Inventário Rainha da Sucata

Inventário

Rainha da Sucata

Discentes: Fernanda Batista Oliveira e Nathalia Souza Queiroz Disciplina: THAU V Docente: Prof. M. Suzete Bessa

Índice 1. Introdução ............................................................................................................3 2. Modernismo X Pós Modernismo .........................................................................4 3. Formação e atuação profissional do arquiteto autor da obra .......................5 4. Ficha Técnica ........................................................................................................6 5. Histórico e usos no decorrer do tempo .............................................................6 6. Caracterização e contexto histórico ..................................................................7 7. Argumentos em favor da arquitetura figurativa ..............................................9 8. A modernidade superada ...................................................................................10 9. Características do entorno ................................................................................11 10. Complexidade e Contradição .............................................................................13 11. Novas definições de ambiente e natureza ........................................................17 12. Conceitos de moderno e contemporâneo na obra ...........................................17 13. Conclusão .............................................................................................................18 14. Referências bibliográficas .................................................................................19

1-Introdução A proposta desse trabalho é analisar a influência do Pós Modernismo no cenário nacional. Esse estilo arquitetônico surgiu como uma resposta a racionalidade, austeridade, formalidade e homogeneidade da arquitetura moderna. Para atingir nosso objetivo foi realizado um levantamento de informações para elaboração de um inventário sobre o edifício Rainha da Sucata de Sylvio de Podestá e Éolo Maia, que está localizada na Avenida Bias em frente a Praça da Liberdade, Belo Horizonte Minas Gerais. O projeto foi feito em 1984/85 e a construção aconteceu em 1985/92.

Possui um terreno de 620 m² e uma área construída de 1460 m². Essa obra possui uma grande relevância para o pós modernismo, pela sua expressividade e crítica, que se enfatizam ainda mais pelo entorno que foi inserido. Além disso, a personalidade de Sylvio de Podestá, um de seus arquitetos, está bem refletida na obra. Conhecido pelas críticas realizadas ao autoritarismo e a ideia de brasilidade com base em obras modernistas como o conjunto da Pampulha e o projeto de Brasília.

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Modernismo x Pós Modernismo Em 1918 com o fim da primeira guerra mundial havia uma necessidade de reconstrução rápida, nesse contexto o modernismo se firmou por se tratar de formas simples e funcionais que facilitavam a produção em massa. Para Colin (2019) o movimento moderno sofreu influência de quatro fatores principais sendo eles o Neoplasticismo, Bauhaus, Construtivismo Russo e o Purismo de Le Corbursier.

O Moderno é algo que é contemporâneo, que se adapta as mudanças e que acompanha o tempo. Tendo isso em vista, o termo "pós-modernismo" já é uma crítica a esse movimento. Uma espécie de negação a continuidade, mesmo partindo desse estilo.

O pós modernismo segue então, alguns preceitos do Movimento Moderno, porém nega boa parte deles. Trazia de volta as heranças do passado, o ornamento, a representação, e ainda a ironia, o humor, o bizarro, e algumas características que não se encaixavam no Moderno. O Pós Moderno veio para trazer de volta o passado, mas o reinventando e deixando a identidade do autor na obra.

Essas preocupações postas pelo pós modernismo serão os objetivos de estudo desse inventário.

Paralelo de características antagônicas entre o modernismo e o pós -modernismo por Venturi, apontado pela professora Juliana Valverde:

MODERNISMO

PÓS-MODERNISMO

Simplificação

Complexidade, contradição

Unicidade

Ambiguidade, tensão

Exclusividade

Inclusividade

Puritanismo

Hibridismo

Unidade óbvia (objetividade integrista)

Vitalidade emaranhada

Villa Savoye-Le Corbusier, 1928

Edifício Gustavo Capanema - Antigo Ministério da Educação - RJ, 1936

Casa Vanna Venturi

Walt Disney World Swan e Dolphin Resort Michael Graves.1990.

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Formação e atuação profissional do arquiteto autor da obra Nascido em 1952 em Rio Verde, Goiás, Silvio Emrich de Podestá iniciou sua vida acadêmica cursando engenharia na Universidade Federal de Minas Gerais e depois transferiu para arquitetura. Já formado Montou o escritório Arquitetura & Design, com os arquitetos Paulo Sérgio Miranda Diogo, Paulo Greco, Cid Horta, Carlos Alexandre Dumont/Carico, Eduardo Tagliaferri, Saul Vilela e o design Thales Pereira.

ALGUMAS OBRAS

RESIDENCIAL PARK BURITIS, Belo Horizonte, MG.1986/89

CENTRO CULTURAL DA ROMARIA, Congonhas Do Campo, MG.1993

CASA ATELIER RUI CÉSAR, Nova Lima, MG.1997.

CASA ALFREDO E ANDREA Nova Lima, MG.1998

SYLVIO DE PODESTÁ 1980-84 – Participou da equipe que produziu os 12 números da revista Pampulha.

1981 – Montou escritório de arquitetura com Éolo Maia e Jô Vasconcellos.

1993 – Projetou o CENTRO CULTURAL DA ROMARIA Congonhas Do Campo, Minas Gerais.

2003 /2004 – Professor Convidado da EAPUC Minas (Desenho e Expressão), biênio.

1978 – Foi o primeiro colocado no concurso Parque de Exposições Agropecuária de MG. 2003 –Lecionou, como professor convidado, na Pontifícia Universidade Católica de MG. 2005 / 2006

Professor

Convidado

da

EUAFMG

( Projeto 1),

biênio .

2006 – Projetou o Memorial Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, MG.

CASA JOHN JOHN, Nova Lima, MG .2006

MEMORIAL DOM SILVÉRIO, Congonhas, MG. 2020

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Ficha Técnica Arquitetos: Sylvio E. de Podestá e Éolo Maia Colaboração: Sheila Viana Cunha, Ruben Gil e Luciene Martins Estrutura: Hélio Chumbinho Consultoria Bioclimática: Ângela Negromonte Scheibe Local: Praça da Liberdade, Belo Horizonte, MG Projeto: 1984/85 Construção: 1985/92 Área terreno: 620,00 m2 Área: 1460,00 m O programa de necessidade proposto pelos arquitetos consta com sanitários, um anfiteatro, um hall para exposições e um espaço para abrigar um centro de apoio turístico.

Histórico e usos no decorrer do tempo 1984 Os arquitetos Éolo Maia e Sylvio de Podestá propuseram a ampliação do programa de necessidades que até então abrigaria apenas um conjunto de sanitários públicos. A nova proposta incluía anfiteatro, um hall para exposições e o Centro de Apoio ao Turismo.

1986

1999

2001

2020

Já com os usos destinados ao turismo, foi instalado o Turminas, outra iniciativa com o mesmo sentido.

Com a chegada do 8° congresso de Mineração Brasileira foi destinado um espaço no edifício para o Memorial da Mineração onde antes abrigava a Turminas.

Recebeu o acervo do museu de mineralogia Djalma Guimarães.

Abriga o projeto casa Funarte um espaço dedicado a cultura e incentivo ao turismo.

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Caracterização e contexto histórico No contexto histórico do Brasil, que estava enfrentando os fins dos conflitos da ditadura militar, a monumentalidade do Centro de Apoio ao Turismo marcou a volta da democratização e foi vista como um símbolo dessa expressão. Sylvio de Podestá e Éolo Maia quiseram então, utilizar da sua obra para criticar às questões políticas que estavam evidentes na época e principalmente as que estavam explícitas no lugar em que a obra foi inserida, o símbolo de poder de Belo Horizonte, Praça da Liberdade.

Outro elemento de grande significado para a construção do edifício é a valorização da cultura

Bebedouro do Centro de Apoio ao Turismo

Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto.

mineira. A Rainha da Sucata possui grandes referências do Barroco, estilo arquitetônico que teve seu berço em Minas Gerais, portanto tem grande importância para dar destaque ao estado na arquitetura brasileira. Sendo incorporadas assim, influências das suas características ao pósmodernismo, que também se iniciava de forma relevante em Minas. Trazer as referências mineiras à obra diz muito sobre a questão do Regionalismo Crítico descrito por Frampton, o qual entendia a importância de trazer de volta os elementos do passado que tinham sido completamente ignorados no movimento moderno, afim de incorporá-los às novas concepções de arquitetura e criando novos contextos.

Releitura da estatua dos doze Profetas de Congonhas Doze profetas de Congonhas

O tratamento plástico e volumétrico do interior do edifício dá ênfase aos elementos da cultura do estado, destacando a tradição barroca por meio da utilização de formas rebuscadas. A organização interna das igrejas barrocas foram a inspiração para o hall de entrada no nível térreo. Os altares laterais da nave dessas igrejas influenciaram os falsos pilares que formam nichos e delimitam vitrais. E ainda, os vários arcos que envolve o lado inverso à entrada e dá acesso aos banheiros rementem-se à moldura dos altares-mor. Os bebedouros do edifício se encaixam em baixos-relevos nas alvenarias fazendo uma referência bem-humorada aos chafarizes públicos das cidades históricas.

Altar da Igreja Nossa Senhora Do Carmo-Ouro Preto

Hall de entrada

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Caracterização e contexto histórico A obra, conhecida como o exemplar mais significativo da arquitetura pós-moderna, se destaca por ser multidisciplinar e multireferenciada,

ficando

enfatizadas

pelas

inúmeras

Complexo habitacional Sudliche Friedrichstadt (1976), Aldo Rossi.

Edifício Rainha da Sucata

referências existentes. Elementos como a marquise encontrada na lateral de acesso do prédio, que é uma releitura da mesma, vista no Museu de Stuttgart, na Alemanha de James Stirling, ou os arcos e recuos dos bebedouros que fazem menção as igrejas barrocas

facilmente

encontradas

em

Minas

Gerais,

principalmente em Ouro Preto, onde Éolo Maia viveu parte de sua vida. Como no texto de Colin Rowe e Fred Koetter, CidadeColagem, o edifício é a junção de vários componentes em um único. Além dessas alusões à soluções tomadas por arquiteturas

Museu de Stuttgart, na Alemanha de James Stirling

Marquise do hall de entrada

de vários lugares do mundo, os arquitetos também utilizam as referências

do

entorno,

que

será

mais

aprofundada

posteriormente, porém contradizendo-as, o que provoca uma certa fragmentação no espaço.

"A

cidade-colagem

contemporânea

concentra

diversidades sociais, culturais, políticas e estéticas lado a lado, deixando clara a sua fragmentação. " (ROWE, Colin )

Praça do Timirim (1984-85), em Timóteo.

Circulação horizontal

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Argumentos em favor da arquitetura figurativa Michael Graves acreditava que a linguagem pode ser separada em duas, a prática e a poética. A primeira relaciona às soluções internas, básicas e inerentes a qualquer arquitetura, elementos adotados pelo modernismo. Já quando se trata na poética, seria a capacidade de poder abstrair.

"Uma arquitetura significativa deve incorporar tanto expressões internas como externas. A linguagem externa que absorve as invenções da cultura de maneira geral baseia-se numa atitude figurativa associativa e antropomórfica." (GRAVES, Michael) Tem-se então, a intenção de trazer de volta as convenções que foram estabelecidas sobre os elementos em que compõem uma arquitetura, de forma a destacar o que eles representam, a figura que está relacionados a eles, através de cores, textura e materiais, Edifício Rainha da Sucata

para que as pessoas possam se conectar com o lugar.

"Eu procuro projetar usando uma paleta ampla, refrescando a linguagem

No Centro de Apoio ao Turismo, Sylvio e Eólo, representaram o

tradicional da arquitetura e suas formas reconhecíveis e ao mesmo tempo

figurativismo defendido por Michael Graves, através da

recorrendo as lições da composição moderna, sempre de modo a

hierarquia dos espaços de referências antropomórficas e

responder ao programa, ao local e aos desejos do cliente."(GRAVES,

cosmológicas ao classicismo, que é distinto ao espaço contínuo

Michael)

e sem um uso definido do modernismo, e ainda com a utilização

"Aquilo que, ao fim e ao cabo, nos proporciona nosso sentimento

dos elementos historicistas. Fatores que são evidenciados ainda

identidade com o lugar, um edifício, um aposento(...). O caráter e as características dos edifico são em partes narrações, em parte memorias, em parte nostalgia, em parte símbolo." (GRAVES, Michael)

mais através da cores contrastante e dos materiais utilizados, que de certa forma adquiri um caráter irônico.

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A modernidade superada Com o objetivo de que a forma se reflita na função, fazendo com que o edifício seja reduzido a precisão técnica e um tratamento extremamente formal, o Modernismo acaba perdendo a expressividade, a identidade, o caráter, como exemplificado no texto 'A modernidade superada' de Josep Maria Montaner.

Além disso, as soluções encontradas para esse movimento eram reproduzíveis, ou seja, não tinha autenticidade e perdia sua monumentalidade.

"O monumento vulgarizado e inserido em um entorno que só tenha artefatos semelhantes, deixa de sê- lo."(MONTANER, Josep ) Se as neovanguardas tinham o objetivo de construir algo novo, com uma nova linguagem, por isso não apresentavam nenhuma referência historicista. O Pós modernismo surge como uma reação, buscando o retorno à arquitetura de valores do passado, mesmo que com uma nova interpretação e trazendo de volta a monumentalidade à arquitetura.

"Além disso, todo monumento é mais que um veiculo de expressão, atualização e condensação das convicções compartilhadas por uma sociedade . É também máquina de lembrança que desafia o tempo. Sem a ilusão monumental, a história não seria mais que uma abstração aos olhos dos vivos."(MONTANER, Josep ) "... o conceito de monumentalidade tem uma dupla vertente -por uma parte, por sua vontade de significado coletivo contemporâneo e, por outra, pela capacidade para explicitar a memória-..."(MONTANER, Josep ) Os arquitetos queriam para a arquitetura pós moderna a recuperação do diálogo com as pessoas, algo que na arquitetura moderna não era possível por causa do seu hermetismo, e por isso a obra Rainha da Sucata não passa despercebida, e propõe a relação com o público, devida as várias reações que é capaz de gerar no observador.

"Precisamente as ideais de Aldo Rossi e Robert Venturi partem da vontade antivanguardista de reconstruir esta ligação comunicativa entre a arquitetura e a coletividade a partir da memoria (Rossi) e das linguagens convencionais (Venturi)."

(MONTANER, Josep )

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Características do entorno O edifício Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves é posicionado em frente a Praça da Liberdade, local em que tem o seu surgimento atrelado ao símbolo de poder e dos ideias da República. A praça nasceu com o Plano de Aarão Reis para Belo Horizonte como a nova capital de Minas Gerais (1895-97). Com vários edifícios do estilo eclético, concentrando secretarias e órgãos estaduais, e com maior destaque para a sede do governo, e ainda a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, no estilo moderno, a Rainha da Sucata se destaca do seu entorno, devido a sua monumentalidade, sem deixar de ter uma conexão com o mesmo.

Figura 65-Situação do edifício-1.Palácio da Liberdade 2. Rainha da Sucata 3.Secretarias de Estado 4. Reitoria UENG 5. Edifício Niemeyer 6. Biblioteca Biblioteca Pública Estadual 7. Anexo Biblioteca Publica 8. Sede IPSEMG. Fote : CECILIA, Bruno. Eolo Maia-Complexidade e Contradição na Brasileira. Belo Horizonte; Editora UFMG,2006

Imagem aérea do entorno

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Características do entorno O edifício que foi construído em um terreno que era uma "sobra" do traçado urbano, tem sua planta conforme o mesmo, de forma triangular. Duas das suas fachadas foram inspiradas no antigo prédio da Secretaria da Educação, sendo que uma delas de acordo com a implantação fica escondida, fazendo uma crítica as evidências dadas às fachadas frontais, que sempre são diferente de todas as outras.

O elemento de maior ênfase na praça, o Palácio da Liberdade, está situado no eixo em perspectiva formado pela presença das palmeiras reais, além de estar em uma cota superior se assemelhando com a acrópole grega. A 'Rainha da Sucata' tem uma escala aproximada a este edifício e os demais que possuem no local. Outro elemento são as palmeiras que foram usadas como

Imagem aérea do entorno

referência para o projeto, porém não foram concretizadas.

As características do pós -modernismo, lembradas principalmente pelas críticas ao modernismo, são evidenciadas pelo fato do edifício se situar próximo à Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, projeto do Oscar Niemeyer, arquiteto o qual Sylvio de Podestá faz duras críticas ao longo de sua carreira. Como mostra o Regionalismo Critico de Frampton, é possível e necessário modernizar a cidade sem perder a memória do entorno.

Rainha da Sucata, Sylvio de Podestá e Éolo Maia (1992)

Secretaria da Educação (1897)

Palácio da Liberdade José de Magalhães (1895)

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Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, Oscar Niemeyer(1961),

Complexidade e Contradição Como visto, o edifício apropria-se das características do seu entorno, porém fazendo uma releitura livre, com ironias, afim de destonar do mesmo. No texto complexidade e contradição, Venturi destaca a importância do complexo para a arquitetura. A complexidade e singularidade vistas, são resposta ao mito da originalidade, onde só é possível atingir a inovação criando algo inédito nunca visto em parte alguma.

Sylvio e Eólo mostraram como é possível obter algo tão próprio e único partindo da colagem de elementos já empreendidos em

Esfera de ventilação do banheiro subterrâneo(Laranja)

outras obras e outros tempos. Como visto, a Rainha da Sucata trás em sua composição elementos construtivos e plástico que fazem referência a arquitetura barroca, edifícios do entorno e obras de diversos autores, inclusive do próprio Eólo, isso exemplifica o conceito de “elemento convencional” trazido por Venturi.

Essa complexidade também é trazida de forma notável em detalhes como a icônica esfera metálica posicionada em sua fachada principal, que assume o papel de “elemento de duplo funcionamento" mostrado por Robert Venturi, ao resolver de forma irônica e bem humorada o problema de ventilação dos banheiros do subsolo. Desse modo a obra refuta convicções trazidas pelas arquitetura moderna, que sempre esteve em busca que uma linguagem arquitetônica ligada a forma e função.

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Complexidade e Contradição As chapas de aço decrescem em direção ao chão, mas não o tocam, dando espaço ao vazio, que devido à topografia dá lugar ao anfiteatro. Essa contradição aos edifícios ecléticos e neoclássicos em seu redor é bem marcante, pois todos possui uma coroa bem definida em sua base, justamente para sustentar a ideia de poder, força. O que fica ainda mais evidenciado é o material metálico que se contradiz com as argamassas pintadas dos outros edifícios.

Edifício Rainha da Sucata

O Centro de Apoio ao Turismo tem esse caráter autônomo, excepcional, único icônico, irônico, diferente dos outros, mesmo respeitando a escala do entorno, o uso de materiais contemporâneos e as cores dão destaque ao edifício sem perder a conexão. Os arquitetos, de acordo com as características

do

pós-modernismo,

queriam

despertar

sensações,

provocações nas pessoas e criar um contato com o público, algo que não era levado em consideração na arquitetura moderna.

"A arquitetura moderna padeceu de elitismo. A pós-moderna busca superar este elitismo sem abandoná-lo, mas sim introduzindo a linguagem da arquitetura em vários terrenos diferentes, como no do vernáculo e no da linguagem comercial vulgar da rua, na tentativa de criar uma tradição." (JENCKS. 1981:7-8) Edifício da Secretaria da Educação

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Complexidade e Contradição

Planta subsolo

Planta Térreo

A respeito das soluções encontradas para o desenvolvimentos dos usos internos, são totalmente opostas aos seu exterior. Enquanto a toda a complexidade e contradição dos elementos de fachada, a divisão dos usos no espaço são bem definidas e explícitas.

"O contraste entre o interior e o exterior pode ser uma das

maiores

manifestações

da

contradição

na

arquitetura. Entretanto, uma das mais poderosas

Planta Pavimento 1

Planta Pavimento 2

ortodoxias do século XX foi a necessidade de continuidade

entre

eles:

o

interior

deve

ser

representado no exterior."(VENTURI, Robert.)

Para a definição dos ambientes, a planta baixa, que possui uma forma triangular inspirada pelo terreno, se baseia em separar a área técnica da funcional. O banheiro, a circulação vertical, os espaços de apoio e o hall de entrada se concentram no volume retangular mais rígido e que leva cores fortes. Esses espaços só

Planta Pavimento 3

possuem o acesso pela entrada principal, marcada pela marquise, não sendo possível acessá-la pelo anfiteatro. Dessa área técnica, saem circulações horizontais, que criam vazios que permitem a conexão entre os pavimentos, e vão até as salas de exposições, que são triangulares e apresentam simetria. A aparência de densidade e rigidez se contrapõem com a fragmentação e permeabilidade do interior .

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Complexidade e Contradição A sua estrutura é totalmente resolvida de uma maneira em que não fica exposta e todos os pilares visíveis não desempenham papel estrutural. Como destaque, o grande pilar amarelo, que apesar de aparentar tamanha rigidez, ele possui apenas uma casca, se trata

Corredores internos do edifício

Hall de acesso principal

apenas de vedação para os sanitários. Nesse sentido, é possível estabelecer uma conexão com a estratégia já tomada para a exaustão dos banheiro, a bola laranja, ou o reservatório de água que tem um tratamento escultórico, evidenciando a separação entre a forma e função e forma e estrutura.

Soluções foram criadas para insolação e ventilação, como elementos da fachada externa que sobrepõem a edificação em vez

Circulação interna do edifício

Arquibancadas do anfiteatro

Elementos da fachada lateral(torre de escadas e caixa d'água)

Sistema de ventilação zenital

de compô-la, impedindo a isolação direta e também as aberturas zenitais. Esses fatores possibilitam analisar que as soluções tomadas possuem uma estratégia funcional e que depois de solucionadas, Sylvio e Eólo, partem para o exterior, características defendidas dos ditos galpões decorados, por Venturi.

"Eu insisti na separação entre forma e símbolo [...] Minha ênfase era então colocada na contradição e também na separação entre forma e função: permitir que forma e função caminhem separadamente permite que a função seja realmente funcional – o que não poderia ser, ironicamente, quando a Forma seguia a Função, nos velhos tempos Modernos, e tinha obrigação de aparecer bem e funcionar bem."(VENTURI, Robert.)

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Novas definições de ambiente e natureza

O Pós Modernismo na cidade

Além das referências aos edifícios do entorno, os arquitetos trazem para o projeto características do ambiente em si, como citado anteriormente, as palmeiras reais que estão na praça, foram incorporadas usando como exemplo

as

palmeiras

metálicas

presentes na Agência de Turismo em

Palmeiras Reais da Praça da Liberdade

Viena

O modernismo por estar inserido no período de pós-guerra, apresentou uma arquitetura engessada a qual as principais características estavam na homogeneidade e monotonia causadas pela produção em grande massa e de forma acelerada, não considerando os processos, os quais são a base da interação social, e o planejamento urbano não atendendo a diversificação espontânea da população. O pós-modernismo se apropriou desses conceitos como ponto de partida reativo, contrapondo os ideais modernistas. Como bem

Projeto das palmeiras metálicas propostas por Sylvio e Éolo em referência à Agência de Turismo em Viena

O entendimento do lugar em que foi inserido, próximo onde se realizava feiras, mostrou-se a necessidade de realizar um espaço convidativo e acolhedor, por isso, através da extensão da calçada criou-se um auditório, tendo assim um caráter inclusivo, característica do pós-modernismo

demonstrado no projeto da “Rainha da Sucata” há a intenção de valorizar as relações sociais, onde cria-se um auditório de acesso facilitado, o que convida o público a se apropriar do espaço. Outro aspecto relevante é como o espetáculo valoriza as superfícies, renovando o espaço urbano e repaginando os locais de convivência. Fatores em que Harvey exemplifica no seu texto O pós modernismo na cidade.

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Conclusão Após a realização do inventário foi possível perceber que o Movimento Moderno teve sua grande importância pra reconstrução das cidades num período pós-guerra e que mudou a forma de pensar a arquitetura, trazendo inovação para mesma. O Pós-modernismo surge com o princípio de destacar que, para que a arquitetura seja moderna, não precisa desconsiderar as questões passadas, pois elas ajudam a entender as necessidades sociais, e que essas necessidades são as questões de maior relevância para o arquiteto, a relação com o público.

O edifício estudado tem grande representatividade para esse momento, ao começar pelo nome ao qual é conhecido, Rainha da Sucata, que, além de fazer referência às colagens tanto discutidas no pós-moderno, mostra o impacto gerado após sua instalação. De certa forma o edifício gera sensações nas pessoas que o veem, todas causadas pela complexidade das soluções tomadas, da sua inserção, das cores contrastantes e materiais, por sua ironia e por sua monumentalidade.

Sylvio de Podestá e Éolo Maia, conseguem através da obra demonstrar expressividade, que estava perdida na arquitetura, e propor uma reflexão sobre a abrangências das questões que devem ser tratadas ao realizar um projeto, não focando apenas em soluções formais ou apenas funcionais, mas que possam haver um diálogo entre elas e ainda entre o entorno.

Dessa forma, a Rainha da Sucata, mesmo que de forma icônica, vem pra lembrar a importância da identidade do arquiteto e da sua expressão, da necessidade de pensar nos usuários da obra e de trazer elementos do passados, que geram identificação, de forma a reinventá-los para os usos presentes e já pensar também nas relações futuras, pois a cidade está sempre em movimento e em transformações que não são singulares, são complexas, contraditórias e impresvisíveis.

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Referências bibliográficas HARVEY, David. CONDIÇÃO PÓS-MODERNO. O pós-moderno na cidade: arquitetura e projeto urbano. Disponível em: <https://classroom.google.com/u/1/w/Mjc2Nzc1NTAzNDU1/t/all>.

VENTURI, Robert. Complexidade e contradição em arquitetura, f. 116. 1994. 231 p. 03-09.

ROWE, Colin; KOETTER, Fred. Collage City. MIT Press, v. 1, f. 93, 1982. 185 p. 293-322.

MONTANER, Josep Maria. A modernidade superada.: Arquitetura, arte e pensamento do século XX, f. 110. 2000. 220 p. 85-146 GRAVES, Michael. Michael Graves Architecture: 1993, f. 13. 1991. 25 p. 101-108 FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna, f. 235. 1996. 470 p. 503-520 APRESENTAÇÃO: Currículo. In: EMRICH DE PODESTÁ , SYLVIO. Biografia. [S. l.], 1 nov. 2020. Disponível em: https://www.podesta.arq.br/apresentacao/.

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Referências bibliográficas RAINHA da Sucata - Belo Horizonte | Trabalho Acadêmico Arquitetura e Urbanismo. Direção: Karina Sabrina Barbosa Silva. [S. l.: s. n.], 2015.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T8VAE9OMeX8.

PERROTTA-BOSC, FRANCESCO. O EDIFÍCIO MALDITO: Era para ser banheiro público e virou centro turístico. Por que o "prédio mais feio do Brasil" é uma crítica à vida de aparências e um elogio à gaiatice.. Rainha da Sucata - Belo Horizonte | Trabalho Acadêmico Arquitetura e Urbanismo, [S. l.], p. ., 10 nov. 2017. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/o-edificio-maldito/.

Clássicos da Arquitetura: Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães: Éolo Maia e Sylvio de Podestá. In: Rainha da Sucata - Belo Horizonte | Trabalho Acadêmico Arquitetura e Urbanismo. [S. l.], 24 dez. 2011. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/0115674/classicos-da-arquitetura-museu-de-mineralogia-professor-djalma-guimaraes-eolo-maia-e-sylvio-de-podesta? ad_medium=widget&ad_name=navigation-next.

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Discentes: Fernanda Batista Oliveira e Nathalia Souza Queiroz Disciplina: THAU V Docente: Prof. M. Suzete Bessa