Arquivo Anatomia

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30 genética necessária para o desenvolvimento de todas as estruturas necessárias do corpo da rã. Por conseguinte, ficou claro que a diferenciação resulta não de perda de genes, mas, sim, da repressão seletiva de diferentes opérons genéticos. Na verdade, micrografias eletrônicas sugerem que alguns segmentos das hélices de ADN, enroladas em torno dos núcleos de histona, ficam tão condensados que não mais podem desenroscar-se para formar moléculas de ARN. Uma sugestão para a causa desse efeito é a seguinte: suponha-se que um gene regulador no genoma comece, em determinado estágio da diferenciação celular, a produzir proteína reguladora que produza ativação por feedback positivo, desse mesmo gene regulador. Esse feedback positivo causaria a produção continuada dessa proteína, que, daí para diante, seria produzida permanentemente; mas essa proteína reguladora reprimiria outro grupo selecionado de genes. Como resultado, os genes reprimidos nunca voltariam a funcionar. Independentemente do mecanismo, a maioria das células adultas do corpo humano produz entre 8.000 e 10.000 proteínas, em vez das 100.000 ou mais que, potencialmente, poderiam ser produzidas caso todos os genes estivessem ativos. Experimentos embriológicos também demonstram que determinadas células do embrião controlam a diferenciação das células adjacentes. Por exemplo, o cordamesoderma primordial é chamado de organizador primário do embrião, por representar um foco em torno do qual se desenvolve o resto do embrião, Ele se diferencia no eixo mesodérmico, contendo os somitas, com disposição segmentar, e, como resultado de induções nos tecidos circundantes, determina a formação de praticamente todos os órgãos do corpo. Outro exemplo de indução ocorre quando as vesículas ópticas em desenvolvimento entram em contato com o ectoderma da cabeça, fazendo com que se espesse — para formar a placa do cristalino — e se dobre para dentro, dando origem ao cristalino do olho. Conseqüentemente, grande parte do embrião se desenvolve à custa dessas induções, uma parte do corpo agindo sobre outra e esta, por sua vez, aluando ainda sobre outras. Desse modo, embora nossa compreensão da diferenciação celular ainda seja muito grosseira, conhecemos muitos mecanismos distintos de controle pelos quais essa diferenciação poderia ocorrer. CÂNCER O câncer é causado em todos (ou quase todos) os casos por mutação ou por ativação anormal de genes celulares que controlam o crescimento e a mitose celular. Esses genes anormais são chamados de oncogenes. Apenas fração diminuta das células do corpo que sofreram mutações leva ao câncer. Existem diversas razões para isso. Primeiro, a maioria das células mutantes tem menor capacidade de sobrevivência que as células normais e, como resultado, simplesmente, elas morrem. Segundo, apenas algumas das células mutantes que sobreviveram perdem os controles normais de feedback que impedem o crescimento excessivo. Terceiro, as células que são potencialmente cancerígenas são, com grande freqüência, destruídas pelo sistema imune do corpo, antes que possam formar um câncer. Isso ocorre do seguinte modo: a maioria das células mutantes produz proteínas anormais em seus corpos celulares, devido a seus genes alterados, e essas proteínas estimulam o sistema imune do corpo, fazendo com que ele produza anticorpos ou linfócitos sensibilizados contra as células cancerígenas, e assim as destrua. A confirmação dessa explicação é dada pelo fato de que as pessoas cujo sistema imune foi suprimido, como, por exemplo, as tratadas com imunossupressores, após transplante de rim ou de coração, têm probabilidade várias vezes maior de desenvolver câncer. Mas, o que causa os genes alterados? Quando se leva em conta que muitos trilhões de novas células são formadas anualmente, em cada corpo humano, essa pergunta poderia ser melhor formulada do modo seguinte: Por que nós não desenvolvemos literalmente milhões ou bilhões de células cancerígenas? A resposta é dada pela incrível precisão com que os filamentos de ADN cromossômico são replicados em cada célula antes da mitose e, também, devido ao processo de "revisão" que corta e repara qualquer filamento anormal de ADN antes que o processo mitótico seja deixado prosseguir. Contudo, apesar de todas essas precauções, é provável que uma célula recém-formada em alguns poucos milhões de células seja portadora de características mutantes significativas. Dessa forma, é necessário apenas o acaso para que ocorram mutações, de modo que se pode supor que grande número de cânceres seja simplesmente resultado de uma infeliz ocorrência.

Todavia, a probabilidade de ocorrência de mutações pode ser aumentada de muitas vezes quando a pessoa é exposta a determinados fatores químicos, físicos ou biológicos. Alguns deles são os seguintes: 1. E bem conhecido que a radiação ionizante, tal como raios X, raios gama e partículas irradiadas por substâncias radioativas, e até mesmo a radiação ultravioleta podem predispor ao câncer. Os íons formados nas células teciduais, por efeito dessas radiações, são muito reativos e podem romper os filamentos de ADN, causando, assim, muitas mutações. 2. Compostos químicos de certos tipos também apresentam muita propensão para causar mutações. Historicamente, foi descoberto, há muito tempo, que diversos derivados dos corantes de anilina apresentam elevada probabilidade de causar câncer, de modo que os operários da indústria química produtora desses compostos, caso não sejam protegidos, têm predisposição especial para o câncer. As substâncias químicas capazes de produzir mutações são denominadas carcinogênicas. Os carcinógenos que, de longe, causam o maior número de mortes em nossa sociedade atual são os presentes na fumaça dos cigarros. Eles causam cerca de um quarto de todas as mortes por câncer. 3. Os irritantes físicos também podem causar câncer, como, por exemplo, a abrasão continuada do revestimento do tubo digestivo por alguns tipos de alimento. A lesão dos tecidos provoca a rápida substituição mitótica das células. Quanto mais rápidas forem as mitoses, maior será a probabilidade de mutações. 4. Em muitas famílias ocorre forte tendência hereditária para o câncer. Provavelmente, isso resulta do fato de que a maioria dos cânceres depende de mais de uma mutação, antes que o câncer se forme. Nas famílias especialmente predispostas ao câncer, presume-se que um ou mais genes do genoma herdado já sofreram mutações. Portanto, número bem menor de mutações adicionais deve ocorrer nessas pessoas antes que um câncer comece a crescer. 5. Em animais de experimentação, certos tipos de vírus podem causar determinados tipos de câncer, inclusive leucemia. Ocasionalmente, isso pode ocorrer por um de dois modos. Primeiro, no caso dos vírus de ADN, o filamento de ADN no vírus pode inserir-se diretamente em um dos cromossomas e, assim, causar a mutação que leva ao câncer. No caso dos vírus de ARN, alguns deles são portadores da enzima transcriptase reversa, que permite a transcrição do ADN a partir do ARN. Em seguida, o ADN transcrito se insere no genoma das células do animal, levando ao câncer. Contudo, apesar da demonstração de que o câncer virótico pode ocorrer em animais, ainda não foi comprovado que o câncer se propaga por esse mecanismo nos seres humanos, nem que o câncer seja contagioso, passando de uma pessoa a outra. Característica invasiva da célula cancerosa. As três diferenças principais entre uma célula normal e outra cancerosa são: (1) A célula cancerosa não respeita os limites normais do crescimento celular; a razão disso é que as células cancerosas não necessitam dos fatores de crescimento, como ocorre para as células normais. (2) As células cancerosas são muito menos aderentes entre si que as células normais. Como resultado, tendem a vagar através dos tecidos, a entrar na circulação e a serem transportadas para todo o corpo, onde formam ninhos para novos e numerosos crescimentos cancerosos. (3) Alguns cânceres são capazes de produzir fatores angiogênicos que produzem o crescimento de vasos sanguíneos para e no câncer, o que garante o fornecimento de nutrientes necessários para o crescimento do câncer. Por que as células cancerosas matam? A resposta a essa pergunta é, em geral, muito simples. O tecido canceroso compete com os tecidos normais pelos nutrientes. Visto que as células cancerosas continuam a proliferar indefinidamente, seu número se multiplicando dia após dia, pode ser facilmente compreendido que as células cancerosas, dentro de pouco tempo, exigirão toda a nutrição disponível para o corpo. Como resultado, os tecidos normais, gradativamente sofrem morte nutricional. REFERÊNCIAS Bojaj, M., and Blundell, T.: Evolution andthe tertiary strueture of proteins. Annu. Rev. Biophys. Bioeng., 13:453, 1984. Reers, R. F.(ed):CellFusion. GeneTratisfer and Transformation. New York, Raven Press, 1984. Bownes, M.: Differentiation of Cells. New York, Methuen, Inc., 19&5. Bradshaw, R. A., and Prentia, S.: Oncogenes and Growth Factors. New York, Elsevier Science PubliehkigCo., 1987. Bryant, P. J., and Simpson, P.: Inthnsic and extrinaic control of growth in developing organs. Q. Rev. Biol., 59:387, 1984.


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