questão centro-me no papel de um dos principais elementos de forma urbana, o lote, e na diversidade formal e social que conseguimos quando dividimos os nossos quarteirões num número elevado de lotes de frente estreita. A análise do elemento ‘lote’ em diferentes cidades, em diferentes tempos históricos, dá-nos o conhecimento necessário para fornecermos orientações para a prática de Planeamento e de Arquitetura. Não só defendo isso na teoria como vivo num desses lotes de frente estreita, numa casa com um desenho contemporâneo (projetada por mim e pela minha mulher, que é Arquiteta), com um conjunto de inputs da morfologia urbana, em que cada opção arquitetónica resulta de uma lição do passado.
Quem é a sua inspiração nesta área?
A minha grande inspiração em Morfologia Urbana é o geógrafo britânico Jeremy Whitehand, com quem me orgulho de manter uma grande proximidade, quer a nível pessoal quer a nível institucional. Nenhuma outra pessoa, a nível internacional, fez tanto por esta área do conhecimento como ele! Ao longo das últimas décadas tem vindo a contribuir para a definição disciplinar da Morfologia Urbana. Dentro desta definição abrangente, e com base no trabalho de um outro geógrafo – MRG Conzen, Whitehand propôs uma teoria da forma urbana marcada por uma perspetiva histórico-geográfica. Dentro desta teoria, abriu um conjunto de linhas de investigação, formulou e desenvolveu conceitos e métodos para descrever, explicar e planear a forma física da cidade.
citta.fe.up.pt
‘Urban morphology: an introduction to the study of the physical form of cities’ está a ser traduzido para Persa e está a ser muito bem aceite – o seu formato digital tem quase 20.000 downloads pagos
ACREDITAMOS NO POTENCIAL DOS ALUNOS DAS FACULDADES
ONDE INSTALAMOS AS NOSSAS ANTENAS 5G
A última edição do festival Vodafone Paredes de Coura ficou marcada pela transmissão holográfica que conseguiu reproduzir a imagem do jornalista José Alberto Carvalho, de corpo inteiro, no estúdio improvisado no recinto do festival. Mais de 400 quilómetros de distância atenuados por uma comunicação bidirecional 5G, sem falhas. Apesar da Vodafone já ter lançado comercialmente o sistema em vários mercados, em Portugal as operadoras ainda aguardam pelas licenças. No entanto, o campus da FEUP já tem uma antena 5G para se testar a nova tecnologia. Pedro Santos, Head of Vodafone 5G Hub, e alumnus da Faculdade de Engenharia, explica as razões desta escolha.
Quais são as vantagens do sistema 5G?
A próxima geração de redes móveis – 5G – assenta num conjunto alargado de novas características técnicas que irão permitir utilizações inovadoras e disruptivas por parte dos utilizadores. As três principais características são: mais velocidade – a rede será até dez vezes mais rápida do que é hoje, permitindo visualizações de vídeos de elevada qualidade (p. ex: 8K), aplicações de Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR), bem como gaming online com internet móvel; menor latência – com um tempo de resposta até cinco vezes menor, permitindo uma internet instantânea para serviços com necessidades de comunicações críticas como a de veículos autónomos que se coordenam entre si para uma maior segurança rodoviária e eficiência energética; mais dispositivos ligados – com uma capacidade para ligar até 1 milhão de dispositivos por km2, desbloqueando o verdadeiro potencial da internet das coisas (IoT).
Como surgiu a ideia de instalar uma antena 5G no campus da FEUP?
A Vodafone criou em 2018 o 5G Hub, um centro nevrálgico de inovação para o estudo e desenvolvimento do ecossistema 5G em Portugal. Um dos pilares deste laboratório aberto de produção de conhecimento e inovação assenta no relacionamento com o mundo académico, sendo a FEUP um dos seus parceiros estratégicos.
A fase pré-comercial do 5G em que nos encontramos é o momento ideal para explorar todo o potencial da nova geração de redes móveis, bem como encontrar os casos de uso que revolucionarão os serviços móveis que atualmente conhecemos. Pelo carácter de inovação que se pretende, nada melhor do que contar com a participação de universidades de referência nacional e internacional, como é o caso da FEUP.
Acreditamos no potencial dos alunos das faculdades onde instalamos as nossas antenas 5G e queremos proporcionar-lhes as condições e oportunidades para criarem novos projetos com base numa tecnologia de ponta, atual e resiliente. Porque a inovação não está confinada às grandes empresas, a Vodafone quer apoiar e criar todas as
condições para que os alunos da FEUP estejam sempre na primeira linha da revolução tecnológica que a quinta geração móvel antecipa e para que, juntos, criemos projetos disruptivos potenciados pela rede 5G.
De que forma é que esta tecnologia vai potenciar a incubação de novas empresas no polo da Asprela? Hoje já existe um ecossistema de empresas tecnológicas que gravitam em torno do polo da Asprela, nomeadamente na UPTEC, com quem a Vodafone também colabora há alguns anos através do seu programa de incubação e aceleração de startups, o Vodafone Power Lab. Através da disponibilização da rede de testes 5G da Vodafone abrir-se-ão as portas para a associação de novas empresas que vejam nesta tecnologia o potencial para desenvolverem novos produtos e serviços, podendo desta forma associarem-se à rede de parceiros do Vodafone 5G Hub e contribuírem para influenciar o futuro das comunicações móveis.
Qual é o posicionamento da Vodafone no que toca à ligação entre as universidades/faculdades?
A inovação está em todo o lado e é necessário procurar, estudar e saber ouvir. Na Vodafone, acreditamos que são as perspetivas diferentes, out-of-the-box, que marcam a diferença e originam desenvolvimentos tecnológicos. O carácter humano por detrás da tecnologia é absolutamente essencial para o seu desenvolvimento e sucesso – a tecnologia não funciona sozinha e as universidades e faculdades são um elemento-chave para estes desenvolvimentos. Por sermos um País com uma enorme aptidão para a tecnologia, e possuirmos universidades de excelência que contribuem para a formação de profissionais qualificados, Portugal tem tudo para se destacar tirando partido das novas tecnologias, e a Vodafone quer proporcionar todas as ferramentas necessárias para que os alunos criem projetos diferenciadores.
É com este objetivo que o Vodafone 5G Hub tem como um dos seus pilares a Academia, e decidiu convidar para seus parceiros universidades de referência nacional e mundial, como são os casos da FEUP e IST.
O carácter humano por detrás da tecnologia é absolutamente essencial para o seu desenvolvimento e sucesso – a tecnologia não funciona sozinha e as universidades e faculdades são um elemento-chave para estes desenvolvimentos.
Pequim uma viagem ao futuro
ARepública Popular da China é um foco de atração e admiração pelo mundo inteiro. Tendo crescido a um impressionante ritmo de 12,5% ao no nos últimos 40 anos, a economia chinesa ocupa, atualmente, a segunda posição em valor nominal do produto interno bruto e brevemente ocupará a primeira posição em termos de PIB per capita. As recentes notícias nos jornais não deixam quaisquer dúvidas de que este grande e populoso país – com cerca de 1400 milhões de habitantes – será um incontornável parceiro do futuro e player mundial. Foi com esta perspetiva em mente que, juntamente com o colega Carlos Oliveira, Diretor dos Serviços de Imagem, Comunicação e Cooperação da FEUP, realizei em maio uma viagem a Pequim. O nosso propósito foi, acima de tudo, contactar e criar relações de cooperação com as universidades chinesas da capital, algumas no topo do ranking chinês, como Beijing Institute of Technology (BIT), Beihang University, Tsinghua University, Peking University, Beijing Jiaotong University e University of Science and Technology Beijing.
A semana de visita decorreu a ritmo acelerado, visitando os seis campus universitários, todos eles de dimensão semelhante ao campus da Asprela. Definitivamente, o país está apostado em formar as novas gerações de engenheiros com as melhores condições possíveis de trabalho, apoio social e atividades extracurriculares. Os nossos esforços foram muito bem-sucedidos, resultando desta viagem o estabelecimento de novos acordos de mobilidade e a promessa de mantermos contacto com todas as universidades. Aproveitando estas oportunidades, estão em curso mobilidades de estudantes da FEUP em Beijing e vice-versa. Também em junho passado recebemos uma delegação do BIT e no último trimestre de 2019 teremos na FEUP uma segunda visita do BIT e outra da Tsinghua University.
Pequim é uma cidade com 40 milhões de habitantes em que é extremamente fácil deslocarmo-nos de um lado para o outro. O sistema de transportes públicos é moderno, eficiente e surpreendentemente preparado para os turistas, já que toda a informação está disponível em inglês. Curiosamente, é muito difícil encontrarmos interlocutores que falem inglês, mas isso é compensado pela forma muito afável com que as pessoas nos recebem e com o facto de usarem uma app de tradução simultânea que reduz muito a barreira linguística. Uma grande porção da população usa bicicleta ou veículos elétricos, particularmente no campus universitário. É uma cidade, surpreendentemente silenciosa! E, mercê de um profundo investimento nos últimos anos, o ar da cidade é limpo, o que contrasta com a ideia que vinha sendo transmitida no passado recente. Como visitantes é fácil maravilhar-nos com as diferenças culturais e gastronómicas, espelhadas nos jardins da cidade, nos palácios imperiais e na lojas e restaurantes dos Hutongs (bairros antigos) da cidade.
Conhecer Pequim e a China são, seguramente, objetivos que todos nós podemos almejar no futuro próximo. O crescimento económico e social da Ásia faz desta região um destino para o futuro, profissional, mas também cultural e turístico. E Portugal tem uma longa tradição de abertura e criação de pontes com o Oriente que devemos manter e acarinhar. As portas para a mobilidade de toda a comunidade académica da FEUP para as melhores universidades chinesas estão abertas. Cumpre-nos, agora, manter vivas as ligações entre as respetivas comunidades.
* Coordenador ERASMUS da FEUPOctante com Nónio “Dollond” (1804)
Adquirido em 1804 para o ensino do curso matemático na Academia Real de Marinha e Comércio (instituição que antecede a Academia Politécnica do Porto), e posteriormente utilizado para o ensino da Astronomia daquela Academia, o octante com nónio ajudou a preparar muitos marinheiros para navegarem nas suas fragatas e navios. Conheça este importante instrumento náutico, que integra a coleção do Museu da Faculdade de Engenharia.
Diretamente da firma londrina “Dollond” para o Porto. Estamos em agosto de 1804 e assim começa a viagem do octante com nónio. Adquirido para o ensino do 3º ano de Matemática na Academia Real de Marinha e Comércio – uma carta expedida pela Junta de Administração da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro e dirigida aos agentes da Companhia em Londres assim o comprova – o instrumento de ensino chegou à Invicta apenas em 1805.
O nome octante deriva do latim octans, que significa ‘a oitava parte de um círculo’, termo que surge pela estrutura do objeto, que descreve um ângulo de 45 graus. Este instrumento permite medir o ângulo formado pelas direções de observação de dois objetos distantes, até a um valor máximo de 90º e era, por isso, vulgarmente utilizado para medir a altura do sol ou de uma estrela acima do horizonte, para determinação da latitude. O horizonte era observado diretamente através do instrumento, enquanto que a luz do astro (passando ou não através de filtros), sofria uma dupla reflexão antes de ser recebida pelo observador. Sendo um dos espelhos montado num índice que se move sobre uma escala circular, fazia-se coincidir as visadas dos dois objetos e lia-se, finalmente, o ângulo entre as duas direções.
O octante é, na verdade, uma versão aprimorada de um instrumento conhecido como quadrante de Davis que, por sua vez, tinha também evoluído da balestilha, instrumento vulgarizado pelos navegadores portugueses da Época dos Descobrimentos. O rosto por trás deste
melhoramento foi o matemático John Hadley que, em 1731 – considerado o seu inventor – que conseguiu conceber um equipamento com metade do tamanho de um quadrante, mas sem perda de precisão ou de aumento de margem de erro na medição. Além disso, o instrumento melhorado por Hadley podia ser utilizado tanto de noite como de dia, permitindo apontar também para estrelas menos brilhantes.
Este instrumento tornou-se tão popular que acabou por ser mais utilizado do que o próprio sextante, equipamento desenvolvido mais tarde e com um uso limitado a ângulos não superiores a 90º. Feito de madeira (mogno ou ébano), com escala de buxo, marfim ou latão, em que uma luneta de observação era frequentemente substituída por uma peça com um orifício (pinhole), o octante foi o equipamento de medição náutica preferencial ao longo da segunda metade do séc. XVIII.
Por volta de 1770 surgiu o nónio adaptado à escala circular, que permitia medir ângulos com maior resolução, e, até 1780, apresentava genericamente o zero ao centro. Depois dessa data, o zero passaria a estar à direita – que é o caso do octante com nónio pertencente ao acervo do Museu da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP)
Esta rubrica é uma viagem pelos objetos históricos da FEUP: destacar as peças emblemáticas e algumas coleções que à época permitiram validar conceitos e inovar a forma como se transmitiram conhecimentos.
Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados Octante com nónio, fab. Dollond, London, 1804 Coleção do FEUPmuseu - núcleo DEC (Inv. 100002911) 42 x 33 x 10 cmA futura engenheira que promete dar cartas nos Olímpicos de 2020
É uma das maiores promessas da natação em Portugal. Já participou em dezenas de provas nacionais e internacionais. Aos 25 anos, vai estrear-se na maior competição desportiva mundial: os Jogos Olímpicos.
Paralelamente, Catarina é finalista do curso de Bioengenharia na FEUP e revela os sacrifícios que a alta competição obriga.
Anatação entrou na vida de Ana Catarina Monteiro aos três anos de idade. Aos sete, a jovem iniciou o seu percurso na competição, ao dispor do Fluvial Vilacondense, o clube que a viu crescer e onde ainda hoje treina. Desde então, Catarina tem vindo a colecionar, no seu currículo desportivo, dezenas de títulos e medalhas: Campeonatos Nacionais, uma Medalha de Prata nos Jogos do Mediterrâneo, vários Opens Europeus (Bélgica, Espanha, França, Eslovénia) e finais em Campeonatos da Europa e do Mundo. Pela U.Porto, Catarina já perdeu a conta aos títulos conquistados, ‘Foram dezenas’, revela. Em 2012, venceu o galardão de Atleta Revelação do ano na Gala do Desporto da U.Porto e foi nomeada, no mesmo ano, para atleta do ano pela Federação Académica de Desporto Universitário (FADU).
O sonho de participar nos Jogos Olímpicos acompanha-a desde sempre e quase que foi possível em 2016, mas uma lesão no ombro impediu Catarina de correr atrás do sonho. Três anos depois, dia 4 de abril de 2019 – uma data que ficará para sempre gravada na memória da atleta – nos Campeonatos Nacionais de Natação, nas piscinas do Complexo Mário Mexia, em Coimbra, a nadadora do Clube Fluvial Vilacondense conquistou o passaporte para Tóquio 2020, no Japão, com a marca de 2.08,40 nos 200 mariposa,
especialidade em que é recordista nacional. “Quando bati na parede, olhei para o cronómetro e vi que tinha atingido o objetivo e ouvi toda a bancada… Parece que uma enorme quantidade de flashes passou pela minha cabeça…”, recorda a nadadora.
Catarina atravessa agora a melhor fase da sua carreira enquanto atleta, mas não esconde as dificuldades que teve de enfrentar até chegar aqui. “O caminho foi duro, cada um tem o seu, tem os seus obstáculos, as suas barreiras, mas também tem os seus trunfos, as suas mais-valias… O meu trunfo foi nunca ter deixado de sonhar, ainda que muitas vezes fosse difícil acreditar…”, revela a recordista nacional.
Apesar das exigências inerentes à alta competição, os estudos mantiveram-se sempre como parte integrante da sua vida. Natural de Vila do Conde, desde cedo demonstrou interesse pelas áreas de Biologia e investigação. A descoberta das Engenharias aconteceu em 2011, quando chegou à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para frequentar o curso de Bioengenharia, iniciativa conjunta com o ICBAS (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar). “Sempre fui fã de Biologia e investigação, na altura não tinha uma ideia bem definida e, então, optei por BioEngenharia, pela abrangência que o curso me poderia dar”, recorda a atleta.
A frequentar o 5º ano de Bioengenharia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Catarina encara a conciliação da carreira desportiva com a profissional como uma questão de organização. Contudo, devido à intensidade da carga horária e dos treinos, decidiu concentrar-se na prática desportiva, sem descurar do curso, que frequenta em tempo parcial. “Estabeleço prioridades para cada momento, nos últimos anos o meu foco é a natação... O meu futuro na natação é mais imediato, depois dos trinta e poucos anos acaba, portanto é agora que tenho de apostar tudo”.
Na correria entre os treinos e as aulas, é na família que a jovem encontra apoio e motivação, ‘Tenho a sorte de ter ao meu lado pessoas especiais, que nunca me deixaram desistir de lutar e tornar este sonho um bocadinho seu também’, confessa.
Com uma agenda muito preenchida, a vida pessoal acaba, muitas das vezes, relegada para segundo plano, restando pouco tempo para se dedicar a atividades de lazer. “Gosto de ir ao cinema, passear com o meu namorado, estar numa esplanada com amigos… Mas a maior parte dos meus tempos livres é passada a dormir.”, admite.
“Bater o meu melhor tempo: o recorde nacional” é o objetivo de Catarina para Tóquio 2020. Apesar de consciente do grau de exigência da competição, a atleta mostra-se confiante, “Estou certa de que poderei lutar por uma meia final, e quem sabe por uma final”.
Para o futuro, a nadadora espera terminar o curso para prosseguir, mais tarde, a área da investigação que considera mais próxima do seu desporto de eleição e que lhe permitirá um futuro sempre ligado ao desporto em geral. “Gostava muito de usar as bases que ganhei para me direcionar para a investigação no sentido de melhoria da performance em atletas de alto rendimento”, confessa.
Agora, a viver o sonho de qualquer a atleta, a futura nadadora olímpica promete dar o seu melhor naquela que é a maior competição desportiva mundial. “Eu quis muito este momento, lutei muito por ele, agora quero vivê-lo ao máximo e certificar-me que dei o melhor de mim até ao final!”, afirma a nadadora.
A fechar
Days to remember...
Equipa de investigadores da Universidade de Queensland (Austrália)
venceu a 1.ª edição do Prémio de Inovação
Mundial em Engenharia de Pontes, promovido pela BERD e pela Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP).
A cerimónia realizou-se no Paço dos Duques, na cidade de Guimarães, e contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
www.berd.eu
Parabéns aos irmãos Ana e Pedro Walgode, estudantes, respetivamente, do Mestrado Integrado em Bioengenharia e do Programa Doutoral em Engenharia Química e Biológica, por se sagrarem vice-campeões mundiais de patinagem artística (categoria Pares de Dança Sénior) durante os World Roller Games’19, que decorreram em Barcelona (Espanha) em julho de 2019 .
Sabia que?
Em 2019 e para assinalar o Centenário do nascimento do poeta e escritor Jorge de Sena, a Biblioteca da FEUP preparou uma Maratona Literária?
As comemorações incluíram uma “leitura coletiva” de «O Físico Prodigioso», obra de referência do poeta, escritor e antigo estudante da Faculdade de Engenharia.
fe.up.pt/jorgedesena100
REGRESSO A CASA 2020
SÁBADO, 26 DE SETEMBRO Relvado Central da FEUP
Porque setembro é altura de regressar a casa, não perca a 5.ª edição deste evento para os atuais e antigos estudantes e suas famílias!
Este ano voltamos a colaborar com as empresas com uma forte comunidade de alumni FEUP. Quer saber como se associar? Fale connosco!