Revista Esquinas - Edição 46 - Mente

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REPRodUção

O complexo hospitalar do Juquery atende hoje 312 internos, mas já chegou a abrigar 14 mil pessoas em 1968

“O que de fato aconteceu depois da institucionalização da lei foi uma diminuição dos leitos” Rosa Garcia, psiquiatra vai para a poupança. Margarida desenvolveu uma relação próxima com as enfermeiras. “Não tem o que elas não façam para agradar a gente”, diz a paciente. OitO CAsinhAs No Juquery há também oito moradias que fazem parte do projeto de Residências Terapêuticas (RT) do SUS (Sistema Único de Saúde), que investe em casas para pacientes sem família, mas que têm condições de sociabilidade. As casas são mantidas pelo município de Franco da Rocha. Mas, segundo o arquiteto Paolo Pizzolato, a cidade não tem condições de receber esse serviço, por isso as residências foram criadas no Juquery. “É uma área separada dos outros pacientes e sem nenhum vinculo hospitalar’, explica o arquiteto. Cidinha é uma das moradoras das casinhas, como são conhecidas as RT. Vive com mais seis mulheres. O Estado fornece alimentação crua para os habitantes das residências, e os próprios moradores preparam a comida. “Na minha casa, eu que cozinho. Só não faço feijão porque tenho medo da panela de pressão”, explica Cidinha. Apesar

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ESQUINAS 2º SEMESTRE 2009

de a paciente ir frequentemente para Atibaia visitar alguns parentes, não quer deixar o Juquery, onde tem muitos amigos e, também, um namorado. FOrA dOs hOsPitAis De acordo com Rosa Garcia, membro da diretoria da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o que aconteceu depois da institucionalização da lei foi uma diminuição dos leitos. De fato, segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 20 anos, 70% dos leitos destinados à psiquiatria foram fechados. “Alguns alegam que grande parte dos que eram hospitalizados se tornavam doentes crônicos e, até certo ponto, isso é verdade”, diz Rosa Garcia. A doutora afirma que muitas pessoas se queixam de não haver mais internações. Em certos casos, “a internação para a família se torna mais cômoda”, confessa. Isso porque, segundo ela, ter o doente mental em casa é difícil, devido ao fato de ser uma “pessoa improdutiva” que requer cuidados constantes. Para Sérgio Tamai, psiquiatra e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo, hoje, a existência de tratamentos eficazes exclui a necessidade de longas internações. E Guilherme Spadini, psiquiatra do Hospital das Clínicas, complementa: “nos moldes antigos, o paciente esquecia-se da sociedade, da chance de ter uma vida, e ficava internado por muitos anos. Hoje, o hospital psiquiátrico trabalha com internações curtas”. Entretanto, Tamai afirma que o atendimento fora dos hospitais ainda é um problema, pois as políticas brasileiras não cumprem o que a lei prevê. “Tornar o tratamento acessível para as pessoas é a base de tudo”, afirma. A questão básica é como colocar os recursos disponíveis para a população. Se não há mais internações longas, pressupõe-se que os doentes mentais terão outro tipo de acompanhamento. Entretanto, nem sempre é isso o que acontece. A descentralização do modelo de tratamento original, que previa longas internações, propõe tratamentos alternativos como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), que funciona como uma espécie de ambulatório. O tipo de acompanhamento feito varia. Os pacientes externos vão mensalmente, os semi-extensivos semanalmente e os intensivos recebem consultas diárias. Desde 2007, os hospitais, que atendem 32 mil doentes mentais pelo SUS por ano, ficam com 36,6% da verba total destinada a saúde mental e o CAPS recebe 63,4%. Mas o dinheiro é pouco. Isso porque o Ministério da Saúde previa que com o fechamento


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