Doce loucura

Page 1



Doce loucura Autora: Luciana Galhardo  Não Tom! Gritou Sabrina assustada.  Quantas vezes eu vou ter que te pedir para ficar longe dos meus bichos? O pequeno coiote parou assim que ouviu o grito de Sabrina, abaixou a cabeça e foi se rastejando até ela como um pedido para que fosse perdoado, fazendo Sabrina rir muito. Abaixou-se e fez um pequeno chamego no seu mais novo amigo.  Acho que ás vezes você só faz isso para me provocar, sabia? Sabrina sempre teve muito amor por animais e logo que saiu do colegial, entrou na faculdade veterinária onde se formou como a primeira da turma. Logo que pode, abriu sua própria clínica chegando inclusive a clinicar por um bom tempo. Ela era totalmente diferente da irmã Isabelle que se formou em administração de empresas e juntamente com uma amiga se aventurou em uma firma de consultoria. Algum tempo depois que Sabrina abriu a clínica perderam a mãe que teve um enfarto fulminante, sendo assim o pai delas resolveu que viveria no campo onde ele sempre viveu antes de se casar, pois ele costumava dizer que se sentia mais “saudável”. Daí essa paixão que Sabrina tinha por tudo que era rústico. Sempre gostou de andar de jeans, ao invés da irmã que só andava na moda com seus vestidos e saias de grife. Quando o pai de Sabrina decidiu que mudaria para o campo, ela fechou sua clínica e juntos compraram um rancho e aos poucos foram fazendo as devidas reformas que precisava e antes do previsto já estavam com um rancho todo reformado e estruturado. Não tinha um na região que não ficasse admirado com o que eles conseguiram fazer com o que antes era uma velha casa abandonada com um lago todo sujo, que agora se podia ver sua água cristalina em um verdadeiro lar. Mas logo o coração de seu pai também não agüentou muito tempo e Sabrina de repente se viu tomando conta de tudo sozinha. Às vezes quando conversava com sua irmã, ela fazia de tudo para que vendesse o rancho e voltasse a viver na cidade. E falta de proposta não era, pois logo que seu pai faleceu, vários donos de outros sítios

ou de ranchos iam direto em sua porta para lhe fazer ofertas às vezes tentadoras. Mas era como ela sempre falava com a irmã: Onde ela iria encontrar o que tinha ali? Um raiar de sol maravilhoso que a despertava sempre de manhã sem nem mesmo precisar de um relógio? Um campo cheio de margaridas, roseiras e outras flores maravilhosas que ali estavam plantadas? Sentir o verdadeiro sabor das frutas que ali estavam em um vasto pomar? Tomar um delicioso banho refrescante no lago no final da tarde tendo como espectadores à natureza a sua volta e o por do sol que se despedia dela lhe dando um espetáculo de tirar o fôlego? E ainda podia contar sempre com uma visita de algum animal que a visitava de vez em quando, pois como sua propriedade ficava perto de uma floresta vira e mexe tinha algum visitante. O mais novo era justamente aquele coiote, que aos poucos ela foi ganhando sua confiança e já se sentia “o dono do pedaço”. Assim como o pai, ela tinha orgulho do que haviam feito com aquele pedaço de terra, e esse era mais um motivo de jamais cair na tentação de vender o rancho, pois haviam se dedicado de corpo e alma para ela vender assim sem mais nem menos. Afinal ela também amava aquela terra e se dependesse dela não iria sair dali por nada nesse mundo. Assim que ia entrando em casa escutou o telefone tocar e correu para atender.  Alô!  Ola maninha, até que enfim te encontrei, sabia que está cada vez mais difícil falar com você? Você já trocou de celular ou a conexão aí que está ruim mesmo? Falou Isabelle.  Olá Isa! Não, eu ainda não troquei não, mas deixa-me dar uma olhada nele, às vezes eu esqueço de por para carregar. Disse Sabrina olhando para o aparelho.  É! Infelizmente eu esqueci de novo. Disse ela sem se importar.  Eu não acredito! Como você pode ser tão desligada assim Sam? Por isso eu tenho dois aparelhos, se um acabar a bateria eu tenho outro para me socorrer. Sabrina não agüentou e começou a rir da irmã que não conseguia viver sem um celular ou internet. É lógico que ela tinha tudo isso ao seu alcance, mas não ficava maluca se algum deles não funcionasse assim como sua irmã ficava.


 Eu não sei como você pode ficar a mercê dessa tecnologia, imagina que vou perder minha noite de sono só porque a internet não funciona. Falou ela rindo ao se lembrar de uma vez que sua irmã passou alguns dias com ela. Era um fim de semana e logo começou a chover uma forte tempestade fazendo com que ficassem totalmente sem telefone e lógico sem a “bendita” da internet. Ela lembrava que enquanto que não voltou a energia Isa não conseguia, dormir ao contrário de Sabrina que dormiu feito um bebê. Ao amanhecer sua irmã estava com cara de poucos amigos e jurou que nunca mais passaria uma noite ali, só vindo para uma breve visita. Ficaram mais algum tempo conversando e logo Isa se despediu prometendo que a visitaria em breve. Sabrina resolveu ir a cidade mais cedo, pois o tempo estava ameaçando chover e pelo jeito viria uma chuva brava. Pegou sua bolsa e se dirigiu até o curral para avisar Jack, seu funcionário que a ajudava no rancho de que precisava ir até a cidade.  É! Parece mesmo que vai vir muita água. Disse ele.  Sim, me parece que sim.  Eu vi aquele coiote cheirando por aí hoje. Temos que ficar de olho nele patroa.  Não esquenta com ele não Jack. Ele ainda é só um filhote e eu já estou ensinando bons modos a ele.  Mas mesmo assim tem que ficar de olho, pois ele é selvagem como todos os outros. Já estava entrando na sua camionete e quase não escutou Jack a alertá-la, porque o tempo estava ficando feio. Sabrina passeava devagar pela estrada de terra desfrutando daquela vista linda de sua casa toda cercada por uma cerca branca com várias roseiras plantadas em volta. Esse tinha sido um desejo de seu pai, pois como sua mãe adorava rosas e plantas então ele mesmo plantou a maioria delas que ali estavam. Acelerou o carro para não ter que pegar chuva na estrada, ela não gostava muito de dirigir na chuva achava muito perigoso. Ao longo da pequena viagem ia imaginando sua vida na cidade grande. Não que não era feliz, mas sentia que estava faltando algo em sua vida. Sentia que aquele não era seu lugar, ainda mais depois de uma grande desilusão amorosa que quase a fez entrar em depressão.

Respirou fundo ao se lembrar daquele triste episódio de sua vida, quando foi noiva de Bryan, um rapaz cujo único objetivo era sua carreira. Sabrina não fazia nada sozinha, ele nunca a apoiou em nada inclusive em sua clínica. Conheceram-se logo que entrou na faculdade. Bonito, educado, era tudo o que uma moça podia querer. Mas infelizmente era também muito egoísta só pensando nele mesmo. Quando Sabrina se formou eles ficaram noivos e como ela sempre teve muito carinho por animais então resolveu abrir sua própria clínica. Mas em vez dele apoiá-la como todos fizeram, ele simplesmente disse uma vez que aquilo não passava de um “capricho” porque assim que eles se casassem ela ficaria em casa cuidando dos filhos que ele queria ter logo no começo do casamento. Até aí tudo bem dele pensar assim. Mas o que mais a irritou foi que ele disse isso para todos sem ao menos conversar sobre isso com a parte mais interessada no assunto “ela” mesma! Pois ficou sabendo por outras pessoas de que quando se casasse venderia a clínica e abandonaria sua carreira de veterinária para cuidar dos filhos que logo viriam. Até mesmo algumas pessoas estavam achando que ela estava grávida devido aos comentários de Bryan. Em uma noite quando foi conversar com ele sobre isso, ele disse que aquilo tudo era verdade e que não entendia o motivo dela estar tão brava se desde o começo do namoro deles deixou isso bem claro para ela.  Eu vou estar sempre viajando Sam, quem vai cuidar da casa nesse tempo todo?  Você já pensou na possibilidade de contratar uma empregada?  Não e sim! Tudo bem de contratar alguém, mas você tem que concordar comigo que mesmo com uma empregada quem tem que cuidar da casa é a esposa.  E para que você acha que eu fiz uma faculdade Bryan? Você acha mesmo que foi para eu ficar cuidando da casa?  Não! Acho que foi para preencher seu tempo livre. Disse ele com naturalidade. Sabrina não podia acreditar que aquilo estava acontecendo justamente com ela. Justamente ela que nunca gostou de depender de ninguém, só agora percebeu que estava sendo manipulada nesse tempo todo em que estavam juntos. Como pudera ser tão cega?


 Eu não acredito que você pensa assim Bryan? Perguntava ela na esperança de que aquilo fosse uma brincadeira dele.  Não. Eu não sei porque seu espanto...Olha Sabrina, na minha família sempre foi assim, os homens trabalham e as mulheres ficam em casa cuidando das coisas.  Mas Bryan! Eu me formei por um motivo.  Eu sei disso, mas você tem que dar prioridade na sua família. Logo eu vou querer ter filhos e como você vai conseguir conciliar sua clínica com a vida de casada?  Mas podemos dar um jeito nisso, afinal tem tantas mulheres que trabalham fora e cuidam da família é só você me ajudar.  Eu? Perguntou ele. Mas eu vou estar sempre trabalhando até tarde, como eu vou poder te ajudar meu amor? Perguntou ele a abraçando.  Mas como assim “eu”? Você também vai se casar sabia?  Sabrina, eu vou falar pela última vez. Eu sou homem e todos os homens da minha família fazem isso.  Não! Pelo jeito vocês não fazem nada em relação à família, a única coisa que eu estou vendo é que vocês só sabem fazer filhos e as mulheres que se virem para cria-los.  Sabrina! Pensa como se fosse uma troca, vocês cuidam da casa e nós trabalhamos fora. Dizia ele contente com a solução. Sabrina o olhava espantada, ao ver como o noivo era tão machista, como não havia percebido isso antes? E o pior é que ele achava aquilo a coisa mais natural do mundo.  Olha! Sinceramente eu não posso acreditar no que você está me dizendo. Falava ela se sentindo usada.  Como você pode pensar assim nos tempos de hoje?  Não existe mais esse negócio de mulher ficar em casa com aquele monte de filhos enquanto o homem põe comida dentro de casa Bryan. Em que mundo você pensa que está?  Sabrina eu fui criado assim, minha família toda é assim. Falava ele se defendendo.  Mas você não precisa ser assim, se os seus parentes querem seguir isso a risca problema deles.  Não Sabrina! Não sou eu quem vai sair da linha. E além do mais quem não seguir isso na risca meu pai tira do testamento. Disse ele já nervoso.  Sabrina apertou as mãos no volante do carro de raiva daquele momento, afastou

aquele pensamento de sua cabeça, pois já estava chegando á cidade. Respirou fundo e deu a volta no canteiro central para entrar na avenida que dava para o mercado onde costumava fazer suas compras do mês. Parando no estacionamento desceu do carro e entrou. Arrepiou-se ao sentir o ar condicionado que pegou sua pele de surpresa, pois não gostava de ligar o ar do carro, preferindo sentir a brisa do vento em seu rosto. Passou pelos corredores olhando em sua lista e logo o carrinho estava cheio. Quando estava se dirigindo até o caixa, um policial veio ao seu encontro.  Bom dia Sam.  Bom dia Bob. Respondeu ela educada.  Você sabia que terá um novo vizinho?  Não.  Finalmente o velho Samuel conseguiu vender suas terras. Que ironia não? Enquanto ele fazia de tudo para vender a dele, você fazia de tudo para afastar os compradores da sua. Falou ele rindo.  Pois é. Falou não dando muita conversa, pois não confiava muito nele.  E como estão as coisas por lá? Muito trabalho?  Um pouco. Mas está dando para levar.  Você sabe que se precisar pode me chamar não é? Falou ele a olhando de cima a baixo.  Sim. Falou sentindo um princípio de raiva.  Tem certeza de que não precisa de nada? Insistiu ele.  Tenho sim. Falou ela jogando as mercadorias no balcão já pronta para falar um monte para ele.  Mas pensando bem, até que você podia me ajudar com uma coisa.  E o que é?  Você podia fazer seu trabalho e descobrir quem está matando os animais lá na floresta. Falou ela fazendo ele fechar o semblante.  Eu já te disse que nós investigamos e não conseguimos encontrar nada. Deve ser caçadores de outras regiões que vem só para se divertir. Falou ele calmamente.  E você não acha que isso é um crime? Sair da região deles e vir caçar na nossa região? E os animais? Você acha justo eles terem de sair de suas casas por causa desses canalhas?


Sabrina não agüentou e explodiu com ele fazendo algumas pessoas que estavam perto deles a olharem curiosos.  Olha Sabrina. Eu sei que você gosta desses bichos, mas eu te disse que já investigamos e não descobrimos nada.  Você sabe o tamanho daquela floresta? Eu não tenho pessoal suficiente para isso, e além do mais eles só estão matando animais. Aquilo fez o sangue dela ferver por dentro, quem a conhecia sabia o quanto estava furiosa.  Pois fique sabendo que se eles se aproximarem de minhas terras seja para matar “animais ou não” eu vou acabar com eles. Aí eu quero ver se você vai me encher o saco por eu ter feito o seu serviço.  Mas Sam, você sabe que aqui a caça não é proibida, sendo assim eles podem caçar a vontade.  Mas tem que ter algum controle se não daqui a pouco matarão até mesmo os filhotes.  E você tem que concordar que a caça é liberada para a sobrevivência e não por diversão.  Eu sei disso. Falou ele. Mas infelizmente não temos como percorrer toda a floresta.  Bom, meu aviso está dado. Depois eu não quero saber de polícia em minha porta ok? Saiu do supermercado com a cabeça doendo. Como detestava quando alguém não se importava com as coisas que acontecia, principalmente a polícia. Está certo que eles não tem pessoal suficiente para isso, mas custava pedir ajuda para outras delegacias e colocar aquele povo para correr? Homens! Pensou ela. Não podia contar com eles para nada mesmo. Quando já saia do estacionamento para entrar na avenida, foi fechada por um carro que rapidamente desviou dela e entrou no canteiro central. Respirando fundo para se livrar do susto, ela saiu de seu carro e foi até o outro para ver se o motorista estava bem. Mal chegou no carro e a porta foi aberta, ela pode notar que quem dirigia era um rapaz que saiu olhando seu carro para ver se tinha algum amassado. Ele nem se importou em ver se o outro motorista estava bem, a única coisa que importava naquele momento era o carro dele.

“Homens”! Pensou ela balançando a cabeça e voltando para seu próprio carro. Ligou o carro e notou que o rapaz atravessava a rua e vinha em sua direção.  Você não vai nem perguntar se eu estou bem? Disse ele sério.  Não! Eu notei que você está bem e seu carro também por sinal. Disse ela já engatando a marcha.  Mas um pedido de desculpas seria educado sabia? Falou ele.  Um pedido “seu” de desculpas não é? Falou ela sarcástica.  Meu? Mas foi você quem quase bateu no meu carro. Insistiu ele.  Você disse bem, você “quase” bateu em “meu carro”, pois se você não sabe, devia ter parado logo ali na esquina. Disse ela lhe indicando o local.  Mas ali não tem nenhuma indicação que eu devia ter parado.  Bom, mas como agora você sabe que devia ter parado então está na hora de se desculpar?  Eu não posso me desculpar por uma coisa que não fiz.  Mas você quase bateu no meu carro. Exclamou ela.  Porque não tem nenhuma placa indicando isso.  Bem! Aí você tem que fazer uma reclamação lá na prefeitura e não aqui comigo, pois eu não trabalho lá. Dizendo isso ela engatou a marcha e foi embora deixando o rapaz olhando para ela e pelo que parecia, ele estava sorrindo. Era só o que me faltava! Pensou ela. Mas porque todo homem que ela conhecia dava sempre um de superior para cima dela? Será que era pelo seu porte frágil? Pois com seus um metro e sessenta e cinco, não era lá nenhuma modelo. Mas como sua irmã costumava dizer ela tinha um ar de superior irritante, que deixava qualquer homem com vontade de abaixar aquela “crina”. Mas deixou os pensamentos para trás e acelerou o carro por causa da chuva que já começava a cair. Assim que chegou em casa, colocou a camionete na garagem para que pudesse descarregar as compras sendo ajudada por Jack que veio ao seu encontro.  Eu fiquei sabendo que vamos ter vizinho novo, patroa. Falava ele enquanto descarregava o carro.  É, eu também. Você já o viu por aí?


 Não, ainda não. Mas logo ele vai vir aqui conhecer essa belezura toda.  Provavelmente. Tomara que seja melhor que o antigo. Disse ela.  A senhora não gostava muito dele não é?  “Senhora” não Jack. Você. Corrigiu ela.  Está bem, é que eu esqueço. Desculpou-se ele.  Tudo bem.  E não. Eu não gostava dele. Ele era muito desleixado com tudo, inclusive com os animais. Disse ela.  É mesmo. Ele era muito ruim com os bicho dele. Lembra quando um potrinho se enroscou todo na cerca? E ele não queria levar o coitado no veterinário?  Nem me lembre disse Jack. Falou ela.  Se não fosse pela senhora...quer dizer você, o coitado com certeza tinha morrido.  Isso eu não sei, mas ainda bem que deu para salvar a vida dele.  É verdade. Falou ele pensativo.  Será que ele vendeu o sítio dele com os animais também? Ou foi só a terra?  Eu não sei, mas se a senhor...corrigiu rápido ao ver o olhar que ela lhe mandava. Se você quiser eu perguntou por aí.  Não precisa Jack, mais cedo ou mais tarde vamos ficar sabendo mesmo.  E o rapaz que iria começar aqui hoje para te ajudar? Como ele está indo?  Eu deixei ele lá no pasto consertando algumas cercas, mas eu acho que com essa chuva ele deve ta lá no barracão numa hora dessas.  Concertando cercas? O que aconteceu com elas? Perguntou preocupada.  Algumas só estamos trocando porque está fraca, mas outras estavam com uns buracos e não sei se foi algum bicho ou se alguém que cortou.  Hora que a chuva passar eu vou até lá dar uma olhada, não me deixa esquecer está bem?  Está bem. Terminaram de carregar tudo para dentro e Jack foi terminar seus afazeres. Sabrina tinha total confiança nele, ele também deu muita ajuda para eles na hora de reformar o rancho. Sempre muito caprichoso em tudo o que fazia e sempre bem educado, não poderia ter achado empregado melhor, ainda mais agora que estava sozinha. Foi até a cozinha e tomou um delicioso suco de caju, pois mesmo chovendo fazia muito calor.

Sentou em uma cadeira e sem querer seus pensamentos foram parar naquela bendita “quase batida”. Agora ela se lembrava com certeza de que o estranho estava sorrindo quando ela o deixou parado lá no meio da rua. Mas que audácia dele em querer que ela pedisse desculpas á ele. Nem mesmo perguntou como ela estava, só ficou olhando seu querido carro para ver se não tinha tido nenhum amasso, pois ele chegou a subir no canteiro de flores. Ah! Se ela soubesse que ele iria reagir daquele jeito, bem que teria acelerado e deixado que o carro dele batesse com tudo no dela. Afinal o seu era maior que o dele e com certeza o seguro iria cobrir de qualquer jeito. E pensar em seguro, ela não pode deixar de pensar de novo no seu noivado. Quando Bryan havia declarado para ela que o pai dele tiraria do testamento aquele que não seguisse a risca o estilo “machista” de casamento, ficou mais indignada ainda. Pois sentia que ele estava casando com ela mais para agradar ao pai do que ela mesma. Por mais alguns meses ela tentou fazer com que ele mudasse, fazer com que ele enxergasse que para um casamento dar certo teriam que se doar cada um uma parte de si e um ajudar o outro a realizar suas vontades tanto no casamento quanto fora dele. Mas ele não dava o braço a torcer e achava um absurdo ela querer manter a clínica depois de casada. Mas o engraçado nisso tudo era que ele nem havia feito o pedido á ela ainda e sem nem mesmo consultá-la já fazia planos e apontava seus devidos deveres de esposa. Tudo foi por água abaixo quando no funeral de sua mãe, os pais dele vieram lhe dar os pêsames e deram a entender que agora mais do que nunca ela precisava se casar e que ela tinha muita sorte que fosse com o filho deles. Ali mesmo no funeral ela disse a eles que pretendia manter a clínica depois de casada, mais para ver a reação deles. E foi como ela pensava que seria. O pai dele a olhou como se ela tivesse dito que havia traído o filho deles. E a mãe então? Ela teve a capacidade de dizer que “sorte que sua mãe estava morta para não ter que escutar uma blasfêmia daquelas”. Não agüentando mais aquilo, naquela mesma noite terminou com Bryan que nem mesmo se comoveu com o término do noivado.


 Eu achei mesmo que não daria certo entre nós. Disse ele. Pois meus pais não gostaram do que você falou para eles hoje no funeral de sua mãe.  Ah é? Eles não gostaram? E por acaso sua mãe disse o que ela me falou? Perguntou ela.  Ela me disse que era para eu dar graças por minha mãe ter morrido para não ter que escutar eu falar uma blasfêmia daquela. Disse ela já chorando.  Mas você queria o que Sam? Você foi falar aquilo justamente para o meu pai? Falou ele balançando a cabeça em forma de reprovação.  Pois estou vendo que você pensa o mesmo que eles, não é verdade? Perguntou enxugando os olhos.  Sabrina eu fui criado assim, eu não sei como você não percebeu antes.  Mas você não viu que desde o começo “eu sou assim”?  Eu vi, mas com o tempo achei que poderia te mudar, mas pelo jeito não deu certo.  Pois se eu tivesse percebido que seria assim com certeza não tínhamos chegado tão longe no nosso relacionamento. Disse ela.  Escuta! Vamos deixar isso para lá e vamos seguir em frente, você só tem que se desculpar com minha família e tudo será esquecido.  Eu? Mas me desculpar de que? Por eu ter uma opinião diferente deles? Mas você só pode estar brincando. Falava ela sem ainda acreditar que nos dias de hoje existia aquele tipo de machismo.  Se não for assim então eu não vejo outro jeito a não ser em terminarmos mesmo. Falou ele calmamente. Sabrina simplesmente deu meia volta e foi embora furiosa pela maneira de como foi tratada justamente pelo noivo que ainda tinha a capacidade de dizer que a amava muito. “Calhorda”, pensou ela acabando seu suco e indo até a porta ver a chuva que caia agora mais calma. “Que delícia”. Pensou ela respirando fundo. Ficou por um bom tempo olhando para toda aquela maravilha que estava ali ao seu alcance. Assim que a chuva parou, Jack bateu na porta da casa de Sabrina lhe avisando que a chuva já havia passado e estava lhe lembrando de ir ver a cerca que tinham arrumado. Agradeceu e voltou sua atenção em sua tarefa, mais tarde teria que visitar um paciente que tinha tido filhotes recentemente.

Era assim que Sabrina vivia, ao longo do tempo conseguiu montar um pequeno consultório em seu rancho, nada muito grande mesmo porque ela fazia muitas visitas em casa do que propriamente na sua clínica. Acabou de revisar algumas fichas e se preparou para olhar as cercas. Montou no seu cavalo que já estava preparado para ela e saiu galopando pela estrada. Como ela não cansava de olhar para aquela paisagem, ainda mais agora que tinha chovido as flores pareciam alegres por terem recebido aquele banho de chuva. Logo chegou ao local, desceu do cavalo e deixou solto para pastar enquanto olhava tudo por ali. Já estava tudo arrumado, mas mesmo assim resolveu olhar toda a extensão da cerca e aproveitar e caminhar um pouco. Ia olhando tudo com muita atenção, quando de repente escutou gritos e pelo jeito vinha do lado de seu vizinho. Resolveu dar uma espiada e correu para ver o que estava acontecendo e assim que chegou ao local pode perceber que se tratava de seu mais novo amigo o coiote Tom que pelo jeito já estava dando trabalho para seu vizinho. Dando risada, Sabrina empurrou algumas plantas da cerca para poder ver melhor e para sua surpresa viu o rapaz da “batida” com um tijolo na mão ameaçando acertar em Tom que o olhava mostrando os dentes.  Não faça isso Tom! Gritou ela por cima da cerca. Os dois olharam para ela.  Afaste-se dele.  Agora Tom. Disse com mais firmeza. Os dois como que obedecendo, se afastaram um do outro dando passos para trás sem tirar os olhos do adversário.  Agora de meia volta e suma já daqui Tom. Falou ela brava.  Você só pode estar brincando. Falou o rapaz sem encará-la, pois seu olhar estava fixo no coiote. Ela se contorceu toda para passar pela cerca e logo já estava perto do coiote, passou a mão na sua cabeça e disse:  Vá já embora daqui. Anda. O rapaz ficou perplexo com aquela cena, o coiote simplesmente virou as costas para ele, sem antes lhe mandar um olhar cruel tipo assim “eu vou voltar” e foi embora.


Ele então abaixando a mão pode finalmente jogar a pedra ao lado, limpando as mãos para tirar o restante de terra.  Será que você pode me dizer o que ia fazer com aquela pedra? Perguntou irritada.  Se você não viu aquele animal queria me atacar. Defendeu-se ele.  Hum! Aquele filhote? E a solução seria lhe acertar com aquela pedra?  Olha! Para dizer a verdade eu não tive muito tempo de pensar na hora, mas se fosse preciso. Ele me pegou de surpresa.  Ele te pegou de surpresa? Eu acho que vou pedir para ele voltar e lhe pedir “desculpas”. Falou ela tirando sarro nele pelo incidente logo de manhã.  Há! Você é muito engraçadinha sabia? Mas se você acha que ainda pode alcançá-lo eu posso aguardar. Falou ele sorrindo.  Se ele voltar aqui acho que nem eu vou conseguir convence-lo a não lhe dar uma mordida.  Por isso que eu tinha uma pedra na mão.  E por isso que ele estava tentando lhe morder, ele só estava se protegendo.  Se protegendo? E eu? O que você acha que eu estava fazendo? Brincando de pega vareta?  É! Seria engraçado ver você ir pegar a vareta. Falou rindo dessa vez ao imaginar a cena. Ele parecia que não tinha gostado muito não, pois o olhar que ele lhe mandou dizia tudo.  E então? O que você faz aqui?  Eu sou o novo dono desse lugar.  Eu não acredito! Falou ela.  Como não acredita? Pelo jeito você não gostou mesmo, pois eu mal cheguei e você já me mandou ir embora.  Eu mandei você ir embora?  Sim. Agora pouco, você não se lembra? Disse ele a encarando pela primeira vez.  Não! Eu acho que você está ouvindo coisas.  Eu não estou “ouvindo coisas”, você mesma que disse: Tom vai embora daqui. Sabrina não agüentou e começou rir, no começo ela até que tentou segurar mas ao imaginar a situação não agüentou e quanto mais ela imaginava mais ela ria. “Essa mulher deve ser doida”. Pensava ele enquanto a olhava curioso. “Doida e linda” . Pensou a olhando da cabeça aos pés.

Será que ela morava nas redondezas? Será que tinha namorado? Quantos anos será que tinha? Até que estava gostando de ouvi-la rindo, mesmo que estivesse rindo dele, o som da sua risada era algo cristalino. Ficou ali parado sem entender nada daquela gostosa gargalhada mas adorando cada minuto. Em meio ao riso, Sabrina nem imaginava o rumo dos pensamentos de seu mais novo vizinho. Então tratou de se controlar e tentar lhe explicar aquela situação de riso.  Me desculpe. Disse ela. Mas é que é muito engraçado. Dizia ainda sorrindo.  Fique a vontade. Falou ele.  Olha! Disse ela. Quando eu te contar você também vai rir.  Eu não vejo a hora. Disse ele se aproximando. “Opa”! Pensou Sabrina ficando um pouco séria. Achava que estava na hora de parar de rir e ir embora dali.  Qual é o seu nome?  Você já sabe, para que eu vou repetir.  Não! Eu não sei. Falou rindo de novo. Por acaso seu nome é Tom?  Sim. Mas se você já sabe porque fica perguntando?  Porque eu não sabia seu nome, pois o Tom que eu mandei sair daqui era aquele coiote. Ele fez cara de quem não estava entendendo, mas logo caiu a ficha.  Então você está me dizendo que aquele coiote se chama Tom?  Sim! Não é engraçado?  Sinceramente não. Falou ele.  Ah! Vamos lá, você só não achou graça porque aconteceu com você se fosse com outro acharia tão engraçado quanto eu  Por acaso foi você que colocou esse nome nele não foi?  Sim. Mas como você sabe disso?  Porque ele te obedeceu e parece que já se conhecem há bastante tempo.  Não tem tanto tempo assim, pois ele ainda é filhote.  Mas mesmo assim. E porque você colocou esse nome nele?  Ah! Eu tinha notado que ele já estava rondando fazia algum tempo, e uma noite escutei um barulho estranho, me levantei e fui ver o que era.  Quando cheguei perto do galinheiro, pude ver que era ele brincando com uma pequena lata vazia que ali estava e cada vez


que ele batia as patinhas nela ela emitia um som de tommmmm,tommmmm... Começou a rir de novo.  Na hora eu falei Tom? Aí ele me olhou assustado e saiu correndo, mas logo no outro dia ele já estava de volta e assim que o vi eu disse:  Tom! Vem aqui vem. Ele se abaixou e devagar veio até mim. Falava ela contente.  Não é à toa que ele é um animal irracional.  Como é? Perguntou ela.  Animal irracional! Por isso que ele foi até você se rastejando, porque ele não pensa. Falou ele com sarcasmo.  Não! Ele fez isso porque é uma criatura pura que só precisa de carinho e apesar de ser macho é muito mais inteligente e educado que certos homens que conheço. Alfinetou ela.  Esse é o problema de se viver em cidade pequena, o povo não costuma ser muito educado com quem vem de fora. Falou ele a encarando de novo.  É porque quem vem de fora acha que aqui só tem caipira e já chega se achando o rei do pedaço. Respondeu ela o encarando também. Os dois estavam tão pertinho um do outro que dava para sentir o hálito quente de cada um. Tom estava maravilhado com sua “anfitriã”, ela era linda e no momento o olhava furiosa. Ele tinha a impressão de que ela gostava de uma boa briga, pois o encarava de igual para igual. Isso fez com que ele sorrisse mais ainda, pois adorava um desafio.  Só para te mostrar de como eu sou educado diferente de certas pessoas, não vou nem ligar pelo fato de você ainda não ter me dito seu nome.  É quem disse que eu vou te dizer meu nome?  Viu? Eu não disse que o povo de cidadezinhas podem ser mal educados? Falou ele sorrindo. Sabrina não acreditava que estava ali jogando conversa fora com aquele forasteiro desaforado, normalmente já teria dado uma boa tarde e ido embora sem ao menos falar quem era. “Mas não! O que ela estava fazendo ali ainda”? Pensou. Mas tinha que concordar que até que ele era bonitão, pena que pelo jeito era mais um machista.

 Eu só vou dizer o meu nome para te mostrar que diferente de você eu sou uma pessoa bem educada.  O meu nome é Sabrina. Disse ela. Ele a olhou de cima a baixo e disse:  Mas você nem vai me dar três beijinhos?  Você tem sorte de eu não estar armada...Falou ela fula da vida. Ele riu muito de seu comentário, pois achou que se estivesse mesmo armada ele provavelmente estaria em maus lençóis.  Então eu estou com sorte. Falou sorrindo.  Por enquanto...Disse ela. Ela não sabia porque, mas não conseguia ficar com raiva dele e muito menos arredar o pé dali e ir embora.  Você mora por aqui? Perguntou ele.  Porque você quer saber? Falou ela desconfiada.  Você é sempre assim com todo mundo ou só comigo?  Assim como?  Bem vamos ver! Arredia, mal humorada, mal educada...Listou ele.  Geralmente não com todos, mas com você estou fazendo um esforço. Disse ela sorrindo levemente.  Ah! Então está explicado.  E então? Perguntou ele.  Então o que? Perguntou ela.  Você não vai me dizer onde mora? Ela pensou em não dizer nada, mas aí se lembrou que também não sabia nada sobre ele.  Então foi você quem comprou o rancho do velho Samuel?  Como você pode ver, sim.  Espero que você faça uma bela reforma por aqui, porque sinceramente da uma dó em ver como ele está abandonado.  Sim, eu pretendo reformar o que for preciso para fazer daqui o meu novo lar. Falou ele olhando ao redor.  Você vai ter um bocado de trabalho, sabia?  É, estou vendo mesmo. Falou ele olhando para ela de cima a baixo meio que sorrindo.  Eu estou falando do rancho. Disse ela.  Eu sei disso. Respondeu ele.  É bom mesmo você saber disso.  E então? Você vai me dizer onde mora?  Infelizmente me parece que nós seremos vizinhos.


Tom não pode deixar de sorrir ao ouvir aquela agradável notícia.  Mas isso está ficando muito interessante. Disse ele. Sabrina não falou nada, simplesmente balançou a cabeça em sinal de desaprovação. “Tudo farinha do mesmo saco”. Pensou ela.  Bem, eu já vou indo. Boa sorte na reforma. Disse ela se virando, mas voltou logo em seguida.  Se por acaso o Tom aparecer por aí, vê se você consegue ser um pouquinho educado com ele está bem? Afinal ele é só um filhote.  Eu sei que ele é um filhote, mas é uma fera como todas as outras. Mas pode ficar tranqüila que se ele aparecer aqui eu vou convidá-lo para um cafezinho. Falou ele rindo da cara de raiva que ela fazia.  Não perca seu tempo porque pelo pouco que pude ver ele não foi com a sua cara. Disse ela se virando e finalmente saindo dali. De longe podia ouvir o som da risada dele e isso fez com que ela também desse um pequeno sorriso.

aos pedaços, tudo ao seu redor precisaria ser trocado ou de ser reformado. Mas fazer o que? Afinal não tinha sido enganado ao fazer aquela compra, aliás o que ele mais tinha gostado ali era o desafio que teria pela frente ao começar as reformas e além do mais, estava mesmo precisando respirar um pouco de ar puro. “Chega de cidade grande”. Disse ele a si mesmo saindo da casa. Resolveu dar uma caminhada e ver como estava o restante do rancho que precisaria de reforma. Ao andar, percebeu que não sabia onde exatamente Sabrina morava. Ela disse que eles seriam vizinhos mas não disse de que lado ficava sua casa, pois ele tinha vizinho tanto do lado esquerdo quanto o lado direito. E agora? Qual seria o rumo que deveria tomar para encontrar de novo com aquela “fera”? Pois alguma coisa lhe dizia que se ele não fosse atrás dela não a veria tão cedo e não estava com vontade de esperar muito tempo para ter o prazer de ouvir sua voz de novo. Nem que fosse para simplesmente brigar com ele por algum motivo.

Já no caminho de casa, Sabrina tentava se lembrar mentalmente de sua agenda naquele dia. Teria duas visitas para fazer, uma na cidade e outra em um rancho que ficava nos arredores do seu.

Sabrina já estava em sua caminhonete indo visitar seu paciente ou melhor sua paciente, quando escutou alguns estampidos de tiros vindo da floresta. Fechou os olhos ao imaginar um animal indefeso que estava sendo abatido ali bem perto dela e mais uma vez não podia fazer nada. Parou sua caminhonete de repente e tomou a direção rumo à floresta. Se não pudesse impedir pelo menos iria tentar por um pouco de juízo na cabeça daqueles caçadores e talvez até pudesse convencê-los a procurar outra coisa para fazer em vez de ficar atirando nos pobres coitados. Isso se ela conseguisse achá-los, pois a polícia vivia dizendo que mesmo fazendo buscas era quase impossível achar alguém no meio daquela floresta. Parou, desceu do carro e ficou espiando na beira da mata para ver se podia ouvir algum barulho de tiro e com isso distinguir se estavam perto ou não. Nada! Não se ouvia absolutamente nada. Como não sabia de onde tinha vindo o anterior resolveu então voltar para o carro e ir embora. Quando escutou vozes que pelo jeito vinham em sua direção.

Tom ficou olhando enquanto sua vizinha ia embora. Se antes ele já achava que havia feito um excelente negócio ao comprar aquele rancho, imagina agora que descobriu que seria vizinho daquela “fera”. Pensou sorrindo. Ela tinha uma beleza natural, nada de produzido por maquiagem ou coisas do tipo. Seus cabelos castanhos claros e sua pele bronzeada combinavam perfeitamente com os olhos cor de mel. Tirando o belo corpo perfeito que ela tinha, que apesar de não ser muito alta estava tudo nos devidos lugares. Tom desviou o olhar e mais uma vez se concentrou na casa que estava a sua frente. “Isso vai dar trabalho”. Pensou ele entrando nela. Era a primeira vez que entrava ali sozinho, antes só tinha entrado com o antigo proprietário. Como será que o ex dono daquele lugar conseguia viver ali? Pois estava tudo caindo


De repente não sabia o que fazer, iria embora ou ficaria e falaria com as pessoas responsáveis? Optou pela segunda opção, não iria embora coisa nenhuma e ficaria só para poder olhar na cara de quem estava fazendo algo tão terrível. Não demorou muito e logo saíram dois homens carregando com eles algumas armas penduradas em seus ombros. Ao ver aquilo, Sabrina sentiu o sangue esquentar em suas veias e até esqueceu de seu receio em ficar ali. Os homens a olharam com um olhar de desconfiança ao vê-la parada ali olhando para eles. Um olhava para o outro cada um esperando alguém falar alguma coisa. Sabrina foi a primeira a abrir a boca.  Por acaso foram vocês que estavam dando alguns tiros agora há pouco? Perguntou ela.  Por que você quer saber? Por acaso você é algum guarda florestal? Disse ele rindo.  Infelizmente não. Mas não preciso ser da polícia para me preocupar com o bem estar dos animais você não acha? Disse encarando ele.  Olha moça. Falou ele coçando a barba.  Eu não sei quem você é e nem quero saber porque pelo o que eu saiba não é proibido dar alguns tiros na floresta mesmo porque ela não tem dono.  E também sei que aqui não tem lei nenhuma que me proíba de caçar, então porque você não entra no seu carro e vai embora?  Só se você estiver preocupada também com o meu bem estar, aí nós podemos resolver isso agora. Falou ele cinicamente. Sabrina ia responder a altura, mas depois de sentir um cheiro horrível de bebida alcoólica vindo do tal sujeito, resolveu seguir o conselho dele e de mansinho entrou no carro e saiu dali sentindo muita raiva. “Cafajeste”. Pensou ela irritada ao imaginar que mais um animal havia sido abatido e nenhuma providência seria tomada. Como se sentia impotente em relação aos caçadores da região, odiava não poder fazer nada para ajudar os animais. Ela não tinha nada contra a caça, mas desde que seja feita de acordo com as normas de sobrevivência ou seja, “só abater em caso de necessidade de sustentar a família ou para se defender de uma fera”. É lógico que essas leis não existiam ali. Mas era quase que um costume entre as pessoas de bom senso saber que nunca

deveriam caçar algum animal só pelo prazer de matar, porque para ela, isso era um crime praticado como em um qualquer ser humano. Só porque eram animais ninguém tem direito de tirar a vida deles, ao seu entender eles eram um ser vivo como qualquer outro, seja com dois pés ou quatro patas. Com esses pensamentos em mente quase passou do rancho que teria que atender sua paciente, deu meia volta na estrada e entrou em uma porteira seguindo reto por uma estradinha de terra parando logo em seguida em frente a uma casinha muito bonita por sinal. Sabrina desceu da sua caminhonete e logo foi atendida por uma jovem que vinha em seu encontro com um largo sorriso.  Ainda bem que você chegou, eu já não sabia mais o que fazer com todos esses filhotes chorando com fome. Disse a moça pegando em sua mão e a arrastando para o fundo da casa. Sabrina deu um pequeno sorriso ao ver a preocupação estampada no rosto de Débora. Ela era dona de uma pastora que havia dado cria a quatro lindos filhotes e pelo jeito a nova mamãe não estava conseguindo amamentar os pequenos, fazendo com que eles grunhissem de fome. Era bom quando via essa preocupação no rosto das pessoas, pois era sinal de que eles realmente se importavam com algo e no caso dela tava na cara o quanto ela gostava de seus animais. Sabrina chegou devagar para não assustar a nova mamãe e aos poucos foi fazendo carinho em sua cabeça fazendo com que ela relaxasse para que ela pudesse examiná-la e ver qual era o motivo de não estar alimentando os filhotes. Muitas vezes as fêmeas passam por momentos de estresse na gravidez e podem fazer com que elas tenham uma certa dificuldade ao amamentar, mas tudo era resolvido com alguns remédios e logo ela estaria amamentando os filhotes normalmente. Deu uma dose de remédio para ela e voltou sua atenção aos filhotes, mesmo não estando sendo amamentados pela mãe, eles estavam gordinhos e espertos para os primeiros cinco dias de vida. Sabrina olhou um por um e ficou feliz em ver que estavam todos bem. “Como alguém podia maltratar essas coisas tão lindas”? Pensou ela ao colocar o último dentro de uma caixa.  Não se preocupe Débora. Os filhotes estão bem e logo a mãe irá alimentá-los, eu dei


um remédio para que possa ajudá-la a relaxar e assim vai liberar o leite para os filhotes. Disse ela arrumando as coisas dentro de sua maleta.  Bom, deixa-me ir andando que ainda tenho outro paciente para atender. Continua dando as mamadeiras para eles, mas fica tranqüila que até a noite o remédio já estará fazendo efeito.  Ah que bom. Falou Débora aliviada.  Como estão as coisas lá no rancho Sabrina?  Bem. Por enquanto está dando para tomar conta de tudo, afinal Jack é uma mão na roda.  É verdade que você tem um novo vizinho?  Sim, é verdade. Falou ela pensando em Tom e sorrindo pelos acontecimentos daquela manhã.  Um! Pelo jeito você já o conheceu não é? Sabrina afastou seus pensamentos ao ouvir o comentário de Débora.  Porque você acha isso?  Pela cara de satisfação que você fez.  Não é nada disso Débora. Respondeu rápido para desfazer o mal entendido.  Não em? Não precisa ficar com vergonha Sabrina, afinal você é solteira e já está mais do que na hora de você namorar não acha? Sabrina respirou fundo, não agüentava mais todos darem palpite em sua vida amorosa, por isso ás vezes pensava seriamente em se mudar para cidade grande onde ninguém se metia na vida de ninguém.  Bom, deixa-me ir se não chego atrasada no meu paciente. Disse ela saindo de fininho.  Você ficou chateada não foi?  Não! Não é nada disso Débora. É que quando estava vindo para cá me deparei com uns idiotas dando uns tiros na floresta e isso me deixou muito aborrecida.  Eu não acredito! Mas será que ninguém vai fazer nada para controlar esses desordeiros? Falou ela indignada.  Quem poderia fazer algo é a polícia, mas infelizmente eles não se preocupam com isso. Eu acho que eu vou ter que dar um jeito nessa situação.  Cuidado Sabrina! A maioria deles são barra pesada.  É, eu sei disso. Hoje eu enfrentei um deles.  Você o que? Perguntou Débora perplexa.

 Calma! Eu só falei com eles, só isso.  Sabrina tenha cuidado sim? Ainda mais você morando sozinha naquele rancho.  Não se preocupe que eu sei me cuidar.  Tomara que sim.  Tchau Débora, qualquer coisa é só me ligar que eu venho aqui ok? Disse ela entrando no carro.  Muito obrigada Sam, mas eu acho que hoje vou dormir sossegada.  Tomara que sim. Falou indo embora. Sabrina ficou pensando na conversa que teve com os caçadores e só agora é que sentiu que realmente ela era totalmente inofensiva para eles. Afinal ela era uma mulher de um metro e meio de altura, quem iria ter medo dela? Tom resolveu ir até a cidade se hospedar em algum hotel porque achava que não seria seguro dormir no rancho. Afinal as portas e algumas janelas estavam caindo e não seria de admirar que algum animal entrasse ali para lhe fazer companhia. E por pensar em animal, sorriu ao se lembrar da risada de Sabrina ao saber que aquele bendito coiote tinha o seu nome. Será que era bendito ou sortudo aquele coiote, pois parecia que Sabrina gostava muito dele, só de imaginar ela fazendo carinho nele sentiu ficar arrepiado. O que será que aquele filhote tinha feito para merecer os carinhos dela? Perguntaria para ele assim que o encontrasse de novo, se não levasse uma mordida antes. Sabrina chegou em casa mais cedo do que imaginava, não demorou muito em atender o paciente e logo já estava em casa tomando um delicioso suco de manga que deixara pronto naquela manhã. Como adorava chegar em casa e poder tomar um delicioso suco de frutas que ela tinha o prazer de colher de seu pomar. Sentada em sua cozinha, pensava em uma maneira de conscientizar as pessoas em relação aos animais e até mesmo da natureza. Não conseguia entender como existiam pessoas tão maldosas em relação a essa questão do meio ambiente. Sim! Era uma questão de meio ambiente, pois se continuassem a caçar animais a torto e a direito logo estariam mexendo com a natureza e assim colocando alguns animais em extinção.


E ali ficou quase que a tarde inteira buscando uma alternativa para resolver aquela questão. Tom alugou um quarto no hotel para poder ficar por pelo menos alguns dias, até que estivesse mais seguro dormir no rancho. O ruim disso era que ele teria que ir e vir todos os dias do rancho até a cidade, mas fazer o que? Por isso resolveu que começaria primeiro pelas portas e janelas para depois terminar o restante. Ficou pensando no que faria no restante da tarde que ainda tinha pela frente, afinal não teria muito que fazer naquele dia. Resolveu então que já estava mais do que na hora de saber onde exatamente Sabrina morava. Sabrina estava revisando algumas fichas em seu escritório quando Jack entrou e disse que tinha um sujeito querendo conversar com ela. “Sujeito”? Pensou ela. Pelo jeito não era ninguém conhecido, ela soube disso pela maneira que Jack falou com ela. Resolveu então sair para ver o tal sujeito e sem querer admitir, sentiu um enorme prazer ao ser recebida por Tom com um agradável sorriso no rosto. “Então é aqui que a fera mora”? Pensou ele sorrindo e admirando o local, só desviou a atenção quando Sabrina apareceu na frente dele. “Como ela era linda”. Admirou ele dando um largo sorriso.  Boa tarde. Falou ele ainda sorrindo.  Para você também. Respondeu ela encabulada pelo sorriso dele.  Nossa! Estou admirado com tudo isso. Falou ele olhando ao redor. Sabrina não respondeu nada, só ficou o observando enquanto ainda admirava a sua propriedade. Ela não sabia porque, mas Tom conseguia despertar nela sentimentos que até antes achava que estavam adormecidos ou esquecidos e estava achando aquilo realmente muito perigoso. Mas resolveu deixar de lado tais pensamentos e dar atenção há seu vizinho, pois ele parecia mesmo estar impressionado pelo local. Não que ela já não tinha visto aquele olhar de surpresa no rosto de outras tantas pessoas que já estivera ali, mas é que com Tom

era diferente, estava gostando de ver isso no rosto dele. Resolveu então mostrar melhor a propriedade para ele.  Venha que eu vou te mostrar o restante do rancho. Falou ela tirando ele de seu encanto. Tom aceitou de bom grado quando ela se ofereceu para lhe mostrar o restante de suas terras, talvez com o tempo ele pudesse apagar a má impressão que ela teve dele logo que se conheceram. Pensou sorrindo mais uma vez ao se lembrar daquela cena. Sabrina caminhou com ele e lhe respondeu tudo o que lhe era perguntado, ele parecia mesmo encantado com aquilo tudo. “ Assim como eu”. Pensou encabulada. Tom realmente estava gostando de tudo ali. Mas também quem em sã consciência não gostaria de um lugar daquele? Tudo era perfeito. O curral, o celeiro todo arrumado com suas ferramentas em seus devidos lugares, o pomar onde estavam plantadas muitas arvores frutíferas e o local que ele mais gostou. O lago. Era de tirar o fôlego. Um pequeno lago onde podia ver o reflexo do sol em suas águas cristalinas rodeado por uma espécie de jardim todo florido. Ele tinha a impressão de estar vendo um daqueles calendários de folhinhas de começo de ano. Tom não conseguia se mover, ficou respirando aquele ar puro sentindo o vento brincar com seus cabelos. Ao se virar para olhar para Sabrina seus olhares se encontraram no mesmo instante, parecia até que haviam combinado e ele pode ter certeza que se aquilo não fosse o paraíso estava bem próximo dele. Agora poderia afirmar que havia encontrado o que veio buscar ali, paz e sossego e talvez até um grande amor, quem sabe. Pensou ele encabulado por aquelas quatro palavrinhas que até um tempo atrás havia jurado tirar de seu vocabulário. Sabrina não se cansava de admirar aquela paisagem á sua frente, mas o que mais a deixou encantada mesmo foi á atitude de Tom, pois todas as pessoas que estiveram ali um dia, pareciam não entenderem o significado daquele gesto maravilhoso da


natureza ao brindar a humanidade com aquele espetáculo todo. Toda vez em que se sentia amargurada com o barulho de algum tiro que ecoava em seus ouvidos em sinal de que algum animal estava sendo abatido ou com as lembranças de sua triste história de noivado mal sucedida, mas enfim todas ás vezes em que se sentia triste, era só vir até ali que se sentia revigorada por completo. E tinha a impressão que Tom sentia a mesma coisa.  Impressionante! Falou ele olhando para ela.  È quase mágico. Ela não disse nada, apenas sorriu para ele.  Esse lugar deve ser mesmo mágico. Continuou ele. Afinal, eu ainda não tinha visto um sorriso desse seu desde quando eu a conheci.  Se eu me lembro bem, eu não tive muitos motivos para lhe sorrir, você não concorda?  Sim. Eu tenho que concordar que eu possa ter passado uma imagem negativa de mim, mas você também não foi lá muito receptiva não é mesmo?  Poupe-me de seus comentários machistas está bem. Disse ela já sentindo uma crescente raiva surgindo dentro dela.  Calma! Não precisa ficar nervosa. Defendeu-se ele.  O que estou querendo dizer é que ambos não tiveram uma boa impressão, você não acha?  Pode se dizer que sim. Respondeu ela.  Bom. Então vamos começar da maneira certa dessa vez. Disse ele.  Olá! O meu nome é Thomas, mas pode me chamar de Tom. Eu sou seu mais novo e sortudo vizinho. Falou lhe estendendo a mão sorrindo. Sabrina olhou para sua mão ressabiada com seu gesto, ele estava sendo muito simpático e ela não estava gostando nada disso. Mas resolveu lhe dar uma chance, afinal o que poderia acontecer de mal em ser amiga de seu vizinho? Mesmo ele sendo “um pedaço de mau caminho”, que era como sua irmã costumava falar.  Olá! Eu me chamo Sabrina e ainda não sei se serei sortuda em ser sua vizinha, só o tempo é que dirá. Falou ela retribuindo o aperto de mão se sentindo bem ao ser tocada por ele.

 Isso você pode deixar comigo, que se depender de mim você vai adorar cada minuto em ser minha vizinha. Falou ele sorrindo. Sabrina não falou nada, ficou encarando ele e nem percebeu que nenhum dos dois havia soltado as mãos estando elas ainda se tocando fazendo com que sentisse um pequeno calafrio pelo corpo. Tom não poderia ter imaginado lugar melhor para começar um relacionamento com alguém. Será que Sabrina tinha idéia de quanto ela estava linda naquela luz do dia? Os raios do sol batiam em seus cabelos que mais pareciam fios de luzes brilhando juntamente com o vento que despenteava seu pequeno coque fazendo com que eles caíssem em seu ombro. Ele lutou contra a vontade de ajeitá-los para ela, mas se conteve porque sabia que não iria conseguir com que as mãos ficassem somente nos cabelos. Sem que percebessem foram aos poucos se aproximando como se tivesse entre eles um imã poderoso que os atraia e quando seus lábios estavam quase se tocando, ouviram alguém chamando por Sabrina. Como que saindo de um transe, Sabrina ouviu Tom resmungar algo e se virou em direção á voz soltando a mão no mesmo instante.  A sua irmã está no telefone querendo lhe falar. Gritou Jack.  Eu já estou indo. Falou ela se refazendo. Quando olhou para Tom, percebeu que ele olhava em direção ao lago e falou:  Eu tenho que ir. Falou receosa.  Tudo bem. Disse ele desanimado sentindo que o encanto havia acabado. Sabrina deu meia volta e começou a fazer o caminho de volta sendo seguida por ele. Os dois não disseram nada, cada um perdido em seus pensamentos. Quando chegaram na casa de Sabrina ela resolveu lhe convidar a entrar.  Obrigado. Mas fica para uma outra hora, pois tenho muito trabalho pela frente. Falou ele se afastando.  Tudo bem então. Disse ela entrando. “Mas o que foi aquilo”? Perguntou Sabrina a ela mesma. “O que será que tinha dado nela para quase deixar que ele a beijasse”? Pensava esquecendo por completo que sua irmã estava ao telefone. Sentou na cadeira e respirou fundo.


Será que aquele local era mesmo mágico? Talvez, pois essa era a única explicação de tal fato quase ter ocorrido. “Como será que era sentir os lábios dele nos seus”? Pensou ela não gostando do rumo de seus pensamentos. Ainda bem que Jack chegou na hora, se não só Deus sabe o que poderia ter acontecido, pois já fazia tanto tempo...E por falar em Jack, Sabrina correu e pegou o telefone se lembrando da irmã.  Alo. Isa? Desculpe-me a demora, é que eu estava um pouco longe da casa. Desculpouse ela.  Não tem problema Sam, eu sei que você tem muito trabalho por aí.  E então? Qual o motivo de sua ilustre ligação? Quis saber Sabrina tentando afastar os pensamentos de Tom.  Só estou ligando para saber como você está. Falou Isa.  Eu estou bem Isa, não precisa se preocupar comigo. Eu sim que devo me preocupar com você vivendo aí nessa selva de pedra.  Até parece Sabrina! Exclamou Isa escandalizada. Onde já se viu achar que está mais segura aí nesse meio do mato do que aqui no conforto da cidade grande? Você só pode estar ficando maluca. Sabrina riu do exagero da irmã, vez em quando gostava de provocá-la.  Mas não precisa se preocupar Isa, pois aqui eu tenho tudo do bom e do melhor como você tem aí na cidade. Aliás, eu tenho tudo o que quero bem pertinho de mim e não preciso andar muito para isso.  Eu sei desse papo todo Sam, de como tudo aí é muito natural e sem conservantes. Mas o que você precisa mesmo é de um belo namorado que possa desfrutar de tudo isso com você, você não concorda comigo?  Eu não estou com pressa nenhuma para arrumar namorado Isa, mas que mania que todos tem de ficar se metendo na minha vida amorosa. Reclamou ela se lembrando de sua conversa com Débora a dona da cachorra que não conseguia amamentar os filhotes.  Todos? Riu Isa. Então quer dizer que eu não sou a única a achar que você está perdendo tempo aí nesse mato?  Para minha sorte não, você não é a única. Mas o que a Débora me aconselha sempre é de arrumar um namorado por aqui mesmo, afinal por aqui também tem uns pedaços de mau caminho.  Deus me livre Sabrina, namorar um caipira ninguém merece. Você tem que vir

passar uns dias comigo, aí sim você vai ver o que é pedaço de mau caminho.  Muito obrigada, mas se você não se lembra eu já provei um desses aí e não deu muito certo, lembra?  O Bryan era um babaca que não soube te dar valor e você não pode culpar todos só por causa dele sabia?  Eu sei disso Isa! Mas no momento tudo o que eu quero é desfrutar da minha paz de espírito que encontrei aqui e quem sabe mais para frente eu possa dar mais uma chance de alguém me provar que estou errada em relação aos homens.  Eu estou te falando Sam, nem todos os homens são como o Bryan. Sua cara metade está por aí e quando você achá-lo, por favor abra seu coração para que você possa ser feliz.  Nossa Isa! Quem ouve você falar desse jeito vai achar que eu sou alguma solteirona velha que está morrendo de vontade de casar.  E por falar em casar, você vive me atormentando com minha vida amorosa que eu até esqueço que você também deveria ter uma, não é?  Deveria e tenho. Minha vida amorosa anda muita bem, obrigada. Disse ela sorrindo.  Sabrina. Desculpe-me por ficar te infernizando com esse assunto, mas é que eu acho que você teria mais chances de encontrar alguém aqui do que aí nesse fim de mundo.  Aí é que você se engana. Disse ela se arrependendo em seguida.  Epa! Será que ouvi direito o que você disse? Sabrina ficou muda. Não sabia como tinha saído aquelas palavras de sua boca, agora teria que dar uma explicação para sua irmã não importa qual.  O que eu quis dizer foi que aqui também tem uns rapazes interessantes só isso. Mentiu ela rezando para a irmã acreditar. Isa ficou quieta por um instante como que processando aquela informação, mas logo disse:  Pelo amor de Deus Sabrina, me prometa que se você for se envolver com algum caipira daí tenha cautela para não encontrar mais um machista mandão está bem? Aconselhou Isa.  Pode ficar tranqüila porque já estou vacinada contra esse tipo de homem. Conversaram por mais algum tempo até que Isa desligou alegando que já estava atrasada para o trabalho. Já estava com alguns dias que não se viam desde aquele episódio.


Tom estava em seu rancho sentado no chão da varanda esperando as entregas que estavam marcadas para aquele dia. Mas não estava preocupado com isso. Sua cabeça estava focada em um outro rancho, especificamente em uma linda e pequena mulher que estava fazendo surgir sentimentos que achava que demoraria um pouco para voltar a sentir. Fechando os olhos, ainda podia se lembrar da cena que não conseguia tirar da cabeça. Os cabelos dela desarrumados pelo vento, o sol fazendo com que eles parecessem fios de ouro e a boca dela próxima a sua que quase podia sentir o gosto daqueles lábios vermelhos e carnudos esperando pelos dele. “Porque diabos ele não a beijou de imediato”? Pensou ele abrindo os olhos com raiva. Agora estava ali, totalmente sem rumo sentado num chão sujo de poeira, morrendo de desejo pela sua mais nova vizinha que teimava em desafia-lo e com isso deixando-o mais interessado ainda em domar aquela fera. Mas prometeu a si mesmo que quando surgisse outra oportunidade ele não esperaria muito para capturar aqueles lábios e provaria deles até matar sua sede de beijá-la. “Mas o que estava acontecendo com ele afinal”? “Onde estava aquele rapaz que saiu da cidade grande para buscar refúgio em um lugar calmo e assim refazer sua vida”? Mas ele não contava que encontraria ali não só a paz que tanto viera buscar, mas também um grande amor. Quando deu por si, notou que estava sendo “vigiado” por um pequeno animal que o olhava cauteloso e era nada menos que seu xará, o coiote Tom. Decidido a ganhar a confiança dele, Tom fazendo um gesto com as mãos foi se ajoelhando e chamando ele pelo nome até chegar perto o suficiente para lhe fazer um pequeno carinho em sua pequena cabeça. Realmente Sabrina tinha razão ao afirmar que ele era apenas um filhote que estava em busca de carinho e proteção. “Assim como eu”. Pensou sorrindo. Naquela tarde, Sabrina não tinha muito que fazer. Geralmente nadaria um pouco no lago, passaria no pomar e apanharia alguma fruta para fazer um delicioso suco para saborear mais tarde geladinho. Mas aquele dia estava sendo diferente e ela sabia porque.

Essa mudança toda tinha sido provocada pelo simples fato de quase ter beijado seu vizinho. E agora? Com que cara iria olhar para ele? Perguntava-se ela. Então de repente decidiu colocar os pingos nos is e foi explicar para ele que aquilo não poderia se repetir jamais, afinal eles seriam vizinhos e nada pior do que você ter algum problema com vizinho, seja de amizade ou de sentimentalismo. Montou em seu cavalo e saiu galopando pela estrada de terra saindo de seu rancho e indo direto pelo caminho que dava acesso ao rancho dele. Assim que chegou ficou tensa ao ouvir gritos. Parou seu cavalo para que pudesse escutar direito o que estava acontecendo, pelo que dava para ouvir era a voz de Tom que gritava para alguém parar de fazer alguma coisa. Desceu de seu cavalo correndo, pegou um pedaço de pau que estava junto com outros e correu para o fundo da casa para tentar “salvá-lo”. Qual não foi sua surpresa ao ver Tom o coiote em cima de Tom seu vizinho, os dois pareciam estar travando uma luta corporal. Na mesma hora ela gritou:  Para Tom! Não faça isso. Gritou temendo por seu vizinho. Para sua surpresa, os dois pararam na hora o que estavam fazendo e olharam para ela. O coiote então correu em sua direção em busca de carinho, deixando Sabrina lançar um olhar furioso para Tom.  Há! Disse Tom se levantando. Seu puxa saco. Falou ele tirando a terra de sua roupa.  Você não tem vergonha de pedir socorro para ela não? Seja macho e venha terminar o que você começou. Disse ele provocando o coiote. Sabrina ia abrir a boca para protestar, mas ficou paralisada ao ver que o coiote pulou em cima de Tom, mas em vez de morde-lo ele estava brincando com ele. “Homens”. Pensou ela. “Até você Tom”? Pensou olhando o coiote se divertindo com Tom. Soltou o pau que ainda segurava e cruzou os braços esperando que eles acabassem aquela “guerra” e notassem que ela estava ali. “Traidor”. Pensou ela olhando para o pequeno coiote. Mas por mais que estivesse se sentindo traída, tinha que dar o braço a torcer que


estava muito contente que eles estavam se dando bem, isso só podia confirmar uma coisa. Que Tom também gostava de animais. Agora ela estava imaginando se realmente não tinha tido uma má impressão de quando o conheceu, só de vê-lo ali deitado no chão brincando com um coiote já estava mudando a linha de seus pensamentos em relação á ele e também de seu coração. Assim que pararam a brincadeira, Tom o coiote foi beber um pouco de água e descansar um pouco e nesse meio tempo Tom seu vizinho se limpava mais uma vez de toda aquela terra que estava sobre ele. Ele se debatia todo. O cabelo estava todo desarrumado, a camisa para fora da calça, mas o melhor estava por vir quando ele tirou a camisa para tirar a poeira que havia nela. Sabrina até que ia dizer algo, mas ao vêlo sem camisa perdeu a fala. O peito dele estava todo coberto de terra misturado com os densos pelos castanhos, a pele bronzeada mostrava que ele gostava de tomar muito sol, combinando perfeitamente com a cor de seus cabelos castanhos. Ficou ali um bom tempo admirando aquele corpo esbelto e só parou quando ouviu ser chamada por alguém.  O que? Disse ela gaguejando.  Será que dá para você limpar as minhas costas? Pedia ele lhe entregando a camisa.  Claro. Disse ela. Assim que ele virou, ela começou a limpá-lo lentamente até que toda terra fosse tirada. Quando sentiu que ela havia parado, ele se virou para pegar a camisa de suas mãos e quando sua mão encostou na dela, pode sentir todo desejo de antes voltar com tudo. Mas antes que pudesse falar ou fazer alguma coisa ele escutou ela dizendo:  Olha! Eu vim aqui lhe dizer que o que aconteceu naquele dia não poderá se repetir nunca mais. Ela precisou juntar toda a sua força para fazer com que sua boca se abrisse e dissesse aquelas palavras.  E o que aconteceu naquele dia? Perguntou ele sério.  O fato de quase termos nos beijado. Falou ela gaguejando. Ela não sabia porque, mas não conseguia se mover do lugar. Era como se algo a prendesse perto dele.  Nisso você tem toda razão. Falou ele se aproximando dela.

 O fato de eu não ter te beijado não poderá se repetir nunca mais. Dizendo isso ele capturou seus lábios em um longo beijo. Ele a puxou pela cintura se curvando sobre ela fazendo-a perder o fôlego com um beijo apaixonado. Sabrina não sabia o que fazer e antes mesmo que seu cérebro desse alguma ordem, seu corpo parecia que tinha vida própria, pois o entrelaçou pela nuca puxando-o mais para junto de si fazendo com que ele aprofundasse mais o beijo. O beijo não durou muito, pois Tom sentiu que alguma coisa o estava puxando na barra da calça. Foi só então que se lembrou do coiote. Lentamente foi soltando Sabrina para que pudesse dar atenção ao pequeno, pois ele já estava começando a mordê-lo de verdade.  Ai! Disse ele olhando para o chão deixando Sabrina confusa.  Mas o que foi? Perguntou ela olhando para ele sem entender nada.  É esse ciumento que não me deixa beijá-la. Falou ele olhando para ela fazendo sinal para que ela o seguisse com o olhar. Foi só então que Sabrina entendeu o que se passava, Tom o coiote, puxava Tom pela barra da calça fazendo com que ele se afastasse de Sabrina. Ela não sabia se ficava triste ou contente com a atitude do pequeno “traidor”. Se antes ela não sabia como olharia para ele antes de terem se beijado, imagina agora que praticamente se jogou nos braços dele. Aproveitou para se recompor e dar um jeito de resolver aquela situação. “Mas que droga”. Pensava. Depois de muito tempo não sabia o que dizer ou fazer. Tom sentiu o desconforto que havia entre eles só de olhar para ela, mas decidiu não deixar que nada atrapalhasse o que tinha conseguido até agora. Sendo assim, parou de dar atenção ao coiote e se aproximou de Sabrina.  Você está bem? Sabrina não sabia o que responder, realmente não sabia identificar o que sentia naquele momento.  Olha! Eu sei que não tivemos um bom começo, mas me deixa te mostrar que sou uma pessoa totalmente diferente daquele dia. Sabrina resolveu acabar logo com aquela situação e disse:  Olha Tom. Eu tenho certeza que você deve ser um bom rapaz, mas no momento não


estou a fim de ter nenhum relacionamento com ninguém.  Calma! Disse ele se defendendo. Eu não estou pedindo para você se casar comigo, simplesmente estou te pedindo para não me evitar por causa do que houve agora pouco e quanto ao relacionamento, sinceramente acho que você está perdendo tempo se não ficar comigo...Brincadeira.... Disse ele sorrindo para quebrar o gelo.  Mas você é muito presunçoso sabia? Falou ela mais aliviada. Os dois riram da situação, mas logo ficaram sérios de novo. Tom a olhava tentando decifrar o que se passava em sua cabeça. Ela parecia indecisa em aceitar ter um relacionamento com ele, então antes que ela pudesse falar alguma coisa ele se adiantou e disse:  Eu posso te pedir um favor? Falou ele.  Claro que sim. Respondeu ela ainda meio avoada.  Não deixe o que aconteceu entre nós estrague a nossa amizade...  Amizade? E desde quando nós somos amigos?  Bom! Se vamos ser vizinhos, nada melhor do que sermos amigos você não acha? Perguntou ele torcendo para ela acreditar em sua versão. Sabrina não estava acreditando muito naquele papo furado, mas no momento achou melhor concordar porque também não teria o que dizer no momento, pois seus pensamentos estavam fora de controle.  Sim, você tem razão.  Que bom que você também acha. Respondeu ele soltando um leve suspiro.  Bom, é melhor voltar para casa, pois estou vendo que você tem muito trabalho pela frente.  E como! Disse ele. Mas devagar eu chego lá. Sabrina tinha certeza que ele não estava falando sobre a reforma, resolveu ficar quieta, pois era mais seguro. Virou nos calcanhares e devagar foi se afastando sem olhar para trás. Tom a observava enquanto ela se afastava, ele também não estava a fim de ter um relacionamento com ninguém, mas logo no primeiro encontro dos dois pode sentir uma atração por ela que nem mesmo ele entendia. “Como uma pessoa podia mexer com os sentimentos de outra assim tão de repente?” Se perguntava ele.

 Será que ela é alguma feiticeira? Falou Tom olhando para o coiote. O coiote grunhiu algo como se estivesse lhe dando uma resposta e logo tratou de correr atrás de alguns pássaros que estavam pelo quintal. Sabrina chegou em casa e logo Jack veio ao seu encontro com uma desagradável notícia.  Ainda bem que a senhora chegou patroa. Disse ele. Ela nem se importou muito pelo fato dele tê-la chamado de senhora, pois sua preocupação era visível no momento.  O que foi que houve Jack? Quis saber ela preocupada.  O senhor Nelson ligou e pediu que você fosse o mais rápido possível até o sítio dele, parece que um de seus animais está muito mal e ele precisa de você.  Eu já estou indo para lá, só vou pegar minha maleta de primeiros socorros.  Pode ficar tranqüila que já coloquei tudo dentro da sua camionete. Disse Jack.  Muito obrigada Jack. Falou Sabrina entrando no veículo. Saiu apressada pela estrada fazendo levantar uma poeira enorme atrás dela. “Mas o que será que havia acontecido”? Perguntava-se preocupada. Sabrina sentia muita tristeza ao saber que havia algum animal precisando de ajuda e fazia de tudo para ajudar. Algumas vezes nem mesmo recebia pelos seus serviços, pois tinha alguns casos em que os donos de seus pacientes não tinham dinheiro suficiente para lhe pagar, mas mesmo assim cada vez que conseguia curar um animal ela se sentia recompensada, nada que dinheiro no mundo podia comprar. Assim que chegou ao sítio, desceu do carro e foi recebida por um senhor de meia idade.  Ainda bem que a senhora chegou. Disse ele andando para o fundo da casa.  Afinal o que houve? Quis saber ela.  É o potro de minha filha. Nós o soltamos como fazemos todos os dias para que ele dar uma volta por aí e depois de meia hora ouvimos uns estampidos de tiros vindo da floresta e ficamos preocupados.  Começamos a chamá-lo com medo de que ele estivesse na floresta e logo depois ele apareceu cambaleando. Falava o velho com os olhos lacrimejantes.  Eu não entendo. Como uma pessoa pode ser tão mal assim?


Sabrina nada respondeu, pois na hora sentia uma revolta enorme dentro dela. “Ordinários” Pensava ela. Como a polícia não conseguia achar quem estava fazendo aquilo? Teria que ter uma conversa definitiva com o xerife, pois isso não podia continuar, ela não iria permitir. Quando chegou até o local, pode constatar que o pequeno potro já estava se cansando de lutar pela vida. Seus olhos já estavam opacos, quase não conseguia se mexer, nem mesmo quando Sabrina apalpou sua barriga em busca de alguma bala que podia estar alojada.  Calma! Disse afagando a cabeça do animal que a olhava pedindo por socorro.  Eu vou fazer de tudo para você ficar bem. Abriu sua maleta, pegou uma injeção e aplicou um pouco de anestesia no local para que pudesse aliviar um pouco a dor e logo depois já estava fazendo uma limpeza e um curativo no pequeno potro, mesmo porque não tinha vestígio algum de bala. Deu-lhe um antibiótico e constatou que ele já dormia. Só depois de tudo é que pode notar que toda a família estava reunida em sua volta, todos com lágrimas nos olhos. Sentou no chão e ficou a admirar aquela cena. As crianças afagavam a cabeça do animal enquanto os pais abraçados observavam os filhos. Sabrina sentiu as lágrimas lhe queimar os olhos de emoção. Às vezes achava que devia largar aquela profissão porque apesar de adorar ajudar com algum nascimento, às vezes tinha aquela parte ruim de não conseguir salvar uma vida e esperava sinceramente que não seria aquele caso, pois ela mesma já estava sofrendo. Não é que não sabia lidar com a morte, mesmo porque a profissão que escolhera tinha que aceitar que isso era algo que podia acontecer a qualquer um, seja humano ou animal, mas não conseguia aceitar o fato de alguém tirar uma vida de propósito e ainda mais de alguém que não podia se defender. Com esses pensamentos foi sentindo uma raiva enorme crescer por dentro dela que até mesmo seus olhos secaram as lágrimas que teimavam em rolar por sua face. Já era tarde quando Sabrina chegou em casa, estava exausta.

Abriu a geladeira em busca de algo para comer e só então lembrou que deveria ter ido ao mercado fazer compras. Ficou ali admirando as garrafas de água e um pedaço de pizza que já devia ter sido jogado fora . Respirou fundo e fechou a geladeira se jogando em seguida em uma cadeira, deitou a cabeça nos braços e ali ficou. Tom olhava a cena admirando Sabrina que mais parecia uma menininha debruçada na mesa. É lógico que de menina ela não tinha nada e ele já tinha comprovado isso. Afastou tais pensamentos com medo de assusta-la novamente.  Boa noite. Disse ele baixinho. Sabrina deu um pulo da cadeira se assustando com ele. Seu coração parecia que iria sair pela boca, mas ela não sabia se era pelo susto ou pela presença dele.  Nossa que susto! Disse ela colocando a mão sobre o peito.  Desculpe-me. Falou ele tentando disfarçar a vontade que tinha de beijá-la no momento.  Não está meio tarde para uma visita? Disse ela levantando para tomar água.  Sim, eu acho que sim. Sabrina parou de tomar água e ficou a observá-lo para ver se era realmente verdade o que ele dizia, pois ele perecia meio perdido. Os dois ficaram se encarando por um breve momento. Tom imaginava o que ela faria se ele falasse o que realmente ele estava fazendo ali, pois nem ele mesmo sabia. A única coisa que tinha certeza era que quando estava indo embora sem que ela percebesse cruzou com ele pelo caminho e assim que ele a viu sentiu que não iria conseguir dormir sossegado se não falasse com ela, mesmo que só para ouvir algum tipo de desaforo da parte dela e lógico que ele também estava preocupado com o som que tinha ouvido naquele dia.  Olha! Eu acho melhor ir embora. Disse ele já saindo de sua cozinha.  Espera! Falou ela. Tom parou onde estava e voltou sua atenção para ela.  Desculpe-me a recepção. Disse ela cansada. Mas é que você me pegou em um dia ruim.  Dia ruim? Perguntou curioso.  Há algo que eu possa fazer para te ajudar? Continuou ele.


 Não, obrigada. Disse passando as mãos pelos olhos.  Nossa! Pelo jeito o dia foi ruim mesmo em?  E como! Falou ela lentamente. Sem que ela percebesse, ele entrou na cozinha e se instalou logo atrás dela. Com cuidado colocou suas mãos em seus ombros e começou uma pequena massagem. Sabrina levou um pequeno susto mas não conseguiu demonstrar nenhuma reação, tudo o que conseguiu dizer foi um pequeno sussurro que escapou de seus lábios. Fechou os olhos e respirou profundamente se sentindo relaxar aos poucos. Tom adorou o fato dela não ter recusado a sua massagem e ao mesmo tempo se sentia traído. Como ele poderia tirar as mãos dela depois? E ainda mais ela gemendo daquele jeito? Tratou de desviar seus pensamentos, mas não conseguia pensar em nada além de pegá-la nos braços e beija-la até acabar com aquela louca vontade que tinha em mais uma vez deixa-la sem ar. Sabrina sabia que devia pedir para que ele parasse com aquela massagem, mas no momento todo seu corpo ia contra sua vontade parecendo que tinha vida própria e fazia o que ela menos esperava. Sendo assim, resolveu aproveitar e fazer o que seu corpo tanto queria, deixaria para pensar mais tarde pois o que mais importava agora era o fato de ter aquelas mãos macias em volta de seu pescoço fazendo seu corpo se arrepiar levemente. Aos poucos Tom foi aumentando o caminho pelo corpo dela com as mãos, hora deslizava para seus braços, hora por toda suas costas. Sabrina não se lembrava de ter um tipo de reação igual aquela, nem mesmo Brian que um dia achava que amava, tinha despertado nela aquelas sensações. Sem pensar muito no que fazia, ergueu a cabeça e olhou Tom diretamente em seus olhos e pode ver ali todo o desejo que ele sentia no momento. Devagar, notou que seus lábios se aproximavam e não fez nada para evitar que eles se encontrassem em um beijo sensual. Tom não tinha mais como disfarçar seu desejo por aquela mulher e fez o que seu corpo pedia desde a hora em que entrou ali, tomou a boca dela em um beijo apaixonado.

Sabrina levantou-se da cadeira que foi empurrada de lado para que pudessem sentir um ao outro, Tom pode finalmente beija-la do jeito que ele queria, explorando toda sua boca deixando-a sem fôlego. O beijo foi ficando cada vez mais intenso e nenhum dos dois parecia se preocupar muito, até que de repente um som estridente fez com que voltassem a realidade. Pararam de se beijar e olharam do lado para ver de onde vinha aquele barulho. Sabrina pode constatar que se tratava do telefone que tocava sem parar, se soltou dos braços dele e ofegante atendeu a chamada.  Alô. Disse ela sentindo como se o coração fosse sair pela boca.  Oi maninha...Falou alegre sua irmã do outro lado. Sabrina respirou fundo mais uma vez e pela primeira vez olhou para Tom que permanecia no mesmo lugar e a olhava intensamente. Sentindo as pernas fracas, tratou de se sentar para não cair. “Meu Deus”! Pensou ela. “Esse homem está me levando a loucura”. Perdida em seus pensamentos, nem se importava com o fato de sua irmã estar tagarelando ao telefone. Só estava tentando achar uma maneira de sair daquela situação em que se colocara, sendo assim disse a irmã:  Escuta Isa! Será que dava para você me ligar depois?  Ou melhor, eu te ligo assim que tiver um tempinho, tudo bem?  Aconteceu alguma coisa San? Quis saber Isa preocupada.  Sim! Disse ela. Quer dizer não! Falou toda enrolada com as palavras.  Olha! Pode ficar sossegada que não aconteceu nada, só estou um pouco ocupada no momento.  Você tem certeza que não é nada?  Tenho sim. Respondeu dando um pequeno suspiro.  Tudo bem então, vou deixar você voltar para esse bando de caipira, mas me prometa que vai me ligar mais tarde ok?  Pode deixar. Até mais. “Bando de caipira hem”? Pensou ela dando um pequeno sorriso. Ah, se ela visse o lindo caipira que estava agora em sua cozinha e o que eles estavam fazendo agora pouco. Sabrina olhou para Tom e viu que ele permanecia no mesmo lugar, com as mãos no bolso de sua calça, mais parecia um garotinho esperando para ganhar um doce.


Tom pode sentir que mais uma vez Sabrina havia se fechado. “Droga”. Pensou decepcionado.  Desculpe-me! Disse ela. Era minha irmã no telefone.  Você não tem do que se desculpar. Falou ele se aproximando dela.  Eu tenho que conhecer essa estraga prazer. Falou ele tentando minimizar o clima entre eles.  Estraga prazer? Perguntou ela não entendo o que ele quis dizer com aquilo.  Sim. Pois essa já é a segunda vez que ela nos atrapalha. Falou ele sorrindo. Sabrina corou ao se lembrar da primeira vez em que quase se beijaram.  Sim! Pode-se dizer que ela sempre me liga nas horas erradas.  Então você concorda comigo que também ficou decepcionada com essa interrupção? Disse chegando cada vez mais perto dela.  Hum! Disse ela olhando para o teto. Eu acho que sim.  Que bom. Falou ele lhe tomando os lábios mais uma vez. Mas esse beijo também não durou muito, pois escutaram um estampido que fez com que ambos se assustassem. Sabrina fechou os olhos e mentalmente imaginou um animal caído na floresta. Lentamente encostou a cabeça no peito de Tom e sem poder se controlar sentiu as lágrimas correr pelo seu rosto. Sentiu os braços dele em volta de seu corpo e ali ficou por um bom tempo. Tom não se atrevia a falar nada naquele momento, pois sabia que ela não estava bem. Sabia como ela ficava quando ouviam tiros vindo da floresta, isso era sinal que alguém estava se divertindo caçando algum animal. Ficou sabendo de tudo isso quando descobriu que ela seria sua vizinha, os rapazes que estavam ajudando ele na reforma do rancho já o havia deixado a par de tudo o que acontecia ali, inclusive o alertou também dos caçadores de outras regiões que vinham ali só para se divertirem. Por esse mesmo motivo era que havia ido ali aquela noite, pois momentos antes dela chegar, ele havia ouvido tiros que pelo jeito vinham da mata e por isso resolveu passar por ali e pedir para que ela ficasse atenta. Mas assim que entrou naquela cozinha e a viu, todos os seus pensamentos em relação a

isso tinham ido embora como um passe de mágica, até agora.  Eu vim aqui te avisar que ouvi alguns tiros vindo da floresta...Disse ele vendo que ela não estava entendendo o que ele tentava falar.  Mas devo ser sincero! Quando eu cheguei aqui e a vi sentada debruçada na mesa, esqueci completamente desse assunto. Falou ele passando as mãos pelos seus cabelos com um olhar carinhoso.  E só agora você se lembrou de me dar o aviso? Falou ela enxugando as últimas lágrimas.  Sim. Desculpe-me, mas quando estou perto de você não consigo pensar em nada além de te beijar.  Nossa! Quanta sinceridade. Disse ela ficando sem jeito.  Eu sei que estou sendo um pouco precipitado, mas quero que você saiba que quando eu vim para cá não estava a fim de me envolver com ninguém, ao menos por enquanto.  Mas aí eu te conheci e não consegui tirar você do meu pensamento e olha que nem imaginava que seríamos vizinhos. Falou ele com sinceridade ainda a segurando em seus braços. Sabrina ficou tocada ao saber daquilo tudo de uma vez. Não sabia o que dizer para ele naquele momento, pois nem ela mesma sabia o que sentia por ele naquela hora. Vendo que ela estava confusa ele veio em seu socorro.  Eu sei também que você não quer se envolver com ninguém e por isso não vou te forçar a nada, a menos que você queira é claro...Disse sorrindo.  Mas você é terrível sabia? Disse retribuindo o sorriso.  Você nem imagina o quanto.  Olha Tom. Eu sinceramente não sei o que pensar de tudo isso...  E eu disse que está tudo bem Sabrina...  E além disso eu tenho certeza que mais dias ou menos dias você vai chegar a conclusão que não pode viver sem mim...  Será? Perguntou ela.  Se depender de mim... Mais uma vez se assustou com o som de tiros que parecia estar mais perto deles. Não agüentando mais aquela situação, Sabrina se soltou dos braços dele e se dirigiu para fora da casa sendo seguida por um surpreso Tom que vinha logo atrás.


 Aonde você vai? Perguntou ele temendo pela resposta.  Eu vou até a floresta ver o que está acontecendo. Disse aprontando o cavalo para a saída.  Você só pode estar brincando. Disse ele.  Não! Pode ter certeza que não estou brincando. Falou ela colocando a sela no animal rapidamente.  Mas de jeito nenhum que você vai até lá.  O que você disse? Falou ela o encarando. Ela estava tão furiosa que ele não teve coragem de repetir o que tinha acabado de falar.  Você não está vendo que é perigoso ir lá gora? Amenizou ele.  Mas se eu não for agora, não saberei quem está fazendo essa algazarra toda.  Eu não vou deixar você ir lá sozinha Sabrina. Falou ele firme. Ela deu meia volta e vociferou:  E quem você pensa que é para achar que pode mandar em mim?  Por mim eu já seria seu namorado, mas você é muito teimosa em admitir que sente algo por mim... Resolveu ficar quieto, pois ela o fuzilava com o olhar.  Calma! Não precisa ficar nervosa. Disse levantando as mãos em sinal de paz. Sabrina não disse nada e voltou sua atenção ao cavalo. “Namorado”? Pensou ela sentindo um calafrio lhe percorrer o corpo. Ficou visivelmente perturbada ao pensar nele como seu namorado, os beijos e carícias que trocariam... Estava tão perdida em seus pensamentos que nem notou que Tom colocava sela em um outro cavalo. Só foi perceber quando ele esbarrou nela devido ao cavalo se mexer ao ser colocado nele a sela.  Mas o que você pensa que está fazendo? Disse ela sem entender muito bem o que se passava. Tom não disse nada, primeiro a fitou e depois o cavalo para depois lhe dar uma resposta que não lhe agradou muito.  Se não deu para perceber eu estou selando um cavalo. Falou sarcástico.  E nem adianta reclamar porque eu vou com você, quer você queira ou não. Disse já montando no cavalo.

 E então? Você vem ou não? Perguntou ele de cima do cavalo. Sabrina não disse nada, simplesmente balançou a cabeça em sinal de desaprovação. Mas lá no fundo até que gostou de ter companhia, ainda mais depois que se lembrou do seu breve encontro com um daqueles caçadores que tivera um tempo atrás. Montou em seu cavalo e juntamente com Tom pegou o caminho para a floresta. A brisa da noite estava fresca com um espetacular céu estrelado, Sabrina olhou de lado e pode notar que Tom cavalgava muito bem sabendo conduzir o cavalo com perfeição. “Será que ele havia falado sério sobre em serem namorados”? Olhou mais uma vez de lado e deu um pequeno sorriso. Enquanto seguiam para a floresta, Tom pensava no rumo que estava sua vida neste momento. Para quem se mudara da cidade grande em busca de paz e sossego e sem qualquer desejo de ter um relacionamento amoroso não estava tendo nenhum progresso. Pois lá estava ele ao lado de uma linda mulher com síndrome de heroína, prestes a entrar em uma floresta em busca de caçadores e Deus sabe o que mais, só para ter o prazer de estar ao seu lado. “Bela mudança”. Pensou ele se recriminando. Alguma coisa lhe dizia que aquela aventura estava apenas começando e não sabia porque, mas estava começando a gostar daquilo. Chegando as margens da mata, Sabrina desceu do cavalo e já procurava um jeito de entrar nela. Tom ainda sentado em seu cavalo a olhava intrigado. ‘Será que ela iria entrar na floresta?” Pois acreditava que ela fosse até ali só para observar e não se embrenhar na mata em busca dos “culpados”. “Ela tem mais coragem do que eu”. Pensou descendo de seu cavalo.  Você não está pensando em entrar aí, não é?  O que você acha que viemos fazer aqui?  Bom! Para ser sincero, achei que ficaríamos amoitados em algum lugar só observando e não correr o risco de se perder nessa mata. Disse ele abrindo os braços para lhe mostrar o tamanho daquilo tudo.


 E como você acha que vamos conseguir ver tudo daqui? Por acaso você tem visão de raio-X?  Não! Eu não tenho visão de raio-X. Mas pode ter certeza que tenho mais juízo do que você.  Juízo ou medo? Provocou ela.  Para ser sincero os dois. Respondeu ele indo atrás dela que já entrava na mata.  Pelo jeito é mais medo do que juízo, não é? Disse debochada.  Olha aqui! Disse zangado a pegando pelo braço fazendo ela se virar para ele.  Não tem nada de errado em ter medo, isso não faz de mim menos homem do que eu sou... Mal acabou de falar e capturou seus lábios num beijo violento, mas que aos poucos foi se tornando mais gentil e sensual fazendo com que até se esquecessem de onde estavam. Tom queria lhe punir por se divertir as suas custas, mas o feitiço virou contra ele, pois ao sentir seus lábios sobre os dela perdeu totalmente a linha de seus pensamentos fazendo com que a raiva que sentia no momento fosse trocada por uma vontade enorme de fazer amor com ela ali mesmo, no meio daquele mato e de todos os bandidos ou caçadores que estivessem por ali. Ao se lembrar de onde estavam, Tom a soltou gentilmente e disse:  Isso foi para você aprender a não me provocar mais...Agora vamos procurar logo esses caçadores e sair daqui o mais rápido possível. Falou se afastando dela. Sabrina não entendeu de imediato o que havia acontecido ali. A única coisa que realmente sentia no momento era seus lábios que ainda queimavam por causa do beijo repentino. Sentindo as pernas fracas, decidiu seguir atrás dele antes que cedesse a vontade que tinha em ir embora dali para colocar seus pensamentos em ordem. Nenhum dos dois prestava atenção no caminho. De um lado Sabrina queria lhe pedir desculpas pelo fato de ter debochado dele e do outro Tom sentia uma mistura de raiva e desejo por aquela mulher que em pouco tempo estava fazendo sua vida virar de ponta cabeça.  Olha! Falou Sabrina o alcançando e o pegando pelo braço.  Desculpe-me. Eu não deveria ter dito aquilo. Afinal você está aqui comigo quando nem deveria e eu deveria te agradecer e não

ter zombado de você. Então espero sinceramente que você possa me perdoar por isso. Pronto! Toda a raiva que sentia dela naquele momento foi embora como num passe de mágica. Ficou visivelmente desconcertado ao ouvi-la se desculpando, pois pelo pouco que a conhecia, sabia que ela não tinha o costume de se desculpar com freqüência. Respirou fundo e deu um pequeno sorriso.  Desculpa aceita...Disse pegando em sua mão e fazendo uma leve carícia. Assustaram-se ao escutar vozes que pelo jeito estavam vindo na direção deles. Pegando mais forte a sua mão, Tom a empurrou dentro da mata em busca de um esconderijo, afinal não sabia com quem estavam lidando e Tom também não estava querendo dar de cara com um troglodita qualquer em plena selva e ainda por cima armado. Andaram em silêncio até que o barulho das vozes foi ficando cada vez mais longe.  Mas desse jeito não vamos ver quem está fazendo isso Tom! Exclamou Sabrina.  Calma! Disse ele. Agora somos nós que estamos atrás deles. Dizendo isso ele voltou de onde haviam entrado e foi puxando ela pela mão. Em pouco tempo começaram a escutar vozes que agora estavam à frente deles e logo já podiam ouvir o que eles diziam. Tom notando que eles haviam parado de andar, puxou Sabrina para algumas folhagens fazendo sinal para que ela ficasse quieta.  Será que vamos pegar um bom dinheiro dessa vez? Falava uma das vozes.  Tomara que sim! Respondeu a outra voz. Está cada vez mais difícil caçar animais aqui, porque a polícia está fechando o cerco.  Droga de polícia. Esbravejou o outro. Se pelo menos todos fossem corruptos já teríamos ficado ricos.  Fazer o que não é? Mas devagar a gente chega lá.  E agora o que vamos fazer?  Vamos embora antes que amanheça o dia e depois voltamos para mais uma noitada.  Tomara que seja tão proveitosa quanto à de hoje.  Tomara. Disse o outro. Aos poucos as vozes foram se afastando, Sabrina estava perdida em pensamentos.  Sabrina você está bem? Perguntou Tom preocupado. Saindo de seu devaneio, piscou algumas vezes e disse:


 Sim, estou sim. Respondeu.  Eu não te falei que eram bandidos? Falou ela brava.  Deu para perceber. Respondeu ele sem entender porque ela estava brava com ele.  Se nós tivéssemos visto o rosto deles...Falava ela consigo mesma andando de um lado para outro.  Calma Sabrina. Agora é só ir até a delegacia e contar o que nós acabamos de ouvir e deixar que a polícia tome providências.  Você não entende não é?  Você sabe quantas vezes eu fui até lá e o máximo que eu pude ouvir é “ nós não temos pessoal suficiente para cobrir toda a região”?  Umas cinco vezes. E ninguém faz nada para impedir essa barbaridade. Falava ela com raiva.  Mas agora você tem um argumento a mais porque pelo jeito eles estão vendendo os animais e isso faz deles verdadeiros criminosos. Falou Tom tentando acalma-la.  Sim! Você pode ter razão. Disse Sabrina depois de pensar um pouco.  Então o que você acha de irmos embora e logo pela manhã vamos até a delegacia e relatamos tudo o que ouve aqui? Sabrina olhou a sua volta e percebeu de como a noite estava ficando escura e fria, se estivesse sozinha provavelmente estaria com medo, mas com Tom ao seu lado se sentia mais segura e isso a agradava e muito.  Vamos embora daqui. Falou ela lhe estendendo a mão. Assim que chegaram no local que haviam deixado os animais puderam ver que eles estavam pastando como se nada tivesse acontecido naquela noite. Montaram em seus cavalos e seguiram para o rancho de Sabrina. Quando chegaram ao celeiro, cada um descarregou seu cavalo e os prendeu de volta na baia. Guardaram as selas em seus devidos lugares e foram até a casa de Sabrina.  Onde você aprendeu a montar?  Porque? Fiz alguma coisa de errado?  Não! Disse ela sorrindo.  Pelo contrário. Você conduz um cavalo perfeitamente.  Obrigado. Disse ele lhe retribuindo o sorriso.  E então? Onde você aprendeu a montar?  Porque esse interesse todo? Provocou ele.

 Não é nada de mais, só que você não me parece ser do tipo, só isso. Falou dando de ombros.  Você quer tomar alguma coisa? Desconversou ela.  Não obrigado.  E respondendo a sua pergunta, quando pequeno eu morava em um rancho com meus avós e logo cedo peguei gosto por montaria.  Você morava com seus avós? E o que houve com seus pais?  Me desculpe! Se você não quiser responder tudo bem.  Não! Por mim tudo bem. Disse ele se divertindo com sua curiosidade.  Meus pais morreram quando eu ainda era pequeno, então fui criado pelos meus avós maternos até os dezoito anos.  Depois de atingir a maioridade eu entrei na faculdade e desde então tenho morado na cidade, até um tempo atrás.  Sinto muito pelos seus pais. Lamentou-se ela.  Tudo bem Sabrina. Isso aconteceu já faz muito tempo.  Mas mesmo assim é difícil falar disso não é?  Não é que é difícil. É que esse assunto me deixa triste sabe? E eu não gosto muito de tristeza. Desabafou ele.  Então está bem, agora vamos mudar de assunto.  Você acha mesmo que aqueles cretinos estão vendendo os animais? Tom sorriu mais uma vez com a mania que ela tinha em mudar totalmente o rumo da conversa.  Com certeza. E agora a polícia querendo ou não vai ter que dar um jeito na situação.  É, você tem razão.  Você não quer mesmo tomar nada? Falava ela enquanto olhava dentro da geladeira.  Você sabe que horas são agora? Perguntou ele. Sabrina se virou com cara de quem tinha se esquecido até de onde estava.  Não! Porque?  Porque já são duas da manhã e ainda tenho uma estrada para pegar. Disse ele se levantando. Foi aí que ela se lembrou de que ele estava hospedado em um hotel na cidade, sem pensar muito no que fazia se ouviu dizendo:  Porque você não fica por aqui essa noite?


Tom se sentiu gelar ao ouvir tais palavras, lógico que ele entendeu que não era para eles dormirem juntos, mas só de imaginar a cena que se formou em sua mente... Suspirou fundo e a encarou. Sabrina procurava um buraco onde pudesse se esconder ao ver a cara com que ele a encarava. Era um misto de malícia e sedução que fez com que seu corpo todo se arrepiasse. Mas não tinha jeito, agora que havia falado tinha que dar um jeito naquela situação.  O que eu quis dizer foi que se quiser pode dormir aqui hoje, pois tenho quartos vagos e já que você está acordado até agora por minha causa então acho melhor você... Parou de falar ao ver que ele ria dela.  Posso saber o motivo da risada? Perguntou irritada.  Claro que sim! Respondeu ele ainda sorrindo.  Estou rindo da cara que você fez ao me convidar a ficar aqui hoje, e sinceramente acho que você queria mais era estar na companhia daqueles caçadores do que na minha....Falou ainda sorrindo.  Engraçadinho...Saiba que não é nada disso...Eu só fiquei...Sei lá... Falava sem muita convicção.  Viu só? Mas deixa eu te fazer uma pergunta.  Por acaso você está arrependida de ter me convidado a ficar aqui? É lógico que para mim será mais fácil ficar aqui do que ir até o hotel, mas se você não quiser tudo bem, eu entendo. Disse ele rezando para que ela não concordasse com ele.  Não é nada disso Tom! E me desculpe se deixei passar essa impressão, mas é que realmente fiquei surpresa comigo mesma ao lhe convidar... Mais uma vez Tom ficou sem jeito com a resposta dela, afinal ela estava dando um voto de confiança para ele e não poderia deixar isso escapar.  Não se preocupe Sabrina! Eu sei que você não tem o costume de deixar estranhos passarem a noite aqui e te agradeço por isso.  Mas você não é estranho, afinal nós seremos vizinhos não é mesmo?  Sim, seremos sim.  Bom então vamos lá, vou te mostrar onde você pode dormir...Disse levantando-se e fazendo sinal para que ele a seguisse. Tom a seguiu por um corredor e ao final dele ela lhe apresentou um amplo quarto muito bem decorado.

 Pode ficar nesse que tem um banheiro onde poderá tomar um banho antes de dormir. Disse ficando um pouco vermelha. Tom entrou olhando tudo a sua volta e disse:  Bonito. E onde fica o seu quarto? Sabrina sentiu seu sangue gelar nas veias ao ouvi-lo perguntando tão pertinho dela que chegou a ficar sem fala.  Para o caso de precisar de alguma coisa á noite. Falou ele ao perceber que ela tinha ficado sem graça.  Ah! Bem. O meu quarto é ali no meio do corredor...Disse apontando em direção à outra porta.  Muito bem. Então boa noite. Disse ele.  Boa noite. Falou dando meia volta e saindo rápido dali. Tom ficou observando enquanto ela saia, “quase correndo por sinal”. Pensou sorrindo fechando a porta em seguida. Sabrina não conseguiu dormir bem à noite, sonhou que estava perdida na floresta correndo de alguém ou algo e logo depois já estava nos braços de Tom que a abraçava forte dizendo que estava tudo bem. Depois a beijava com paixão fazendo com que acordasse achando que fosse realmente verdade. Por outro lado Tom conseguiu tirar apenas uma pequena soneca, pois só de imaginar Sabrina dormindo no quarto ao lado do seu, somente de camisola em uma cama espaçosa...Isso foi motivo suficiente dele não ter conseguido dormir. Lutara consigo mesmo a noite inteira contra a vontade que tinha em bater em sua porta para lhe pedir algo, ou simplesmente lhe dizer que não conseguia dormir. Mas sabia que não iria resistir a tentação ao vê-la seminua na sua frente. Então assim que o dia amanheceu tomou um banho relaxante e foi em busca da culpada pela noite em claro, jurando para si mesmo que nunca mais dormiria ali nem que tivesse que ir até a cidade a pé. Assim ficaria seguro em seu quarto de hotel. Chegando até a cozinha a encontrou fazendo café, resolveu ficar parado na porta apenas a admirando, enquanto ainda não tinha sido descoberto por ela.


Pode notar que pelo jeito ela tinha dormido feito um anjo e isso provocou uma grande raiva nele. Sabrina estava tão concentrada nos afazeres que nem notou que estava sendo observada, somente quando escutou um bom dia foi que se virou e encontrou Tom com cara de poucos amigos. Barba por fazer, cabelos ainda molhados pelo banho tomado a pouco, ele poderia não achar, mas estava lindo num estilo rústico. Engolindo seco e tentando parecer normal Sabrina respondeu:  Bom dia! Dormiu bem?  Não tão bem quanto eu esperava...Resmungou ele se sentando.  Culpa do colchão? Perguntou ela.  Não! Culpa sua. Quando ele viu já tinha falado. Ele olhou para Sabrina e pode notar que ela estava tão confusa quanto ele.  Minha culpa? Mas como assim minha culpa?  É isso que dá a gente querer ajudar as pessoas mesmo. Se você não conseguiu dormir porque não foi para seu hotel dormir em uma cama mais confortável?  Pois é exatamente isso que eu vou fazer. Disse ele se levantando.  É bom mesmo. Retrucou ela. Ficou parada no meio da cozinha ainda atordoada com o ocorrido. “Mas o que diabos foi aquilo?” Se perguntava. “Será que o colchão era tão ruim assim”? Tom saiu fulo pela estrada de terra fazendo com que levantasse uma enorme poeira atrás dele. Não sabia se estava mais irritado com o fato de não ter dormido a noite inteira de tanto ficar imaginando ela deitada tão pertinho e ao mesmo tempo tão longe ou o fato dela estar com uma ótima aparência, sinal de ter tido uma excelente noite. Prometeu a si mesmo que nunca mais cometeria o erro de ir visitá-la tão tarde, tão pouco dormir de novo em sua casa, ao menos se fosse na mesma cama que ela. Enquanto tomava o café da manhã, Sabrina pensava no ocorrido. O que será que aconteceu para ele ficar assim tão irritado? Ou será que ele tinha aquele mau humor matinal mesmo?

Mais tarde iria ver se ele já estava de bom humor de novo, pois gostava mais dele relaxado do que bravo daquele jeito. “ Gostava dele mais relaxado”? Perguntou-se ela. E desde quando tinha começado a gostar dele? Sabrina foi até o rancho ver se Tom já havia chegado e assim pudessem resolver logo aquela situação na delegacia, pois com mais uma pessoa relatando o que haviam visto na floresta quem sabe a polícia agora pudesse realmente fazer alguma coisa para ajudar? Ou seja o trabalho deles. Pode notar que realmente ele estava mesmo empenhado em fazer dali seu lar, porque pela quantidade de homens trabalhando na construção, logo estaria tudo novo como folha. Pensava ela tentando acha-lo no meio daquela gente toda. Conforme caminhava entre eles, ia despertando olhares curiosos no caminho. Aos poucos conseguiu chegar até perto da varanda onde pode vê-lo. Pode notar o olhar cansado que estava estampado em seu rosto, resultado de uma noite mal dormida. Assim que notou sua presença, ele fez um sinal com a cabeça e voltou sua atenção a um pedaço de papel que segurava nas mãos. Ao se aproximar, ela viu que se tratava de uma planta do rancho. Ela não entendia muito mas pelo jeito iria ficar muito bonito, mas resolveu não falar nada porque queria ter certeza de que ele já estava melhor do que naquela manhã. Tom estava com vontade de matar aquela mulher. Como ela ousava ir até seu rancho logo depois de quase deixa-lo louco de desejos por ela? Pensava irritado a olhando de soslaio. Aos poucos seu perfume entrava em suas narinas fazendo com que ficasse mais tenso ainda. “Inferno” . Pensou raivoso. Tinha ido morar naquele fim de mundo para poder ficar em paz e sossego e aconteceu justamente o contrário. Tinha se apaixonado por uma mulher que não dava a mínima para ele e ainda o estava levando para aventuras no meio da floresta em busca de bandidos. “Isso sim que era teste cardíaco” Pensou ele franzindo a testa. “Apaixonado”? Como assim apaixonado?


Fechou o mapa e respirou fundo em busca de ar. Começou a caminhar e nem se importou com o fato de Sabrina ter ficado ali parada olhando para ele sem entender nada do que acontecia. “Será que ele não me viu aqui”? Pensou ela o seguindo em seguida.  Bom dia! Disse ela assim que o alcançou.  Por acaso você não me viu aqui? Falou parando em frente á ele.  Claro que sim. Falou ele calmamente.  Escuta! Eu te fiz alguma coisa? Porque se fiz, me desculpe porque não foi intencional. Pediu ela.  Não! Você não fez nada. Disse ele desviando dela e continuando seu caminho.  Mas porque tenho a sensação de que está bravo comigo? Continuou ela.  Não é com você que eu estou bravo Sabrina. Quer dizer, é e não é.  Olha! Sinceramente essa não é uma boa hora para conversarmos sobre isso ok?  Então você está com raiva de mim?  Eu já disse que não. Ou talvez esteja, sei lá. Falou passando as mãos pelo rosto em sinal de cansaço.  Mas como você está estranho hoje em? Desabafou ela. Foi aí que Tom se tocou de que ela não tinha nada a ver com seu repentino ataque de raiva, pois nem ele mesmo sabia porque estava com raiva, imagina ela. E além do mais, ela não tinha culpa nenhuma que ele teve uma noite ruim, quem mandou ficar a noite toda imaginando ela só de roupas íntimas e perdendo totalmente o sono? Feliz foi ela que com certeza teve uma bela noite e amanheceu com aquela disposição toda pela manhã que o fez ficar fulo da vida.  Afinal o que você veio fazer aqui? Sabrina notou que ele não iria dizer nada, então se ele quisesse continuar assim “tudo bem”. Pensou com raiva.  Você se lembra que ficou de vir comigo até a delegacia e relatar o ocorrido de ontem?  É verdade. Falou ele a encarando pela primeira vez naquele dia.  Mas se você não quiser ir tudo bem. Disse ela cabisbaixa.  Não! Eu vou sim. Só espera um minuto, está bem? Disse se afastando.

Tom não via a hora de aquilo acabar para que pudesse colocar em prática o que tinha ido ali buscar, ou seja, iria a acompanhar até a delegacia e depois faria de tudo para se manter longe dela. Iria sentir sua falta, isso era lógico, mas antes de vir buscar refúgio ali, jurou para si mesmo que não ficaria mais dependente assim de ninguém. Sabrina até que tentou entender o comportamento dele mas resolveu deixar para lá, afinal ele era homem e isso queria dizer que não iria conseguir compreender o que se passava por sua cabeça. Já tivera uma experiência muito desagradável em sua vida e agora que estava tudo em perfeita ordem não iria permitir que ele virasse sua vida de pernas para o ar. Sendo assim decidiu que depois de tudo resolvido na delegacia, iria dar um jeito de não vê-lo mais, ou com tanta freqüência, isso seria o bastante para que não passasse noites sonhando com suas carícias ou imaginado de como seria se fizessem amor. Não seria nada fácil sendo ele seu vizinho, mas faria de tudo para tentar enganar seu coração. Tom apareceu diante dela com a mesma cara fechada de antes, fez um sinal para que o seguisse e abriu a porta de uma camionete para que ela entrasse. No caminho até a delegacia, nenhum dos dois quis tocar no assunto daquele mal estar que tinha se instalado entre eles. Ela até que tentou dizer algo,mas só de ver sua carranca decidiu ficar quietinha em seu lugar. Enfim chegaram no seu destino, Sabrina foi a primeira a entrar sendo seguida logo atrás por Tom que ainda estava carrancudo por sinal. Assim que entraram, o delegado Robert ou Bob que era como todos os chamavam veio ao seu encontro.  Bom dia Sabrina. Disse ele ajeitando o uniforme todo imponente. Tom se segurou para não rir, pois estava na cara que ele queria impressionar Sabrina com seu uniforme. Mas pensando bem, ele sentiu mesmo foi uma vontade imensa de lhe dar um belo soco na cara ao ver que ele flertava com ela discaradamente. O jeito que a olhava, mais parecia um caçador a espreita de sua caça.  Bom dia Bob. Falou Sabrina.


 A que devo a honra de sua visita? Ele nem se deu ao trabalho de olhar para o lado de Tom.  Eu vim aqui mais uma vez na tentativa de que você tome alguma providência quanto á matança de animais na floresta.  E eu já te disse que não tenho pessoal suficiente para cobrir toda a área. Falou ele calmamente.  Mas pelo jeito eles estão matando os animais para vendê-los.  E como você sabe disso?  Porque ontem eu entrei na floresta e pude ouvir perfeitamente tudo o que disseram.  Você o que? Perguntou ele incrédulo.  Mas você não sabe que pode ser perigoso Sabrina? E se acontece alguma coisa com você?  Então seria sua culpa. Disse Tom que até aquele momento estava quieto. Bob olhou para Tom como se só agora tivesse visto que ele estava ali e isso fez com que ficasse mais irritado ainda.  E quem é você? Quis saber Bob.  Desculpe-me. Disse Sabrina. Esse é meu vizinho Tom.  Ah! Então foi você quem comprou o rancho do velho Samuel?  Sim. Respondeu ele.  Então, como eu ia te dizendo...  Como eu ia dizendo, se alguma coisa acontecesse a ela a culpa seria sua por não estar fazendo seu trabalho.  Escuta aqui rapaz...Eu já disse que não tenho...  Eu sei disso tudo. Mas me responde uma coisa. Como foi que nós conseguimos achar os caçadores sem nem mesmo perdemos tempo em procura-los? Falou Tom o encarando com cinismo. Fez-se um silêncio na pequena sala. Sabrina adorou o fato de Bob não ter o que responder, por esse motivo ela adorou que Tom estava ao seu lado. Resolveu então dar um basta naquilo antes que alguma coisa de mais grave acontecesse.  Bem. Então como eu dizia, nós escutamos os caçadores dizendo que voltariam lá essa noite e se você juntar uma pequena equipe para uma averiguação tenho certeza que a polícia irá prende-los , porque o que estão fazendo é crime.  E a que horas que será isso? Perguntou Bob olhando para Sabrina.

 Eu não sei. Respondeu Sabrina impaciente.  Sabe o que é? Nós esquecemos de perguntar isso á eles. Falou Tom com ironia deixando o delegado visivelmente irritado. “Realmente Tom não foi com a cara do delegado”. Pensava Sabrina concordando com ele.  Bom. O que eu posso fazer no momento é juntar uma equipe mais tarde e ficarmos de vigia até que apareça alguém.  Está bem assim para você? Quis saber o delegado á Sabrina.  Por enquanto sim. Respondeu ela.  Mas veja bem, eu só vou poder tomar uma atitude se for provado de que estão caçando os animais para venda, entendeu? Falou ele com seu conhecido ar de autoridade. Parecia que o delegado não estava muito a fim de fazer seu serviço, sendo assim Tom resolveu deixar as coisas um pouco mais interessantes.  Ah! Eu já ia me esquecendo.  Os caçadores também falaram sobre um suborno de alguns policiais, e por esse motivo é que ninguém mexia com eles e pudessem fazer o que bem entendessem com os animais que ali viviam. Falou Tom encarando o delegado deixando Sabrina espantada. Bob ficou branco, Sabrina não sabia dizer se era por raiva ao ouvir aquilo ou de raiva por Tom o estar acusando de suborno.  O que você está querendo dizer com isso? Vociferou Bob.  Eu não estou querendo dizer nada, quem falou isso foram os caras lá na floresta. Defendeu-se Tom dando um pequeno sorriso.  Isso é verdade Sam? Perguntou ele para Sabrina que fez que sim com a cabeça.  É verdade Bob. Eles disseram que só caçavam aqui porque subornavam alguns policiais. Disse Sabrina.  Pois eu vou dizer uma coisa a vocês dois.  Eu jamais aceitei suborno de ninguém e se tiver alguém aqui na minha equipe que está fazendo isso será preso na hora.  Agora me deixa trabalhar que pelo jeito a noite será longa. Falou ele virando as costas para os dois dando a conversa por encerrada. Sabrina olhou para Tom com um certo ar de conquista, pela primeira vez sentiu que finalmente alguém faria alguma coisa sensata .


Tom não sabia se estava aliviado ou desolado com o desenrolar daquela história. Aliviado por saber que agora a polícia tomaria conta da situação, pois o delegado não iria correr o risco de o acusarem de receber suborno e desolado ao perceber que não precisaria mais ajudar Sabrina e assim não se veriam mais com tanta freqüência. Saiu da delegacia e entrou no carro sendo seguido por Sabrina que entrou quieta do mesmo jeito que viera. O caminho de volta foi uma tortura para ambos, Sabrina tinha vontade de continuar o caminho a pé para não ter que vê-lo com aquela cara amarrada. Tom a deixou na porta de seu rancho, antes de descer do carro Sabrina resolveu dizer:  Mais uma vez eu tenho que te agradecer pela ajuda. Muito obrigada.  Não tem de quê. Falou ele sem nem mesmo olhar para ela.  Até mais. Disse ela desconsolada, pois estava com vontade de se atirar em seus braços de tanta alegria que sentia no momento. Ele não tinha idéia do que haviam acabado de conquistar, pois em todo esse tempo em que buscara ajuda ninguém parecia leva-la á sério em relação aquele assunto dos animais. Mas resolveu deixar para lá, se ele não estava contente problema dele, ela iria celebrar sozinha mesma. “Sozinha”. Não gostou muito de pensar naquela palavra. Ao deixar Sabrina em seu rancho, Tom pode notar que ela viera calada o caminho todo e achou estranho, pois o normal seria ter vindo falando toda feliz do ocorrido na delegacia. Resistiu ao impulso de voltar e se desculpar pela explosão ocorrida pela manhã, mas achou melhor deixar do jeito que estava, porque ela estava magoada e assim não a veria tão cedo, aproveitaria e daria um tempo para seu coração se recuperar antes que fosse tarde demais. Os dias foram passando e nem Sabrina e nem Tom tinham se visto depois daquele dia na delegacia. Sabrina tentava disfarçar, mas lá no fundo tinha que admitir que estava sentindo sua falta. Ás vezes tinha vontade de ir até seu rancho para ver como estava ficando devido á

reforma, mas estava mais interessada mesmo era em ver como ele estava. Será que seu mau humor já tinha ido embora? Pensava ela. Por outro lado Tom nem mesmo tinha tempo de pensar muito em Sabrina, pois com a reforma ele trabalhava o dia inteiro ajudando do jeito que podia. Só assim é que conseguia ficar sem pensar nela, mas quando a noite chegava é que ele lutava contra a vontade que tinha em ir lhe fazer uma visita, só para ver como ela estava. “Mentiroso”. Falava uma voz dentro dele. O que ele queria mesmo era pegá-la em seus braços e não deixa-la sair nunca mais, nem que brigasse com ele todos os dias. Em uma manhã, Sabrina estava em seu rancho quando chegou uma viatura da polícia, ficou toda animada, pois desde o dia em que foram até lá não tinha tido notícias sobre a busca da polícia.  Bom dia Sabrina. Disse Bob colocando seu chapéu.  Bom dia Bob. Espero que tenha boas notícias para me dar. Falou ela ansiosa.  Infelizmente não tenho não Sam. Falou ele pesaroso.  O que você quer dizer com isso? Vocês não foram lá naquela noite?  É lógico que fomos, mas a questão é que não conseguimos achar ninguém, nem mesmo um caçador.  Eu não acredito Bob. Como é que pode isso?  Eu ouvi perfeitamente eles dizerem que voltariam lá naquela noite para terminar o serviço.  Sinto muito Sabrina. Nós ficamos a madrugada inteira procurando pela floresta e nada.  Que droga! Disse ela se lamentando.  Nós ainda voltamos lá algumas noites, mas como as outras o resultado foi o mesmo. Decepcionada, sentou-se no degrau da varanda tendo Bob ao seu lado. Passava a mão pela testa em sinal de cansaço e nem notou que estava sendo observada por um par de olhos castanhos que a olhava com carinho. Tom os observava de longe e pelo jeito Sabrina não estava bem, pois só de vê-la cabisbaixa era sinal de que algo havia acontecido e não iria deixar que o delegado a confortasse de jeito nenhum. Caminhando lentamente foi-se aproximando deles até que Sabrina ergueu os


olhos e o fitou séria e ao mesmo tempo com um certo alívio. Isso fez com que a barreira que ele levou um certo tempo para erguer quebrasse só com aquele olhar que ela lhe mandou. Sabrina achou que estava tendo uma alucinação ao vê-lo caminhando lentamente em sua direção. Ele olhava diretamente para ela como uma fera olhava para sua caça e isso fez com que seu coração disparasse de alegria, pois era sinal de que o seu repentino mau humor havia passado.  Bom dia. Disse ele com um pequeno sorriso.  Bom dia. Respondeu ela. Um olhava para o outro sem dizerem uma palavra sequer que até se esqueceram de Bob que estava sentado perto de Sabrina. Dando um pequeno resmungo para chamar a atenção, Bob resolveu se levantar ficando do lado de Tom.  Olá Delegado. Me parece que você não trouxe boas notícias. Disse com cinismo.  Infelizmente não. Respondeu ele franzindo a testa.  Percebi. Disse olhando para Sabrina. “Mas como ele sabia disso”? Pensou ela. “Será que ele me conhece tão bem assim”?  Mas o que aconteceu?  O delegado veio me dizer que não conseguiram pegar ninguém na floresta naquela noite. Disse Sabrina.  Ninguém? Falou Tom sério.  Estranho, você não acha delegado?  Estranho porque? Ás vezes eles mudaram de idéia e resolveram caçar em outro lugar.  Eu acho que não. E para ser sincero eu acho que eles estão amoitados por aí só esperando a hora certa para voltar.  E porque você acha isso?  Eu sinto te informar delegado, mas está mais do que na cara de que tem alguém passando informações para eles. Disse encarando Bob.  Porque eu não pensei nisso antes? Falou Sabrina.  Será?  Pode ter certeza que sim.  Eu vou ver o que faço. Disse o delegado se despedindo. Os dois observavam enquanto Bob entrava em seu carro e ia embora. Tom desviou o olhar de Bob e encarou Sabrina.

 E como é que você está? Perguntou ele.  Bem e você?  Cansado! Respondeu ele se sentando perto dela.  È! Reformar um rancho dá muito trabalho.  Agora eu sei disso. Falou ele fazendo uma massagem nos próprios ombros. Olhando para ele, pode notar que parecia que não tinha tido uma boa noite de sono. Sentiu vontade de massagear os seus ombros para lhe relaxar um pouco, mas com certeza não conseguiria tirar as mãos de cima dele ao sentir sua pele em contato com a dela. Desviou os olhos dele para evitar que pudesse fazer algo impensável, fazia dias que não se viam e isso fez com que ela pensasse em não encara-lo por muito tempo.  Sabrina! Eu sei que é tarde para me desculpar, mas eu quero te dizer que sinto muito de como explodi com você naquela manhã. Falou ele.  Bom! Já que você tocou no assunto eu gostaria de saber no que te deu naquele dia.  Por acaso você acorda sempre assim de mau humor? Ou foi realmente o colchão que não te deixou dormir? Ela falava sem parar que o deixou até meio tonto de tanta pergunta.  Não é nada disso...Falou se alterando mais uma vez. Como iria dizer que o culpado por sua noite mal dormida foi justamente ela?  Eu posso ser sincero com você? Perguntou ele sério. Ela fez sinal que sim com a cabeça e ele falou.  Eu não sei se você vai gostar do que vou dizer, mas tem que me prometer que mesmo se não gostar não irá me recriminar pelo fato, ok?  Desembucha logo. Disse sentindo o coração acelerar.  Foi por sua causa que fiquei bravo daquele jeito. Falou ele cabisbaixo.  Por minha causa? Perguntou sem entender.  Sim! A verdade é que passei a noite toda me imaginando dormindo em sua cama, e aí você pode imaginar o resto não é? Ela não sabia o que fazer ou muito menos falar diante aquela confissão.  Como não consegui dormir, logo que amanheceu tomei um belo banho para tentar recuperar as energias e ao entrar na cozinha pude notar que você ao contrário de mim teve


uma excelente noite de sono. Falou dessa vez a encarando. Sabrina sentiu um imenso alívio, pois achava que tinha cometido ou falado algo que o deixara bravo com ela.  E quem te disse que tive uma boa noite de sono? Perguntou ela. Tom a olhava com atenção.  Pois é! Eu também não consegui dormir naquela noite. Fiquei o tempo todo sonhando que estava na floresta sendo perseguida por alguém e de repente você surgia e me abraçava dizendo que estava tudo bem e depois eu...Ou melhor, nós...Titubeou...Você deve imaginar o que veio em seguida...Dizia ela sem encara-lo. Tom não sabia se ria ou batia na mulher ao seu lado. Ria ao vê-la toda embaraçada ou batia por não ter dito nada a ele e ter feito daquela noite um verdadeiro inferno.  E porque você não me disse nada?  Ah! O que você acha que eu devia ter feito?  Batido em sua porta e relatar que não estava conseguindo dormir porque sonhava que nós... Parou de falar ficando levemente vermelha ao imaginar a cena que se formara em sua cabeça. Tom já imaginava a cena deles fazendo amor no meio do mato, seria um sexo totalmente selvagem...Pensava ele.  E se me lembro bem, você também não me disse nada e agiu de uma maneira totalmente louca pela manhã.  E olha que eu tinha feito um verdadeiro banquete no café da manhã e fiquei lá sozinha na cozinha sem saber o que fazer com aquilo tudo. Continuava ela sem parar de falar. Tom a pegou pelo queixo fazendo com que olhasse para ele. Beijou os seus lábios calando-a e em seguida disse:  Me parece que não conseguimos nos expressar bem não é mesmo?  Sim! Quero dizer não! Dizia ela sem conseguir tirar os olhos da boca dele. Tom a beijou de novo, agora com paixão. Sabrina não conseguia pensar em mais nada a não ser em sentir a boca de Tom em contato com a sua. Abriu os lábios para que ele pudesse explorar todo seu interior, fazendo ela soltar um pequeno gemido rouco.

Não conseguindo mais se controlar, Tom a pegou no colo, sem interferência dela por sinal e levou até seu quarto. Em pouco tempo as roupas de ambos já estavam espalhadas pelo chão e sem mais demora fizeram amor de maneira rápida, sem tempo para carícias mais prolongadas, pois se demorassem mais não conseguiriam suportar o desejo que ambos sentiam. Com o desejo agora saciado, ficaram deitados com as pernas entrelaçadas. Sabrina brincava com os pelos das pernas de Tom que estava adorando o contato de seus corpos. Sabrina não podia estar mais contente, nem mesmo nos seus “sonhos eróticos” que tivera, podia imaginar a sensação que sentira momentos antes.  E pensar que eu passei esses dias todos sonhando e imaginando como seria fazer amor com você. Falou ele lhe acariciando o corpo.  E eu com você. Disse ela.  Eu acho que aquela noite foi a pior da minha vida.  Hum! Aquela foi uma entre as piores que eu tive. Falou ela se lembrando da noite em que terminou seu relacionamento com Brian.  Uma das piores?  Sim...Mas não vamos falar de coisas ruins agora está bem?  Tudo bem... E do que você quer falar ou fazer? Disse ele a beijando de novo com paixão.  Que tal você me fazer esquecer daquela bendita noite de novo? Disse lhe provocando.  Não precisa dizer duas vezes. E assim voltaram a fazer amor, mas dessa vez sem pressa... Já passava da cinco da tarde quando Sabrina escutou alguém chamando seu nome. Sonolenta se moveu na cama e parou ao sentir um roçar de pelos em contato com sua perna. Logo todos os momentos que tivera antes voltaram á sua mente. Virou-se e notou que Tom ainda dormia. Ficou admirando o belo homem que repousava ao seu lado. A barba por fazer lhe dava um ar de selvagem que a deixava encantada. Será que alguma outra mulher já notara isso antes? E pensar em mulher, lembrou que não sabia nada sobre ele, nem mesmo se era casado ou solteiro.


Franziu o semblante ao imagina-lo tendo intimidades com outra mulher. Seus pensamentos foram deixados de lado ao ouvir de novo uma voz que lhe chamava. Levantou-se e vestiu-se rapidamente saindo do quarto em seguida em busca da voz que lhe chamava. Ao chegar na cozinha viu Jack a esperando na porta de entrada.  Oi Jack. Algum problema?  Não. Sabe o que é? Eu ouvi o seu telefone tocando sem parar e como não te vi o dia todo resolvi atender, era sua irmã que mandou eu te dizer que ela está vindo para cá nesse final de semana.  Nesse final de semana?  Sim. Ela me falou que era nesse sim.  Está bem. Obrigada Jack.  A senhora está bem?  Porque você está perguntando?  Nada. È que como eu não te vi então achei que estava doente. Se precisar de alguma coisa é só falar.  Obrigada. Mas eu não estou doente não, só deitei um pouco para descansar e acabei dormindo demais.  Devia estar bem cansada em?  Muito.... Muito cansada, Jack. Respondeu sentindo um arrepio percorrer seu corpo ao se lembrar do motivo que a deixara cansada.  Bom. Então eu vou indo. Até mais.  Tchau Jack. Disse rumo ao seu quarto. Ao chegar, viu que pelo jeito Tom já havia acordado, pois a cama estava vazia. O único sinal dos momentos de antes era o lençol desarrumado. Escutou um barulho que vinha de dentro do banheiro e resolveu entrar. “Quem sabe repartiria uma ducha com ele”? Tom estava lavando os cabelos e nem notou que estava sendo observado por um par de olhos brilhantes. Assim que abriu os olhos, notou que Sabrina o olhava de cima a baixo. Esticou seu braço oferecendo sua mão que ela logo tratou de pegar e se sentiu puxada de encontro aquele corpo másculo. Tom a ensaboou inteira fazendo-lhe uma sensual massagem que foi se tornando cada vez mais ousada fazendo os dois entrarem em um mundo que só pertenciam á eles. Já trocada em seu quarto, Sabrina o observava enquanto ele colocava suas roupas.

Pensava em como Tom havia conseguido mexer com seus sentimentos em tão pouco tempo. O que será que sua irmã iria achar ao saber dessa sua aventura? “Aventura”? Será que ele também pensava assim?  Você não que me acompanhar até o meu rancho para ver como está ficando? Disse ele pegando sua mão.  Claro! Vamos lá. Os dois partiram rumo ao rancho de Tom e ao chegar Sabrina ficou muito contente com o que viu. Ele estava fazendo um ótimo trabalho, nem parecia aquele rancho sujo e mal cuidado que ela conhecia. Ao entrar na casa viu que já estava quase pronta. Pintada numa cor de bege clara, passava um ar de serenidade para quem estava ali. Aprovou com os olhos tudo o que viu, realmente Tom demonstrava que tinha muito bom gosto. Tom a observava curioso. Estava ansioso em ver qual seria sua reação ao ver em como o rancho estava ficando e só pelo seu olhar soube que estava sendo aprovado. Depois que havia ficado mais próximo dela, notou que tudo o que fazia no rancho era mais para tentar agradar a ela do que ele mesmo. “Estranho”. Pensou franzindo o semblante.  Parabéns! Você está fazendo um ótimo trabalho. Disse ela olhando tudo a sua volta.  Que bom que gostou. Respondeu ele contente. Ele tinha que admitir que Sabrina estava se tornando muito importante para ele, mas tinha que ir devagar para não assustá-la. O que será que ela faria se soubesse da intensidade de seus sentimentos? Por enquanto não pretendia dizer nada.  Eu vou ter que viajar para buscar algumas coisas minhas que ficaram para trás, você não que aproveitar e vir comigo? Disse ele lhe abraçando por detrás. Ao ouvir isso, sentiu um pequeno desapontamento ao se imaginar sem ele por alguns dias.  Eu adoraria, mas no momento não posso. Disse ela encostando a cabeça em seu peito.


 Porque não? Não tem um rapaz aqui que te ajuda?  Tem sim! Mas não é por causa do rancho. Eu tenho alguns pacientes que precisam de cuidados constantes.  Eu também preciso de cuidados constantes sabia? Falou ele fazendo ela se virar de frente á ele.  Verdade? Que tipo de cuidados? Provocou ela.  Muitos beijos, abraços e outras coisas mais.  Hum! Mas você é muito exigente. Disse ela lhe oferecendo os lábios para um longo beijo. Sabrina estava em seu escritório quando o telefone tocou.  Como está minha veterinária favorita?  Estou ótima e você? Disse sentindo o coração acelerar. Já fazia dois dias que não se viam devido á viagem dele.  Morrendo de saudades. Falou ele sério.  Eu também. Confessou ela.  O que você está fazendo agora?  Estou no meu escritório olhando algumas fichas, porque?  Nada. Eu só quero que você não se esqueça que me prometeu não se meter com aqueles caçadores.  Pode ficar tranqüilo que eu não esqueci não.  E por falar nisso, faz tempo que não ouço nada. Nem um barulhinho sequer vindo de lá. Dizia ela.  Quem sabe não tomaram vergonha na cara e pararam de fazer mal aos animais?  E já que você tocou no assunto, acho que vou fazer uma visita para o delegado e ver como anda as investigações... Sabrina falava sem parar, não dando tempo de Tom abrir a boca. Do outro lado da linha, Tom se recriminava por ter aberto a boca e falado a palavra “caçador”. Agora tinha certeza que ela iria até a delegacia perturbar o delegado em busca de soluções para aquele problema. Apertou o telefone com raiva dele mesmo por ter aberto boca.  Sabrina! Disse alterado. Ela parou de falar de repente.  O que foi? Quis saber ela.  O que foi? O que nós combinamos?

 Eu disse que vou conversar com o delegado e não me embrenhar na mata. Eu não sou tão doida assim. Defendeu-se ela.  Ah não? E quem foi que entrou na mata aquela noite em que ouvimos os tiros?  Eu e você. Falou ela.  Eu não! Foi você. Por mim nós ficaríamos amoitados em um canto qualquer.  Mas não. Você tinha que dar uma de heroína e ainda por cima me levou junto. Agora quem falava sem parar era ele. Sabrina tirou um pouco o telefone do ouvido, devido ao sermão que Tom dava ao telefone.  Pode ficar tranqüilo que não farei nada.  Você promete?  Sim. Eu prometo.  Mas você não precisa se preocupar comigo, eu sei me cuidar sozinha sabia?  Eu sei disso. A questão é que me preocupo com você. Disse Tom evitando deixar transparecer o verdadeiro motivo de se preocupar tanto com ela. Ainda era muito cedo para lhe falar de seus sentimentos, sentia que Sabrina precisava de tempo e espaço. Sabrina sentiu uma tensão no ar. Tinha a impressão de que aquelas palavras tinham um outro significado, algo mais profundo. Não sabia se ficava contente ou receosa, afinal ainda não sabia o que sentia por ele no momento. O que importava no momento era que estavam se dando bem. Até agora ele se mostrou muito educado e sempre respeitando os seus limites.  Quando você está de volta? Perguntou ela.  Se tudo correr bem, daqui uns dois dias.  Me liga assim que você sair daí ok?  Pode deixar. Ficaram por mais um tempo conversando. Quando desligou, Sabrina ainda ficou por um tempo ali parada olhando o telefone. Realmente sentia a falta de Tom. Pensava ela. Como ele a havia conquistado em tão pouco tempo. Agora estava ali, parada ao lado do telefone com a cabeça nas nuvens. Respirou fundo e quando já ia sair, o telefone tocou novamente.


Atendeu de imediato e para seu desapontamento ouviu uma voz que não era de quem ela esperava.  Ola maninha. Até que enfim consegui com que atendesse ao telefone.  Olá Isa. Disse ela se sentando.  Nossa! Mas quanto entusiasmo em?  Só estou um pouco cansada.  Eu estou te ligando do meio da estrada, logo estarei aí.  Que bom! Ficarei esperando.  Eu vou desligar porque a bateria está acabando. Depois a gente se fala.  Tchau Isa. Despediu-se ela. Mais tarde estava em seu escritório quando escutou um barulho de carro chegando. Saiu e encontrou Isa saindo do carro e indo á seu encontro.  Olá San. Disse Isa a abraçando.  Olá Isa.  E aí? Quais são as novidades?  As mesmas de sempre.  Ai que chatice. Sabrina respirou fundo. Ainda bem que Tom estava viajando, pois tinha certeza que não conseguiria se manter indiferente com ele por perto porque sua irmã “pegava as coisas” á distância. Não que não confiava nela, mas é que ultimamente todo mundo parecia que tinha uma receita para curar seu coração, fazendo com que ficasse cansada de todos ficarem metendo o nariz onde não era chamado. Se sua irmã soubesse o que estava acontecendo entre eles, conhecendo ela como conhecia, iria encher ela e Tom de perguntas e tinha certeza que nenhum dos dois estavam prontos para responderem. Então achou melhor não falar nada, deixaria ficar quem sabe mais profundo e aí sim falaria com sua irmã. “Mais profundo como?”. Perguntava uma voz dentro dela. O que seria mais profundo se já tinham passado a linha da intimidade? “E como” haviam passado daquela linha. Só estava faltando mesmo seria declarar que estava apaixonada por ele. Será que ele sentia o mesmo? Ou era só uma aventura para ele? Mas não! Apesar do pouco tempo em que se conheciam, Sabrina sentia que Tom era honesto quanto aos seus sentimentos. Ela só não sabia quais sentimentos eram esses.

Enquanto pensava sobre isso, nem reparou que sua irmã tagarelava sem parar, então tratou de afastar tais pensamentos e se concentrar em sua irmã. Depois de deixar as coisas de Isa em um quarto, Sabrina a levou para um passeio pelo rancho e resolveu dar uma olhada no rancho de Tom, que havia lhe pedido antes de viajar. Estava tudo indo bem, a reforma estava em pleno vapor e o rancho cada vez mais bonito. Sabrina explicava a Isa que o rancho havia sido vendido e que o novo dono estava reformando tudo por ali, como ele havia viajado, pediu para que ela desse uma olhada de vez em quando. Depois de percorrer todo o rancho de Tom, tiveram que voltar de novo para o seu, pois Isa havia saído com um sapato de salto e isso fazia com que seus pés virassem de lado cada vez que pisava no chão, fazendo Sabrina rir ao vê-la tentando se equilibrar.  Até parece que você nunca esteve aqui antes. Dizia Sabrina se divertindo.  Eu esqueci de tirá-los, estou acostumada a andar só de salto.  Deu para perceber.  Não enche San.  Apesar de achar tudo muito bonito, eu não sei como você consegue gostar de morar aqui. Falava ela se equilibrando.  É que diferente de você, gosto de paz e sossego e não daquele burburinho todo de cidade grande.  Isso você tem razão, pois eu adoro aquele agito todo.  Então é por isso que você vive lá e eu aqui. Isa não disse nada, simplesmente balançou a cabeça em sinal de reprovação.  Vamos que tenho bastante coisa para lhe mostrar e quem sabe você também resolve vir morar aqui comigo? Provocou Sabrina.  Olha San, você sabe que eu te amo de paixão, mas também não vamos exagerar...Falou ela rebatendo a provocação da irmã. A duas saíram e foram dar uma volta pelas redondezas, mas dessa vez foram de carro. Depois de tudo visitado, Isa resolveu que já estava na hora de ir embora.  Mas achei que ficaria aqui comigo o final de semana.  Infelizmente não! Só passei para te ver, pois tenho que ir numa festa hoje á noite e não perderia ela por nada nesse mundo.


 Eu sabia que voce não agüentaria ficar por aqui muito tempo... Disse Sabrina sorrindo.  Não tenho culpa se tenho uma vida social...Porque você não vem comigo?  Ir com você aonde?  Na festa. Tenho certeza que iríamos nos divertir muito. Falava Isa ansiosa.  E quem sabe não arruma algum pedaço de mau caminho por lá?  E quem te disse que não me divirto por aqui?  Se diverte como, se você só vive com esses bichos para cima e para baixo?  Você mais do que ninguém sabe que eu os adoro. Falou Sabrina se defendendo.  Eu sei San! Por isso mesmo acho que devia se divertir um pouco, você trabalha demais e não lhe sobra tempo para se divertir.  Pode ser, mas você mesmo sabe que nunca fui muito de sair.  Pois já está na hora de eu lhe mostrar as coisas boas da vida.  E então? Vem comigo? Sabrina já estava com o não na ponta da língua, mas antes de falar tinha que ter uma boa desculpa para dar para sua irmã. Será que já não estava na hora de falar sobre Tom? Mas achava que ainda estava cedo para comentar sobre isso com alguém, pois não sabia qual seria sua reação, então resolveu que antes de qualquer coisa falaria com ele primeiro. Sendo assim resolveu arriscar.  Eu adoraria ir com você, mas é que tenho que acordar cedo amanhã e conhecendo você como conheço, cedo é o horário que você vai estar saindo da festa. Falou ela torcendo para que a irmã acreditasse nela.  Mas é claro que sim! Afinal, festa boa é aquela que termina com o raiar do sol. Disse Isa toda animada.  Olha! Dessa vez vou deixar passar, mesmo porque eu te convidei meio em cima da hora, mas da próxima vez vou te convidar com antecedência e não quero ouvir nenhuma desculpa, combinado?  Combinado. Respondeu Sabrina soltando um pequeno suspiro. O restante da tarde passou voando para Sabrina, logo depois do almoço sua irmã foi embora então voltou sua atenção ao trabalho. Aproveitou aquele restante de tarde para fazer alguns pedidos de vacinas e medicamentos e nem notou que já estava escuro quando Jack a chamou:

 Patroa, eu já vou indo.  Está bem Jack.  Ah patroa, eu já ia me esquecendo.  Sabe aquele ajudante que estava me dando uma mão aqui no rancho?  Sabe que eu até tinha me esquecido dele? E como ele está?  Então! Já faz dois dias que ele não vem trabalhar.  Mas o que aconteceu?  Eu não sei, pois ele não falou nada.  Estranho! Falou Sabrina. Você tem como saber do paradeiro dele Jack?  Sim, estou pensando em ir hoje na casa do pai dele para saber o que houve, amanhã eu te falo no que deu, está bem?  Ótimo! Então até amanhã.  Até. Falou Jack. Depois de terminada a conversa com Jack, resolveu ficar mais um pouco no escritório para por tudo em ordem. Será que era isso mesmo? Ou tentava preencher o tempo em que ficaria sozinha para não pensar em Tom? Não pensou nisso por muito tempo, pois logo sua atenção foi desviada ao ouvir tiros que vinham da floresta. Revoltada, resolveu ir para casa tomar um banho e cair na cama, assim evitaria pensar sobre os pobres animais que ali estavam. Tomou um vigoroso banho, foi até a cozinha e comeu um pedaço de bolo com leite e caiu na cama de cansaço. Assim que deitou na cama, Sabrina adormeceu. E logo teve os mais variados sonhos e todos com Tom. Quando de repente deu um pulo ao ser despertada com um barulho estrondoso que vinha ela já sabia de onde. Assustada e enfurecida, levantou-se e foi até a janela e sem pensar muito no que estava fazendo, entrou no celeiro e selou seu cavalo. Em menos de meia hora já estava no pé da mata com o coração parecendo que sairia pela boca. Só estava curiosa em saber quem estava por detrás daquilo, resolveu então que ficaria as escondidas e depois...Depois o que? Iria até a policia? Para que? Se já havia relatado o que vinha acontecendo ali já fazia muito tempo e até aquele momento nenhuma providência havia sido tomada? Com esses pensamentos entrou na floresta com uma pequena lanterna na mão. Sentiu o sangue gelar em suas veias ao notar como estava escuro ali.


O que será que Tom faria se soubesse que tinha ido até ali sozinha? Provavelmente ouviria um belo sermão da parte dele. É lógico que jamais falaria para ele daquela sua aventura noturna. Tropeçando em alguns galhos no chão, Sabrina se assustou novamente com o barulho de tiro. Só aí foi que percebeu que devia ter chamado alguém para vir com ela, pois no momento não sabia exatamente onde estava. “Meu Deus”! Eu não acredito que me perdi. Assustada, tentava achar o caminho de volta, mas tudo parecia tão igual, pois para todo lugar em que olhava as plantas e o mato pareciam os mesmos. E para piorar a situação, ouvia vozes que pareciam vir em sua direção. E agora? Como foi tola o bastante para colocar sua vida em risco desse jeito? Perguntava-se. Afinal não era só os caçadores que ela temia, existiam também animais selvagens que poderiam fazer o que bem entendesse com ela. Ou seja, era fugir da panela para cair na frigideira, pois se realmente estava perdida não teria como sair dali e o jeito era esperar o dia chegar para ver se conseguia achar uma saída. Mas o problema era que cada vez mais as vozes vinham em sua direção fazendo com que ficasse realmente com medo. Imagina o que poderiam fazer com ela ali sem que ninguém soubesse? Já imaginava as piores coisas possíveis, quando de repente sentiu alguém lhe agarrar por detrás tapando sua boca com uma das mãos. O susto foi tão grande que achou que fosse desmaiar. Se debatendo, queria gritar, mas a mão forte a impedia de tal ato, restando a ela somente sentir lágrimas rolarem por sua face. Lágrimas de desespero e medo. Seu único pensamento no momento foi para Tom. Agora não teria como esconder dele essa sua aventura noturna, pois tinha certeza que aquilo não terminaria nada bem.  Fique quieta! Ouviu-se a voz dizendo num sussurro a apertando mais ainda já que ela não parava de se debater. Ouviu também as vozes que agora pareciam estar logo á sua frente, isso fez com que fechasse os olhos e esperasse o pior.

Se pegou rezando a Deus para lhe dar proteção naquele momento e que não deixasse com que lhe fizessem muito mal. Enquanto rezava nem percebeu que o barulho das vozes aos poucos ia ficando mais longe e a mão que antes a segurava com força, agora lhe fazia um pequeno chamego. Ao sentir que as mãos a estavam levemente a acariciando não pode evitar o pensamento que lhe veio a seguir. “Pronto! Escapei dos caçadores, mas agora serei estuprada”. Pensava ela ainda com os olhos fechados. Não tinha coragem de abri-los. Então em um momento de coragem, se virou e conseguiu empurrar o corpo que estava encostado nela, saiu correndo batendo em alguns galhos de arvores que estavam em sua frente, mas logo foi alcançada pela mesma mão que voltou a lhe apertar com força e agora a arrastava pela floresta.  Fique quieta! Falava a voz abafada. Não demorou muito e Sabrina se viu jogada em um“ colchão”, pois pode sentir a maciez em suas costas. “É agora”! Pensou ela com os olhos fechados. Esperando pelo pior, não notou que estava sozinha ali naquele ‘colchão”. Aos poucos foi abrindo os olhos e pode notar que havia uma luz fraca entrando em uma pequena janela. Olhando mais a sua volta, constatou que estava em uma espécie de cabana e pelo jeito não era usada já fazia algum tempo sendo iluminada apenas pela luz da lua que estava majestosa no céu. Quando ia se levantar para tentar se localizar, escutou uma voz bem perto que a fez se lembrar que não estava sozinha.  Você está ficando louca? Perguntou a voz rouca.  O que?  Você só pode estar ficando louca...Falou a voz mais uma vez. Aos poucos Sabrina foi-se levantando e só aí reconheceu aquela voz que a deixara com tanto medo momentos antes.  Mas o que você está fazendo aqui? Perguntou Sabrina a Tom.  O que “você” está fazendo aqui? Respondeu ele com raiva.  Você realmente não bate bem sabia disso?  Onde já se viu, entrar em uma mata fechada com um bando de homens prontos para lhe fazer inúmeras maldades?  E fora os animais que tem por aí? Continuava ele...


Realmente Tom estava muito, muito bravo. Notou Sabrina. “Droga! Tinha que ser justo ele para me salvar”? Agora teria que ouvir todo aquele sermão e ainda ter que ficar quieta pois tinha sido pega no ato. Mas não podia negar o fato de estar muito contente em tê-lo ali com ela naquele momento, nem que fosse para escutá-lo xingar como estava no momento. De repente sentiu um choro compulsivo lhe invadir a alma e sem poder se conter deixou as lágrimas lavar seu rosto. Tom não sabia se batia ou se a abraçava. Não que fosse de bater em mulher, mas se fosse o pai dela naquele momento ela levaria uma bela surra por deixa-lo assim tão desesperado. Ao olhar para ela, notou que estava em prantos. Correu para abraçá-la. “Talvez tivesse sido muito duro com ela”. Pensou enquanto a aconchegava em seus braços. Deixaria para lhe repreender mais tarde quando estivesse mais calma, pois não gostava de vê-la chorar, muito menos sofrer. Sabrina se jogou nos braços de Tom como uma garotinha. Era como se, só agora desse conta do risco que correra. Aos poucos o choro foi passando e Tom ia lhe confortando dizendo que estava tudo bem. Sentados numa espécie de cama, continuavam abraçados. Tom tentava afastar de seus pensamentos as imagens que teimavam em vir a sua mente, de ver o corpo de Sabrina estendido na mata. Segurando seu rosto entre suas mãos e sussurrou:  Sabrina... Não precisava de palavras naquele momento, Sabrina pode sentir que Tom estava tão assustado quanto ela, sendo assim lhe deu um pequeno beijo em seus lábios como um pedido de desculpas. Se beijaram com sofreguidão, como se tivessem se encontrado agora. Em pouco tempo já estavam totalmente nus, envoltos num ritmo alucinado de amor. Sabrina não conseguia pensar em nada, somente em sentir Tom ao seu lado. Tom tentava em vão entender aquela linda louca que estava o levando a loucura de

todas as formas, mas seus pensamentos se perderam assim que tirou sua última peça de roupa. Nem parecia que estavam perdidos no meio de uma floresta, com vários perigos em sua volta, o que mais importava naquele momento era a ânsia que tinham de sentirem um ao outro mais uma vez. Ao terminarem de se amar, Tom ainda a beijava quando de repente sentiu como se o chão estivesse se movendo. Sabrina achou estranho o chão balançar, mas não deu tempo de pensar em algo, pois sentiu um forte estralo vindo de suas costas, fazendo com que soltasse um gemido de dor. Foi quando percebeu que não era o chão que se mexia e sim a cama em que estavam se quebrou fazendo Sabrina sentir todo o peso de Tom em cima dela e ao mesmo tempo o baque do colchão em suas costas. Não sabia se ria ou chorava de dor pelo fato da cama ter quebrado, mas infelizmente pelo jeito havia machucado as costas, mesmo porque basicamente ficou imprensada entre Tom e o chão sendo que o colchão não era nada grosso.  Eu não acredito! Disse Tom se levantando rápido.  Você está bem? Perguntou ele.  Sim! Disse ela.  Me parece que sim. Disse levantandose também.  Ai!!! Falou ela ao sentir uma pequena dor que vinha de suas costas.  O que foi? Quis saber ele preocupado.  Acho que machuquei minhas costas.  Deixa-me ver. Falou ele virando ela de costas. Tom a olhava preocupado. Realmente havia alguns vergões devido ao fato dela ter batido com as costas.  Realmente machucou um bocado, o certo seria você tirar umas radiografias para ver se não aconteceu coisa pior.  Então vamos. Disse ela se vestindo.  Vamos para onde? Falou ele.  Vamos para minha casa que lá tenho um aparelho de raio-x.  Mas agora?  É lógico, pois se teve alguma fratura dá tempo de remediar. Falava ela com dificuldade em por as roupas.  Mas você acha que pode ter fraturado alguma coisa? Perguntava ele enquanto a ajudava a colocar as roupas.


 Olha! Pela dor que estou no momento acho que sim, mas posso estar enganada e não ter sido tão grave assim. Isso deixou Tom mais preocupado ainda. Sabrina não entendia a reação de Tom, pois nem colocando as roupas ele estava. Era como se não quisesse sair dali.  Algum problema? Quis saber ela.  Não, porque?  Porque até agora você não colocou suas roupas.  Ah! Sabe o que é?  Não! Eu não sei. Sabrina não soube como, mas alguma coisa lhe dizia que não iria gostar de ouvir o que ele tinha para dizer.  Eu não faço a mínima idéia de onde nós estamos. Falou ele com uma certa ironia na voz.  Você só pode estar brincando. Falou ela rindo nervosa.  Eu acho que não. Respondeu ele esperando pela fúria dela.  Eu não acredito. Você não sabe o caminho de volta? Perguntou ela incrédula.  E como você entra em uma floresta para resgatar alguém sem nem mesmo saber onde está? Falava ela em fúria e ao mesmo tempo com dor.  Mas que belo herói você é em? Resmungava sem parar. Nem parecia que momentos atrás ela estava reclamando de dor. Andando de um lado para outro, mais parecia uma fera enjaulada. Tom observava tudo em silêncio e mais uma vez não acreditava no rumo que sua vida havia tomado. Quem diria que em menos de um mês, estaria perdido em uma cabana no meio de uma floresta fazendo amor apaixonadamente com uma linda mulher meio maluca? Até que seria bem romântico se eles não tivessem por companhia caçadores e animais ferozes, e só Deus saberia o que tinha mais por ali. Deixou que ela acabasse com todo seu repertório de palavrões e desaforos contra ele.  E por acaso você sabe onde está nesse exato momento? Quis saber ele.  É claro que não. Disse ela.  Então como você toda poderosa vem me culpando por uma coisa que você mesma devia saber?

 Quem em nome de Deus entra em uma floresta sem saber andar nela e ainda mais a caça de bandidos armados? Agora era a vez dele desabafar, restando para Sabrina ficar quieta. “Até que ele tinha uma certa razão, pois não devia ter vindo sozinha”. Pensava ela. Mas da próxima vez traria alguém consigo.  Como você entra em uma floresta para salvar alguém sem que nem você sabe como sair dela? Não sei nem como você chegou aqui. Falou ela sarcástica.  Eu não acredito que você está falando isso. Falou ele balançando a cabeça.  Você devia dar graças a Deus por eu ter chegado bem na hora em que você estava saindo do celeiro, eu te chamei, mas você não me escutou.  Ao ver que você vinha na direção da floresta, selei um cavalo e quando vi já estava aqui dentro pedindo a Deus que me mostrasse onde você estava, quando de repente vi um pequeno foco de luz, então comecei a seguir esse foco na esperança dele me levar até você, pois com a correria nem me preocupei em pegar uma maldita lanterna. Falou ele num fôlego só. Sabrina ia abrir a boca para protestar quando ele fez um sinal para que ficasse quieta.  Como eu ia dizendo...Entrei em uma floresta que nem conheço, cheia de animais ferozes e um bando de criminosos em busca de uma maluca que depois de tudo ainda reclama que não conheço o caminho de volta, sem contar que nem ela mesma sabe, e se ela tivesse um pouquinho de educação estaria me agradecendo por ser eu quem tenha a achado e não um desses caçadores que tenho certeza faria você sentir mais dor do que está sentindo agora... Sabrina não sabia o que falar. Até um momento atrás estava com tudo na ponta da língua, mas depois de ouvi-lo relatando tudo aquilo, pode perceber que não tinha colocado só a sua vida em risco, mas também a vida dele.  Me desculpe...Disse ela.  Sinceramente só agora me dei conta do risco que você correu. Falou ela desconcertada.  Risco que eu corri? Perguntou ele perplexo.  E você? Será que você não sabe que também colocou sua vida em risco? Ou você


pensa que tem poderes e nada pode te fazer mal. Tom balançava a cabeça em sinal de reprovação e lentamente foi pegando suas roupas do chão e vestindo-as. “Será que estava disposto a viver um relacionamento tão tumultuado assim com Sabrina”? “ Afinal, não tinha se mudado justamente para ter paz e sossego”? “ Então o que exatamente estava fazendo ali naquele exato momento”? Pensava ele pesaroso.  Eu realmente sinto muito Tom... Falava ela.  Vamos deixar isso para depois está bem?  Agora temos que dar um jeito de sair daqui para que você possa ir a um médico.  Mas eu não preciso ir em médico nenhum, pois eu te disse que tenho um aparelho de raio-x... Nem terminou de falar ao ver a cara que Tom fazia.  Eu já disse que você vai ver um médico, entendeu? Falou ele entre dentes. Sabrina achou melhor ficar quieta pois ele ainda estava muito bravo, mesmo porque no momento não tinha muita força para debater com ele pois suas costas doíam demais. Tom já havia terminado de se trocar, foi quando perceberam que já estava amanhecendo o dia. Estavam se preparando para sair quando de repente a porta se abriu e entrou por ela um senhor baixo de barba branca e meio carrancudo. Os três se entreolharam sem dizerem nada, até que o homem disse:  O que vocês estão fazendo aqui na minha cabana? Perguntou ele sério.  Ah! Disse Tom. Então o senhor é dono dessa cabana? Falava ele olhando para Sabrina em busca de uma desculpa, mas ela estava mais perdida do que ele e dando de ombros fez sinal que não sabia o que dizer.  E então? Posso saber o que estão fazendo aqui?  Claro! Falou Tom tentando ganhar tempo.  Sabe o que é?  Eu e minha namorada estávamos dando uma volta aqui por perto e apareceu um pequeno coelho e como ela gosta muito de animais, resolveu segui-lo, é lógico que contra

a minha vontade, mas o senhor sabe como são as mulheres não é? Nunca nos dão ouvidos. Falava ele a olhando com ironia. O homem olhou para ela balançando a cabeça como se tivesse repreendendo-a. Sabrina estava furiosa, mas não podia falar nada senão estragaria a história de Tom, mas tratou de mandar um olhar de ódio para ele. Tom sabia que ela devia estar furiosa com ele, mas mesmo assim continuou sua narrativa.  Eu ainda a avisei que não deveria fazer isso, mas assim mesmo ela entrou na floresta e não tive outra saída senão entrar aqui para protege-la de algum animal, mas como eu não conheço a floresta então foi muita sorte termos encontrado essa cabana onde pudemos ficar por algum tempo.  Foi sorte mesmo, pois essa floresta é muito perigosa.  Você devia ouvir mais o seu namorado moça, e não ficar se aventurando por aí sabia? Disse o homem olhando para Sabrina.  Será que o senhor poderia me dizer como faço para sair daqui? Tom tratou de mudar o rumo da conversa pois tinha certeza que Sabrina já estava com os palavrões na ponta da língua para xingar o pobre coitado.  Mas é claro que sim.  Logo a frente tem um caminho na mata, é só vocês seguirem ele que logo estarão fora daqui. Disse o homem indicando para Tom o caminho que ele teria que seguir.  Muitíssimo obrigado. Falou Tom pegando Sabrina pela mão e puxando-a para fora.  Mas o que diabos aconteceu com a minha cama? Perguntou o homem assim que entrou na casa, pois o tempo todo ele tinha permanecido na porta. Ao ouvir essas palavras Sabrina sentiu o coração bater mais forte, não sabia se era pelo fato deles terem sido descobertos ou por ter se lembrado dos momentos que desfrutaram nela antes de despencar tudo em cima dela.  Olha! Quando nós chegamos já estava assim...Disse Tom puxando Sabrina pela mão e saindo da cabana apressado. Saíram tão rápido que não puderam ver a expressão da cara do velho ao ouvir aquela teoria de Tom. Andavam apressados no meio da mata e depois de uns dez minutos finalmente puderam sentir a luz do sol que batia em suas faces.


Tom respirou fundo ao sentir a brisa suave batendo em seu rosto e pela primeira vez pode entender o significado da palavra “livre”. Sim! Era essa sensação que sentia agora, era como se estivesse liberto de alguma jaula ou sabe-se lá o que...Mas o que mais importava era sentir aquela sensação de novo. Sabrina adorou o contato do sol em sua pele, era como se estivesse á muito dias sem ver a luz do dia e agradeceu aos céus e a Tom por ter contribuído para que ela pudesse desfrutar desse momento mais uma vez. Seguiram pelo mato em busca dos cavalos que tinham ficado pastando por ali na noite anterior. Mas não havia nenhum sinal deles, sendo assim tiveram que fazer o caminho todo a pé. Nenhum dos dois falavam nada, deixando entre eles um “buraco” de silêncio. Sabrina resolveu ficar calada mais por causa do esforço da caminhada que fazia com que sentisse mais dor. Tom pensava se queria realmente continuar com aquele envolvimento que pelo jeito mais dia ou menos dia o levaria a ter um outro “começo de enfarte”. Só de pensar naquela palavra já sentia o estômago revirar ao se lembrar do pânico que vivera não muito tempo atrás. Tratou de afastar tais pensamentos que jurou a si mesmo deixar o passado para trás e viver uma nova vida. Só não contava que seria uma vida onde teria que colocar seu coração em risco mais uma vez, seja no plano emocional ou no de aventuras ao se apaixonar por uma doida que só se metia em encrencas, pelo menos desde que ele a havia conhecido. Tom olhou para Sabrina pela primeira vez desde que tinham saído daquela floresta e notou seu desconforto em respirar, mas mesmo assim ela não reclamou nenhuma vez de dor. No mesmo tempo em que tinha vontade de lhe dar umas chacoalhadas, Tom a admirava por lutar por aquilo em que acreditava e que gostava, e também por ver em como ela era cabeça dura, pois quem a olhava agora nem parecia que estava com dor. Preocupado resolveu acabar com aquela situação. Parou á sua frente e disse:  Você não acha melhor ligarmos para alguém vir nos buscar?

 Porque? Agora que já estamos chegando? Falou ela devagar.  Será que você não pode um minuto sequer tentar ser uma pessoa normal?  Sinceramente, não sei o que você está falando.  Estou falando da dor que você está sentindo agora e mesmo assim não dá o braço a torcer.  Se você já sabe que estou com dor para que vou ficar resmungando? Falou ela já com lágrimas nos olhos.  Eu só quero te ajudar, só isso. Falou Tom agora mais brando.  Me ajudar ou ficar me dando sermão? Disse ela sentando-se na grama e fazendo uma leve careta.  Qual o número da sua casa? Disse ele pegando o celular. Depois de fazer uma rápida ligação, Tom sentou-se ao seu lado.  Olha! Realmente eu sinto muito ter colocado você no meio de tudo isso, mas o que está feito já está feito, então se você quiser me perdoar tudo bem, mas se não então vá pro inferno você e essa cambada de bandidos. Dizia ela.  Eu sinto muito se você se viu jogado na cova dos leões, mas só quero te dizer que eu sou assim e provavelmente não vou mudar, então eu te falo mais uma vez que se você puder conviver com isso tudo bem se não você já sabe aonde ir... Nem terminou de falar, pois colocou tanta emoção naquele desabafo que teve que sucumbir a dor. Deitou a cabeça no colo de Tom e se encolheu de dor. Tom a embalou como um bebe, fazendo carinho em seus cabelos. Não disse nada, somente tentava colocar seus pensamentos e emoções em ordem. “ Meu Deus! Onde fui me meter”? Pensava ele a olhando com pesar em ver sua face retraída em dor. Ficaram ali sentados no meio do nada por mais algum tempo, quando Tom avistou ao longe uma camionete que vinha na direção deles e agradeceu á Deus por reconhecer o ajudante de Sabrina que desceu do carro correndo e ajudou a levantá-la. Soltando um gemido, Tom a colocou gentilmente sob o banco e foi sentar atrás na carroceria enquanto Jack dirigia pela estrada.  Direto para o hospital patroa? Disse Jack a encarando.  Sim! Falou Tom colocando a cabeça na portinhola do carro.


 Direto para o hospital. Jack se assustou com Tom, mas não disse nada. Logo já estavam dando entrada no hospital, foi nessa hora que Tom reconheceu que não sabia nada sobre ela. Se não fosse por Jack, ele não saberia nem por onde começar para preencher a ficha do hospital. “ Será que já não estava na hora de se conhecerem melhor”? “ Ou não seria melhor deixar do jeito que estava e se afastar para poder viver o que tinha ido buscar ali, ou seja paz e tranqüilidade”? Tom não sabia o que pensar, sendo assim resolveu dar total atenção á Sabrina e depois veria o que resolvia. Mas uma coisa ele estava certo. Seria uma decisão das mais difíceis que iria ter que tomar em sua vida. Sabrina acordou com uma certa dificuldade em respirar, tentou se levantar mas foi impedida por um par de mãos que a empurraram levemente de volta na cama. Passou a mão pelos olhos a fim de tentar decifrar onde estava. A primeira coisa que viu foi o rosto de Tom que a olhava preocupado, desviou o olhar para ver em que lugar estava e logo pode identificar que estava no leito do hospital. Tentou falar algo, mas sentiu como se tivesse engolido terra pois sua garganta estava muito seca. Notando seu esforço em falar, Tom encheu um copo com água que já estava ali em uma jarra, gentilmente a ajudou a se levantar e aos poucos foi derramando sob seus lábios a água que ela tanto precisava. Assim que terminou ela conseguiu dizer em um sussurro:  O que houve comigo? Quis saber ela.  Você não se lembra? Disse ele ainda preocupado.  Pouca coisa...  Você se lembra pelo menos da parte da floresta não é?  Sim! Isso eu me lembro.  Então! Eu chamei o seu ajudante para nos buscar e aqui estamos nós.  E o que aconteceu comigo?  Pelo o que disse o médico, você está com duas costelas fraturadas devido a você sabe o que. Falou ele ainda sério.  Hum! Então estavam mesmo fraturadas...  Sim.

Ficaram em silêncio. Sabrina se sentia inquieta, não sabia se era pela dor ou por notar a distância que existia entre eles neste momento. Agradeceu por estar sob efeito dos remédios, então fingiu que estava com sono e aos poucos foi fechando os olhos e sem que percebesse caiu num sono profundo. Depois de ficar dois dias internada, Sabrina já estava de volta á sua casa. Assim que recebeu alta, Tom a levou embora depois de ouvir as recomendações médicas. Ela não poderia pegar peso e teria que continuar a tomar os remédios na hora certa, sendo assim não precisaria passar por uma operação. No caminho de volta do hospital, nenhum dos dois conversou muito. Tom perguntou como ela estava e ela respondeu que já estava bem. O restante do caminho foi feito em silêncio, até a chegada em sua casa. Tom a acompanhou até seu quarto sendo seguido por Jack que veio lhes recepcionar. Depois de passar para Jack algumas recomendações, resolveu ir embora dizendo que voltaria mais tarde. Mas não voltou. Sabrina não se sentia assim fazia muito tempo. No momento não saberia distinguir quais sentimentos estavam aflorando mais. Dor, raiva ou decepção. Dor, porque mesmo tomando remédios ainda sentia dificuldade em se locomover e respirar. Raiva, por tudo ter acontecido daquela maneira. E decepção por sentir que Tom não tinha coragem suficiente para terminar com ela o que tinham um com o outro. E para piorar a situação, estava ali entrevada naquela cama tendo aqueles pensamentos negativos e não podia nem ir até o lago espairecer um pouco. No terceiro dia que estava em casa, resolveu dar uma volta devagar sem muito esforço. Aos poucos, levantou-se da cama e logo estava caminhando lentamente pelo rancho rumo ao seu tão desejado lago. Era ali que ela se sentia em paz, revigorada. Qualquer coisa que a estivesse atormentando sua alma, era só vir até ali para


que saísse revigorada pronta para o que der e vier. Então silenciosamente pediu que acalmasse seu coração e tirasse dali aquela tortura que sentia por não ter Tom ao seu lado. Já fazia três dias que não tinha nenhuma notícia dele, nem mesmo veio visitá-la. E isso fazia com que se torturasse por ter entrado naquela bendita floresta. E também se odiava por ter colocado a vida dele em risco, disso ela jamais poderia se perdoar. Tom estava com o coração apertado dentro do peito de tanta saudade que estava de Sabrina. Lutava contra a vontade que tinha em ir até sua casa para lhe visitar, mas sabia que não agüentaria em simplesmente vê-la e não lhe cobrir de beijos e abraços. Sempre que dava um tempo na obra do rancho corria até o rancho de Sabrina para saber de Jack como ela estava. Ficava amargurado em estar ali e não entrar, mas prometeu a si mesmo que só faria isso quando estivesse certeza da decisão que tomaria e no momento não tinha sequer parado para pensar. Não sabia se era por falta de tempo ou se estava com medo de tomar uma decisão. Então sempre deixava para outro dia, enganando a si mesmo. Estava andando para uma volta quando apareceu diante de si o seu xará Tom o coiote. Sem que Tom o chamasse, ele simplesmente começou a andar ao seu lado em uma companhia silenciosa que ele aceitou de bom grado.  O que eu faço Tom? Perguntou ao coiote. Olhou para o coiote esperando uma resposta, mas simplesmente o outro abaixou a cabeça.  O que você faria se estivesse em meu lugar? Desabafava Tom ao seu mais novo amigo. Quando ele menos imaginou já estava chegando perto do lago de Sabrina. Diminuiu um pouco os passos e fez menção de voltar, mas notou que o coiote continuou a andar e ao ver que Tom havia parado deu uma pequena parada e o olhou. O coiote olhou para Tom e depois continuou seu caminho em silêncio restando a Tom segui-lo em sua caminhada. Assim que se viu diante do majestoso lago, ao longe pode notar uma figura que estava sentada próxima de suas águas.

Sentindo o coração saltar no peito, olhou para o coiote e disse:  Traidor. Você tinha que me trazer justamente para ela? O coiote simplesmente o olhou e correu na direção de Sabrina deixando ele para trás. Se ela não o tivesse visto ele até que tinha voltado, então não teve outra alternativa senão ir ao seu encontro. Achava que já estava na hora de conversar com ela e tentar resolver aquela situação que estava pendente entre eles. Sabrina foi com uma certa dificuldade até aquele local para ver se conseguia acalmar seu coração e até que isso poderia ter acontecido se Tom não aparecesse ali para lhe provocar euforia. Não adiantava mais negar, estava apaixonada por ele. Mas sentia que mais uma vez seu coração sofreria, só não sabia como faria agora para se safar de mais uma desilusão. Afinal quando terminou seu noivado com Brian, ela buscou refúgio no rancho se isolando de tudo e de todos. Mas como faria isso tendo ele como seu vizinho? Ou seja, como faria para esquece-lo se estava li tão perto?  Bom dia. Disse Tom assim que chegou perto dela.  Bom dia. Falou ela num sussurro.  Como você está? Quis saber ele. Tom se controlava para não beijá-la e esquecesse da decisão que teria que tomar, sendo assim resolveu ficar de pé.  Sabrina...Nós temos que conversar...Falava ele receoso.  Eu estava pensando em quando você teria coragem para vir falar comigo. Disse ela retraída.  Me desculpe por ter me afastado ultimamente, mas é que...  Eu não preciso de suas desculpas e muito menos de suas preocupações em relação á minha saúde, porque se estivesse mesmo preocupado você não teria sumido desse jeito...Desabafava ela.  Eu vou deixar tudo mais fácil para você Tom...Já está mais do que na hora de colocarmos um ponto final nessa “coisa” que existia entre nós, sendo assim você não tem que se desculpar ou fingir que se preocupa comigo está bem?  Agora me dá licença que tenho muito que fazer...


Disse ela se levantando com uma certa dificuldade, sentindo-se péssima. Tom fez menção de ajudá-la, mas ela dispensou sua ajuda com um gesto brusco.  Não faça isso...Pediu ela se afastando. Tom sentiu como se tivesse sido apunhalado bem no meio do peito, pois tinha a sensação que seu coração tinha parado de bater. Como era duro ouvir aquelas palavras, ainda mais da pessoa que se gostava. Mas já estava decidido a resolver aquela situação, não deixaria que Sabrina pensasse que ele era um cafajeste como devia estar pensando agora. Sendo assim a alcançou e lhe disse:  Sabrina espere...  O que mais você quer de mim Tom? Falou ela se virando.  Eu só quero te explicar uma coisa....  O que é? Falava já nervosa, pois não estava mais suportando ficar perto dele sem se sentir mal. Os dois ficaram ali se fitando por um tempo. Tom podia ver em como ela estava sofrendo, e isso fez com que se sentisse um trapo. Sabrina notou seu desconforto, parecia até que ele procurava uma razão para aquilo tudo mas não conseguia se expressar. Quem quebrou aquele clima tenso foi Jack que gritou de longe que ela tinha visita. Então se virou e começou a fazer seu caminho de volta e pela primeira vez tinha conseguido voltar dali pior do que antes. Tinha vontade de ir para seu quarto e chorar, pela aquela maldita dor que não a deixava em paz e também por finalmente ter terminado com Tom. E sabia que essa dor seria a mais difícil de passar. Tom não conseguia se mover dali, a vontade que tinha era de correr atrás dela e falar que tudo não passava de um grande engano. Mas não podia fazer isso, pois só a faria sofrer mais ainda. Sendo assim, resolveu voltar para seu rancho e apesar de saber o caminho, se sentia totalmente perdido. Sabrina andava lentamente, sentia que suas forças estavam no fim. “Mas como foi que se deixou envolver com tanta intensidade desse jeito”?

“Isso era culpa dos hormônios, pois já fazia tanto tempo que não ficava com alguém que despejou em Tom toda sua carência”. Suspirou fundo ao ver que sua visita era o delegado Bob que a esperava apoiado em seu carro.  Quando me contaram eu não pude acreditar, então vim ver com meus próprios olhos. Falou o delegado.  Contaram o que Bob? Falou ela desanimada.  Que você mais uma vez se aventurou na floresta...  Ah, isso? Disse não dando muita importância ao fato.  Mas eu não tinha te avisado para não ir até lá que é muito perigoso?  Já sim Bob, você e quase toda a cidade....  Você sabia que essa é a coisa mais estúpida que alguém já fez? Falava ele sem perceber o seu estado.  Sim! Agora eu sei disso.  Você sabia que poderia ter acontecido coisas ruins com você? Você podia até ter perdido a vida Sabrina.  Sim! Pode-se dizer que eu perdi minha vida...Falava ela mais divagando para si mesma do que propriamente respondendo á Bob.  Perdeu não, quase perdeu. Corrigiu Bob.  Mas é como se tivesse perdido...  Mas do que você está falando? Quis saber Bob. Pela primeira vez Sabrina olhou para Bob e só aí foi que percebeu que não estava falando coisa com coisa.  Você está bem Sabrina?  Sim! Estou sim, só um pouco cansada. Disse ela sentando-se na varanda.  E por falar nisso, como foi que você se machucou?  Ah! Devo ter caído em algum momento, mas eu não me lembro muito bem...  Você sabe que mesmo assim não poderei fazer nada não é?  Eu sei disso Bob, mas você quer saber de uma coisa?  Estou cansada de tudo isso sabia?  Cansada da impunidade, cansada de pessoas fazendo o que bem entenderem não importando com os sentimentos dos outros...  Sentimentos dos outros? Sabrina notou que mais uma vez estava falando da sua vida pessoal do que do fato em si.


 Sim, pois os animais também têm sentimentos sabia disso? Corrigiu ela.  Hum! Sei. Falou o delegado a achando estranha. Sabrina não estava com nenhuma vontade de conversar ou trocar idéias com ninguém, nem mesmo o assunto da floresta conseguia mexer com ela. Sendo assim despediu-se de Bob dizendo que precisava descansar. Deitou em sua cama desanimada, sentia que não teria forças para mais nada naquele restante de dia. Aos poucos o sono a venceu e logo já estava dormindo. Tom voltou para seu rancho desolado. Sua intenção não era terminar com ela e sim lhe pedir um tempo para por seus sentimentos em ordem. Afinal, ainda era muito cedo para testar eu coração, apesar de sentir que não tinha nada errado com ele, pois só de pensar naquela noite na floresta sentia como se aquilo tivesse sido um teste para ele. Que com certeza ele provou que estava tudo na mais prefeita ordem. Esperaria que ela estivesse mais calma e aí sim lhe falaria dos motivos que o levaram a se afastar. Só não sabia se conseguiria ficar muito tempo sem lhe ver sabendo que ela estava ali tão perto. Sabrina acordou sentindo-se melhor. Levantou de sua cama, tomou um banho e se dirigiu até a cozinha para colocar algo em seu estômago. Notou que tinha dormido demais e assobiou ao ver que já passava das dez horas da noite. Para quem ia tirar apenas um cochilo, tinha dormido demais. Saiu pela porta que dava para sua varanda e contemplou a lua que mais uma vez estava majestosa no céu. Como tudo estava em ordem, resolveu entrar e assistir um pouco a tv antes de ir dormir. Já estava sentada em sua sala, quando escutou um barulho vindo do lado de fora. Levantou-se para conferir se não era nenhum animal em busca de comida que de vez em quando vinha visitá-la. Então mais uma vez saiu na varanda e logo foi surpreendida por um par de mãos que a agarrou tapando sua boca.  Porque você não fica quietinha em seu lugar em? Falou a voz em seu ouvido.

Sabrina entrou em pânico, começou a se debater para se soltar, mas sentiu que quanto mais se debatia mais era apertada. Não sabia o porque daquilo, e apesar da dor que sentia por causa de sua costela continuava a se debater. Lutava contra aquelas mãos fortes que a mantinham calada, pois queria gritar pedindo ajuda mas não conseguia. Em meio a muitos solavancos, sentiu que as mãos a soltaram fazendo com que caísse no chão. Logo notou que alguém a tinha socorrido, mas como seu rosto já estava banhado em lágrimas, demorou um pouco em ver que seu salvador era Tom e que no momento trocava socos com um rapaz que vestia uma espécie de máscara. Encolhida em um canto, ainda deu tempo de ver que o homem apontava uma arma para Tom que o olhava parado sem poder reagir. Temendo por sua vida, Sabrina se levantou e se juntou a Tom que a empurrou de volta para que saísse da linha de um possível tiro. O homem parecia indeciso em puxar o gatilho e logo já estava saindo correndo. Tom ainda pode ver que alguém o esperava no final da estrada, pois ouviu o som de pneus de carro derrapando nas pedras. Ainda ofegante e suado pelo esforço da luta, Tom levantou Sabrina e a abraçou. Nem se importou dela estar com dor ou chorando, só o que importava no momento era senti-la perto dele de novo. Sabrina aconchegou-se a Tom mais uma vez em busca de refúgio, sentia que seu coração iria saltar do peito. Não sabia se era pelo medo de agora pouco ou de ter Tom mais uma vez a abraçando. Ficaram os dois ali por um tempo sem se mexerem, cada um matando a saudade de seu jeito. Tom procurou seus lábios em um beijo sofrido. Sabrina deixou-se envolver mais uma vez por aqueles lábios que a tinham tantas vezes lhe deixado sem fôlego. Envolvidos naquela doce loucura, nem mesmo se importavam do ocorrido há pouco. Aos poucos a razão foi voltando e Sabrina murmurou:  Mas não tínhamos terminado? Falou ela ainda sentindo seus lábios serem tocados por ele.  Hum hum! Concordou ele sem parar de beijá-la.


A única coisa que importava naquele momento era senti-la perto dele e agora mais do que nunca tinha certeza que não ficaria mais um minuto sequer longe dela. Nem que para isso fosse obrigado a fazer exames diários em seu coração.  Mas o que foi aquilo? Perguntou ela assim que ele parou de beijá-la.  Eu também não sei, mas temos que prestar queixa o mais rápido possível. Falava ele a olhando preocupado.  O que será que ele queria? Divaga ela.  Isso eu também não sei, pois ele não falou nada, somente brigou comigo. Só agora é que Sabrina notou que seu rosto estava com um pequeno hematoma devido á luta que havia tido com o estranho. Passou as mãos pelo seu rosto carinhosamente e o puxou para dentro de casa para lhe fazer um curativo.  O que você está fazendo? Disse ele.  Eu vou te fazer um curativo, pois se você não sabe tem um belo de um machucado em seu rosto. Tom passou a mão no local indicado por ela e sentiu um leve ardido ao tocar no ferimento. Soltou um resmungo e a encarou.  Curativo nada! Vamos direto para a delegacia e fazer já uma ocorrência. Disse ele a puxando pela mão.  Calma! Eu tenho que me trocar primeiro você não concorda? Falou ela olhando para o próprio corpo. Tom a olhou e só aí notou que ela estava somente com um pijama que deixava á mostra as suas pernas e parte do bumbum. Passando os olhos pelo seu corpo, as imagens deles fazendo amor e de todos os beijos que já havia dado naquele belo corpo vieram a toda em seu pensamento fazendo com que sentisse um desejo enorme de deixar tudo de lado e levá-la para o quarto descarregar toda aquela adrenalina misturada com desejo que invadia seu corpo. Desviou o olhar e soltou sua mão para que não fizesse algo que se arrependeria mais tarde. Mas uma coisa ele estava certo, mesmo depois de todo aquele tempo longe dela sentia que não tinha servido para nada e sim somente aumentar seu desejo. Afastou-se dela e fez sinal para que fosse se trocar e assim que ela saiu pode finalmente respirar aliviado. “Essa será um longa noite”. Pensou ele passando a mão pelo rosto e mais uma vez sentindo dor.

Sabrina estava trêmula, apesar da sensação gostosa dos beijos de Tom ainda podia sentir a sensação de pânico que vivera momentos atrás. Trocou-se depressa e logo já estavam dentro do carro de Sabrina rumo a delegacia.  Eu tenho que te agradecer por ter aparecido lá. Disse Sabrina lembrando-se que não havia conversado com ele sobre aquilo.  Você não precisa me agradecer por nada Sabrina.  Mas como você sabia que eu estava precisando de ajuda? Falou ela intrigada.  Eu não sabia, estava indo até sua casa para acabarmos aquela nossa conversa que fomos interrompidos nessa tarde.  Ah! Aquela na qual você terminou comigo?  Eu não terminei nada, você é quem colocou palavras em minha boca.  Engraçado que não o ouvi dizendo que eu estava errada.  Achei melhor ficar quieto porque você não estava se sentindo bem naquela hora.  Mas você não acha que...  Eu acho que devemos acabar essa conversa em outra hora e nos preocupar com aquele sujeito que a atacou, você não acha?  Sim! Você tem razão. Disse ela séria se lembrando da cena.  “Por enquanto” você tem razão.Frisou ela.  Está certo. Falou ele sem querer lhe dar motivo para debates, pois sua cabeça já estava doendo de tanto pensar naquela noite. E se ele não tivesse ido até a casa dela para conversar? E se aquele cafajeste a tivesse machucado? Não queria lhe falar nada para não deixala assustada, mas tinha quase certeza que aquilo tudo era pelo simples fato dela estar metendo o nariz onde não era chamada, ou seja, sem querer ela tinha conseguido chamar a atenção de alguém mais poderoso nessa história toda de caçador. E isso significava que estava correndo risco de vida. Agora mais do que nunca faria o delegado se empenhar mais em seu papel de homem da lei, pois agora eles também conseguiram chamar sua atenção. Chegando a delegacia foram informados de que o delegado não estava e logo Tom insistiu para que ele fosse chamado com urgência.


Assim que viu a situação em que estava o rosto de Tom, o rapaz atrás do balcão tratou de pegar o telefone e numa rápida ligação conversou com seu chefe. Depois de esperar um tempo, o delegado entrou apressado na delegacia.  Mas o que houve? Perguntou alterado olhando pela sala.  Alguém me atacou hoje em meu rancho Bob. Disse Sabrina se levantando assim que o delegado entrou.  Atacou? Mas como? Porque? Perguntava ele aflito.  Eu não sei, e por isso vim até aqui para que você possa investigar e me responder porque foi que me atacaram.  Mas é lógico que eu vou investigar.  Por acaso você viu quem fez isso San?  Não! Além de estar escuro, ele me atacou pelas costas e usava máscara o tempo todo.  Isso vai ser bem difícil. Disse o delegado coçando a cabeça.  Porque difícil?  Porque eu não tenho nenhuma pista. Tom que estava quieto até aquele momento resolveu dizer:  Porque você não vai até o rancho e tenta descobrir alguma pista?  Sim! Eu vou até lá.  Mas é melhor você deixar isso para amanhã, pois está bem escuro e provavelmente você não conseguirá achar nada nessa escuridão.  Você tem razão. Tudo bem para você San?  Tudo bem sim.  Se quiser eu fico com você essa noite para o caso dele querer voltar...  Pode deixar que vou ficar com ela. Falou Tom sem deixar que o delegado terminasse de falar. Os dois se entreolharam por um momento, deixando Sabrina com a respiração em suspense. Parecia que estavam duelando com o olhar, sendo assim ela resolveu dizer:  Obrigada Bob. Mas realmente, Tom mora perto de mim e você tem muito que fazer.  Está bem.  Vamos Tom? Disse Sabrina o pegando pela mão. Tom não disse nada, pegou a mão que Sabrina oferecia e saíram da delegacia. Sabrina convenceu Tom a ir até o hospital fazer um curativo no rosto, pois

parecia que estava mais inchado do que momentos atrás. Chegando ao hospital, foram levados até uma sala aonde um médico veio examina-lo. Apertou o rosto de Tom que fez uma careta de dor e chamou a enfermeira para lhe fazer um curativo informando que não tinha nenhuma fratura, mas que ele precisaria tomar um remédio para desinflamar o rosto. Enquanto a enfermeira fazia o tal curativo, Sabrina pensava no ocorrido. “ E se Tom não tivesse aparecido naquela hora”? Sentiu um arrepio de medo percorrer seu corpo. A questão agora era como conseguiria ficar sozinha no rancho depois de ter passado por aquilo tudo? Afinal tinham invadido sua privacidade. Logo já saíam do hospital, Tom com um esparadrapo no rosto e ela respirando devagar por causa da costela. Foram direto para o rancho de Sabina. Tom parou o carro e entrou juntamente com Sabrina que estranhou essa atitude.  E então? Onde que eu posso dormir? Perguntou ele.  Dormir? Aqui? Você quer dormir aqui?  Eu não falei lá na delegacia que iria ficar aqui com você?  Ou você prefere o delegado? Provocou ele.  Sinceramente eu preferia não ter que escolher uma babá para ficar comigo.  Mas infelizmente terá que ser assim, até que o delegado descubra quem fez isso e o coloque na cadeia.  E vou ficar aqui até que tudo isso tenha acabado, quer você queira ou não. Disse ele sério. Sabrina até que tentou protestar, mas achou melhor ter alguém por perto para o caso de ser atacada de novo e além do mais, tinha certeza que se não fosse Tom que ficasse com ela provavelmente teria que ficar na companhia de Bob. Optou pela primeira opção. Mesmo sabendo que seria um inferno ficar do lado dele sem deixar de pensar nas noites em que tinham passados juntos. Respirou fundo e afastou tais pensamentos, pois estava toda confusa em relação a eles.  E então? Onde eu posso dormir?  Eu não sei se será uma boa idéia você ficar aqui Tom.  E porque não?


 Porque? Sinceramente eu não te entendo sabia? Depois falam que as mulheres é que são difíceis de entender.  Você deu em cima de mim até que eu cedi a você...  E depois sem mais nem menos se afastou...  E de repente, me beijou como se nunca tivesse me deixado...  Eu sinceramente não sei o que você quer de mim...Desabafou ela. Tom a olhava intrigado, realmente devia uma explicação á ela.  Você tem razão em ficar brava comigo Sabrina, não era minha intenção terminar com você.  A razão por eu ter me afastado é que eu estava apavorado...  Apavorado? Por acaso você está com medo de mim?  Sim e não. Disse ele se explicando.  Olha! Eu decidi vir morar no interior em busca de paz e sossego.  Mas quando te conheci, meu mundo virou de ponta cabeça.  E sem que me desse conta, lá estava eu em busca de uma linda mulher cabeça dura no meio de uma floresta cheia de bandidos e animais selvagens.  Foi naquela noite que eu percebi de como perigosa era essa nossa relação.  Então o que você está querendo me dizer é que está com medo do meu jeito de viver é isso?  Fica quieta que ainda não acabei.  O que estou querendo lhe dizer é que essas emoções são muito fortes para minha saúde. Falou ele vendo que ela continuava sem entender nada.  Antes de vir para cá eu tive um sério problema de saúde, para ser mais exato eu quase tive um enfarto.  Enfarto? E porque você não me disse nada?  Ah é? E como eu diria isso á você?  Oi. Eu estou me apaixonando por você, mas por favor vamos devagar senão eu posso enfartar. Disse ele pesaroso. Andando em círculos pela sala ele continuou:  Eu trabalhava como corretor na bolsa de valores de Nova York, trabalhava oito, doze até quinze horas por dia.  Isso quando eu não levava serviço para casa.  Nessa época eu estava noivo, e minha noiva era filha de uma família tradicional.

 Então! Como pode imaginar, eu fazia de tudo para ficar no mesmo nível que ela, e antes que eu pudesse dar conta, tive um colapso e por pouco não tive um enfarto.  Quando fecho meus olhos ainda posso sentir as dores no peito, a falta de ar como se tivesse me afogando.  Fiquei internado por algum tempo em observação, até que um dia minha noiva entrou em meu quarto para me informar que não podia mais ficar comigo, pois ela não via um futuro para nós. Falou ele dando um pequeno sorriso.  Veja bem! Quem em sã consciência entra no quarto de uma pessoa que você jura amar e mesmo sabendo que ele quase teve um ataque, simplesmente vai embora te deixando perdido, sem nem mesmo uma palavra de carinho ou uma demonstração de afeto?  Eu não sabia o que era pior, o pânico por estar sentindo tudo aquilo ou a sensação de fracassado, e sinceramente, cheguei a pensar em desistir da vida, sabe? Falou cabisbaixo.  Depois de um bom tempo em que fiquei internado, o médico me aconselhou a deixar tudo para trás e começar uma vida nova, longe de tudo aquilo.  E aqui estou eu.  Eu não tenho medo de você, eu tenho medo de passar por tudo aquilo de novo.  E depois desse tempo em que ficamos longe um do outro, cheguei a conclusão de que não consigo ficar muito tempo longe de você.  E isso me faz ficar apavorado. Falou ele parando de andar e a olhando direto nos olhos. Sabrina não sabia o que dizer depois de uma confissão daquelas. A única coisa que vinha em sua mente agora era o risco que ele havia corrido por causa dela. Mesmo sabendo que estava correndo risco de ter um ataque, ele entrou na floresta para salvá-la. Se tinha dúvidas em relação dos sentimentos dele com ela, agora já não tinha nenhuma. Sendo assim, caminhou até ele e o abraçou forte, tentando passar ali todo o carinho que tinha por ele.  Me desculpe. Disse ela.  Desculpar porque? Falou ele.  Por ter colocado sua vida em risco.  Mas você não tinha como adivinhar e além do mais, eu entrei na floresta naquela noite porque você é mais importante para mim do que pode imaginar Sabrina.


Abraçaram-se por algum tempo, até que Tom a beijou gentilmente nos lábios. Sabrina aprofundou mais o beijo, fazendo Tom soltar um leve gemido. Beijaram-se com paixão, até que Sabrina resmungou algo que fez com que Tom parasse de beija-la.  Essa droga de costela! Disse ela.  Você está bem?  Sim! Eu já estava quase boa, mas devido ao episódio de hoje, deve ter piorado porque ele me apertou muito forte.  Porque você não aproveitou e pediu para o médico dar uma olhada?  Porque eu não estava sentindo muita dor, mas acho que era por causa da adrenalina.  Eh! Ela nos faz fazer coisas que nem fazemos idéia de que somos capazes. Disse Tom pensativo.  Sim, é verdade. Respondeu Sabrina.  E então? Onde posso dormir? Perguntou ele mais uma vez.  Se você quiser pode ser no meu quarto, mas não sei se é uma boa idéia. Falou ela com malícia.  E porque você acha isso? Perguntou ele.  Porque minhas costelas estão muito doloridas e não sei se serei capaz de manter minhas mãos longe de você. Falou ela carinhosa.  Hum! Então quer dizer que você não consegue resistir a mim?  Eu achei que fosse só eu que me sentia assim. Falou ele a abraçando.  Bom! Vamos dormir que já está bem tarde e sinceramente estou precisando de um descanso.  Sim! O dia foi bem tumultuado. Passaram-se dois dias desde que Sabrina havia tido aquela visita nada agradável em seu rancho. Tom continuava a lhe fazer companhia ficando cada vez mais difícil resistir a ele. Sabrina não via a hora de melhorar para desfrutar dos carinhos de Tom, mas infelizmente pelo jeito ainda levaria alguns dias para aquilo acontecer. Para Tom era um martírio, pois por mais cansado que ficava ao trabalhar na reforma do rancho, sempre que chegava a hora de ir para cama com Sabrina tinha vontade de ignorar o seu estado de saúde e fazer amor apaixonadamente com ela. Isso era um verdadeiro teste cardíaco.

Porque toda vez que a via só com roupas íntimas, sentia seu coração saltar no peito. Assim que amanheceu, Sabrina foi chamada por Jack. Saindo a sua porta constatou que era o delegado quem estava ali para conversar com ela.  Bom dia Sabrina. Falou ele sorridente.  Bom dia Bob.  Espero que você tenha boas notícias para em dar. Disse ela já sabendo a resposta.  Infelizmente eu queria te dizer que sim, mas estaria te enganando. Sabrina não disse nada.  Eu fiz todo um levantamento, conversei com várias pessoas e nada, não tive nenhuma informação de quem possa ter invadido sua propriedade.  Eu lamento muito San. Falou ele cabisbaixo.  Tudo bem Bob.  Mas se você tivesse me ouvido desde o começo isso não teria chegado a esse nível você não acha? Sem que nenhum dos dois percebesse, Tom se aproximava deles.  Bom dia delegado. E aí, como estão as investigações?  Nada bem. Respondeu Bob.  Mas o que houve?  Simplesmente ninguém sabe de nada ou não quer nos dizer nada. Falou ele coçando a cabeça.  Então resumindo, você não tem a mínima idéia de quem fez isso? perguntou Tom.  Não! Eu não tenho.  E agora? O que você vai fazer?  Bem! Por hora a única coisa que posso fazer é deixar um dos rapazes de vigia aqui no rancho, até que tenhamos uma pista.  Não precisa, Sabrina já está bem protegida. Falou Tom.  Eu sei que você á está protegendo, mas você não está aqui o dia inteiro está? Encarando o delegado por alguns instantes, Tom achou melhor aceitar a oferta de Bob, pois realmente ele não estava presente o dia inteiro e ainda não conseguia tirar da cabeça as imagens que tinha ao vê-la sendo agarrada por aquele cafajeste.  Você está certo, ele pode ficar quando eu não estiver presente. Sabrina ouvia tudo com calma, e ao ver que tinham terminado com os planos deles resolveu intervir.


 Vocês não acham melhor me perguntarem antes o que eu acho de tudo isso? Falou ela entre dentes olhando para os dois. Era só o que faltava, os dois fazendo planos para sua vida como se ela não estivesse ali, parecendo que ela era alguma incapacitada. Na mesma hora se lembrou de seu noivo e da mania que ele tinha em fazer planos sobre sua vida sem lhe perguntar nada. Os dois a olharam como se só agora tivessem notado sua presença e Tom pode ver que ela não estava gostando nada daquilo.  Mas o que foi Sabrina? Perguntou Bob. Tom chegou a fechar os olhos ao ver a cara que Sabrina fazia e soube que logo viria a resposta para o pobre coitado do delegado. Depois de alguns minutos de xingamentos, ela respirou aliviada.  Mas você tem que concordar que não poderá ficar sozinha aqui no rancho. Insistiu Bob que olhava para Tom em busca de apoio.  Ele está certo Sabrina.  Por mais que você deteste a idéia de ter alguém aqui, é preciso pelo menos quando eu não estiver.  Mas eu tenho o Jack.  Eu sei, mas ele já tem muito trabalho por aqui. Falou Tom com jeito. Sem muito que responder, não lhe restou outra alternativa a não ser concordar com eles.  Está bem, mas que seja a última vez que vocês planejam algo sem me comunicar. Disse visivelmente irritada.  Pode ficar sossegada. Disse Tom. Mas Sabrina nem imaginava que Tom estava bolando uma idéia de acabar com aquilo de uma vez, e esse seria o verdadeiro teste para seu coração. Logo na parte da tarde o policial chegou ao rancho de Sabrina como haviam combinado. Depois de se apresentar á ela, ele ficou do lado de fora da casa fazendo patrulha. Até que era bom ter alguém para lhe proteger, pois ainda sentia arrepios ao se lembrar daquela noite. Os dias foram passando e aos poucos Sabrina se sentia cada vez melhor, pois já conseguia fazer amor com Tom, mas sentia que ele estava se contendo para não machucála.

Em uma tarde ensolarada, Sabrina estava em seu escritório arrumando algumas fichas em seus lugares e nem viu o tempo passar. Quando deu por si já estava escuro, então tratou de ir para casa e esperar por Tom. Tomou um banho e foi preparar um jantar, Tom geralmente chegava com fome devido ás energias gastas na reforma do rancho que aliás estava ficando muito bonito. Assim que terminou o jantar, resolveu assistir um pouco a tv enquanto aguardava a chegada de Tom. Aos poucos seus olhos foram ficando pesados e logo já estava dormindo. Acordou assustada com um barulho. Ao abrir os olhos, percebeu que se tratava da tv que tinha permanecida ligada enquanto ela dormia. Desligou a tv e foi até a varanda, assustou-se com uma sombra que estava no quintal. Quando ia entrar pela porta, ouviu alguém chamando pelo seu nome. Parou e voltou sua atenção para ver quem a tinha chamado e pode notar que tinha se esquecido completamente do policial.  A senhora está bem? Perguntou o policial.  Sim! Estou sim. Disse ela soltando um pequeno suspiro.  Desculpe-me se eu á assustei.  Não tem problema, eu tinha me esquecido que você estava aqui.  Ah! Se precisar de mim, estarei aqui fora.  Obrigada. Disse Sabrina se preparando para entrar, mas voltou logo em seguida.  Por acaso você viu se Tom já chegou? Perguntou Sabrina estranhando pelo horário.  Não que eu tenha visto. Disse o policial.  Mas que estranho!  Será que aconteceu alguma coisa? Falou preocupada. Resolveu então ir até o rancho para ver se tinha acontecido algo, se trocou rapidamente e saiu apressada sendo seguida pelo policial.  Mas aonde a senhora vai? Perguntou ele a alcançando.  Vou até o rancho ver se aconteceu alguma coisa.  Não deve ter acontecido nada, senão á essa hora já teríamos alguma notícia.  Pode ser, mas não custa nada ir ver não é mesmo? O policial não disse nada, mas se manteve ao seu lado na caminhada até o rancho.


Chegando lá, Sabrina estranhou que não tivesse ninguém. Bateu na porta na esperança que Tom estivesse ali dentro. Bateu, chamou e nada. O único que apareceu foi Tom o coiote, que pelo jeito estava dormindo em um canto.  Olá Tom! Falou Sabrina lhe fazendo um cafuné.  Será que você sabe onde o seu xará está?  Esse coiote se chama Tom? Perguntou o policial.  É uma longa história...Disse Sabrina.  E agora? Onde vamos procurar? Disse preocupada.  A senhora não acha melhor voltarmos, se caso aconteceu alguma coisa eles vão saber onde nos achar.  Então você acha que pode ter acontecido algo?  Eu não sei! A única coisa que sei é que deveríamos voltar para casa. Falou o policial meio nervoso. Sabrina estranhou o fato dele estar com tanta pressa em ir embora. “ Homens” Pensou ela. E ainda se dizia policial. Resolveu voltar para casa, sendo seguida dessa vez pelo coiote. Não sabia porque, mas tinha a impressão de que o policial estava muito agitado, pois toda hora ele pegava seu rádio como se estivesse esperando alguma chamada. Isso fez um alarme disparar em Sabrina. Estava acontecendo alguma coisa e pelo jeito não era nada boa. Resolveu espiar o rapaz pela sua janela. Toda hora ele verificava o rádio e aparentava estar muito ansioso com algo. Lembrou-se então da conversa que tinha ouvido na primeira vez que entrou na floresta, dos caçadores que falavam que subornava alguns policiais. Entrou em pânico ao ver que tudo se encaixava. A falta de vontade da polícia em achar os culpados. O cafajeste que teria a atacado naquela noite. Então nada mais justo em pensar que realmente tinha alguns policiais corruptos e um deles estava justamente ali, em sua casa lhe dando uma falsa segurança. Assustada, pensou em ligar para a polícia. Mas o que iria falar se a própria polícia estava ali?

Pegou o telefone e ligou para Tom rezando para que ele atendesse, mas para sua infelicidade só caia na caixa postal. “ Mas o que diabos estava acontecendo”? “ Será que fizeram alguma coisa com Tom?” Pensou ela andando de um lado para outro nervosa. Afinal, ele não tinha esse costume de chegar tão tarde, e mesmo que precisasse, com certeza ligaria para ela avisando para não deixá-la preocupada. Se sentia presa em sua própria casa. “ E agora?” Sentou-se no sofá para se acalmar e assim colocar os pensamentos em ordem. Resolveu então inventar uma desculpa para o policial e talvez conseguisse ir até a cidade, assim pediria ajuda a alguém conhecido. Saiu na varanda em silêncio e aos poucos pode ver que o rapaz olhava para o rádio á espera de alguma chamada. Sem que ele á visse, ficou atrás de umas plantas na esperança de ouvir algum comentário da parte dele. Depois de esperar por uns minutos, que para Sabrina mais pareciam horas, finalmente suas dúvidas foram sanadas ao ouvir uma de suas conversas.  Positivo, ela continua dentro da casa, pelo jeito já foi dormir. Ao ouvir aquilo, sentiu seu sangue gelar nas veias. Já nem conseguia mais ouvir o que o policial falava, sua cabeça estava a mil. O negócio era mais sério do que pensava. “Ainda bem que não tinha chamado a polícia, pois só Deus saberia quantos policiais estavam naquela “maracutaia” toda. Sem pensar muito no que fazia, saiu da escuridão com um pedaço de pau e sem dar nenhuma chance de defesa para o pobre rapaz, lhe deferiu um belo golpe na testa fazendo com que tombasse para trás. Sem se importar com o grito que o rapaz soltou, Sabrina mais do que depressa puxou a arma de seu coldre e em posse dela o ameaçou:  Agora você vai me dizer o que está acontecendo aqui, senão eu juro por Deus que atiro em você. Falava ela trêmula. O policial aos poucos foi se levantando passando a mão pela testa. Meio cambaleando, se sentou em um tronco de arvore que tinha ali perto.  E então? Vai começar a falar ou terei que atirar em você? Falou ela mais uma vez, dessa vez engatilhou a arma e apontou em sua direção.


 Está bem! Disse ele ofegante.  Mas não precisava me bater tão forte. Continuou ele ainda esfregando a testa.  Você só pode estar de brincadeira! Disse irritada.  Você queria o que? Que eu lhe pedisse educadamente que me falasse o que o seu chefe ou seja lá quem for lhe mandou fazer?  Mas como a senhora sabe disso? Perguntou ele surpreso.  Simples! Eu fiquei te observando esse tempo todo e pude notar que você estava muito nervoso, aí foi só ligar os pontos.  Bem que eles me disseram que a senhora era muito esperta. Falou ele cabisbaixo. Cada vez mais Sabrina se chocava ao ouvi-lo falar. Ele falava com tanta simplicidade que fazia com que ela resistisse em apertar o gatilho.  Eu não entendo! Como vocês tem coragem de usar a lei contra as pessoas, sendo que são pagos para nos defender e não nos fazer mal? Começou Sabrina.  É tudo por ganância, não é mesmo?  Mas será que compensa?  Como você consegue dormir a noite?  Você só entrou nessa porque estava precisando de dinheiro? Perguntava Sabrina sem mesmo dar chance de ouvir uma resposta. Ao terminar com as perguntas, pode notar o olhar de confusão que o rapaz fazia.  Porque você está com essa cara?  Ah! Já sei. Você só pode estar esperando um de seus comparsas não é mesmo? Falou ela olhando para os lados.  Comparsa? Mas que comparsa? Respondeu ele olhando também para os lados.  Aquele que você falava no rádio.  Você pensa que não ouvi quando você disse que eu estava dentro de casa?  Sim! Mas nós falamos parceiro e não comparsa. Disse ele calmamente.  Isso não importa! O que eu quero saber é o que está acontecendo.  E por falar em comparsa, quem foi que me atacou naquela noite? Por acaso foi você?  Mas do que a senhora está falando? Perguntou ele sem entender.  Estou falando daquela noite em que fui atacada, aqui mesmo nesse rancho e se não fosse por Tom, não sei o que você teria feito comigo.  E o que diabos vocês fizeram com ele que até agora não apareceu?

Falou ela nervosa.  Deixa-me ver se entendi. Disse ele se levantando, mas sentando-se ao ver que ela fazia um gesto para que voltasse ao seu lugar.  A senhora está pensando que fui eu quem a atacou?  Sim!  Mas como pode ter sido eu, se quando vocês chegaram na delegacia fui eu que atendi vocês, está lembrada? Depois de pensar um pouco ela falou:  Então se não foi você, com certeza foi seu comparsa.  Senhora! Eu sinto te informar mas a senhora está cometendo um engano. Falou ele.  Que engano coisa nenhuma! Vem me dizer que você não está aqui simplesmente para me manter quieta dentro de casa enquanto vocês fazem alguma coisa de ruim por aí?  Agora o que não estou entendendo é o motivo de terem envolvido Tom nisso tudo.  Eu vou ser sincero! Realmente estou aqui para lhe manter dentro da casa, mas é para sua própria segurança. Sabrina o olhava fixamente enquanto ele relatava os fatos.  O rapaz que eu estava falando é um outro policial que neste exato momento está escondido perto da floresta me passando informações da ação de hoje.  Ação? Que ação?  Ah! Entendi. Então vocês estão dando cobertura para aqueles bandidos não é mesmo?  Não! Não é nada disso.  Então vocês estão dando cobertura para quem?  Olha, isso eu não posso falar.  E porque não?  Porque eles vão me matar se eu falar alguma coisa.  E o que você acha que vou fazer com você? Falou ela aproximando a arma dele.  Á única coisa que posso dizer é que estou do lado dos bons e não dos maus.  E como posso saber disso? Pois você mesmo me disse que está dando cobertura para alguém, mas quem é esse alguém? Perguntou ela mais uma vez. Então um pensamento lhe veio a mente fazendo com que quase perdesse o equilíbrio. Tom! Ele que estava na floresta e pelo jeito juntamente com a polícia fazendo aquela “ação”. “ Meu Deus”. Será que eles estavam bem?


 Eu não acredito que Tom esteja lá junto com a polícia tentando pegar aqueles bandidos.  Mas porque ele tinha que dar uma de herói e não deixou que a polícia resolvesse isso? Falava ela sem parar.  É porque ele não está lá “com a polícia”. Deixou escapar o policial.  Então quer dizer que ele está sozinho?  Pode-se dizer que sim, mas ele está com o delegado.  Esperai! Então você está me dizendo que o delegado levou Tom com ele para a floresta em uma ação da polícia?  Na verdade foi o Tom que levou o delegado.  Olha! Me explica, que já não estou conseguindo raciocinar direito. Disse ela abaixando a arma.  É o seguinte. O delegado e o Tom resolveram fazer uma patrulha sem que ninguém soubesse, pois ao fazer uma investigação interna o delegado achou sinais de que alguns policiais aceitavam suborno dos caçadores e como não sabíamos em quem confiar, então só restou nós três.  Eu, o meu parceiro e o próprio delegado.  Mas porque você não foi lá para ajudá-los?  Porque eles acharam melhor deixar alguém para fazer sua segurança no caso de dar algo errado.  Se algo der errado? Como assim dar errado?  Se caso alguém ficar sabendo e querer se vingar.  Mas então eles estão correndo perigo?  Pode-se dizer que sim.  Me faz um favor e pergunta ao seu parceiro se está tudo bem por lá.  É para já. Falou ele pegando o rádio. Sabrina sentiu que tinha algo errado ao escutar somente chiados vindo do outro lado. Olhou para o rapaz ao seu lado e perguntou preocupada:  Porque estou ouvindo só os chiados?  Estranho! Falou o rapaz.  Era para ele estar nessa freqüência em que conversamos antes.  Eu vou tentar de novo. Disse ele. Depois de mais alguns chiados, ele disse:  Aconteceu alguma coisa, pois ele já teria me retornado a chamada. Falou ele preocupado.

Sabrina entrou apressada dentro de casa, se trocou e logo já caminhava na direção do policial.  Vamos... Fez uma pausa por não saber de que nome o chamava.  Alec. O meu nome é Alec.  Muito bem Alec, vamos?  Vamos para onde?  Para a floresta, pois me parece que se meteram em uma bela enrascada. Disse ela já caminhando em direção da floresta.  A senhora só pode estar brincando. Disse ele correndo atrás dela.  Não estou não! E pare de me chamar de senhora, hoje nós seremos parceiros então me chame de Sabrina.  Mas eu não posso deixar que você faça isso. Falou ele de novo.  Ah é? E quem você vai chamar para te ajudar?  Ninguém! Eu mesmo vou até lá.  E quem vai tomar conta de mim? Perguntou ela sabendo que o tinha encurralado.  Foi você mesmo quem disse que tinha ordens para cuidar da minha segurança não é mesmo?  Sim! Mas na sua casa e não dentro da floresta.  Tanto faz! Falou ela.  O importante é que você tem que ir até lá. Sendo assim, terei que ir com você.  Agora anda logo que estamos perdendo tempo e só Deus sabe o que eles devem estar passando nas mãos daqueles bandidos.  Está bem, mas me prometa que ao menor sinal de perigo você virá embora entendeu?  Sim, eu entendi.  Então vamos. Falou ele caminhando ao seu lado. No caminho, Sabrina ia pedindo a Deus para que os protegesse enquanto estivessem ali. Sentia o coração saltar no peito ao imaginar que Tom poderia estar machucado. E o coração dele? Será que iria agüentar toda aquela adrenalina? Tomara que sim, pois se antes já se sentia culpada por ter metido ele nessa confusão toda, imagina se algo de pior lhe acontecesse. Afastou tais pensamentos ao avistar de longe a floresta que surgia á frente deles.


Olhou para o céu e notou que felizmente estava com lua cheia e isso permitia uma visão mais clara da mata. Alec a levou até onde o seu parceiro estava e assim que chegaram ao local puderam constatar que somente o rádio estava jogado no chão e sem bateria.  Pelo jeito pegaram o Raul também. Falou se referindo á seu colega.  E agora? Como vamos fazer para achá-los? Perguntou ela aflita.  Sinceramente não sei... Sem poder controlar os pensamentos, Sabrina já imaginava Tom sendo espancado e todo ensangüentado caído no chão. Fechou os olhos por um momento na tentativa de afastar tais imagens, mas foi em vão, pois só ficaria mais tranqüila na hora em que o encontrasse são e salvo.  Temos que fazer alguma coisa. Não podemos ficar aqui parados enquanto algo de ruim possa estar acontecendo. Dizia ela.  Eu sei, mas fazer o que? Dizia o pobre Alec.  Vem comigo! Disse Sabrina decidida pegando Alec pala mão.  Mas aonde nós vamos?  Para a floresta, aonde mais iríamos?  Mas você sabe andar aí dentro?  Não! Mas hoje é um excelente dia para aprendermos. Disse ela sentindo o coração aos pulos. Com uma pequena lanterna na mão entraram na mata. Sabrina não tinha noção de onde começariam, mas resolveu contar com a sorte. Andavam em silêncio, podiam sentir o rosto molhado devido ao orvalho que caía sobre as plantas que ao entrar em contato com eles fazia com que logo já estivessem molhados. Parecia que estavam andando em círculos, pois tudo era muito igual. Sabrina jurava para si mesma que essa seria a última vez que entrava naquela floresta, estava com vontade de abandonar a carreira de veterinária e quem sabe voltaria a morar na cidade de novo. O que será que Tom acharia disso? Será que ele iria morar com ela? Balançou a cabeça para espantar tais pensamentos, pois o que mais importava agora era acha-los primeiro e depois...Bem, depois decidiria o que fazer.  Eu acho que estamos perdidos! Falou Alec preocupado.  Eu também. Disse ela.

Pararam de andar ao ouvir um pequeno ruído. Ficaram parados no meio da mata tentando adivinhar de onde vinha o tal ruído. Puxando Alec pela mão, Sabrina foi andando devagar sem fazer barulho. Ao separar algumas folhas para abrir caminho, reconheceu diante de si a velha cabana em que tinha ficado com Tom. Sorriu ao se lembrar da cena daquela noite. Parecia que tinha sido um sonho de tão doido que foi, mas tinha suas costelas que ainda ardiam um pouco para lhe provar que tudo aquilo aconteceu.  Eu conheço essa cabana. Sussurrou ela no ouvido de Alec.  Conhece? Mas você não me disse que não sabia andar aqui?  Então como você pode conhecer essa cabana?  É uma longa história...  Você e suas histórias... Mal terminou de falar e escutaram vozes que vinham de dentro da cabana. Chegando mais perto, Sabrina olhou pela pequena janela que estava entreaberta. Pelo que pode ver, tinha uns dois homens sentados na mesa comendo e bebendo. Mas de onde estava não podia ver muito, sendo assim empurrou um pouco para poder ver melhor, mas como a janela estava enferrujada fez um leve ruído que foi percebido pelos dois.  Ops! Disse Sabrina para Alec que a puxou de volta para dentro da mata.  Você está ficando louca? Perguntou ele num sussurro.  Como eu iria saber que aquela porcaria iria fazer barulho? Sussurrava ela.  Shiii! Falou Alec quando percebeu que os dois homens estavam do lado de fora da casa revistando tudo. Depois de ficarem um tempo em suspense, perceberam que os homens haviam entrado, então puderam soltar um suspiro de alívio.  Essa foi por pouco! Falou Alec limpando o rosto com a camisa.  Foi sim. Respondeu Sabrina assustada.  Será que não deveríamos pedir uma informação para eles?  Talvez eles saibam onde Tom e o delegado estão. Perguntou Sabrina para Alec.  Sinceramente eu acho melhor não, pois nem sabemos quem eles são.  Aonde será que está o velho senhor que eu encontrei aqui numa noite dessas?


Falava Sabrina olhando em volta para ver se avistava o tal sujeito.  Velho senhor?  Sim! Talvez ele pudesse nos ajudar em algo.  Mas quem é esse senhor? Falou Alec.  Ah! Pelo jeito ele é dono dessa cabana.  E como você sabe disso? Perguntou ele com ironia. Ao ver a cara que Sabrina o olhava, já sabia a resposta que viria a seguir.  Já sei! É uma longa história...  Isso mesmo...Disse ela.  Não sei como foi que aconteceu essa história toda, mas você não tem medo de entrar nessa mata?  Aliás, você sabia o quanto essa floresta é perigosa?  Foi exatamente isso que eu disse á ela. Falou uma voz grave atrás deles. Automaticamente olharam para trás e se depararam com o velho senhor que empunhava uma arma e a mirava na direção deles. Alec tentou puxar sua arma, mas foi impedido pelo homem que viu o que ele faria.  Eu acho melhor você não fazer isso. Falou o homem com um pequeno sorriso nos lábios. Alec levantou as mãos em sinal de que não faria nada. Sabrina que estava paralisada até então resolveu falar.  Me desculpe senhor, mas está havendo um mal entendido.  Não vá me dizer que você se perdeu de novo. Falou ele com ironia olhando para Sabrina e Alec.  Não é nada disso! Esse rapaz é policial e estamos tentando encontrar uns amigos nossos que pelo jeito se perderam por aqui.  Será que o senhor não os viu por aí?  Eu ouvi um comentário de que dois sujeitos estavam perdidos pela floresta.  E por acaso o senhor não sabe onde eles estão? Perguntou Sabrina aliviada.  Eu não sei, mas vamos perguntar para os meus amigos que talvez saibam de alguma coisa. Disse ele colocando a arma na cintura e fazendo sinal para que entrassem na cabana. Caminharam então até a cabana, o velho abriu a porta e os convidou a entrar.  Rapazes! Disse o velho senhor.  Encontrei esses dois aí fora.  Eles estão procurando os amigos deles que estão perdidos na floresta, será que por acaso vocês os viram por aí?

Perguntou ele enquanto Sabrina e Alec entravam na cabana. Sabrina pode sentir um certo tom de ironia na voz do homem e assim que entrou na cabana e olhou em volta ela soube o porque. Em um canto do chão, havia um colchão empoeirado e sentados neles estavam Tom o delegado e o outro policial, amarrados e amordaçados. Alec empunhou sua arma e trazendo Sabrina para detrás dele mirava sua arma para os três que ali estavam.  Como eu disse antes garoto! Eu acho melhor você não fazer isso. Ameaçou o velho. Os outros dois sujeitos que até então estavam sentados, levantaram-se e empunharam suas armas mirando diretamente para Sabrina e Alec.  Pensa bem garoto!  Nós somos em três e você está sozinho. Falava ele em tom ameaçador. Rapidamente o velho correu para o lado onde mantinha os três como prisioneiros e apontando a arma para a cabeça de Tom ele falou mais uma vez:  Se você quiser dar uma de herói para mim tudo bem, mas terá que viver com a culpa pela morte de seus amigos. Disse ele engatilhando a arma.  Não!!!Gritou Sabrina.  Por favor, não faça isso. Pediu ela mais uma vez desesperada. Somente naquele momento Sabrina cruzou seu olhar com o de Tom que a olhava com um misto de alegria e raiva. ali”?

“Mas o que diabos ela estava fazendo

Se eles escapassem dali com vida, ele mesmo a mataria, ela e Alec por ser tão inocente a ponto de ceder á ela.  E então garoto? O que vai ser? Sem muita opção, Alec abaixou a arma e a colocou no chão. Sabrina correu na direção de Tom, ajoelhou-se e o abraçou.  Você está bem? Perguntou ela. Ele fez sinal para que ela tirasse a fita que tapava sua boca. Com cuidado, Sabrina puxava a fita devagar para não lhe machucar o rosto. Sem poder se conter, sentiu lágrimas que rolavam por sua face. Assim que tirou a fita ouviu ele dizer:  Mas o que diabos você está fazendo aqui? Perguntou ele cuspindo fogo.  O que você acha? Eu vim te salvar. Falou ela.


 Grande salvamento! Estou vendo que deu tudo certo, não é mesmo? Falou ele irônico.  De quem foi a grande idéia de vir até aqui? Falou ele fuzilando Alec com o olhar. Alec já estava sentado no chão junto deles, e olhou para Sabrina como pedindo uma resposta.  Não precisa responder. Disse Tom bravo.  Achei que você teria mais juízo do que ela, mas vejo que estava enganado.  Será que você nunca vai aprender a obedecer alguém? Falou ele ainda irritado. Aquilo foi à gota d´água. Sabrina sentiu secarem as lágrimas que corria pelo seu rosto. “Ingrato.” Pensou ela.  Quem mandou você querer fazer tudo às escondidas. Vociferou ela.  Estou vendo que você também teve sucesso nessa sua ação de hoje não é?  Afinal de contas você só está amarrado num colchão velho e tem tudo sobre controle, não é mesmo? Falava ela sem dar tempo de Tom abrir a boca. Todos na sala prestavam atenção naquele embate, até mesmo os bandidos olhavam de Tom para Sabrina esperando uma resposta. Quando parou de falar, Sabrina notou que todos estavam com a atenção voltada para eles.  Estão olhando o que? Disse ela raivosa.  Vocês nunca viram ninguém discutir? Os homens simplesmente olharam para Tom, e ela pode notar que o olhavam meio tipo com dó do pobre coitado que não tinha nem como se defender. “Homens”! Pensou ela balançando a cabeça.  Agora chega! Falou o velho senhor pegando Sabrina pelo braço e fazendo ela se sentar ao lado de Tom.  Cara! Eu não sei como você agüenta...Disse o velho para Tom. Sabrina já ia responder, mas Tom fez um gesto para que não falasse nada. Ele não queria deixar o homem irritado.  Ah! Se eu soubesse que ele estava por trás disso tudo, teria quebrado a cabana inteira e não só a cama dele. Sussurrou Sabrina para Tom. Tom sorriu ao imaginar tal cena acontecendo e teve que concordar com ela.  Eu teria te ajudado. Disse ele.

Apesar da raiva que sentia no momento, Sabrina adorou o comentário de Tom. Olhou em seus olhos e viu uma imensa ternura, isso fez seu coração dar saltos de alegria.  E agora o que vai acontecer? Perguntou ela.  Sinceramente não sei.  O que será que farão conosco?  Isso eu também não sei.  Acho que estão esperando alguém. Disse o delegado que até então estava quieto. No meio disso tudo, Sabrina havia se esquecido completamente de Bob que estava sentado não muito longe deles. Olhou em sua direção e pode perceber que ele também estava amarrado.  Mas porque você fez isso Tom? Perguntou ela.  Será que você não sabe os riscos que você correu e ainda está correndo?  E se te acontece alguma coisa? Falava ela sem parar. Tom olhava para ela com um certo ar de ironia.  Agora você está sentindo na pele todo o meu desespero das vezes em que você se aventurou por aqui. Falou ele a olhando sério. Teve que concordar com ele, pois estava desesperada em vê-lo de novo são e salvo. Depois de pensar por alguns minutos, decidiu que já estava na hora de revelar seus planos para ele.  De novo eu tenho que lhe pedir desculpas. Começou ela.  Só agora me dei conta de como me deixei envolver e o que é pior, trouxe você junto nessa confusão toda...  Você não teve culpa.  Tive e tenho.  Se você não tivesse me conhecido, talvez estivesse desfrutando do que veio buscar aqui, ou seja, sua paz e sossego.  Eu me meti nessa confusão porque quis, ninguém me abrigou a vir aqui essa noite. Respondeu ele.  Mas você tem que concordar comigo que você precisa de sossego e não sair a caça de caçadores e terminar amarrado em uma cabana desse jeito.  Eu sinto muito Tom! Falava ela desanimada. Tom podia sentir o desanimo de Sabrina, e o pior era que ela se sentia culpada pela confusão que ele mesmo armou.  Quando sairmos daqui. Se sairmos, estou pensando seriamente em voltar para a cidade. Falou ela num supetão.


“Mas do que ela estava falando”? Pensou Tom a encarando.  O que? Perguntou ele.  Eu disse que vou voltar para a cidade. Falou ela sem encará-lo.  Porque?  Porque? Olha a confusão em que estamos agora.  Eu simplesmente coloquei não só a minha vida em risco, mas a vida de todos vocês.  E jurei para mim mesma que se sairmos daqui com vida...  Pode parar de falar besteira. Disse Tom raivoso.  Mas não é besteira.  Pois para mim é! Esbravejou ele.  Cadê aquela mulher corajosa que entrou sozinha na floresta e quase me matou de desespero?  Cadê aquela mulher teimosa que sempre tinha um argumento para tudo, e que virou minha vida de cabeça para baixo em busca de caçadores e transformou minha vida numa doce loucura?  Eu quero essa mulher de volta Sabrina! Eu preciso dela mais do que nunca. Desabafou ele. Sabrina ficou pasma! Jamais imaginaria que ele se sentia assim. Emocionada com aquelas palavras, se aproximou dele e levemente beijou seus lábios.  Temos que sair daqui urgente. Sussurrou ela.  Já estou dando um jeito nisso. Respondeu ele.  De um jeito de despista-los enquanto eu tento me soltar.  Mas o que eu vou fazer. Sussurrava ela.  Inventa alguma coisa. Sabrina sabia que era agora ou nunca! Levantou-se e se dirigiu ao velho que estava perto da porta. Ao se aproximar dele, ele levantou a arma e mirou nela a fim de mantê-la longe dele.  Aonde você pensa que vai?  Eu só quero te perguntar uma coisa.  Qual de vocês que invadiu meu rancho aquela noite e me ameaçou? Perguntou ela. O velho simplesmente coçou a barba e começaram a rir sem dar muita atenção a ela.  Será que vocês poderiam fingir que são educados pelo menos um pouquinho e responder a minha pergunta?

 Foi o meu amigo ali, o Tony. Ele que te encurralou naquela noite.  E porque ele fez isso?  Porque se você não fosse tão abelhuda nós nem mesmo estaríamos aqui hoje.  Mas não se preocupe que ele só iria te assustar um pouquinho. Sentiu náuseas ao se lembrar daquela noite. Enquanto isso, Tom aos poucos ia se livrando das cordas sob o olhar atento de Alec que silenciosamente o encorajava. Sentindo a adrenalina a mil, Tom fez um sinal para Sabrina de que já estava livre. Agora só faltava desviar a atenção dos bandidos para que Tom pudesse soltar os outros policiais. Sabrina pensava em uma maneira de ajudar Tom. Mas como? Então, sem muito pensar no que fazia aproveitou um momento de vacilo do velho e correu pela porta que estava aberta. Tom via tudo como se fosse câmera lenta, Sabrina voando pela porta, os bandidos sendo pegos de surpresa pela atitude dela e com isso se instalando um verdadeiro caos dentro da pequena cabana. Assim que os bandidos saíram, rapidamente soltou os policiais e foi em busca de Sabrina. Sentia o coração bater descompassado, a respiração estava cada vez mais curta. De repente sentiu uma pequena dor no peito e soube naquele exato momento o que viria a seguir. “Agora não”! Pensou ele entrando em pânico. Parou de correr, se ajoelhou e levou a mão no peito. Ainda assim, tentava ver para onde Sabrina tinha corrido e aos poucos foi sentindo que a dor ia diminuindo. Levantou-se e andava devagar e desesperado pelo mato em busca de um sinal que o levasse á sua amada. Sabrina nem olhava para onde corria, pois era tudo tão igual que teve que dar uma pequena parada em busca de ar para os pulmões. “Será que tinha dado certo”? Pensava ela ofegante. “E se eles ainda estavam sob a mira dos bandidos”? Agora estava em um dilema!


Corria e tentava achar alguém que pudesse ajuda-la? Ou voltaria para tentar ajuda-los? Mesmo que achasse alguém, como saber se podia confiar nessa pessoa? E se voltasse e fosse pega novamente? “ Meu Deus! Me mostre o caminho que tenho que seguir. Pedia ela olhando para o céu em busca de uma resposta. Ofegante, com as mãos no joelho, nem percebeu que algo vinha em sua direção. Sentiu-se gelar ao escutar um barulho perto dela, e ao levantar os olhos percebeu que felizmente era Tom, o coiote, que se aproximava alegremente em sinal de que a tinha achado. Sorriu e suspirou de alívio e logo tratou de lhe fazer um chamego. De repente os pelos do coiote foram ficando arrepiados e pode perceber que seus olhos estavam fixados em algo atrás dela. Lentamente se virou e se deparou com os dois bandidos que a olhavam com cara de poucos amigos. O coiote mostrava os dentes e rosnava para os rapazes e Sabrina soube naquele momento que algo pior estava por vir. Foi tudo muito rápido. Como Sabrina já previra, o coiote foi para cima dos homens ignorando as armas que eles empunhavam. Pulou em cima de um dos homens que se debatia para se livrar da pequena fera, enquanto o outro tentava fazer mira e somente acertar o animal que atacava seu amigo. Sem ter muito que fazer, Sabrina correu e tentou atrapalhar o homem que tentava a todo custo acertar o coiote, mas como não tinha nenhuma habilidade em luta foi facilmente jogada para o lado caindo no chão.  Deixa-me terminar o que fui pago para fazer naquela noite e acabar logo com você. Disse o homem com a arma apontada para Sabrina que o olhava desesperada. Agora sim ela pode sentir o que era ser um animal encurralado ficando sob a mira da arma de um caçador. Porém, antes de fechar os olhos e esperar pela bala entrando em seu corpo, olhou mais uma vez para o pequeno coiote que mordia ferozmente o bandido e mentalmente desejou que ele acabasse com aquele ordinário. Voltou sua atenção ao homem á sua frente ao escutar o engatilhar da arma e ainda pode ver um pequeno sorriso em seu rosto, mas sem que pudesse imaginar viu um corpo

se atirando em frente á ela, a protegendo da bala que saía da arma do bandido. Aos poucos sua atenção se voltou aquele corpo estendido perto dela, que mesmo sem olhar para sua face ela já sabia de quem se tratava. Era Tom que se atirou na sua frente recebendo aquele tiro no lugar dela. Logo depois, escutou vários tiros sendo disparados á sua volta. Mas nada mais importava naquele momento. Virando o corpo de Tom, pode ver que ele ainda respirava e gentilmente o abraçou chorando muito.  Mas porque você fez isso? Perguntava ela olhando para seu rosto que se contorcia de dor.  Eu não podia...deixar o coiote levar toda glória. Falava ele com dificuldade. Sabrina sorriu ao ver que ele estava consciente e aos poucos notou que os policiais já estavam á sua volta. Sem perder tempo, procurou em Tom o local em que a bala tinha entrado e constatou tristemente que se não tivesse atingido o coração estava muito perto. Já havia se passado mais de duas horas que Sabrina aguardava impaciente na sala de espera do hospital por alguma notícia de Tom, mas até aquele momento não tinha sido passado nada para ela. A única coisa que sabia, era que ele ainda estava na sala de operação e mais nada. Só o que restava a ela, era rezar para que o coração de Tom fosse forte o suficiente para agüentar mais uma vez aquela batalha que ele teria pela frente. Mas agora seria diferente, pois ela estava ali para o apoiar em qualquer que fosse a situação. Tom acordou com a sensação de ter um elefante sentado sobre seu peito. Não conseguia respirar direito e nem mesmo se mexer. Sentiu que estava ligado com muitos fios e cabos, mais parecia um robô. Com uma certa dificuldade, conseguiu levantar um pouco a cabeça e logo constatou que estava em um hospital e mais uma vez estava sozinho. Aos poucos, foi se lembrando do episódio que o tinha levado até ali. Será que Sabrina estava bem? Será que ele mesmo estava bem?


Foi ficando cada vez mais angustiado por não ter ninguém para lhe dizer o final daquela história. Fechou os olhos e sentiu uma pequena lágrima escorrer pela sua face, que logo se juntou com um pequeno beijo que recebia. Abriu os olhos devagar e se deparou com Sabrina que o olhava encantada e emocionada ao mesmo tempo. Sentiu o coração dar saltos de alegria e retribuiu o sorriso junto com as outras lágrimas que agora banhavam seu rosto.  Está tudo bem meu amor. Falou Sabrina carinhosa.  O pior já passou. Disse ela o abraçando. Tom acordou e ainda estava no hospital, mas dessa vez já sem os fios que o ligavam as máquinas. Olhou em volta á procura de Sabrina, pois se lembrava vagamente de tê-la visto ao lado dele. Mas onde estava ela? Será que não tinha sido um sonho?  Calma! Ela já vem. Disse uma voz grave para Tom.  Bom dia! Eu sou o Dr. Peter. Tom tentou dizer algo, mas sua voz não saia.  Devagar! Logo você já vai estar falando normalmente. Acalmou o médico.  Bom! Como você já está bem, eu vou te passar tudo o que houve na operação.  Está bem? Perguntou o médico. Tom fez que sim com a cabeça e esperou que o médico começasse.  Primeiro eu quero te dizer que pode parecer estranho, mas você tem que agradecer a Deus por ter levado aquele tiro. Disse o médico sorrindo. Tom fez cara de quem não entendeu nada e o médico continuou.  Sim! Eu sei que você não entendeu, então vou te explicar desde o começo. E assim o médico relatou todo seu trabalho em operar Tom, que cada vez ficava mais emocionado em ouvir a teoria do médico de que ele tinha sido salvo por aquela bala. Finalmente chegou o dia em que Tom havia tido alta do hospital. Sabrina esperava ansiosa para leva-lo para sua casa e cuidar dele no que fosse necessário. Pois ele ainda tinha dificuldade para falar, sendo assim ela achou melhor que ele ficasse com ela e não sozinho no rancho dele que já estava totalmente reformado.

Os dias iam passando e cada vez mais Tom sentia o amor por Sabrina crescer dentro de seu peito. Como ainda não podia fazer muito esforço, restava a ele então somente lhe fazer carinhos ou mandar olhares carinhosos para ela que sempre retribuía de imediato. Tinha tantas coisas para lhe dizer, mas ainda não tinha chegado a hora, então prometeu a si mesmo que quando pudesse, falaria tudo o que estava guardado em eu peito. Ele só não sabia qual seria sua reação, mas não importava, não mais. De vez em quando Sabrina sentia que Tom queria lhe falar algo, mas como ele ainda não podia fazer muito esforço, se contentava em receber seus carinhos e olhares apaixonados que ele lhe mandava. Ela também tinha muita coisa para lhe dizer, mas resolveu esperar para que ele estivesse totalmente recuperado para lhe contar a decisão que havia tomado, só não sabia se ele iria gostar ou não. Aos poucos Tom ia recuperando a voz, já conseguia falar baixinho quase uma frase inteira. Sabrina chegou a conversar com o médico sobre essa dificuldade dele em falar, mas ele lhe garantiu que era assim mesmo e logo ele estaria falando normalmente. Resolveu aproveitar e conversar com o delegado que a deixou a par de toda investigação, e ficou radiante ao saber que a polícia finalmente conseguiu colocar as mãos nos verdadeiros bandidos que estavam por trás daquilo tudo. Ou seja, realmente existia uma quadrilha que usava a caça para fazer uma matança de animais e assim ficarem ricos com a venda de suas peles e coisas do tipo. Um belo dia, Sabrina se levantou pela manhã e resolveu ir até o lago, pois com toda essa confusão não tinha tido muito tempo de ir até lá. Olhou tudo á sua volta e sentiu uma paz que há muito tempo não sentia. Não sabia dizer em palavras o que sentia, mas era algo muito especial. E tudo tinha a ver com Tom, pois finalmente havia achado o homem de sua vida. Estava tão absorta em seus pensamentos que nem viu que Tom a observava de longe.


Mais uma vez ele estava ali, de longe, observando aquela linda mulher que de uma maneira louca tinha devolvido sua vida. Já estava mais do que na hora de lhe dizer tudo o que havia em seu coração e assim aos poucos foi se aproximando dela.  Você tem idéia de quanto você fica linda nessa luz do dia? Disse Tom assim que a alcançou. Sabrina se virou rápido ao escutar a voz dele atrás dela. Sorrindo, abriu os braços e foi ao seu encontro. Recebeu um beijo apaixonado dele que a abraçou pela cintura trazendo ela mais para junto de si. Logo que terminaram de se beijar Tom deu início ao que tinha ido fazer ali.  Sabrina! Nós temos que conversar. Falou ele sério.  Eu também quero muito conversar com você. Respondeu ela.  Damas primeiro. Falou ele sorrindo.  Está bem!  Eu quero te dizer que tomei uma decisão.  E qual seria essa decisão?  Eu decidi me mudar para a cidade. Tom não disse nada, simplesmente respondeu:  Então você decidiu mesmo ir embora?  Sim! Respondeu ela.  E posso perguntar o porque?  Cansada! Eu estou cansada de tudo isso sabe?  Achei que podia mudar as coisas, mas vi que não é bem assim...  Será que é só isso mesmo?  Olha Tom! Quando eu vim para cá, foi como você, eu vim em busca de paz e tranqüilidade que necessitava no momento.  Eu tinha acabado de sair de um relacionamento que me deixou arrasada...  Você está falando de seu ex-noivo?  Sim! Mas como você sabe disso?  Cidade pequena Sabrina. Falou ele com um sorriso.  Tinha me esquecido que o povo daqui fala demais...  Mas eles só falam a verdade.  Pode ser. Disse ela.  Como eu ia dizendo. Eu vim aqui em busca de tranqüilidade e olha só onde foi que me meti.  De uma hora para outra eu estava metida nessa confusão toda e tendo você ao

meu lado que quase não sobreviveu por teimosia minha, pois nem mesmo na floresta você queria entrar...  Agora que você está aqui na minha frente eu me pergunto se tudo isso valeu a pena.  Se o meu desespero ao ver que você tinha sido baleado, e sem ter notícias suas lá naquela bendita sala de espera do hospital, eu me pergunto se todo esse sofrimento valeu a pena. Tom a olhava sem dizer nada. Sabrina estava em dúvidas se ele tinha entendido o que havia acabado de falar, pois ele não esboçava reação alguma. Mas antes de fazer qualquer comentário ela o ouviu perguntar:  Me pergunte se eu acho que tudo isso valeu a pena. Disse ele.  O que? Falou ela sem entender.  Vamos lá! Me pergunte se eu acho que tudo isso valeu a pena. Sabrina achava que o remédio estava afetando ele de uma maneira não muito normal, pois ele não falava coisa com coisa. “Será que tinha sido um bom momento falar com ele sobre aquilo”? Pois achava que não.  Deixa eu te ajudar. Falou ele.  Será que para mim valeu a pena ter me mudado da cidade grande para o interior em busca de paz e tranqüilidade, tendo que reformar um rancho que estava caindo aos pedaços e ter me apaixonado por minha bela vizinha teimosa com síndrome de heroína que tinha como passatempo se embrenhar na floresta em busca de caçadores e coisas do tipo, me levando com ela nessas aventuras e por final eu ter levado um tiro que por pouco não acertou meu coração e me matou? Divagava ele.  Pois eu te digo com toda certeza que para mim valeram todas ás vezes em que fiquei desesperado por medo de te acontecer algo, e por isso tive que entrar de cabeça nesse seu mundo doido e finalmente ter que te agradecer.  Agradecer? Agradecer por ter quase morrido? Realmente ele não estava normal. Pensou ela.  Não! Agradecer-lhe por ter me envolvido nisso tudo e indiretamente ter me devolvido a vida.  Olha! Sinceramente você não está bem, então acho melhor conversarmos sobre isso numa outra hora.


 Eu não poderia estar melhor Sabrina e essa é uma excelente hora para você me ouvir, pois tenho muito para lhe falar. Falou ele pegando suas mãos e a olhando dentro de seus olhos.  Quando eu digo que quero lhe agradecer, é porque ao levar aquela bala o médico teve que chegar muito perto do meu coração e assim enxergar que eu tinha um pequeno desvio de uma veia que me fez e fazia com que eu tivesse aquela sensação de ter um enfarte, e devido a isso, ele pode fazer uma pequena cirurgia de reparação evitando que eu viesse a ter problemas mais sérios no futuro.  Então por isso eu te digo que tudo para mim valeu a pena, até mesmo não me conformar em ver você tirando um sarro da minha cara ao ver que tinha dado meu nome a um coiote. Falou ele sorrindo. Sabrina balançava a cabeça sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.  Você está falando sério Tom?  Então quer dizer que basicamente você foi salvo por aquela bala? Falava ela incrédula.  Sim meu amor! Respondeu ele sorrindo.  Ao tentar salvar sua vida sem que eu percebesse, estava ao mesmo tempo salvando a mim mesmo. Não falaram mais nada, pois não precisavam. Entregaram-se nos braços um do outro comemorando a salvação de ambos. Já havia se passado três meses, finalmente tinha chegado o grande dia do casamento de Sabrina e Tom. A cidade toda estava em polvorosa, todos queriam estar presentes na grande festa que seria ali mesmo no rancho a beira do lago. O sol os brindou radiante logo pela manhã. Sabrina acordou com o roçar de pernas de Tom que a olhava encantado.  Achei que você não fosse acordar... Falou ele zombeteiro.  Hum...e deixar você escapar? De jeito nenhum. Respondeu ela se aconchegando mais á ele.  Se não nos apressarmos, vamos chegar atrasados para o nosso casamento. Disse ele rindo a abraçando.  Pode ficar sossegado que minha irmã tem tudo sobre controle.

 É verdade, ela realmente tem talento para isso.  Ainda bem, pois me sobra mais tempo para curtir meu marido...  Hum...gostei da palavra marido...disse ele lhe cobrindo de beijos. A cerimônia estava impecável. Isa organizou tudo nos mínimos detalhes, deixando para Sabrina apenas desfrutar do prazer de sua festa. Olhando para sua irmã, se lembrou de quando ligou para ela lhe comunicando de seu casamento. Isa fez Sabrina fazer um verdadeiro relato de Tom por telefone mesmo. Quando ela chegou e o conheceu, o aprovou de imediato ao ver a felicidade em que sua irmã se encontrava e agradeceu por finalmente sua irmã ter encontrado alguém que se importava com ela, pois ela merecia isso. Depois de muito conversarem, decidiram retirar a cerca que limitava o rancho de ambos e assim tornaram tudo um só. A única coisa que faltava era decidirem o que fazer com o rancho de Tom, pois ele estava lindo. Os dois estavam frente ao altar de mãos dadas enquanto o padre iniciava o ritual do sagrado matrimônio. De um lado estava um emocionado Tom que ficou boquiaberto ao vê-la no vestido de noiva e do outro Sabrina encantada ao vê-lo se tornando seu marido. Todos bateram palmas de alegria quando o padre recitou a tão desejada frase.  Eu os declaro “marido e mulher”. Tom a beijou apaixonadamente, selando ali suas vidas para sempre. Pois finalmente ambos encontraram o que vieram buscar. Sabrina encontrou o verdadeiro amor, um amor que veio de uma pequena batida de carro e lhe mostrou que devia dar mais uma chance ao seu coração de ser feliz. E Tom que viera em busca de tranqüilidade e sem querer havia adquirido o direito de ter uma vida normal ao lado de Sabrina. “Normal”? Pensou Tom sorrindo. “Pois tinha uma leve impressão que sua vida ao lado de Sabrina não teria nada de normal.”


FIM Autor: Luciane Galhardo Contato: lbsg.ata@hotmail.com  Não Tom! Gritou Sabrina assustada.  Quantas vezes eu vou ter que te pedir para ficar longe dos meus bichos? O pequeno coiote parou assim que ouviu o grito de Sabrina, abaixou a cabeça e foi se rastejando até ela como um pedido para que fosse perdoado, fazendo Sabrina rir muito. Abaixou-se e fez um pequeno chamego no seu mais novo amigo.  Acho que ás vezes você só faz isso para me provocar, sabia? Sabrina sempre teve muito amor por animais e logo que saiu do colegial, entrou na faculdade veterinária onde se formou como a primeira da turma. Logo que pode, abriu sua própria clínica chegando inclusive a clinicar por um bom tempo. Ela era totalmente diferente da irmã Isabelle que se formou em administração de empresas e juntamente com uma amiga se aventurou em uma firma de consultoria. Algum tempo depois que Sabrina abriu a clínica perderam a mãe que teve um enfarto fulminante, sendo assim o pai delas resolveu que viveria no campo onde ele sempre viveu antes de se casar, pois ele costumava dizer que se sentia mais “saudável”. Daí essa paixão que Sabrina tinha por tudo que era rústico. Sempre gostou de andar de jeans, ao invés da irmã que só andava na moda com seus vestidos e saias de grife. Quando o pai de Sabrina decidiu que mudaria para o campo, ela fechou sua clínica e juntos compraram um rancho e aos poucos foram fazendo as devidas reformas que precisava e antes do previsto já estavam com um rancho todo reformado e estruturado. Não tinha um na região que não ficasse admirado com o que eles conseguiram fazer com o que antes era uma velha casa abandonada com um lago todo sujo, que agora se podia ver sua água cristalina em um verdadeiro lar. Mas logo o coração de seu pai também não agüentou muito tempo e Sabrina de repente se viu tomando conta de tudo sozinha. Às vezes quando conversava com sua irmã, ela fazia de tudo para que vendesse o rancho e voltasse a viver na cidade. E falta de proposta não era, pois logo que seu pai faleceu, vários donos de outros sítios

ou de ranchos iam direto em sua porta para lhe fazer ofertas às vezes tentadoras. Mas era como ela sempre falava com a irmã: Onde ela iria encontrar o que tinha ali? Um raiar de sol maravilhoso que a despertava sempre de manhã sem nem mesmo precisar de um relógio? Um campo cheio de margaridas, roseiras e outras flores maravilhosas que ali estavam plantadas? Sentir o verdadeiro sabor das frutas que ali estavam em um vasto pomar? Tomar um delicioso banho refrescante no lago no final da tarde tendo como espectadores à natureza a sua volta e o por do sol que se despedia dela lhe dando um espetáculo de tirar o fôlego? E ainda podia contar sempre com uma visita de algum animal que a visitava de vez em quando, pois como sua propriedade ficava perto de uma floresta vira e mexe tinha algum visitante. O mais novo era justamente aquele coiote, que aos poucos ela foi ganhando sua confiança e já se sentia “o dono do pedaço”. Assim como o pai, ela tinha orgulho do que haviam feito com aquele pedaço de terra, e esse era mais um motivo de jamais cair na tentação de vender o rancho, pois haviam se dedicado de corpo e alma para ela vender assim sem mais nem menos. Afinal ela também amava aquela terra e se dependesse dela não iria sair dali por nada nesse mundo. Assim que ia entrando em casa escutou o telefone tocar e correu para atender.  Alô!  Ola maninha, até que enfim te encontrei, sabia que está cada vez mais difícil falar com você? Você já trocou de celular ou a conexão aí que está ruim mesmo? Falou Isabelle.  Olá Isa! Não, eu ainda não troquei não, mas deixa-me dar uma olhada nele, às vezes eu esqueço de por para carregar. Disse Sabrina olhando para o aparelho.  É! Infelizmente eu esqueci de novo. Disse ela sem se importar.  Eu não acredito! Como você pode ser tão desligada assim Sam? Por isso eu tenho dois aparelhos, se um acabar a bateria eu tenho outro para me socorrer. Sabrina não agüentou e começou a rir da irmã que não conseguia viver sem um celular ou internet. É lógico que ela tinha tudo isso ao seu alcance, mas não ficava maluca se algum deles não funcionasse assim como sua irmã ficava.


 Eu não sei como você pode ficar a mercê dessa tecnologia, imagina que vou perder minha noite de sono só porque a internet não funciona. Falou ela rindo ao se lembrar de uma vez que sua irmã passou alguns dias com ela. Era um fim de semana e logo começou a chover uma forte tempestade fazendo com que ficassem totalmente sem telefone e lógico sem a “bendita” da internet. Ela lembrava que enquanto que não voltou a energia Isa não conseguia, dormir ao contrário de Sabrina que dormiu feito um bebê. Ao amanhecer sua irmã estava com cara de poucos amigos e jurou que nunca mais passaria uma noite ali, só vindo para uma breve visita. Ficaram mais algum tempo conversando e logo Isa se despediu prometendo que a visitaria em breve. Sabrina resolveu ir a cidade mais cedo, pois o tempo estava ameaçando chover e pelo jeito viria uma chuva brava. Pegou sua bolsa e se dirigiu até o curral para avisar Jack, seu funcionário que a ajudava no rancho de que precisava ir até a cidade.  É! Parece mesmo que vai vir muita água. Disse ele.  Sim, me parece que sim.  Eu vi aquele coiote cheirando por aí hoje. Temos que ficar de olho nele patroa.  Não esquenta com ele não Jack. Ele ainda é só um filhote e eu já estou ensinando bons modos a ele.  Mas mesmo assim tem que ficar de olho, pois ele é selvagem como todos os outros. Já estava entrando na sua camionete e quase não escutou Jack a alertá-la, porque o tempo estava ficando feio. Sabrina passeava devagar pela estrada de terra desfrutando daquela vista linda de sua casa toda cercada por uma cerca branca com várias roseiras plantadas em volta. Esse tinha sido um desejo de seu pai, pois como sua mãe adorava rosas e plantas então ele mesmo plantou a maioria delas que ali estavam. Acelerou o carro para não ter que pegar chuva na estrada, ela não gostava muito de dirigir na chuva achava muito perigoso. Ao longo da pequena viagem ia imaginando sua vida na cidade grande. Não que não era feliz, mas sentia que estava faltando algo em sua vida. Sentia que aquele não era seu lugar, ainda mais depois de uma grande desilusão amorosa que quase a fez entrar em depressão.

Respirou fundo ao se lembrar daquele triste episódio de sua vida, quando foi noiva de Bryan, um rapaz cujo único objetivo era sua carreira. Sabrina não fazia nada sozinha, ele nunca a apoiou em nada inclusive em sua clínica. Conheceram-se logo que entrou na faculdade. Bonito, educado, era tudo o que uma moça podia querer. Mas infelizmente era também muito egoísta só pensando nele mesmo. Quando Sabrina se formou eles ficaram noivos e como ela sempre teve muito carinho por animais então resolveu abrir sua própria clínica. Mas em vez dele apoiá-la como todos fizeram, ele simplesmente disse uma vez que aquilo não passava de um “capricho” porque assim que eles se casassem ela ficaria em casa cuidando dos filhos que ele queria ter logo no começo do casamento. Até aí tudo bem dele pensar assim. Mas o que mais a irritou foi que ele disse isso para todos sem ao menos conversar sobre isso com a parte mais interessada no assunto “ela” mesma! Pois ficou sabendo por outras pessoas de que quando se casasse venderia a clínica e abandonaria sua carreira de veterinária para cuidar dos filhos que logo viriam. Até mesmo algumas pessoas estavam achando que ela estava grávida devido aos comentários de Bryan. Em uma noite quando foi conversar com ele sobre isso, ele disse que aquilo tudo era verdade e que não entendia o motivo dela estar tão brava se desde o começo do namoro deles deixou isso bem claro para ela.  Eu vou estar sempre viajando Sam, quem vai cuidar da casa nesse tempo todo?  Você já pensou na possibilidade de contratar uma empregada?  Não e sim! Tudo bem de contratar alguém, mas você tem que concordar comigo que mesmo com uma empregada quem tem que cuidar da casa é a esposa.  E para que você acha que eu fiz uma faculdade Bryan? Você acha mesmo que foi para eu ficar cuidando da casa?  Não! Acho que foi para preencher seu tempo livre. Disse ele com naturalidade. Sabrina não podia acreditar que aquilo estava acontecendo justamente com ela. Justamente ela que nunca gostou de depender de ninguém, só agora percebeu que estava sendo manipulada nesse tempo todo em que estavam juntos. Como pudera ser tão cega?


 Eu não acredito que você pensa assim Bryan? Perguntava ela na esperança de que aquilo fosse uma brincadeira dele.  Não. Eu não sei porque seu espanto...Olha Sabrina, na minha família sempre foi assim, os homens trabalham e as mulheres ficam em casa cuidando das coisas.  Mas Bryan! Eu me formei por um motivo.  Eu sei disso, mas você tem que dar prioridade na sua família. Logo eu vou querer ter filhos e como você vai conseguir conciliar sua clínica com a vida de casada?  Mas podemos dar um jeito nisso, afinal tem tantas mulheres que trabalham fora e cuidam da família é só você me ajudar.  Eu? Perguntou ele. Mas eu vou estar sempre trabalhando até tarde, como eu vou poder te ajudar meu amor? Perguntou ele a abraçando.  Mas como assim “eu”? Você também vai se casar sabia?  Sabrina, eu vou falar pela última vez. Eu sou homem e todos os homens da minha família fazem isso.  Não! Pelo jeito vocês não fazem nada em relação à família, a única coisa que eu estou vendo é que vocês só sabem fazer filhos e as mulheres que se virem para cria-los.  Sabrina! Pensa como se fosse uma troca, vocês cuidam da casa e nós trabalhamos fora. Dizia ele contente com a solução. Sabrina o olhava espantada, ao ver como o noivo era tão machista, como não havia percebido isso antes? E o pior é que ele achava aquilo a coisa mais natural do mundo.  Olha! Sinceramente eu não posso acreditar no que você está me dizendo. Falava ela se sentindo usada.  Como você pode pensar assim nos tempos de hoje?  Não existe mais esse negócio de mulher ficar em casa com aquele monte de filhos enquanto o homem põe comida dentro de casa Bryan. Em que mundo você pensa que está?  Sabrina eu fui criado assim, minha família toda é assim. Falava ele se defendendo.  Mas você não precisa ser assim, se os seus parentes querem seguir isso a risca problema deles.  Não Sabrina! Não sou eu quem vai sair da linha. E além do mais quem não seguir isso na risca meu pai tira do testamento. Disse ele já nervoso.  Sabrina apertou as mãos no volante do carro de raiva daquele momento, afastou

aquele pensamento de sua cabeça, pois já estava chegando á cidade. Respirou fundo e deu a volta no canteiro central para entrar na avenida que dava para o mercado onde costumava fazer suas compras do mês. Parando no estacionamento desceu do carro e entrou. Arrepiou-se ao sentir o ar condicionado que pegou sua pele de surpresa, pois não gostava de ligar o ar do carro, preferindo sentir a brisa do vento em seu rosto. Passou pelos corredores olhando em sua lista e logo o carrinho estava cheio. Quando estava se dirigindo até o caixa, um policial veio ao seu encontro.  Bom dia Sam.  Bom dia Bob. Respondeu ela educada.  Você sabia que terá um novo vizinho?  Não.  Finalmente o velho Samuel conseguiu vender suas terras. Que ironia não? Enquanto ele fazia de tudo para vender a dele, você fazia de tudo para afastar os compradores da sua. Falou ele rindo.  Pois é. Falou não dando muita conversa, pois não confiava muito nele.  E como estão as coisas por lá? Muito trabalho?  Um pouco. Mas está dando para levar.  Você sabe que se precisar pode me chamar não é? Falou ele a olhando de cima a baixo.  Sim. Falou sentindo um princípio de raiva.  Tem certeza de que não precisa de nada? Insistiu ele.  Tenho sim. Falou ela jogando as mercadorias no balcão já pronta para falar um monte para ele.  Mas pensando bem, até que você podia me ajudar com uma coisa.  E o que é?  Você podia fazer seu trabalho e descobrir quem está matando os animais lá na floresta. Falou ela fazendo ele fechar o semblante.  Eu já te disse que nós investigamos e não conseguimos encontrar nada. Deve ser caçadores de outras regiões que vem só para se divertir. Falou ele calmamente.  E você não acha que isso é um crime? Sair da região deles e vir caçar na nossa região? E os animais? Você acha justo eles terem de sair de suas casas por causa desses canalhas?


Sabrina não agüentou e explodiu com ele fazendo algumas pessoas que estavam perto deles a olharem curiosos.  Olha Sabrina. Eu sei que você gosta desses bichos, mas eu te disse que já investigamos e não descobrimos nada.  Você sabe o tamanho daquela floresta? Eu não tenho pessoal suficiente para isso, e além do mais eles só estão matando animais. Aquilo fez o sangue dela ferver por dentro, quem a conhecia sabia o quanto estava furiosa.  Pois fique sabendo que se eles se aproximarem de minhas terras seja para matar “animais ou não” eu vou acabar com eles. Aí eu quero ver se você vai me encher o saco por eu ter feito o seu serviço.  Mas Sam, você sabe que aqui a caça não é proibida, sendo assim eles podem caçar a vontade.  Mas tem que ter algum controle se não daqui a pouco matarão até mesmo os filhotes.  E você tem que concordar que a caça é liberada para a sobrevivência e não por diversão.  Eu sei disso. Falou ele. Mas infelizmente não temos como percorrer toda a floresta.  Bom, meu aviso está dado. Depois eu não quero saber de polícia em minha porta ok? Saiu do supermercado com a cabeça doendo. Como detestava quando alguém não se importava com as coisas que acontecia, principalmente a polícia. Está certo que eles não tem pessoal suficiente para isso, mas custava pedir ajuda para outras delegacias e colocar aquele povo para correr? Homens! Pensou ela. Não podia contar com eles para nada mesmo. Quando já saia do estacionamento para entrar na avenida, foi fechada por um carro que rapidamente desviou dela e entrou no canteiro central. Respirando fundo para se livrar do susto, ela saiu de seu carro e foi até o outro para ver se o motorista estava bem. Mal chegou no carro e a porta foi aberta, ela pode notar que quem dirigia era um rapaz que saiu olhando seu carro para ver se tinha algum amassado. Ele nem se importou em ver se o outro motorista estava bem, a única coisa que importava naquele momento era o carro dele.

“Homens”! Pensou ela balançando a cabeça e voltando para seu próprio carro. Ligou o carro e notou que o rapaz atravessava a rua e vinha em sua direção.  Você não vai nem perguntar se eu estou bem? Disse ele sério.  Não! Eu notei que você está bem e seu carro também por sinal. Disse ela já engatando a marcha.  Mas um pedido de desculpas seria educado sabia? Falou ele.  Um pedido “seu” de desculpas não é? Falou ela sarcástica.  Meu? Mas foi você quem quase bateu no meu carro. Insistiu ele.  Você disse bem, você “quase” bateu em “meu carro”, pois se você não sabe, devia ter parado logo ali na esquina. Disse ela lhe indicando o local.  Mas ali não tem nenhuma indicação que eu devia ter parado.  Bom, mas como agora você sabe que devia ter parado então está na hora de se desculpar?  Eu não posso me desculpar por uma coisa que não fiz.  Mas você quase bateu no meu carro. Exclamou ela.  Porque não tem nenhuma placa indicando isso.  Bem! Aí você tem que fazer uma reclamação lá na prefeitura e não aqui comigo, pois eu não trabalho lá. Dizendo isso ela engatou a marcha e foi embora deixando o rapaz olhando para ela e pelo que parecia, ele estava sorrindo. Era só o que me faltava! Pensou ela. Mas porque todo homem que ela conhecia dava sempre um de superior para cima dela? Será que era pelo seu porte frágil? Pois com seus um metro e sessenta e cinco, não era lá nenhuma modelo. Mas como sua irmã costumava dizer ela tinha um ar de superior irritante, que deixava qualquer homem com vontade de abaixar aquela “crina”. Mas deixou os pensamentos para trás e acelerou o carro por causa da chuva que já começava a cair. Assim que chegou em casa, colocou a camionete na garagem para que pudesse descarregar as compras sendo ajudada por Jack que veio ao seu encontro.  Eu fiquei sabendo que vamos ter vizinho novo, patroa. Falava ele enquanto descarregava o carro.  É, eu também. Você já o viu por aí?


 Não, ainda não. Mas logo ele vai vir aqui conhecer essa belezura toda.  Provavelmente. Tomara que seja melhor que o antigo. Disse ela.  A senhora não gostava muito dele não é?  “Senhora” não Jack. Você. Corrigiu ela.  Está bem, é que eu esqueço. Desculpou-se ele.  Tudo bem.  E não. Eu não gostava dele. Ele era muito desleixado com tudo, inclusive com os animais. Disse ela.  É mesmo. Ele era muito ruim com os bicho dele. Lembra quando um potrinho se enroscou todo na cerca? E ele não queria levar o coitado no veterinário?  Nem me lembre disse Jack. Falou ela.  Se não fosse pela senhora...quer dizer você, o coitado com certeza tinha morrido.  Isso eu não sei, mas ainda bem que deu para salvar a vida dele.  É verdade. Falou ele pensativo.  Será que ele vendeu o sítio dele com os animais também? Ou foi só a terra?  Eu não sei, mas se a senhor...corrigiu rápido ao ver o olhar que ela lhe mandava. Se você quiser eu perguntou por aí.  Não precisa Jack, mais cedo ou mais tarde vamos ficar sabendo mesmo.  E o rapaz que iria começar aqui hoje para te ajudar? Como ele está indo?  Eu deixei ele lá no pasto consertando algumas cercas, mas eu acho que com essa chuva ele deve ta lá no barracão numa hora dessas.  Concertando cercas? O que aconteceu com elas? Perguntou preocupada.  Algumas só estamos trocando porque está fraca, mas outras estavam com uns buracos e não sei se foi algum bicho ou se alguém que cortou.  Hora que a chuva passar eu vou até lá dar uma olhada, não me deixa esquecer está bem?  Está bem. Terminaram de carregar tudo para dentro e Jack foi terminar seus afazeres. Sabrina tinha total confiança nele, ele também deu muita ajuda para eles na hora de reformar o rancho. Sempre muito caprichoso em tudo o que fazia e sempre bem educado, não poderia ter achado empregado melhor, ainda mais agora que estava sozinha. Foi até a cozinha e tomou um delicioso suco de caju, pois mesmo chovendo fazia muito calor.

Sentou em uma cadeira e sem querer seus pensamentos foram parar naquela bendita “quase batida”. Agora ela se lembrava com certeza de que o estranho estava sorrindo quando ela o deixou parado lá no meio da rua. Mas que audácia dele em querer que ela pedisse desculpas á ele. Nem mesmo perguntou como ela estava, só ficou olhando seu querido carro para ver se não tinha tido nenhum amasso, pois ele chegou a subir no canteiro de flores. Ah! Se ela soubesse que ele iria reagir daquele jeito, bem que teria acelerado e deixado que o carro dele batesse com tudo no dela. Afinal o seu era maior que o dele e com certeza o seguro iria cobrir de qualquer jeito. E pensar em seguro, ela não pode deixar de pensar de novo no seu noivado. Quando Bryan havia declarado para ela que o pai dele tiraria do testamento aquele que não seguisse a risca o estilo “machista” de casamento, ficou mais indignada ainda. Pois sentia que ele estava casando com ela mais para agradar ao pai do que ela mesma. Por mais alguns meses ela tentou fazer com que ele mudasse, fazer com que ele enxergasse que para um casamento dar certo teriam que se doar cada um uma parte de si e um ajudar o outro a realizar suas vontades tanto no casamento quanto fora dele. Mas ele não dava o braço a torcer e achava um absurdo ela querer manter a clínica depois de casada. Mas o engraçado nisso tudo era que ele nem havia feito o pedido á ela ainda e sem nem mesmo consultá-la já fazia planos e apontava seus devidos deveres de esposa. Tudo foi por água abaixo quando no funeral de sua mãe, os pais dele vieram lhe dar os pêsames e deram a entender que agora mais do que nunca ela precisava se casar e que ela tinha muita sorte que fosse com o filho deles. Ali mesmo no funeral ela disse a eles que pretendia manter a clínica depois de casada, mais para ver a reação deles. E foi como ela pensava que seria. O pai dele a olhou como se ela tivesse dito que havia traído o filho deles. E a mãe então? Ela teve a capacidade de dizer que “sorte que sua mãe estava morta para não ter que escutar uma blasfêmia daquelas”. Não agüentando mais aquilo, naquela mesma noite terminou com Bryan que nem mesmo se comoveu com o término do noivado.


 Eu achei mesmo que não daria certo entre nós. Disse ele. Pois meus pais não gostaram do que você falou para eles hoje no funeral de sua mãe.  Ah é? Eles não gostaram? E por acaso sua mãe disse o que ela me falou? Perguntou ela.  Ela me disse que era para eu dar graças por minha mãe ter morrido para não ter que escutar eu falar uma blasfêmia daquela. Disse ela já chorando.  Mas você queria o que Sam? Você foi falar aquilo justamente para o meu pai? Falou ele balançando a cabeça em forma de reprovação.  Pois estou vendo que você pensa o mesmo que eles, não é verdade? Perguntou enxugando os olhos.  Sabrina eu fui criado assim, eu não sei como você não percebeu antes.  Mas você não viu que desde o começo “eu sou assim”?  Eu vi, mas com o tempo achei que poderia te mudar, mas pelo jeito não deu certo.  Pois se eu tivesse percebido que seria assim com certeza não tínhamos chegado tão longe no nosso relacionamento. Disse ela.  Escuta! Vamos deixar isso para lá e vamos seguir em frente, você só tem que se desculpar com minha família e tudo será esquecido.  Eu? Mas me desculpar de que? Por eu ter uma opinião diferente deles? Mas você só pode estar brincando. Falava ela sem ainda acreditar que nos dias de hoje existia aquele tipo de machismo.  Se não for assim então eu não vejo outro jeito a não ser em terminarmos mesmo. Falou ele calmamente. Sabrina simplesmente deu meia volta e foi embora furiosa pela maneira de como foi tratada justamente pelo noivo que ainda tinha a capacidade de dizer que a amava muito. “Calhorda”, pensou ela acabando seu suco e indo até a porta ver a chuva que caia agora mais calma. “Que delícia”. Pensou ela respirando fundo. Ficou por um bom tempo olhando para toda aquela maravilha que estava ali ao seu alcance. Assim que a chuva parou, Jack bateu na porta da casa de Sabrina lhe avisando que a chuva já havia passado e estava lhe lembrando de ir ver a cerca que tinham arrumado. Agradeceu e voltou sua atenção em sua tarefa, mais tarde teria que visitar um paciente que tinha tido filhotes recentemente.

Era assim que Sabrina vivia, ao longo do tempo conseguiu montar um pequeno consultório em seu rancho, nada muito grande mesmo porque ela fazia muitas visitas em casa do que propriamente na sua clínica. Acabou de revisar algumas fichas e se preparou para olhar as cercas. Montou no seu cavalo que já estava preparado para ela e saiu galopando pela estrada. Como ela não cansava de olhar para aquela paisagem, ainda mais agora que tinha chovido as flores pareciam alegres por terem recebido aquele banho de chuva. Logo chegou ao local, desceu do cavalo e deixou solto para pastar enquanto olhava tudo por ali. Já estava tudo arrumado, mas mesmo assim resolveu olhar toda a extensão da cerca e aproveitar e caminhar um pouco. Ia olhando tudo com muita atenção, quando de repente escutou gritos e pelo jeito vinha do lado de seu vizinho. Resolveu dar uma espiada e correu para ver o que estava acontecendo e assim que chegou ao local pode perceber que se tratava de seu mais novo amigo o coiote Tom que pelo jeito já estava dando trabalho para seu vizinho. Dando risada, Sabrina empurrou algumas plantas da cerca para poder ver melhor e para sua surpresa viu o rapaz da “batida” com um tijolo na mão ameaçando acertar em Tom que o olhava mostrando os dentes.  Não faça isso Tom! Gritou ela por cima da cerca. Os dois olharam para ela.  Afaste-se dele.  Agora Tom. Disse com mais firmeza. Os dois como que obedecendo, se afastaram um do outro dando passos para trás sem tirar os olhos do adversário.  Agora de meia volta e suma já daqui Tom. Falou ela brava.  Você só pode estar brincando. Falou o rapaz sem encará-la, pois seu olhar estava fixo no coiote. Ela se contorceu toda para passar pela cerca e logo já estava perto do coiote, passou a mão na sua cabeça e disse:  Vá já embora daqui. Anda. O rapaz ficou perplexo com aquela cena, o coiote simplesmente virou as costas para ele, sem antes lhe mandar um olhar cruel tipo assim “eu vou voltar” e foi embora.


Ele então abaixando a mão pode finalmente jogar a pedra ao lado, limpando as mãos para tirar o restante de terra.  Será que você pode me dizer o que ia fazer com aquela pedra? Perguntou irritada.  Se você não viu aquele animal queria me atacar. Defendeu-se ele.  Hum! Aquele filhote? E a solução seria lhe acertar com aquela pedra?  Olha! Para dizer a verdade eu não tive muito tempo de pensar na hora, mas se fosse preciso. Ele me pegou de surpresa.  Ele te pegou de surpresa? Eu acho que vou pedir para ele voltar e lhe pedir “desculpas”. Falou ela tirando sarro nele pelo incidente logo de manhã.  Há! Você é muito engraçadinha sabia? Mas se você acha que ainda pode alcançá-lo eu posso aguardar. Falou ele sorrindo.  Se ele voltar aqui acho que nem eu vou conseguir convence-lo a não lhe dar uma mordida.  Por isso que eu tinha uma pedra na mão.  E por isso que ele estava tentando lhe morder, ele só estava se protegendo.  Se protegendo? E eu? O que você acha que eu estava fazendo? Brincando de pega vareta?  É! Seria engraçado ver você ir pegar a vareta. Falou rindo dessa vez ao imaginar a cena. Ele parecia que não tinha gostado muito não, pois o olhar que ele lhe mandou dizia tudo.  E então? O que você faz aqui?  Eu sou o novo dono desse lugar.  Eu não acredito! Falou ela.  Como não acredita? Pelo jeito você não gostou mesmo, pois eu mal cheguei e você já me mandou ir embora.  Eu mandei você ir embora?  Sim. Agora pouco, você não se lembra? Disse ele a encarando pela primeira vez.  Não! Eu acho que você está ouvindo coisas.  Eu não estou “ouvindo coisas”, você mesma que disse: Tom vai embora daqui. Sabrina não agüentou e começou rir, no começo ela até que tentou segurar mas ao imaginar a situação não agüentou e quanto mais ela imaginava mais ela ria. “Essa mulher deve ser doida”. Pensava ele enquanto a olhava curioso. “Doida e linda” . Pensou a olhando da cabeça aos pés.

Será que ela morava nas redondezas? Será que tinha namorado? Quantos anos será que tinha? Até que estava gostando de ouvi-la rindo, mesmo que estivesse rindo dele, o som da sua risada era algo cristalino. Ficou ali parado sem entender nada daquela gostosa gargalhada mas adorando cada minuto. Em meio ao riso, Sabrina nem imaginava o rumo dos pensamentos de seu mais novo vizinho. Então tratou de se controlar e tentar lhe explicar aquela situação de riso.  Me desculpe. Disse ela. Mas é que é muito engraçado. Dizia ainda sorrindo.  Fique a vontade. Falou ele.  Olha! Disse ela. Quando eu te contar você também vai rir.  Eu não vejo a hora. Disse ele se aproximando. “Opa”! Pensou Sabrina ficando um pouco séria. Achava que estava na hora de parar de rir e ir embora dali.  Qual é o seu nome?  Você já sabe, para que eu vou repetir.  Não! Eu não sei. Falou rindo de novo. Por acaso seu nome é Tom?  Sim. Mas se você já sabe porque fica perguntando?  Porque eu não sabia seu nome, pois o Tom que eu mandei sair daqui era aquele coiote. Ele fez cara de quem não estava entendendo, mas logo caiu a ficha.  Então você está me dizendo que aquele coiote se chama Tom?  Sim! Não é engraçado?  Sinceramente não. Falou ele.  Ah! Vamos lá, você só não achou graça porque aconteceu com você se fosse com outro acharia tão engraçado quanto eu  Por acaso foi você que colocou esse nome nele não foi?  Sim. Mas como você sabe disso?  Porque ele te obedeceu e parece que já se conhecem há bastante tempo.  Não tem tanto tempo assim, pois ele ainda é filhote.  Mas mesmo assim. E porque você colocou esse nome nele?  Ah! Eu tinha notado que ele já estava rondando fazia algum tempo, e uma noite escutei um barulho estranho, me levantei e fui ver o que era.  Quando cheguei perto do galinheiro, pude ver que era ele brincando com uma pequena lata vazia que ali estava e cada vez


que ele batia as patinhas nela ela emitia um som de tommmmm,tommmmm... Começou a rir de novo.  Na hora eu falei Tom? Aí ele me olhou assustado e saiu correndo, mas logo no outro dia ele já estava de volta e assim que o vi eu disse:  Tom! Vem aqui vem. Ele se abaixou e devagar veio até mim. Falava ela contente.  Não é à toa que ele é um animal irracional.  Como é? Perguntou ela.  Animal irracional! Por isso que ele foi até você se rastejando, porque ele não pensa. Falou ele com sarcasmo.  Não! Ele fez isso porque é uma criatura pura que só precisa de carinho e apesar de ser macho é muito mais inteligente e educado que certos homens que conheço. Alfinetou ela.  Esse é o problema de se viver em cidade pequena, o povo não costuma ser muito educado com quem vem de fora. Falou ele a encarando de novo.  É porque quem vem de fora acha que aqui só tem caipira e já chega se achando o rei do pedaço. Respondeu ela o encarando também. Os dois estavam tão pertinho um do outro que dava para sentir o hálito quente de cada um. Tom estava maravilhado com sua “anfitriã”, ela era linda e no momento o olhava furiosa. Ele tinha a impressão de que ela gostava de uma boa briga, pois o encarava de igual para igual. Isso fez com que ele sorrisse mais ainda, pois adorava um desafio.  Só para te mostrar de como eu sou educado diferente de certas pessoas, não vou nem ligar pelo fato de você ainda não ter me dito seu nome.  É quem disse que eu vou te dizer meu nome?  Viu? Eu não disse que o povo de cidadezinhas podem ser mal educados? Falou ele sorrindo. Sabrina não acreditava que estava ali jogando conversa fora com aquele forasteiro desaforado, normalmente já teria dado uma boa tarde e ido embora sem ao menos falar quem era. “Mas não! O que ela estava fazendo ali ainda”? Pensou. Mas tinha que concordar que até que ele era bonitão, pena que pelo jeito era mais um machista.

 Eu só vou dizer o meu nome para te mostrar que diferente de você eu sou uma pessoa bem educada.  O meu nome é Sabrina. Disse ela. Ele a olhou de cima a baixo e disse:  Mas você nem vai me dar três beijinhos?  Você tem sorte de eu não estar armada...Falou ela fula da vida. Ele riu muito de seu comentário, pois achou que se estivesse mesmo armada ele provavelmente estaria em maus lençóis.  Então eu estou com sorte. Falou sorrindo.  Por enquanto...Disse ela. Ela não sabia porque, mas não conseguia ficar com raiva dele e muito menos arredar o pé dali e ir embora.  Você mora por aqui? Perguntou ele.  Porque você quer saber? Falou ela desconfiada.  Você é sempre assim com todo mundo ou só comigo?  Assim como?  Bem vamos ver! Arredia, mal humorada, mal educada...Listou ele.  Geralmente não com todos, mas com você estou fazendo um esforço. Disse ela sorrindo levemente.  Ah! Então está explicado.  E então? Perguntou ele.  Então o que? Perguntou ela.  Você não vai me dizer onde mora? Ela pensou em não dizer nada, mas aí se lembrou que também não sabia nada sobre ele.  Então foi você quem comprou o rancho do velho Samuel?  Como você pode ver, sim.  Espero que você faça uma bela reforma por aqui, porque sinceramente da uma dó em ver como ele está abandonado.  Sim, eu pretendo reformar o que for preciso para fazer daqui o meu novo lar. Falou ele olhando ao redor.  Você vai ter um bocado de trabalho, sabia?  É, estou vendo mesmo. Falou ele olhando para ela de cima a baixo meio que sorrindo.  Eu estou falando do rancho. Disse ela.  Eu sei disso. Respondeu ele.  É bom mesmo você saber disso.  E então? Você vai me dizer onde mora?  Infelizmente me parece que nós seremos vizinhos.


Tom não pode deixar de sorrir ao ouvir aquela agradável notícia.  Mas isso está ficando muito interessante. Disse ele. Sabrina não falou nada, simplesmente balançou a cabeça em sinal de desaprovação. “Tudo farinha do mesmo saco”. Pensou ela.  Bem, eu já vou indo. Boa sorte na reforma. Disse ela se virando, mas voltou logo em seguida.  Se por acaso o Tom aparecer por aí, vê se você consegue ser um pouquinho educado com ele está bem? Afinal ele é só um filhote.  Eu sei que ele é um filhote, mas é uma fera como todas as outras. Mas pode ficar tranqüila que se ele aparecer aqui eu vou convidá-lo para um cafezinho. Falou ele rindo da cara de raiva que ela fazia.  Não perca seu tempo porque pelo pouco que pude ver ele não foi com a sua cara. Disse ela se virando e finalmente saindo dali. De longe podia ouvir o som da risada dele e isso fez com que ela também desse um pequeno sorriso.

aos pedaços, tudo ao seu redor precisaria ser trocado ou de ser reformado. Mas fazer o que? Afinal não tinha sido enganado ao fazer aquela compra, aliás o que ele mais tinha gostado ali era o desafio que teria pela frente ao começar as reformas e além do mais, estava mesmo precisando respirar um pouco de ar puro. “Chega de cidade grande”. Disse ele a si mesmo saindo da casa. Resolveu dar uma caminhada e ver como estava o restante do rancho que precisaria de reforma. Ao andar, percebeu que não sabia onde exatamente Sabrina morava. Ela disse que eles seriam vizinhos mas não disse de que lado ficava sua casa, pois ele tinha vizinho tanto do lado esquerdo quanto o lado direito. E agora? Qual seria o rumo que deveria tomar para encontrar de novo com aquela “fera”? Pois alguma coisa lhe dizia que se ele não fosse atrás dela não a veria tão cedo e não estava com vontade de esperar muito tempo para ter o prazer de ouvir sua voz de novo. Nem que fosse para simplesmente brigar com ele por algum motivo.

Já no caminho de casa, Sabrina tentava se lembrar mentalmente de sua agenda naquele dia. Teria duas visitas para fazer, uma na cidade e outra em um rancho que ficava nos arredores do seu.

Sabrina já estava em sua caminhonete indo visitar seu paciente ou melhor sua paciente, quando escutou alguns estampidos de tiros vindo da floresta. Fechou os olhos ao imaginar um animal indefeso que estava sendo abatido ali bem perto dela e mais uma vez não podia fazer nada. Parou sua caminhonete de repente e tomou a direção rumo à floresta. Se não pudesse impedir pelo menos iria tentar por um pouco de juízo na cabeça daqueles caçadores e talvez até pudesse convencê-los a procurar outra coisa para fazer em vez de ficar atirando nos pobres coitados. Isso se ela conseguisse achá-los, pois a polícia vivia dizendo que mesmo fazendo buscas era quase impossível achar alguém no meio daquela floresta. Parou, desceu do carro e ficou espiando na beira da mata para ver se podia ouvir algum barulho de tiro e com isso distinguir se estavam perto ou não. Nada! Não se ouvia absolutamente nada. Como não sabia de onde tinha vindo o anterior resolveu então voltar para o carro e ir embora. Quando escutou vozes que pelo jeito vinham em sua direção.

Tom ficou olhando enquanto sua vizinha ia embora. Se antes ele já achava que havia feito um excelente negócio ao comprar aquele rancho, imagina agora que descobriu que seria vizinho daquela “fera”. Pensou sorrindo. Ela tinha uma beleza natural, nada de produzido por maquiagem ou coisas do tipo. Seus cabelos castanhos claros e sua pele bronzeada combinavam perfeitamente com os olhos cor de mel. Tirando o belo corpo perfeito que ela tinha, que apesar de não ser muito alta estava tudo nos devidos lugares. Tom desviou o olhar e mais uma vez se concentrou na casa que estava a sua frente. “Isso vai dar trabalho”. Pensou ele entrando nela. Era a primeira vez que entrava ali sozinho, antes só tinha entrado com o antigo proprietário. Como será que o ex dono daquele lugar conseguia viver ali? Pois estava tudo caindo


De repente não sabia o que fazer, iria embora ou ficaria e falaria com as pessoas responsáveis? Optou pela segunda opção, não iria embora coisa nenhuma e ficaria só para poder olhar na cara de quem estava fazendo algo tão terrível. Não demorou muito e logo saíram dois homens carregando com eles algumas armas penduradas em seus ombros. Ao ver aquilo, Sabrina sentiu o sangue esquentar em suas veias e até esqueceu de seu receio em ficar ali. Os homens a olharam com um olhar de desconfiança ao vê-la parada ali olhando para eles. Um olhava para o outro cada um esperando alguém falar alguma coisa. Sabrina foi a primeira a abrir a boca.  Por acaso foram vocês que estavam dando alguns tiros agora há pouco? Perguntou ela.  Por que você quer saber? Por acaso você é algum guarda florestal? Disse ele rindo.  Infelizmente não. Mas não preciso ser da polícia para me preocupar com o bem estar dos animais você não acha? Disse encarando ele.  Olha moça. Falou ele coçando a barba.  Eu não sei quem você é e nem quero saber porque pelo o que eu saiba não é proibido dar alguns tiros na floresta mesmo porque ela não tem dono.  E também sei que aqui não tem lei nenhuma que me proíba de caçar, então porque você não entra no seu carro e vai embora?  Só se você estiver preocupada também com o meu bem estar, aí nós podemos resolver isso agora. Falou ele cinicamente. Sabrina ia responder a altura, mas depois de sentir um cheiro horrível de bebida alcoólica vindo do tal sujeito, resolveu seguir o conselho dele e de mansinho entrou no carro e saiu dali sentindo muita raiva. “Cafajeste”. Pensou ela irritada ao imaginar que mais um animal havia sido abatido e nenhuma providência seria tomada. Como se sentia impotente em relação aos caçadores da região, odiava não poder fazer nada para ajudar os animais. Ela não tinha nada contra a caça, mas desde que seja feita de acordo com as normas de sobrevivência ou seja, “só abater em caso de necessidade de sustentar a família ou para se defender de uma fera”. É lógico que essas leis não existiam ali. Mas era quase que um costume entre as pessoas de bom senso saber que nunca

deveriam caçar algum animal só pelo prazer de matar, porque para ela, isso era um crime praticado como em um qualquer ser humano. Só porque eram animais ninguém tem direito de tirar a vida deles, ao seu entender eles eram um ser vivo como qualquer outro, seja com dois pés ou quatro patas. Com esses pensamentos em mente quase passou do rancho que teria que atender sua paciente, deu meia volta na estrada e entrou em uma porteira seguindo reto por uma estradinha de terra parando logo em seguida em frente a uma casinha muito bonita por sinal. Sabrina desceu da sua caminhonete e logo foi atendida por uma jovem que vinha em seu encontro com um largo sorriso.  Ainda bem que você chegou, eu já não sabia mais o que fazer com todos esses filhotes chorando com fome. Disse a moça pegando em sua mão e a arrastando para o fundo da casa. Sabrina deu um pequeno sorriso ao ver a preocupação estampada no rosto de Débora. Ela era dona de uma pastora que havia dado cria a quatro lindos filhotes e pelo jeito a nova mamãe não estava conseguindo amamentar os pequenos, fazendo com que eles grunhissem de fome. Era bom quando via essa preocupação no rosto das pessoas, pois era sinal de que eles realmente se importavam com algo e no caso dela tava na cara o quanto ela gostava de seus animais. Sabrina chegou devagar para não assustar a nova mamãe e aos poucos foi fazendo carinho em sua cabeça fazendo com que ela relaxasse para que ela pudesse examiná-la e ver qual era o motivo de não estar alimentando os filhotes. Muitas vezes as fêmeas passam por momentos de estresse na gravidez e podem fazer com que elas tenham uma certa dificuldade ao amamentar, mas tudo era resolvido com alguns remédios e logo ela estaria amamentando os filhotes normalmente. Deu uma dose de remédio para ela e voltou sua atenção aos filhotes, mesmo não estando sendo amamentados pela mãe, eles estavam gordinhos e espertos para os primeiros cinco dias de vida. Sabrina olhou um por um e ficou feliz em ver que estavam todos bem. “Como alguém podia maltratar essas coisas tão lindas”? Pensou ela ao colocar o último dentro de uma caixa.  Não se preocupe Débora. Os filhotes estão bem e logo a mãe irá alimentá-los, eu dei


um remédio para que possa ajudá-la a relaxar e assim vai liberar o leite para os filhotes. Disse ela arrumando as coisas dentro de sua maleta.  Bom, deixa-me ir andando que ainda tenho outro paciente para atender. Continua dando as mamadeiras para eles, mas fica tranqüila que até a noite o remédio já estará fazendo efeito.  Ah que bom. Falou Débora aliviada.  Como estão as coisas lá no rancho Sabrina?  Bem. Por enquanto está dando para tomar conta de tudo, afinal Jack é uma mão na roda.  É verdade que você tem um novo vizinho?  Sim, é verdade. Falou ela pensando em Tom e sorrindo pelos acontecimentos daquela manhã.  Um! Pelo jeito você já o conheceu não é? Sabrina afastou seus pensamentos ao ouvir o comentário de Débora.  Porque você acha isso?  Pela cara de satisfação que você fez.  Não é nada disso Débora. Respondeu rápido para desfazer o mal entendido.  Não em? Não precisa ficar com vergonha Sabrina, afinal você é solteira e já está mais do que na hora de você namorar não acha? Sabrina respirou fundo, não agüentava mais todos darem palpite em sua vida amorosa, por isso ás vezes pensava seriamente em se mudar para cidade grande onde ninguém se metia na vida de ninguém.  Bom, deixa-me ir se não chego atrasada no meu paciente. Disse ela saindo de fininho.  Você ficou chateada não foi?  Não! Não é nada disso Débora. É que quando estava vindo para cá me deparei com uns idiotas dando uns tiros na floresta e isso me deixou muito aborrecida.  Eu não acredito! Mas será que ninguém vai fazer nada para controlar esses desordeiros? Falou ela indignada.  Quem poderia fazer algo é a polícia, mas infelizmente eles não se preocupam com isso. Eu acho que eu vou ter que dar um jeito nessa situação.  Cuidado Sabrina! A maioria deles são barra pesada.  É, eu sei disso. Hoje eu enfrentei um deles.  Você o que? Perguntou Débora perplexa.

 Calma! Eu só falei com eles, só isso.  Sabrina tenha cuidado sim? Ainda mais você morando sozinha naquele rancho.  Não se preocupe que eu sei me cuidar.  Tomara que sim.  Tchau Débora, qualquer coisa é só me ligar que eu venho aqui ok? Disse ela entrando no carro.  Muito obrigada Sam, mas eu acho que hoje vou dormir sossegada.  Tomara que sim. Falou indo embora. Sabrina ficou pensando na conversa que teve com os caçadores e só agora é que sentiu que realmente ela era totalmente inofensiva para eles. Afinal ela era uma mulher de um metro e meio de altura, quem iria ter medo dela? Tom resolveu ir até a cidade se hospedar em algum hotel porque achava que não seria seguro dormir no rancho. Afinal as portas e algumas janelas estavam caindo e não seria de admirar que algum animal entrasse ali para lhe fazer companhia. E por pensar em animal, sorriu ao se lembrar da risada de Sabrina ao saber que aquele bendito coiote tinha o seu nome. Será que era bendito ou sortudo aquele coiote, pois parecia que Sabrina gostava muito dele, só de imaginar ela fazendo carinho nele sentiu ficar arrepiado. O que será que aquele filhote tinha feito para merecer os carinhos dela? Perguntaria para ele assim que o encontrasse de novo, se não levasse uma mordida antes. Sabrina chegou em casa mais cedo do que imaginava, não demorou muito em atender o paciente e logo já estava em casa tomando um delicioso suco de manga que deixara pronto naquela manhã. Como adorava chegar em casa e poder tomar um delicioso suco de frutas que ela tinha o prazer de colher de seu pomar. Sentada em sua cozinha, pensava em uma maneira de conscientizar as pessoas em relação aos animais e até mesmo da natureza. Não conseguia entender como existiam pessoas tão maldosas em relação a essa questão do meio ambiente. Sim! Era uma questão de meio ambiente, pois se continuassem a caçar animais a torto e a direito logo estariam mexendo com a natureza e assim colocando alguns animais em extinção.


E ali ficou quase que a tarde inteira buscando uma alternativa para resolver aquela questão. Tom alugou um quarto no hotel para poder ficar por pelo menos alguns dias, até que estivesse mais seguro dormir no rancho. O ruim disso era que ele teria que ir e vir todos os dias do rancho até a cidade, mas fazer o que? Por isso resolveu que começaria primeiro pelas portas e janelas para depois terminar o restante. Ficou pensando no que faria no restante da tarde que ainda tinha pela frente, afinal não teria muito que fazer naquele dia. Resolveu então que já estava mais do que na hora de saber onde exatamente Sabrina morava. Sabrina estava revisando algumas fichas em seu escritório quando Jack entrou e disse que tinha um sujeito querendo conversar com ela. “Sujeito”? Pensou ela. Pelo jeito não era ninguém conhecido, ela soube disso pela maneira que Jack falou com ela. Resolveu então sair para ver o tal sujeito e sem querer admitir, sentiu um enorme prazer ao ser recebida por Tom com um agradável sorriso no rosto. “Então é aqui que a fera mora”? Pensou ele sorrindo e admirando o local, só desviou a atenção quando Sabrina apareceu na frente dele. “Como ela era linda”. Admirou ele dando um largo sorriso.  Boa tarde. Falou ele ainda sorrindo.  Para você também. Respondeu ela encabulada pelo sorriso dele.  Nossa! Estou admirado com tudo isso. Falou ele olhando ao redor. Sabrina não respondeu nada, só ficou o observando enquanto ainda admirava a sua propriedade. Ela não sabia porque, mas Tom conseguia despertar nela sentimentos que até antes achava que estavam adormecidos ou esquecidos e estava achando aquilo realmente muito perigoso. Mas resolveu deixar de lado tais pensamentos e dar atenção há seu vizinho, pois ele parecia mesmo estar impressionado pelo local. Não que ela já não tinha visto aquele olhar de surpresa no rosto de outras tantas pessoas que já estivera ali, mas é que com Tom

era diferente, estava gostando de ver isso no rosto dele. Resolveu então mostrar melhor a propriedade para ele.  Venha que eu vou te mostrar o restante do rancho. Falou ela tirando ele de seu encanto. Tom aceitou de bom grado quando ela se ofereceu para lhe mostrar o restante de suas terras, talvez com o tempo ele pudesse apagar a má impressão que ela teve dele logo que se conheceram. Pensou sorrindo mais uma vez ao se lembrar daquela cena. Sabrina caminhou com ele e lhe respondeu tudo o que lhe era perguntado, ele parecia mesmo encantado com aquilo tudo. “ Assim como eu”. Pensou encabulada. Tom realmente estava gostando de tudo ali. Mas também quem em sã consciência não gostaria de um lugar daquele? Tudo era perfeito. O curral, o celeiro todo arrumado com suas ferramentas em seus devidos lugares, o pomar onde estavam plantadas muitas arvores frutíferas e o local que ele mais gostou. O lago. Era de tirar o fôlego. Um pequeno lago onde podia ver o reflexo do sol em suas águas cristalinas rodeado por uma espécie de jardim todo florido. Ele tinha a impressão de estar vendo um daqueles calendários de folhinhas de começo de ano. Tom não conseguia se mover, ficou respirando aquele ar puro sentindo o vento brincar com seus cabelos. Ao se virar para olhar para Sabrina seus olhares se encontraram no mesmo instante, parecia até que haviam combinado e ele pode ter certeza que se aquilo não fosse o paraíso estava bem próximo dele. Agora poderia afirmar que havia encontrado o que veio buscar ali, paz e sossego e talvez até um grande amor, quem sabe. Pensou ele encabulado por aquelas quatro palavrinhas que até um tempo atrás havia jurado tirar de seu vocabulário. Sabrina não se cansava de admirar aquela paisagem á sua frente, mas o que mais a deixou encantada mesmo foi á atitude de Tom, pois todas as pessoas que estiveram ali um dia, pareciam não entenderem o significado daquele gesto maravilhoso da


natureza ao brindar a humanidade com aquele espetáculo todo. Toda vez em que se sentia amargurada com o barulho de algum tiro que ecoava em seus ouvidos em sinal de que algum animal estava sendo abatido ou com as lembranças de sua triste história de noivado mal sucedida, mas enfim todas ás vezes em que se sentia triste, era só vir até ali que se sentia revigorada por completo. E tinha a impressão que Tom sentia a mesma coisa.  Impressionante! Falou ele olhando para ela.  È quase mágico. Ela não disse nada, apenas sorriu para ele.  Esse lugar deve ser mesmo mágico. Continuou ele. Afinal, eu ainda não tinha visto um sorriso desse seu desde quando eu a conheci.  Se eu me lembro bem, eu não tive muitos motivos para lhe sorrir, você não concorda?  Sim. Eu tenho que concordar que eu possa ter passado uma imagem negativa de mim, mas você também não foi lá muito receptiva não é mesmo?  Poupe-me de seus comentários machistas está bem. Disse ela já sentindo uma crescente raiva surgindo dentro dela.  Calma! Não precisa ficar nervosa. Defendeu-se ele.  O que estou querendo dizer é que ambos não tiveram uma boa impressão, você não acha?  Pode se dizer que sim. Respondeu ela.  Bom. Então vamos começar da maneira certa dessa vez. Disse ele.  Olá! O meu nome é Thomas, mas pode me chamar de Tom. Eu sou seu mais novo e sortudo vizinho. Falou lhe estendendo a mão sorrindo. Sabrina olhou para sua mão ressabiada com seu gesto, ele estava sendo muito simpático e ela não estava gostando nada disso. Mas resolveu lhe dar uma chance, afinal o que poderia acontecer de mal em ser amiga de seu vizinho? Mesmo ele sendo “um pedaço de mau caminho”, que era como sua irmã costumava falar.  Olá! Eu me chamo Sabrina e ainda não sei se serei sortuda em ser sua vizinha, só o tempo é que dirá. Falou ela retribuindo o aperto de mão se sentindo bem ao ser tocada por ele.

 Isso você pode deixar comigo, que se depender de mim você vai adorar cada minuto em ser minha vizinha. Falou ele sorrindo. Sabrina não falou nada, ficou encarando ele e nem percebeu que nenhum dos dois havia soltado as mãos estando elas ainda se tocando fazendo com que sentisse um pequeno calafrio pelo corpo. Tom não poderia ter imaginado lugar melhor para começar um relacionamento com alguém. Será que Sabrina tinha idéia de quanto ela estava linda naquela luz do dia? Os raios do sol batiam em seus cabelos que mais pareciam fios de luzes brilhando juntamente com o vento que despenteava seu pequeno coque fazendo com que eles caíssem em seu ombro. Ele lutou contra a vontade de ajeitá-los para ela, mas se conteve porque sabia que não iria conseguir com que as mãos ficassem somente nos cabelos. Sem que percebessem foram aos poucos se aproximando como se tivesse entre eles um imã poderoso que os atraia e quando seus lábios estavam quase se tocando, ouviram alguém chamando por Sabrina. Como que saindo de um transe, Sabrina ouviu Tom resmungar algo e se virou em direção á voz soltando a mão no mesmo instante.  A sua irmã está no telefone querendo lhe falar. Gritou Jack.  Eu já estou indo. Falou ela se refazendo. Quando olhou para Tom, percebeu que ele olhava em direção ao lago e falou:  Eu tenho que ir. Falou receosa.  Tudo bem. Disse ele desanimado sentindo que o encanto havia acabado. Sabrina deu meia volta e começou a fazer o caminho de volta sendo seguida por ele. Os dois não disseram nada, cada um perdido em seus pensamentos. Quando chegaram na casa de Sabrina ela resolveu lhe convidar a entrar.  Obrigado. Mas fica para uma outra hora, pois tenho muito trabalho pela frente. Falou ele se afastando.  Tudo bem então. Disse ela entrando. “Mas o que foi aquilo”? Perguntou Sabrina a ela mesma. “O que será que tinha dado nela para quase deixar que ele a beijasse”? Pensava esquecendo por completo que sua irmã estava ao telefone. Sentou na cadeira e respirou fundo.


Será que aquele local era mesmo mágico? Talvez, pois essa era a única explicação de tal fato quase ter ocorrido. “Como será que era sentir os lábios dele nos seus”? Pensou ela não gostando do rumo de seus pensamentos. Ainda bem que Jack chegou na hora, se não só Deus sabe o que poderia ter acontecido, pois já fazia tanto tempo...E por falar em Jack, Sabrina correu e pegou o telefone se lembrando da irmã.  Alo. Isa? Desculpe-me a demora, é que eu estava um pouco longe da casa. Desculpouse ela.  Não tem problema Sam, eu sei que você tem muito trabalho por aí.  E então? Qual o motivo de sua ilustre ligação? Quis saber Sabrina tentando afastar os pensamentos de Tom.  Só estou ligando para saber como você está. Falou Isa.  Eu estou bem Isa, não precisa se preocupar comigo. Eu sim que devo me preocupar com você vivendo aí nessa selva de pedra.  Até parece Sabrina! Exclamou Isa escandalizada. Onde já se viu achar que está mais segura aí nesse meio do mato do que aqui no conforto da cidade grande? Você só pode estar ficando maluca. Sabrina riu do exagero da irmã, vez em quando gostava de provocá-la.  Mas não precisa se preocupar Isa, pois aqui eu tenho tudo do bom e do melhor como você tem aí na cidade. Aliás, eu tenho tudo o que quero bem pertinho de mim e não preciso andar muito para isso.  Eu sei desse papo todo Sam, de como tudo aí é muito natural e sem conservantes. Mas o que você precisa mesmo é de um belo namorado que possa desfrutar de tudo isso com você, você não concorda comigo?  Eu não estou com pressa nenhuma para arrumar namorado Isa, mas que mania que todos tem de ficar se metendo na minha vida amorosa. Reclamou ela se lembrando de sua conversa com Débora a dona da cachorra que não conseguia amamentar os filhotes.  Todos? Riu Isa. Então quer dizer que eu não sou a única a achar que você está perdendo tempo aí nesse mato?  Para minha sorte não, você não é a única. Mas o que a Débora me aconselha sempre é de arrumar um namorado por aqui mesmo, afinal por aqui também tem uns pedaços de mau caminho.  Deus me livre Sabrina, namorar um caipira ninguém merece. Você tem que vir

passar uns dias comigo, aí sim você vai ver o que é pedaço de mau caminho.  Muito obrigada, mas se você não se lembra eu já provei um desses aí e não deu muito certo, lembra?  O Bryan era um babaca que não soube te dar valor e você não pode culpar todos só por causa dele sabia?  Eu sei disso Isa! Mas no momento tudo o que eu quero é desfrutar da minha paz de espírito que encontrei aqui e quem sabe mais para frente eu possa dar mais uma chance de alguém me provar que estou errada em relação aos homens.  Eu estou te falando Sam, nem todos os homens são como o Bryan. Sua cara metade está por aí e quando você achá-lo, por favor abra seu coração para que você possa ser feliz.  Nossa Isa! Quem ouve você falar desse jeito vai achar que eu sou alguma solteirona velha que está morrendo de vontade de casar.  E por falar em casar, você vive me atormentando com minha vida amorosa que eu até esqueço que você também deveria ter uma, não é?  Deveria e tenho. Minha vida amorosa anda muita bem, obrigada. Disse ela sorrindo.  Sabrina. Desculpe-me por ficar te infernizando com esse assunto, mas é que eu acho que você teria mais chances de encontrar alguém aqui do que aí nesse fim de mundo.  Aí é que você se engana. Disse ela se arrependendo em seguida.  Epa! Será que ouvi direito o que você disse? Sabrina ficou muda. Não sabia como tinha saído aquelas palavras de sua boca, agora teria que dar uma explicação para sua irmã não importa qual.  O que eu quis dizer foi que aqui também tem uns rapazes interessantes só isso. Mentiu ela rezando para a irmã acreditar. Isa ficou quieta por um instante como que processando aquela informação, mas logo disse:  Pelo amor de Deus Sabrina, me prometa que se você for se envolver com algum caipira daí tenha cautela para não encontrar mais um machista mandão está bem? Aconselhou Isa.  Pode ficar tranqüila porque já estou vacinada contra esse tipo de homem. Conversaram por mais algum tempo até que Isa desligou alegando que já estava atrasada para o trabalho. Já estava com alguns dias que não se viam desde aquele episódio.


Tom estava em seu rancho sentado no chão da varanda esperando as entregas que estavam marcadas para aquele dia. Mas não estava preocupado com isso. Sua cabeça estava focada em um outro rancho, especificamente em uma linda e pequena mulher que estava fazendo surgir sentimentos que achava que demoraria um pouco para voltar a sentir. Fechando os olhos, ainda podia se lembrar da cena que não conseguia tirar da cabeça. Os cabelos dela desarrumados pelo vento, o sol fazendo com que eles parecessem fios de ouro e a boca dela próxima a sua que quase podia sentir o gosto daqueles lábios vermelhos e carnudos esperando pelos dele. “Porque diabos ele não a beijou de imediato”? Pensou ele abrindo os olhos com raiva. Agora estava ali, totalmente sem rumo sentado num chão sujo de poeira, morrendo de desejo pela sua mais nova vizinha que teimava em desafia-lo e com isso deixando-o mais interessado ainda em domar aquela fera. Mas prometeu a si mesmo que quando surgisse outra oportunidade ele não esperaria muito para capturar aqueles lábios e provaria deles até matar sua sede de beijá-la. “Mas o que estava acontecendo com ele afinal”? “Onde estava aquele rapaz que saiu da cidade grande para buscar refúgio em um lugar calmo e assim refazer sua vida”? Mas ele não contava que encontraria ali não só a paz que tanto viera buscar, mas também um grande amor. Quando deu por si, notou que estava sendo “vigiado” por um pequeno animal que o olhava cauteloso e era nada menos que seu xará, o coiote Tom. Decidido a ganhar a confiança dele, Tom fazendo um gesto com as mãos foi se ajoelhando e chamando ele pelo nome até chegar perto o suficiente para lhe fazer um pequeno carinho em sua pequena cabeça. Realmente Sabrina tinha razão ao afirmar que ele era apenas um filhote que estava em busca de carinho e proteção. “Assim como eu”. Pensou sorrindo. Naquela tarde, Sabrina não tinha muito que fazer. Geralmente nadaria um pouco no lago, passaria no pomar e apanharia alguma fruta para fazer um delicioso suco para saborear mais tarde geladinho. Mas aquele dia estava sendo diferente e ela sabia porque.

Essa mudança toda tinha sido provocada pelo simples fato de quase ter beijado seu vizinho. E agora? Com que cara iria olhar para ele? Perguntava-se ela. Então de repente decidiu colocar os pingos nos is e foi explicar para ele que aquilo não poderia se repetir jamais, afinal eles seriam vizinhos e nada pior do que você ter algum problema com vizinho, seja de amizade ou de sentimentalismo. Montou em seu cavalo e saiu galopando pela estrada de terra saindo de seu rancho e indo direto pelo caminho que dava acesso ao rancho dele. Assim que chegou ficou tensa ao ouvir gritos. Parou seu cavalo para que pudesse escutar direito o que estava acontecendo, pelo que dava para ouvir era a voz de Tom que gritava para alguém parar de fazer alguma coisa. Desceu de seu cavalo correndo, pegou um pedaço de pau que estava junto com outros e correu para o fundo da casa para tentar “salvá-lo”. Qual não foi sua surpresa ao ver Tom o coiote em cima de Tom seu vizinho, os dois pareciam estar travando uma luta corporal. Na mesma hora ela gritou:  Para Tom! Não faça isso. Gritou temendo por seu vizinho. Para sua surpresa, os dois pararam na hora o que estavam fazendo e olharam para ela. O coiote então correu em sua direção em busca de carinho, deixando Sabrina lançar um olhar furioso para Tom.  Há! Disse Tom se levantando. Seu puxa saco. Falou ele tirando a terra de sua roupa.  Você não tem vergonha de pedir socorro para ela não? Seja macho e venha terminar o que você começou. Disse ele provocando o coiote. Sabrina ia abrir a boca para protestar, mas ficou paralisada ao ver que o coiote pulou em cima de Tom, mas em vez de morde-lo ele estava brincando com ele. “Homens”. Pensou ela. “Até você Tom”? Pensou olhando o coiote se divertindo com Tom. Soltou o pau que ainda segurava e cruzou os braços esperando que eles acabassem aquela “guerra” e notassem que ela estava ali. “Traidor”. Pensou ela olhando para o pequeno coiote. Mas por mais que estivesse se sentindo traída, tinha que dar o braço a torcer que


estava muito contente que eles estavam se dando bem, isso só podia confirmar uma coisa. Que Tom também gostava de animais. Agora ela estava imaginando se realmente não tinha tido uma má impressão de quando o conheceu, só de vê-lo ali deitado no chão brincando com um coiote já estava mudando a linha de seus pensamentos em relação á ele e também de seu coração. Assim que pararam a brincadeira, Tom o coiote foi beber um pouco de água e descansar um pouco e nesse meio tempo Tom seu vizinho se limpava mais uma vez de toda aquela terra que estava sobre ele. Ele se debatia todo. O cabelo estava todo desarrumado, a camisa para fora da calça, mas o melhor estava por vir quando ele tirou a camisa para tirar a poeira que havia nela. Sabrina até que ia dizer algo, mas ao vêlo sem camisa perdeu a fala. O peito dele estava todo coberto de terra misturado com os densos pelos castanhos, a pele bronzeada mostrava que ele gostava de tomar muito sol, combinando perfeitamente com a cor de seus cabelos castanhos. Ficou ali um bom tempo admirando aquele corpo esbelto e só parou quando ouviu ser chamada por alguém.  O que? Disse ela gaguejando.  Será que dá para você limpar as minhas costas? Pedia ele lhe entregando a camisa.  Claro. Disse ela. Assim que ele virou, ela começou a limpá-lo lentamente até que toda terra fosse tirada. Quando sentiu que ela havia parado, ele se virou para pegar a camisa de suas mãos e quando sua mão encostou na dela, pode sentir todo desejo de antes voltar com tudo. Mas antes que pudesse falar ou fazer alguma coisa ele escutou ela dizendo:  Olha! Eu vim aqui lhe dizer que o que aconteceu naquele dia não poderá se repetir nunca mais. Ela precisou juntar toda a sua força para fazer com que sua boca se abrisse e dissesse aquelas palavras.  E o que aconteceu naquele dia? Perguntou ele sério.  O fato de quase termos nos beijado. Falou ela gaguejando. Ela não sabia porque, mas não conseguia se mover do lugar. Era como se algo a prendesse perto dele.  Nisso você tem toda razão. Falou ele se aproximando dela.

 O fato de eu não ter te beijado não poderá se repetir nunca mais. Dizendo isso ele capturou seus lábios em um longo beijo. Ele a puxou pela cintura se curvando sobre ela fazendo-a perder o fôlego com um beijo apaixonado. Sabrina não sabia o que fazer e antes mesmo que seu cérebro desse alguma ordem, seu corpo parecia que tinha vida própria, pois o entrelaçou pela nuca puxando-o mais para junto de si fazendo com que ele aprofundasse mais o beijo. O beijo não durou muito, pois Tom sentiu que alguma coisa o estava puxando na barra da calça. Foi só então que se lembrou do coiote. Lentamente foi soltando Sabrina para que pudesse dar atenção ao pequeno, pois ele já estava começando a mordê-lo de verdade.  Ai! Disse ele olhando para o chão deixando Sabrina confusa.  Mas o que foi? Perguntou ela olhando para ele sem entender nada.  É esse ciumento que não me deixa beijá-la. Falou ele olhando para ela fazendo sinal para que ela o seguisse com o olhar. Foi só então que Sabrina entendeu o que se passava, Tom o coiote, puxava Tom pela barra da calça fazendo com que ele se afastasse de Sabrina. Ela não sabia se ficava triste ou contente com a atitude do pequeno “traidor”. Se antes ela não sabia como olharia para ele antes de terem se beijado, imagina agora que praticamente se jogou nos braços dele. Aproveitou para se recompor e dar um jeito de resolver aquela situação. “Mas que droga”. Pensava. Depois de muito tempo não sabia o que dizer ou fazer. Tom sentiu o desconforto que havia entre eles só de olhar para ela, mas decidiu não deixar que nada atrapalhasse o que tinha conseguido até agora. Sendo assim, parou de dar atenção ao coiote e se aproximou de Sabrina.  Você está bem? Sabrina não sabia o que responder, realmente não sabia identificar o que sentia naquele momento.  Olha! Eu sei que não tivemos um bom começo, mas me deixa te mostrar que sou uma pessoa totalmente diferente daquele dia. Sabrina resolveu acabar logo com aquela situação e disse:  Olha Tom. Eu tenho certeza que você deve ser um bom rapaz, mas no momento não


estou a fim de ter nenhum relacionamento com ninguém.  Calma! Disse ele se defendendo. Eu não estou pedindo para você se casar comigo, simplesmente estou te pedindo para não me evitar por causa do que houve agora pouco e quanto ao relacionamento, sinceramente acho que você está perdendo tempo se não ficar comigo...Brincadeira.... Disse ele sorrindo para quebrar o gelo.  Mas você é muito presunçoso sabia? Falou ela mais aliviada. Os dois riram da situação, mas logo ficaram sérios de novo. Tom a olhava tentando decifrar o que se passava em sua cabeça. Ela parecia indecisa em aceitar ter um relacionamento com ele, então antes que ela pudesse falar alguma coisa ele se adiantou e disse:  Eu posso te pedir um favor? Falou ele.  Claro que sim. Respondeu ela ainda meio avoada.  Não deixe o que aconteceu entre nós estrague a nossa amizade...  Amizade? E desde quando nós somos amigos?  Bom! Se vamos ser vizinhos, nada melhor do que sermos amigos você não acha? Perguntou ele torcendo para ela acreditar em sua versão. Sabrina não estava acreditando muito naquele papo furado, mas no momento achou melhor concordar porque também não teria o que dizer no momento, pois seus pensamentos estavam fora de controle.  Sim, você tem razão.  Que bom que você também acha. Respondeu ele soltando um leve suspiro.  Bom, é melhor voltar para casa, pois estou vendo que você tem muito trabalho pela frente.  E como! Disse ele. Mas devagar eu chego lá. Sabrina tinha certeza que ele não estava falando sobre a reforma, resolveu ficar quieta, pois era mais seguro. Virou nos calcanhares e devagar foi se afastando sem olhar para trás. Tom a observava enquanto ela se afastava, ele também não estava a fim de ter um relacionamento com ninguém, mas logo no primeiro encontro dos dois pode sentir uma atração por ela que nem mesmo ele entendia. “Como uma pessoa podia mexer com os sentimentos de outra assim tão de repente?” Se perguntava ele.

 Será que ela é alguma feiticeira? Falou Tom olhando para o coiote. O coiote grunhiu algo como se estivesse lhe dando uma resposta e logo tratou de correr atrás de alguns pássaros que estavam pelo quintal. Sabrina chegou em casa e logo Jack veio ao seu encontro com uma desagradável notícia.  Ainda bem que a senhora chegou patroa. Disse ele. Ela nem se importou muito pelo fato dele tê-la chamado de senhora, pois sua preocupação era visível no momento.  O que foi que houve Jack? Quis saber ela preocupada.  O senhor Nelson ligou e pediu que você fosse o mais rápido possível até o sítio dele, parece que um de seus animais está muito mal e ele precisa de você.  Eu já estou indo para lá, só vou pegar minha maleta de primeiros socorros.  Pode ficar tranqüila que já coloquei tudo dentro da sua camionete. Disse Jack.  Muito obrigada Jack. Falou Sabrina entrando no veículo. Saiu apressada pela estrada fazendo levantar uma poeira enorme atrás dela. “Mas o que será que havia acontecido”? Perguntava-se preocupada. Sabrina sentia muita tristeza ao saber que havia algum animal precisando de ajuda e fazia de tudo para ajudar. Algumas vezes nem mesmo recebia pelos seus serviços, pois tinha alguns casos em que os donos de seus pacientes não tinham dinheiro suficiente para lhe pagar, mas mesmo assim cada vez que conseguia curar um animal ela se sentia recompensada, nada que dinheiro no mundo podia comprar. Assim que chegou ao sítio, desceu do carro e foi recebida por um senhor de meia idade.  Ainda bem que a senhora chegou. Disse ele andando para o fundo da casa.  Afinal o que houve? Quis saber ela.  É o potro de minha filha. Nós o soltamos como fazemos todos os dias para que ele dar uma volta por aí e depois de meia hora ouvimos uns estampidos de tiros vindo da floresta e ficamos preocupados.  Começamos a chamá-lo com medo de que ele estivesse na floresta e logo depois ele apareceu cambaleando. Falava o velho com os olhos lacrimejantes.  Eu não entendo. Como uma pessoa pode ser tão mal assim?


Sabrina nada respondeu, pois na hora sentia uma revolta enorme dentro dela. “Ordinários” Pensava ela. Como a polícia não conseguia achar quem estava fazendo aquilo? Teria que ter uma conversa definitiva com o xerife, pois isso não podia continuar, ela não iria permitir. Quando chegou até o local, pode constatar que o pequeno potro já estava se cansando de lutar pela vida. Seus olhos já estavam opacos, quase não conseguia se mexer, nem mesmo quando Sabrina apalpou sua barriga em busca de alguma bala que podia estar alojada.  Calma! Disse afagando a cabeça do animal que a olhava pedindo por socorro.  Eu vou fazer de tudo para você ficar bem. Abriu sua maleta, pegou uma injeção e aplicou um pouco de anestesia no local para que pudesse aliviar um pouco a dor e logo depois já estava fazendo uma limpeza e um curativo no pequeno potro, mesmo porque não tinha vestígio algum de bala. Deu-lhe um antibiótico e constatou que ele já dormia. Só depois de tudo é que pode notar que toda a família estava reunida em sua volta, todos com lágrimas nos olhos. Sentou no chão e ficou a admirar aquela cena. As crianças afagavam a cabeça do animal enquanto os pais abraçados observavam os filhos. Sabrina sentiu as lágrimas lhe queimar os olhos de emoção. Às vezes achava que devia largar aquela profissão porque apesar de adorar ajudar com algum nascimento, às vezes tinha aquela parte ruim de não conseguir salvar uma vida e esperava sinceramente que não seria aquele caso, pois ela mesma já estava sofrendo. Não é que não sabia lidar com a morte, mesmo porque a profissão que escolhera tinha que aceitar que isso era algo que podia acontecer a qualquer um, seja humano ou animal, mas não conseguia aceitar o fato de alguém tirar uma vida de propósito e ainda mais de alguém que não podia se defender. Com esses pensamentos foi sentindo uma raiva enorme crescer por dentro dela que até mesmo seus olhos secaram as lágrimas que teimavam em rolar por sua face. Já era tarde quando Sabrina chegou em casa, estava exausta.

Abriu a geladeira em busca de algo para comer e só então lembrou que deveria ter ido ao mercado fazer compras. Ficou ali admirando as garrafas de água e um pedaço de pizza que já devia ter sido jogado fora . Respirou fundo e fechou a geladeira se jogando em seguida em uma cadeira, deitou a cabeça nos braços e ali ficou. Tom olhava a cena admirando Sabrina que mais parecia uma menininha debruçada na mesa. É lógico que de menina ela não tinha nada e ele já tinha comprovado isso. Afastou tais pensamentos com medo de assusta-la novamente.  Boa noite. Disse ele baixinho. Sabrina deu um pulo da cadeira se assustando com ele. Seu coração parecia que iria sair pela boca, mas ela não sabia se era pelo susto ou pela presença dele.  Nossa que susto! Disse ela colocando a mão sobre o peito.  Desculpe-me. Falou ele tentando disfarçar a vontade que tinha de beijá-la no momento.  Não está meio tarde para uma visita? Disse ela levantando para tomar água.  Sim, eu acho que sim. Sabrina parou de tomar água e ficou a observá-lo para ver se era realmente verdade o que ele dizia, pois ele perecia meio perdido. Os dois ficaram se encarando por um breve momento. Tom imaginava o que ela faria se ele falasse o que realmente ele estava fazendo ali, pois nem ele mesmo sabia. A única coisa que tinha certeza era que quando estava indo embora sem que ela percebesse cruzou com ele pelo caminho e assim que ele a viu sentiu que não iria conseguir dormir sossegado se não falasse com ela, mesmo que só para ouvir algum tipo de desaforo da parte dela e lógico que ele também estava preocupado com o som que tinha ouvido naquele dia.  Olha! Eu acho melhor ir embora. Disse ele já saindo de sua cozinha.  Espera! Falou ela. Tom parou onde estava e voltou sua atenção para ela.  Desculpe-me a recepção. Disse ela cansada. Mas é que você me pegou em um dia ruim.  Dia ruim? Perguntou curioso.  Há algo que eu possa fazer para te ajudar? Continuou ele.


 Não, obrigada. Disse passando as mãos pelos olhos.  Nossa! Pelo jeito o dia foi ruim mesmo em?  E como! Falou ela lentamente. Sem que ela percebesse, ele entrou na cozinha e se instalou logo atrás dela. Com cuidado colocou suas mãos em seus ombros e começou uma pequena massagem. Sabrina levou um pequeno susto mas não conseguiu demonstrar nenhuma reação, tudo o que conseguiu dizer foi um pequeno sussurro que escapou de seus lábios. Fechou os olhos e respirou profundamente se sentindo relaxar aos poucos. Tom adorou o fato dela não ter recusado a sua massagem e ao mesmo tempo se sentia traído. Como ele poderia tirar as mãos dela depois? E ainda mais ela gemendo daquele jeito? Tratou de desviar seus pensamentos, mas não conseguia pensar em nada além de pegá-la nos braços e beija-la até acabar com aquela louca vontade que tinha em mais uma vez deixa-la sem ar. Sabrina sabia que devia pedir para que ele parasse com aquela massagem, mas no momento todo seu corpo ia contra sua vontade parecendo que tinha vida própria e fazia o que ela menos esperava. Sendo assim, resolveu aproveitar e fazer o que seu corpo tanto queria, deixaria para pensar mais tarde pois o que mais importava agora era o fato de ter aquelas mãos macias em volta de seu pescoço fazendo seu corpo se arrepiar levemente. Aos poucos Tom foi aumentando o caminho pelo corpo dela com as mãos, hora deslizava para seus braços, hora por toda suas costas. Sabrina não se lembrava de ter um tipo de reação igual aquela, nem mesmo Brian que um dia achava que amava, tinha despertado nela aquelas sensações. Sem pensar muito no que fazia, ergueu a cabeça e olhou Tom diretamente em seus olhos e pode ver ali todo o desejo que ele sentia no momento. Devagar, notou que seus lábios se aproximavam e não fez nada para evitar que eles se encontrassem em um beijo sensual. Tom não tinha mais como disfarçar seu desejo por aquela mulher e fez o que seu corpo pedia desde a hora em que entrou ali, tomou a boca dela em um beijo apaixonado.

Sabrina levantou-se da cadeira que foi empurrada de lado para que pudessem sentir um ao outro, Tom pode finalmente beija-la do jeito que ele queria, explorando toda sua boca deixando-a sem fôlego. O beijo foi ficando cada vez mais intenso e nenhum dos dois parecia se preocupar muito, até que de repente um som estridente fez com que voltassem a realidade. Pararam de se beijar e olharam do lado para ver de onde vinha aquele barulho. Sabrina pode constatar que se tratava do telefone que tocava sem parar, se soltou dos braços dele e ofegante atendeu a chamada.  Alô. Disse ela sentindo como se o coração fosse sair pela boca.  Oi maninha...Falou alegre sua irmã do outro lado. Sabrina respirou fundo mais uma vez e pela primeira vez olhou para Tom que permanecia no mesmo lugar e a olhava intensamente. Sentindo as pernas fracas, tratou de se sentar para não cair. “Meu Deus”! Pensou ela. “Esse homem está me levando a loucura”. Perdida em seus pensamentos, nem se importava com o fato de sua irmã estar tagarelando ao telefone. Só estava tentando achar uma maneira de sair daquela situação em que se colocara, sendo assim disse a irmã:  Escuta Isa! Será que dava para você me ligar depois?  Ou melhor, eu te ligo assim que tiver um tempinho, tudo bem?  Aconteceu alguma coisa San? Quis saber Isa preocupada.  Sim! Disse ela. Quer dizer não! Falou toda enrolada com as palavras.  Olha! Pode ficar sossegada que não aconteceu nada, só estou um pouco ocupada no momento.  Você tem certeza que não é nada?  Tenho sim. Respondeu dando um pequeno suspiro.  Tudo bem então, vou deixar você voltar para esse bando de caipira, mas me prometa que vai me ligar mais tarde ok?  Pode deixar. Até mais. “Bando de caipira hem”? Pensou ela dando um pequeno sorriso. Ah, se ela visse o lindo caipira que estava agora em sua cozinha e o que eles estavam fazendo agora pouco. Sabrina olhou para Tom e viu que ele permanecia no mesmo lugar, com as mãos no bolso de sua calça, mais parecia um garotinho esperando para ganhar um doce.


Tom pode sentir que mais uma vez Sabrina havia se fechado. “Droga”. Pensou decepcionado.  Desculpe-me! Disse ela. Era minha irmã no telefone.  Você não tem do que se desculpar. Falou ele se aproximando dela.  Eu tenho que conhecer essa estraga prazer. Falou ele tentando minimizar o clima entre eles.  Estraga prazer? Perguntou ela não entendo o que ele quis dizer com aquilo.  Sim. Pois essa já é a segunda vez que ela nos atrapalha. Falou ele sorrindo. Sabrina corou ao se lembrar da primeira vez em que quase se beijaram.  Sim! Pode-se dizer que ela sempre me liga nas horas erradas.  Então você concorda comigo que também ficou decepcionada com essa interrupção? Disse chegando cada vez mais perto dela.  Hum! Disse ela olhando para o teto. Eu acho que sim.  Que bom. Falou ele lhe tomando os lábios mais uma vez. Mas esse beijo também não durou muito, pois escutaram um estampido que fez com que ambos se assustassem. Sabrina fechou os olhos e mentalmente imaginou um animal caído na floresta. Lentamente encostou a cabeça no peito de Tom e sem poder se controlar sentiu as lágrimas correr pelo seu rosto. Sentiu os braços dele em volta de seu corpo e ali ficou por um bom tempo. Tom não se atrevia a falar nada naquele momento, pois sabia que ela não estava bem. Sabia como ela ficava quando ouviam tiros vindo da floresta, isso era sinal que alguém estava se divertindo caçando algum animal. Ficou sabendo de tudo isso quando descobriu que ela seria sua vizinha, os rapazes que estavam ajudando ele na reforma do rancho já o havia deixado a par de tudo o que acontecia ali, inclusive o alertou também dos caçadores de outras regiões que vinham ali só para se divertirem. Por esse mesmo motivo era que havia ido ali aquela noite, pois momentos antes dela chegar, ele havia ouvido tiros que pelo jeito vinham da mata e por isso resolveu passar por ali e pedir para que ela ficasse atenta. Mas assim que entrou naquela cozinha e a viu, todos os seus pensamentos em relação a

isso tinham ido embora como um passe de mágica, até agora.  Eu vim aqui te avisar que ouvi alguns tiros vindo da floresta...Disse ele vendo que ela não estava entendendo o que ele tentava falar.  Mas devo ser sincero! Quando eu cheguei aqui e a vi sentada debruçada na mesa, esqueci completamente desse assunto. Falou ele passando as mãos pelos seus cabelos com um olhar carinhoso.  E só agora você se lembrou de me dar o aviso? Falou ela enxugando as últimas lágrimas.  Sim. Desculpe-me, mas quando estou perto de você não consigo pensar em nada além de te beijar.  Nossa! Quanta sinceridade. Disse ela ficando sem jeito.  Eu sei que estou sendo um pouco precipitado, mas quero que você saiba que quando eu vim para cá não estava a fim de me envolver com ninguém, ao menos por enquanto.  Mas aí eu te conheci e não consegui tirar você do meu pensamento e olha que nem imaginava que seríamos vizinhos. Falou ele com sinceridade ainda a segurando em seus braços. Sabrina ficou tocada ao saber daquilo tudo de uma vez. Não sabia o que dizer para ele naquele momento, pois nem ela mesma sabia o que sentia por ele naquela hora. Vendo que ela estava confusa ele veio em seu socorro.  Eu sei também que você não quer se envolver com ninguém e por isso não vou te forçar a nada, a menos que você queira é claro...Disse sorrindo.  Mas você é terrível sabia? Disse retribuindo o sorriso.  Você nem imagina o quanto.  Olha Tom. Eu sinceramente não sei o que pensar de tudo isso...  E eu disse que está tudo bem Sabrina...  E além disso eu tenho certeza que mais dias ou menos dias você vai chegar a conclusão que não pode viver sem mim...  Será? Perguntou ela.  Se depender de mim... Mais uma vez se assustou com o som de tiros que parecia estar mais perto deles. Não agüentando mais aquela situação, Sabrina se soltou dos braços dele e se dirigiu para fora da casa sendo seguida por um surpreso Tom que vinha logo atrás.


 Aonde você vai? Perguntou ele temendo pela resposta.  Eu vou até a floresta ver o que está acontecendo. Disse aprontando o cavalo para a saída.  Você só pode estar brincando. Disse ele.  Não! Pode ter certeza que não estou brincando. Falou ela colocando a sela no animal rapidamente.  Mas de jeito nenhum que você vai até lá.  O que você disse? Falou ela o encarando. Ela estava tão furiosa que ele não teve coragem de repetir o que tinha acabado de falar.  Você não está vendo que é perigoso ir lá gora? Amenizou ele.  Mas se eu não for agora, não saberei quem está fazendo essa algazarra toda.  Eu não vou deixar você ir lá sozinha Sabrina. Falou ele firme. Ela deu meia volta e vociferou:  E quem você pensa que é para achar que pode mandar em mim?  Por mim eu já seria seu namorado, mas você é muito teimosa em admitir que sente algo por mim... Resolveu ficar quieto, pois ela o fuzilava com o olhar.  Calma! Não precisa ficar nervosa. Disse levantando as mãos em sinal de paz. Sabrina não disse nada e voltou sua atenção ao cavalo. “Namorado”? Pensou ela sentindo um calafrio lhe percorrer o corpo. Ficou visivelmente perturbada ao pensar nele como seu namorado, os beijos e carícias que trocariam... Estava tão perdida em seus pensamentos que nem notou que Tom colocava sela em um outro cavalo. Só foi perceber quando ele esbarrou nela devido ao cavalo se mexer ao ser colocado nele a sela.  Mas o que você pensa que está fazendo? Disse ela sem entender muito bem o que se passava. Tom não disse nada, primeiro a fitou e depois o cavalo para depois lhe dar uma resposta que não lhe agradou muito.  Se não deu para perceber eu estou selando um cavalo. Falou sarcástico.  E nem adianta reclamar porque eu vou com você, quer você queira ou não. Disse já montando no cavalo.

 E então? Você vem ou não? Perguntou ele de cima do cavalo. Sabrina não disse nada, simplesmente balançou a cabeça em sinal de desaprovação. Mas lá no fundo até que gostou de ter companhia, ainda mais depois que se lembrou do seu breve encontro com um daqueles caçadores que tivera um tempo atrás. Montou em seu cavalo e juntamente com Tom pegou o caminho para a floresta. A brisa da noite estava fresca com um espetacular céu estrelado, Sabrina olhou de lado e pode notar que Tom cavalgava muito bem sabendo conduzir o cavalo com perfeição. “Será que ele havia falado sério sobre em serem namorados”? Olhou mais uma vez de lado e deu um pequeno sorriso. Enquanto seguiam para a floresta, Tom pensava no rumo que estava sua vida neste momento. Para quem se mudara da cidade grande em busca de paz e sossego e sem qualquer desejo de ter um relacionamento amoroso não estava tendo nenhum progresso. Pois lá estava ele ao lado de uma linda mulher com síndrome de heroína, prestes a entrar em uma floresta em busca de caçadores e Deus sabe o que mais, só para ter o prazer de estar ao seu lado. “Bela mudança”. Pensou ele se recriminando. Alguma coisa lhe dizia que aquela aventura estava apenas começando e não sabia porque, mas estava começando a gostar daquilo. Chegando as margens da mata, Sabrina desceu do cavalo e já procurava um jeito de entrar nela. Tom ainda sentado em seu cavalo a olhava intrigado. ‘Será que ela iria entrar na floresta?” Pois acreditava que ela fosse até ali só para observar e não se embrenhar na mata em busca dos “culpados”. “Ela tem mais coragem do que eu”. Pensou descendo de seu cavalo.  Você não está pensando em entrar aí, não é?  O que você acha que viemos fazer aqui?  Bom! Para ser sincero, achei que ficaríamos amoitados em algum lugar só observando e não correr o risco de se perder nessa mata. Disse ele abrindo os braços para lhe mostrar o tamanho daquilo tudo.


 E como você acha que vamos conseguir ver tudo daqui? Por acaso você tem visão de raio-X?  Não! Eu não tenho visão de raio-X. Mas pode ter certeza que tenho mais juízo do que você.  Juízo ou medo? Provocou ela.  Para ser sincero os dois. Respondeu ele indo atrás dela que já entrava na mata.  Pelo jeito é mais medo do que juízo, não é? Disse debochada.  Olha aqui! Disse zangado a pegando pelo braço fazendo ela se virar para ele.  Não tem nada de errado em ter medo, isso não faz de mim menos homem do que eu sou... Mal acabou de falar e capturou seus lábios num beijo violento, mas que aos poucos foi se tornando mais gentil e sensual fazendo com que até se esquecessem de onde estavam. Tom queria lhe punir por se divertir as suas custas, mas o feitiço virou contra ele, pois ao sentir seus lábios sobre os dela perdeu totalmente a linha de seus pensamentos fazendo com que a raiva que sentia no momento fosse trocada por uma vontade enorme de fazer amor com ela ali mesmo, no meio daquele mato e de todos os bandidos ou caçadores que estivessem por ali. Ao se lembrar de onde estavam, Tom a soltou gentilmente e disse:  Isso foi para você aprender a não me provocar mais...Agora vamos procurar logo esses caçadores e sair daqui o mais rápido possível. Falou se afastando dela. Sabrina não entendeu de imediato o que havia acontecido ali. A única coisa que realmente sentia no momento era seus lábios que ainda queimavam por causa do beijo repentino. Sentindo as pernas fracas, decidiu seguir atrás dele antes que cedesse a vontade que tinha em ir embora dali para colocar seus pensamentos em ordem. Nenhum dos dois prestava atenção no caminho. De um lado Sabrina queria lhe pedir desculpas pelo fato de ter debochado dele e do outro Tom sentia uma mistura de raiva e desejo por aquela mulher que em pouco tempo estava fazendo sua vida virar de ponta cabeça.  Olha! Falou Sabrina o alcançando e o pegando pelo braço.  Desculpe-me. Eu não deveria ter dito aquilo. Afinal você está aqui comigo quando nem deveria e eu deveria te agradecer e não

ter zombado de você. Então espero sinceramente que você possa me perdoar por isso. Pronto! Toda a raiva que sentia dela naquele momento foi embora como num passe de mágica. Ficou visivelmente desconcertado ao ouvi-la se desculpando, pois pelo pouco que a conhecia, sabia que ela não tinha o costume de se desculpar com freqüência. Respirou fundo e deu um pequeno sorriso.  Desculpa aceita...Disse pegando em sua mão e fazendo uma leve carícia. Assustaram-se ao escutar vozes que pelo jeito estavam vindo na direção deles. Pegando mais forte a sua mão, Tom a empurrou dentro da mata em busca de um esconderijo, afinal não sabia com quem estavam lidando e Tom também não estava querendo dar de cara com um troglodita qualquer em plena selva e ainda por cima armado. Andaram em silêncio até que o barulho das vozes foi ficando cada vez mais longe.  Mas desse jeito não vamos ver quem está fazendo isso Tom! Exclamou Sabrina.  Calma! Disse ele. Agora somos nós que estamos atrás deles. Dizendo isso ele voltou de onde haviam entrado e foi puxando ela pela mão. Em pouco tempo começaram a escutar vozes que agora estavam à frente deles e logo já podiam ouvir o que eles diziam. Tom notando que eles haviam parado de andar, puxou Sabrina para algumas folhagens fazendo sinal para que ela ficasse quieta.  Será que vamos pegar um bom dinheiro dessa vez? Falava uma das vozes.  Tomara que sim! Respondeu a outra voz. Está cada vez mais difícil caçar animais aqui, porque a polícia está fechando o cerco.  Droga de polícia. Esbravejou o outro. Se pelo menos todos fossem corruptos já teríamos ficado ricos.  Fazer o que não é? Mas devagar a gente chega lá.  E agora o que vamos fazer?  Vamos embora antes que amanheça o dia e depois voltamos para mais uma noitada.  Tomara que seja tão proveitosa quanto à de hoje.  Tomara. Disse o outro. Aos poucos as vozes foram se afastando, Sabrina estava perdida em pensamentos.  Sabrina você está bem? Perguntou Tom preocupado. Saindo de seu devaneio, piscou algumas vezes e disse:


 Sim, estou sim. Respondeu.  Eu não te falei que eram bandidos? Falou ela brava.  Deu para perceber. Respondeu ele sem entender porque ela estava brava com ele.  Se nós tivéssemos visto o rosto deles...Falava ela consigo mesma andando de um lado para outro.  Calma Sabrina. Agora é só ir até a delegacia e contar o que nós acabamos de ouvir e deixar que a polícia tome providências.  Você não entende não é?  Você sabe quantas vezes eu fui até lá e o máximo que eu pude ouvir é “ nós não temos pessoal suficiente para cobrir toda a região”?  Umas cinco vezes. E ninguém faz nada para impedir essa barbaridade. Falava ela com raiva.  Mas agora você tem um argumento a mais porque pelo jeito eles estão vendendo os animais e isso faz deles verdadeiros criminosos. Falou Tom tentando acalma-la.  Sim! Você pode ter razão. Disse Sabrina depois de pensar um pouco.  Então o que você acha de irmos embora e logo pela manhã vamos até a delegacia e relatamos tudo o que ouve aqui? Sabrina olhou a sua volta e percebeu de como a noite estava ficando escura e fria, se estivesse sozinha provavelmente estaria com medo, mas com Tom ao seu lado se sentia mais segura e isso a agradava e muito.  Vamos embora daqui. Falou ela lhe estendendo a mão. Assim que chegaram no local que haviam deixado os animais puderam ver que eles estavam pastando como se nada tivesse acontecido naquela noite. Montaram em seus cavalos e seguiram para o rancho de Sabrina. Quando chegaram ao celeiro, cada um descarregou seu cavalo e os prendeu de volta na baia. Guardaram as selas em seus devidos lugares e foram até a casa de Sabrina.  Onde você aprendeu a montar?  Porque? Fiz alguma coisa de errado?  Não! Disse ela sorrindo.  Pelo contrário. Você conduz um cavalo perfeitamente.  Obrigado. Disse ele lhe retribuindo o sorriso.  E então? Onde você aprendeu a montar?  Porque esse interesse todo? Provocou ele.

 Não é nada de mais, só que você não me parece ser do tipo, só isso. Falou dando de ombros.  Você quer tomar alguma coisa? Desconversou ela.  Não obrigado.  E respondendo a sua pergunta, quando pequeno eu morava em um rancho com meus avós e logo cedo peguei gosto por montaria.  Você morava com seus avós? E o que houve com seus pais?  Me desculpe! Se você não quiser responder tudo bem.  Não! Por mim tudo bem. Disse ele se divertindo com sua curiosidade.  Meus pais morreram quando eu ainda era pequeno, então fui criado pelos meus avós maternos até os dezoito anos.  Depois de atingir a maioridade eu entrei na faculdade e desde então tenho morado na cidade, até um tempo atrás.  Sinto muito pelos seus pais. Lamentou-se ela.  Tudo bem Sabrina. Isso aconteceu já faz muito tempo.  Mas mesmo assim é difícil falar disso não é?  Não é que é difícil. É que esse assunto me deixa triste sabe? E eu não gosto muito de tristeza. Desabafou ele.  Então está bem, agora vamos mudar de assunto.  Você acha mesmo que aqueles cretinos estão vendendo os animais? Tom sorriu mais uma vez com a mania que ela tinha em mudar totalmente o rumo da conversa.  Com certeza. E agora a polícia querendo ou não vai ter que dar um jeito na situação.  É, você tem razão.  Você não quer mesmo tomar nada? Falava ela enquanto olhava dentro da geladeira.  Você sabe que horas são agora? Perguntou ele. Sabrina se virou com cara de quem tinha se esquecido até de onde estava.  Não! Porque?  Porque já são duas da manhã e ainda tenho uma estrada para pegar. Disse ele se levantando. Foi aí que ela se lembrou de que ele estava hospedado em um hotel na cidade, sem pensar muito no que fazia se ouviu dizendo:  Porque você não fica por aqui essa noite?


Tom se sentiu gelar ao ouvir tais palavras, lógico que ele entendeu que não era para eles dormirem juntos, mas só de imaginar a cena que se formou em sua mente... Suspirou fundo e a encarou. Sabrina procurava um buraco onde pudesse se esconder ao ver a cara com que ele a encarava. Era um misto de malícia e sedução que fez com que seu corpo todo se arrepiasse. Mas não tinha jeito, agora que havia falado tinha que dar um jeito naquela situação.  O que eu quis dizer foi que se quiser pode dormir aqui hoje, pois tenho quartos vagos e já que você está acordado até agora por minha causa então acho melhor você... Parou de falar ao ver que ele ria dela.  Posso saber o motivo da risada? Perguntou irritada.  Claro que sim! Respondeu ele ainda sorrindo.  Estou rindo da cara que você fez ao me convidar a ficar aqui hoje, e sinceramente acho que você queria mais era estar na companhia daqueles caçadores do que na minha....Falou ainda sorrindo.  Engraçadinho...Saiba que não é nada disso...Eu só fiquei...Sei lá... Falava sem muita convicção.  Viu só? Mas deixa eu te fazer uma pergunta.  Por acaso você está arrependida de ter me convidado a ficar aqui? É lógico que para mim será mais fácil ficar aqui do que ir até o hotel, mas se você não quiser tudo bem, eu entendo. Disse ele rezando para que ela não concordasse com ele.  Não é nada disso Tom! E me desculpe se deixei passar essa impressão, mas é que realmente fiquei surpresa comigo mesma ao lhe convidar... Mais uma vez Tom ficou sem jeito com a resposta dela, afinal ela estava dando um voto de confiança para ele e não poderia deixar isso escapar.  Não se preocupe Sabrina! Eu sei que você não tem o costume de deixar estranhos passarem a noite aqui e te agradeço por isso.  Mas você não é estranho, afinal nós seremos vizinhos não é mesmo?  Sim, seremos sim.  Bom então vamos lá, vou te mostrar onde você pode dormir...Disse levantando-se e fazendo sinal para que ele a seguisse. Tom a seguiu por um corredor e ao final dele ela lhe apresentou um amplo quarto muito bem decorado.

 Pode ficar nesse que tem um banheiro onde poderá tomar um banho antes de dormir. Disse ficando um pouco vermelha. Tom entrou olhando tudo a sua volta e disse:  Bonito. E onde fica o seu quarto? Sabrina sentiu seu sangue gelar nas veias ao ouvi-lo perguntando tão pertinho dela que chegou a ficar sem fala.  Para o caso de precisar de alguma coisa á noite. Falou ele ao perceber que ela tinha ficado sem graça.  Ah! Bem. O meu quarto é ali no meio do corredor...Disse apontando em direção à outra porta.  Muito bem. Então boa noite. Disse ele.  Boa noite. Falou dando meia volta e saindo rápido dali. Tom ficou observando enquanto ela saia, “quase correndo por sinal”. Pensou sorrindo fechando a porta em seguida. Sabrina não conseguiu dormir bem à noite, sonhou que estava perdida na floresta correndo de alguém ou algo e logo depois já estava nos braços de Tom que a abraçava forte dizendo que estava tudo bem. Depois a beijava com paixão fazendo com que acordasse achando que fosse realmente verdade. Por outro lado Tom conseguiu tirar apenas uma pequena soneca, pois só de imaginar Sabrina dormindo no quarto ao lado do seu, somente de camisola em uma cama espaçosa...Isso foi motivo suficiente dele não ter conseguido dormir. Lutara consigo mesmo a noite inteira contra a vontade que tinha em bater em sua porta para lhe pedir algo, ou simplesmente lhe dizer que não conseguia dormir. Mas sabia que não iria resistir a tentação ao vê-la seminua na sua frente. Então assim que o dia amanheceu tomou um banho relaxante e foi em busca da culpada pela noite em claro, jurando para si mesmo que nunca mais dormiria ali nem que tivesse que ir até a cidade a pé. Assim ficaria seguro em seu quarto de hotel. Chegando até a cozinha a encontrou fazendo café, resolveu ficar parado na porta apenas a admirando, enquanto ainda não tinha sido descoberto por ela.


Pode notar que pelo jeito ela tinha dormido feito um anjo e isso provocou uma grande raiva nele. Sabrina estava tão concentrada nos afazeres que nem notou que estava sendo observada, somente quando escutou um bom dia foi que se virou e encontrou Tom com cara de poucos amigos. Barba por fazer, cabelos ainda molhados pelo banho tomado a pouco, ele poderia não achar, mas estava lindo num estilo rústico. Engolindo seco e tentando parecer normal Sabrina respondeu:  Bom dia! Dormiu bem?  Não tão bem quanto eu esperava...Resmungou ele se sentando.  Culpa do colchão? Perguntou ela.  Não! Culpa sua. Quando ele viu já tinha falado. Ele olhou para Sabrina e pode notar que ela estava tão confusa quanto ele.  Minha culpa? Mas como assim minha culpa?  É isso que dá a gente querer ajudar as pessoas mesmo. Se você não conseguiu dormir porque não foi para seu hotel dormir em uma cama mais confortável?  Pois é exatamente isso que eu vou fazer. Disse ele se levantando.  É bom mesmo. Retrucou ela. Ficou parada no meio da cozinha ainda atordoada com o ocorrido. “Mas o que diabos foi aquilo?” Se perguntava. “Será que o colchão era tão ruim assim”? Tom saiu fulo pela estrada de terra fazendo com que levantasse uma enorme poeira atrás dele. Não sabia se estava mais irritado com o fato de não ter dormido a noite inteira de tanto ficar imaginando ela deitada tão pertinho e ao mesmo tempo tão longe ou o fato dela estar com uma ótima aparência, sinal de ter tido uma excelente noite. Prometeu a si mesmo que nunca mais cometeria o erro de ir visitá-la tão tarde, tão pouco dormir de novo em sua casa, ao menos se fosse na mesma cama que ela. Enquanto tomava o café da manhã, Sabrina pensava no ocorrido. O que será que aconteceu para ele ficar assim tão irritado? Ou será que ele tinha aquele mau humor matinal mesmo?

Mais tarde iria ver se ele já estava de bom humor de novo, pois gostava mais dele relaxado do que bravo daquele jeito. “ Gostava dele mais relaxado”? Perguntou-se ela. E desde quando tinha começado a gostar dele? Sabrina foi até o rancho ver se Tom já havia chegado e assim pudessem resolver logo aquela situação na delegacia, pois com mais uma pessoa relatando o que haviam visto na floresta quem sabe a polícia agora pudesse realmente fazer alguma coisa para ajudar? Ou seja o trabalho deles. Pode notar que realmente ele estava mesmo empenhado em fazer dali seu lar, porque pela quantidade de homens trabalhando na construção, logo estaria tudo novo como folha. Pensava ela tentando acha-lo no meio daquela gente toda. Conforme caminhava entre eles, ia despertando olhares curiosos no caminho. Aos poucos conseguiu chegar até perto da varanda onde pode vê-lo. Pode notar o olhar cansado que estava estampado em seu rosto, resultado de uma noite mal dormida. Assim que notou sua presença, ele fez um sinal com a cabeça e voltou sua atenção a um pedaço de papel que segurava nas mãos. Ao se aproximar, ela viu que se tratava de uma planta do rancho. Ela não entendia muito mas pelo jeito iria ficar muito bonito, mas resolveu não falar nada porque queria ter certeza de que ele já estava melhor do que naquela manhã. Tom estava com vontade de matar aquela mulher. Como ela ousava ir até seu rancho logo depois de quase deixa-lo louco de desejos por ela? Pensava irritado a olhando de soslaio. Aos poucos seu perfume entrava em suas narinas fazendo com que ficasse mais tenso ainda. “Inferno” . Pensou raivoso. Tinha ido morar naquele fim de mundo para poder ficar em paz e sossego e aconteceu justamente o contrário. Tinha se apaixonado por uma mulher que não dava a mínima para ele e ainda o estava levando para aventuras no meio da floresta em busca de bandidos. “Isso sim que era teste cardíaco” Pensou ele franzindo a testa. “Apaixonado”? Como assim apaixonado?


Fechou o mapa e respirou fundo em busca de ar. Começou a caminhar e nem se importou com o fato de Sabrina ter ficado ali parada olhando para ele sem entender nada do que acontecia. “Será que ele não me viu aqui”? Pensou ela o seguindo em seguida.  Bom dia! Disse ela assim que o alcançou.  Por acaso você não me viu aqui? Falou parando em frente á ele.  Claro que sim. Falou ele calmamente.  Escuta! Eu te fiz alguma coisa? Porque se fiz, me desculpe porque não foi intencional. Pediu ela.  Não! Você não fez nada. Disse ele desviando dela e continuando seu caminho.  Mas porque tenho a sensação de que está bravo comigo? Continuou ela.  Não é com você que eu estou bravo Sabrina. Quer dizer, é e não é.  Olha! Sinceramente essa não é uma boa hora para conversarmos sobre isso ok?  Então você está com raiva de mim?  Eu já disse que não. Ou talvez esteja, sei lá. Falou passando as mãos pelo rosto em sinal de cansaço.  Mas como você está estranho hoje em? Desabafou ela. Foi aí que Tom se tocou de que ela não tinha nada a ver com seu repentino ataque de raiva, pois nem ele mesmo sabia porque estava com raiva, imagina ela. E além do mais, ela não tinha culpa nenhuma que ele teve uma noite ruim, quem mandou ficar a noite toda imaginando ela só de roupas íntimas e perdendo totalmente o sono? Feliz foi ela que com certeza teve uma bela noite e amanheceu com aquela disposição toda pela manhã que o fez ficar fulo da vida.  Afinal o que você veio fazer aqui? Sabrina notou que ele não iria dizer nada, então se ele quisesse continuar assim “tudo bem”. Pensou com raiva.  Você se lembra que ficou de vir comigo até a delegacia e relatar o ocorrido de ontem?  É verdade. Falou ele a encarando pela primeira vez naquele dia.  Mas se você não quiser ir tudo bem. Disse ela cabisbaixa.  Não! Eu vou sim. Só espera um minuto, está bem? Disse se afastando.

Tom não via a hora de aquilo acabar para que pudesse colocar em prática o que tinha ido ali buscar, ou seja, iria a acompanhar até a delegacia e depois faria de tudo para se manter longe dela. Iria sentir sua falta, isso era lógico, mas antes de vir buscar refúgio ali, jurou para si mesmo que não ficaria mais dependente assim de ninguém. Sabrina até que tentou entender o comportamento dele mas resolveu deixar para lá, afinal ele era homem e isso queria dizer que não iria conseguir compreender o que se passava por sua cabeça. Já tivera uma experiência muito desagradável em sua vida e agora que estava tudo em perfeita ordem não iria permitir que ele virasse sua vida de pernas para o ar. Sendo assim decidiu que depois de tudo resolvido na delegacia, iria dar um jeito de não vê-lo mais, ou com tanta freqüência, isso seria o bastante para que não passasse noites sonhando com suas carícias ou imaginado de como seria se fizessem amor. Não seria nada fácil sendo ele seu vizinho, mas faria de tudo para tentar enganar seu coração. Tom apareceu diante dela com a mesma cara fechada de antes, fez um sinal para que o seguisse e abriu a porta de uma camionete para que ela entrasse. No caminho até a delegacia, nenhum dos dois quis tocar no assunto daquele mal estar que tinha se instalado entre eles. Ela até que tentou dizer algo,mas só de ver sua carranca decidiu ficar quietinha em seu lugar. Enfim chegaram no seu destino, Sabrina foi a primeira a entrar sendo seguida logo atrás por Tom que ainda estava carrancudo por sinal. Assim que entraram, o delegado Robert ou Bob que era como todos os chamavam veio ao seu encontro.  Bom dia Sabrina. Disse ele ajeitando o uniforme todo imponente. Tom se segurou para não rir, pois estava na cara que ele queria impressionar Sabrina com seu uniforme. Mas pensando bem, ele sentiu mesmo foi uma vontade imensa de lhe dar um belo soco na cara ao ver que ele flertava com ela discaradamente. O jeito que a olhava, mais parecia um caçador a espreita de sua caça.  Bom dia Bob. Falou Sabrina.


 A que devo a honra de sua visita? Ele nem se deu ao trabalho de olhar para o lado de Tom.  Eu vim aqui mais uma vez na tentativa de que você tome alguma providência quanto á matança de animais na floresta.  E eu já te disse que não tenho pessoal suficiente para cobrir toda a área. Falou ele calmamente.  Mas pelo jeito eles estão matando os animais para vendê-los.  E como você sabe disso?  Porque ontem eu entrei na floresta e pude ouvir perfeitamente tudo o que disseram.  Você o que? Perguntou ele incrédulo.  Mas você não sabe que pode ser perigoso Sabrina? E se acontece alguma coisa com você?  Então seria sua culpa. Disse Tom que até aquele momento estava quieto. Bob olhou para Tom como se só agora tivesse visto que ele estava ali e isso fez com que ficasse mais irritado ainda.  E quem é você? Quis saber Bob.  Desculpe-me. Disse Sabrina. Esse é meu vizinho Tom.  Ah! Então foi você quem comprou o rancho do velho Samuel?  Sim. Respondeu ele.  Então, como eu ia te dizendo...  Como eu ia dizendo, se alguma coisa acontecesse a ela a culpa seria sua por não estar fazendo seu trabalho.  Escuta aqui rapaz...Eu já disse que não tenho...  Eu sei disso tudo. Mas me responde uma coisa. Como foi que nós conseguimos achar os caçadores sem nem mesmo perdemos tempo em procura-los? Falou Tom o encarando com cinismo. Fez-se um silêncio na pequena sala. Sabrina adorou o fato de Bob não ter o que responder, por esse motivo ela adorou que Tom estava ao seu lado. Resolveu então dar um basta naquilo antes que alguma coisa de mais grave acontecesse.  Bem. Então como eu dizia, nós escutamos os caçadores dizendo que voltariam lá essa noite e se você juntar uma pequena equipe para uma averiguação tenho certeza que a polícia irá prende-los , porque o que estão fazendo é crime.  E a que horas que será isso? Perguntou Bob olhando para Sabrina.

 Eu não sei. Respondeu Sabrina impaciente.  Sabe o que é? Nós esquecemos de perguntar isso á eles. Falou Tom com ironia deixando o delegado visivelmente irritado. “Realmente Tom não foi com a cara do delegado”. Pensava Sabrina concordando com ele.  Bom. O que eu posso fazer no momento é juntar uma equipe mais tarde e ficarmos de vigia até que apareça alguém.  Está bem assim para você? Quis saber o delegado á Sabrina.  Por enquanto sim. Respondeu ela.  Mas veja bem, eu só vou poder tomar uma atitude se for provado de que estão caçando os animais para venda, entendeu? Falou ele com seu conhecido ar de autoridade. Parecia que o delegado não estava muito a fim de fazer seu serviço, sendo assim Tom resolveu deixar as coisas um pouco mais interessantes.  Ah! Eu já ia me esquecendo.  Os caçadores também falaram sobre um suborno de alguns policiais, e por esse motivo é que ninguém mexia com eles e pudessem fazer o que bem entendessem com os animais que ali viviam. Falou Tom encarando o delegado deixando Sabrina espantada. Bob ficou branco, Sabrina não sabia dizer se era por raiva ao ouvir aquilo ou de raiva por Tom o estar acusando de suborno.  O que você está querendo dizer com isso? Vociferou Bob.  Eu não estou querendo dizer nada, quem falou isso foram os caras lá na floresta. Defendeu-se Tom dando um pequeno sorriso.  Isso é verdade Sam? Perguntou ele para Sabrina que fez que sim com a cabeça.  É verdade Bob. Eles disseram que só caçavam aqui porque subornavam alguns policiais. Disse Sabrina.  Pois eu vou dizer uma coisa a vocês dois.  Eu jamais aceitei suborno de ninguém e se tiver alguém aqui na minha equipe que está fazendo isso será preso na hora.  Agora me deixa trabalhar que pelo jeito a noite será longa. Falou ele virando as costas para os dois dando a conversa por encerrada. Sabrina olhou para Tom com um certo ar de conquista, pela primeira vez sentiu que finalmente alguém faria alguma coisa sensata .


Tom não sabia se estava aliviado ou desolado com o desenrolar daquela história. Aliviado por saber que agora a polícia tomaria conta da situação, pois o delegado não iria correr o risco de o acusarem de receber suborno e desolado ao perceber que não precisaria mais ajudar Sabrina e assim não se veriam mais com tanta freqüência. Saiu da delegacia e entrou no carro sendo seguido por Sabrina que entrou quieta do mesmo jeito que viera. O caminho de volta foi uma tortura para ambos, Sabrina tinha vontade de continuar o caminho a pé para não ter que vê-lo com aquela cara amarrada. Tom a deixou na porta de seu rancho, antes de descer do carro Sabrina resolveu dizer:  Mais uma vez eu tenho que te agradecer pela ajuda. Muito obrigada.  Não tem de quê. Falou ele sem nem mesmo olhar para ela.  Até mais. Disse ela desconsolada, pois estava com vontade de se atirar em seus braços de tanta alegria que sentia no momento. Ele não tinha idéia do que haviam acabado de conquistar, pois em todo esse tempo em que buscara ajuda ninguém parecia leva-la á sério em relação aquele assunto dos animais. Mas resolveu deixar para lá, se ele não estava contente problema dele, ela iria celebrar sozinha mesma. “Sozinha”. Não gostou muito de pensar naquela palavra. Ao deixar Sabrina em seu rancho, Tom pode notar que ela viera calada o caminho todo e achou estranho, pois o normal seria ter vindo falando toda feliz do ocorrido na delegacia. Resistiu ao impulso de voltar e se desculpar pela explosão ocorrida pela manhã, mas achou melhor deixar do jeito que estava, porque ela estava magoada e assim não a veria tão cedo, aproveitaria e daria um tempo para seu coração se recuperar antes que fosse tarde demais. Os dias foram passando e nem Sabrina e nem Tom tinham se visto depois daquele dia na delegacia. Sabrina tentava disfarçar, mas lá no fundo tinha que admitir que estava sentindo sua falta. Ás vezes tinha vontade de ir até seu rancho para ver como estava ficando devido á

reforma, mas estava mais interessada mesmo era em ver como ele estava. Será que seu mau humor já tinha ido embora? Pensava ela. Por outro lado Tom nem mesmo tinha tempo de pensar muito em Sabrina, pois com a reforma ele trabalhava o dia inteiro ajudando do jeito que podia. Só assim é que conseguia ficar sem pensar nela, mas quando a noite chegava é que ele lutava contra a vontade que tinha em ir lhe fazer uma visita, só para ver como ela estava. “Mentiroso”. Falava uma voz dentro dele. O que ele queria mesmo era pegá-la em seus braços e não deixa-la sair nunca mais, nem que brigasse com ele todos os dias. Em uma manhã, Sabrina estava em seu rancho quando chegou uma viatura da polícia, ficou toda animada, pois desde o dia em que foram até lá não tinha tido notícias sobre a busca da polícia.  Bom dia Sabrina. Disse Bob colocando seu chapéu.  Bom dia Bob. Espero que tenha boas notícias para me dar. Falou ela ansiosa.  Infelizmente não tenho não Sam. Falou ele pesaroso.  O que você quer dizer com isso? Vocês não foram lá naquela noite?  É lógico que fomos, mas a questão é que não conseguimos achar ninguém, nem mesmo um caçador.  Eu não acredito Bob. Como é que pode isso?  Eu ouvi perfeitamente eles dizerem que voltariam lá naquela noite para terminar o serviço.  Sinto muito Sabrina. Nós ficamos a madrugada inteira procurando pela floresta e nada.  Que droga! Disse ela se lamentando.  Nós ainda voltamos lá algumas noites, mas como as outras o resultado foi o mesmo. Decepcionada, sentou-se no degrau da varanda tendo Bob ao seu lado. Passava a mão pela testa em sinal de cansaço e nem notou que estava sendo observada por um par de olhos castanhos que a olhava com carinho. Tom os observava de longe e pelo jeito Sabrina não estava bem, pois só de vê-la cabisbaixa era sinal de que algo havia acontecido e não iria deixar que o delegado a confortasse de jeito nenhum. Caminhando lentamente foi-se aproximando deles até que Sabrina ergueu os


olhos e o fitou séria e ao mesmo tempo com um certo alívio. Isso fez com que a barreira que ele levou um certo tempo para erguer quebrasse só com aquele olhar que ela lhe mandou. Sabrina achou que estava tendo uma alucinação ao vê-lo caminhando lentamente em sua direção. Ele olhava diretamente para ela como uma fera olhava para sua caça e isso fez com que seu coração disparasse de alegria, pois era sinal de que o seu repentino mau humor havia passado.  Bom dia. Disse ele com um pequeno sorriso.  Bom dia. Respondeu ela. Um olhava para o outro sem dizerem uma palavra sequer que até se esqueceram de Bob que estava sentado perto de Sabrina. Dando um pequeno resmungo para chamar a atenção, Bob resolveu se levantar ficando do lado de Tom.  Olá Delegado. Me parece que você não trouxe boas notícias. Disse com cinismo.  Infelizmente não. Respondeu ele franzindo a testa.  Percebi. Disse olhando para Sabrina. “Mas como ele sabia disso”? Pensou ela. “Será que ele me conhece tão bem assim”?  Mas o que aconteceu?  O delegado veio me dizer que não conseguiram pegar ninguém na floresta naquela noite. Disse Sabrina.  Ninguém? Falou Tom sério.  Estranho, você não acha delegado?  Estranho porque? Ás vezes eles mudaram de idéia e resolveram caçar em outro lugar.  Eu acho que não. E para ser sincero eu acho que eles estão amoitados por aí só esperando a hora certa para voltar.  E porque você acha isso?  Eu sinto te informar delegado, mas está mais do que na cara de que tem alguém passando informações para eles. Disse encarando Bob.  Porque eu não pensei nisso antes? Falou Sabrina.  Será?  Pode ter certeza que sim.  Eu vou ver o que faço. Disse o delegado se despedindo. Os dois observavam enquanto Bob entrava em seu carro e ia embora. Tom desviou o olhar de Bob e encarou Sabrina.

 E como é que você está? Perguntou ele.  Bem e você?  Cansado! Respondeu ele se sentando perto dela.  È! Reformar um rancho dá muito trabalho.  Agora eu sei disso. Falou ele fazendo uma massagem nos próprios ombros. Olhando para ele, pode notar que parecia que não tinha tido uma boa noite de sono. Sentiu vontade de massagear os seus ombros para lhe relaxar um pouco, mas com certeza não conseguiria tirar as mãos de cima dele ao sentir sua pele em contato com a dela. Desviou os olhos dele para evitar que pudesse fazer algo impensável, fazia dias que não se viam e isso fez com que ela pensasse em não encara-lo por muito tempo.  Sabrina! Eu sei que é tarde para me desculpar, mas eu quero te dizer que sinto muito de como explodi com você naquela manhã. Falou ele.  Bom! Já que você tocou no assunto eu gostaria de saber no que te deu naquele dia.  Por acaso você acorda sempre assim de mau humor? Ou foi realmente o colchão que não te deixou dormir? Ela falava sem parar que o deixou até meio tonto de tanta pergunta.  Não é nada disso...Falou se alterando mais uma vez. Como iria dizer que o culpado por sua noite mal dormida foi justamente ela?  Eu posso ser sincero com você? Perguntou ele sério. Ela fez sinal que sim com a cabeça e ele falou.  Eu não sei se você vai gostar do que vou dizer, mas tem que me prometer que mesmo se não gostar não irá me recriminar pelo fato, ok?  Desembucha logo. Disse sentindo o coração acelerar.  Foi por sua causa que fiquei bravo daquele jeito. Falou ele cabisbaixo.  Por minha causa? Perguntou sem entender.  Sim! A verdade é que passei a noite toda me imaginando dormindo em sua cama, e aí você pode imaginar o resto não é? Ela não sabia o que fazer ou muito menos falar diante aquela confissão.  Como não consegui dormir, logo que amanheceu tomei um belo banho para tentar recuperar as energias e ao entrar na cozinha pude notar que você ao contrário de mim teve


uma excelente noite de sono. Falou dessa vez a encarando. Sabrina sentiu um imenso alívio, pois achava que tinha cometido ou falado algo que o deixara bravo com ela.  E quem te disse que tive uma boa noite de sono? Perguntou ela. Tom a olhava com atenção.  Pois é! Eu também não consegui dormir naquela noite. Fiquei o tempo todo sonhando que estava na floresta sendo perseguida por alguém e de repente você surgia e me abraçava dizendo que estava tudo bem e depois eu...Ou melhor, nós...Titubeou...Você deve imaginar o que veio em seguida...Dizia ela sem encara-lo. Tom não sabia se ria ou batia na mulher ao seu lado. Ria ao vê-la toda embaraçada ou batia por não ter dito nada a ele e ter feito daquela noite um verdadeiro inferno.  E porque você não me disse nada?  Ah! O que você acha que eu devia ter feito?  Batido em sua porta e relatar que não estava conseguindo dormir porque sonhava que nós... Parou de falar ficando levemente vermelha ao imaginar a cena que se formara em sua cabeça. Tom já imaginava a cena deles fazendo amor no meio do mato, seria um sexo totalmente selvagem...Pensava ele.  E se me lembro bem, você também não me disse nada e agiu de uma maneira totalmente louca pela manhã.  E olha que eu tinha feito um verdadeiro banquete no café da manhã e fiquei lá sozinha na cozinha sem saber o que fazer com aquilo tudo. Continuava ela sem parar de falar. Tom a pegou pelo queixo fazendo com que olhasse para ele. Beijou os seus lábios calando-a e em seguida disse:  Me parece que não conseguimos nos expressar bem não é mesmo?  Sim! Quero dizer não! Dizia ela sem conseguir tirar os olhos da boca dele. Tom a beijou de novo, agora com paixão. Sabrina não conseguia pensar em mais nada a não ser em sentir a boca de Tom em contato com a sua. Abriu os lábios para que ele pudesse explorar todo seu interior, fazendo ela soltar um pequeno gemido rouco.

Não conseguindo mais se controlar, Tom a pegou no colo, sem interferência dela por sinal e levou até seu quarto. Em pouco tempo as roupas de ambos já estavam espalhadas pelo chão e sem mais demora fizeram amor de maneira rápida, sem tempo para carícias mais prolongadas, pois se demorassem mais não conseguiriam suportar o desejo que ambos sentiam. Com o desejo agora saciado, ficaram deitados com as pernas entrelaçadas. Sabrina brincava com os pelos das pernas de Tom que estava adorando o contato de seus corpos. Sabrina não podia estar mais contente, nem mesmo nos seus “sonhos eróticos” que tivera, podia imaginar a sensação que sentira momentos antes.  E pensar que eu passei esses dias todos sonhando e imaginando como seria fazer amor com você. Falou ele lhe acariciando o corpo.  E eu com você. Disse ela.  Eu acho que aquela noite foi a pior da minha vida.  Hum! Aquela foi uma entre as piores que eu tive. Falou ela se lembrando da noite em que terminou seu relacionamento com Brian.  Uma das piores?  Sim...Mas não vamos falar de coisas ruins agora está bem?  Tudo bem... E do que você quer falar ou fazer? Disse ele a beijando de novo com paixão.  Que tal você me fazer esquecer daquela bendita noite de novo? Disse lhe provocando.  Não precisa dizer duas vezes. E assim voltaram a fazer amor, mas dessa vez sem pressa... Já passava da cinco da tarde quando Sabrina escutou alguém chamando seu nome. Sonolenta se moveu na cama e parou ao sentir um roçar de pelos em contato com sua perna. Logo todos os momentos que tivera antes voltaram á sua mente. Virou-se e notou que Tom ainda dormia. Ficou admirando o belo homem que repousava ao seu lado. A barba por fazer lhe dava um ar de selvagem que a deixava encantada. Será que alguma outra mulher já notara isso antes? E pensar em mulher, lembrou que não sabia nada sobre ele, nem mesmo se era casado ou solteiro.


Franziu o semblante ao imagina-lo tendo intimidades com outra mulher. Seus pensamentos foram deixados de lado ao ouvir de novo uma voz que lhe chamava. Levantou-se e vestiu-se rapidamente saindo do quarto em seguida em busca da voz que lhe chamava. Ao chegar na cozinha viu Jack a esperando na porta de entrada.  Oi Jack. Algum problema?  Não. Sabe o que é? Eu ouvi o seu telefone tocando sem parar e como não te vi o dia todo resolvi atender, era sua irmã que mandou eu te dizer que ela está vindo para cá nesse final de semana.  Nesse final de semana?  Sim. Ela me falou que era nesse sim.  Está bem. Obrigada Jack.  A senhora está bem?  Porque você está perguntando?  Nada. È que como eu não te vi então achei que estava doente. Se precisar de alguma coisa é só falar.  Obrigada. Mas eu não estou doente não, só deitei um pouco para descansar e acabei dormindo demais.  Devia estar bem cansada em?  Muito.... Muito cansada, Jack. Respondeu sentindo um arrepio percorrer seu corpo ao se lembrar do motivo que a deixara cansada.  Bom. Então eu vou indo. Até mais.  Tchau Jack. Disse rumo ao seu quarto. Ao chegar, viu que pelo jeito Tom já havia acordado, pois a cama estava vazia. O único sinal dos momentos de antes era o lençol desarrumado. Escutou um barulho que vinha de dentro do banheiro e resolveu entrar. “Quem sabe repartiria uma ducha com ele”? Tom estava lavando os cabelos e nem notou que estava sendo observado por um par de olhos brilhantes. Assim que abriu os olhos, notou que Sabrina o olhava de cima a baixo. Esticou seu braço oferecendo sua mão que ela logo tratou de pegar e se sentiu puxada de encontro aquele corpo másculo. Tom a ensaboou inteira fazendo-lhe uma sensual massagem que foi se tornando cada vez mais ousada fazendo os dois entrarem em um mundo que só pertenciam á eles. Já trocada em seu quarto, Sabrina o observava enquanto ele colocava suas roupas.

Pensava em como Tom havia conseguido mexer com seus sentimentos em tão pouco tempo. O que será que sua irmã iria achar ao saber dessa sua aventura? “Aventura”? Será que ele também pensava assim?  Você não que me acompanhar até o meu rancho para ver como está ficando? Disse ele pegando sua mão.  Claro! Vamos lá. Os dois partiram rumo ao rancho de Tom e ao chegar Sabrina ficou muito contente com o que viu. Ele estava fazendo um ótimo trabalho, nem parecia aquele rancho sujo e mal cuidado que ela conhecia. Ao entrar na casa viu que já estava quase pronta. Pintada numa cor de bege clara, passava um ar de serenidade para quem estava ali. Aprovou com os olhos tudo o que viu, realmente Tom demonstrava que tinha muito bom gosto. Tom a observava curioso. Estava ansioso em ver qual seria sua reação ao ver em como o rancho estava ficando e só pelo seu olhar soube que estava sendo aprovado. Depois que havia ficado mais próximo dela, notou que tudo o que fazia no rancho era mais para tentar agradar a ela do que ele mesmo. “Estranho”. Pensou franzindo o semblante.  Parabéns! Você está fazendo um ótimo trabalho. Disse ela olhando tudo a sua volta.  Que bom que gostou. Respondeu ele contente. Ele tinha que admitir que Sabrina estava se tornando muito importante para ele, mas tinha que ir devagar para não assustá-la. O que será que ela faria se soubesse da intensidade de seus sentimentos? Por enquanto não pretendia dizer nada.  Eu vou ter que viajar para buscar algumas coisas minhas que ficaram para trás, você não que aproveitar e vir comigo? Disse ele lhe abraçando por detrás. Ao ouvir isso, sentiu um pequeno desapontamento ao se imaginar sem ele por alguns dias.  Eu adoraria, mas no momento não posso. Disse ela encostando a cabeça em seu peito.


 Porque não? Não tem um rapaz aqui que te ajuda?  Tem sim! Mas não é por causa do rancho. Eu tenho alguns pacientes que precisam de cuidados constantes.  Eu também preciso de cuidados constantes sabia? Falou ele fazendo ela se virar de frente á ele.  Verdade? Que tipo de cuidados? Provocou ela.  Muitos beijos, abraços e outras coisas mais.  Hum! Mas você é muito exigente. Disse ela lhe oferecendo os lábios para um longo beijo. Sabrina estava em seu escritório quando o telefone tocou.  Como está minha veterinária favorita?  Estou ótima e você? Disse sentindo o coração acelerar. Já fazia dois dias que não se viam devido á viagem dele.  Morrendo de saudades. Falou ele sério.  Eu também. Confessou ela.  O que você está fazendo agora?  Estou no meu escritório olhando algumas fichas, porque?  Nada. Eu só quero que você não se esqueça que me prometeu não se meter com aqueles caçadores.  Pode ficar tranqüilo que eu não esqueci não.  E por falar nisso, faz tempo que não ouço nada. Nem um barulhinho sequer vindo de lá. Dizia ela.  Quem sabe não tomaram vergonha na cara e pararam de fazer mal aos animais?  E já que você tocou no assunto, acho que vou fazer uma visita para o delegado e ver como anda as investigações... Sabrina falava sem parar, não dando tempo de Tom abrir a boca. Do outro lado da linha, Tom se recriminava por ter aberto a boca e falado a palavra “caçador”. Agora tinha certeza que ela iria até a delegacia perturbar o delegado em busca de soluções para aquele problema. Apertou o telefone com raiva dele mesmo por ter aberto boca.  Sabrina! Disse alterado. Ela parou de falar de repente.  O que foi? Quis saber ela.  O que foi? O que nós combinamos?

 Eu disse que vou conversar com o delegado e não me embrenhar na mata. Eu não sou tão doida assim. Defendeu-se ela.  Ah não? E quem foi que entrou na mata aquela noite em que ouvimos os tiros?  Eu e você. Falou ela.  Eu não! Foi você. Por mim nós ficaríamos amoitados em um canto qualquer.  Mas não. Você tinha que dar uma de heroína e ainda por cima me levou junto. Agora quem falava sem parar era ele. Sabrina tirou um pouco o telefone do ouvido, devido ao sermão que Tom dava ao telefone.  Pode ficar tranqüilo que não farei nada.  Você promete?  Sim. Eu prometo.  Mas você não precisa se preocupar comigo, eu sei me cuidar sozinha sabia?  Eu sei disso. A questão é que me preocupo com você. Disse Tom evitando deixar transparecer o verdadeiro motivo de se preocupar tanto com ela. Ainda era muito cedo para lhe falar de seus sentimentos, sentia que Sabrina precisava de tempo e espaço. Sabrina sentiu uma tensão no ar. Tinha a impressão de que aquelas palavras tinham um outro significado, algo mais profundo. Não sabia se ficava contente ou receosa, afinal ainda não sabia o que sentia por ele no momento. O que importava no momento era que estavam se dando bem. Até agora ele se mostrou muito educado e sempre respeitando os seus limites.  Quando você está de volta? Perguntou ela.  Se tudo correr bem, daqui uns dois dias.  Me liga assim que você sair daí ok?  Pode deixar. Ficaram por mais um tempo conversando. Quando desligou, Sabrina ainda ficou por um tempo ali parada olhando o telefone. Realmente sentia a falta de Tom. Pensava ela. Como ele a havia conquistado em tão pouco tempo. Agora estava ali, parada ao lado do telefone com a cabeça nas nuvens. Respirou fundo e quando já ia sair, o telefone tocou novamente.


Atendeu de imediato e para seu desapontamento ouviu uma voz que não era de quem ela esperava.  Ola maninha. Até que enfim consegui com que atendesse ao telefone.  Olá Isa. Disse ela se sentando.  Nossa! Mas quanto entusiasmo em?  Só estou um pouco cansada.  Eu estou te ligando do meio da estrada, logo estarei aí.  Que bom! Ficarei esperando.  Eu vou desligar porque a bateria está acabando. Depois a gente se fala.  Tchau Isa. Despediu-se ela. Mais tarde estava em seu escritório quando escutou um barulho de carro chegando. Saiu e encontrou Isa saindo do carro e indo á seu encontro.  Olá San. Disse Isa a abraçando.  Olá Isa.  E aí? Quais são as novidades?  As mesmas de sempre.  Ai que chatice. Sabrina respirou fundo. Ainda bem que Tom estava viajando, pois tinha certeza que não conseguiria se manter indiferente com ele por perto porque sua irmã “pegava as coisas” á distância. Não que não confiava nela, mas é que ultimamente todo mundo parecia que tinha uma receita para curar seu coração, fazendo com que ficasse cansada de todos ficarem metendo o nariz onde não era chamado. Se sua irmã soubesse o que estava acontecendo entre eles, conhecendo ela como conhecia, iria encher ela e Tom de perguntas e tinha certeza que nenhum dos dois estavam prontos para responderem. Então achou melhor não falar nada, deixaria ficar quem sabe mais profundo e aí sim falaria com sua irmã. “Mais profundo como?”. Perguntava uma voz dentro dela. O que seria mais profundo se já tinham passado a linha da intimidade? “E como” haviam passado daquela linha. Só estava faltando mesmo seria declarar que estava apaixonada por ele. Será que ele sentia o mesmo? Ou era só uma aventura para ele? Mas não! Apesar do pouco tempo em que se conheciam, Sabrina sentia que Tom era honesto quanto aos seus sentimentos. Ela só não sabia quais sentimentos eram esses.

Enquanto pensava sobre isso, nem reparou que sua irmã tagarelava sem parar, então tratou de afastar tais pensamentos e se concentrar em sua irmã. Depois de deixar as coisas de Isa em um quarto, Sabrina a levou para um passeio pelo rancho e resolveu dar uma olhada no rancho de Tom, que havia lhe pedido antes de viajar. Estava tudo indo bem, a reforma estava em pleno vapor e o rancho cada vez mais bonito. Sabrina explicava a Isa que o rancho havia sido vendido e que o novo dono estava reformando tudo por ali, como ele havia viajado, pediu para que ela desse uma olhada de vez em quando. Depois de percorrer todo o rancho de Tom, tiveram que voltar de novo para o seu, pois Isa havia saído com um sapato de salto e isso fazia com que seus pés virassem de lado cada vez que pisava no chão, fazendo Sabrina rir ao vê-la tentando se equilibrar.  Até parece que você nunca esteve aqui antes. Dizia Sabrina se divertindo.  Eu esqueci de tirá-los, estou acostumada a andar só de salto.  Deu para perceber.  Não enche San.  Apesar de achar tudo muito bonito, eu não sei como você consegue gostar de morar aqui. Falava ela se equilibrando.  É que diferente de você, gosto de paz e sossego e não daquele burburinho todo de cidade grande.  Isso você tem razão, pois eu adoro aquele agito todo.  Então é por isso que você vive lá e eu aqui. Isa não disse nada, simplesmente balançou a cabeça em sinal de reprovação.  Vamos que tenho bastante coisa para lhe mostrar e quem sabe você também resolve vir morar aqui comigo? Provocou Sabrina.  Olha San, você sabe que eu te amo de paixão, mas também não vamos exagerar...Falou ela rebatendo a provocação da irmã. A duas saíram e foram dar uma volta pelas redondezas, mas dessa vez foram de carro. Depois de tudo visitado, Isa resolveu que já estava na hora de ir embora.  Mas achei que ficaria aqui comigo o final de semana.  Infelizmente não! Só passei para te ver, pois tenho que ir numa festa hoje á noite e não perderia ela por nada nesse mundo.


 Eu sabia que voce não agüentaria ficar por aqui muito tempo... Disse Sabrina sorrindo.  Não tenho culpa se tenho uma vida social...Porque você não vem comigo?  Ir com você aonde?  Na festa. Tenho certeza que iríamos nos divertir muito. Falava Isa ansiosa.  E quem sabe não arruma algum pedaço de mau caminho por lá?  E quem te disse que não me divirto por aqui?  Se diverte como, se você só vive com esses bichos para cima e para baixo?  Você mais do que ninguém sabe que eu os adoro. Falou Sabrina se defendendo.  Eu sei San! Por isso mesmo acho que devia se divertir um pouco, você trabalha demais e não lhe sobra tempo para se divertir.  Pode ser, mas você mesmo sabe que nunca fui muito de sair.  Pois já está na hora de eu lhe mostrar as coisas boas da vida.  E então? Vem comigo? Sabrina já estava com o não na ponta da língua, mas antes de falar tinha que ter uma boa desculpa para dar para sua irmã. Será que já não estava na hora de falar sobre Tom? Mas achava que ainda estava cedo para comentar sobre isso com alguém, pois não sabia qual seria sua reação, então resolveu que antes de qualquer coisa falaria com ele primeiro. Sendo assim resolveu arriscar.  Eu adoraria ir com você, mas é que tenho que acordar cedo amanhã e conhecendo você como conheço, cedo é o horário que você vai estar saindo da festa. Falou ela torcendo para que a irmã acreditasse nela.  Mas é claro que sim! Afinal, festa boa é aquela que termina com o raiar do sol. Disse Isa toda animada.  Olha! Dessa vez vou deixar passar, mesmo porque eu te convidei meio em cima da hora, mas da próxima vez vou te convidar com antecedência e não quero ouvir nenhuma desculpa, combinado?  Combinado. Respondeu Sabrina soltando um pequeno suspiro. O restante da tarde passou voando para Sabrina, logo depois do almoço sua irmã foi embora então voltou sua atenção ao trabalho. Aproveitou aquele restante de tarde para fazer alguns pedidos de vacinas e medicamentos e nem notou que já estava escuro quando Jack a chamou:

 Patroa, eu já vou indo.  Está bem Jack.  Ah patroa, eu já ia me esquecendo.  Sabe aquele ajudante que estava me dando uma mão aqui no rancho?  Sabe que eu até tinha me esquecido dele? E como ele está?  Então! Já faz dois dias que ele não vem trabalhar.  Mas o que aconteceu?  Eu não sei, pois ele não falou nada.  Estranho! Falou Sabrina. Você tem como saber do paradeiro dele Jack?  Sim, estou pensando em ir hoje na casa do pai dele para saber o que houve, amanhã eu te falo no que deu, está bem?  Ótimo! Então até amanhã.  Até. Falou Jack. Depois de terminada a conversa com Jack, resolveu ficar mais um pouco no escritório para por tudo em ordem. Será que era isso mesmo? Ou tentava preencher o tempo em que ficaria sozinha para não pensar em Tom? Não pensou nisso por muito tempo, pois logo sua atenção foi desviada ao ouvir tiros que vinham da floresta. Revoltada, resolveu ir para casa tomar um banho e cair na cama, assim evitaria pensar sobre os pobres animais que ali estavam. Tomou um vigoroso banho, foi até a cozinha e comeu um pedaço de bolo com leite e caiu na cama de cansaço. Assim que deitou na cama, Sabrina adormeceu. E logo teve os mais variados sonhos e todos com Tom. Quando de repente deu um pulo ao ser despertada com um barulho estrondoso que vinha ela já sabia de onde. Assustada e enfurecida, levantou-se e foi até a janela e sem pensar muito no que estava fazendo, entrou no celeiro e selou seu cavalo. Em menos de meia hora já estava no pé da mata com o coração parecendo que sairia pela boca. Só estava curiosa em saber quem estava por detrás daquilo, resolveu então que ficaria as escondidas e depois...Depois o que? Iria até a policia? Para que? Se já havia relatado o que vinha acontecendo ali já fazia muito tempo e até aquele momento nenhuma providência havia sido tomada? Com esses pensamentos entrou na floresta com uma pequena lanterna na mão. Sentiu o sangue gelar em suas veias ao notar como estava escuro ali.


O que será que Tom faria se soubesse que tinha ido até ali sozinha? Provavelmente ouviria um belo sermão da parte dele. É lógico que jamais falaria para ele daquela sua aventura noturna. Tropeçando em alguns galhos no chão, Sabrina se assustou novamente com o barulho de tiro. Só aí foi que percebeu que devia ter chamado alguém para vir com ela, pois no momento não sabia exatamente onde estava. “Meu Deus”! Eu não acredito que me perdi. Assustada, tentava achar o caminho de volta, mas tudo parecia tão igual, pois para todo lugar em que olhava as plantas e o mato pareciam os mesmos. E para piorar a situação, ouvia vozes que pareciam vir em sua direção. E agora? Como foi tola o bastante para colocar sua vida em risco desse jeito? Perguntava-se. Afinal não era só os caçadores que ela temia, existiam também animais selvagens que poderiam fazer o que bem entendesse com ela. Ou seja, era fugir da panela para cair na frigideira, pois se realmente estava perdida não teria como sair dali e o jeito era esperar o dia chegar para ver se conseguia achar uma saída. Mas o problema era que cada vez mais as vozes vinham em sua direção fazendo com que ficasse realmente com medo. Imagina o que poderiam fazer com ela ali sem que ninguém soubesse? Já imaginava as piores coisas possíveis, quando de repente sentiu alguém lhe agarrar por detrás tapando sua boca com uma das mãos. O susto foi tão grande que achou que fosse desmaiar. Se debatendo, queria gritar, mas a mão forte a impedia de tal ato, restando a ela somente sentir lágrimas rolarem por sua face. Lágrimas de desespero e medo. Seu único pensamento no momento foi para Tom. Agora não teria como esconder dele essa sua aventura noturna, pois tinha certeza que aquilo não terminaria nada bem.  Fique quieta! Ouviu-se a voz dizendo num sussurro a apertando mais ainda já que ela não parava de se debater. Ouviu também as vozes que agora pareciam estar logo á sua frente, isso fez com que fechasse os olhos e esperasse o pior.

Se pegou rezando a Deus para lhe dar proteção naquele momento e que não deixasse com que lhe fizessem muito mal. Enquanto rezava nem percebeu que o barulho das vozes aos poucos ia ficando mais longe e a mão que antes a segurava com força, agora lhe fazia um pequeno chamego. Ao sentir que as mãos a estavam levemente a acariciando não pode evitar o pensamento que lhe veio a seguir. “Pronto! Escapei dos caçadores, mas agora serei estuprada”. Pensava ela ainda com os olhos fechados. Não tinha coragem de abri-los. Então em um momento de coragem, se virou e conseguiu empurrar o corpo que estava encostado nela, saiu correndo batendo em alguns galhos de arvores que estavam em sua frente, mas logo foi alcançada pela mesma mão que voltou a lhe apertar com força e agora a arrastava pela floresta.  Fique quieta! Falava a voz abafada. Não demorou muito e Sabrina se viu jogada em um“ colchão”, pois pode sentir a maciez em suas costas. “É agora”! Pensou ela com os olhos fechados. Esperando pelo pior, não notou que estava sozinha ali naquele ‘colchão”. Aos poucos foi abrindo os olhos e pode notar que havia uma luz fraca entrando em uma pequena janela. Olhando mais a sua volta, constatou que estava em uma espécie de cabana e pelo jeito não era usada já fazia algum tempo sendo iluminada apenas pela luz da lua que estava majestosa no céu. Quando ia se levantar para tentar se localizar, escutou uma voz bem perto que a fez se lembrar que não estava sozinha.  Você está ficando louca? Perguntou a voz rouca.  O que?  Você só pode estar ficando louca...Falou a voz mais uma vez. Aos poucos Sabrina foi-se levantando e só aí reconheceu aquela voz que a deixara com tanto medo momentos antes.  Mas o que você está fazendo aqui? Perguntou Sabrina a Tom.  O que “você” está fazendo aqui? Respondeu ele com raiva.  Você realmente não bate bem sabia disso?  Onde já se viu, entrar em uma mata fechada com um bando de homens prontos para lhe fazer inúmeras maldades?  E fora os animais que tem por aí? Continuava ele...


Realmente Tom estava muito, muito bravo. Notou Sabrina. “Droga! Tinha que ser justo ele para me salvar”? Agora teria que ouvir todo aquele sermão e ainda ter que ficar quieta pois tinha sido pega no ato. Mas não podia negar o fato de estar muito contente em tê-lo ali com ela naquele momento, nem que fosse para escutá-lo xingar como estava no momento. De repente sentiu um choro compulsivo lhe invadir a alma e sem poder se conter deixou as lágrimas lavar seu rosto. Tom não sabia se batia ou se a abraçava. Não que fosse de bater em mulher, mas se fosse o pai dela naquele momento ela levaria uma bela surra por deixa-lo assim tão desesperado. Ao olhar para ela, notou que estava em prantos. Correu para abraçá-la. “Talvez tivesse sido muito duro com ela”. Pensou enquanto a aconchegava em seus braços. Deixaria para lhe repreender mais tarde quando estivesse mais calma, pois não gostava de vê-la chorar, muito menos sofrer. Sabrina se jogou nos braços de Tom como uma garotinha. Era como se, só agora desse conta do risco que correra. Aos poucos o choro foi passando e Tom ia lhe confortando dizendo que estava tudo bem. Sentados numa espécie de cama, continuavam abraçados. Tom tentava afastar de seus pensamentos as imagens que teimavam em vir a sua mente, de ver o corpo de Sabrina estendido na mata. Segurando seu rosto entre suas mãos e sussurrou:  Sabrina... Não precisava de palavras naquele momento, Sabrina pode sentir que Tom estava tão assustado quanto ela, sendo assim lhe deu um pequeno beijo em seus lábios como um pedido de desculpas. Se beijaram com sofreguidão, como se tivessem se encontrado agora. Em pouco tempo já estavam totalmente nus, envoltos num ritmo alucinado de amor. Sabrina não conseguia pensar em nada, somente em sentir Tom ao seu lado. Tom tentava em vão entender aquela linda louca que estava o levando a loucura de

todas as formas, mas seus pensamentos se perderam assim que tirou sua última peça de roupa. Nem parecia que estavam perdidos no meio de uma floresta, com vários perigos em sua volta, o que mais importava naquele momento era a ânsia que tinham de sentirem um ao outro mais uma vez. Ao terminarem de se amar, Tom ainda a beijava quando de repente sentiu como se o chão estivesse se movendo. Sabrina achou estranho o chão balançar, mas não deu tempo de pensar em algo, pois sentiu um forte estralo vindo de suas costas, fazendo com que soltasse um gemido de dor. Foi quando percebeu que não era o chão que se mexia e sim a cama em que estavam se quebrou fazendo Sabrina sentir todo o peso de Tom em cima dela e ao mesmo tempo o baque do colchão em suas costas. Não sabia se ria ou chorava de dor pelo fato da cama ter quebrado, mas infelizmente pelo jeito havia machucado as costas, mesmo porque basicamente ficou imprensada entre Tom e o chão sendo que o colchão não era nada grosso.  Eu não acredito! Disse Tom se levantando rápido.  Você está bem? Perguntou ele.  Sim! Disse ela.  Me parece que sim. Disse levantandose também.  Ai!!! Falou ela ao sentir uma pequena dor que vinha de suas costas.  O que foi? Quis saber ele preocupado.  Acho que machuquei minhas costas.  Deixa-me ver. Falou ele virando ela de costas. Tom a olhava preocupado. Realmente havia alguns vergões devido ao fato dela ter batido com as costas.  Realmente machucou um bocado, o certo seria você tirar umas radiografias para ver se não aconteceu coisa pior.  Então vamos. Disse ela se vestindo.  Vamos para onde? Falou ele.  Vamos para minha casa que lá tenho um aparelho de raio-x.  Mas agora?  É lógico, pois se teve alguma fratura dá tempo de remediar. Falava ela com dificuldade em por as roupas.  Mas você acha que pode ter fraturado alguma coisa? Perguntava ele enquanto a ajudava a colocar as roupas.


 Olha! Pela dor que estou no momento acho que sim, mas posso estar enganada e não ter sido tão grave assim. Isso deixou Tom mais preocupado ainda. Sabrina não entendia a reação de Tom, pois nem colocando as roupas ele estava. Era como se não quisesse sair dali.  Algum problema? Quis saber ela.  Não, porque?  Porque até agora você não colocou suas roupas.  Ah! Sabe o que é?  Não! Eu não sei. Sabrina não soube como, mas alguma coisa lhe dizia que não iria gostar de ouvir o que ele tinha para dizer.  Eu não faço a mínima idéia de onde nós estamos. Falou ele com uma certa ironia na voz.  Você só pode estar brincando. Falou ela rindo nervosa.  Eu acho que não. Respondeu ele esperando pela fúria dela.  Eu não acredito. Você não sabe o caminho de volta? Perguntou ela incrédula.  E como você entra em uma floresta para resgatar alguém sem nem mesmo saber onde está? Falava ela em fúria e ao mesmo tempo com dor.  Mas que belo herói você é em? Resmungava sem parar. Nem parecia que momentos atrás ela estava reclamando de dor. Andando de um lado para outro, mais parecia uma fera enjaulada. Tom observava tudo em silêncio e mais uma vez não acreditava no rumo que sua vida havia tomado. Quem diria que em menos de um mês, estaria perdido em uma cabana no meio de uma floresta fazendo amor apaixonadamente com uma linda mulher meio maluca? Até que seria bem romântico se eles não tivessem por companhia caçadores e animais ferozes, e só Deus saberia o que tinha mais por ali. Deixou que ela acabasse com todo seu repertório de palavrões e desaforos contra ele.  E por acaso você sabe onde está nesse exato momento? Quis saber ele.  É claro que não. Disse ela.  Então como você toda poderosa vem me culpando por uma coisa que você mesma devia saber?

 Quem em nome de Deus entra em uma floresta sem saber andar nela e ainda mais a caça de bandidos armados? Agora era a vez dele desabafar, restando para Sabrina ficar quieta. “Até que ele tinha uma certa razão, pois não devia ter vindo sozinha”. Pensava ela. Mas da próxima vez traria alguém consigo.  Como você entra em uma floresta para salvar alguém sem que nem você sabe como sair dela? Não sei nem como você chegou aqui. Falou ela sarcástica.  Eu não acredito que você está falando isso. Falou ele balançando a cabeça.  Você devia dar graças a Deus por eu ter chegado bem na hora em que você estava saindo do celeiro, eu te chamei, mas você não me escutou.  Ao ver que você vinha na direção da floresta, selei um cavalo e quando vi já estava aqui dentro pedindo a Deus que me mostrasse onde você estava, quando de repente vi um pequeno foco de luz, então comecei a seguir esse foco na esperança dele me levar até você, pois com a correria nem me preocupei em pegar uma maldita lanterna. Falou ele num fôlego só. Sabrina ia abrir a boca para protestar quando ele fez um sinal para que ficasse quieta.  Como eu ia dizendo...Entrei em uma floresta que nem conheço, cheia de animais ferozes e um bando de criminosos em busca de uma maluca que depois de tudo ainda reclama que não conheço o caminho de volta, sem contar que nem ela mesma sabe, e se ela tivesse um pouquinho de educação estaria me agradecendo por ser eu quem tenha a achado e não um desses caçadores que tenho certeza faria você sentir mais dor do que está sentindo agora... Sabrina não sabia o que falar. Até um momento atrás estava com tudo na ponta da língua, mas depois de ouvi-lo relatando tudo aquilo, pode perceber que não tinha colocado só a sua vida em risco, mas também a vida dele.  Me desculpe...Disse ela.  Sinceramente só agora me dei conta do risco que você correu. Falou ela desconcertada.  Risco que eu corri? Perguntou ele perplexo.  E você? Será que você não sabe que também colocou sua vida em risco? Ou você


pensa que tem poderes e nada pode te fazer mal. Tom balançava a cabeça em sinal de reprovação e lentamente foi pegando suas roupas do chão e vestindo-as. “Será que estava disposto a viver um relacionamento tão tumultuado assim com Sabrina”? “ Afinal, não tinha se mudado justamente para ter paz e sossego”? “ Então o que exatamente estava fazendo ali naquele exato momento”? Pensava ele pesaroso.  Eu realmente sinto muito Tom... Falava ela.  Vamos deixar isso para depois está bem?  Agora temos que dar um jeito de sair daqui para que você possa ir a um médico.  Mas eu não preciso ir em médico nenhum, pois eu te disse que tenho um aparelho de raio-x... Nem terminou de falar ao ver a cara que Tom fazia.  Eu já disse que você vai ver um médico, entendeu? Falou ele entre dentes. Sabrina achou melhor ficar quieta pois ele ainda estava muito bravo, mesmo porque no momento não tinha muita força para debater com ele pois suas costas doíam demais. Tom já havia terminado de se trocar, foi quando perceberam que já estava amanhecendo o dia. Estavam se preparando para sair quando de repente a porta se abriu e entrou por ela um senhor baixo de barba branca e meio carrancudo. Os três se entreolharam sem dizerem nada, até que o homem disse:  O que vocês estão fazendo aqui na minha cabana? Perguntou ele sério.  Ah! Disse Tom. Então o senhor é dono dessa cabana? Falava ele olhando para Sabrina em busca de uma desculpa, mas ela estava mais perdida do que ele e dando de ombros fez sinal que não sabia o que dizer.  E então? Posso saber o que estão fazendo aqui?  Claro! Falou Tom tentando ganhar tempo.  Sabe o que é?  Eu e minha namorada estávamos dando uma volta aqui por perto e apareceu um pequeno coelho e como ela gosta muito de animais, resolveu segui-lo, é lógico que contra

a minha vontade, mas o senhor sabe como são as mulheres não é? Nunca nos dão ouvidos. Falava ele a olhando com ironia. O homem olhou para ela balançando a cabeça como se tivesse repreendendo-a. Sabrina estava furiosa, mas não podia falar nada senão estragaria a história de Tom, mas tratou de mandar um olhar de ódio para ele. Tom sabia que ela devia estar furiosa com ele, mas mesmo assim continuou sua narrativa.  Eu ainda a avisei que não deveria fazer isso, mas assim mesmo ela entrou na floresta e não tive outra saída senão entrar aqui para protege-la de algum animal, mas como eu não conheço a floresta então foi muita sorte termos encontrado essa cabana onde pudemos ficar por algum tempo.  Foi sorte mesmo, pois essa floresta é muito perigosa.  Você devia ouvir mais o seu namorado moça, e não ficar se aventurando por aí sabia? Disse o homem olhando para Sabrina.  Será que o senhor poderia me dizer como faço para sair daqui? Tom tratou de mudar o rumo da conversa pois tinha certeza que Sabrina já estava com os palavrões na ponta da língua para xingar o pobre coitado.  Mas é claro que sim.  Logo a frente tem um caminho na mata, é só vocês seguirem ele que logo estarão fora daqui. Disse o homem indicando para Tom o caminho que ele teria que seguir.  Muitíssimo obrigado. Falou Tom pegando Sabrina pela mão e puxando-a para fora.  Mas o que diabos aconteceu com a minha cama? Perguntou o homem assim que entrou na casa, pois o tempo todo ele tinha permanecido na porta. Ao ouvir essas palavras Sabrina sentiu o coração bater mais forte, não sabia se era pelo fato deles terem sido descobertos ou por ter se lembrado dos momentos que desfrutaram nela antes de despencar tudo em cima dela.  Olha! Quando nós chegamos já estava assim...Disse Tom puxando Sabrina pela mão e saindo da cabana apressado. Saíram tão rápido que não puderam ver a expressão da cara do velho ao ouvir aquela teoria de Tom. Andavam apressados no meio da mata e depois de uns dez minutos finalmente puderam sentir a luz do sol que batia em suas faces.


Tom respirou fundo ao sentir a brisa suave batendo em seu rosto e pela primeira vez pode entender o significado da palavra “livre”. Sim! Era essa sensação que sentia agora, era como se estivesse liberto de alguma jaula ou sabe-se lá o que...Mas o que mais importava era sentir aquela sensação de novo. Sabrina adorou o contato do sol em sua pele, era como se estivesse á muito dias sem ver a luz do dia e agradeceu aos céus e a Tom por ter contribuído para que ela pudesse desfrutar desse momento mais uma vez. Seguiram pelo mato em busca dos cavalos que tinham ficado pastando por ali na noite anterior. Mas não havia nenhum sinal deles, sendo assim tiveram que fazer o caminho todo a pé. Nenhum dos dois falavam nada, deixando entre eles um “buraco” de silêncio. Sabrina resolveu ficar calada mais por causa do esforço da caminhada que fazia com que sentisse mais dor. Tom pensava se queria realmente continuar com aquele envolvimento que pelo jeito mais dia ou menos dia o levaria a ter um outro “começo de enfarte”. Só de pensar naquela palavra já sentia o estômago revirar ao se lembrar do pânico que vivera não muito tempo atrás. Tratou de afastar tais pensamentos que jurou a si mesmo deixar o passado para trás e viver uma nova vida. Só não contava que seria uma vida onde teria que colocar seu coração em risco mais uma vez, seja no plano emocional ou no de aventuras ao se apaixonar por uma doida que só se metia em encrencas, pelo menos desde que ele a havia conhecido. Tom olhou para Sabrina pela primeira vez desde que tinham saído daquela floresta e notou seu desconforto em respirar, mas mesmo assim ela não reclamou nenhuma vez de dor. No mesmo tempo em que tinha vontade de lhe dar umas chacoalhadas, Tom a admirava por lutar por aquilo em que acreditava e que gostava, e também por ver em como ela era cabeça dura, pois quem a olhava agora nem parecia que estava com dor. Preocupado resolveu acabar com aquela situação. Parou á sua frente e disse:  Você não acha melhor ligarmos para alguém vir nos buscar?

 Porque? Agora que já estamos chegando? Falou ela devagar.  Será que você não pode um minuto sequer tentar ser uma pessoa normal?  Sinceramente, não sei o que você está falando.  Estou falando da dor que você está sentindo agora e mesmo assim não dá o braço a torcer.  Se você já sabe que estou com dor para que vou ficar resmungando? Falou ela já com lágrimas nos olhos.  Eu só quero te ajudar, só isso. Falou Tom agora mais brando.  Me ajudar ou ficar me dando sermão? Disse ela sentando-se na grama e fazendo uma leve careta.  Qual o número da sua casa? Disse ele pegando o celular. Depois de fazer uma rápida ligação, Tom sentou-se ao seu lado.  Olha! Realmente eu sinto muito ter colocado você no meio de tudo isso, mas o que está feito já está feito, então se você quiser me perdoar tudo bem, mas se não então vá pro inferno você e essa cambada de bandidos. Dizia ela.  Eu sinto muito se você se viu jogado na cova dos leões, mas só quero te dizer que eu sou assim e provavelmente não vou mudar, então eu te falo mais uma vez que se você puder conviver com isso tudo bem se não você já sabe aonde ir... Nem terminou de falar, pois colocou tanta emoção naquele desabafo que teve que sucumbir a dor. Deitou a cabeça no colo de Tom e se encolheu de dor. Tom a embalou como um bebe, fazendo carinho em seus cabelos. Não disse nada, somente tentava colocar seus pensamentos e emoções em ordem. “ Meu Deus! Onde fui me meter”? Pensava ele a olhando com pesar em ver sua face retraída em dor. Ficaram ali sentados no meio do nada por mais algum tempo, quando Tom avistou ao longe uma camionete que vinha na direção deles e agradeceu á Deus por reconhecer o ajudante de Sabrina que desceu do carro correndo e ajudou a levantá-la. Soltando um gemido, Tom a colocou gentilmente sob o banco e foi sentar atrás na carroceria enquanto Jack dirigia pela estrada.  Direto para o hospital patroa? Disse Jack a encarando.  Sim! Falou Tom colocando a cabeça na portinhola do carro.


 Direto para o hospital. Jack se assustou com Tom, mas não disse nada. Logo já estavam dando entrada no hospital, foi nessa hora que Tom reconheceu que não sabia nada sobre ela. Se não fosse por Jack, ele não saberia nem por onde começar para preencher a ficha do hospital. “ Será que já não estava na hora de se conhecerem melhor”? “ Ou não seria melhor deixar do jeito que estava e se afastar para poder viver o que tinha ido buscar ali, ou seja paz e tranqüilidade”? Tom não sabia o que pensar, sendo assim resolveu dar total atenção á Sabrina e depois veria o que resolvia. Mas uma coisa ele estava certo. Seria uma decisão das mais difíceis que iria ter que tomar em sua vida. Sabrina acordou com uma certa dificuldade em respirar, tentou se levantar mas foi impedida por um par de mãos que a empurraram levemente de volta na cama. Passou a mão pelos olhos a fim de tentar decifrar onde estava. A primeira coisa que viu foi o rosto de Tom que a olhava preocupado, desviou o olhar para ver em que lugar estava e logo pode identificar que estava no leito do hospital. Tentou falar algo, mas sentiu como se tivesse engolido terra pois sua garganta estava muito seca. Notando seu esforço em falar, Tom encheu um copo com água que já estava ali em uma jarra, gentilmente a ajudou a se levantar e aos poucos foi derramando sob seus lábios a água que ela tanto precisava. Assim que terminou ela conseguiu dizer em um sussurro:  O que houve comigo? Quis saber ela.  Você não se lembra? Disse ele ainda preocupado.  Pouca coisa...  Você se lembra pelo menos da parte da floresta não é?  Sim! Isso eu me lembro.  Então! Eu chamei o seu ajudante para nos buscar e aqui estamos nós.  E o que aconteceu comigo?  Pelo o que disse o médico, você está com duas costelas fraturadas devido a você sabe o que. Falou ele ainda sério.  Hum! Então estavam mesmo fraturadas...  Sim.

Ficaram em silêncio. Sabrina se sentia inquieta, não sabia se era pela dor ou por notar a distância que existia entre eles neste momento. Agradeceu por estar sob efeito dos remédios, então fingiu que estava com sono e aos poucos foi fechando os olhos e sem que percebesse caiu num sono profundo. Depois de ficar dois dias internada, Sabrina já estava de volta á sua casa. Assim que recebeu alta, Tom a levou embora depois de ouvir as recomendações médicas. Ela não poderia pegar peso e teria que continuar a tomar os remédios na hora certa, sendo assim não precisaria passar por uma operação. No caminho de volta do hospital, nenhum dos dois conversou muito. Tom perguntou como ela estava e ela respondeu que já estava bem. O restante do caminho foi feito em silêncio, até a chegada em sua casa. Tom a acompanhou até seu quarto sendo seguido por Jack que veio lhes recepcionar. Depois de passar para Jack algumas recomendações, resolveu ir embora dizendo que voltaria mais tarde. Mas não voltou. Sabrina não se sentia assim fazia muito tempo. No momento não saberia distinguir quais sentimentos estavam aflorando mais. Dor, raiva ou decepção. Dor, porque mesmo tomando remédios ainda sentia dificuldade em se locomover e respirar. Raiva, por tudo ter acontecido daquela maneira. E decepção por sentir que Tom não tinha coragem suficiente para terminar com ela o que tinham um com o outro. E para piorar a situação, estava ali entrevada naquela cama tendo aqueles pensamentos negativos e não podia nem ir até o lago espairecer um pouco. No terceiro dia que estava em casa, resolveu dar uma volta devagar sem muito esforço. Aos poucos, levantou-se da cama e logo estava caminhando lentamente pelo rancho rumo ao seu tão desejado lago. Era ali que ela se sentia em paz, revigorada. Qualquer coisa que a estivesse atormentando sua alma, era só vir até ali para


que saísse revigorada pronta para o que der e vier. Então silenciosamente pediu que acalmasse seu coração e tirasse dali aquela tortura que sentia por não ter Tom ao seu lado. Já fazia três dias que não tinha nenhuma notícia dele, nem mesmo veio visitá-la. E isso fazia com que se torturasse por ter entrado naquela bendita floresta. E também se odiava por ter colocado a vida dele em risco, disso ela jamais poderia se perdoar. Tom estava com o coração apertado dentro do peito de tanta saudade que estava de Sabrina. Lutava contra a vontade que tinha em ir até sua casa para lhe visitar, mas sabia que não agüentaria em simplesmente vê-la e não lhe cobrir de beijos e abraços. Sempre que dava um tempo na obra do rancho corria até o rancho de Sabrina para saber de Jack como ela estava. Ficava amargurado em estar ali e não entrar, mas prometeu a si mesmo que só faria isso quando estivesse certeza da decisão que tomaria e no momento não tinha sequer parado para pensar. Não sabia se era por falta de tempo ou se estava com medo de tomar uma decisão. Então sempre deixava para outro dia, enganando a si mesmo. Estava andando para uma volta quando apareceu diante de si o seu xará Tom o coiote. Sem que Tom o chamasse, ele simplesmente começou a andar ao seu lado em uma companhia silenciosa que ele aceitou de bom grado.  O que eu faço Tom? Perguntou ao coiote. Olhou para o coiote esperando uma resposta, mas simplesmente o outro abaixou a cabeça.  O que você faria se estivesse em meu lugar? Desabafava Tom ao seu mais novo amigo. Quando ele menos imaginou já estava chegando perto do lago de Sabrina. Diminuiu um pouco os passos e fez menção de voltar, mas notou que o coiote continuou a andar e ao ver que Tom havia parado deu uma pequena parada e o olhou. O coiote olhou para Tom e depois continuou seu caminho em silêncio restando a Tom segui-lo em sua caminhada. Assim que se viu diante do majestoso lago, ao longe pode notar uma figura que estava sentada próxima de suas águas.

Sentindo o coração saltar no peito, olhou para o coiote e disse:  Traidor. Você tinha que me trazer justamente para ela? O coiote simplesmente o olhou e correu na direção de Sabrina deixando ele para trás. Se ela não o tivesse visto ele até que tinha voltado, então não teve outra alternativa senão ir ao seu encontro. Achava que já estava na hora de conversar com ela e tentar resolver aquela situação que estava pendente entre eles. Sabrina foi com uma certa dificuldade até aquele local para ver se conseguia acalmar seu coração e até que isso poderia ter acontecido se Tom não aparecesse ali para lhe provocar euforia. Não adiantava mais negar, estava apaixonada por ele. Mas sentia que mais uma vez seu coração sofreria, só não sabia como faria agora para se safar de mais uma desilusão. Afinal quando terminou seu noivado com Brian, ela buscou refúgio no rancho se isolando de tudo e de todos. Mas como faria isso tendo ele como seu vizinho? Ou seja, como faria para esquece-lo se estava li tão perto?  Bom dia. Disse Tom assim que chegou perto dela.  Bom dia. Falou ela num sussurro.  Como você está? Quis saber ele. Tom se controlava para não beijá-la e esquecesse da decisão que teria que tomar, sendo assim resolveu ficar de pé.  Sabrina...Nós temos que conversar...Falava ele receoso.  Eu estava pensando em quando você teria coragem para vir falar comigo. Disse ela retraída.  Me desculpe por ter me afastado ultimamente, mas é que...  Eu não preciso de suas desculpas e muito menos de suas preocupações em relação á minha saúde, porque se estivesse mesmo preocupado você não teria sumido desse jeito...Desabafava ela.  Eu vou deixar tudo mais fácil para você Tom...Já está mais do que na hora de colocarmos um ponto final nessa “coisa” que existia entre nós, sendo assim você não tem que se desculpar ou fingir que se preocupa comigo está bem?  Agora me dá licença que tenho muito que fazer...


Disse ela se levantando com uma certa dificuldade, sentindo-se péssima. Tom fez menção de ajudá-la, mas ela dispensou sua ajuda com um gesto brusco.  Não faça isso...Pediu ela se afastando. Tom sentiu como se tivesse sido apunhalado bem no meio do peito, pois tinha a sensação que seu coração tinha parado de bater. Como era duro ouvir aquelas palavras, ainda mais da pessoa que se gostava. Mas já estava decidido a resolver aquela situação, não deixaria que Sabrina pensasse que ele era um cafajeste como devia estar pensando agora. Sendo assim a alcançou e lhe disse:  Sabrina espere...  O que mais você quer de mim Tom? Falou ela se virando.  Eu só quero te explicar uma coisa....  O que é? Falava já nervosa, pois não estava mais suportando ficar perto dele sem se sentir mal. Os dois ficaram ali se fitando por um tempo. Tom podia ver em como ela estava sofrendo, e isso fez com que se sentisse um trapo. Sabrina notou seu desconforto, parecia até que ele procurava uma razão para aquilo tudo mas não conseguia se expressar. Quem quebrou aquele clima tenso foi Jack que gritou de longe que ela tinha visita. Então se virou e começou a fazer seu caminho de volta e pela primeira vez tinha conseguido voltar dali pior do que antes. Tinha vontade de ir para seu quarto e chorar, pela aquela maldita dor que não a deixava em paz e também por finalmente ter terminado com Tom. E sabia que essa dor seria a mais difícil de passar. Tom não conseguia se mover dali, a vontade que tinha era de correr atrás dela e falar que tudo não passava de um grande engano. Mas não podia fazer isso, pois só a faria sofrer mais ainda. Sendo assim, resolveu voltar para seu rancho e apesar de saber o caminho, se sentia totalmente perdido. Sabrina andava lentamente, sentia que suas forças estavam no fim. “Mas como foi que se deixou envolver com tanta intensidade desse jeito”?

“Isso era culpa dos hormônios, pois já fazia tanto tempo que não ficava com alguém que despejou em Tom toda sua carência”. Suspirou fundo ao ver que sua visita era o delegado Bob que a esperava apoiado em seu carro.  Quando me contaram eu não pude acreditar, então vim ver com meus próprios olhos. Falou o delegado.  Contaram o que Bob? Falou ela desanimada.  Que você mais uma vez se aventurou na floresta...  Ah, isso? Disse não dando muita importância ao fato.  Mas eu não tinha te avisado para não ir até lá que é muito perigoso?  Já sim Bob, você e quase toda a cidade....  Você sabia que essa é a coisa mais estúpida que alguém já fez? Falava ele sem perceber o seu estado.  Sim! Agora eu sei disso.  Você sabia que poderia ter acontecido coisas ruins com você? Você podia até ter perdido a vida Sabrina.  Sim! Pode-se dizer que eu perdi minha vida...Falava ela mais divagando para si mesma do que propriamente respondendo á Bob.  Perdeu não, quase perdeu. Corrigiu Bob.  Mas é como se tivesse perdido...  Mas do que você está falando? Quis saber Bob. Pela primeira vez Sabrina olhou para Bob e só aí foi que percebeu que não estava falando coisa com coisa.  Você está bem Sabrina?  Sim! Estou sim, só um pouco cansada. Disse ela sentando-se na varanda.  E por falar nisso, como foi que você se machucou?  Ah! Devo ter caído em algum momento, mas eu não me lembro muito bem...  Você sabe que mesmo assim não poderei fazer nada não é?  Eu sei disso Bob, mas você quer saber de uma coisa?  Estou cansada de tudo isso sabia?  Cansada da impunidade, cansada de pessoas fazendo o que bem entenderem não importando com os sentimentos dos outros...  Sentimentos dos outros? Sabrina notou que mais uma vez estava falando da sua vida pessoal do que do fato em si.


 Sim, pois os animais também têm sentimentos sabia disso? Corrigiu ela.  Hum! Sei. Falou o delegado a achando estranha. Sabrina não estava com nenhuma vontade de conversar ou trocar idéias com ninguém, nem mesmo o assunto da floresta conseguia mexer com ela. Sendo assim despediu-se de Bob dizendo que precisava descansar. Deitou em sua cama desanimada, sentia que não teria forças para mais nada naquele restante de dia. Aos poucos o sono a venceu e logo já estava dormindo. Tom voltou para seu rancho desolado. Sua intenção não era terminar com ela e sim lhe pedir um tempo para por seus sentimentos em ordem. Afinal, ainda era muito cedo para testar eu coração, apesar de sentir que não tinha nada errado com ele, pois só de pensar naquela noite na floresta sentia como se aquilo tivesse sido um teste para ele. Que com certeza ele provou que estava tudo na mais prefeita ordem. Esperaria que ela estivesse mais calma e aí sim lhe falaria dos motivos que o levaram a se afastar. Só não sabia se conseguiria ficar muito tempo sem lhe ver sabendo que ela estava ali tão perto. Sabrina acordou sentindo-se melhor. Levantou de sua cama, tomou um banho e se dirigiu até a cozinha para colocar algo em seu estômago. Notou que tinha dormido demais e assobiou ao ver que já passava das dez horas da noite. Para quem ia tirar apenas um cochilo, tinha dormido demais. Saiu pela porta que dava para sua varanda e contemplou a lua que mais uma vez estava majestosa no céu. Como tudo estava em ordem, resolveu entrar e assistir um pouco a tv antes de ir dormir. Já estava sentada em sua sala, quando escutou um barulho vindo do lado de fora. Levantou-se para conferir se não era nenhum animal em busca de comida que de vez em quando vinha visitá-la. Então mais uma vez saiu na varanda e logo foi surpreendida por um par de mãos que a agarrou tapando sua boca.  Porque você não fica quietinha em seu lugar em? Falou a voz em seu ouvido.

Sabrina entrou em pânico, começou a se debater para se soltar, mas sentiu que quanto mais se debatia mais era apertada. Não sabia o porque daquilo, e apesar da dor que sentia por causa de sua costela continuava a se debater. Lutava contra aquelas mãos fortes que a mantinham calada, pois queria gritar pedindo ajuda mas não conseguia. Em meio a muitos solavancos, sentiu que as mãos a soltaram fazendo com que caísse no chão. Logo notou que alguém a tinha socorrido, mas como seu rosto já estava banhado em lágrimas, demorou um pouco em ver que seu salvador era Tom e que no momento trocava socos com um rapaz que vestia uma espécie de máscara. Encolhida em um canto, ainda deu tempo de ver que o homem apontava uma arma para Tom que o olhava parado sem poder reagir. Temendo por sua vida, Sabrina se levantou e se juntou a Tom que a empurrou de volta para que saísse da linha de um possível tiro. O homem parecia indeciso em puxar o gatilho e logo já estava saindo correndo. Tom ainda pode ver que alguém o esperava no final da estrada, pois ouviu o som de pneus de carro derrapando nas pedras. Ainda ofegante e suado pelo esforço da luta, Tom levantou Sabrina e a abraçou. Nem se importou dela estar com dor ou chorando, só o que importava no momento era senti-la perto dele de novo. Sabrina aconchegou-se a Tom mais uma vez em busca de refúgio, sentia que seu coração iria saltar do peito. Não sabia se era pelo medo de agora pouco ou de ter Tom mais uma vez a abraçando. Ficaram os dois ali por um tempo sem se mexerem, cada um matando a saudade de seu jeito. Tom procurou seus lábios em um beijo sofrido. Sabrina deixou-se envolver mais uma vez por aqueles lábios que a tinham tantas vezes lhe deixado sem fôlego. Envolvidos naquela doce loucura, nem mesmo se importavam do ocorrido há pouco. Aos poucos a razão foi voltando e Sabrina murmurou:  Mas não tínhamos terminado? Falou ela ainda sentindo seus lábios serem tocados por ele.  Hum hum! Concordou ele sem parar de beijá-la.


A única coisa que importava naquele momento era senti-la perto dele e agora mais do que nunca tinha certeza que não ficaria mais um minuto sequer longe dela. Nem que para isso fosse obrigado a fazer exames diários em seu coração.  Mas o que foi aquilo? Perguntou ela assim que ele parou de beijá-la.  Eu também não sei, mas temos que prestar queixa o mais rápido possível. Falava ele a olhando preocupado.  O que será que ele queria? Divaga ela.  Isso eu também não sei, pois ele não falou nada, somente brigou comigo. Só agora é que Sabrina notou que seu rosto estava com um pequeno hematoma devido á luta que havia tido com o estranho. Passou as mãos pelo seu rosto carinhosamente e o puxou para dentro de casa para lhe fazer um curativo.  O que você está fazendo? Disse ele.  Eu vou te fazer um curativo, pois se você não sabe tem um belo de um machucado em seu rosto. Tom passou a mão no local indicado por ela e sentiu um leve ardido ao tocar no ferimento. Soltou um resmungo e a encarou.  Curativo nada! Vamos direto para a delegacia e fazer já uma ocorrência. Disse ele a puxando pela mão.  Calma! Eu tenho que me trocar primeiro você não concorda? Falou ela olhando para o próprio corpo. Tom a olhou e só aí notou que ela estava somente com um pijama que deixava á mostra as suas pernas e parte do bumbum. Passando os olhos pelo seu corpo, as imagens deles fazendo amor e de todos os beijos que já havia dado naquele belo corpo vieram a toda em seu pensamento fazendo com que sentisse um desejo enorme de deixar tudo de lado e levá-la para o quarto descarregar toda aquela adrenalina misturada com desejo que invadia seu corpo. Desviou o olhar e soltou sua mão para que não fizesse algo que se arrependeria mais tarde. Mas uma coisa ele estava certo, mesmo depois de todo aquele tempo longe dela sentia que não tinha servido para nada e sim somente aumentar seu desejo. Afastou-se dela e fez sinal para que fosse se trocar e assim que ela saiu pode finalmente respirar aliviado. “Essa será um longa noite”. Pensou ele passando a mão pelo rosto e mais uma vez sentindo dor.

Sabrina estava trêmula, apesar da sensação gostosa dos beijos de Tom ainda podia sentir a sensação de pânico que vivera momentos atrás. Trocou-se depressa e logo já estavam dentro do carro de Sabrina rumo a delegacia.  Eu tenho que te agradecer por ter aparecido lá. Disse Sabrina lembrando-se que não havia conversado com ele sobre aquilo.  Você não precisa me agradecer por nada Sabrina.  Mas como você sabia que eu estava precisando de ajuda? Falou ela intrigada.  Eu não sabia, estava indo até sua casa para acabarmos aquela nossa conversa que fomos interrompidos nessa tarde.  Ah! Aquela na qual você terminou comigo?  Eu não terminei nada, você é quem colocou palavras em minha boca.  Engraçado que não o ouvi dizendo que eu estava errada.  Achei melhor ficar quieto porque você não estava se sentindo bem naquela hora.  Mas você não acha que...  Eu acho que devemos acabar essa conversa em outra hora e nos preocupar com aquele sujeito que a atacou, você não acha?  Sim! Você tem razão. Disse ela séria se lembrando da cena.  “Por enquanto” você tem razão.Frisou ela.  Está certo. Falou ele sem querer lhe dar motivo para debates, pois sua cabeça já estava doendo de tanto pensar naquela noite. E se ele não tivesse ido até a casa dela para conversar? E se aquele cafajeste a tivesse machucado? Não queria lhe falar nada para não deixala assustada, mas tinha quase certeza que aquilo tudo era pelo simples fato dela estar metendo o nariz onde não era chamada, ou seja, sem querer ela tinha conseguido chamar a atenção de alguém mais poderoso nessa história toda de caçador. E isso significava que estava correndo risco de vida. Agora mais do que nunca faria o delegado se empenhar mais em seu papel de homem da lei, pois agora eles também conseguiram chamar sua atenção. Chegando a delegacia foram informados de que o delegado não estava e logo Tom insistiu para que ele fosse chamado com urgência.


Assim que viu a situação em que estava o rosto de Tom, o rapaz atrás do balcão tratou de pegar o telefone e numa rápida ligação conversou com seu chefe. Depois de esperar um tempo, o delegado entrou apressado na delegacia.  Mas o que houve? Perguntou alterado olhando pela sala.  Alguém me atacou hoje em meu rancho Bob. Disse Sabrina se levantando assim que o delegado entrou.  Atacou? Mas como? Porque? Perguntava ele aflito.  Eu não sei, e por isso vim até aqui para que você possa investigar e me responder porque foi que me atacaram.  Mas é lógico que eu vou investigar.  Por acaso você viu quem fez isso San?  Não! Além de estar escuro, ele me atacou pelas costas e usava máscara o tempo todo.  Isso vai ser bem difícil. Disse o delegado coçando a cabeça.  Porque difícil?  Porque eu não tenho nenhuma pista. Tom que estava quieto até aquele momento resolveu dizer:  Porque você não vai até o rancho e tenta descobrir alguma pista?  Sim! Eu vou até lá.  Mas é melhor você deixar isso para amanhã, pois está bem escuro e provavelmente você não conseguirá achar nada nessa escuridão.  Você tem razão. Tudo bem para você San?  Tudo bem sim.  Se quiser eu fico com você essa noite para o caso dele querer voltar...  Pode deixar que vou ficar com ela. Falou Tom sem deixar que o delegado terminasse de falar. Os dois se entreolharam por um momento, deixando Sabrina com a respiração em suspense. Parecia que estavam duelando com o olhar, sendo assim ela resolveu dizer:  Obrigada Bob. Mas realmente, Tom mora perto de mim e você tem muito que fazer.  Está bem.  Vamos Tom? Disse Sabrina o pegando pela mão. Tom não disse nada, pegou a mão que Sabrina oferecia e saíram da delegacia. Sabrina convenceu Tom a ir até o hospital fazer um curativo no rosto, pois

parecia que estava mais inchado do que momentos atrás. Chegando ao hospital, foram levados até uma sala aonde um médico veio examina-lo. Apertou o rosto de Tom que fez uma careta de dor e chamou a enfermeira para lhe fazer um curativo informando que não tinha nenhuma fratura, mas que ele precisaria tomar um remédio para desinflamar o rosto. Enquanto a enfermeira fazia o tal curativo, Sabrina pensava no ocorrido. “ E se Tom não tivesse aparecido naquela hora”? Sentiu um arrepio de medo percorrer seu corpo. A questão agora era como conseguiria ficar sozinha no rancho depois de ter passado por aquilo tudo? Afinal tinham invadido sua privacidade. Logo já saíam do hospital, Tom com um esparadrapo no rosto e ela respirando devagar por causa da costela. Foram direto para o rancho de Sabina. Tom parou o carro e entrou juntamente com Sabrina que estranhou essa atitude.  E então? Onde que eu posso dormir? Perguntou ele.  Dormir? Aqui? Você quer dormir aqui?  Eu não falei lá na delegacia que iria ficar aqui com você?  Ou você prefere o delegado? Provocou ele.  Sinceramente eu preferia não ter que escolher uma babá para ficar comigo.  Mas infelizmente terá que ser assim, até que o delegado descubra quem fez isso e o coloque na cadeia.  E vou ficar aqui até que tudo isso tenha acabado, quer você queira ou não. Disse ele sério. Sabrina até que tentou protestar, mas achou melhor ter alguém por perto para o caso de ser atacada de novo e além do mais, tinha certeza que se não fosse Tom que ficasse com ela provavelmente teria que ficar na companhia de Bob. Optou pela primeira opção. Mesmo sabendo que seria um inferno ficar do lado dele sem deixar de pensar nas noites em que tinham passados juntos. Respirou fundo e afastou tais pensamentos, pois estava toda confusa em relação a eles.  E então? Onde eu posso dormir?  Eu não sei se será uma boa idéia você ficar aqui Tom.  E porque não?


 Porque? Sinceramente eu não te entendo sabia? Depois falam que as mulheres é que são difíceis de entender.  Você deu em cima de mim até que eu cedi a você...  E depois sem mais nem menos se afastou...  E de repente, me beijou como se nunca tivesse me deixado...  Eu sinceramente não sei o que você quer de mim...Desabafou ela. Tom a olhava intrigado, realmente devia uma explicação á ela.  Você tem razão em ficar brava comigo Sabrina, não era minha intenção terminar com você.  A razão por eu ter me afastado é que eu estava apavorado...  Apavorado? Por acaso você está com medo de mim?  Sim e não. Disse ele se explicando.  Olha! Eu decidi vir morar no interior em busca de paz e sossego.  Mas quando te conheci, meu mundo virou de ponta cabeça.  E sem que me desse conta, lá estava eu em busca de uma linda mulher cabeça dura no meio de uma floresta cheia de bandidos e animais selvagens.  Foi naquela noite que eu percebi de como perigosa era essa nossa relação.  Então o que você está querendo me dizer é que está com medo do meu jeito de viver é isso?  Fica quieta que ainda não acabei.  O que estou querendo lhe dizer é que essas emoções são muito fortes para minha saúde. Falou ele vendo que ela continuava sem entender nada.  Antes de vir para cá eu tive um sério problema de saúde, para ser mais exato eu quase tive um enfarto.  Enfarto? E porque você não me disse nada?  Ah é? E como eu diria isso á você?  Oi. Eu estou me apaixonando por você, mas por favor vamos devagar senão eu posso enfartar. Disse ele pesaroso. Andando em círculos pela sala ele continuou:  Eu trabalhava como corretor na bolsa de valores de Nova York, trabalhava oito, doze até quinze horas por dia.  Isso quando eu não levava serviço para casa.  Nessa época eu estava noivo, e minha noiva era filha de uma família tradicional.

 Então! Como pode imaginar, eu fazia de tudo para ficar no mesmo nível que ela, e antes que eu pudesse dar conta, tive um colapso e por pouco não tive um enfarto.  Quando fecho meus olhos ainda posso sentir as dores no peito, a falta de ar como se tivesse me afogando.  Fiquei internado por algum tempo em observação, até que um dia minha noiva entrou em meu quarto para me informar que não podia mais ficar comigo, pois ela não via um futuro para nós. Falou ele dando um pequeno sorriso.  Veja bem! Quem em sã consciência entra no quarto de uma pessoa que você jura amar e mesmo sabendo que ele quase teve um ataque, simplesmente vai embora te deixando perdido, sem nem mesmo uma palavra de carinho ou uma demonstração de afeto?  Eu não sabia o que era pior, o pânico por estar sentindo tudo aquilo ou a sensação de fracassado, e sinceramente, cheguei a pensar em desistir da vida, sabe? Falou cabisbaixo.  Depois de um bom tempo em que fiquei internado, o médico me aconselhou a deixar tudo para trás e começar uma vida nova, longe de tudo aquilo.  E aqui estou eu.  Eu não tenho medo de você, eu tenho medo de passar por tudo aquilo de novo.  E depois desse tempo em que ficamos longe um do outro, cheguei a conclusão de que não consigo ficar muito tempo longe de você.  E isso me faz ficar apavorado. Falou ele parando de andar e a olhando direto nos olhos. Sabrina não sabia o que dizer depois de uma confissão daquelas. A única coisa que vinha em sua mente agora era o risco que ele havia corrido por causa dela. Mesmo sabendo que estava correndo risco de ter um ataque, ele entrou na floresta para salvá-la. Se tinha dúvidas em relação dos sentimentos dele com ela, agora já não tinha nenhuma. Sendo assim, caminhou até ele e o abraçou forte, tentando passar ali todo o carinho que tinha por ele.  Me desculpe. Disse ela.  Desculpar porque? Falou ele.  Por ter colocado sua vida em risco.  Mas você não tinha como adivinhar e além do mais, eu entrei na floresta naquela noite porque você é mais importante para mim do que pode imaginar Sabrina.


Abraçaram-se por algum tempo, até que Tom a beijou gentilmente nos lábios. Sabrina aprofundou mais o beijo, fazendo Tom soltar um leve gemido. Beijaram-se com paixão, até que Sabrina resmungou algo que fez com que Tom parasse de beija-la.  Essa droga de costela! Disse ela.  Você está bem?  Sim! Eu já estava quase boa, mas devido ao episódio de hoje, deve ter piorado porque ele me apertou muito forte.  Porque você não aproveitou e pediu para o médico dar uma olhada?  Porque eu não estava sentindo muita dor, mas acho que era por causa da adrenalina.  Eh! Ela nos faz fazer coisas que nem fazemos idéia de que somos capazes. Disse Tom pensativo.  Sim, é verdade. Respondeu Sabrina.  E então? Onde posso dormir? Perguntou ele mais uma vez.  Se você quiser pode ser no meu quarto, mas não sei se é uma boa idéia. Falou ela com malícia.  E porque você acha isso? Perguntou ele.  Porque minhas costelas estão muito doloridas e não sei se serei capaz de manter minhas mãos longe de você. Falou ela carinhosa.  Hum! Então quer dizer que você não consegue resistir a mim?  Eu achei que fosse só eu que me sentia assim. Falou ele a abraçando.  Bom! Vamos dormir que já está bem tarde e sinceramente estou precisando de um descanso.  Sim! O dia foi bem tumultuado. Passaram-se dois dias desde que Sabrina havia tido aquela visita nada agradável em seu rancho. Tom continuava a lhe fazer companhia ficando cada vez mais difícil resistir a ele. Sabrina não via a hora de melhorar para desfrutar dos carinhos de Tom, mas infelizmente pelo jeito ainda levaria alguns dias para aquilo acontecer. Para Tom era um martírio, pois por mais cansado que ficava ao trabalhar na reforma do rancho, sempre que chegava a hora de ir para cama com Sabrina tinha vontade de ignorar o seu estado de saúde e fazer amor apaixonadamente com ela. Isso era um verdadeiro teste cardíaco.

Porque toda vez que a via só com roupas íntimas, sentia seu coração saltar no peito. Assim que amanheceu, Sabrina foi chamada por Jack. Saindo a sua porta constatou que era o delegado quem estava ali para conversar com ela.  Bom dia Sabrina. Falou ele sorridente.  Bom dia Bob.  Espero que você tenha boas notícias para em dar. Disse ela já sabendo a resposta.  Infelizmente eu queria te dizer que sim, mas estaria te enganando. Sabrina não disse nada.  Eu fiz todo um levantamento, conversei com várias pessoas e nada, não tive nenhuma informação de quem possa ter invadido sua propriedade.  Eu lamento muito San. Falou ele cabisbaixo.  Tudo bem Bob.  Mas se você tivesse me ouvido desde o começo isso não teria chegado a esse nível você não acha? Sem que nenhum dos dois percebesse, Tom se aproximava deles.  Bom dia delegado. E aí, como estão as investigações?  Nada bem. Respondeu Bob.  Mas o que houve?  Simplesmente ninguém sabe de nada ou não quer nos dizer nada. Falou ele coçando a cabeça.  Então resumindo, você não tem a mínima idéia de quem fez isso? perguntou Tom.  Não! Eu não tenho.  E agora? O que você vai fazer?  Bem! Por hora a única coisa que posso fazer é deixar um dos rapazes de vigia aqui no rancho, até que tenhamos uma pista.  Não precisa, Sabrina já está bem protegida. Falou Tom.  Eu sei que você á está protegendo, mas você não está aqui o dia inteiro está? Encarando o delegado por alguns instantes, Tom achou melhor aceitar a oferta de Bob, pois realmente ele não estava presente o dia inteiro e ainda não conseguia tirar da cabeça as imagens que tinha ao vê-la sendo agarrada por aquele cafajeste.  Você está certo, ele pode ficar quando eu não estiver presente. Sabrina ouvia tudo com calma, e ao ver que tinham terminado com os planos deles resolveu intervir.


 Vocês não acham melhor me perguntarem antes o que eu acho de tudo isso? Falou ela entre dentes olhando para os dois. Era só o que faltava, os dois fazendo planos para sua vida como se ela não estivesse ali, parecendo que ela era alguma incapacitada. Na mesma hora se lembrou de seu noivo e da mania que ele tinha em fazer planos sobre sua vida sem lhe perguntar nada. Os dois a olharam como se só agora tivessem notado sua presença e Tom pode ver que ela não estava gostando nada daquilo.  Mas o que foi Sabrina? Perguntou Bob. Tom chegou a fechar os olhos ao ver a cara que Sabrina fazia e soube que logo viria a resposta para o pobre coitado do delegado. Depois de alguns minutos de xingamentos, ela respirou aliviada.  Mas você tem que concordar que não poderá ficar sozinha aqui no rancho. Insistiu Bob que olhava para Tom em busca de apoio.  Ele está certo Sabrina.  Por mais que você deteste a idéia de ter alguém aqui, é preciso pelo menos quando eu não estiver.  Mas eu tenho o Jack.  Eu sei, mas ele já tem muito trabalho por aqui. Falou Tom com jeito. Sem muito que responder, não lhe restou outra alternativa a não ser concordar com eles.  Está bem, mas que seja a última vez que vocês planejam algo sem me comunicar. Disse visivelmente irritada.  Pode ficar sossegada. Disse Tom. Mas Sabrina nem imaginava que Tom estava bolando uma idéia de acabar com aquilo de uma vez, e esse seria o verdadeiro teste para seu coração. Logo na parte da tarde o policial chegou ao rancho de Sabrina como haviam combinado. Depois de se apresentar á ela, ele ficou do lado de fora da casa fazendo patrulha. Até que era bom ter alguém para lhe proteger, pois ainda sentia arrepios ao se lembrar daquela noite. Os dias foram passando e aos poucos Sabrina se sentia cada vez melhor, pois já conseguia fazer amor com Tom, mas sentia que ele estava se contendo para não machucála.

Em uma tarde ensolarada, Sabrina estava em seu escritório arrumando algumas fichas em seus lugares e nem viu o tempo passar. Quando deu por si já estava escuro, então tratou de ir para casa e esperar por Tom. Tomou um banho e foi preparar um jantar, Tom geralmente chegava com fome devido ás energias gastas na reforma do rancho que aliás estava ficando muito bonito. Assim que terminou o jantar, resolveu assistir um pouco a tv enquanto aguardava a chegada de Tom. Aos poucos seus olhos foram ficando pesados e logo já estava dormindo. Acordou assustada com um barulho. Ao abrir os olhos, percebeu que se tratava da tv que tinha permanecida ligada enquanto ela dormia. Desligou a tv e foi até a varanda, assustou-se com uma sombra que estava no quintal. Quando ia entrar pela porta, ouviu alguém chamando pelo seu nome. Parou e voltou sua atenção para ver quem a tinha chamado e pode notar que tinha se esquecido completamente do policial.  A senhora está bem? Perguntou o policial.  Sim! Estou sim. Disse ela soltando um pequeno suspiro.  Desculpe-me se eu á assustei.  Não tem problema, eu tinha me esquecido que você estava aqui.  Ah! Se precisar de mim, estarei aqui fora.  Obrigada. Disse Sabrina se preparando para entrar, mas voltou logo em seguida.  Por acaso você viu se Tom já chegou? Perguntou Sabrina estranhando pelo horário.  Não que eu tenha visto. Disse o policial.  Mas que estranho!  Será que aconteceu alguma coisa? Falou preocupada. Resolveu então ir até o rancho para ver se tinha acontecido algo, se trocou rapidamente e saiu apressada sendo seguida pelo policial.  Mas aonde a senhora vai? Perguntou ele a alcançando.  Vou até o rancho ver se aconteceu alguma coisa.  Não deve ter acontecido nada, senão á essa hora já teríamos alguma notícia.  Pode ser, mas não custa nada ir ver não é mesmo? O policial não disse nada, mas se manteve ao seu lado na caminhada até o rancho.


Chegando lá, Sabrina estranhou que não tivesse ninguém. Bateu na porta na esperança que Tom estivesse ali dentro. Bateu, chamou e nada. O único que apareceu foi Tom o coiote, que pelo jeito estava dormindo em um canto.  Olá Tom! Falou Sabrina lhe fazendo um cafuné.  Será que você sabe onde o seu xará está?  Esse coiote se chama Tom? Perguntou o policial.  É uma longa história...Disse Sabrina.  E agora? Onde vamos procurar? Disse preocupada.  A senhora não acha melhor voltarmos, se caso aconteceu alguma coisa eles vão saber onde nos achar.  Então você acha que pode ter acontecido algo?  Eu não sei! A única coisa que sei é que deveríamos voltar para casa. Falou o policial meio nervoso. Sabrina estranhou o fato dele estar com tanta pressa em ir embora. “ Homens” Pensou ela. E ainda se dizia policial. Resolveu voltar para casa, sendo seguida dessa vez pelo coiote. Não sabia porque, mas tinha a impressão de que o policial estava muito agitado, pois toda hora ele pegava seu rádio como se estivesse esperando alguma chamada. Isso fez um alarme disparar em Sabrina. Estava acontecendo alguma coisa e pelo jeito não era nada boa. Resolveu espiar o rapaz pela sua janela. Toda hora ele verificava o rádio e aparentava estar muito ansioso com algo. Lembrou-se então da conversa que tinha ouvido na primeira vez que entrou na floresta, dos caçadores que falavam que subornava alguns policiais. Entrou em pânico ao ver que tudo se encaixava. A falta de vontade da polícia em achar os culpados. O cafajeste que teria a atacado naquela noite. Então nada mais justo em pensar que realmente tinha alguns policiais corruptos e um deles estava justamente ali, em sua casa lhe dando uma falsa segurança. Assustada, pensou em ligar para a polícia. Mas o que iria falar se a própria polícia estava ali?

Pegou o telefone e ligou para Tom rezando para que ele atendesse, mas para sua infelicidade só caia na caixa postal. “ Mas o que diabos estava acontecendo”? “ Será que fizeram alguma coisa com Tom?” Pensou ela andando de um lado para outro nervosa. Afinal, ele não tinha esse costume de chegar tão tarde, e mesmo que precisasse, com certeza ligaria para ela avisando para não deixá-la preocupada. Se sentia presa em sua própria casa. “ E agora?” Sentou-se no sofá para se acalmar e assim colocar os pensamentos em ordem. Resolveu então inventar uma desculpa para o policial e talvez conseguisse ir até a cidade, assim pediria ajuda a alguém conhecido. Saiu na varanda em silêncio e aos poucos pode ver que o rapaz olhava para o rádio á espera de alguma chamada. Sem que ele á visse, ficou atrás de umas plantas na esperança de ouvir algum comentário da parte dele. Depois de esperar por uns minutos, que para Sabrina mais pareciam horas, finalmente suas dúvidas foram sanadas ao ouvir uma de suas conversas.  Positivo, ela continua dentro da casa, pelo jeito já foi dormir. Ao ouvir aquilo, sentiu seu sangue gelar nas veias. Já nem conseguia mais ouvir o que o policial falava, sua cabeça estava a mil. O negócio era mais sério do que pensava. “Ainda bem que não tinha chamado a polícia, pois só Deus saberia quantos policiais estavam naquela “maracutaia” toda. Sem pensar muito no que fazia, saiu da escuridão com um pedaço de pau e sem dar nenhuma chance de defesa para o pobre rapaz, lhe deferiu um belo golpe na testa fazendo com que tombasse para trás. Sem se importar com o grito que o rapaz soltou, Sabrina mais do que depressa puxou a arma de seu coldre e em posse dela o ameaçou:  Agora você vai me dizer o que está acontecendo aqui, senão eu juro por Deus que atiro em você. Falava ela trêmula. O policial aos poucos foi se levantando passando a mão pela testa. Meio cambaleando, se sentou em um tronco de arvore que tinha ali perto.  E então? Vai começar a falar ou terei que atirar em você? Falou ela mais uma vez, dessa vez engatilhou a arma e apontou em sua direção.


 Está bem! Disse ele ofegante.  Mas não precisava me bater tão forte. Continuou ele ainda esfregando a testa.  Você só pode estar de brincadeira! Disse irritada.  Você queria o que? Que eu lhe pedisse educadamente que me falasse o que o seu chefe ou seja lá quem for lhe mandou fazer?  Mas como a senhora sabe disso? Perguntou ele surpreso.  Simples! Eu fiquei te observando esse tempo todo e pude notar que você estava muito nervoso, aí foi só ligar os pontos.  Bem que eles me disseram que a senhora era muito esperta. Falou ele cabisbaixo. Cada vez mais Sabrina se chocava ao ouvi-lo falar. Ele falava com tanta simplicidade que fazia com que ela resistisse em apertar o gatilho.  Eu não entendo! Como vocês tem coragem de usar a lei contra as pessoas, sendo que são pagos para nos defender e não nos fazer mal? Começou Sabrina.  É tudo por ganância, não é mesmo?  Mas será que compensa?  Como você consegue dormir a noite?  Você só entrou nessa porque estava precisando de dinheiro? Perguntava Sabrina sem mesmo dar chance de ouvir uma resposta. Ao terminar com as perguntas, pode notar o olhar de confusão que o rapaz fazia.  Porque você está com essa cara?  Ah! Já sei. Você só pode estar esperando um de seus comparsas não é mesmo? Falou ela olhando para os lados.  Comparsa? Mas que comparsa? Respondeu ele olhando também para os lados.  Aquele que você falava no rádio.  Você pensa que não ouvi quando você disse que eu estava dentro de casa?  Sim! Mas nós falamos parceiro e não comparsa. Disse ele calmamente.  Isso não importa! O que eu quero saber é o que está acontecendo.  E por falar em comparsa, quem foi que me atacou naquela noite? Por acaso foi você?  Mas do que a senhora está falando? Perguntou ele sem entender.  Estou falando daquela noite em que fui atacada, aqui mesmo nesse rancho e se não fosse por Tom, não sei o que você teria feito comigo.  E o que diabos vocês fizeram com ele que até agora não apareceu?

Falou ela nervosa.  Deixa-me ver se entendi. Disse ele se levantando, mas sentando-se ao ver que ela fazia um gesto para que voltasse ao seu lugar.  A senhora está pensando que fui eu quem a atacou?  Sim!  Mas como pode ter sido eu, se quando vocês chegaram na delegacia fui eu que atendi vocês, está lembrada? Depois de pensar um pouco ela falou:  Então se não foi você, com certeza foi seu comparsa.  Senhora! Eu sinto te informar mas a senhora está cometendo um engano. Falou ele.  Que engano coisa nenhuma! Vem me dizer que você não está aqui simplesmente para me manter quieta dentro de casa enquanto vocês fazem alguma coisa de ruim por aí?  Agora o que não estou entendendo é o motivo de terem envolvido Tom nisso tudo.  Eu vou ser sincero! Realmente estou aqui para lhe manter dentro da casa, mas é para sua própria segurança. Sabrina o olhava fixamente enquanto ele relatava os fatos.  O rapaz que eu estava falando é um outro policial que neste exato momento está escondido perto da floresta me passando informações da ação de hoje.  Ação? Que ação?  Ah! Entendi. Então vocês estão dando cobertura para aqueles bandidos não é mesmo?  Não! Não é nada disso.  Então vocês estão dando cobertura para quem?  Olha, isso eu não posso falar.  E porque não?  Porque eles vão me matar se eu falar alguma coisa.  E o que você acha que vou fazer com você? Falou ela aproximando a arma dele.  Á única coisa que posso dizer é que estou do lado dos bons e não dos maus.  E como posso saber disso? Pois você mesmo me disse que está dando cobertura para alguém, mas quem é esse alguém? Perguntou ela mais uma vez. Então um pensamento lhe veio a mente fazendo com que quase perdesse o equilíbrio. Tom! Ele que estava na floresta e pelo jeito juntamente com a polícia fazendo aquela “ação”. “ Meu Deus”. Será que eles estavam bem?


 Eu não acredito que Tom esteja lá junto com a polícia tentando pegar aqueles bandidos.  Mas porque ele tinha que dar uma de herói e não deixou que a polícia resolvesse isso? Falava ela sem parar.  É porque ele não está lá “com a polícia”. Deixou escapar o policial.  Então quer dizer que ele está sozinho?  Pode-se dizer que sim, mas ele está com o delegado.  Esperai! Então você está me dizendo que o delegado levou Tom com ele para a floresta em uma ação da polícia?  Na verdade foi o Tom que levou o delegado.  Olha! Me explica, que já não estou conseguindo raciocinar direito. Disse ela abaixando a arma.  É o seguinte. O delegado e o Tom resolveram fazer uma patrulha sem que ninguém soubesse, pois ao fazer uma investigação interna o delegado achou sinais de que alguns policiais aceitavam suborno dos caçadores e como não sabíamos em quem confiar, então só restou nós três.  Eu, o meu parceiro e o próprio delegado.  Mas porque você não foi lá para ajudá-los?  Porque eles acharam melhor deixar alguém para fazer sua segurança no caso de dar algo errado.  Se algo der errado? Como assim dar errado?  Se caso alguém ficar sabendo e querer se vingar.  Mas então eles estão correndo perigo?  Pode-se dizer que sim.  Me faz um favor e pergunta ao seu parceiro se está tudo bem por lá.  É para já. Falou ele pegando o rádio. Sabrina sentiu que tinha algo errado ao escutar somente chiados vindo do outro lado. Olhou para o rapaz ao seu lado e perguntou preocupada:  Porque estou ouvindo só os chiados?  Estranho! Falou o rapaz.  Era para ele estar nessa freqüência em que conversamos antes.  Eu vou tentar de novo. Disse ele. Depois de mais alguns chiados, ele disse:  Aconteceu alguma coisa, pois ele já teria me retornado a chamada. Falou ele preocupado.

Sabrina entrou apressada dentro de casa, se trocou e logo já caminhava na direção do policial.  Vamos... Fez uma pausa por não saber de que nome o chamava.  Alec. O meu nome é Alec.  Muito bem Alec, vamos?  Vamos para onde?  Para a floresta, pois me parece que se meteram em uma bela enrascada. Disse ela já caminhando em direção da floresta.  A senhora só pode estar brincando. Disse ele correndo atrás dela.  Não estou não! E pare de me chamar de senhora, hoje nós seremos parceiros então me chame de Sabrina.  Mas eu não posso deixar que você faça isso. Falou ele de novo.  Ah é? E quem você vai chamar para te ajudar?  Ninguém! Eu mesmo vou até lá.  E quem vai tomar conta de mim? Perguntou ela sabendo que o tinha encurralado.  Foi você mesmo quem disse que tinha ordens para cuidar da minha segurança não é mesmo?  Sim! Mas na sua casa e não dentro da floresta.  Tanto faz! Falou ela.  O importante é que você tem que ir até lá. Sendo assim, terei que ir com você.  Agora anda logo que estamos perdendo tempo e só Deus sabe o que eles devem estar passando nas mãos daqueles bandidos.  Está bem, mas me prometa que ao menor sinal de perigo você virá embora entendeu?  Sim, eu entendi.  Então vamos. Falou ele caminhando ao seu lado. No caminho, Sabrina ia pedindo a Deus para que os protegesse enquanto estivessem ali. Sentia o coração saltar no peito ao imaginar que Tom poderia estar machucado. E o coração dele? Será que iria agüentar toda aquela adrenalina? Tomara que sim, pois se antes já se sentia culpada por ter metido ele nessa confusão toda, imagina se algo de pior lhe acontecesse. Afastou tais pensamentos ao avistar de longe a floresta que surgia á frente deles.


Olhou para o céu e notou que felizmente estava com lua cheia e isso permitia uma visão mais clara da mata. Alec a levou até onde o seu parceiro estava e assim que chegaram ao local puderam constatar que somente o rádio estava jogado no chão e sem bateria.  Pelo jeito pegaram o Raul também. Falou se referindo á seu colega.  E agora? Como vamos fazer para achá-los? Perguntou ela aflita.  Sinceramente não sei... Sem poder controlar os pensamentos, Sabrina já imaginava Tom sendo espancado e todo ensangüentado caído no chão. Fechou os olhos por um momento na tentativa de afastar tais imagens, mas foi em vão, pois só ficaria mais tranqüila na hora em que o encontrasse são e salvo.  Temos que fazer alguma coisa. Não podemos ficar aqui parados enquanto algo de ruim possa estar acontecendo. Dizia ela.  Eu sei, mas fazer o que? Dizia o pobre Alec.  Vem comigo! Disse Sabrina decidida pegando Alec pala mão.  Mas aonde nós vamos?  Para a floresta, aonde mais iríamos?  Mas você sabe andar aí dentro?  Não! Mas hoje é um excelente dia para aprendermos. Disse ela sentindo o coração aos pulos. Com uma pequena lanterna na mão entraram na mata. Sabrina não tinha noção de onde começariam, mas resolveu contar com a sorte. Andavam em silêncio, podiam sentir o rosto molhado devido ao orvalho que caía sobre as plantas que ao entrar em contato com eles fazia com que logo já estivessem molhados. Parecia que estavam andando em círculos, pois tudo era muito igual. Sabrina jurava para si mesma que essa seria a última vez que entrava naquela floresta, estava com vontade de abandonar a carreira de veterinária e quem sabe voltaria a morar na cidade de novo. O que será que Tom acharia disso? Será que ele iria morar com ela? Balançou a cabeça para espantar tais pensamentos, pois o que mais importava agora era acha-los primeiro e depois...Bem, depois decidiria o que fazer.  Eu acho que estamos perdidos! Falou Alec preocupado.  Eu também. Disse ela.

Pararam de andar ao ouvir um pequeno ruído. Ficaram parados no meio da mata tentando adivinhar de onde vinha o tal ruído. Puxando Alec pela mão, Sabrina foi andando devagar sem fazer barulho. Ao separar algumas folhas para abrir caminho, reconheceu diante de si a velha cabana em que tinha ficado com Tom. Sorriu ao se lembrar da cena daquela noite. Parecia que tinha sido um sonho de tão doido que foi, mas tinha suas costelas que ainda ardiam um pouco para lhe provar que tudo aquilo aconteceu.  Eu conheço essa cabana. Sussurrou ela no ouvido de Alec.  Conhece? Mas você não me disse que não sabia andar aqui?  Então como você pode conhecer essa cabana?  É uma longa história...  Você e suas histórias... Mal terminou de falar e escutaram vozes que vinham de dentro da cabana. Chegando mais perto, Sabrina olhou pela pequena janela que estava entreaberta. Pelo que pode ver, tinha uns dois homens sentados na mesa comendo e bebendo. Mas de onde estava não podia ver muito, sendo assim empurrou um pouco para poder ver melhor, mas como a janela estava enferrujada fez um leve ruído que foi percebido pelos dois.  Ops! Disse Sabrina para Alec que a puxou de volta para dentro da mata.  Você está ficando louca? Perguntou ele num sussurro.  Como eu iria saber que aquela porcaria iria fazer barulho? Sussurrava ela.  Shiii! Falou Alec quando percebeu que os dois homens estavam do lado de fora da casa revistando tudo. Depois de ficarem um tempo em suspense, perceberam que os homens haviam entrado, então puderam soltar um suspiro de alívio.  Essa foi por pouco! Falou Alec limpando o rosto com a camisa.  Foi sim. Respondeu Sabrina assustada.  Será que não deveríamos pedir uma informação para eles?  Talvez eles saibam onde Tom e o delegado estão. Perguntou Sabrina para Alec.  Sinceramente eu acho melhor não, pois nem sabemos quem eles são.  Aonde será que está o velho senhor que eu encontrei aqui numa noite dessas?


Falava Sabrina olhando em volta para ver se avistava o tal sujeito.  Velho senhor?  Sim! Talvez ele pudesse nos ajudar em algo.  Mas quem é esse senhor? Falou Alec.  Ah! Pelo jeito ele é dono dessa cabana.  E como você sabe disso? Perguntou ele com ironia. Ao ver a cara que Sabrina o olhava, já sabia a resposta que viria a seguir.  Já sei! É uma longa história...  Isso mesmo...Disse ela.  Não sei como foi que aconteceu essa história toda, mas você não tem medo de entrar nessa mata?  Aliás, você sabia o quanto essa floresta é perigosa?  Foi exatamente isso que eu disse á ela. Falou uma voz grave atrás deles. Automaticamente olharam para trás e se depararam com o velho senhor que empunhava uma arma e a mirava na direção deles. Alec tentou puxar sua arma, mas foi impedido pelo homem que viu o que ele faria.  Eu acho melhor você não fazer isso. Falou o homem com um pequeno sorriso nos lábios. Alec levantou as mãos em sinal de que não faria nada. Sabrina que estava paralisada até então resolveu falar.  Me desculpe senhor, mas está havendo um mal entendido.  Não vá me dizer que você se perdeu de novo. Falou ele com ironia olhando para Sabrina e Alec.  Não é nada disso! Esse rapaz é policial e estamos tentando encontrar uns amigos nossos que pelo jeito se perderam por aqui.  Será que o senhor não os viu por aí?  Eu ouvi um comentário de que dois sujeitos estavam perdidos pela floresta.  E por acaso o senhor não sabe onde eles estão? Perguntou Sabrina aliviada.  Eu não sei, mas vamos perguntar para os meus amigos que talvez saibam de alguma coisa. Disse ele colocando a arma na cintura e fazendo sinal para que entrassem na cabana. Caminharam então até a cabana, o velho abriu a porta e os convidou a entrar.  Rapazes! Disse o velho senhor.  Encontrei esses dois aí fora.  Eles estão procurando os amigos deles que estão perdidos na floresta, será que por acaso vocês os viram por aí?

Perguntou ele enquanto Sabrina e Alec entravam na cabana. Sabrina pode sentir um certo tom de ironia na voz do homem e assim que entrou na cabana e olhou em volta ela soube o porque. Em um canto do chão, havia um colchão empoeirado e sentados neles estavam Tom o delegado e o outro policial, amarrados e amordaçados. Alec empunhou sua arma e trazendo Sabrina para detrás dele mirava sua arma para os três que ali estavam.  Como eu disse antes garoto! Eu acho melhor você não fazer isso. Ameaçou o velho. Os outros dois sujeitos que até então estavam sentados, levantaram-se e empunharam suas armas mirando diretamente para Sabrina e Alec.  Pensa bem garoto!  Nós somos em três e você está sozinho. Falava ele em tom ameaçador. Rapidamente o velho correu para o lado onde mantinha os três como prisioneiros e apontando a arma para a cabeça de Tom ele falou mais uma vez:  Se você quiser dar uma de herói para mim tudo bem, mas terá que viver com a culpa pela morte de seus amigos. Disse ele engatilhando a arma.  Não!!!Gritou Sabrina.  Por favor, não faça isso. Pediu ela mais uma vez desesperada. Somente naquele momento Sabrina cruzou seu olhar com o de Tom que a olhava com um misto de alegria e raiva. ali”?

“Mas o que diabos ela estava fazendo

Se eles escapassem dali com vida, ele mesmo a mataria, ela e Alec por ser tão inocente a ponto de ceder á ela.  E então garoto? O que vai ser? Sem muita opção, Alec abaixou a arma e a colocou no chão. Sabrina correu na direção de Tom, ajoelhou-se e o abraçou.  Você está bem? Perguntou ela. Ele fez sinal para que ela tirasse a fita que tapava sua boca. Com cuidado, Sabrina puxava a fita devagar para não lhe machucar o rosto. Sem poder se conter, sentiu lágrimas que rolavam por sua face. Assim que tirou a fita ouviu ele dizer:  Mas o que diabos você está fazendo aqui? Perguntou ele cuspindo fogo.  O que você acha? Eu vim te salvar. Falou ela.


 Grande salvamento! Estou vendo que deu tudo certo, não é mesmo? Falou ele irônico.  De quem foi a grande idéia de vir até aqui? Falou ele fuzilando Alec com o olhar. Alec já estava sentado no chão junto deles, e olhou para Sabrina como pedindo uma resposta.  Não precisa responder. Disse Tom bravo.  Achei que você teria mais juízo do que ela, mas vejo que estava enganado.  Será que você nunca vai aprender a obedecer alguém? Falou ele ainda irritado. Aquilo foi à gota d´água. Sabrina sentiu secarem as lágrimas que corria pelo seu rosto. “Ingrato.” Pensou ela.  Quem mandou você querer fazer tudo às escondidas. Vociferou ela.  Estou vendo que você também teve sucesso nessa sua ação de hoje não é?  Afinal de contas você só está amarrado num colchão velho e tem tudo sobre controle, não é mesmo? Falava ela sem dar tempo de Tom abrir a boca. Todos na sala prestavam atenção naquele embate, até mesmo os bandidos olhavam de Tom para Sabrina esperando uma resposta. Quando parou de falar, Sabrina notou que todos estavam com a atenção voltada para eles.  Estão olhando o que? Disse ela raivosa.  Vocês nunca viram ninguém discutir? Os homens simplesmente olharam para Tom, e ela pode notar que o olhavam meio tipo com dó do pobre coitado que não tinha nem como se defender. “Homens”! Pensou ela balançando a cabeça.  Agora chega! Falou o velho senhor pegando Sabrina pelo braço e fazendo ela se sentar ao lado de Tom.  Cara! Eu não sei como você agüenta...Disse o velho para Tom. Sabrina já ia responder, mas Tom fez um gesto para que não falasse nada. Ele não queria deixar o homem irritado.  Ah! Se eu soubesse que ele estava por trás disso tudo, teria quebrado a cabana inteira e não só a cama dele. Sussurrou Sabrina para Tom. Tom sorriu ao imaginar tal cena acontecendo e teve que concordar com ela.  Eu teria te ajudado. Disse ele.

Apesar da raiva que sentia no momento, Sabrina adorou o comentário de Tom. Olhou em seus olhos e viu uma imensa ternura, isso fez seu coração dar saltos de alegria.  E agora o que vai acontecer? Perguntou ela.  Sinceramente não sei.  O que será que farão conosco?  Isso eu também não sei.  Acho que estão esperando alguém. Disse o delegado que até então estava quieto. No meio disso tudo, Sabrina havia se esquecido completamente de Bob que estava sentado não muito longe deles. Olhou em sua direção e pode perceber que ele também estava amarrado.  Mas porque você fez isso Tom? Perguntou ela.  Será que você não sabe os riscos que você correu e ainda está correndo?  E se te acontece alguma coisa? Falava ela sem parar. Tom olhava para ela com um certo ar de ironia.  Agora você está sentindo na pele todo o meu desespero das vezes em que você se aventurou por aqui. Falou ele a olhando sério. Teve que concordar com ele, pois estava desesperada em vê-lo de novo são e salvo. Depois de pensar por alguns minutos, decidiu que já estava na hora de revelar seus planos para ele.  De novo eu tenho que lhe pedir desculpas. Começou ela.  Só agora me dei conta de como me deixei envolver e o que é pior, trouxe você junto nessa confusão toda...  Você não teve culpa.  Tive e tenho.  Se você não tivesse me conhecido, talvez estivesse desfrutando do que veio buscar aqui, ou seja, sua paz e sossego.  Eu me meti nessa confusão porque quis, ninguém me abrigou a vir aqui essa noite. Respondeu ele.  Mas você tem que concordar comigo que você precisa de sossego e não sair a caça de caçadores e terminar amarrado em uma cabana desse jeito.  Eu sinto muito Tom! Falava ela desanimada. Tom podia sentir o desanimo de Sabrina, e o pior era que ela se sentia culpada pela confusão que ele mesmo armou.  Quando sairmos daqui. Se sairmos, estou pensando seriamente em voltar para a cidade. Falou ela num supetão.


“Mas do que ela estava falando”? Pensou Tom a encarando.  O que? Perguntou ele.  Eu disse que vou voltar para a cidade. Falou ela sem encará-lo.  Porque?  Porque? Olha a confusão em que estamos agora.  Eu simplesmente coloquei não só a minha vida em risco, mas a vida de todos vocês.  E jurei para mim mesma que se sairmos daqui com vida...  Pode parar de falar besteira. Disse Tom raivoso.  Mas não é besteira.  Pois para mim é! Esbravejou ele.  Cadê aquela mulher corajosa que entrou sozinha na floresta e quase me matou de desespero?  Cadê aquela mulher teimosa que sempre tinha um argumento para tudo, e que virou minha vida de cabeça para baixo em busca de caçadores e transformou minha vida numa doce loucura?  Eu quero essa mulher de volta Sabrina! Eu preciso dela mais do que nunca. Desabafou ele. Sabrina ficou pasma! Jamais imaginaria que ele se sentia assim. Emocionada com aquelas palavras, se aproximou dele e levemente beijou seus lábios.  Temos que sair daqui urgente. Sussurrou ela.  Já estou dando um jeito nisso. Respondeu ele.  De um jeito de despista-los enquanto eu tento me soltar.  Mas o que eu vou fazer. Sussurrava ela.  Inventa alguma coisa. Sabrina sabia que era agora ou nunca! Levantou-se e se dirigiu ao velho que estava perto da porta. Ao se aproximar dele, ele levantou a arma e mirou nela a fim de mantê-la longe dele.  Aonde você pensa que vai?  Eu só quero te perguntar uma coisa.  Qual de vocês que invadiu meu rancho aquela noite e me ameaçou? Perguntou ela. O velho simplesmente coçou a barba e começaram a rir sem dar muita atenção a ela.  Será que vocês poderiam fingir que são educados pelo menos um pouquinho e responder a minha pergunta?

 Foi o meu amigo ali, o Tony. Ele que te encurralou naquela noite.  E porque ele fez isso?  Porque se você não fosse tão abelhuda nós nem mesmo estaríamos aqui hoje.  Mas não se preocupe que ele só iria te assustar um pouquinho. Sentiu náuseas ao se lembrar daquela noite. Enquanto isso, Tom aos poucos ia se livrando das cordas sob o olhar atento de Alec que silenciosamente o encorajava. Sentindo a adrenalina a mil, Tom fez um sinal para Sabrina de que já estava livre. Agora só faltava desviar a atenção dos bandidos para que Tom pudesse soltar os outros policiais. Sabrina pensava em uma maneira de ajudar Tom. Mas como? Então, sem muito pensar no que fazia aproveitou um momento de vacilo do velho e correu pela porta que estava aberta. Tom via tudo como se fosse câmera lenta, Sabrina voando pela porta, os bandidos sendo pegos de surpresa pela atitude dela e com isso se instalando um verdadeiro caos dentro da pequena cabana. Assim que os bandidos saíram, rapidamente soltou os policiais e foi em busca de Sabrina. Sentia o coração bater descompassado, a respiração estava cada vez mais curta. De repente sentiu uma pequena dor no peito e soube naquele exato momento o que viria a seguir. “Agora não”! Pensou ele entrando em pânico. Parou de correr, se ajoelhou e levou a mão no peito. Ainda assim, tentava ver para onde Sabrina tinha corrido e aos poucos foi sentindo que a dor ia diminuindo. Levantou-se e andava devagar e desesperado pelo mato em busca de um sinal que o levasse á sua amada. Sabrina nem olhava para onde corria, pois era tudo tão igual que teve que dar uma pequena parada em busca de ar para os pulmões. “Será que tinha dado certo”? Pensava ela ofegante. “E se eles ainda estavam sob a mira dos bandidos”? Agora estava em um dilema!


Corria e tentava achar alguém que pudesse ajuda-la? Ou voltaria para tentar ajuda-los? Mesmo que achasse alguém, como saber se podia confiar nessa pessoa? E se voltasse e fosse pega novamente? “ Meu Deus! Me mostre o caminho que tenho que seguir. Pedia ela olhando para o céu em busca de uma resposta. Ofegante, com as mãos no joelho, nem percebeu que algo vinha em sua direção. Sentiu-se gelar ao escutar um barulho perto dela, e ao levantar os olhos percebeu que felizmente era Tom, o coiote, que se aproximava alegremente em sinal de que a tinha achado. Sorriu e suspirou de alívio e logo tratou de lhe fazer um chamego. De repente os pelos do coiote foram ficando arrepiados e pode perceber que seus olhos estavam fixados em algo atrás dela. Lentamente se virou e se deparou com os dois bandidos que a olhavam com cara de poucos amigos. O coiote mostrava os dentes e rosnava para os rapazes e Sabrina soube naquele momento que algo pior estava por vir. Foi tudo muito rápido. Como Sabrina já previra, o coiote foi para cima dos homens ignorando as armas que eles empunhavam. Pulou em cima de um dos homens que se debatia para se livrar da pequena fera, enquanto o outro tentava fazer mira e somente acertar o animal que atacava seu amigo. Sem ter muito que fazer, Sabrina correu e tentou atrapalhar o homem que tentava a todo custo acertar o coiote, mas como não tinha nenhuma habilidade em luta foi facilmente jogada para o lado caindo no chão.  Deixa-me terminar o que fui pago para fazer naquela noite e acabar logo com você. Disse o homem com a arma apontada para Sabrina que o olhava desesperada. Agora sim ela pode sentir o que era ser um animal encurralado ficando sob a mira da arma de um caçador. Porém, antes de fechar os olhos e esperar pela bala entrando em seu corpo, olhou mais uma vez para o pequeno coiote que mordia ferozmente o bandido e mentalmente desejou que ele acabasse com aquele ordinário. Voltou sua atenção ao homem á sua frente ao escutar o engatilhar da arma e ainda pode ver um pequeno sorriso em seu rosto, mas sem que pudesse imaginar viu um corpo

se atirando em frente á ela, a protegendo da bala que saía da arma do bandido. Aos poucos sua atenção se voltou aquele corpo estendido perto dela, que mesmo sem olhar para sua face ela já sabia de quem se tratava. Era Tom que se atirou na sua frente recebendo aquele tiro no lugar dela. Logo depois, escutou vários tiros sendo disparados á sua volta. Mas nada mais importava naquele momento. Virando o corpo de Tom, pode ver que ele ainda respirava e gentilmente o abraçou chorando muito.  Mas porque você fez isso? Perguntava ela olhando para seu rosto que se contorcia de dor.  Eu não podia...deixar o coiote levar toda glória. Falava ele com dificuldade. Sabrina sorriu ao ver que ele estava consciente e aos poucos notou que os policiais já estavam á sua volta. Sem perder tempo, procurou em Tom o local em que a bala tinha entrado e constatou tristemente que se não tivesse atingido o coração estava muito perto. Já havia se passado mais de duas horas que Sabrina aguardava impaciente na sala de espera do hospital por alguma notícia de Tom, mas até aquele momento não tinha sido passado nada para ela. A única coisa que sabia, era que ele ainda estava na sala de operação e mais nada. Só o que restava a ela, era rezar para que o coração de Tom fosse forte o suficiente para agüentar mais uma vez aquela batalha que ele teria pela frente. Mas agora seria diferente, pois ela estava ali para o apoiar em qualquer que fosse a situação. Tom acordou com a sensação de ter um elefante sentado sobre seu peito. Não conseguia respirar direito e nem mesmo se mexer. Sentiu que estava ligado com muitos fios e cabos, mais parecia um robô. Com uma certa dificuldade, conseguiu levantar um pouco a cabeça e logo constatou que estava em um hospital e mais uma vez estava sozinho. Aos poucos, foi se lembrando do episódio que o tinha levado até ali. Será que Sabrina estava bem? Será que ele mesmo estava bem?


Foi ficando cada vez mais angustiado por não ter ninguém para lhe dizer o final daquela história. Fechou os olhos e sentiu uma pequena lágrima escorrer pela sua face, que logo se juntou com um pequeno beijo que recebia. Abriu os olhos devagar e se deparou com Sabrina que o olhava encantada e emocionada ao mesmo tempo. Sentiu o coração dar saltos de alegria e retribuiu o sorriso junto com as outras lágrimas que agora banhavam seu rosto.  Está tudo bem meu amor. Falou Sabrina carinhosa.  O pior já passou. Disse ela o abraçando. Tom acordou e ainda estava no hospital, mas dessa vez já sem os fios que o ligavam as máquinas. Olhou em volta á procura de Sabrina, pois se lembrava vagamente de tê-la visto ao lado dele. Mas onde estava ela? Será que não tinha sido um sonho?  Calma! Ela já vem. Disse uma voz grave para Tom.  Bom dia! Eu sou o Dr. Peter. Tom tentou dizer algo, mas sua voz não saia.  Devagar! Logo você já vai estar falando normalmente. Acalmou o médico.  Bom! Como você já está bem, eu vou te passar tudo o que houve na operação.  Está bem? Perguntou o médico. Tom fez que sim com a cabeça e esperou que o médico começasse.  Primeiro eu quero te dizer que pode parecer estranho, mas você tem que agradecer a Deus por ter levado aquele tiro. Disse o médico sorrindo. Tom fez cara de quem não entendeu nada e o médico continuou.  Sim! Eu sei que você não entendeu, então vou te explicar desde o começo. E assim o médico relatou todo seu trabalho em operar Tom, que cada vez ficava mais emocionado em ouvir a teoria do médico de que ele tinha sido salvo por aquela bala. Finalmente chegou o dia em que Tom havia tido alta do hospital. Sabrina esperava ansiosa para leva-lo para sua casa e cuidar dele no que fosse necessário. Pois ele ainda tinha dificuldade para falar, sendo assim ela achou melhor que ele ficasse com ela e não sozinho no rancho dele que já estava totalmente reformado.

Os dias iam passando e cada vez mais Tom sentia o amor por Sabrina crescer dentro de seu peito. Como ainda não podia fazer muito esforço, restava a ele então somente lhe fazer carinhos ou mandar olhares carinhosos para ela que sempre retribuía de imediato. Tinha tantas coisas para lhe dizer, mas ainda não tinha chegado a hora, então prometeu a si mesmo que quando pudesse, falaria tudo o que estava guardado em eu peito. Ele só não sabia qual seria sua reação, mas não importava, não mais. De vez em quando Sabrina sentia que Tom queria lhe falar algo, mas como ele ainda não podia fazer muito esforço, se contentava em receber seus carinhos e olhares apaixonados que ele lhe mandava. Ela também tinha muita coisa para lhe dizer, mas resolveu esperar para que ele estivesse totalmente recuperado para lhe contar a decisão que havia tomado, só não sabia se ele iria gostar ou não. Aos poucos Tom ia recuperando a voz, já conseguia falar baixinho quase uma frase inteira. Sabrina chegou a conversar com o médico sobre essa dificuldade dele em falar, mas ele lhe garantiu que era assim mesmo e logo ele estaria falando normalmente. Resolveu aproveitar e conversar com o delegado que a deixou a par de toda investigação, e ficou radiante ao saber que a polícia finalmente conseguiu colocar as mãos nos verdadeiros bandidos que estavam por trás daquilo tudo. Ou seja, realmente existia uma quadrilha que usava a caça para fazer uma matança de animais e assim ficarem ricos com a venda de suas peles e coisas do tipo. Um belo dia, Sabrina se levantou pela manhã e resolveu ir até o lago, pois com toda essa confusão não tinha tido muito tempo de ir até lá. Olhou tudo á sua volta e sentiu uma paz que há muito tempo não sentia. Não sabia dizer em palavras o que sentia, mas era algo muito especial. E tudo tinha a ver com Tom, pois finalmente havia achado o homem de sua vida. Estava tão absorta em seus pensamentos que nem viu que Tom a observava de longe.


Mais uma vez ele estava ali, de longe, observando aquela linda mulher que de uma maneira louca tinha devolvido sua vida. Já estava mais do que na hora de lhe dizer tudo o que havia em seu coração e assim aos poucos foi se aproximando dela.  Você tem idéia de quanto você fica linda nessa luz do dia? Disse Tom assim que a alcançou. Sabrina se virou rápido ao escutar a voz dele atrás dela. Sorrindo, abriu os braços e foi ao seu encontro. Recebeu um beijo apaixonado dele que a abraçou pela cintura trazendo ela mais para junto de si. Logo que terminaram de se beijar Tom deu início ao que tinha ido fazer ali.  Sabrina! Nós temos que conversar. Falou ele sério.  Eu também quero muito conversar com você. Respondeu ela.  Damas primeiro. Falou ele sorrindo.  Está bem!  Eu quero te dizer que tomei uma decisão.  E qual seria essa decisão?  Eu decidi me mudar para a cidade. Tom não disse nada, simplesmente respondeu:  Então você decidiu mesmo ir embora?  Sim! Respondeu ela.  E posso perguntar o porque?  Cansada! Eu estou cansada de tudo isso sabe?  Achei que podia mudar as coisas, mas vi que não é bem assim...  Será que é só isso mesmo?  Olha Tom! Quando eu vim para cá, foi como você, eu vim em busca de paz e tranqüilidade que necessitava no momento.  Eu tinha acabado de sair de um relacionamento que me deixou arrasada...  Você está falando de seu ex-noivo?  Sim! Mas como você sabe disso?  Cidade pequena Sabrina. Falou ele com um sorriso.  Tinha me esquecido que o povo daqui fala demais...  Mas eles só falam a verdade.  Pode ser. Disse ela.  Como eu ia dizendo. Eu vim aqui em busca de tranqüilidade e olha só onde foi que me meti.  De uma hora para outra eu estava metida nessa confusão toda e tendo você ao

meu lado que quase não sobreviveu por teimosia minha, pois nem mesmo na floresta você queria entrar...  Agora que você está aqui na minha frente eu me pergunto se tudo isso valeu a pena.  Se o meu desespero ao ver que você tinha sido baleado, e sem ter notícias suas lá naquela bendita sala de espera do hospital, eu me pergunto se todo esse sofrimento valeu a pena. Tom a olhava sem dizer nada. Sabrina estava em dúvidas se ele tinha entendido o que havia acabado de falar, pois ele não esboçava reação alguma. Mas antes de fazer qualquer comentário ela o ouviu perguntar:  Me pergunte se eu acho que tudo isso valeu a pena. Disse ele.  O que? Falou ela sem entender.  Vamos lá! Me pergunte se eu acho que tudo isso valeu a pena. Sabrina achava que o remédio estava afetando ele de uma maneira não muito normal, pois ele não falava coisa com coisa. “Será que tinha sido um bom momento falar com ele sobre aquilo”? Pois achava que não.  Deixa eu te ajudar. Falou ele.  Será que para mim valeu a pena ter me mudado da cidade grande para o interior em busca de paz e tranqüilidade, tendo que reformar um rancho que estava caindo aos pedaços e ter me apaixonado por minha bela vizinha teimosa com síndrome de heroína que tinha como passatempo se embrenhar na floresta em busca de caçadores e coisas do tipo, me levando com ela nessas aventuras e por final eu ter levado um tiro que por pouco não acertou meu coração e me matou? Divagava ele.  Pois eu te digo com toda certeza que para mim valeram todas ás vezes em que fiquei desesperado por medo de te acontecer algo, e por isso tive que entrar de cabeça nesse seu mundo doido e finalmente ter que te agradecer.  Agradecer? Agradecer por ter quase morrido? Realmente ele não estava normal. Pensou ela.  Não! Agradecer-lhe por ter me envolvido nisso tudo e indiretamente ter me devolvido a vida.  Olha! Sinceramente você não está bem, então acho melhor conversarmos sobre isso numa outra hora.


 Eu não poderia estar melhor Sabrina e essa é uma excelente hora para você me ouvir, pois tenho muito para lhe falar. Falou ele pegando suas mãos e a olhando dentro de seus olhos.  Quando eu digo que quero lhe agradecer, é porque ao levar aquela bala o médico teve que chegar muito perto do meu coração e assim enxergar que eu tinha um pequeno desvio de uma veia que me fez e fazia com que eu tivesse aquela sensação de ter um enfarte, e devido a isso, ele pode fazer uma pequena cirurgia de reparação evitando que eu viesse a ter problemas mais sérios no futuro.  Então por isso eu te digo que tudo para mim valeu a pena, até mesmo não me conformar em ver você tirando um sarro da minha cara ao ver que tinha dado meu nome a um coiote. Falou ele sorrindo. Sabrina balançava a cabeça sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.  Você está falando sério Tom?  Então quer dizer que basicamente você foi salvo por aquela bala? Falava ela incrédula.  Sim meu amor! Respondeu ele sorrindo.  Ao tentar salvar sua vida sem que eu percebesse, estava ao mesmo tempo salvando a mim mesmo. Não falaram mais nada, pois não precisavam. Entregaram-se nos braços um do outro comemorando a salvação de ambos. Já havia se passado três meses, finalmente tinha chegado o grande dia do casamento de Sabrina e Tom. A cidade toda estava em polvorosa, todos queriam estar presentes na grande festa que seria ali mesmo no rancho a beira do lago. O sol os brindou radiante logo pela manhã. Sabrina acordou com o roçar de pernas de Tom que a olhava encantado.  Achei que você não fosse acordar... Falou ele zombeteiro.  Hum...e deixar você escapar? De jeito nenhum. Respondeu ela se aconchegando mais á ele.  Se não nos apressarmos, vamos chegar atrasados para o nosso casamento. Disse ele rindo a abraçando.  Pode ficar sossegado que minha irmã tem tudo sobre controle.

 É verdade, ela realmente tem talento para isso.  Ainda bem, pois me sobra mais tempo para curtir meu marido...  Hum...gostei da palavra marido...disse ele lhe cobrindo de beijos. A cerimônia estava impecável. Isa organizou tudo nos mínimos detalhes, deixando para Sabrina apenas desfrutar do prazer de sua festa. Olhando para sua irmã, se lembrou de quando ligou para ela lhe comunicando de seu casamento. Isa fez Sabrina fazer um verdadeiro relato de Tom por telefone mesmo. Quando ela chegou e o conheceu, o aprovou de imediato ao ver a felicidade em que sua irmã se encontrava e agradeceu por finalmente sua irmã ter encontrado alguém que se importava com ela, pois ela merecia isso. Depois de muito conversarem, decidiram retirar a cerca que limitava o rancho de ambos e assim tornaram tudo um só. A única coisa que faltava era decidirem o que fazer com o rancho de Tom, pois ele estava lindo. Os dois estavam frente ao altar de mãos dadas enquanto o padre iniciava o ritual do sagrado matrimônio. De um lado estava um emocionado Tom que ficou boquiaberto ao vê-la no vestido de noiva e do outro Sabrina encantada ao vê-lo se tornando seu marido. Todos bateram palmas de alegria quando o padre recitou a tão desejada frase.  Eu os declaro “marido e mulher”. Tom a beijou apaixonadamente, selando ali suas vidas para sempre. Pois finalmente ambos encontraram o que vieram buscar. Sabrina encontrou o verdadeiro amor, um amor que veio de uma pequena batida de carro e lhe mostrou que devia dar mais uma chance ao seu coração de ser feliz. E Tom que viera em busca de tranqüilidade e sem querer havia adquirido o direito de ter uma vida normal ao lado de Sabrina. “Normal”? Pensou Tom sorrindo. “Pois tinha uma leve impressão que sua vida ao lado de Sabrina não teria nada de normal.”


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.