

1 A ARTE CONTEMPORÂNEA E SEUS DESDOBRAMENTOS
A arte contemporânea originou-se como desdobramento e superação das manifestações artísticas clássicas e modernas. Tanto a produção quanto a fruição da arte sofreram uma revolução, abrindo espaço para inovações técnicas e novas propostas estéticas, assim como para o reconhecimento e a validação da pluralidade de vozes e olhares que reivindicavam espaço.
O hibridismo e as novas tecnologias têm importância fundamental nas práticas contemporâneas − seja enquanto aliadas, seja enquanto alvos de discursos críticos. As manifestações dissidentes e as culturas marginalizadas, além das relações entre cultura de massa e cultura popular, também dão o tom dos trabalhos de muitos artistas e coletivos da cena atual.

CHECKLIST DE ESTUDOS
TÓPICO 1
O que é arte contemporânea?
TÓPICO 2
Modalidades híbridas, tecnologias e novas mídias
TÓPICO 3
Dominação cultural e práticas dissidentes: diálogos e tensões
TÓPICO 4
Cultura visual, cultura de massa e cultura popular
LEGENDAS
CV - CONTEÚDO VISTO EM SALA
- CONTEÚDO
- DÚVIDAS TIRADAS

PARA INÍCIO DE CONVERSA
A arte contemporânea está profundamente conectada com a atualidade, tanto com as temáticas cotidianas quanto com temas políticos e sociais. O fato de estar em construção no agora revela uma produção e um consumo rápidos, exigindo do espectador e do artista uma compressão afiada do nosso tempo e uma boa capacidade de leitura. A reflexão sobre arte considera linguagem, conquista de espaço, crítica, reflexão e respeito.
1.1
• Surgimento, consolidação e características
Arte contemporânea é a arte do agora, aquela que se manifesta ao mesmo tempo em que o público e a crítica a consume e atribui a ela significados e interpretações. Do ponto de vista histórico, a arte contemporânea surge e se consolida no século XX, sobretudo após os movimentos de questionamento da tradição artística ocorridos no pós-Segunda Guerra Mundial. Como características principais da arte contemporânea, podem-se elencar:
• ruptura com a tradição artística clássica e com os espaços regulares de apresentação da arte, uma vez que se utilizam locais não tradicionais para as manifestações contemporâneas, como muros, quintais, jardins, passarelas, ruas etc.;
• abandono ou reinterpretação dos suportes tradicionais;
• presença de temas sociais, políticos, culturais, típicos da cultura de massa e da ordem do dia;
• crítica ao progresso tecnológico;
• aproximação com a cultura pop e com a ideia de efemeridade das produções culturais.
CONECTANDO DISCIPLINAS
A arte contemporânea e o muro da Cisjordânia
O Muro da Cisjordânia é uma barreira de 760 km de extensão que atravessa o território de Israel e pretende isolar os territórios palestinos ocupados (sobretudo Jerusalém e a Cisjordânia Oriental). A justificativa para a construção do muro de quase oito metros de altura é evitar a infiltração de terroristas islâmicos em solo israelense. Em 2004, o Tribunal Internacional de Justiça de Haia declarou a construção ilegal por ferir princípios humanitários e isolar quase meio milhão de pessoas. No entanto, Israel continuou a construção da barreira.
Imagem 1.1. Pintura contemporânea em estilo neoplasticista
Para ironizar e provocar reflexões acerca do conflito entre árabes e israelenses, sobretudo na região do Muro da Cisjordânia, o artista de rua britânico Banksy realizou o grafite a seguir.


Nessa obra, fica evidente a temática da saudade, com um esforço do poeta por se lembrar do passado, de seu país e de experiências que viveu, em meio ao turbilhão de emoções que ganham vida nos versos, por vezes de conteúdo sórdido e cotidiano, o que justifica o nome da obra.
A artista visual brasileira Lygia Clark (1920-1988) também foi uma das fundadoras do movimento neoconcreto, mas notabilizou-se pelas instalações − termo das artes visuais contemporâneas que significa a exposição em galerias ou museus em espaços totalmente ocupados pela arte − e pela body art − outra vertente contemporânea, que utiliza o corpo como suporte expressivo.

1.2 • Alguns nomes da arte contemporânea no Brasil e no mundo
Não é tarefa simples elencar um rol dos grandes nomes da arte contemporânea, haja vista sua característica de acontecimento no agora e o aparecimento de novos artistas a todo momento. No entanto, a título de exemplo, alguns nomes serão apresentados. Dois deles se destacam no Brasil por romperem os limites da arte moderna e se estabelecerem como referências artísticas e acadêmicas no próprio país e no mundo: Ferreira Gullar e Lygia Clark.
José Ribamar Ferreira, conhecido pelo pseudônimo Ferreira Gullar (1930-2016), foi um escritor e poeta brasileiro, natural do Maranhão. Ele foi um dos fundadores do neoconcretismo − movimento artístico brasileiro que surgiu no Rio de Janeiro, no final da década de 1950, que valorizava a subjetividade. Como poeta, Gullar contribui para a inserção de temas políticos e ideológicos no campo da arte: militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e manifestando-se contra a ditadura militar brasileira, escreveu, quando exilado na Argentina, o célebre Poema sujo (1976), considerado sua obra mais ousada.
A paulistana Rosana Paulino (1967-) é também um destaque na cena contemporânea nacional, abordando temas sociais importantes, relacionados a questões étnicas e de gênero. Uma de suas obras de ressonância chama-se Bastidores (1997), e tematiza a violência sofrida por mulheres negras do Brasil. Em um conjunto de fotografias, inseridas em bastidores de bordados, a artista coloca em evidência o silenciamento e o racismo, por meio de uma costura agressiva sobre o tecido. A obra de Paulino tem ampla circulação no Brasil e no mundo, sendo exposta em museus e importantes mostras internacionais.

Imagem 1.2. Estêncil em muro realizado pelo artista britânico Banksy, conhecido por investir em temáticas sociais com uma abordagem crítica
Imagem 1.3. Trecho de Poema sujo (1976), de Ferreira Gullar
Imagem 1.4. Escultura O bicho linear (1960), de Lygia Clark, feita em placas de metal ligadas por dobradiças
Imagem 1.5. Bastidores (1997), imagem transferida sobre tecido, bastidores de madeira e linha de costura
Na cena internacional é possível destacar alguns nomes imprescindíveis para a arte contemporânea, tanto por conta da qualidade dos seus trabalhos quanto pela influência determinante nas obras de outros artistas, como Richard Serra, Andy Warhol, Orlan, Ana Mendieta, Marina Abramović, Jean-Michel Basquiat, Jeff Koons, Sophie Calle, dentre muitos outros que poderiam ser citados. Serra (1938-), por exemplo, é ligado à tradição de escultores minimalistas, e trabalha com materiais industriais, como borracha, aço e chumbo. Sua obra The matter of time (1994-2005), umas das principais da sua carreira, está em exposição permanente no Museu Guggenheim em Bilbao.

Para um exemplo da diversidade da arte contemporânea, ao passarmos de Serra a uma artista com Orlan (1947-), é possível entender a grande variedade de suportes, materiais e expressividades possíveis. Orlan é o nome artístico da performer francesa Mireille Suzanne Francette Porte, que é uma das precursoras da modificação corporal como expressão artística. Para ela, a utilização do seu corpo é um ato político para falar sobre o corpo da mulher na sociedade contemporânea.
1.3 • Matrizes estéticas e culturais
Partindo da premissa de uma arte exibida em espaços abertos, distante das galerias e dos museus, a land art rompe barreiras ao incorporar o terreno natural, de modo que o ambiente onde a obra é exposta se torna parte dela. Surgido no final da década de 1960, tem no artista americano Robert Smithson (1938-1973) um de seus principais expoentes. Sua obra mais famosa é a Spiral jetty, exposta no estado de Utah, Estados Unidos, e consiste em uma espiral de terra de 460 metros de comprimento por 4,6 metros de largura.
Outra manifestação da arte contemporânea é a videoarte, que se dedica à expressão artística por meio da utilização de tecnologias audiovisuais. Iniciada na década de 1960, foi amplamente difundida pelo mundo, sendo um de seus maiores representantes o sul-coreano Nam June Paik (1932-2006).



A estátua de Buda assiste à própria imagem em uma tela de televisão, a partir da filmagem da câmera de vídeo
A popularização de câmeras de vídeo, videocassetes e aparelhos de TV entre o público fez com que os artistas se interessassem por essa tecnologia e a adotassem como meio de produção artística. As obras de videoarte, geralmente, caracterizam-se por aspectos experimentais, priorizando a articulação de elementos plásticos e abstratos, e não narrativos, diferentemente do cinema.
Imagem 1.6. The matter of time (1994-2005)
Imagem 1.7. Fotografia da Spiral jetty (1970), produzida por Robert Smithson
Imagem 1.8. Obra Electronic superhighway: continental United States (1995), do artista Nam June Paik
Imagem 1.9. Instalação TV Buddha (1974), de Nam June Paik.
1.4 • Relação da arte contemporânea com a arte de grupos étnicos
A arte contemporânea, ao resgatar elementos de exibição e produção em espaços comuns e no próprio corpo humano, relaciona-se à arte étnica. Esta, sobretudo a produzida por grupos indígenas brasileiros, evidencia a eficácia da arte, compreendendo que a expressão artística vai além da forma e mobiliza a capacidade comunicativa. Isso significa que a tinta, as pinturas e os objetos não são apenas fins em si mesmos, mas formas de comunicação dotadas de significados, que devem ser interpretados em perspectiva e em contextualização, considerando particularidades da cultura a que pertencem. No contexto das comunidades, os objetos produzidos têm, ao mesmo tempo, uma finalidade prática, estética e simbólica. Assim, transmitem valores e ideias, tal como a arte conceitual, sendo possível sua relação com a arte contemporânea. Isso ocorre porque, na perspectiva cultural de determinados povos, inexiste a distinção entre o que é artefato (objetos com função prática) e arte (objetos criados para apreciação estética).
Além disso, a figura do artista, enquanto aquele que possui a função de criar algo ou dar continuidade à tradição, não é determinada. Assim, pesquisadores da Antropologia explicam que os limites entre o artístico e o cotidiano diminuem, e a forma como esses grupos encaram, produzem e consumem arte não é dissociável de suas tradições e manifestações sociais.

SAIBA MAIS
Abstração, figuração e pintura
Para entender um pouco mais sobre a arte contemporânea, assista ao vídeo a seguir, no qual o curador Franz Manata comenta a abstração e a figuração na pintura contemporânea.



01. A partir dos elementos estudados na land art, elabore uma intervenção artística dessa natureza. Ao final, fotografe-a para registro e compartilhe seu trabalho com a turma.
EM SÍNTESE
• A arte contemporânea é a arte do agora, ou seja, aquela que se manifesta ao mesmo tempo que o público a consome.
• A land art rompe barreiras ao incorporar o terreno natural às obras, de modo que o ambiente onde a obra é exposta se torna parte dela.
• A arte dos grupos étnicos evidencia a eficácia da arte, ou seja, a expressão artística vai além da forma e mobiliza a capacidade comunicativa.
Imagem 1.10.Traje tradicional da etnia haliti-paresi, de Mato Grosso
Imagem 1.11. Máscaras de madeira comuns na cultura maia
Link sugerido • https://bit.ly/3Whgy7c

PESQUISADOR
QUE SOU
Pesquise representantes contemporâneos da videoarte, observando os temas abordados em suas produções. Em seguida, produza um relatório organizando suas conclusões.
TÓPICO 2 • Modalidades híbridas, tecnologias e novas mídias

PARA INÍCIO DE CONVERSA
Do ponto de vista linguístico, o termo “híbrido” significa formado por elementos diferentes. É a partir dessa premissa que podemos entender as artes híbridas: são movimentos contemporâneos que combinam elementos e linguagens artísticas, trazendo eventualmente recursos científicos e tecnológicos, como robótica, física e programação digital. Sendo assim, a principal característica desse movimento artístico é a interdisciplinaridade, ou seja, a capacidade de utilizar recursos de diferentes áreas do conhecimento simultaneamente.
O hibridismo nas artes é um processo sociocultural no qual estruturas e práticas diferentes, que existiam de maneira independente, combinam-se para criar novas estruturas e práticas. A arte contemporânea desenvolve constantemente novas ferramentas híbridas, como a combinação da tecnologia de filmagem com a transmissão de conteúdos via internet que integra diferentes linguagens artísticas, como a dança, a música e o teatro.
É possível notar a utilização de hibridismo em manifestações das artes visuais, tais como o vídeo e a fotografia, que, ao se combinarem com elementos científicos, como os da programação digital, criam novas representações e outros espaços artísticos, como o design em jogos eletrônicos e a realidade aumentada.
No caso dos jogos eletrônicos, combina-se a arte realista à programação, trazendo de volta valores caros à arte clássica e
Imagem 1.12. Instalação imersiva Wander through the Crystal Universe (2016), do coletivo teamLab que, compõe a exibição DMM. Planets Art no Mori Museum, em Tokyo
renascentista, como o ideal da perfeição das formas humanas e naturais e a articulação de elementos de campos de conhecimento científico. Para que a experiência em um jogo eletrônico seja imersiva, é necessário que a imagem, os sons e as sensações espaciais sejam realistas. Por isso, os programadores dos jogos se revestem do ofício artístico e desenvolvem linguagens de movimento, som, música, escultura, desenho, pintura, arquitetura, engenharia e design para compor os jogos e cumprir esse objetivo.

Do mesmo modo, a realidade aumentada utiliza dispositivos eletrônicos para inserir, à vista do observador, objetos que não constam no mundo real. Com isso, altera-se a percepção de realidade e cria-se, além de possibilidades artísticas, novas utilidades. Permanece, ainda, a mesma condição anterior: é necessário realismo para criar a sensação de realidade e possibilitar a imersão.
2.1 • Novas mídias e experimentalismo
O experimentalismo, no contexto das artes visuais, é uma atitude crítica em relação ao que é aceito como arte, de modo a forçar uma abertura para a incorporação de elementos considerados “estranhos”. Nessa perspectiva, o experimentalismo pode explorar os limites do que é considerado som, por exemplo, utilizando para isso ruídos e elementos abstratos, como luz, espaço, cor e presença. Essas questões podem ser discutidas em experimentos como as chamadas esculturas sonoras, que criam objetos interativos que produzam sons.

Outra manifestação possível nesse campo é a música visual, que relaciona imagem e som por meio da correspondência entre o formato das ondas sonoras e o espectro visível físico das cores. Nesse caso, a composição das imagens determina o que será ouvido, e o resultado se mostra abstrato.
Apesar da fertilidade dos artistas contemporâneos, esse tema não é exatamente novo no campo da música. Na década de 1960, o estadunidense John Cage (1912-1992) realizava experimentações com o piano, substituindo peças mecânicas do instrumento ou inserindo objetos entre as cordas e os martelos para produzir outras sonoridades.
Com isso, Cage desenvolvia a chamada música aleatória: um estilo de composição musical no qual diversos elementos centrais à obra são deixados ao acaso. Por exemplo: ao inserir uma bola de tênis dentro da caixa acústica de um piano, é impossível prever que tipo de som seu contato com as cordas e os martelos vai causar, a depender de como e o que o músico toca. Nessa situação, a composição pode ser pensada, mas é limitada, pois o acaso irá compor o resto.
A obra mais famosa de Cage é a peça musical 4’33” , composta em 1952, que se tornou símbolo de sua visão sobre a arte híbrida contemporânea. Nessa composição, existe apenas silêncio por quatro minutos e trinta e três segundos, tempo no qual o músico se senta diante de seu instrumento e se mantém inerte e em completo silêncio.
O ponto de Cage é o seguinte: é impossível que o público se mantenha em absoluto silêncio por esse tempo, e é inevitável que surjam ruídos de pigarros, tosse, espirros, cochichos, sons de telefone (se pensarmos no contexto atual), entre outros. São exatamente esses ruídos aleatórios que formam o conteúdo da composição, que se renova a cada performance.



Imagem 1.13. Instalação artística 10.000 moving cities, do artista Marc Lee, produzida em realidade aumentada
Imagem 1.14. Escultura visual Textured screen (1954), de Harry Bertoia
Imagem 1.15. John Cage
EXERCITANDO EM AULA
02. A partir das discussões apresentadas sobre a realidade aumentada, pesquise um aplicativo de celular com essa capacidade, escolha um cômodo de sua casa e realize fotografias nas quais ocorram intervenções virtuais. Em seguida, escreva sobre o seu processo de criação, considerando a interação entre o mundo físico e o digital.
03. Diante do crescimento da tecnologia e do mercado de jogos digitais, a profissão de designer de games tem adquirido relevância. Escolha um jogo digital e pesquise os principais processos envolvidos em seu desenvolvimento que guardam relação com a arte.
EM SÍNTESE
• Artes híbridas são movimentos contemporâneos que combinam linguagens artísticas e tecnológicas.
• A realidade aumentada utiliza dispositivos eletrônicos para inserir, à vista do observador, objetos que não constam no mundo real.
• A música aleatória é um estilo de composição no qual elementos centrais da obra são deixados ao acaso.

TÓPICO
• Dominação cultural e práticas dissidentes: diálogos e tensões

PARA INÍCIO DE CONVERSA
A história da arte ocidental, que domina os discursos transpostos para os livros e os debates formais (em galerias, universidades e museus, por exemplo), exclui de modo sistemático as práticas dissidentes, geralmente produzidas por comunidades historicamente marginalizadas. De diversas formas, a cena da arte contemporânea vem, ainda que não idealmente, trazendo para o centro das discussões e das produções obras de artistas negros, indígenas, aborígenes, além de priorizar questões de gênero e sexualidade.
3.1 • Conquista de novos espaços
O início do século XXI é marcado pela desconstrução de antigos preconceitos, arraigados há muito no imaginário e na mentalidade da sociedade. Com a Arte não foi diferente: a partir da conquista de espaços por grupos minoritários − os quais batalharam para fazer ouvir sua voz por meio de ações, intervenções, reflexões −, certos paradigmas foram desestabilizados. Primeiramente, impunha-se o paradigma geográfico: como a civilização ocidental tem berço na Europa, a História da Arte foi escrita a partir de movimentos, manifestações e representantes dessa localidade, ignorando e marginalizando outras regiões. No entanto, desde o início da Modernidade e com o advento da globalização, que impulsionou e tornou complexos os processos históricos de migrações, outras narrativas e pontos de vista foram evidenciados.
Para que se mantenha o respeito e a representatividade, é preciso abrir o espaço antes ocupado exclusivamente pelo homem branco europeu para que outras etnias, regiões e perspectivas sejam consideradas. Dessa maneira, a quebra do paradigma geográfico se dá por meio da atenção a movimentos, escolas e estilos artísticos de outros continentes e civilizações.
O segundo paradigma a ser quebrado neste século foi o étnico. Dada sua origem, o estudo da História da Arte foi essencialmente eurocêntrico, isto é, partia apenas do ponto de vista europeu. Com a discussão da alteridade, ou seja, da perspectiva do Outro, respeitando e valorizando as diferenças, foi possível romper essa barreira, e cada vez mais se discutem as obras de artistas negros, asiáticos, indígenas, aborígenes etc.
Finalmente, o terceiro paradigma a ser rompido, ainda resistente aos movimentos por diversidade e representatividade, é o que diz respeito a questões de gênero e sexualidade.
Imagem 1.16. Diversidade étnica, cultural, sexual e de gênero é assunto das intervenções e lutas de artistas contemporâneos, como a brasileira Rosana Paulino na obra inaugural de sua carreira, Parede da memória (1994/2015)

Os movimentos artísticos LGBTQIA+ investem na discussão de temas relacionados a aspectos de sexualidade e gênero, contribuindo para a elaboração de pensamentos sobre a construção da representatividade. Assim, cada vez mais artistas dos movimentos identitários se colocam no centro do debate, forçando limites e explorando as complexidades.

3.2 • Arte dissidente
O termo "dissidência" significa cisão, separação do que é considerado padrão. No contexto da arte e da cultura, reflete a atitude de artistas em romper com as normas canônicas da arte tradicional, seus padrões eurocêntricos e heteronormativos, e propor novas (e por vezes incômodas) representações. Os cânones artísticos podem ser considerados excludentes, pois o pensamento predominante na sociedade ocidental trata de forma hierarquizada e opressora manifestações dissidentes. Nesse contexto, surge o conceito de arte urgente, ou seja, formas de arte dissidente que se manifestam como resistência à opressão, aos estereótipos e a binarismos.
Nesse sentido, os artistas dissidentes se valem de métodos radicais, repletos de incertezas, que questionam os padrões normativos do sistema vigente e chocam setores da sociedade. Porém, é o esforço necessário para que suas vozes e obras sejam percebidas. Por meio da arte dissidente, esses artistas encontram uma forma de criar um espaço em que eles e outras pessoas − socialmente oprimidas − podem se comunicar e trocar experiências.
Esse é o caso da artista carioca Aline Motta (1974-), que possui uma produção em formato de fotografia e videoarte guiada por temas que trançam sua própria biografia a investigações sobre seus ancestrais que foram escravizados no Brasil colônia; e de Jota Mombaça (1991-), escritora e artista visual que trava, em sua obra, um debate sobre corpos dissidentes, binariedade, racismo e sexualidade.
Saindo do campo das artes visuais, e entrando na música, há o caso da cantora e compositora Linn da Quebrada (1990-), que elabora sua expressão artística urgente a partir de sua subjetividade, enfatizando sua transição identitária e presença na sociedade enquanto mulher transexual, negra e periférica. Essas artistas são exemplos das vozes que destoam dos cânones e por vezes incomodam
ouvidos menos abertos à diversidade. Ouvi-las e respeitá-las é o caminho para a construção democrática de uma sociedade plural.


3.3 • Diálogos e aproximações
Historicamente, grande parte dos movimentos políticos e sociais que lutam por igualdade e representatividade sofrem preconceito por apresentarem um olhar novo e, muitas vezes, disruptivo.
A ferramenta básica para a reivindicação é o diálogo, pautado pelo respeito, pela consideração da alteridade e pela solidariedade. Na prática, abrir espaços e acolher as produções de artistas dissidentes em locais canônicos de promoção da arte, como museus e galerias, bem como promover discussões sobre tais realizações, são meios de garantir a equidade na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
O artista alagoano Jonathas de Andrade (1982-), que trabalha com instalações, fotografias e vídeos é reconhecido, no circuito mundial, como um dos jovens artistas mais influentes da contemporaneidade. Com o conjunto de obras Museu do Homem do Nordeste (coleção homônima ao museu antropológico criado em 1979 por Gilberto Freyre, no Recife), Andrade discute temas de representatividade sexual, afetiva, étnica e social do homem nordestino.
Imagem 1.17. Exposição Orgulho e resistências: LGBT na ditadura (2021) no Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo
Imagem 1.18. Linn da Quebrada, cantora, compositora e atriz
Imagem 1.19. Pontes sobre abismos (2017), videoinstalação e série de fotografias de Aline Motta
Aline Motta/Divulgação

EXERCITANDO EM AULA
04. Pesquise um artista contemporâneo da cena local ou regional cuja obra pode ser classificada como dissidente. Identifique o assunto que permeia seu trabalho artístico e elabore um texto de apresentação sobre sua carreira.
No vídeo a seguir, é possível conhecer um pouco mais sobre o trabalho do artista.


05. Coletivamente, mobilize os conhecimentos discutidos na questão anterior e, com o auxílio do(a) professor(a), promova uma intervenção artístico-cultural sobre um dos artistas dissidentes apresentados. É possível convidá-lo a se apresentar para a classe, exibir uma mensagem gravada para a turma, realizar uma entrevista coletiva, por exemplo, entre outras ideias.
EM SÍNTESE
• A arte dissidente reflete a atitude de artistas de romper com as normas canônicas da arte tradicional, seus padrões eurocêntricos e heteronormativos, e propor novas formas de representação.
• A arte urgente é caracterizada por formas de arte dissidentes que servem de resistência à opressão, aos estereótipos e a binarismos.

PESQUISADOR QUE SOU
Acerca da arte política dissidente, pesquise a vida do cubano Luis Manuel Otero Alcántara, cuja obra afronta o regime ditatorial cubano, com destaque para o parecer que a Anistia Internacional conferiu à sua situação. Após a pesquisa, organize os resultados em uma breve apresentação em vídeo.
Imagem 1.20. O peixe (2016), de Jonathas de Andrade, é uma obra etnográfica híbrida entre documentário e ficção
TÓPICO 4 • Cultura visual, cultura de massa e cultura popular

PARA INÍCIO DE CONVERSA
A influência da mídia e do consumismo permeia o imaginário cultural dos sujeitos contemporâneos. A simplificação da cultura, com o objetivo de vender produtos e criar mercados, reduz a possibilidade de produção e de consumo culturais. Por outro lado, a manutenção das tradições populares, que são o alicerce para o desenvolvimento de civilizações, resgata a memória e a valorização dos aspectos artísticos e culturais que moldam nossa sociedade.
4.1 • Cultura visual
A cultura pode ser compreendida como o conjunto de conhecimentos, religiões, moral, costumes, leis, artes e demais manifestações desenvolvidas por uma sociedade. Apesar de ampla, essa definição aponta para uma questão central: a humanidade, ao se desenvolver, intervém no ambiente e, com isso, elabora sua cultura. Muitos dos elementos culturais presentes nas sociedades humanas são expressos em imagens, e a cultura visual agrega todos.
Na era digital, percebe-se que a comunicação interpessoal recorre cada vez mais a recursos visuais: na internet é comum o uso de emojis, memes ou GIFs para expressar reações, humor ou estado de espírito. É nesse sentido que o historiador da arte William John Thomas Mitchell (1942-) explica que a sociedade vive uma grande mudança de paradigma: as imagens, em vez das palavras, têm ocupado o espaço de vetores do relacionamento das pessoas com o mundo.

Imagem 1.21. Organização capitalista da sociedade investe na comercialização de produtos culturais e do mercado de entretenimento
Imagem 1.22. Em São Paulo, pichações em telefones públicos, postes e outros itens do mobiliário urbano. Para alguns, trata-se de expressão artística de camadas marginalizadas; para outros, de vandalização da estrutura coletiva do Estado
Na mesma linha, o antropólogo alemão Johannes Fabian (1937-) afirma que a cultura visual se tornou central inclusive no discurso científico, em um fenômeno denominado visualismo. Para o pesquisador, a abordagem excessivamente visual leva a uma redução da complexidade da teorização e do conhecimento. Aplicando essas noções à cultura dos dias atuais, é possível refletir: o consumo de entretenimento e de arte está cada vez mais pautado em cultura visual? Os sentidos são mais estimulados pelas imagens per si do que por recursos textuais ou sonoros, por exemplo?
Uma mensagem de texto sem um emoji ou uma imagem ilustrativa podem ser interpretadas, em alguns círculos sociais informais, como frias. Da mesma forma, um texto acadêmico ou técnico pode ser considerado sem ritmo ou de difícil compreensão se não ilustrar com imagens a mensagem que pretende transmitir.
Em suma, a abordagem artística interfere diretamente na percepção social e nas relações humanas que reproduz e critica. Em se tratando de fenômenos contemporâneos, o conjunto da sociedade é, ao mesmo tempo, objeto das representações artísticas e público consumidor dessa mesma arte que o representa.

4.2 • Cultura de massa
Para compreender as sociedades e a construção do relacionamento entre as categorias sociais, políticas e econômicas que as compõem, as Ciências Humanas e Sociais se valem de múltiplas ferramentas. Seja no âmbito de uma análise histórica, seja em uma investigação antropológica, sociológica ou até mesmo jurídica, essas linguagens científicas se sobrepõem e se complementam.
É ainda mais intrincada a relação desse método com a arte, haja vista a multiplicidade de manifestações, linguagens e movimentos. Sendo assim, em apreciações dentro do campo da arte e da cultura, é necessário recorrer a interpretações de outras áreas da ciência, como é o caso da análise da cultura de massa e da cultura popular.
Distinguir os dois fenômenos passa pela discussão histórica, antropológica e filosófica dos termos “massa” e “povo”: existe uma sutil diferença entre eles, que trata de juízo de valor acerca da qualidade do que é consumido e da motivação por trás desse consumo. Nesse sentido, a “massa” é entendida como o conjunto da população que consome produções artísticas e culturais produzidas por meios de comunicação e veículos midiáticos preocupados em transmitir valores de consumo em linguagem propositalmente simplificada.
Nesse sentido, a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) escreveu o ensaio A crise da cultura (1961) afirmando que os grandes veículos de mídia moldavam a cultura contemporânea a partir dos valores do entretenimento. Arendt observava que, apesar da construção cultural, a humanidade é biologicamente animal e, consequentemente, tem necessidades biológicas, que são superadas e controladas pela construção histórica de valores éticos e culturais, cuja compreensão demanda esforço.
Então, com a finalidade de vender o consumo de entretenimento barato e dos produtos industriais que o financiam, as grandes corporações midiáticas reduzem propositalmente a divulgação desses valores e forçam um retorno da cultura a situações animais. Arendt concluiu que as massas não se interessam por cultura e criam uma sociedade essencialmente utilitarista, isto é, apenas focada na utilidade prática imediata do que consomem.

4.3 • Cultura popular
A cultura popular é fruto da interação de um povo com suas tradições. Ao contrário da cultura de massa, não é determinada por valores de consumo nem tem por objetivo vender produtos ou serviços: pode ser definida como aquilo que confere identidade a um povo, que o conecta a seu espaço e perpetua suas práticas no tempo.
Imagem 1.24. Selo postal alemão foi apresentado na ocasião do centenário de nascimento de Hannah Arendt
Hannah Arendt Award for Political Thought
Imagem 1.23. Intervenção digital na obra O grito. Publicada em 2012 pelo usuário lurked4longenough na rede social Reddit
Reprodução
Historicamente, havia uma divisão entre “cultura erudita”, aquela organizada e escrita pela literatura, música e arte clássicas e tradicionais, e “cultura popular”, aquela praticada pela população comum. Ao longo dos séculos XVIII e XIX, porém, percebeu-se que a cultura popular era essencial para a composição da identidade de um povo e que as festas, os jogos, as músicas, as danças e a poesia constituíam um patrimônio imaterial e formas de resistência cultural.
O etnólogo britânico William John Thoms (1803-1885) publicou em 1848 um texto no qual cunhou o termo “folk — lore”, que pode ser traduzido como a reunião dos saberes tradicionais de um povo, e que foi assimilado pela língua portuguesa como “folclore”. Assim, abre-se um novo horizonte no estudo da cultura popular: através do folclore, procura-se valorizar as manifestações culturais populares basilares de um povo, do ponto de vista étnico; elas compõem o conjunto mitológico, artístico e cultural que explica a formação da identidade dessa população.
EXERCITANDO EM AULA
06. Quais são as manifestações de cultura popular que existem em sua cidade? Organize os resultados em um relatório, acrescentando imagens e fotografias.
07. Reflita sobre seus hábitos diários de consumo de conteúdos de entretenimento. Algum desses pode ser considerado como cultura de massa? Explique como você chegou a essa conclusão utilizando os conceitos estudados neste tópico.

EM SÍNTESE
• A cultura é o conjunto de conhecimentos, manifestações religiosas, leis, artes e demais expressões desenvolvidas por uma sociedade.
• A cultura popular é essencial para a composição da identidade de um povo. Festas, jogos, músicas, danças e literatura compõem o patrimônio imaterial e as formas de resistência cultural.

PESQUISADOR QUE SOU
Realize uma pesquisa sobre as manifestações culturais e artísticas populares de seu estado. Em seguida, produza uma apresentação de slides que destaque as principais características de cada uma delas.
Imagem 1.25. Estudantes de Botswana em performance de dança tradicional, em exemplo de cultura popular
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
TÓPICO 1: O que é arte contemporânea?
01. A expressão artística contemporânea que se dá por meio da utilização de técnicas e tecnologias audiovisuais é chamada de:
a) arte visual.
b) arte tridimensional.
c) cinematografia.
d) telearte.
e) videoarte.
02. José Ribamar Ferreira, conhecido pelo pseudônimo Ferreira Gullar (1930-2016), escritor e poeta brasileiro, natural do Maranhão, foi um dos fundadores de qual movimento movimento artístico brasileiro do final da década de 1950?
a) Bauhaus.
b) Neoconcretismo.
c) Simbolismo.
d) Pontilhismo.
e) Fine line.
03. “A pintora e escultora brasileira Lygia Pimentel Lins, conhecida pelo pseudônimo Lygia Clark (1920-1988), notabilizou-se pelas – termo das artes visuais contemporâneas que significa a exposição em galerias ou museus em espaços totalmente ocupados pela arte – e pela – outra vertente contemporânea, que considera o corpo como meio de expressar a arte”.
Marque a alternativa que melhor completa as lacunas.
a) instalações/body art
b) técnicas neoconcretas/body art
c) iniciativas conjuntas/body art
d) iniciativas conjuntas/arte corporal
e) instalações/artes corpóreas
04. Partindo da premissa de uma arte exibida em espaços abertos, distante das galerias e dos museus, qual manifestação artística rompe barreiras ao incorporar o terreno natural de modo que o ambiente onde a obra é exposta se torna parte dela?
a) Nature art.
b) Arte imersiva.
c) Arte natural.
d) Land art.
e) Arte orgânica
TÓPICO 2: Modalidades híbridas, tecnologias e novas mídias
05. A produção de jogos eletrônicos, própria do hibridismo, vale-se de:
I. fotografia e vídeo; II. programação digital; III. valores clássicos e renascentistas.
Assinale a alternativa correta.
a) I e II estão corretas.
b) I e III estão corretas.
c) II e III estão corretas.
d) Todas estão corretas.
e) Todas estão erradas.
06. Uma manifestação experimentalista, possível na arte híbrida, é a música aleatória. Esta não pode ser caracterizada por:
a) instrumentos incomuns.
b) valores clássicos.
c) ruídos.
d) distorções.
e) efeitos sonoros.
07. No contexto da arte híbrida, como se chama a atitude crítica em relação ao que é aceito como arte, de modo a forçar uma abertura para a incorporação de elementos considerados “estranhos”?
a) Experimentalismo.
b) Essencialismo.
c) Hibridismo.
d) Pluralismo.
e) Fascismo.
08. Segundo o antropólogo argentino Néstor García Canclini, trata-se de um processo sociocultural no qual estruturas e práticas diferentes, que existiam de maneira separada, combinam-se para criar novas estruturas e práticas. A que conceito ligado à arte contemporânea o texto se refere?
a) Multiculturalismo.
b) Essencialismo.
c) Hibridismo.
d) Pluralismo.
e) Fascismo.
09. No campo do experimentalismo nas artes, como se chama a manifestação que relaciona imagem e som por meio da correspondência entre o formato das ondas sonoras e o espectro visível físico das cores?
a) Música visual.
b) Ondas sonoras.
c) Campo auditivo.
d) Leque sonoro.
e) Audioestética.
TÓPICO 3: Dominação cultural e práticas dissidentes: diálogos e tensões
10. A arte dissidente propõe um redimensionamento geográfico. Isso porque a História da Arte está centrada:
a) em manifestações das antigas civilizações da América Latina, como incas e astecas.
b) na chamada “arte industrial”, característica dos Estados Unidos.
c) em produções da Europa, que é considerada o berço da civilização ocidental.
d) na expressão religiosa do Antigo Oriente, ou seja, Egito e Mesopotâmia.
e) em movimentos teatrais, de dança e performáticos que surgiram na Rússia.
11. As produções artísticas dissidentes quebram um paradigma étnico, que compreende a história das civilizações (e, portanto, da arte) sob uma perspectiva:
a) eurocêntrica.
b) estadunidense.
c) latino-americana.
d) africana.
e) asiática.
12. O conceito de arte dissidente estabelece como princípio básico valorizar a produção de movimentos de diversidade.
Nesse contexto, “diversidade” refere-se a:
a) posição geográfica.
b) etnia.
c) linguagem.
d) gênero e sexualidade.
e) idade.
13. No contexto da arte e da cultura, qual conceito reflete a atitude de artistas que visam romper com as normas canônicas da arte tradicional, seus padrões eurocêntricos e heteronormativos, e propor novas (e por vezes incômodas) representações?
a) Paradigma.
b) Dissidência.
c) Estruturalismo.
d) Rompimento.
e) Reinvenção.
TÓPICO 4: Cultura visual, cultura de massa e cultura popular
14. Não se pode associar cultura de massa a:
a) meios de comunicação.
b) publicidade.
c) produtos industriais.
d) entretenimento.
e) eruditismo.
15. A cultura popular, às vezes confundida com cultura de massa, caracteriza-se:
a) pela rejeição de um povo às suas tradições.
b) por valores de consumo.
c) pela conexão de um povo com seu espaço.
d) por não conferir identidade a um povo.
e) pela produção de uma arte erudita.
16. Como se chama o conjunto de conhecimentos, manifestações religiosas, costumes, leis, artes e demais expressões desenvolvidas por uma sociedade?
a) Cultura imagética.
b) Cultura estética.
c) Cultura de massa.
d) Cultura visual.
e) Cultura audiofônica.
17. Como é chamada a reunião dos saberes tradicionais de um povo, incluindo todo o o conjunto mitológico, artístico e cultural que explica a formação da identidade dessa população?
a) Estética.
b) Cultura erudita.
c) Cultura de massa.
d) Paradigma.
e) Folclore.
18. Segundo o antropólogo alemão Johannes Fabian, a cultura visual se tornou central inclusive no discurso científico. Como se chama esse fenômeno?
a) Experimentalismo.
b) Essencialismo.
c) Hibridismo.
d) Visualismo.
e) Pluralismo.
2 A RTE , IDENTIDADE E ATUAÇÃO SOCIAL
A arte contemporânea está em constante transformação. Falar na arte de hoje é pensar nas ferramentas digitais, no audiovisual e na interação (virtual ou presencial) entre artista e público. Porém, fazem parte do contemporâneo, em perspectiva histórica, acontecimentos dos últimos 30 ou 40 anos, e a arte desenvolvida nessas décadas ecoa até a atualidade. Por isso, é importante conhecer as origens imediatas de movimentos e formas artísticas atuais, de modo a reforçar valores e estéticas.

CHECKLIST DE ESTUDOS
TÓPICO 1
Interculturalidade e diversidade local na arte contemporânea
TÓPICO 2
Centros culturais e coletivos do Brasil
TÓPICO 3
Atuação social e desafios contemporâneos: arte como intervenção
TÓPICO 4
Arte contemporânea no Brasil
LEGENDAS
CV - CONTEÚDO VISTO EM SALA
ER - EXERCÍCIOS REALIZADOS
CE - CONTEÚDO ESTUDADO CR - CONTEÚDO REVISADO
DT - DÚVIDAS TIRADAS
TÓPICO 1 • Interculturalidade e diversidade local
na arte contemporânea

PARA INÍCIO DE CONVERSA
Ao pensar em arte, é comum relacionar suas representações ao mundo material: pinturas, esculturas, desenhos, audiovisual, cinema etc. No entanto, existem manifestações artísticas que não podem ser tocadas nem transportadas, cuja apreciação se dá por meio da interação entre público e artista. Esse patrimônio artístico não é material, uma vez que trata de cultura e de manifestações por vezes efêmeras, sendo por isso classificado como imaterial.
1.1 • Patrimônios culturais imateriais
Geralmente, ao pensar em patrimônio, o que vêm à cabeça são bens físicos e com valor econômico, isto é, bens materiais. No entanto, o conjunto de práticas culturais de um povo constitui uma forma de patrimônio que não se organiza de forma material e, por isso, é chamado de patrimônio imaterial. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) define patrimônio imaterial como o conjunto de representações, práticas, técnicas, conhecimentos e expressões que indivíduos e grupos desenvolvem, geralmente utilizando instrumentos, artefatos, e em lugares específicos. Portanto, o patrimônio imaterial é relacionado à
expressão de grupos étnicos e culturais, realizada por meio de festas, celebrações, rituais, saberes e ofícios.
No mundo, existem manifestações compreendidas como patrimônios culturais e imateriais. A cidade marroquina de Marraquexe possui uma arquitetura ímpar, típica da cultura árabe. Sua praça principal, a Jemaa el-Fna, está situada na região mais antiga da cidade e é considerada pela Unesco como patrimônio cultural imaterial da humanidade. Por volta do século XI, o local era reservado à execução de criminosos, o que explica o seu nome (“local da assembleia dos mortos”, em português). Durante o dia, a praça recebe espetáculos culturais, de dança e música típicas e, à noite, transforma-se em um polo culinário turístico.
1º ANO - Arte
MódulO
Imagem 2.1. Festival de Parintins, exemplo de cultura imaterial brasileira

Nos países africanos de Malawi, Moçambique e Zâmbia, é celebrado um ritual religioso chamado gule wamkulu , (“grande dança”, em português). A manifestação é apontada por estudiosos como parte de um culto secreto praticado pelo povo chewa, o maior grupo étnico da população de Malawi. A organização social deste povo é essencialmente matriarcal, ou seja, controlada política e socialmente pelas mulheres, restando aos homens papéis marginais. Os homens desenvolveram uma irmandade chamada nyau, por meio da qual estabelecem laços de solidariedade masculina entre as aldeias. Um de seus papéis é a iniciação de jovens meninos à vida adulta, realizada com a celebração do gule wamkulu. Durante a dança, os homens utilizam uma máscara ritual, sendo, ambos, máscara e dança, considerados patrimônios culturais imateriais da humanidade pela Unesco.

Na China, há uma forma tradicional de canto lírico chamada de ópera de Kunqu. Originada na Dinastia Yuan (12711378), combina canto, dança, poesia e gestual. A estrutura de enredo segue uma regra: há representações constantes de arquétipos de jovens homens e mulheres, geralmente os
protagonistas, que contracenam com um personagem masculino idoso e personagens cômicos, todos trajados com vestes tradicionais chinesas.
A música também segue a orientação histórica tradicional, com tambores, flautas de bambu e gongos, sendo as melodias vocais especificamente compostas em escalas melódicas orientais. Além das vestimentas e da música, destacam-se os detalhes das maquiagens e enfeites corporais utilizados pelos artistas, herdados da tradição milenar artística chinesa.

1.2 • Patrimônios culturais imateriais no Brasil
No Brasil, além das chancelas da Unesco, há o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão vinculado ao Governo Federal que é responsável pela preservação e divulgação de cultura material e imaterial do país.
Na região Norte do país, no município de Parintins, interior do Amazonas, ocorre anualmente o Festival Folclórico de Parintins. Reunidos em duas torcidas distintas, a do boi Garantido (revestido em vermelho) e a do boi Caprichoso (revestido em azul), o festival celebra a cultura folclórica do boi-bumbá amazonense, as lendas típicas da região, os aspectos da cultura indígena e a música regional.

Imagem 2.2. Praça marroquina de Jemma el-Fna
Imagem 2.3. Máscara ritual chewa utilizada no gule wamkulu
Imagem 2.5. Apresentação do boi Caprichoso no Festival de Parintins
Imagem 2.4. Performance de ópera de Kunqu na Universidade de Pequim, China
O Nordeste do Brasil é uma região rica em tradições culturais imateriais. Na Bahia, por exemplo, a Lavagem do Bonfim é uma celebração religiosa que congrega diferentes denominações na capital do estado. Ocorrida em janeiro, na quinta-feira subsequente ao segundo domingo após o Dia de Reis, é um símbolo do sincretismo religioso brasileiro e, especialmente, baiano. Na manhã da quinta-feira, um cortejo de baianas − mulheres que trajam vestes típicas de religiões de matriz africana − sai da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia em direção à Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, ambas em Salvador. Nesta, todas as baianas se vestem de branco e finalizam a celebração com o despejo de água sobre as escadarias e átrios da igreja, promovendo a lavagem.
No Centro-Oeste do Brasil, a viola de cocho, instrumento musical regional, e seu modo de fazer são elementos de cultura imaterial. O instrumento é produzido a partir de um tronco de madeira inteiriço, que é esculpido no formato tradicional e tem a região correspondente à caixa de ressonância escavada. O nome vem de outro objeto, também chamado cocho, produzido de forma semelhante e utilizado para colocar alimento para o gado. A produção da viola se completa acrescentando o tampo, o cavalete e as demais peças que recebem e tensionam as cordas.

EM SÍNTESE

EXERCITANDO EM AULA
01. Reúna-se em dupla e pesquise uma forma de manifestação cultural imaterial de sua cidade. Elaborem um cartaz (físico ou virtual) destacando os principais aspectos da manifestação escolhida e apresentem à turma.
02. Reúna-se em trio, escolha uma manifestação cultural imaterial da sua região e elabore um vídeo de até dois minutos apresentando-a e discutindo suas principais características. Lembrem-se de inserir imagens e trechos de vídeos.
• Patrimônio imaterial é o conjunto de práticas culturais de um povo.
• No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Governo Federal através do Ministério do Turismo, é responsável pela preservação e pela divulgação das culturas material e imaterial.

PESQUISADOR QUE SOU
Investigue a história da viola brasileira (chamada, em algumas regiões, de viola caipira) e de seus principais representantes, como Braz da Viola, Roberto Corrêa e Inezita Barroso. A partir de suas investigações, elabore uma apresentação de slides contendo informações sobre suas carreiras, com fotografias, músicas e vídeos.
Imagem 2.6. Cerimônia de lavagem das escadarias do Bonfim, em Salvador, Bahia
Imagem 2.7. Viola de cocho, produzida na região Centro-Oeste do Brasil

PARA
INÍCIO DE CONVERSA
Além dos espaços dedicados ao ensino, à pesquisa, à divulgação e ao desfrute da arte, existem meios e formas de promoção artística não convencionais. Com a finalidade de desenvolver estilos de arte em grupo, artistas de variadas linguagens e vertentes se reúnem para criar, realizar e promover seu trabalho conjuntamente. O fato é que tanto as instituições e os espaços convencionais para a divulgação da arte quanto grupos e coletivos artísticos independentes constituem formas contemporâneas de promoção e apreciação das artes.
2.1 • Centros culturais no Brasil
A divulgação da cultura para o grande público, a preço e condições acessíveis, é uma preocupação comum à classe artística. No Brasil, entidades públicas e privadas, com apoio financeiro estatal e de grandes empresas, inauguraram os chamados centros culturais. Estes espaços são reservados para exposições, intervenções, eventos e ações culturais, de modo a ampliar o acesso da sociedade à arte.
Uma dessas instituições é o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), presente em quatro capitais brasileiras (São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), que promove temporadas de exposições artísticas, intervenções musicais, mostras de cinema, projetos científicos e programas educacionais, produzidos por artistas nacionais e internacionais.
Destaca-se também o Instituto Moreira Salles, que possui três sedes nas cidades de Poço de Caldas, Rio de Janeiro e São Paulo, e tem como finalidade a promoção, a formação de acervos e o desenvolvimento de programas culturais nas áreas de fotografia, literatura, iconografia, artes plásticas, música e cinema.

Imagem 2.8. Arte contemporânea, sobretudo a praticada em grandes centros urbanos, pode ser desenvolvida por coletivos
IMS Imagem 2.9. Fachada do Instituto Moreira Salles, na Avenida Paulista, em São Paulo
Frequentemente, os centros culturais funcionam como sede para projetos musicais, recebendo artistas independentes, orquestras e coros. É o caso do Palácio das Artes de Belo Horizonte, localizado dentro do Parque Municipal Américo Renné Giannetti e inaugurado em 1971. O espaço foi projetado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer e, além de receber exposições artísticas e intervenções culturais, teatrais e cinematográficas, funciona como sede da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e do seu Coral Lírico. Essas instituições costumam oferecer cursos profissionalizantes nas áreas de teatro, dança e música, sendo essa uma importante ação social. Por meio da educação artística, oferece perspectivas acadêmicas e profissionais a crianças, adolescentes e jovens, principalmente àqueles em situação de vulnerabilidade social.
2.2 • Coletivos: uma forma atual de fazer cultura
Os coletivos são fruto da reunião de artistas que realizam mutirões culturais e criam, de forma colaborativa ou compartilhada, sendo essa prática uma das formas pós-modernas de produzir cultura. Em tempos mais recentes, sobretudo durante a pandemia de covid-19, coletivos se apropriaram de linguagens audiovisuais e do desenvolvimento de ferramentas virtuais de divulgação e interação.
EXERCITANDO EM AULA
03. Organize, com até seis colegas, um coletivo artístico. Qual será a linguagem adotada por vocês? Qual intervenção irão desenvolver? A partir da resposta a essas perguntas, elaborem um projeto ou o protótipo de um produto a ser realizado e apresentado em classe.
EM SÍNTESE


04. Em sua cidade existe algum centro cultural? Caso não exista, qual é o mais próximo? A partir dessa investigação, conheça a estrutura do centro e seu acervo. O espaço oferece oficinas? Conta com bibliotecas? Ocorrem apresentações artísticas no local? Organize sua resposta na forma de um relatório.
• Os centros culturais recebem exposições, intervenções, promovem oficinas e eventos culturais, de modo a ampliar o acesso da sociedade à arte.
• Os coletivos são fruto da reunião de artistas, que realizam mutirões culturais.
• A produção cultural é constantemente repensada e inovada, gerando manifestações que refletem o espírito dos tempos contemporâneos.

PESQUISADOR QUE SOU
Parta de uma pergunta para sua investigação: em sua cidade, existem coletivos de arte? Em primeiro lugar, faça uma pesquisa nas redes sociais e em mídias digitais. Após realizar o mapeamento, escolha um coletivo de arte e pesquise mais sobre seus integrantes, suas referências e sobre a linguagem e o estilo artístico. Organize as informações em um banner e apresente-o em sala de aula.
Imagem 2.10. Complexo cultural Palácio das Artes, em Belo Horizonte, projetado originalmente por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1971
Imagem 2.11. Coletivo artístico voltado para as artes plásticas

PARA INÍCIO DE
CONVERSA
Perguntas e provocações podem ser feitas utilizando a expressão artística como meio. O incômodo e o desconforto são ferramentas poderosas para causar reflexões, promover discussões e alterar percepções da sociedade acerca de variados temas. Com isso, o artista se insere nas pautas cotidianas e é capaz de contribuir para sua condução. Apesar disso, a intervenção artística na sociedade é permeada por polêmicas, e a reflexão a esse respeito é essencial para o amadurecimento coletivo.
3.1 • Arte como intervenção
Do ponto de vista da arte urbana, uma intervenção é uma provocação: por meio de manifestações artísticas, geralmente gráficas, os artistas desenvolvem obras que pretendem despertar reações em quem as vê. Intervenções podem ser realizadas no espaço público, em áreas externas de construções particulares e até mesmo em seu interior. Na história recente, as intervenções artísticas urbanas foram realizadas por artistas e grupos com a intenção de enviar uma mensagem questionadora à sociedade, ironizando a vida cotidiana.
O movimento de intervenção é realizado em diversas formas e formatos: projeção audiovisual noturna na fachada de edifícios, pintura de grafites em muros e fachadas, impressão
e colagem de cartazes em espaços públicos etc. Existe uma linha ética e moral, traçada pela legislação nacional, entre as intervenções artísticas urbanas e os crimes ambientais, entre os quais se encontra a pichação. É importante destacar que não se trata de criminalizar a arte, muito menos o conjunto da população que a aprecia. A intenção da Lei dos Crimes Ambientais (lei nº 9.605/1998) é proteger o meio ambiente urbano, que não se reduz à natureza, mas inclui placas, lixeiras, demais itens do mobiliário público e, sobretudo, a fachada de monumentos, prédios públicos e privados. Assim, a lei define como crime de pichação os atos predatórios e que degradam a paisagem, ou seja, não se trata de instituir valores morais nas expressões artísticas, mas de delimitar a liberdade de expressá-las com o direito da sociedade ao ambiente urbano.
Imagem 2.12. Grafite urbano, envolto em polêmicas acerca de sua legalidade, é uma expressão artística e social contemporânea
Para distinguir pichação e grafite, a legislação utiliza um simples critério: a autorização. Se o poder público ou o dono da área privada autorizou, está configurada uma forma de manifestação artística urbana. Inclusive, em diversas cidades do país, sobretudo nas metrópoles, existem regiões que funcionam como museus a céu aberto, onde artistas urbanos podem realizar suas intervenções e expor sua arte.

Destaca-se também a intervenção que ficou conhecida como flash mob, que significa mobilização rápida. É uma manifestação artística realizada por um grupo de pessoas que se reúnem repentinamente em ambiente público e realizam uma apresentação por um curto período de tempo e depois se dispersam, como se nada tivesse acontecido. Comumente eles são organizados pelas redes sociais.

3.2 • Intervenção artística e social
Considerando uma leitura de mundo contemporânea, influenciada por filosofias e políticas progressistas, artistas reivindicam o espaço urbano e seu acesso utilizando a arte interventora. Nessa visão, os dilemas sociais e econômicos das sociedades, como discriminações e segregação social e espacial, restringem ou impedem que todos os cidadãos tenham o direito à cidade. Estes, por sua vez, entendem que ser parte da cidade não é apenas frequentar os lugares pretendidos, mas intervir neles, inclusive de maneira radical, o que ressalta a relação entre arte e questões sociais.

Imagem 2.14. Flash mob organizado no Palácio de Belas-Artes da cidade de Lille, na França, em 2014
Imagem 2.15. Tomar o espaço público da cidade e criar novos laços de pertencimento são ideias difundidas por movimentos de intervenção artística
Imagem 2.13. Mural de Robinho Santana no Edifício Itamaraty, em Belo Horizonte. A obra fez parte do Circuito Urbano de Arte de 2020
Divulgação
De acordo com essa visão, a sociedade capitalista, o estado de direito e a própria democracia liberal ocidental teriam criado um sistema não de organização e ordem, com direitos e deveres para todos os cidadãos, mas de opressão e exclusão. Assim, a ideia de uma cidade organizada e limpa é entendida como um espaço higienista e excludente, em que se pretende criar uma ideia de descontaminação social. Em contraponto a esse diagnóstico, os artistas interventores oferecem a realidade da vida real, que pretende contaminar a cidade: é daí que nascem ideias de intervenções artísticas e socais que caminham nos limites do que a lei e a opinião pública entendem como tal.
A própria discussão social e política (que culmina com a produção e aplicação das leis) sobre os limites da intervenção artística cria um clima social tenso. No entanto, a discussão sobre esses temas é benéfica para a sociedade e, com a prática do exercício da alteridade, expande os limites e a compreensão de todos os envolvidos. Do ponto de vista prático, em centenas de cidades brasileiras e por todo o mundo, existe maior aceitação e regularização do trabalho de artistas de rua (como música e teatro), do artesanato e das artes plásticas expostas e comercializadas em locais públicos e das próprias intervenções urbanas.

APROFUNDAMENTO
O Muro de Berlim e o grafite
Durante a Guerra Fria (décadas de 1950 a 1980), a cidade de Berlim, na Alemanha, foi dividida entre as porções capitalista e comunista do país. Como a população do lado oriental, o comunista, fugia em massa para o lado ocidental, capitalista, o governo tentou impedir as fugas com a construção do Muro de Berlim, em 1961. A queda do Muro, em 1989, é um dos marcos do fim da Guerra Fria.
No entanto, durante o período em que esteve funcional, a vigilância atenta, armada e violenta apenas existia do lado comunista, tendo o lado capitalista se transformado em espaço de intervenção artística urbana, provocativa quanto à falta de liberdade e opressão do regime.
Até os dias de hoje, mesmo décadas após a queda do muro, permanece de pé um trecho de 1,3 km, próximo das margens do Rio Spree. A quantidade de grafites e intervenções rendeu o nome de East Side Gallery, a galeria do lado leste.


EXERCITANDO EM AULA
05. Há em sua escola algum espaço no qual seja possível realizar uma intervenção artística? Reúna-se em grupos de três a quatro estudantes para produzir cartazes, articulando variadas linguagens artísticas, a fim de expressar propostas de melhoria, sugestões gerais e elogios à comunidade escolar.
06. Observando a linguagem do grafite, fotografe em sua cidade ilustrações relacionadas ao tema “injustiça social”. Faça um relatório sobre a fotografia produzida e apresente em sala de aula.
Imagem 2.16. Edifício São Vito, localizado no centro de São Paulo, é um dos exemplos de pichação de fachadas
Imagem 2.17. Em 1986, grafites no lado ocidental (capitalista) do Muro de Berlim. No lado oriental (comunista), é possível ver intenso policiamento, grades e áreas isoladas
Imagem 2.18. Grafites no Muro de Berlim, na chamada East Side Gallery
EM SÍNTESE
• Para a arte urbana, uma intervenção é uma provocação: por meio de manifestações artísticas, geralmente gráficas, os artistas desenvolvem obras que pretendem despertar reações em quem as vê.
• A discussão social e política (que culmina com a produção e aplicação das leis) sobre os limites da intervenção artística cria um clima social tenso.
• Historicamente, existem exemplos de intervenções artísticas que promovem profundas reflexões sociais.

PESQUISADOR QUE SOU
Analise a arte urbana de sua cidade. Quais são as manifestações e intervenções que você identifica? De que modo elas dialogam com os problemas urbanos e sociais? Existe alguma repercussão social, positiva ou negativa, fruto dessas expressões? Organize as respostas para essas perguntas e produza um vídeo, de até dois minutos, mostrando as manifestações e intervenções. O vídeo pode conter narração, cenas de telejornais, imagens e filmagens das intervenções. Ao final, exponha seu trabalho digitalmente e divulgue o link entre seus professores e colegas.
TÓPICO 4 • Arte contemporânea no Brasil

PARA INÍCIO DE CONVERSA
Pensar em arte no Brasil contemporâneo é pensar em centenas de artistas e movimentos que produzem obras singulares. Nas últimas décadas, desenvolveram-se no país movimentos únicos, que, por meio da dança, da música, da pintura e da escultura, dialogam com as tradições do passado e com os eventos do presente, buscando discutir e compreender dilemas do mundo contemporâneo.
Imagem 2.19. Uma das expressões artísticas de destaque no cenário brasileiro é a dança contemporânea
4.1 • Artes plásticas
As artes plásticas contemporâneas começaram a se desenvolver no Brasil a partir da década de 1950, com o movimento vanguardista neoconcreto. A partir de então, artistas passaram a apostar em uma arte inovadora, viva e autoral.
O artista plástico brasileiro Carlito Carvalhosa (1961-2021) desenvolveu obras utilizando as linguagens da pintura e da escultura. Formado em arquitetura e urbanismo, iniciou sua carreira artística nos anos 1980 e teve obras expostas em importantes museus do mundo, como o Museu de Arte Moderna de Nova York, o Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, tendo nessas instituições contado com exposições individuais de suas obras.

Outro artista plástico brasileiro de renome internacional é Saint Clair Cemin (1951-). Formado em Belas Artes na França, desenvolveu trabalhos na China e, desde a década de 1970, mora em Nova York. Para além das características cosmopolitas que demarcam seu trabalho, Cemin produz esculturas a partir da mistura de materiais metálicos (como bronze e ferro), madeira e resinas. Suas obras fazem parte do acervo de grandes museus do mundo, como o Whitney (em Nova York), o MoCA (em Los Angeles), e compõem a paisagem de centros urbanos, decorando locais públicos e sedes de empresas.

4.2 • Música e dança
É de conhecimento comum que a música popular brasileira é ovacionada internacionalmente. A música de concerto (clássica ou erudita) produzida contemporaneamente no Brasil também conquista cada vez mais visibilidade no exterior.
Um dos nomes de destaque é o de Ronaldo Miranda (1948-), carioca, compositor brasileiro, pesquisador e professor universitário. Miranda se notabilizou pela composição de óperas em linguagem musical contemporânea, entre elas Dom Casmurro (1992), baseada no romance homônimo de Machado de Assis, e A tempestade (2006), inspirada na obra de Shakespeare. No campo da música de concerto, Miranda é o compositor de obras como Variações temporais Beethoven revisitado (2014), a qual foi executada pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

Destaca-se também o compositor e maestro baiano Lindembergue Cardoso (1939-1989), que assina uma vasta obra musical, abrangendo desde músicas de concerto a óperas, passando pela música religiosa e incidental. Cardoso escreveu música para coros a cappella (sem o acompanhamento de instrumentos musicais), instrumentos solo, conjuntos de câmara e orquestras e produziu mais de 110 composições. No QR Code a seguir, assista ao Coro de Câmara Comunicantus (USP) executando a obra Dona Nobis Pacem, de autoria de Cardoso.


Imagem 2.20. Exposição Sala de espera, no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, de autoria de Carlito Carvalhosa, em 2013
Imagem 2.21. Obra de Saint Clair Cemin em Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Imagem 2.22. Sala São Paulo, lar da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e uma das maiores salas de concerto do mundo
No contexto da dança, o Grupo Corpo, fundado em 1975, em Belo Horizonte, destaca-se como uma companhia brasileira de dança contemporânea de renome internacional. O primeiro espetáculo do grupo foi Maria Maria , que percorreu 14 países e permaneceu em excursão no Brasil entre 1976 e 1982.
Com direção artística de Paulo Pederneiras e coreografia de Rodrigo Pederneiras, o grupo conta com dezenas de bailarinos em seus espetáculos. A obra mais recente, Primavera (2021), apresenta uma gama contrastante de gêneros musicais dançados em balé e coloca em discussão temas sociais contemporâneos, como o isolamento da pandemia de covid-19 e a busca por tempos mais leves.
EXERCITANDO EM AULA


07. Escolha um dos artistas ou grupos apresentados neste tópico e realize uma pesquisa em mídias digitais sobre suas apresentações. Em seguida, assista a uma apresentação do artista pesquisado, que esteja disponível na internet, e escreva as suas impressões.
EM SÍNTESE
• No Brasil contemporâneo, as artes plásticas têm diversos representantes de renome internacional.
• Na cena musical, sobretudo na música de concerto, instituições públicas desenvolvem repertórios de artistas brasileiros contemporâneos, que dialogam com elementos tradicionais e modernos.
• Na dança, grupos nacionais utilizam elementos contemporâneos para criar espetáculos inovadores, que instigam a audiência à reflexão acerca de dilemas cotidianos.

PESQUISADOR QUE SOU
Pesquise sobre a obra musical de Lindembergue Cardoso: suas composições, seu estilo e suas referências. Sistematize os dados obtidos em formato de podcast, com duração média de dez minutos, no qual você pode intercalar a apresentação das músicas com a explicação das obras e do autor.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
TÓPICO 1: Interculturalidade e diversidade local na arte contemporânea
01. O Pelourinho, popularmente chamado de Pelô, é um bairro de Salvador, na Bahia. Ele está localizado no centro histórico da cidade, marcado por um conjunto arquitetônico colonial barroco, e é palco de manifestações da cultura popular baiana. Assim, de acordo com a Unesco, o Pelourinho é considerado:
a) patrimônio cultural artístico da humanidade.
b) patrimônio cultural material da humanidade.
c) patrimônio cultural imaterial da humanidade.
d) patrimônio cultural artístico da América.
e) patrimônio cultural material da América.
02. Como se chama o conjunto de representações, práticas, técnicas, conhecimentos e expressões que indivíduos e grupos desenvolvem, em lugares específicos, geralmente utilizando instrumentos e artefatos?
a) Patrimônio estético.
b) Patrimônio audiovisual.
c) Patrimônio artístico.
d) Patrimônio cultural.
e) Patrimônio financeiro.
03. A cidade marroquina de Marraquexe possui uma arquitetura ímpar, típica da cultura árabe. Sua praça principal, a Jemaa el-Fna, está situada na região mais antiga da cidade e é detentora de qual título concedido pela Unesco?
a) Patrimônio cultural imaterial da humanidade.
b) Patrimônio histórico da humanidade.
c) Patrimônio arquitetônico da humanidade.
d) Patrimônio material da humanidade.
e) Patrimônio estético da humanidade.
04. Como se chama o órgão vinculado ao Governo Federal brasileiro responsável pela preservação e divulgação das culturas material e imaterial do país?
a) Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
b) Instituto do Patrimônio Artístico e Visual Nacional.
c) Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
d) Ministério do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
e) Instituto do Patrimônio Arquitetônico e Artístico Nacional.
05. Qual das alternativas a seguir menciona dois patrimônios culturais e imateriais do Brasil?
a) Doce de coco e samba.
b) Festival Folclórico de Parintins e Lavagem do Bonfim.
c) Futebol de rua e grafite.
d) Tapioca de Olinda e dança de roda.
e) Lavagem do Bonfim e forró.
06. A divulgação da cultura para o grande público, a preço e condições acessíveis, é uma preocupação comum à classe artística.
No Brasil, entidades públicas e privadas, com apoio financeiro estatal e de grandes empresas, inauguraram espaços reservados para exposições, intervenções, eventos e ações culturais, de modo a ampliar o acesso da sociedade à arte. Como se chamam esses espaços?
a) Museus.
b) Galerias.
c) Oficinas.
d) Centros culturais.
e) Ginásios.
TÓPICO 2: Centros culturais e coletivos do Brasil
07. Os artistas, uma vez que produzem arte para o público, preocupam-se de modo recorrente com:
I. divulgação;
II. linguagem; III. acessibilidade;
IV. investimento.
Assinale a alternativa correta.
a) I e II estão corretas.
b) II e IV estão corretas.
c) I, II e IV estão corretas.
d) II, III e IV estão corretas.
e) Todas estão corretas.
08. O Palácio das Artes de Belo Horizonte, localizado no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, funciona como sede:
a) da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais.
b) da companhia de teatro Grupo Galpão.
c) do Galpão Cine Horto, o centro cultural do Grupo Galpão.
d) do Centro Cultural Banco do Brasil.
e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.
09. Ao realizar mutirões culturais e criações de forma colaborativa ou compartilhada, artistas se lançam em uma maneira pós-moderna de produzir cultura. Como se chamam essas parcerias?
a) Coletivos.
b) Maltas.
c) Colaborações.
d) Grupos.
e) Colabs.
10. É exemplo de centro cultural brasileiro:
a) o Instituto Moreira Salles, com sedes em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Salvador.
b) o Centro Cultural Banco do Brasil, presente em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Salvador e em Brasília.
c) o Instituto Moreira Salles, com sedes em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Poços de Caldas.
d) o Centro Cultural Banco do Brasil, presente em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Porto Alegre.
e) o Instituto Moreira Salles, com sedes em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre.
TÓPICO 3: Atuação social e desafios contemporâneos: arte como intervenção
11. Projeções audiovisuais em fachadas de edifícios, pinturas de grafites em muros e fachadas, impressão e colagem de cartazes em espaços públicos são exemplos de que tipo de manifestação artística?
a) Bricolagem.
b) Happening.
c) Intervenção.
d) Land art.
e) Vitralismo.
12. Intervenções artísticas em espaços públicos são motivadas por: a) questionamentos à vida rural cotidiana. b) críticas à industrialização exclusivamente.
c) questionamentos à vida urbana cotidiana. d) críticas à digitalização especificamente.
e) questionamentos dirigidos apenas à elite.
13. A manifestação artística flash mob é um tipo de: a) intervenção.
b) pichação.
c) grafite.
d) arte visual.
e) arte modernista.
14. Qual é o critério utilizado pela legislação brasileira para definir se uma intervenção urbana é pichação ou grafite?
a) Cores.
b) Autorização.
c) Despacho.
d) Bom gosto.
e) Tamanho.
ANOTAÇÕES
TÓPICO 4: Arte contemporânea no Brasil
15. Marque a alternativa que menciona dois expoentes da música de concerto brasileira.
a) Luciano Pelegrino e Mário Frias.
b) Félix de Brito e Gustavo de Souza.
c) Mirosmar de Camargo e Pedro Farias.
d) Ronaldo Miranda e Lindembergue Cardoso.
e) José Padeiro e Tibério Aguiar.
16. O artista brasileiro Saint Clair Cemin (1951-) tem sua obra marcada por características cosmopolitas e está presente em museus como o Whitney (Nova York) e o MoCA (Los Angeles).
Saint Clair Cemim é conhecido por seu trabalho com:
a) xilogravura.
b) vitrais.
c) poesia neoconcreta.
d) esculturas.
e) pintura a dedo.
17. No Brasil, as artes plásticas contemporâneas começaram a se desenvolver:
a) a partir da década de 1960, com o Concretismo.
b) a partir da década de 1950, com o Neoconcretismo.
c) a partir da década de 1960, com o Pós-modernismo.
d) a partir da década de 1950, com o Modernismo da segunda geração.
e) a partir da década de 1960, com o Modernismo da segunda geração.
18. A dança no Brasil contemporâneo tem como precursor(a):
a) o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, fundado em 1927.
b) a São Paulo Companhia de Dança (SPCD), criada em 2008.
c) o Grupo Corpo, de Belo Horizonte, fundado em 1975.
d) a Companhia Intrépida Trupe, criada em 1986.
e) a Companhia de Dança Deborah Colker, fundada em 1994.
ANOTAÇÕES
GABARITO | ARTE - 1º ANO - MÓDULO 4
A ARTE cONTEM p OR â NEA E s EU s DEs DOBRAMENTO s
EXERcITANDO EM AULA
01. Espera-se que o estudante realize a atividade proposta, sob supervisão do(a) professor(a), que pode se desenvolver a partir de um assunto da política cotidiana, registrando sua produção.
02. Espera-se que o estudante, ao escolher o aplicativo, aplique elementos da linguagem estudada à prática solicitada.
03. Espera-se que o estudante realize a pesquisa e consiga apontar autonomamente os processos artísticos no desenvolvimento dos jogos.
04. Os estudantes devem pesquisar artistas dissidentes em sua cidade para ter contato com um pouco de suas obras.
EXERcÍcIO DE FIXAÇÃO
01. (e)
02. (b)
03. (a)
04. (d)
05. (d)
06. (b)
07. (a)
08. (c)
09. (a)

05. Os alunos e a comunidade escolar devem abrir espaço para o diálogo e conhecimento de artistas locais dissidentes, na busca da efetiva interação e atuação social.
06. Espera-se que os estudantes identifiquem, em suas comunidades locais, as manifestações dispostas ao longo da teoria e realizem a atividade proposta.
07. A questão espera que o aluno reflita sobre seus hábitos, em diálogo com o proposto na teoria, e aponte quais deles se enquadram no tema.
10. (c)
11. (a)
12. (d)
13. (b)
14. (e)
15. (c)
16. (d)
17. (e)
18. (d)
A RTE, IDENTIDADE E ATUAÇÃO s O c IAL 2
EXERcITANDO EM AULA
01. É esperado, pela atividade, que as duplas pesquisem em sua cidade manifestações culturais relacionadas às definições fornecidas no texto.
02. Espera-se que os estudantes reunidos em trios pesquisem sobre manifestações regionais, elaborem um mini-vídeo de acordo com as instruções fornecidas e o apresentem aos colegas de classe.
03. Espera-se que os estudantes se reúnam em grupos e, por meio da afinidade, decidam por uma manifestação cultural. A partir disso, organizarão as atividades de um pequeno coletivo e apresentarão suas intervenções na escola. Sugere-se que os docentes organizem os grupos, os temas e prazos de modo a enriquecer e viabilizar as intervenções.
04. Espera-se que o estudante realize a pesquisa propostas e organize suas respostas na forma de um relatório. Caso exista um Centro Cultural em sua cidade, sugere-se aos docentes que procurem averiguar a viabilidade de organizar um passeio até o local, para oportunizar aos estudantes vivências no espaço.
EXERcÍcIO DE FIXAÇÃO
01. (b)
02. (d)
03. (a)
04. (a)
05. (b)
06. (d)
07. (e)
08. (a)
09. (a)

05. Espera-se que os estudantes se reúnam em grupos e discutam qual intervenção irão produzir, e com qual objetivo. Sugere-se aos docentes que discutam com os alunos a motivação de suas intervenções e os orientem acerca do respeito à diversidade, ao ambiente e aos direitos humanos.
06. Espera-se que os estudantes produzam seus painéis e, através das linguagens estudadas no tópico, retratem cenas importantes de suas vidas. Recomenda-se aos professores que organizem uma breve exposição dos resultados desse trabalho na sala de aula.
07. Espera-se que os estudantes escolham um dos grupos ou artistas elencados ao longo do tópico e assistam a uma de suas performances digitais − os endereços para encontrá-las estão nos links das seções. Ao final, sugere-se aos professores que estimulem o debate entre os estudantes e o diálogo acerca das impressões que tiveram durante a atividade.
10. (c)
11. (c)
12. (c)
13. (a)
14. (b)
15. (d)
16. (d)
17. (b)
18. (c)