Relatos de guerra pobreza e racismo institucional - jornalmapa.pt

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Relatos de guerra, pobreza e racismo institucional:

Volvidos mais de dez anos, a Câmara Municipal da Amadora congratula-se por ter erradicado um conjunto de bairros ilegais como aconteceu com a Azinhaga dos Besouros, as Fontaínhas, o Casal de Santa Filomena ou o Bairro Estrela d’África. A destruição destes bairros autoconstruídos pelas populações, tem vindo a acontecer no âmbito do Programa Especial de Realojamento (1993). Embora este programa tenha contribuído de forma inequívoca para suprir as carências habitacionais de um conjunto de famílias, foi no âmbito do mesmo que muitas viram o seu único tecto ruir, sem que qualquer alternativa digna lhes fosse apresentada por parte da autarquia, fazendo do Programa de Realojamento, paradoxalmente, um programa de desalojamento. De acordo com dados fornecidos pela Câmara Municipal da Amadora, de acordo com o documento “Execução do PER – dez. 2016” 1 contabilizam-se 746 agregados excluídos do Programa Especial de Realojamento, somente nos quatro bairros mencionados, o que, se contabilizarmos uma média de quatro pessoas por agregado, equivaleria a já cerca de 2984 pessoas (muitas delas crianças, idosos e doentes) despejados diretamente pelas mãos do Estado português, unicamente nestes quatro territórios. Não obstante um conjunto de vozes de moradores e moradoras dos bairros, associações, colectivos e plataformas da sociedade civil, membros do governo, o Provedor de Justiça e a Relatora Especial das Nações Unidas para a Habitação Adequada se ter levantado, apelando à suspensão imediata das demolições que ocorrem nos últimos dois anos, em particular no Bairro 6 de Maio, Carla Tavares (PS), recentemente reconduzida – com maioria absoluta – ao cargo de Presidente da Câmara Municipal da Amadora, fez anunciar no seu programa eleitoral (2017-2021) que se comprometeria a “Concluir a erradicação dos Bairros 6 de Maio e Estrada Militar Reboleira/Damaia”. 2 Deste modo, face à luta dos moradores, e numa altura em que o Governo anuncia um novo Programa de Realojamento – o Primeiro Direito – a Câmara Municipal da Amadora responde com uma nova promessa de demolições, muitas delas sem alternativa; continuando um processo de violência estatal racializada, que tem expulsado das suas casas e do centro da cidade da Amadora maioritariamente população


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