Felipe Pereira
Um grande palco pede um grande carnaval Após duas décadas, a popular festa pagã retorna à Afonso Pena para a alegria e ressalvas de foliões e sambistas da capital mineira Texto e fotos de Lucas Alvarenga É por pouco tempo. Mas esse período é suficiente para que o trabalhador se despeça da rotina e dê um alô ao prazer; para que o pobre e marginalizado se vista como manda a nobreza e o rico reverencie aquele reinado; para que a avenida das manifestações políticas se transforme em uma passarela de emoções e de beleza. O carnaval inverte situações cotidianas e reordena espaços. A rua ganha significado diferente na vida do brasileiro. De banalizada e violenta, cada via tem um papel num cenário que sempre encanta. E o que era público, torna-se uma extensão de cada lar. Quem dirá na vida do belo-horizontino, que, ano após ano, redescobre o prazer de promover ocupações públicas em nome da alegria.
“Os blocos caricatos e as escolas de samba são os grandes guerreiros do carnaval. Esses grupos estão na batalha há anos, independentemente da época ou de a população aderir ou não à festa”, admite o Luiz Felipe Barreto, diretor de Operações e Eventos da Belotur. O órgão responsável pelo turismo na cidade também é o organizador do carnaval 2014. O evento promete ser grandioso, segundo os organizadores. Serão R$ 5 milhões investidos, sendo R$ 3,5 milhões dos cofres municipais e o restante da iniciativa privada. Além disso, é claro, haverá o retorno dos desfiles de blocos caricatos e escolas de samba para a Afonso Pena.
Faz 23 anos que o cidadão da capital mineira acompanhou o último desfile de carnaval na avenida de todos os belo-horizontinos: a Afonso Pena. Pouco antes disso, a cidade ostentava o título de segunda melhor folia do país, atrás apenas do Rio de Janeiro. Eram as décadas de 70 e 80, quando os blocos caricatos, as marchinhas e as escolas de samba tomavam juntos a área central da cidade. Aos poucos, um espetáculo de cores e sons foi sendo abafado pelo tempo e por uma sequência de administrações municipais.
Reivindicação antiga dos sambistas da capital mineira, a volta ao palco histórico é festejada com ressalvas. O prestígio de desfilar no palco das manifestações sociais mineiras na segunda e terça-feira de carnaval minimiza a perda de recursos por parte das escolas. No ano passado, a prefeitura distribuiu R$ 37,5 mil para cada uma das seis escolas. Este ano, a verba será de R$ 25 mil, mesmo com o crescimento de 43% na arrecadação de recursos para a folia.
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