CURIOSIDADE
UM NOVO PÓDIO 60 ANOS DEPOIS COMO UM CONCURSO REALIZADO EM 1958, EM JOINVILLE, MARCOU A VIDA DE SEUS VENCEDORES TE XTO : J OANA NEITS C H IO P PI | FOTOS: FR A N CISCO N ASCIMEN TO
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uem viu três crianças com o cabelo impecavelmente arrumados e a roupa engomada no pódio do 13º Batalhão de Caçadores de Joinville, em 1957, não imaginou o suplício que foi para uma delas estar ali. Os autores das melhores redações sobre Tiradentes, entre 600 estudantes de toda a cidade, estavam posicionados conforme a nota que auferiram. Em primeiro lugar, vestido de escoteiro, Ernani Buchmann, nota 8,75; seguido por Rubens Lopes de Sá, nota 8,50; e, na terceira posição, Maria Elisabeth Nascimento, nota 8,25. A pouca diferença na pontuação não diminuiu o golpe que a terceira colocada sentiu. Para quem estava acostumada a ser sempre a primeira da classe, aquilo representava uma grande derrota. “Eu sei mais do que eles!”, dizia a pequena estudante de 10 anos, que foi arrastada pela mãe para a cerimônia de premiação. Não bastasse ocupar o lugar mais baixo no pódio, Maria Elisabeth ainda ficou sem medalha. Enquanto os colegas levaram cada qual seu objeto símbolo do feito, a menina ganhou uma enciclopé-
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MARIA ELISABETH NASCIMENTO E ERNANI BUCHMANN
dia. Passadas mais de seis décadas, ela ainda se pergunta o que havia de pior na sua redação. “Foi o nome! Eu errei o nome de Tiradentes. É Joaquim José da Silva Xavier. E eu escrevi José Joaquim. Quando voltei para casa, já me dei conta disso”. O vencedor, por outro lado, não era aquele aluno impecável. Perdia muitos pontos nas aulas no quesito capricho por ser canhoto, e também não estava lá tão preocupado em ser o primeiro da turma. Sua empáfia infantil era de outra linha, aquele tipo que, quando iam lhe ensinar algo, adotava a postura “Ah! Isso eu já sei”. Ainda assim, ficava entre os alunos de destaque, mas sem aquela obstina-
ção da menininha competitiva. Apesar de não ser de viver enfronhado nos livros, Ernani se preparou para fazer aquela prova. Em tempos em que o Google ainda não era nem ficção científica, sua mãe o mandou ir à Biblioteca Pública de Joinville pesquisar sobre Tiradentes e depois tomou o conteúdo dele. Fez efeito. O conhecimento absorvido pelo estudante do 4º ano primário foi tanto que ele não só preencheu todas as linhas da folha, como pediu outras e terminou o texto escrevendo nas margens da página. No concurso, Maria Elisabeth representou a Escola Conselheiro Mafra, mas nos anos anteriores NOV | DEZ 2019