OLD Nº 39

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Nยบ39 Novembro de 2014


Revista OLD Número 39 Novembro de 2014 Equipe Editorial Direção de Arte Texto e Entrevista

Capa Fotografias

Felipe Abreu e Paula Hayasaki Felipe Abreu Angelo José da Silva, Felipe Abreu e Paula Hayasaki Luiza Potiens Bianca Moschetti, Celeste Rojas, Daniela Agostini, Ilana Bar e Luiza Potiens

Entrevista

Filipe Berndt

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Livros

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Paisagem Hesitante Exposição

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Luiza Potiens Portfolio

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Bianca Moschetti Portfolio

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Celeste Rojas Portfolio

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Filipe Berndt Entrevista

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Ilana Bar Portfolio

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Daniela Agostini Portfolio

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Reflexões Coluna

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O clamor popular decidiu a capa desta edição da OLD. Indecisos por aqui, pedimos a sua ajuda e, com boa margem, a capa que você acabou de ver foi escolhida como a primeira imagem de nossa trigésima nona edição, décima primeira de 2014. Acabamos de passar por um mês em que votos e opiniões decidiram quatro anos de nosso futuro e acabaram com muitas amizades, espero que do tipo mais frágil, que não resiste à primeira briga, e não daquelas boas, que vem desde sempre com a gente. De qualquer forma, a mensagem que queremos deixar é: debater é preciso, na fotografia, na vida e na política, mas um pouco de amor não faz mal à ninguém. Agora, de volta à nossa nova edição: temos cinco belos ensaios, em que as relações pessoais e a intimidade são os temas principais. Temos flores, corpos, rostos e memória, por quase todas as páginas desta edição. Luiza Potiens abre as atividades com Menina Flor. Na série, capa desta edição, a fotógrafa explora as relações entre corpo feminino e flores, acompanhada de suas amigas/personagens. Um ensaio delicado, divertido e feminino. Seguindo, temos Bianca Moschetti, que apresenta uma série de “paus e peitos e bundas e dentes” que passaram por ela. A intmidade exala do trabalho, assim como a diversão e a vontade de conhecer o outro que está tão próximo de você. Celeste Rojas também fala da união entre duas pessoas em seu ensaio. Fruto de um relacionamento à distância, a série une paisagens, corpos e tempo para falar de memória e de como transformamos os espaços que fotografamos.

Entre nossos portfolios está uma importante entrevista com Filipe Berndt. Um dos expoentes de uma nova geração de fotógrafos em São Paulo, Filipe conta sobre as diversas fases de sua carreira, suas pesquisas e sobre os rumos e incertezas que vê a diante. Em nosso quarto ensaio, Ilana Bar mostra a rotina e a convivência com seus tios e irmão, com Síndrome de Down. Sobre Viver apresenta este mundo de forma carinhosa e atenta, deixando o espectador conhecer aos poucos este espaço tão importante para a fotógrafa. (in)dolor encerra esta edição com uma série sobre sexo, morte e a vida que está entre eles. Daniela Agostini consegue criar singelas uniões entre corpos e natureza, sobre a perda e sobre como criamos novas vidas. Espero que esta edição de inspire, te faça pensar, ser crítico e paciente. Mais do que tudo, espero que você se divirta e seja curioso, como o avestruz da foto ao lado.

Felipe Abreu


Ostrich reads newspaper of caretaker


LIVROS

PAIN DE TONI AMENGUAL

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“A melhor maneira de manter um segredo na Espanha é escrevendo um livro”. É com esta frase pessimista e enigmática que Toni Amengual abre seu primeiro livro: Pain. Aliás, essa é toda a informação que você terá em uma primeira leitura. Todas as páginas, vermelhas e amarelas, estão em branco. Não há fotografia, não há texto, somente as duas fortes cores. O livro foi editado como um origami: para se chegar às imagens você deve romper as dobras, rasgar as beiradas, para enfim chegar ao segredo escondido: as fotografias de Pain. O livro fala de forma direta sobre as dificuldades vividas na Espanha com a crise econômica europeia. São retratos feitos nas ruas do país, com rostos sofridos, tristes, quase em estado de choque. Pain é um ótimo exemplo de como o formato “livro” pode acrescentar sentido a um ensaio fotográfico. A publicação já está esgotada, mas o autor está vendendo os últimos 500 exemplares, assinados, em seu site.

Disponível no site do autor Valor: R$ 90,00 240 páginas


LIVROS

THE OPEN ROAD DE DAVID CAMPANY

O carro é um elemento essencial na cultura americana. Junto com ele, a estrada, larga, cheia de pistas e movimento. Com a união desses elementos temos um ponto central na produção fotográfica americana: a road trip. O livro de David Campany, editado pela Aperture, é uma revisão histórica dessa produção, traçando paralelos, revendo eventos centrais e dando um novo aspecto para fotógrafos clássicos como: Stephen Shore, Garry Winogrand e Lee Friedlander. Cada capítulo do livro se debruça sobre a produção de um fotógrafo específico, trazendo textos críticos sobre sua criação e um belo e completo portfolio de imagens. The Open Road tem uma direção de arte belíssima e traz informações comparativas, traçando as diferentes rotas feitas por cada um dos fotógrafos, por exemplo. O livro é o primeiro, segundo a Aperture, a ver a fotografia de estrada como um gênero e a explorá-lo de maneira profunda e precisa. Com certeza vale a leitura para quem deseja mergulhar na estrada e sair dela com um novo projeto em mãos.

Disponível no site da Aperture Valor Médio: R$ 125,00 336 páginas

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EXPOSIÇÃO

PAISAGEM HESITANTE NA CASA DA IMAGEM Caio Reisewitz apresenta o Pico do Jaraguá, isolado em meio à crescente São Paulo.

O trabalho de Caio Reisewitz tem sido o grande destaque da fotografia brasileira em 2014. Caio foi o escolhido para estampar a 08 capa da edição especial da Aperture Magazine sobre São Paulo, se tornou o primeiro brasileiro a ter uma exposição individual no ICP em Nova Iorque, lançou novo livro e exposição em São Paulo. Vamos dizer que está sendo um ano animado para ele. A exposição Paisagem Hesitante, abriu no final de Outubro, na Casa da Imagem, no centro de São Paulo. A nova série de Caio Reisewitz se concentra no Pico do Jaraguá e nas suas interações com a crescente massa urbana de São Paulo. Como de costume em seu trabalho fotográfico, Caio opõe natureza e cidade, apresentando ou criando espaços em que a convivência entre natural e urbano é próxima e forçada. Paisagem Hesitante mantém a precisão técnica típica na obra de Caio Reisewitz. Assim como a precisão, também se vê a ausência do homem, que se vê representado pelas suas criações e pelas marcas que deixa na terra. Com esse afastamento da figura humana, Caio consegue discutir de maneira precisa e contundente os impactos do homem na natureza, em especial em imensas aglomerações

urbanas, como São Paulo. Para iniciar sua pesquisa para esta exposição, Caio se baseou na pintura de Jorge Furtado de Mendonça, que se dedicou profundamente às paisagens naturais de São Paulo. Essa referência e a produção austera de Reisewitz transformam a visita à Paisagem Hesitante uma oportunidade de viajar no tempo e refletir sobre as transformações infligidas à paisagem paulistana. A mostra, que marca o retorno de Caio a São Paulo depois da importante passagem por Nova Iorque, dá ainda mais vida ao já pulsante centro de São Paulo. Não há melhor lugar para se refletir sobre a pluralidade e a constante transformação da capital paulista. Paisagem Hesitante é um imenso acerto, nos mais variados níveis.

Paisagem Hesitante segue em cartaz até fevereiro de 2015. A Casa da Imagem fica na Rua Roberto Simonsen, 136-B, no Centro de São Paulo.


Caio Reisewitz


Luiza Potiens Menina Flor



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Luiza Potiens explora de maneira delicada e sensível as relações entre o corpo feminino e a natureza. Em um ensaio intimista, tendo como personagens suas amigas próximas, Luisa reune o que os tempos modernos insistem em separar. Luiza, nos conte sobre seu começo na fotografia. Comecei a fotografar com uma câmera compacta aos 15 anos, mas não tinha um propósito específico ou estudos e referências. Eu fotografava bastante no meu tempo livre, épocas mais, épocas menos... Mas só comecei a pensar na fotografia como uma profissão, quando percebi que não conseguia me imaginar fazendo outra coisa além disso e minha inscrição para o vestibular estava pra vencer. Me formei no Bacharelado em Fotografia em 2011 e a partir de então, trabalho com fotos e vídeos de moda, além de projetos pessoais.

Como surgiu o ensaio “Menina Flor”? Comecei fotografando amigas com elementos da minha própria casa. Mesmo inconscientemente, percebi que acabava sempre incluindo plantas/flores/natureza em minhas fotos. Resolvi então fazer disso um projeto, juntando duas paixões, a delicadeza e sensibilidade da mulher complementadas pela beleza e suavidade das flores.


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Acho que o feminino e as mulheres são minha maneira de representar a beleza que procuro na simplicidade. Meu ideal na vida é a busca do “simples, porém maravilhoso”.

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Qual o papel do feminino em sua fotografia? Acho que o feminino e as mulheres são minha maneira de representar a beleza que procuro na simplicidade. Meu ideal na vida é a busca do “simples, porém maravilhoso”. Fico totalmente fascinada como lugares, momentos ou detalhes inusitados e aparentemente simples, podem ser tão bonitos, no sentido mais puro da palavra. A representação tem um papel importante dentro das suas imagens. Como você busca organizar o que será apresentado dentro de cada enquadramento? Normalmente ao programar o ensaio, procuro pensar principalmente na cartela de cores. Na hora das fotos deixo fluir mais naturalmente, tenho poses em mente, mas me preocupo apenas em direcionar os movimentos para que o principal tema seja a feminilidade e sensualidade da mulher em sua forma mais natural e sutil.

Quais as relações que você deseja estabelecer entre natureza e corpo neste ensaio? Gosto de reparar nas texturas e cores, contornos e curvas, pétalas e pele. Vou descobrindo novas relações a cada ensaio que faço.. É uma pesquisa em andamento...


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Bianca Moschetti Das pessoas que quis guardar mais de perto



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Nesta série, Bianca Moschetti explora a intimidade e o corpo humano despido de qualquer proteção, seja ela física ou moral. O resultado são imagens livres, singelas e divertidas. Bianca, nos conte sobre sua relação com a fotografia. A minha relação com a fotografia se dá de uma forma completamente experimental e despreocupada com a perfeição das luzes, das cores, do assunto que eu quero retratar. Gosto de fotos borradas, sem foco, com sujeira na lente... rs! Tudo o que seria erro, eu gosto! Fui ter um equipamento digital razoável agora, há poucos meses! Aprendi então a fotografar na câmera analógica e é com ela que eu prefiro fazer minhas fotos e trabalhar em cima delas... Parece que a fotografia de filme tem um quê especial, que a gente não encontra na digital... A questão da espera da revelação, da ansiedade de querer que saiam todas as fotos, o não-imediatismo do resultado, a chance do erro... tudo isso faz com que a relação com a fotografia seja diferente. Faz com que seu olho fique menos no visor e mais no entorno... Parece uma relação muito mais próxima, em que se tem mais domínio de todo o processo. Parece que é mais eu, que tem mais de mim ali.

Como sua formação em Artes Visuais influencia sua fotografia? Essa é um questão bem interessante pois no curso em que me formei não temos (por conta de várias questões acadêmicas) disciplinas que envolvam diretamente a fotografia. Um ou outra aqui e ali, mas é muito raro. Minha introdução na fotografia (e na fotografia analógica) se deu de maneira colaborativa, digamos assim! Participei de oficinas ministradas por alunos, fui apresentada a um laboratório de fotografia dentro da universidade e assim fui andando com as minhas próprias pernas (e a desses amigos) dentro de tantos filmes e químicos. Acredito, então, que a formação em Artes Visuais fortaleceu muitas referências em relação a processo criativo, experimentações fotográficas, diversidades de suportes e tudo mais. A influência na fotografia não foi tão direta, mas me abriu portas para diversos desdobramentos fotográficos.


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É como uma coleção de corpos. De paus e peitos e bundas e dentes que passaram por mim.

Como surgiu a série das pessoas que quis guardar mais de perto? 42

Acho que surgiu duma necessidade do corpo, de ter o corpo exposto. Mas não um corpo qualquer, e sim um corpo amigo, conhecido, íntimo... um corpo que olha no olho, sabe? Um corpo que é pra aparecer rosto, cara, peito, bunda, pau, tudo... não sei ao certo de onde surgiu, mas sei que tudo começou com o desenho. Eu costumava desenhar nus e minha vontade do corpo vem daí... e eu gostava de fotografia desde sempre. Então foi a junção das duas coisas que eu mais tinha tesão em fazer na universidade. Qual a importância do corpo na sua fotografia? E da intimidade? O corpo é a essência da coisa toda. É o olho no olho. É como uma coleção de corpos. De paus e peitos e bundas e dentes que passaram por mim. Que por estarem em mim, me deixo um pouco neles. É toda a lembrança que pode ter em todas as tardes em que os fotografei. Em que tive seus contornos pra sempre. Era a maior cumplicidade que a gente podia ter naquele momento. Eram os olhares dos nós mais atados.

Agora é tudo repetição. É uma troca eterna entre todos os olhares que vão se cruzar. Eles passarão por muito mais gente do que eu. Mais gente passará por eles do que eu. Eu dou uma parte deles pra cada um que chega. Você vê algum limite no que deve ou não deve ser mostrado na fotografia? Limite não. Acho que tudo tem que ser mostrado. E é nesse ponto que eu fico incomodada às vezes: o falso pudor. Não mostrar isso, não mostrar aquilo, e se mostra, não mostra o rosto pra não saber de quem é... pô, mostra aí! Temos que saber lidar com a nudez, principalmente com a nudez masculina. É preciso ainda quebrar um monte de coisa, um monte de pensamento... é preciso ainda desvincular nudez com sexualidade, com pornografia. Não tenho absolutamente nada contra fotos pornográficas e com apelo sexual (aliás, um dos meus fotógrafos favoritos é o Larry Clark), mas não é o caso das minhas fotos. E não quero que seja. Quero que o nu seja visto de forma natural. Tão natural quanto é.


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Celeste Rojas aunquenoentendamosnada



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Celeste Rojas explora passado, memória e amor nesta série. Este trabalho lida com um passado transformado e ressignificado através de suas fotografias. Celeste, nos conte sobre seu começo na fotografia. Minha relação com a fotografia vem de muito cedo. Meu pai era fotógrafo e na casa da minha infância sempre encontrei câmeras, negativos e diversas coisas que faziam parte de um antigo laboratório de revelação. Na minha adolescência decidimos reativar o laboratório e desde então eu fotografo (minha casa, meus amigos, minha rotina). Já passei muitas horas no laboratório improvisado em nossa casa. Quando tive que tomar a decisão de o que estudar na universidade já tinha a decisão bem clara.

Como surgiu o ensaio aunquenoentendamosnada? Em 2010 comecei um relacionamento à distância. Nós dois viajávamos para nos encontrar e a decisão de retratar esses trajetos foi imediata, era uma maneira de sentir que todo este universo poderia estar mais perto de mim do que realmente estava. Fotografá-lo foi um modo de o tornar meu e o aproximar. Fotografar o que ocorria nele me permitia habitá-lo de diversas maneiras.


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decidi que o modo de narração visual, para que este fosse coerente, seria através de elementos simbólicos, como um pássaro ou uma paisagem vazia São momentos de grande intimidade nas fotografias. Você estabeleceu algum limite para o que deveria ser mostrado?

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Não tive grandes questionamentos sobre o que mostrar ou não. A princípio esta série não tinha pretensões de ser exposta ou publicada. Com o tempo me dei conta que ela dialogava com o resto da minha produção e então a ponte que pude estabelecer com ela passou a fazer sentido. Além disso, sempre senti que era claro que o que se transmitia, que o que importava, não era cada imagem e seu conteúdo formal, mas sim o que se configurava entre elas, este universo que em grande parte contém objetos simbólicos, em muitos casos por fora de nossos corpos e que definem um estado de espírito, formas de conceber e construir uma relação. Há uma forte noção de passagem de tempo nas imagens. Como você buscou construir a narrativa nesta série? A narrativa se construiu de maneira natural, ainda que meu interesse e alterações na edição dela tenham a ver com o fato de que parecia absurdo a apresentar linearmente. Então decidi que o modo de narração visual, para que este fosse coerente, seria através de elementos simbólicos, como um pássaro ou uma paisagem vazia,

todas imagens que foram feitas durantes as viagens se referiam a um estado de espírito, a formas de definir o que acontecia conosco naqueles momentos, não só nos lugares, mas também interiormente. Como estas imagens afetam sua memória? Você vê a fotografia como um atiçador de lembranças? Este e todo o meu trabalho, como o de muitos fotógrafos, está em constante diálogo com a memória. A fotografia como uma disciplina, é sempre, mesmo em níveis subterrâneos, relacionada a este conceito. Eu acho que é impossível separar de algo que é em grande parte o seu motor. Ao mesmo tempo, eu acho que ao construir uma série também estabeleço uma nova maneira de me relacionar com uma história, com um passado que era, mas na foto não é o que você é, é uma representação e o que eu percebo é que a representação é também algo novo. Eu não estou me ligando diretamente com o passado, com o dia x, onde eu estava fotografando o corpo nu ou o céu a partir de um avião, eu estou conectando com a mediação disto, com um novo céu e um novo corpo nascido da fotografia, do jeito que os olhei e inventei e estão agora nesta imagem diante dos meus olhos. Ela está diretamente relacionada com a ausência, algo que esta série tem como objetivo falar muito.


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OLD ENT

FILIPE


REVISTA

BERNDT


Filipe Berndt é um dos expoentes de uma nova geração de fotógrafos atuando em São Paulo. Conversamos com ele sobre as diferentes fases de sua carreira, seus projetos e seus questionamentos dentro do mundo fotográfico. Filipe, como foi a migração do marketing, seu curso de graduação, para a fotografia?

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De alguma forma sempre estive ligado a arte, adorava desenhar e folhear livros de arte quando criança, fiz cursos de desenho e iniciei minha vida profissional trabalhando com design e criação de sites. Em 2003 cursei uma faculdade de design, mas me frustrei bastante com o curso e apesar de ter uma bolsa de estudo acabei desistindo. Foi neste período que senti vontade de iniciar um novo curso, não relacionado a arte, optei por uma nova experiência e em 2004 iniciei na faculdade de Gestão de Marketing. Quando conclui a faculdade de Marketing, estava meio sem saber o que fazer, indeciso com o próximo passo e acabei indo trabalhar em um restaurante, com o dinheiro que recebia lá me deu vontade de comprar um câmera fotográfica bacana, economizei o suficiente para comprar um Fuji do tipo prosumer e sai do restaurante para me tornar fotógrafo. Seus trabalhos contam com vídeo e fotografia. Quais os elementos essenciais nessas escolhas? O que o vídeo te traz que a fotografia não e vice e versa? Muito antes de fotografar eu já brincava com vídeo, fazia pequenos documentários e gravei boa parte dos meus vinte e poucos anos com uma Câmera MiniDV. Em 2007 passei a fotografar profissionalmente e deixei o vídeo de lado, mas com o advento das câmeras que fazem as duas funções voltei a realizar pequenos vídeos. Penso nos meus vídeos atuais como cenas fotográficas em movimento, procuro filmar com um

enquadramento fotográfico e não realizar um grande trabalho de edição e trilha sonoro, o objetivo são vídeos curtos e simples. Basicamente os vídeos saem por acaso, quando estou fotografando e percebo que aquela cena ficaria melhor em vídeo, do que em fotografia. Você vê a fotografia contemporânea como um processo necessariamente multimídia? Acho que atualmente, todas as atividade contemporâneas que envolvem tecnologia são multimídia, e com certeza a fotografia é uma das que mais influência outras mídias, assim como também é uma das que mais sofre com a influência externa de outras mídias e tecnologias. Isso cria uma dinâmica interessante de muitas oportunidades, mas também de desafios constantes. Minha percepção é que cada vez mais, o fotógrafo necessite aprender sobre novas mídias, tecnologias e etc, inclusive conhecer e lidar com as ferramentas de Marketing. Qual a importância do estudo e do pensamento fotográfico dentro da sua produção? Estudar é uma atividade que sempre priorizei, seja fazendo cursos, investindo em livros, como também em viagens culturais, afim de conhecer feiras de arte, galerias e museus fora do Brasil. Também acho fundamental que o fotógrafo construa um acervo de referências, visite exposições, veja sites e portifolios de outros fotógrafos e busque saber o que se passa no contexto que está ou quer se inserir. Seu trabalho versa bastante sobre representação e natureza. Quando surgiu esse interesse? Como você buscou explorar esse tema em suas fotografias? Vejo que essa relação com a natureza sempre existiu no meu


trabalho, porém de forma consciente foi a partir de 2009, quando comecei a explorar e trabalhar com questões da autenticidade da natureza e sua artificialização e do impacto humano sobre a paisagem. Minha intenção é abordar conceitos da natureza, sem cair em uma imagem fotojornalistica, do tipo “National Geographic”, embora eu seja fã da instituição. Com minhas fotografias meu objetivo é questionar e não informar, embora as duas coisas as vezes ocorram. Em Paisagens com Pessoas há uma perfeição quase artificial em algumas imagens e o encontro de cenas inusitadas, quase fantasiosas em outras imagens. Como você busca unir essas abordagens no ensaio? Tem razão, é exatamente levantar esse tipo reação que eu pretendo com a série Paisagens com Pessoas. Meu objetivo não é compor uma série com flagrantes ou “instantes decisivos”, mas apresentar um conjunto que ilustre o atual relacionamento do homem contemporâneo comum com a natureza. As fotografias têm o momento de lazer e descanso como fio condutor e é essa forma de contato com a natureza que me interessa na série. Nas fotografias não existe um personagem principal - para mim, a graça está em retratar o coletivo humano interferindo na paisagem natural, por vezes já dominada pela arquitetura e pela tecnologia. É uma série que depende da sorte também, de estar no lugar e momento certo, eu não vou atrás desse tipo de composição, ela surge de repente e cabe a mim aproveitar. Você passou por um momento de transição em sua carreira, deixando a fotografia autoral em segundo plano. Quando você tomou essa decisão? Como foi o processo? Na realidade, a fotografia autoral e a fotografia como profissão sempre andaram juntas para mim, desde o início da minha

Meu objetivo não é compor uma série com flagrantes ou “instantes decisivos”, mas apresentar um conjunto que ilustre o atual relacionamento do homem contemporâneo comum com a natureza.





carreira eu levei as duas paralelamente e fui tentando aproveitar as oportunidades que ambas me proporcionam. O que acontece é que naturalmente em alguns períodos da carreira, eu obtive mais resultados com a fotografia autoral, e em outros momentos com a “profissão de fotógrafo” digamos assim. Neste momento atual estou mais inclinado a dedicar meu tempo a prestar meus serviços como profissional.

solução para fotografar uma obra específica, como, eliminar reflexos de vidro e o brilho da tinta a óleo, fotografar trabalhos já emoldurados, obras que requerem uma altíssima resolução e etc. É um mercado pequeno, de nicho, mas eu adoro realizar esse trabalho.

Você vê a fotografia autoral como um modelo rentável? É necessário ter outras fontes de renda para se manter como fotógrafo?

Conhecer e interpretar o mundo através da fotografia é um privilégio. Trabalhar e ganhar dinheiro com fotografia é uma realização. Isso é o que me motiva, viver da fotografia de forma plena.

Obviamente, no início da carreira o fotógrafo vai precisar de alguma outra fonte de renda, para sustentar sua pesquisa e trabalho autoral. Mas a fotografia autoral pode ser sim rentável, o complicado é descobrir o caminho de tornar esse trabalho rentável, pois não existe uma receita, o que deu certo para algum fotógrafo, pode não dar para outro e vice-versa. É um caminho bem complicado e árduo, principalmente para os fotógrafos mais jovens, em inicio de carreira. É preciso ter talento, persistência, planejamento e sorte. Atualmente você trabalha com reproduções fotográficas de obras de arte. Quais são os desafios deste processo? Qual o espaço para a sua visão pessoal na produção destas imagens? Eu trabalho com fotografia de arte desde 2008, mas foi a partir de 2011 que me especializei e passei a me dedicar exclusivamente a esse serviço. Tudo aconteceu de forma natural, por também ser artista, acabei conhecendo outros artistas que me solicitavam para fotografar suas obras, e me indicavam e dessa forma minha cartela de clientes foi crescendo. É um trabalho muito técnico, no caso, meus serviços estão a serviço da criatividade de outro artista. Minha visão pessoal na realização dessas imagens esta associada a resolver problemas, a ter uma

O que mais te motiva na fotografia?

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Ilana Bar Sobre Viver



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Sobre Viver é um delicado relato fotográfico sobre a vida de duas pessoas muito próximas da fotógrafa, ambas com Síndrome de Down. O ensaio apresenta sua rotina, sua relação com o mundo e um pequeno recorte de suas vidas. Ilana, nos conte um pouco sobre sua relação com a fotografia. Não sei ao certo quando começou, mas eu sempre gostei de ver. A minha relação com a fotografia é antiga, da infância e do fascínio que provoca na memória. Sempre me encantou a caixa de sapatos com fotos da família. Eu gostava de imagens, tanto que quando decidi estudar fotografia, eu não tinha nenhuma câmera e poucas vezes eu havia fotografado.

Como surgiu o ensaio Sobre Viver? Meus trabalhos fotográficos envolvem universo particular com pessoas e espaços, e esse ensaio é sobre a vida dos meus tios e meu irmão, que tem Síndrome de Down e a minha relação com eles, mostrando um pouco do dia-a-dia.


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A fotografia já faz parte da nossa relação, já estão acostumados com a presença da câmera, quase sempre estou com ela e eles sabem disso.

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Qual a sua relação com os três personagens do ensaio? A fotografia aproximou vocês?

Que elementos da vida dos seus personagens você decidiu priorizar nas imagens? Como foi tomada essa decisão?

Cresci com eles por perto, fazem parte da minha vida, da minha história e do que sou . A fotografia já faz parte da nossa relação, já estão acostumados com a presença da câmera, quase sempre estou com ela e eles sabem disso.

As imagens são do cotidiano, não foi um ensaio premeditado, acontece naturalmente o registro de momentos em que estamos juntos. Qual a sensação, a lembrança, que você quer deixar nas pessoas que vêem as suas fotografias? Uma reflexão sobre beleza, diferenças e afetividade.


Daniela Agostini (in)dolor



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(in)dolor, apresentado por Daniela Agostini nesta edição da OLD trata de memórias, afeto e da fotografia como ferramenta para superar a dor. O resultado visual é ao mesmo tempo intimista e grandioso. Daniela, nos conte sobre seu começo na fotografia. Desde criança gostava de observar o comportamento humano. Inúmeras vezes me vi observando, sem um porque, por pura curiosidade, pessoas na volta da escola dentro do ônibus. As primeiras vezes que vivi emoções fortes, como um primeiro amor ou até mesmo a morte do meu pai aos 5 anos, busquei formas quase que inconscientes de expressar minhas sensações. Cursei por 2 semestres Psicologia e com isso busquei o porquê da minha observação e intensidade quando criança, e cheguei à conclusão de que somos todos iguais, motivados por emoções, e de alguma forma acessíveis. Decidi desistir da Psicologia por motivos financeiros que na época

dificultavam meu desenvolvimento profissional, e com 22 anos descobri a fotografia através de uma amiga que me explicou que eu poderia apenas observar e falar por imagens. Foi aí que entendi que toda a vontade que eu tinha de ver, viver e contar sobre o que eu sentia, a fotografia me possibilitava, a câmera se tornou o meu meio e desde então não parei de fotografar.Atualmente dou aula de Fotojornalismo, Projeto e Composição, continuo utilizando a fotografia como forma de observação e expressão daquilo que é meu e do outro, assim tudo se torna parte de quem eu sou hoje. Como surgiu o ensaio (in)dolor? O ensaio indolor surgiu de forma simples e sincera, fotografei sem pretensão, e sim por necessidade de expressar uma experiência pessoal. A intensidade do que foi vivido tomou forma de palavras e a partir de um pequeno texto que eu escrevi consegui visualizar minhas sensações naquelas imagens, logo o que me causava dor servia de inspiração e, assim, a dor passava.


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Pouco se fala de sexo, assim como pouco se fala da morte. Dependendo da forma que se olha um corpo nu deveria ser tão puro quanto olhar para uma árvore sob um céu estrelado

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O sexo é um dos personagens deste ensaio. Como você buscou abordar o tema nas suas fotografias?

Quais são os papeis do erotismo e da contemplação na sua produção fotográfica?

Pouco se fala de sexo, assim como pouco se fala da morte. Dependendo da forma que se olha um corpo nu deveria ser tão puro quanto olhar para uma árvore sob um céu estrelado, como ser livre, ou simplesmente sentir-se assim. Desconstruímos esse olhar, como um véu sobre nossos olhos quando tratamos desses paradigmas. Quando abordo isso na minha fotografia tenho a consciência do quanto trato e sinto esse assunto com uma certa violência, quem sabe até por insegurança minha. Relaciono esse conflito a uma luz forte, que tem em seu papel algo divino ao mesmo tempo em que ofusca e quase cega minha visão. A utilização desse personagem é um símbolo de liberdade, uma busca por libertação, por isso essa camuflagem do que é sexual com o natural.

O erotismo aparece pra mim com a mesma beleza ao se contemplar uma paisagem formada por um mar em um lugar desconhecido. Esses papéis se fundem, movidos pela estranheza do que não se conhece com aquilo que é íntimo, causando incerteza se é bom ou ruim, leve ou denso. A unificação desses dois papéis na minha criação traz esse desconforto. É como se todo o meio me proporcionasse leveza em oposição à dificuldade de lidar com sentimentos intensos e tão pouco conhecidos, onde o erotismo é uma das causas. A falta de ar nasce dessa contradição e, em um determinado momento é preciso voltar para a zona de conforto, mesmo sabendo que o ar de lá não é tão limpo, assim como numa tragada de cigarro.


REFLEXÕES

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Uma dessas grandes magias, a imagem fotográfica, faz parte dessa mistura ao nos revelar e apagar a consciência de que não conseguimos congelar o tempo, a emoção, a vida.


COLUNA

SOBRE VIDA, MORTE E CATRINAS

Aproveitando o fato de que estava no México no dia do meu aniversário resolvi escrever sobre estas coisas um tanto mágicas, ou seja, aniversários, festas, México, fotografias, dia dos mortos, dia “de mi cumple”. Para mim sempre foi difícil festejar essa data porque no Brasil o dia dos mortos não se presta muito para festividades. Aqui, é uma grande festa que começa no trinta e um de outubro, o famoso “halloween”, e segue pelo primeiro e dois de novembro, mesclando tradições locais, distintas e distantes. Na Cidade do México, por exemplo, milhões de pessoas, sim, milhões de pessoas, ocupam espaços públicos de todos os tipos (e privados também) para fazerem parte do movimento, para verem e serem vistas, para fotografarem e serem fotografadas, para viverem a vida fazendo festa para a morte. Como resultado dessa “movida” as casas, os cemitérios, as ruas, as praças ganham energia, intensidade, com a celebração do dia dos mortos. Abundantemente mágico tudo isto. Estar ali provoca um rio de sensações que deságua num mar de gentes. Todos, cada um a seu modo, passando pela experiência dessa ritualização, essa alegria de estar e ser. Essa força nos envolve como o ar que nos alimenta a alma e que nem nos damos conta a não ser quando nos falta. Muitos estão fantasiados de “Catrinas” e “Catrines”, as lindas caveiras de Posadas, outros seguem desfilando como zumbis, Hulks, elfos, fadas e flores. E todos, ou quase todos, despreocupados com a vida apenas caminham. Tiram fotos, milhões de fotos e posam para outros milhões de olhos eletrônicos. Seguimos tão somente experimentando o aqui e o agora e tomando consciências de que a vida e a morte andam de mãos dadas como dois apaixonados.

E então o dia do nascimento, seu ritual e celebração e a festa dos mortos se misturam como águas de distintas cores colocadas em uma jarra de vidro. Um modifica o outro e todos nos transformamos e nos enriquecemos de novas cores. Uma dessas grandes magias, a imagem fotográfica, faz parte dessa mistura ao nos revelar e apagar a consciência de que não conseguimos congelar o tempo, a emoção, a vida. Seguimos tentando escapar de nosso destino acreditando que a foto vai nos conduzir para um lugar a salvo. Em um determinado momento percebemos que isso não vai acontecer. Momento mágico. Acabamos por nos libertar desse peso e, então, nossa imaginação também se libera e aí temos fotos mágicas, cheias de vida, de morte, de eternidade.

Angelo José da Silva é professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná e fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes focam o espaço urbano e o grafite.

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Mande seu portfolio para revista.old@gmail.com


Raimundo Britto


From a album belonging to barnstormer/daredevil Carter Buton.


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