Conceito de erro na producao editorial

O CONCEITO DE ERRO NA PRODUÇÃO EDITORIAL DE MATERIAIS DIDÁTICOS Felipe Alves RIBEIRO1

RESUMO: Este trabalho investiga pressupostos sociolinguísticos que possam embasar uma abordagem progressista nos processos de revisão e edição de textos didáticos, discutindo o papel das variedades cultas da língua (norma culta) e das gramáticas normativas prescritivas (norma-padrão) na circunscrição do conceito de erro e do contexto no qual ele se apresentaria. O exame desse conceito por uma perspectiva sociolinguística permite relativizar o papel das gramáticas normativas na formulação de parâmetros da revisão textual de materiais escolares e considerar, na redação de textos didáticos, formas de intervenção que aproximem a tessitura do texto dos níveis de letramento dos alunos. Essa relativização pode favorecer a construção de um texto com estrutura interna mais familiar aos leitores, porém não desvalorizada socialmente. Para esse objetivo, foi adotada como metodologia pesquisa bibliográfica e análise de processos editoriais da editora Pearson.

PALAVRAS-CHAVE: Edição; Revisão; Sociolinguística.

1 INTRODUÇÃO A produção editorial, ou editoração2, é constituída de processos complexos e heterogêneos que têm como objetivo produzir e publicar textos em diversos suportes3. Além de essa característica dificultar a produção de um texto uniforme e coerente, diferentes profissionais, com diversas formações técnicas, colaboram em diversas etapas do processo de produção de um texto, buscando “o acerto da

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Editor e professor. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, com especialização em Redação e Oratória pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Endereço eletrônico: f.a.ribeiro@outlook.com. Orientação: Ricardo Coimbra de Mendonça.

2 Editoração é o conjunto de teorias, técnicas e aptidões destinadas ao planejamento, fabricação e distribuição de um produto editorial, envolvendo, portanto, também o gerenciamento da produção de uma publicação.

3 Suporte é entendido aqui como um lugar físico ou virtual, com formato específico, que mantém e exibe o texto, tornando-o acessível para fins comunicativos. O texto didático seria, então, um gênero textual cujo suporte pode ser livro didático, portal eletrônico etc.

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informação desse texto, sua objetividade de comunicação, sua normalização literária e o programa gráfico com que se apresentará ao público” (ARAÚJO, 2008, p. 49), o que torna ainda mais trabalhosa a garantia de uniformidade e coerência.

Ainda, [...] o trabalho prévio com o original é, todavia, quase sempre bastante complexo; da multiplicidade com que se apresentam, por exemplo, critérios ortográficos díspares, sistema de notas, de bibliografia, de índices, de citação etc., o editor deverá imprimir ao original uma normalização harmônica desses e entre esses sistemas, compatível com a natureza mesma do texto. (ARAÚJO, 2009, p. 35).

As pessoas que trabalham o texto na produção editorial são editores, preparadores, revisores, diagramadores, entre outros. Os autores e os tradutores, por outro lado, fornecem os originais sobre os quais atuarão os envolvidos no processo de editoração. Há, habitualmente, cerca de cinco tipos de etapa editorial: edição, preparação (aqui coincidindo com o sentido de copidesque4), diagramação, revisão de provas e gramatical e finalização da arte5, sendo que a quantidade e a redundância de etapas, como a existência de primeira e segunda revisão gramatical, ou uma etapa de edição para intervenção e outra para conferência, variam conforme protocolos de cada casa editorial.

Para a análise deste trabalho, é importante manter a atenção nas etapas de edição, preparação e revisão6, porque dizem respeito especificamente às características do texto final.

O editor geralmente enxerga e acompanha o processo todo, sendo responsável pela conformidade do texto em relação às normas, aos padrões editoriais e ao projeto gráfico-editorial (e pedagógico no caso de didáticos), supervisionando, para publicação, o tratamento dos originais. O preparador de texto, de outro modo, verifica, com base nas orientações do editor7, a padronização

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O copidesque confunde-se com a preparação de texto e, muitas vezes, com a própria atividade do editor.

5 Não abordamos, por conveniência de análise, outras atividades, como desenvolvimento de projeto pedagógico, gráfico e editorial, atividade administrativa, produção de capa etc.

6 Há dois tipos básicos de revisão: de texto e de conteúdo técnico, sendo que a de conteúdo técnico, em alguns casos, é feita por um editor de conteúdo com formação em área específica.

Em outros casos, o revisor técnico apenas aponta inconsistências factuais e afirmações incorretas ou incoerentes ao editor responsável pelo desenvolvimento da publicação, seja de um livro ou de uma disciplina; neste último caso, estão obras de sistemas de ensino, que incluem, em um mesmo volume, diversas matérias.

7 Chamamos de briefing o fornecimento de informações e instruções específicas e fundamentais sobre o trabalho a ser realizado.

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segundo normas de estilo adotadas, recomendando nova organização das partes ou dos parágrafos para garantir fluência na leitura do texto, assim como coesão e coerência; em relação a intervenções gramaticais, o preparador resolve desvios aparentes e inequívocos, como erros ortográficos. Já o revisor de texto é o responsável pelos ajustes finais, geralmente mais precisos, como pontuação, acentuação e aplicação de maiúscula, minúscula e destaque (negrito, por exemplo).

Além disso, esse revisor verifica como o material original foi diagramado e a forma de apresentação do texto nas provas gráficas, como quebras de linha, translineação e separação silábica, títulos, viúvas8 etc. Cabe aos revisores, também, conferir as emendas (correções) das provas diagramadas. O resultado do trabalho conjunto de edição, preparação e revisão assegura, assim, uma produção editorial consistente e uniforme em relação à ortografia, à pontuação e ao estilo.

Em muitos originais, no entanto, são necessárias intervenções mais substanciais, pelas quais a reescrita é necessária para garantir fluência, ritmo e correlação entre as diferentes partes do texto. Mas, por questões relativas a direito autoral, isso nem sempre é possível, principalmente em obras literárias: Ao se trabalhar com obras em que o elemento primordial é a informação [...], existe aquela liberdade de redisposição dos originais em benefício da clareza, mas com produção literária impõe-se o absoluto privilégio autoral.

Trata-se, na verdade, de um princípio socialmente reconhecido, com o qual o editor de texto convive a cada passo em seu exercício profissional.

(ARAÚJO, 2008, p. 27).

Há, contudo, situações em que, conforme o excerto acima, o elemento primordial é a informação. Esse é o caso de livros didáticos. Existem, no mercado editorial, três tipos de obra didática: individual, coletiva ou em coautoria. A obra coletiva é “criada por iniciativa, organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que a publica sob seu nome ou marca e que é constituída pela

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Algumas intervenções do revisor procuram apenas melhorar a legibilidade do texto diagramado; nesse sentido, as seguintes situações costumam ser evitadas: forca, órfã, viúva, dente-de-cavalo e caminho-de-rato. Forca é uma sílaba de palavra hifenizada que fica sozinha no final do parágrafo ou da coluna. Viúva é a última linha de um parágrafo que fica sozinha na parte superior de uma página ou de uma coluna (pode ser também uma palavra isolada na última linha de um parágrafo). De forma análoga, linha órfã é a primeira linha de um parágrafo que fica sozinha na parte inferior de uma página ou de uma coluna. Os dentes-de-cavalo são espaços excessivos entre as palavras de um parágrafo, enquanto os caminhos-de-rato, ou rios, são conjuntos de linhas com dentes-de-cavalo. Para mais informações, pode-se consultar o livro Elementos do estilo tipográfico, de Robert Bringhurst (tradução de André Storlaski).

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participação de diferentes autores, cujas criações se fundem numa criação autônoma” (BRASIL, 2009, art. 5).

Os materiais de sistemas de ensino geralmente são obras coletivas, em que diversos autores participam de sua produção, assim como editores e preparadores, estes últimos como colaboradores e os primeiros como autores de uma criação indivisível9. Esse é um contexto em que os processos de intervenção de texto encontram um ambiente ideal para trabalhar a clareza e a adequação da linguagem, ajustando-as ao público-alvo. Nessa circunstância, caso haja divergência entre autores, em relação a modificações de morfologia, sintaxe e semântica, ao dissidente resta, na prática, renunciar à vinculação de seu nome à obra em favor do titular da criação intelectual; no caso, as editoras de sistemas de ensino.

As obras de sistemas de ensino quase sempre são dirigidas a alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio (incluindo a etapa pré-vestibular), por isso é importante considerar esse tipo de público ao preparar os textos para publicação. De fato, como o texto é primordialmente instrumento de comunicação e, portanto, veículo de informação, ele deve ser fartamente acessível ao público a que se destina.

Os alunos, principalmente os mais novos, costumam valorizar informações práticas e cotidianas; lidam, portanto, melhor com estruturas textuais mais conhecidas do público geral, com palavras comuns e construções sintáticas diretas e curtas, pois a variação linguística cuja organização interna seja próxima do aluno traz marcas de oralidade. Acreditamos, assim, que a editoração que traga essas características aos textos didáticos possa contribuir no aperfeiçoamento de nossos materiais didáticos ao torná-los mais acessíveis aos alunos.

Considerando que toda variação linguística é um fato incontornável, inerente ao próprio mecanismo da linguagem humana, podemos buscar, em situações reais, variedades socialmente não desvalorizadas que remetem a formas diferentes de

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A legislação brasileira considera três tipos de criação: obra individual, obra coletiva e coautoria. Há certa limitação semântica nessa categorização. Assim, como não buscamos entendimento técnicolegal dessa divisão, é mais útil entender as obras de sistemas de ensino como coletivas, considerando fundamental o papel dos colaboradores que não contribuem criativamente (editores, preparadores e revisores), embora tenham atuação decisiva para a qualidade do resultado. Na coautoria, se a contribuição de cada um não for identificável, dizemos que a obra é uma coautoria indivisível, ainda que as obras coletivas mais comuns também tenham imprecisão dos limites das contribuições individuais.

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dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, explorando usos e expressões com marcas de oralidade, mas no âmbito da norma culta. É importante observar, neste momento, que os manuais de redação e estilo mais servem à uniformização textual e ao afastamento do retrabalho do que a uma reflexão crítica do trabalho do preparador e do revisor. Nesse sentido, como diferentes profissionais, com diversas formações técnicas, colaboram em diversas etapas do processo, mecanismos que garantem padronização e a uniformização são necessários.

Além disso, em relação à linguagem padrão, variações de estrutura e estilo coexistem e concorrem para que diferentes revisores modifiquem estruturas linguísticas que não estão incorretas na perspectiva da gramática normativa prescritiva,

mas

que

respondem

meramente

a

preferências

pessoais

(idiossincráticas) desses revisores (como substituir a conjunção “entretanto” por “no entanto”, porque a primeira também poderia ter função de advérbio; ou a inserção de vírgula em situações consideradas optativas sem que isso se preste a melhorar a fluidez do texto). Sem padronização, são geradas situações de retrabalho e correções redundantes nas correções de diagramação, o que, além de encarecer o processo, pode prejudicar a uniformidade do texto e inserir erros10 na correção da prova diagramada. Isso tudo pode ser evitado, ou minimizado, com a adoção de manual de redação e estilo das casas editoriais.

Alternativamente, os manuais podem artificializar os textos, pois têm sido construídos sem a devida reflexão linguística, como podemos referenciar no seguinte excerto.

Em alguns manuais, a situação é tão absurdamente artificial e dogmática que seus autores recusam peremptoriamente julgamentos flexíveis de bons gramáticos, que se baseiam em dados empíricos óbvios, em especial na prática dos “melhores escritores”. [...] A consequência [...] é o conflito permanente entre aquilo que os manuais estipulam e aquilo que se pratica efetivamente nos textos, isto é, entre um padrão excessivamente artificial e a norma culta brasileira. (FARACO, 2012, p. 45).

Nesse cenário, nosso objeto de estudo é justamente a natureza, o tipo e o objeto das intervenções editoriais que buscam produzir um texto mais atraente para

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Diversos descuidos podem ocorrer nesta situação. Salto é o erro que consiste na omissão de letras, palavras e frases; repetição, a duplicação de letras, sílabas ou palavras; gato, a troca de uma palavra por outra; gralha é a troca de letras ou sinais de pontuação fora do lugar (erro tipográfico) e pastel, a inversão de partes, uma translocação de letras, palavras ou orações inteiras.

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esse público, sem preciosismo e com menos artificialismo, adotando pressupostos sociolinguísticos que embasem a adoção de intervenções específicas — na preparação e na revisão — que aproximem o resultado da produção textual dos níveis da variedade linguística cuja tessitura seja mais familiar aos alunos.

2 NORMA, VARIAÇÃO E CORREÇÃO

Segundo KOCH (2015), a perspectiva sociocognitivo-interacionista da linguística incorpora aspectos sociais, culturais e interacionais, considerando que, na base da atividade linguística, está a interação e o compartilhamento de conhecimentos, ou seja, os eventos linguísticos e as ações verbais não são a reunião de vários atos individuais e independentes, mas ações conjuntas. Essas ações se desenrolam em contextos sociais construídos, em grande parte, na própria interação de seus sujeitos, não havendo, nesse processo, neutralidade.

A sociolinguística origina-se, portanto, da compreensão da relação entre a sociedade e a linguagem. Assim, para ela, é importante que a análise da língua ocorra dentro de situações reais, pelo que foram formulados dois importantes conceitos: variedade e variante. O primeiro refere-se a um padrão linguístico de determinada sociedade; o segundo, às estruturas em que ocorrem as variações. A valorização de certa variedade é decorrente das relações político-ideológicas em uma comunidade linguística, em que relações de poder determinam o prestígio de uma em detrimento da outra. Eis que decorre disso uma das noções de erro: são as particularidades e variantes da variedade menos prestigiada socialmente. Essa noção é, claramente, calcada em preconceitos sociais e culturais. Antes de prosseguir algumas considerações sobre perspectivas sociolinguísticas do erro, é indispensável esclarecer alguns conceitos.

2.1 Normas e suas limitações

As discussões sobre gramática, norma-padrão, variedades urbanas e norma culta ocorrem, muitas vezes, sem que seja estabelecida uma distinção clara entre elas. O dicionário HOUAISS (2001) traz que norma é o “conjunto dos preceitos estabelecidos na seleção do que deve ou não ser usado numa certa língua, levando

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em conta fatores linguísticos, como tradição e valores socioculturais11 (prestígio, elegância, estética etc.)” e culto é o “que segue o padrão formal, erudito” ou, ainda, que é “próprio das pessoas cultas, escolarizadas”. A última acepção para “culto” parece mais adequada à perspectiva sociolinguística, embora tenha suas limitações12. As variedades cultas são: [...] Os conjuntos de regularidades detectáveis no uso efetivo da língua por parte dos “falantes cultos”— cidadãos com escolaridade superior completa — em suas interações sociais. [...] Variedades cultas sempre no plural porque já se sabe que não existe um comportamento linguístico homogêneo por parte dos “falantes cultos”, sobretudo (mas não somente) no tocante à língua falada, que apresenta variação de toda ordem segundo a faixa etária, a origem geográfica, a ocupação profissional etc. dos informantes. (BAGNO, 2012b, p. 163).

Assim, podemos supor que não há língua que seja um sistema rígido e sem variação, tampouco em que as palavras sejam neutras, pois devemos considerar os valores sociais atribuídos às variedades linguísticas. Essa perspectiva contrapõe-se à tradição normativo-prescritiva encontrada nas gramáticas brasileiras tradicionais, da qual Napoleão, Rocha Lima e Cegalla são expoentes13 e cuja conjectura defende um ideal abstrato da língua.

Cabe ressaltar que a norma-padrão não é uma variedade real, visto ser um construto social e artificial, de mesma natureza dos códigos penais, trazendo prescrições anacrônicas divorciadas da realidade da língua atual, que tentam impor usos linguísticos menos comuns, mais raros, e, muitas vezes, não mais existentes (BAGNO, 2012a). Neste ponto, é importante diferenciar norma-padrão de norma culta do português brasileiro: Norma-padrão: conjunto de regras prescritivas, inspirado no uso literário de alguns poucos escritores do passado considerados como exemplares e como modelos a ser imitado. [...] Tradicionalista, elitista e conservadora, essa norma-padrão leva muitíssimo tempo para acolher inovações linguísticas e, mesmo assim, somente aquelas que podem ser encontradas na obra dos escritores que acabam por se consagrar como nome importante do cânone literário. [...] ela vem atrelada a uma doutrina gramatical précientífica, baseada nos postulados dos gramáticos da Antiguidade clássica

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CASTILHO, 2012, p. 205: Os antropólogos entendem a norma como um fator de aglutinação social, argumentando que ela é um conjunto de ações e atitudes que resultam de forças coletivas.

12 Há toda uma discussão sobre educação escolar, dominação de classe e preconceito linguístico que campeiam a discussão sobre o que é considerado culto, não sendo, contudo, foco deste trabalho.

13 Napoleão Mendes de Almeida (1911-1998), Carlos Henrique da Rocha Lima (1915-1991) e Domingos Paschoal Cegalla (1920-2013) foram importantes gramáticos brasileiros da tradição normativo-prescritiva, autores de famosas gramáticas escolares.

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e, por conseguinte, refratária a novas análises teóricas advindas das ciências da linguagem contemporâneas; Norma culta: conjunto formado pelas variedades urbanas de prestígio, faladas e escritas por cidadãs e cidadãos com vivência urbana e elevado grau de letramento (objetivamente quantificado pela posse de um diploma de curso superior). Essas variedades urbanas de prestígio (com suas evidentes diferenças regionais) é que são, de fato, o objeto de desejo da maioria dos falantes que não as dominam e que pretendem, com elas, ascender socialmente. É essa norma culta real (e não ideal, como a normapadrão) que define realmente o que é considerado “erro”, uma vez que seus usuários aceitam e empregam formas linguísticas condenadas pela normapadrão tradicional, mas já perfeitamente incorporadas às variedades urbanas de prestígio [...]. (BAGNO, 2012a, p. 984)

Assim, no sentido de diferenciar norma culta de norma-padrão, podemos observar claramente que há uma contraposição entre a heterogeneidade real do comportamento linguístico dos indivíduos e a homogeneidade artificial do padrão normativo ideal (LUCCHESI, 2012b).

Em relação ao que se convenciona chamar culto, é importante observar que adotamos neste trabalho um entendimento mais prático que se afasta de discussões acadêmicas sociológicas, pois há limitações que não convém discutirmos neste trabalho em razão de nosso foco de análise; no entanto, há que se notar que: Há na designação norma culta um emaranhado de pressupostos nem sempre claramente discerníveis. O qualitativo “culta”, por exemplo, tomado em sentido absoluto pode sugerir que esta norma se opõe a normas “incultas”, que seriam faladas por grupos desprovidos de cultura. Tal perspectiva está, muitas vezes, presente no universo conceitual e axiológico dos falantes da norma culta, como fica evidenciado pelos julgamentos que costumam fazer dos falantes de outras normas, dizendo que estes “não sabem falar”, “falam mal”, “falam errado” [...].

Contudo, não há grupo humano sem cultura, como bem demonstram os estudos antropológicos. Por isso, é preciso trabalhar criticamente o sentido qualitativo culta, apontando seu efetivo limite: ele diz respeito especificamente a uma certa dimensão da cultura, isto é, à cultura escrita.

Assim, a expressão norma culta deve ser entendida como designando a norma linguística praticada, em determinadas situações (aquelas que envolvem certo grau de formalidade), por aqueles grupos sociais mais diretamente relacionados com a cultura escrita, em especial aquela legitimada historicamente pelos grupos que controlam o poder social.

(FARACO, 2012b, p.37).

Cabe lembrar que todas as designações e conceitos formais são criados por falantes privilegiados na estrutura social e econômica, o que aponta para a importância de entender também os julgamentos e os valores na interpretação do mundo. É importante, portanto, considerar que são eles próprios, privilegiados, que se consideram cultos.

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Dentro do conceito de norma, a variedade social de maior prestígio define o significado de norma linguística sob três aspectos: objetivo (norma objetiva, padrão real), subjetivo (norma subjetiva, padrão ideal) e pedagógico (norma pedagógica, padrão escolar). A norma objetiva é um dialeto social, sendo o uso linguístico concreto praticado pela classe socialmente prestigiada; já a norma subjetiva se refere ao que é esperado dos falantes, e a pedagógica, que se ensina nas escolas.

Tentamos mostrar, em tempo, ao longo deste trabalho, e como ferramentas de intervenções textuais, características da norma culta da perspectiva da norma objetiva14 que aproximem o texto do real comportamento linguístico.

2.2 Variedade e variação

RODRIGUES (2012) sustenta que toda língua é um complexo de variedades, um conglomerado de variantes, quer pertença a uma nação extensa e com bastante heterogeneidade cultural, quer pertença a uma pequena comunidade isolada.

Assim, mesmo dentro de uma região estritamente delimitada, uma cidade, por exemplo, a língua de fato varia, uma vez que os falantes de diversos segmentos sociais

interagem

natural

e

cotidianamente.

E

as

variedades

produzidas

socioculturalmente acabam, então, influenciadas por dois grupos que se comportam como variáveis: falantes escolarizados e não escolarizados. Embora sejam, em princípio, diferentes, a linguagem de um falante escolarizado consegue estabelecer intercomunicação com a do não escolarizado; não havendo, portanto, falante exclusivamente “culto” ou “popular”, sendo muito tênue a linha de demarcação entre as variedades desses falantes. No entanto, a realidade linguística brasileira é marcada por uma polarização dos padrões de comportamento linguístico, em que motivações ideológicas determinam uma tendência à predominância de um padrão linguístico ideal e anacrônico, que busca se sobrepor à diversidade da linguagem real. Nesse sentido, as variantes usadas por grupos socialmente desvalorizados são rechaçadas por quem detém prestígio social, mesmo que pertencentes à linguagem real. Às variedades desprestigiadas dá-se o nome coletivo de “norma popular”, ao que nos parece ser mais apropriado nos referir como “variedades linguísticas

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Há ainda norma lexical e norma ortográfica, que não serão discutidas explicitamente.

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estigmatizadas”, mesmo porque não há apenas uma variedade estigmatizada15,16.

Os falantes cultos (falantes urbanos letrados) utilizam, nesse contexto, variantes dialetais que acabam incorporadas às variedades urbanas de prestígio.

Para gêneros textuais escritos mais monitorados, devemos nos ater ao interstício entre o falante culto e o popular, sem nos imiscuir na homogeneidade artificial do padrão normativo idealizado, sob risco de incorrer em repressão linguística.

Em

relação

à

revisão

de

textos,

por

exemplo,

precisamos

desafortunadamente preterir, por uma questão prática e não repressiva, traços linguísticos próprios das variedades linguísticas estigmatizadas, mas valorizando os chamados traços graduais. Para isso, é importante considerar a diferença entre os traços linguísticos graduais dos descontínuos: Temos assim [...] dois grandes conjuntos de traços linguísticos: aqueles que aparecem na fala de todos os brasileiros, independente de sua origem social, regional etc.; e aqueles que aparecem primordialmente na fala dos brasileiros de origem social humilde, de pouca ou nenhuma escolaridade, de antecedentes rurais etc. Ao primeiro grupo de traços os sociolinguistas dão nome de traços graduais. Ao segundo, o nome de traços descontínuos. (BAGNO, 2012a, p. 105).

2.3 Erro e hipercorreção

Até aqui, podemos notar que concorrem três conjuntos gerais de variedades linguísticas: um padrão, um conjunto de variedades cultas e um conjunto de variedades desprestigiadas, sendo que este último é considerado indevidamente um compêndio de variantes incorretas. Esse fato revela que o erro sempre esteve ligado ao lugar social do falante menos instruído, de tal modo que variedades linguísticas de quem detém o poder social são consideradas corretas. Como não existe falante nativo da norma-padrão, visto esta ser, como tratado, um construto social, um conjunto de regras prescritivas, ela teoricamente é aprendida na escola. Essa norma torna-se, assim, objeto de desejo dos falantes que não a dominam, pois veem seu domínio como uma possibilidade de ascensão social. Mas essa norma ideal não existe, o que existe, e que pode ser usado para definir é erro, é a norma culta, cujos

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A variação linguística pode ser dividida em social e estilística. A primeira refere-se a contextos dos diversos segmentos sociais; a segunda, a “índice da atitude do falante frente ao sistema de valores de avaliação linguística” (LUCCHESI, 2012).

16 BAGNO (2012) considera que mesmo traços linguísticos usados pelos brasileiros ditos cultos, em gêneros e suportes menos monitorados, fazem parte do repertório dos falantes das variedades mais estigmatizadas.

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falantes empregam formas linguísticas condenadas pela norma-padrão, mas que já foram incorporadas às variedades urbanas de prestígio. Por aí já se nota a dificuldade de obter um consenso sobre o conceito de erro. Se não o é no senso comum, tampouco será na linguística. Como a intenção aqui é explorar possibilidades do texto escrito, vamos nos ater no conceito de erro nessa modalidade, considerando que a língua oral é uma modalidade pouco monitorada no sentido do erro. A linguagem escrita, ao contrário, seria blindada por um código estabelecido ao longo de muito tempo e prescrito por uma ortografia oficial17.

Inicialmente, como acepções gerais, temos o que o dicionário HOUAISS (2012) nos traz sobre o erro: “juízo ou julgamento em desacordo com a realidade observada”, “qualidade daquilo que é inexato, incorreto” e “desvio do caminho considerado correto, bom, apropriado”. Essas três acepções revelam a possibilidade de um viés social do conceito de erro, ou seja, os valores sociais influenciam o prestígio de cada variedade linguística, pois juízo e julgamento não prescindem de relações econômicas e de poder: onde tem variação linguística sempre tem avaliação social (BAGNO, 2012a).

Por isso, é importante discutir os valores sociais atribuídos a cada variedade, relativizando o que é classificado tradicionalmente como erro. Dentro de uma abordagem científica dos fenômenos da linguagem, parece impróprio considerar errado o próprio objeto de estudo. [...] Do ponto de vista sociológico, o “erro” existe e sua maior ou menor “gravidade” depende precisamente da distribuição dos falantes dentro da pirâmide das classes sociais, que é também uma pirâmide de variedades linguísticas. Quanto mais baixo estiver um falante na escala social, maior o número de “erros” as camadas mais elevadas atribuirão à sua variedade linguística [...]. O “erro” linguístico, do ponto de vista sociológico é antropológico, e se baseia, portanto, numa avaliação negativa que nada tem de linguística: é uma avaliação estritamente baseada no valor social atribuído ao falante, em seu poder aquisitivo, em seu grau de escolarização, em sua renda mensal, em sua origem geográfica, nos postos de comando que lhe são permitidos ou proibidos, na cor de sua pele, em seu sexo e outros critérios e preconceitos estritamente socioeconômicos e culturais.

Por isso é que, muitas vezes, um mesmo suposto erro é considerado como uma “licença poética” quando surge num texto assinado por um autor de renome ou na fala de um membro das classes privilegiadas, e um “vício de linguagem” ou um “atentado contra a língua” quando se materializa na fala ou na escrita de uma pessoa estigmatizada socialmente. (BAGNO, 2002, p.73-74)

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O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, é considerado o padrão a ser seguido em relação a grafia, acentuação e flexão de gênero ou número. Inclusive, é o repositório legal em caso de divergências em provas de concursos públicos.

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Ainda segundo BAGNO (2012a), todo falante nativo de uma língua é plenamente competente dessa língua, entendendo que ninguém comete erros ao falar sua própria língua, assim como não comete erros “ao andar ou respirar”.

Esse caráter social do conceito de erro tem uma consequência notável: a hipercorreção. A busca do sentimento de pertencimento das pessoas que ascendem socialmente pode justificar o fenômeno da hipercorreção18, porque: Em qualquer comunidade, cobra-se fidelidade de seus membros aos diferentes padrões culturais, aí incluída a língua. Sem adesão a esses padrões, o indivíduo é um estranho em seu grupo, e, no limite, toda uma comunidade perde sua identidade. (CASTILHO, 2012, p. 205).

Em busca de pertencimento, ao tentar se aproximar de um padrão ideal, o falante pratica um tipo da chamada higiene verbal19, que resulta numa correção excessiva que leva ao desvio segundo a norma-padrão. Isso pode ser resultado da aplicação de regras gramaticais gerais em situações indevidas, na tentativa de evitar o erro e ser socialmente julgado/avaliado. Por isso, considera-se a hipercorreção um tipo de insegurança linguística, bastante comum nas classes sociais mais baixas, “ansiosas por reconhecimento social e por ocupar um lugar entre as classes de maior prestígio” (BAGNO, 2012a). É curioso, no entanto, que formas derivadas de hipercorreção de indivíduos que ascenderam socialmente20 pode se instalar nas variedades urbanas prestigiadas e aos poucos deixar de ser vista como erro, consolidando-se, assim, como um uso aceito pelos falantes cultos21.

Assim, terminamos a digressão sobre “norma, correção e variação” considerando errado, segundo uma abordagem prática, não necessariamente acadêmica, tudo aquilo que não pertence às variedades urbanas de prestígio, mesmo que não esteja incorporado ao que se convencionou chamar de normapadrão. Disso decorre que uma variante desprestigiada, por exemplo, incorporada pelos falantes letrados às variedades cultas, deve percorrer todo o caminho

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Entre uma forma habitual e espontânea e uma forma estranha à variedade linguística do falante, ele opta pela segunda em contexto que lhe parece exigir um estilo mais sofisticado (BAGNO, 2012a).

19 Por se tratar de um conceito que demanda uma análise mais cuidadosa, vamos apenas assumir como higiene verbal toda e qualquer intervenção consciente da própria língua.

20 BAGNO, 2012a, salienta que falantes letrados que nasceram em berço de ouro também cometem hipercorreção: entre uma forma já incorporada à gramática do português brasileiro e uma forma presente no padrão normativo, a pessoa opta pela segunda para não sofrer estigma de seus pares e, assim, preservar sua imagem.

21 BAGNO, 2012a, traz um exemplo bastante interessante: o verbo impedir, que deveria ser conjugado como “eu impido”, foi hipercorrigido em “eu impeço”, que é a forma considerada correta (confusão entre as conjugações do verbo pedir e impedir, que têm origens diferentes no latim).

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ascendente rumo ao topo da pirâmide das classes para não ser mais considerada incorreta (BAGNO, 2012a).

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O erro no contexto da produção editorial parece ser mais fácil de definir, mas não é. A adoção de manuais, embora seja, no geral, bem-vinda, pode ser geradora de hipercorreção ou de recolocação de artificialidades no texto pelos revisores, o que causa, muitas vezes, estranheza ao leitor, pois o que é considerado erro indiscutível, encontrando respaldo na norma-padrão, não necessariamente é encontrado nos círculos dos falantes cultos, como, por exemplo, o uso de mesóclise, cuja aplicação fará o falante parecer um tanto pernóstico. Além disso, o que é encontrado no padrão nem sempre traz um sentido concreto para os alunos, que muitas vezes ainda se encontram em processo de apropriação da norma linguística prestigiada (seja qual for), muitas vezes estranha a eles.

Mesmo na produção de textos mais monitorados, como os livros didáticos, é louvável que seja garantida mais força de sentido, priorizando o caráter informativo do texto. Nesse sentido, uma construção excessivamente rebuscada presta um desserviço ao propósito de um texto didático.

Mas o caráter normativo não importa? Importa, devemos deixar disponível ao aluno a norma-padrão, fazendo-os refletir sobre as vantagens e desvantagens de seu uso. É adequado, contudo, que essa situação se restrinja ao ensino de língua portuguesa. O texto informativo ainda precisa ter, em sua essência, clareza e acessibilidade. Uma pergunta para se ter sempre em mente é quem será o consumidor do texto: leitor, autor ou editor? Se leitor, pai, aluno ou professor? Os professores, em geral, dominam o assunto, então acreditamos que a linguagem deva ser cuidada para aqueles que estão em processo de formação: os alunos.

Assim, trouxemos considerações no âmbito dessas variações, que nos permitiu sugerir, nos limites da norma culta, usos nos processos de revisão da produção editorial de expressões comuns e mais populares da língua portuguesa.

Existe uma infinidade de erros que podem ser cometidos durante o processo editorial, sendo que a maioria deles não é de natureza linguística, mas cuja ocorrência leva eventualmente a uma imprecisão linguística. Segundo ARAÚJO (2008), os erros do digitador/diagramador estão nesse bojo e podem ser causados

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por erros de correção, transposição, omissão, inserção, substituição, confusão de letras e de abreviaturas22. Nota-se que esses erros são imprecisões relativas ao original do autor/tradutor e que podem gerar ou não alterações em estruturas linguísticas. Nesse caso, consideramos importantes e indispensáveis as correções dos revisores, mais por fidedignidade ao original do que por motivos linguísticos.

Um contraponto interessante a ser feito é em edição de textos musicais (como partituras), em que pode ser considerado erro qualquer modificação não autoral ou, de forma mais abrangente, todo e qualquer desvio do texto original.

Obviamente, não é o caso das obras coletivas de sistemas de ensino, que é nosso foco. Os erros que importam especificamente são aqueles de natureza linguística, especialmente o uso de variantes que são inadequadas sob o ponto de vista da gramática prescritiva, mas que são perfeitamente possíveis de aceitar por estarem circulando entre falantes cultos em modalidade escrita.

Sendo o livro didático um gênero textual escrito altamente monitorado, recomendamos adotar no limite, assim, usos característicos da língua [portuguesa] brasileira contemporânea, notadamente as variedades urbanas prestigiadas, legitimando, na maioria das vezes, usos condenados pelos sistemas normativos prescritivos e assumindo que as mudanças linguísticas incorporadas pelos falantes cultos em seus gêneros textuais escritos sejam inevitáveis e incontornáveis.

Precisamos ressaltar, novamente, que, em relação ao aluno, o texto produzido segundo norma-padrão traz traços de obsolescência que causam estranhamento semelhante ao provocado por uma expressão em língua estrangeira, como ocorreria se o revisor substituísse “desta maneira” por “dessarte”. Soa ridículo, mas é bastante recorrente esse tipo de intervenção, cuja insistência aproxima esse tipo de intervenção de hipercorreção. Muito desses problemas podem ser resolvidos por manuais, pois eles facilmente regram o revisor na aplicação de padrões editoriais, como uso de maiúscula, minúscula, destaques, abreviaturas etc. Além disso, os manuais ajudam a minimizar o problema da alta rotatividade de revisores e preparadores, que geralmente trabalham remotamente para os editoriais (casas editoriais), mas deve ser condição sine qua non que os manuais sejam produzidos

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O digitador/diagramador, especialmente no processo de emenda (correção da prova diagramada), pode errar por cansaço, incompreensão das letras do manuscrito, separação defeituosa de silabadas, entendimento insuficiente de siglas e abreviaturas etc. Esses são considerados erros óbvios. Há, ainda, nesse contexto, os erros latentes, em que, durante transposições, pretendia-se corrigir palavras ou trechos que o executor não bem compreendia (ARAÚJO, 2008).

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considerando-se reflexões linguísticas críticas tratadas superficialmente pela nossa seção “norma, variação e correção”.

Almejamos que nossas sugestões não sejam prescritivas, mas sirvam a práticas editoriais de ajuste de linguagem e, também, a futuros estudos, contínuos a este e com desenvolvimento mais detalhado, observando que: [...] os usos descritos aqui e propostos como modelo não necessitam de imposição nem de prescrição, já que pertencem à língua falada por todos os brasileiros. (BAGNO, 2012a, p. 109)

Por isso, não apresentamos listas de sugestões e estudos de caso, para afastar qualquer impressão de que haja uma intenção prescritiva. De todo, parece que estamos harmonizados com orientações curriculares nacionais, como aquelas encontradas nos chamados PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais): A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre “o que se deve e o que não se deve falar e escrever”, não se sustenta na análise empírica dos usos da língua. (BRASIL, 1998, p. 29).

Enfim, espera-se que o resultado conjunto do trabalho de edição, preparação e revisão assegure uma produção consistente e uniforme em relação a ortografia, pontuação e estilo presentes nas variedades urbanas cultas, pois, segundo BAGNO (2012a, p. 985), “é inútil tentar combater supostos ‘erros’ que já se fixaram nas variedades urbanas de prestígio, inclusive na nossa melhor produção literária desde o Romantismo”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, E. A construção do livro: princípio das técnicas de editoração. 2. ed. Rio de Janeiro, Lexikon Editora Digital, 2008.

BAGNO, M. A inevitável travessia: da prescrição gramatical à educação linguística.

In: ______; STUBBS, M; GAGNÉ, G. Língua materna: letramento, variação & ensino. São Paulo: Parábola, 2002, p. 13-84.

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______. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2012a.

______. Língua, História e Sociedade. In: BAGNO, M. (Org.). Linguística da norma.

3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012b.

BRASIL. Lei 9610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm>. Acesso em: 21 set. 2017.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa. 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental.

Brasília: MEC, 1998.

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