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expediente
revista OLD #número 63
equipe editorial direção de arte texto e entrevista
Felipe Abreu e Paula Hayasaki Tábata Gerbasi Angelo José da Silva, Felipe Abreu, Maíra Gamarra e Paula Hayasaki
capa fotografias
Diego Coelho Diego Coelho, Fernanda Oliveira & Sérgio Carvalho, Isadora Brant, Mateus Sá e Júlia Milward
entrevista email facebook
Ricardo Cases revista.old@gmail.com www.facebook.com/revistaold
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índice
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livros beleza americana exposição
diego coelho por tfólio
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fernanda oliveira & sérgio carvalho por tfólio
júlia milward por tfólio
ricardo cases entrevista
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isadora brant por tfólio
mateus sá por tfólio
reflexões coluna
carta ao leitor
Chegou a hora de começar mais um ano de atividades na OLD. 2017 será nosso sétimo ano de trabalho e esperamos que seja o melhor até aqui. Queremos aprofundar discussões, trazer novos e instigantes trabalhos e possibilitar um debate cada vez mais rico e plural sobre a fotografia contemporânea. Em nossa primeira edição do ano trazemos cinco ensaios de diferentes abordagens, trazendo parte das grandes possibilidades na fotografia atual. O fotógrafo Diego Coelho assina nossa capa de Janeiro com o ensaio Transcendência, produzido durante uma série de visitas a festas do encantado. Seguimos com o trabalho de Fernanda Oliveira e Sérgio Carvalho, que
registram a vida e a altivez de comunidades de mulheres pescadoras no Ceará. O terceiro trabalho apresentado nesta edição é o de Júlia Milward, com Cortejos e Torna Viagem, dois ensaios com abordagens distintas e igual potência. Isadora Brant volta às páginas da OLD para apresentar seu ensaio Superfícies, que faz do acaso seu melhor aliado e Mateus Sá encerra esta edição sendo entrevistado por Maíra Gamarra. Além deste cinco incríveis trabalhos, temos uma grande entrevista com o fotógrafo espanhol Ricardo Cases. É tanta coisa boa que quase não cabe nesta página! Aproveite!
por Felipe Abreu
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livros
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WOLFGANG de David Fathi
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fotolivro do francês David Fathi foi um dos mais lembrados nas listas de melhores de 2016. Publicado pela Skinnerboox e com direção de arte de Ramón Pez (o mesmo de The Afronauts, entre tantos outros) a publicação trabalha com o acervo fotográfico do centro de pesquisa CERN, o acelerador de partículas suíço para contar a história de Wolfgang Pauli, cientista que tinha fama de causar uma série de acidentes curiosos por onde passava. O projeto trabalha com uma série de intervenções nas imagens, além de trazer textos sobre o que ficou conhecido como o Pauli Effect. Com estas intervenções, Fathi cria um interessante jogo entre realidade e ficção, convidando o espectador a decifrar o que realmente foi causado por Pauli e o que foi criado com as intervenções do artista.
Disponível no site da editora valor R$140 164 páginas 6
livros
S UG AR PA PER THEORIES de Jack Latham
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ack Latham revisita dois desaparecimentos misteriosos na Islândia, ocorridos nos anos 70. O pequeno país não tem nenhum histórico de violência, por isso os casos se tornaram uma obsessão nacional, fazendo surgir polêmicas e teorias conspiratórias. O fotolivro, publicado pela Here Press no segundo semestre do ano passado, foi muito bem recebido e figurou em diversas listas de melhores de 2016. Com uma direção de arte afinada, grandes fotografias e um uso muito inteligente de texto e material de arquivo, Sugar Paper Theories consegue dar conta de uma história complexa, sem confiar exclusivamente nas fotografias de seu autor. Os misteriosos casos e suas posteriores consequências são costurados por uma série de textos de um professor local, trazendo assim um nível de detalhe impressionante.
Disponível no site da editora valor R$200 180 páginas 7
exposição
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A BUSCA POR IDENTIDADE NAS PRAIAS AMERICANAS A fotógrafa Paula Clerman registra os mais variados corpos e estilos nas praias americanas, retratando a pluralidade da cultura no litoral sul do país.
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programa de exposições Nova Fotografia teve Beleza Americana, da fotógrafa Paula Clerman, como última mostra de 2016. Em exibição até o final deste mês, a mostra conta com nove fotografias que refletem sobre o processo de construção de identidade e os limites entre espaço público e privado nas praias do sul dos EUA. As imagens coloridas, saturadas, de corpos dos mais variados conseguem entrar, mesmo que brevemente, na vida dos personagens apresentados, os trazendo da maneira mais relaxada possível. Pelo tema e por alguns
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dos personagens, é impossível não lembrar do trabalho de Martin Parr, que teve sua produção apresentada no MIS no primeiro semestre do ano passado. De Parr, Clerman traz o olhar direto e afiado na busca de elementos e personagens fortes, além disso, a fotógrafa consegue criar um interessante trabalho com toques de abstração e um interessante olhar para as texturas e formas presentes em seus retratos praianos. Dessa forma, o projeto foge de uma tipologia de retratos e transita mais livre por este coloridíssimo ambiente. Além da mostra, o ensaio também
conta com um catálogo, com um número maior de imagens, 26 no total, e edição assinada por Walter Costa e Paula Clerman. O catálogo traz mais informações sobre o estilo e buscas da fotógrafa nas praias americanas, além de criar uma divertida e acertada brincadeira com as pranchas de bronzeamento, um elemento vivo no imaginário destas praias.
O MIS fica na Av. Europa, 158. Beleza Americana segue em exibição até o dia 29 de Janeiro, de terça a domingo.
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DIEGO COELHO Transcendência
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iego Coelho retrata de forma tocante a potência espiritual nas festas de encantado que frequentou. Suas imagens fogem do comum e apresentam uma visão diferente sobre os rituais, próxima e consciente do outro, quebrando com alguns dos estereótipos visuais a que estamos acostumados com este tipo de tema. As fotografias do ensaio apresentado na OLD envolvem não só luz, mas a música, o calor, a atmosfera presente na produção de cada uma dessas imagens.
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Diego, como começou seu interesse pela fotografia? O interesse pela fotografia despertou em minha adolescência, ao ler um almanaque de heróis cuja história se passava pela visão de um fotógrafo e falava sobre maravilhas do mundo. Neste momento minha mente explodiu, fiquei deslumbrado em com a possibilidade de contar historias através de fotografias. Mas foi somente em 2009 que consegui comprar minha primeira câmera e, desde então, comecei a estudar teoria e adquirir referências. Continuo assim até hoje. Nos conte um pouco sobre a produção do ensaio Transcendência. Tudo começou quando fui, pela
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primeira vez, em uma festa de encantado em um terreiro que ficava próximo da minha casa. Lá, conversei com o filho de santo que residia do terreiro sobre a possibilidade de eu fotografar a festa que aconteceria no dia seguinte. Ele topou de cara. A partir dessa abertura, me questionei como o tema poderia ser abordado sem cair no tradicional. Pesquisando referências sobre o assunto, achei uma fotografia que me instigou e que me fez de imediato ter a ideia de produzir as imagens com esse aspecto de plano espiritual. E assim, acabei chegando ao resultado estético que eu procurava. A religião e seus rituais podem ser um tema bastante delicado para se tra-
Gostaria de transmitir da forma mais aproximada possível, a vivência fantástica que parece ser esse plano espiritual. balhar. Como você buscou abordar o tema em suas imagens? Tentei trazer toda a força dessa espiritualidade, marcada pela ancestralidade africana, presente na força das expressões, das pessoas fotografadas, tanto de quem assiste como de quem naquele momento recebe em seu corpo a presença de seu ancestral Orixá. E nessas fotografias ofereço o fruto de minha inspiração. Daquilo que minha alma captou, em contato direto com a música, o cheiro, as cores e o sagrado do Candomblé e as simetrias feias e belas, nuas e cruas.
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Quais os papeis da transcendência e do fantástico na sua produção visual? A transcendência e o fantástico possuem o papel principal de impactar o observador. Gostaria de transmitir da forma mais aproximada possível, a vivência fantástica que parece ser esse plano espiritual.
peculiaridades, as afeições de cada um, os olhos sempre fechados, mas ao mesmo tempo, com uma postura confiante, concentrada.
Como você buscou lidar com algo dificilmente visível, essa alteração de estado de ânimo, essa transcendência, em um meio tão visual como a fotografia? Ao mesmo tempo em que há muita dificuldade de retratar algo tão simbólico, a fotografia, também contando com a sensibilidade do interlocutor, pode despertar profundas interpretações. Neste ensaio, busquei fotografar precisamente os movimentos de cada encantado e suas
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FERNANDA OLIVEIRA & SÉRGIO CARVALHO Sereias
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ereias é um ensaio que fala de força, de liderança e perseverança da comunidade de pescadoras em uma série de comunidades no litoral do Ceará. Fernanda e Sérgio se uniram para produzir as imagens deste trabalho que foi apresentado como livro e exposição em 2016. As imagens conseguem unir um forte caráter documental com uma liberdade que traz aspectos lúdicos para as imagens, tornando o ensaio cada vez mais rico e marcante.
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Podemos perceber como essas muComo vocês começaram a se interessar por fotografia? E como começaram a trabalhar juntos? Fernanda: Me interesso por fotografia desde os seis anos de idade quando desejei minha primeira câmera fotográfica e costumava colecionar revistas essencialmente fotográficas de cavalos e bandas rock. Aos dezenove anos, na faculdade de Comunicação Social, ganhei minha primeira câmera semi-profissional (Nikon F60) e logo dei início à minha carreira de fotógrafa e lancei a primeira exposição para o Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga – “Fora do Foco” 2001. Em 2009, me tornei Diretora Executiva do IFOTO Instituto de Fotografia de Fortaleza e comecei a trabalhar
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com o Sérgio (na época ele também era da Diretoria do Instituto). Nos tornamos grandes amigos e sempre pensamos em fazer projetos juntos, mas só fazíamos trabalhos independentes, até o dia em que pensei no Sereias, desenvolvi o projeto, a pesquisa bibliográfica em 2011 e um ano depois convidei o Sérgio para fazer parte do projeto, e assim começamos a fotografar em 2012. Sérgio: No final dos anos 80, tive meus primeiros contatos com a fotografia e com laboratório P/B ainda em Teresina/PI. Mas a fotografia só entrou na minha vida pra valer em meados da década de 90, quando comecei a fotografar trabalhadores escravizados na Amazônia brasileira. Quando Fernanda me falou do pro-
lheres vem conquistando cada vez mais espaço nessa atividade. jeto, achei a ideia fantástica e inédita, mas o convite pra fazermos o projeto juntos só veio um ano depois. Como se deu o desenvolvimento do ensaio Sereias? F: Sereias iniciou a pesquisa in loco em 2012 a partir do contato com o Instituto Terra e Mar. A organização nos ajudou no mapeamento de onde encontrar as pescadoras de liderança para que pudéssemos iniciar o contato com as mulheres e o ensaio fotográfico efetivo. Inicialmente começamos a fotografar as marisqueiras em Fortim/CE depois seguimos
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para as algueiras em Maceió/AL e posteriormente para a pesca de alto mar em Redonda, Icapuí/CE, dentre outras localidades. O contato com essas líderes possibilitaram de forma espontânea outros contatos com novas pescadoras e um conhecimento mais aprofundado da pesca artesanal no Ceará o que gerou uma pesquisa fotográfica documental prática de quatro anos finalizando em janeiro de 2016. S: A ideia e a pesquisa inicial foram da Fernanda. Quando entrei no projeto já foi para começar a fotografar e viajar pelas praias nos finais de semana. Nada mal, né? O litoral do Ceará é fascinante e pudemos conhecer algumas comunidades pesqueiras. Tivemos a oportunidade de conhecer o cotidiano dessas mulheres, sem pressa, ouvindo suas histórias, suas
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dificuldades, seus sonhos. Dessas conversas, elas falavam de outras comunidades e de outras mulheres que viviam da economia do mar. O que vocês tiraram de mais marcante do contato com as personagens? F: O que mais me chamou atenção não foi o trabalho da pesca em si, mas a atuação política dessas mulheres em suas comunidades, o preconceito que fora vencido como desafio, a personalidade altiva e determinada delas e principalmente o empoderamento e orgulho que elas tem de serem pescadoras. S: O que mais me chamou atenção foi o fato delas assumirem o papel de protagonistas, apesar da atividade pesqueira ser, pelo menos na consciência coletiva, um trabalho masculino. Podemos perceber como essas
mulheres vem conquistando cada vez mais espaço nessa atividade. Em Aracati/CE, a presidente e a vice-presidente da colônia de pescadores são duas mulheres. No Cumbe, uma localidade também no município de Aracati, a Cleomar Ribeiro é a líder da associação de marisqueiras e de uma consciência política e ambiental fantástica. Na Praia da Redonda, em Icapui/CE, a Sidneia é a cara dessas mulheres-sereias, cheia de autoestima e orgulho de ser pescadora. Em Canoa Quebrada/CE, a Márcia fala com os olhos e com o sorriso da alegria de “viver” no mar. Ela diz que gostaria de ter uma casa no meio do mar.
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JÚLIA MILWARD Cortejos e Torna Viagem
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úlia apresenta dois ensaios nesta edição da OLD. O primeiro, Cortejos, explora de uma maneira divertida e próxima o processo de construção de casais, beijos e afagos nas mais variadas situações. Já Torna Viagem se baseia no conceito freudiano de estranho-familiar, com uma série de situações, objetos e personagens que remetem à esta sensação. A produção de Júlia apresentada na OLD é o mesmo tempo potente e divertida e mostra um olhar do que apurado para os elementos do cotidiano.
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saio para fotografar com uma ideia e Júlia, como começou seu interesse pela fotografia? A primeira vez que manifestei o desejo de fotografar foi aos 5 anos de idade e minha mãe acabou levando a sério e no natal de 1989 ganhei uma câmera compacta da marca Olympus. Não recordo quem foi que me mostrou o funcionamento da câmera ou o responsável por colocar o primeiro filme dentro dela, apenas de procurar durante a ceia os elementos que gostaria de fotografar e do anseio de ter logo as fotos em mãos. Porém as minhas primeiras imagens foram deceptivas, quase todas estavam desfocadas pela proximidade e os planos decentralizados pelo desconhecimento do desvio óptico do visor, nenhuma delas se aproximava
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com o que havia visto e projetado. A frustação inicial não diminuiu o meu interesse pela fotografia, pelo contrário, me instigou ao ponto de direcionar, anos mais tarde, a escolha da minha formação profissional. Nos conte um pouco sobre o processo de criação de Cortejos e Torna Viagem. Os ensaios citados possuem uma metodologia de trabalho semelhante, ambos tem início à partir uma percepção decorrente de leituras, obras ou imagens e que são confrontados pela experiência no espaço. Por mais que as ambições de cada projeto estejam previamente definidas através da pesquisas, não é possível prever precisamente como serão as imagens que irão compor as séries, procuro
procuro elementos no ambiente que possam dialogar com ela. apenas detectar no ambiente os componentes que possam dialogar com a ideia proposta, pois acredito que só conseguimos encontrar um elemento se estamos à procura de algo. Em Cortejos o meu objetivo foi construir uma narrativa à partir da tipografia dos corpos em sedução durante o ambiente da festa. Baseado nas fotografias de Anders Petersen e J.H. Engström, no texto Da sedução de Jean Baudrillard, na Théorie de la fête: festivité, inopérativité & désœuvrement de Fabien Vallos e La pornographie: une idée fixe de la photographie, a imagem fotográfica aqui
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é apresentada pela sua característica de superficialidade. As fotografias foram realizadas entre 2010 e 2014 em cinco cidades e dois continentes, e o projeto só foi efetivamente encerrado em 2016. Já Torna viagem surge à partir do estranho-familiar freudiano na experiência das férias de retorno à pátria associado à leitura do Cahier d’un retour au pays natal de Aimé Césaire e com a análise da entrevista de Nan Goldin para série documentária Contacts. Dos ensaios que realizei até o momento, ele é um dos poucos que aborda diretamente a questão da memória pessoal. As fotografias foram realizadas durante os anos de 2010 e 2012, período em que concretamente passava as férias estudantis no Brasil. Como é seu processo de construção de
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narrativas? Você parte de temas estruturados ou os constrói ao longo da sua criação visual? O meu processo de construção de narrativas acontece no seio da própria criação, saio para fotografar com uma ideia e procuro elementos no ambiente que possam dialogar com ela. Somente quando tenho uma considerável quantidade de imagens é que começo a compor uma sequência. Durante o processo de composição da série, tenho o hábito de colar as imagens na parede para estabelecer uma relação de convívio, pois acredito que é na observação cotidiana dos elementos numa determinada disposição que conseguimos detectar mais facilmente as falhas narrativas.
construção de suas séries. Como você busca organizar esses elementos dentro da sua criação? Desde o início o retrato, o objeto e a paisagem são os temas de predileção da fotografia e como o meu programa de trabalho é questionar a matéria fotográfica, sempre procuro colocar os três elementos nas narrativas. Acredito também que eles permitem ao espectador entrar na ambiência proposta pela história que é contada através das imagens. Apesar de utilizar os três componentes para estruturar os relatos, tento aproximação através da composição verticalizada, que remete mais ao sistema dos catálogos e arquivos do que às telas, tanto pictóricas quanto cinematográficas.
Você lida tanto com uma série de temas como retratos, objetos e paisagens na
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Ricardo Cases é um dos grandes fotógrafos espanhóis do século XXI. Seus trabalhos marcaram uma geração especialmente ligada à produção de fotolivros e La Caza Del Lobo Congelado, Paloma Al Aire e El Porqué de Las Naranjas costumam figurar entre os grandes livros espanhóis da última década. Conversamos rapidamente com Ricardo para conhecer mais de seus pensamentos sobre a fotografia, o trabalho como professor e o desenvolvimento de seus projetos. Ricardo, como começou seu interesse pela fotografia? Suas motivações mudaram durante os seus anos de produção? Elas seguem sendo as mesmas. Até o dia de hoje sigo me divertindo da mesma maneira, fazendo fotos e jogando com elas em livros e exposições.
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Você é um dos membros do coletivo Blank Paper. Como a criação do coletivo alterou a sua visão sobre fotografia? Como é a experiência de dar aulas e tutorias na Blank Paper e em outras escolas em que é professor? A parte mais importante da minha formação como fotógrafo começou quando entrei para o coletivo. Até este momento não era consciente das possibilidades que a fotografia tem, estava mais concentrado no fotojornalismo. Para ser professor é preciso estar mais atento às coisas que já aconteceram e que vão acontecer e isso acaba influenciado seu trabalho pessoal. Por outro, ao ter que analisar o trabalho dos alunos você passa a questionar pontos da sua própria produção, já que você está sempre trazendo a sua experiência como fotógrafo.
Livros e impressos são parte importante da sua produção em fotografia. O que te atrai nesta área de criação? O livro é o suporte ideal para propor ideias ou contar histórias com fotografias. É mais simples trabalhar em casa com um boneco do que planejar uma sala da exposições. Por outro lado, o livro ajuda muito a clarear ideias, organizar um trabalho e concluí-lo. Como você vê o mercado de fotolivros hoje? Te parece o principal polo criativo em fotografia? Tenho a sensação de que a cada ano se produzem mais livros de fotografia e que o grupo de pessoas interessadas em comprá-los se mantém o mesmo. Como você organiza seus projetos em
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termos de interesse, produção, edição, etc? Em que momento decide que um determinado tema se tornará um projeto de longo prazo? Vou trabalhando de uma maneira muito intuitiva em várias ideias de uma só vez e algumas vão pedindo um desenvolvimento maior e terminam se tornando um livro, enquanto outras podem ser resolvidas como um fanzine sem ter que fazer tanto esforço. Atualmente, com a chegada das gráficas digitais de alta qualidade, é muito interessante a possibilidade fazer edições pequenas com publicações humildes. Me interessa muito a ideia de produzir coisas pequenas e apresentá-las em dois ou três lugares com preços acessíveis. Já faz alguns anos que estou entretido com uma coleção de fanzines temáticos (Xe!) que me liberam das preocupações do
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trabalhos de longo prazo. Elas nem se quer tem um título, apenas o número da publicação. Você tem trabalhos com personagens fortes como em Paloma Al Aire e La Caza del Lobo Congelado. O que te atraiu nestas histórias? Você tem o costume de buscar histórias com personagens potentes? Os personagens vão aparecendo no dia a dia, não os busco. Estes temas vão me interessando de acordo com as situações em que me encontro. No caso de La Caza del Lobo Congelado foi uma reportagem sobre los santos inocentes que me foi encomendada por uma revista e que depois voltei para o mesmo lugar para trabalhar por conta própria. No caso de Paloma Al Aire, a colombicultura é um assunto de grande interesse na mi-
nha cidade de origem, em Orihuela, e em Valencia, onde vivo atualmente. Da minha casa posso ver pombos coloridos voando com certa frequência. Seu trabalho já foi apresentado como um “novo documental” fotográfico. Como você vê a fotografia documental hoje? Quais histórias são interessantes para a fotografia, na sua visão? Histórias contadas em primeira pessoa, as que obedecem interesses pessoais e acabam se tornando ou não de interesse geral. Gosto de trabalhos em que há uma relação emocionante entre o autor e o tema proposto e nas quais há uma busca ou preocupação pelo que é dito, mas também pela maneira com que se diz. Você tem livros lançados pela MACK, Dalpine e pela sua própria editora,
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Fiesta Ediciones. Quais são as principais diferenças de trabalhar com editoras grandes e pequenas? Você tem alguma preferência? A diferença está no que você tem que fazer além do seu trabalho como fotógrafo. Se a editora é sua, você tem que fazer muito mais esforço em questões como financiamento, promoção, distribuição. O ideal é trabalhar com uma editora que entenda bem o trabalho e lute por produzi-lo da maneira que você imagina. Poder trabalhar com Sonia e a equipe da Dalpine é uma grande sorte porque, como são amigos, conhecem meu trabalho muito bem desde o princípio da minha produção e temos uma conexão que vai além da fotografia. Como foi o desenvolvimento de El Porqué de las Naranjas? Me parece uma
abordagem muito mais livre/aberta do que Paloma Al Aire ou La Caza Del Lobo Congelado. Quais foram os desafios na realização deste projeto? Este trabalho pode ser definido como uma crônica sentimental de um lugar. Em todos os meus trabalhos há algo relacionado a este tema, mas este ainda não havia sido o motivo principal de um trabalho. Talvez em La Ciudade que Soy tenha acontecido algo similar, mas o resultado é mais anedótico, algo mais parecido com um autorretrato de uma máquina de 3x4. Por outro lado, este projeto chegou na minha vida em um monte muito particular, no qual fazer fotografias era minha única atividade (tinha acabado de me mudar para Valencia e não conhecia ninguém) e uma necessidade, uma espécie de terapia para superar o típico baque na
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vida. A diferença importante em relação aos trabalhos anteriores é que as próprias fotografias iam marcando o caminho do trabalho que eu estava fazendo. Só pensei em um título absurdo que escondesse uma pergunta para estimular a pura experiência de fotógrafo, de sair pela rua e fazer fotos sem ser condicionado por nada, me deixando levar pela sorte, por uma conversa ou uma sensação. Gosto muito desta experiência, de sair como uma galinha sem cabeça, me deixando levar por um itinerário casual, que às vezes depende apenas da luz, outras de um medo e outras de uma paisagem. Você é um prolífico editor de fanzines e fotolivros, com a série XE! e outras. Qual é o ponto mais interessante do trabalho como editor e publisher?
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Só pensei em um título absurdo que escondesse uma pergunta para estimular a pura experiência de fotógrafo, de sair pela rua e fazer fotos sem ser condicionado por nada, me deixando levar pela sorte
Como você decidiu entrar nesta área? Comecei por necessidade, porque não encontrava uma editora disposta a apostar no meu trabalho. Jesús Micó foi o primeiro que me apoio coeditando com Los Cuadernos de la Kursala meu livro La Caza del Logo Congelado. Como contei antes, só me interessa a autopublicação no caso de fanzines. São tão fáceis, com tanta autonomia que não vale perturbar alguém com este tipo de projeto.
Você gosta da listas de “melhores do ano” que estão por todos os lados na fotografia? Se sim, quais livros espanhóis te interessaram em 2016? Gostei muito de barespagnol, de Pablo Casino.
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ISADORA BRANT Superfícies
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sadora já passou pelas páginas da OLD como entrevistada, ao lado da irmã Martina, contando a história da editora Vibrant. Agora, ela apresenta seu trabalho como fotógrafa com o ensaio Superfícies. A série vem do aproveitamento do acaso, de estar aberto a espaços e sensações que permitem criar produtos criativos. Este ensaio busca em objetos, texturas e sensações que encontram seu sentido mais pleno no momento da edição.
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Acho que o acaso tem me Isadora, como começou seu interesse pela fotografia? Foi um interesse pela imagem em si. Não importava se era um desenho ou um vídeo. Eu estudava artes do corpo e achei que esse universo tinha alguma coisa de importante. Depois de um tempo a fotografia surgiu como um meio de trabalho e encontrei o fotojornalismo no caminho. Essa experiência do jornal diário ampliou muito meu universo, foi um experiência bastante formadora. Durante esse período também trabalhei na TV Folha, o que me colocou em contato com o vídeo e as práticas do documentário. Foi realmente muito bom estar lá, naquela época e do jeito que trabalhávamos. Das Jornadas de Junho até as eleições de
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2014, ajudamos a firmar uma a prática de vídeo documental. Como editora, como você analisa o que tem sido produzido na fotografia? Quando surgiu a Vibrant, a fotografia nos deu um possibilidade de estruturar a editora. Tínhamos esse desejo de compartilhar nossas produções e trabalhar com outros artistas. O movimento dos fotolivros arejou muito a produção fotográfica por aqui, principalmente em direção ao encontro da autoralidade, da pesquisa, da fotografia aberta ao campo das artes visuais. Uma profusão de publicações em fotografia, mas que parece começar a necessitar de mais reflexão. Isso está sendo importante na medida que o formato de livro,
acompanhado e tem sido meu melhor estado. literalmente, nos faz pensar no “formato” para fotografia. E isso é necessário. Eu fico pensando o que é “fotografia” sem a “foto” em si. Fotografia livre de seu formato original, livre de ser uma imagem plana e fidedigna, própria de um mecanismo maquínico que pressupõe um formato já de saída. Se separássemos a fotografia da foto, o que seria um pensar fotográfico? De que consiste fotografar se pensarmos em gesto? Tenho a sensação que se você vai muito longe, já não é mais fotografia - acho que devíamos nos “desfotografar” e ir além de “temas”
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e “assuntos” para compor um retângulo, ou quadrado, sempre plano. A fotografia não é a foto, não é a imagem só, é um fazer. Tudo isso acho que não deve ser novidade aliás, mas são coisas que eu penso, sempre. Nos conte um pouco sobre a produção do ensaio Superfícies. Como se dá o processo de edição neste trabalho? Quais são as pontes que você busca construir entre as imagens? São imagens que fui fazendo ao longo do ano, sem pensar em um sentido que as antecedesse. Acho que no processo de edição foi possível detectar algumas coisas que determinam um conjunto. As formas que aparecem são adensamentos e dispersões, apontam para uma imagem que gostaria de ser abstrata, mas não é. Existe uma relação com o material,
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ou a materialidade, dos objetos e situações apresentadas. São da ordem do tato, do que se sente pela mão. Colocar essas imagens em sequência é querer fazê-las conversar e usá-las como roteiro. Cada objeto que aparece, não se separa do é realmente, mas não se afirma tanto pela sua natureza factual, tal como vidro, tela, ou lençol; se constituem mais como superfícies: camadas que envolvem, escondem ou definem um objeto, que em sua maioria mal aparece, meio escondido… Qual a importância do acaso nesta série? Acho que o acaso tem me acompanhado e tem sido meu melhor estado. Não sei fazer coisas que seguem um planejamento, uma disciplina. Espero mudar isso no futuro, mas por
enquanto é o acaso que me faz ficar contente enquanto trabalho. É uma espécie de querer estar perto de uma sensação meio mágica, que é quando nos enchemos de algo subjetivo - algo que faz sentido fora da linguagem. Junto com as imagens você enviou um trecho do livro O Império do Signos, de Roland Barthes. Como este texto influenciou a criação de Superfícies? Neste livro, Barthes descreve o Japão através de seus símbolos e signos. É possível perceber um espaço meio cheio de um certo vazio, muito próprio do país, nos assuntos escolhidos pelo autor. O capítulo dos pacotes conseguiu trazer algumas coisas que eu estava procurando. Ele diz: “...O pacote é um pensamento… é nó invólucro que se investe o trabalho da
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confecção (do fazer), mas exatamente por isso o objeto perde algo de sua existência, torna-se miragem: de invólucro a invólucro, o significado foge, e quando finalmente o temos (há sempre qualquer coisinha no pacote), ele parece insignificante, irrisório, vil: o prazer, campo do significante, foi experimentado: o pacote não é vazio, mas esvaziado: encontrar o objeto que está no pacote, ou o significado que está no signo, é jogá-lo fora… transportam afinal, signos vazios.” Écran, máscara, invólucro, caixa, pacote, sacola: superfícies que envolvem um signo vazio, um “nada”: Era isso. Nada de importante está acontecendo, mas no entanto, essa superfícies que envolvem este nada, são o próprio acontecimento - algo da ordem das coisas pequenas. É interessante lidar com um pacote de nada. Acho
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que tem pacotes muito cheios por aí, por isso acabei querendo me encontrar com esses vazios, para emoldurar um certo ar, um vaporzinho do acaso.
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Lugar das Incertezas De um mergulho errante no mundo das suas memórias o fotógrafo pernambucano Mateus Sá apresenta um ensaio que se equilibra numa linha tênue e bamba, ora pendendo para um lado, ora para o outro. Entre realidade e ficção, memória e fabulação, um percurso que serpenteia pelas lembranças de um garoto perdido na mata e os delírios do homem adulto. Lugar das Incertezas é uma narrativa imprecisa e misteriosa por essência, assim como os sentidos, no vaguear pelas trilhas de folhas, pedras e imagens, no desvendar de uma estória que transborda o inteligível e corrompe certezas. Texto de abertura e entrevista por Maíra Gamarra
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Quem é Mateus Sá? Conta um pouco sobre a sua história com a fotografia e o papel que ela ocupa na sua vida hoje. Mateus Sá é um aquariano, casado, pai de três lindos filhos e amante da vida e seus mistérios. Iniciei minha relação com a fotografia no final de 1997. Logo no início formei, juntamente com alguns amigos, o coletivo Canal 03, onde atuei por uns 10 anos. Sempre prezei por manter minha fotografia livre para o desenvolvimento dos meus trabalhos autorais. Por conta disso acabei me envolvendo em outros segmentos com a fotografia, principalmente na área da educação em projetos sociais, oficinas e, mais recentemente, na universidade. Também passei a realizar eventos de
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fotografia e atuar como editor de livros e exposições. Atualmente a fotografia continua sendo parte significante da minha vida. Vivencio essa relação todos os dias sempre alternando entre minha produção autoral e as áreas que acabei de citar. Lugar das Incertezas é o seu trabalho mais recente, a construção de uma narrativa enigmática e sedutora, de que trata exatamente essa série? É a materialização de uma memória de infância. Por volta dos 5 anos me perdi de meus tios e da minha avó em meio a mata do Vale da Lua (litoral sul de PE). Por quanto tempo fiquei só, o que aconteceu, o que vi, o que me assustou, o que me lembro disso e o que posso contar habitam
A incerteza é o fio do labirinto das fotografias desta pesquisa visual entre o mundo real, a fábula e o imaginário. o existente disperso entre a recuperação da lembrança e a experiência narrativa. Ao voltar ao lugar, já adulto e fotógrafo, reencontro o cenário do Lugar das Incertezas. Daquele estar perdido, do próprio local, do ato de fotografar. A incerteza é o fio do labirinto das fotografias desta pesquisa visual entre o mundo real, a fábula e o imaginário. O seu ensaio subverte as noções de verdade e mentira, realidade e ficção, se equilibra entre fronteiras caras a fotografia. Como foi caminhar por esses limites?
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Vivencio a fotografia como algo intuitivo, fruto da experiência de vida que carregamos e que está em constante evolução. Penso bastante sobre a influência do inconsciente no ato de fotografar. Quando fotografo mergulho dentro de mim mesmo. Fico lá durante um tempo, e no emergir divido com outras pessoas o que pude obter a partir da experiência. Assim, normalmente meus trabalhos transitam entre o “documento” e a fábula. “Lugar das Incertezas” é um bom exemplo desse processo. Seus trabalhos versam usualmente por temáticas como memória, infância, família e uma forte relação com a natureza. Como esses temas se articulam na sua fotografia? Para mim esses temas fazem parte de uma mesma linha. São complemen-
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tares. Acredito que as imagens produzidas por alguém são reflexos desse alguém. Na minha produção isso é bem latente. Vivo realmente o que produzo! Você é um dos maiores expoentes da fotografia pernambucana, como percebe a cena fotográfica do estado? Pernambuco tem uma longa tradição na fotografia a partir dos estúdios do final do século XIX. Por muito tempo nossa principal produção se deu a partir dos jornais, com o fotojornalismo, que ditou os caminhos por aqui. De quase dez anos para cá isso tem mudado bastante. Com a abertura dos cursos universitários de fotografia, birôs de impressão, os coletivos, galerias, editais públicos e eventos especializados na área, passamos a formar pessoas com interes-
se em pensar, refletir e escrever sobre fotografia, assim como, se ampliou a produção da fotografia de arte e/ou autoral. No momento temos muita coisa boa sendo produzida. Muitos livros publicados, exposições, teses de mestrado e doutorado, ou seja, vivemos um rico momento que nos alegra com as possibilidades futuras.
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ssa palavra logo ali acima que dá título a essa reflexão apresenta muitos significados. Desde o curador legal que cura a partir das leis até o curador das artes que unifica a forma com a norma traçando linhas que servem como fronteiras. Afinal, o que dá sentido para as coisas e as palavras é mais o ouvido de quem ouve do que a boca de quem fala. Vou traçar aqui algumas linhas que buscam singularizar outra possibilidade de curador, aquele
Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.
que cura a dor. O dicionário nos diz que esse indivíduo é um “feiticeiro ou rezador que, supostamente, cura pessoas mordidas por ofídios venenosos, ou que, com sua arte, as torna respeitadas por esses animais.” Ao fim e ao cabo, a arte é uma das linhas da cura, seja legal ou informalmente. Tenho notado ao longo dos anos de trato e tratamento com a fotografia, os fotógrafos e os fotografados que a expressão pessoal, o dizer de si e do outro pelos caminhos da criação, é um grande passo para a cura da dor. E, quem não tem as suas, que atire a primeira pétala. Talvez o lidar com a fotografia como meio de expressão, solitariamente, em coletivos ou workshops, revele para nós essa possibilidade de união entre o corpo e o
espírito, o dentro e o fora, tão necessária e tão rara. Essa cura pode brotar do interior do trabalho expressivo e talvez mais intensamente com as imagens porque elas falam para nós com a linguagem não dos nossos ouvidos mas a dos nossos olhos. E estes, em larga medida, são as janelas da alma, curada pela edição das fotos, pela folha de contato examinada com atenção e carinho, pela proximidade do olhar do outro que acolhe. Pude realizar um trabalho tecido com um grupo de professores e alunos neste último novembro que gerou inspiração para esse texto, para o trabalho e para a existência. Deixo aqui meu agradecimento a todos vocês que realizamos esta oficina de cura, de edição e de curadoria.
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a expressão pessoal, o dizer de si e do outro pelos caminhos da criação, é um grande passo para a cura da dor. E, quem não tem as suas, que atire a primeira pétala. 99
MANDE SEU PORTFÓLIO revista.old@gmail.com Fotografia da série A Natureza das Pequenas Coisas, de Mariana Caldas. Ensaio completo na OLD Nº 64.