FCA Unicamp - Abre Aspas nº14

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Nº 14 § out/nov 2017

Nutrição em revista

Como entender os rótulos dos alimentos industrializados?

Escolinha (não só) de futebol

Projeto de extensão com crianças de Limeira fortalece ensino e cria espaços para pesquisa

JAPÃO DE OLHO NA FCA

Pesquisadoras do LEPE são selecionadas por academia japonesa de formação de treinadores


Universidade Estadual de Campinas Reitor Prof. Dr. Marcelo Knobel Coordenadora Geral da Universidade Profa. Dra. Teresa Dib Zambon Atvars

Diretor Associado FCA Unicamp Prof. Dr. Márcio Alberto Torsoni

Diretor FCA Unicamp Prof. Dr. Álvaro de Oliveira D'Antona

Assistente Técnico da Unidade FCA Unicamp Flávio Batista Ferreira


FACULDADE DE CIร NCIAS APLICADAS

ABRE ASPAS UNICAMP LIMEIRA

Nยบ 14 ยง outubro/novembro 2017


Editorial Para este último número de 2017 temos uma matéria de capa sobre o intercâmbio de conhecimentos que está se estabelecendo entre o Laboratório de Estudos em Pedagogia do Esporte e a Academia Japonesa de Formadores de Treinadores, através da Profª Larissa Galati e da doutoranda Paula Korsakas. A matéria também traz reflexões iniciais sobre a questão de gênero relacionada à atuação profissional de treinadoras esportivas e dicas interessantes para quem planeja seguir a carreira. Temos uma entrevista com a Profª Ana Vasques, do curso de Nutrição, sobre os rótulos dos alimentos industrializados; e imagens de atividades que ocorreram ao longo do bimestre. Há ainda uma matéria sobre um projeto de extensão criado pelos alunos da Faculdade, o qual, através de aulas de futebol, está ensinando para crianças de Limeira valores como respeito pelo próximo, colaboração, a importância do esforço, da dedicação e do trabalho para atingir os próprios objetivos; e a importância da criação e do respeito às regras definidas coletivamente – e, além disso, fortalecendo o ensino de graduação no curso de Ciências do Esporte e criando espaços importantes para pesquisa. Boa leitura e bom final de ano! Cristiane Kämpf Assessoria de Imprensa – FCA Unicamp

Expediente A revista eletrônica FCA Abre Aspas é uma publicação bimestral da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, em Limeira. Nº 14 – Outubro/Novembro 2017 Elaboração, produção e edição Cristiane Kämpf – MTB 43.669 Assessoria de Comunicação e Imprensa, FCA Unicamp Projeto gráfico Maurício Marcelo | Tikinet Diagramação Patricia Okamoto | Tikinet


VisĂŁo Noturna do campus, em foto do aluno Vinicius Mori


Já assistiu o vídeo institucional da Faculdade, com a participação de docentes, alunos e funcionários? Não perca! Está bastante interessante e já foi assistido mais de 13.000 vezes até o momento. Clique na imagem e confira!

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ÍNDICE

JAPÃO DE OLHO NA FCA

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PESQUISADORAS DO LEPE SÃO SELECIONADAS POR ACADEMIA JAPONESA DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

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NUTRIÇÃO EM REVISTA

COMO ENTENDER OS RÓTULOS DOS ALIMENTOS INDUSTRIALIZADOS?

RETRATOS DO BIMESTRE

NOSSA HISTÓRIA COTIDIANA EM IMAGENS

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ESCOLINHA (NÃO SÓ) DE FUTEBOL

PROJETO DE EXTENSÃO COM CRIANÇAS DE LIMEIRA FORTALECE ENSINO E CRIA ESPAÇOS PARA PESQUISA

FCA NA MÍDIA

DIVULGAR PRA QUÊ?

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NUTRIÇÃO EM REVISTA

RÓTULOS DE ALIMENTOS INDUSTRIALIZADOS: O QUE DEVEM INFORMAR E COMO ENTENDÊ-LOS CORRETAMENTE?

A

na Carolina Junqueira Vasques, professora do curso de Nutrição, foi entrevistada pela Revista Absoluta sobre o assunto. Veja o que ela diz sobre informações obrigatórias que os rótulos devem conter e o que elas significam; quais as diferenças entre gorduras totais, saturadas e trans; o que deve ser priorizado ao avaliar e adquirir alimentos; e mais. Quais informações devem conter obrigatoriamente nos rótulos e quais são opcionais? A declaração obrigatória de nutrientes é regulamentada pela RDC n. 360/2003 e estão listadas a seguir:

ll ll ll ll ll ll ll ll ll ll ll ll

Porção Medida caseira %VD: sigla que significa Valor Diário. Valor Energético Carboidratos Proteínas Gorduras Totais Gorduras Saturadas Gorduras Trans Fibra Alimentar Sódio “Outros minerais e Vitaminas”

OBS: “Outros minerais e vitaminas” deverão fazer parte do rótulo obrigatoriamente quando se fizer uma declaração de propriedades nutricionais ou outra declaração que faça referência a estes nutrientes. Declarações opcionais: Podem ser declarados vitaminas e minerais quando estiverem presentes em quantidade ≥ 5% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) por porção indicada no rótulo. A ANVISA incentiva a dispor nos rótulos informações referentes ao conteúdo de colesterol, cálcio e ferro, com o objetivo de aumentar o nível de conhecimento do consumidor, desde que o produto apresente quantidade ≥ 5% da IDR.

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NUTRIÇÃO EM REVISTA

Fonte: Sociedade Brasileira de Nutrição - SBAN

Em virtude do compromisso assumido pelo Brasil de harmonizar os regulamentos técnicos relacionados à rotulagem nutricional no âmbito do Mercosul, foi desenvolvido um documento, publicado pela RDC n. 54, de 12 de novembro de 2012, regulamentando a inclusão de informação técnica complementar (INC) com o objetivo de facilitar a livre circulação dos alimentos, evitar obstáculos técnicos ao comércio e melhorar a informação para o consumidor. A Informação Nutricional Complementar (INC) é o componente opcional da rotulagem nutricional que chama a atenção do consumidor para uma qualidade nutricional específica do alimento. As INCs são divididas em dois grupos: ll 1º grupo: Declarações de propriedades relativas ao conteúdo de nutrientes absoluto: INC que descreve a quantidade de um ou mais nutrientes e/ou valor energético contido no alimento. ll 2º grupo: Declarações de propriedades comparativas: é a INC que compara os níveis do(s) mesmo(s) nutriente(s) e ou valor energético do alimento objeto da alegação com o alimento de referência. O alimento de referência é a versão convencional do mesmo alimento que utiliza a INC comparativa e que serve como padrão de comparação para realizar e destacar uma modificação nutricional relacionada, especificamente, ao atributo comparativo “reduzido” ou “aumentado”. As declarações de propriedades

comparativas dizem respeito ao tamanho da proção do alimento, se o prato preparado é semi-pronto ou pronto para consumo, presença de ácidos graxos ômega 3, ômega 6 e ômega 9, colesterol e açúcares.

Quais as quantidades diárias ideais dos elementos básicos? As quantidades de nutrientes recomendados para consumo diário podem variar de acordo com a idade e com o gênero. As recomendações de energia variam de acordo com a idade, gênero, estatura, peso corporal, e nível de atividade física. Portanto, não há um valor único, seja de energia ou nutrientes que possa ser aplicado de forma coletiva. Quais substâncias podem ser mais prejudiciais em quantidades muito acima/abaixo do normal? A ingestão excessiva ou insuficiente de qualquer nutriente pode vir a trazer malefícios para a saúde. Como exemplo, o consumo de calorias em excesso favorece o desenvolvimento do sobrepreso e da obesidade; o consumo elevado de gorduras trans e saturadas contribui para o desenvolvimento de elevação dos níveis de colesterol sérico e de doença arterial coronariana; o consumo elevado de sódio favorece a elevação dos níveis pressóricos. Por outro lado, o elevado consumo de fibras alimentares relaciona-se à menor inciência de câncer de cólon, à menor incidência

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NUTRIÇÃO EM REVISTA de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Na população adulta, o baixo consumo de cálcio e vitamina D relaciona-se ao desenvolvimento de osteoporose em idades mais avançadas. O que deve ser priorizado ao avaliar e adquirir os alimentos? O rótulo do alimento representa a comunicação entre o produto e os consumidores. Embora todos os aspectos nutricionais sejam de grande importância na escolha de um alimento, de forma prática, podemos priorizar o consumo de alimentos com baixo %VD para gorduras saturadas, colesterol, gorduras trans e sódio; e com alto %VD para as fibras alimentares. Quais as diferenças entre as gorduras totais, saturadas e trans? Como elas agem no corpo? Gorduras totais é a soma de todo o conteúdo de gordura presente no alimento. As gorduras saturada e trans são dois diferentes tipos de gordura. Os ácidos graxos saturados, geralmente sólidos quando em temperatura ambiente, quando consumidos além do recomendado, estão relacionados com alteração no perfil lipídico plasmático: aumento de LDL-colesterol – mau colesterol. Os ácidos graxos trans são gorduras que sofreram uma transformação em sua estrutura molecular durante o processo de hidrogenação catalítica. Essa gordura trans relaciona-se fortemente com o risco cardiovascular, especialmente em razão de elevarem a concentração plasmática de triglicérides, de colesterol total e de LDL-colesterol (o mau colesterol). Além disso, possuem efeito adverso adicional,

na redução dos níveis do HDL-colesterol (o bom colesterol, que atua como fator de proteção para eventos cardiovasculares). Os valores indicados nos rótulos (indicados pela sigla %VD) normalmente são baseados em uma dieta diária de 2.000 Kcal. Como ajustar as quantidades para pessoas que seguem alguma dieta diária diferenciada, ou com restrições? Esses indivíduos com necessidades especiais devem procurar um profissional da área de nutrição, de modo que tenham uma orientação individualizada. Dessa forma, poderão saber o quanto podem consumir de cada nutriente e assim, contabilizá-lo em sua ingestão ao consultar os rótulos. É comum que as pessoas avaliem os produtos por meio das calorias que apresentam, no entanto, ter baixas calorias não significa que o alimento seja bom para todos, não é mesmo? Como avaliar e comparar corretamente a correspondência entre todos os valores? Correto, o alimento pode ter baixa caloria e ter algum outro nutriente não calórico em excesso, como o sódio por exemplo. É interessante escolhermos alimentos com baixo %Valor Diário (VD) para gorduras saturadas, gorduras trans, colesterol e sódio; com alto %VD para as fibras alimentares, gorduras monoinsaturadas e polinsaturadas, que sejam fonte de vitaminas e de minerais como cálcio e ferro por exemplo.

Na rotulagem nutricional o valor energético é expresso em forma de quilocalorias (kcal). Um grama de gordura fornece em média 9 kcal, ao passo que um grama de carboidrato ou proteína fornecem aproximadamente 4 kcal.

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Fonte: Sociedade Brasileira de Nutrição - SBAN

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NUTRIÇÃO EM REVISTA Defina os itens abaixo, citando quais são os alimentos que mais apresentam tais substâncias: ll Valor Energético: É a energia obtida a partir do consumo de carboidratos, proteínas e gordura. Na rotulagem nutricional o valor energético é expresso em forma de quilocalorias (kcal). Um grama de gordura fornece em média 9 kcal, ao passo que um grama de carboidrato ou proteína fornecem aproximadamente 4 kcal. ll Carboidratos: São os diferentes açúcares contidos nos alimentos, cuja principal função é fornecer a energia para as células do corpo, principalmente para o cérebro. Fontes: massas, arroz, açúcar, mel, pães, farinhas, tubérculos (como batata, mandioca e inhame) e doces em geral ll Proteínas: São componentes dos alimentos necessários para construção e manutenção dos nossos órgãos, tecidos e células. Fontes: carnes, aves, peixes, ovos, leite e derivados, e leguminosas ll Gorduras Totais: Referem-se à soma de todos os tipos de gorduras encontradas em um alimento, e são a principal fonte de energia do corpo. ll Gorduras Saturadas: Tipo de gordura presente em alimentos de origem animal e vegetal, geralmente encontra-se solida em temperatura ambiente. São exemplos: carnes, toucinho, pele de frango, queijos, leite integral, manteiga, requeijão, iogurte, coco, óleo de coco e azeite de dendê. ll Gorduras Trans: Tipo de gordura encontrada em grandes quantidades em alimentos industrializados como as margarinas, cremes vegetais, biscoitos, sorvetes, snacks (salgadinhos prontos), produtos de panificação, alimentos fritos e lanches salgados que utilizam as gorduras vegetais hidrogenadas na sua preparação. Seu consumo deve ser muito reduzido, pois nosso organismo não necessita desse tipo de gordura e em grandes quantidades, pode aumentar o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. ll Gorduras Monoinsaturadas: Tipo de gordura encontrada no azeite de oliva extra-virgem, óleo de canola, amendoim, nozes, castanhas e abacate ll Gorduras Poliinsaturadas: Tipo de gordura encontrada nos óleos de girassol, de cártamo, de milho, margarinas não hidrogenadas, nozes e castanhas, peixes de águas frias como cavala, arenque, truta, salmão, peixe-espada, bacalhau e anchova, óleo de canola, de soja, linhaça dourada e chia.

Professora Ana Vasques, do curso de Nutrição, com alunas, durante apresentação de trabalho que investigou associação entre hábitos de vida e estado nutricional dos servidores da FCA

ll Fibra Alimentar: A ingestão de fibras auxilia na manutenção do adequado funcionamento intestinal, e na manutenção de bons níveis glicêmicos e de colesterol. Presente em alimentos de origem vegetal. Fontes: frutas, hortaliças, feijões e alimentos integrais. ll Sódio: Essencial para a regulação do balanço hídrico. Contudo, deve ser consumido com moderação uma vez que o seu consumo excessivo pode levar ao aumento da pressão arterial. Fontes: sal de cozinha e alimentos industrializados: salgadinhos de pacote, molhos prontos, embutidos, produtos enlatados com salmoura.

Acrescente outras informações importantes a serem observadas nos rótulos das embalagens. Outras informaçoes importantes são o prazo de validade e a lista de ingredientes, uma vez que os alimentos podem conter ingredientes que não devem ser ingeridos por portadores de algumas doenças (Ex:fenilcetonúria, não devem comer alimentos com fenilalanina) e de alergias (Ex: Doença celíaca – não devem comer glúten). Ainda sobre a lista de ingredientes, segundo as regras da Anvisa, os ingredientes devem aparecer na tabela nutricional em ordem decrescente. O primeiro é aquele que está presente em maior quantidade no produto e o último, em menor§

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JAPÃO DE OLHO NA FCA

Pesquisadoras do LEPE são selecionadas para academia japonesa de formadores de treinadores

Profa. Larissa Gallati (à esq.) e doutoranda Paula Korsakas, do Laboratório de Estudos em Pedagogia do Esporte (LEPE)

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LEPE

John Bales (presidente do ICCE) e Masa Ito (Diretor da NCDA e professor da Universidade Japonesa de Ciências do Esporte) entregam diplomas para Profª Larissa.

O

Japão sediará os jogos olímpicos em 2020 e já está selecionando e reunindo profissionais de diversos países para discutir aspectos diversos relacionados à formação de treinadores esportivos.

de Formadores de Treinadores), sediada na Nippon Sport Science University (Universidade Japonesa de Ciências do Esporte), para participar de um programa de um ano sobre formação de treinadores esportivos.

Dois destes profissionais são pesquisadoras do Laboratório de Estudos em Pedagogia do Esporte (LEPE) da FCA (Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp): Professora Larissa Galatti, docente do curso de Ciências do Esporte, e Paula Korsakas, doutoranda. Paula já atuou como treinadora de basquete infantil e há 15 anos atua como consultora para projetos e programas esportivos formando treinadores. Ela investiga a formação e atuação de treinadores esportivos, sobretudo aqueles que atuam em organizações não-governamentais, projetos e programas sociais e, portanto, exercem uma função social bastante significativa. A aluna também presta assessoria para o Instituto Reação, projeto de inclusão social por meio do esporte e da educação em comunidades carentes do Rio de Janeiro, o qual revelou Rafaela Silva, judoca campeã olímpica em 2016.

A NCDA é chancelada internacionalmente pelo ICCE – International Council for Coaching Excellence (Conselho Internacional de Excelência em Treinamento) e totalmente financiada pelo programa Sport for Tomorrow, iniciativa liderada pelo governo japonês e considerado como parte do legado das olimpíadas de 2020.

As duas foram escolhidas pela NCDA – Nippon Coach Developer Academy (Academia Japonesa

No momento em que o governo brasileiro desfinancia a ciência nacional, através de cortes dramáticos, o Japão – um dos países que mais produz conhecimento avançado e tecnologia de ponta em diversas áreas – faz o contrário e investe em cientistas brasileiros. Este é um fato que merece atenção. “É muito gratificante, neste momento muito difícil que estamos vivendo em nosso país, ter a oportunidade de ser inteiramente financiado por um órgão internacional que está olhando para a ciência produzida pelo Brasil na área dos esportes. É uma forma muito importante de reconhecimento”, aponta Larissa. A professora informa que este único financiamento externo

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LEPE tem gerado diversos frutos para atividades de ensino, pesquisa e extensão na universidade e, portanto, “traz benefícios não somente para a Unicamp, mas para a comunidade externa com a qual trabalhamos”. Como uma das tarefas propostas pela NCDA, Paula Korsakas pretende justamente desenvolver um programa de formação de coach developers (formadores de treinadores) em 2018, para todos os pesquisadores integrantes do LEPE, implementando assim uma filosofia e pedagogia de formação de treinadores que deverá orientar as futuras iniciativas do laboratório, como cursos de extensão e workshops destinados a treinadoras e treinadores esportivos. “O LEPE, hoje, se destaca como um dos mais importantes centros produtores de conhecimentos sobre Pedagogia do Esporte no país, e já conquistou reconhecimento internacional. Além de sua inquestionável contribuição científica, nosso laboratório tem um potencial gigantesco para contribuir também para melhorar o esporte no campo prático, investindo na qualificação dos treinadores esportivos. Nosso desafio nessa área é sermos capazes de traduzir a produção científica em ferramentas de

trabalho para o treinador, desenhando cursos de formação que desenvolvam habilidades e comportamentos que o técnico carregue consigo para os campos, quadras, piscinas e pistas. A ambição desse programa é fazer de nossa equipe de pesquisadores uma grande equipe de coach developers, compartilhando os aprendizados que eu e Larissa tivemos o privilégio de construir na NCDA”, revela Paula. Os grupos, escolhidos anualmente pelos japoneses, são bastante seletos e compostos por 12 especialistas de diferentes nacionalidades, todos com vasta experiência acadêmica, prática e profissional em treinamento esportivo – o intuito do país é aprender com as experiências internacionais e imprimir uma identidade global à NCDA. No curso, há etapas de pré-formação online e, a cada semestre, os participantes vivenciam uma semana de treinamentos intensivos em Tóquio, hospedados na universidade, trocando conhecimentos e aplicando o que aprenderam durante o processo de formação. Um dos objetivos principais é discutir como transformar pesquisas sobre treinadores e treinamento esportivo em melhores aulas e estratégias para formação de futuros profissionais da área. Após concluírem os treinamentos presenciais,

Profª Larissa Galatti apresenta resultados de pesquisas sobre treinadores esportivos no Brasil para profissionais de outros países, no Japão

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LEPE

Paula Korsakas fala sobre qualidade em programas de desenvolvimento profissional para treinadores, no Japão.

os participantes voltam aos seus países de origem, aplicam o que aprenderam, documentam tudo e então concluem o curso, recebendo uma diplomação nacional e internacional. Larissa afirma que o processo é extremamente proveitoso. “Pudemos acompanhar aulas de modalidades diversas, observar e discutir como os treinadores japoneses atuam, além de entrar em contato com profissionais e conhecer pesquisas e iniciativas desenvolvidas na Suécia, Noruega, Inglaterra, Estados Unidos, Finlândia, Canadá, Zambia...são trocas e aprendizados vitais para avançarmos na teoria e prática de formação de treinadores no Brasil”

Formação do treinador esportivo: Japão, Brasil e FCA Os japoneses também aprendem muito com este investimento. A professora explica que, como a cultura japonesa tem uma tradição de muito respeito pela hierarquia e, às vezes, de pouco diálogo, os processos de treinamento esportivo no Japão podem, ocasionalmente, carregar ranços muito tradicionais como, por exemplo, o entendimento de que o treinador é

soberano, de que ele manda e os outros sempre obedecem, sem questionamentos. Larissa aponta dois casos muito sérios que ocorreram no basquete e no judô japonês e foram divulgados pela mídia em 2013. “Isso tudo começou a gerar uma reflexão muito forte no país, sobre quem é o treinador, quem forma este profissional, e o entendimento de que isto precisa ser discutido mesmo nos mais altos níveis esportivos”, coloca a professora. Um dos objetivos da NCDA, segundo ela, é mudar esta cultura do treinador como soberano e desenvolver uma pedagogia centrada no atleta, na qual o treinador é um mediador do processo pelo qual o atleta passa durante sua vida esportiva, inclusive no altíssimo rendimento. Larissa afirma que a discussão sobre a formação do treinador esportivo está acontecendo mundialmente. “São milhões de pessoas exercendo a profissão, que tem uma função educativa muito importante, muitas vezes sem uma formação específica. Foi por isso que surgiu, mais recentemente, a figura do coach developer”.

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LEPE No Brasil, a profissão é regulamentada, mas pouco investigada cientificamente. Quem forma treinadores são professores universitários de educação física ou ciências do esporte, ou ainda, muitas vezes, um treinador experiente que prepara iniciantes na profissão. Fora do país, o treinador constrói sua formação em cursos de federações esportivas. “Muitas vezes elas convidam professores universitários ou treinadores experientes para oferecer cursos”, esclarece. No geral, conforme pesquisas do laboratório desenvolvidas também pelos Professores Alcides Scaglia e Leandro Mazzei, as federações esportivas ainda investem pouco na formação de treinadores. Seria importante investir mais para complementar a formação recebida na universidade, já que esta também não dá conta, completamente, da parte prática da formação profissional dos graduandos. Em pesquisa publicada em 2016, Larissa (que também atuou profissionalmente como treinadora de equipes de base no Brasil e na Espanha) identificou a escassez de estudos acadêmicos sobre a formação dos treinadores esportivos no Brasil e começou

então a se dedicar ao tema juntamente com uma rede composta por pesquisadores de São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul e Paraná, além de parceiros internacionais, do Canadá, Reino Unido, Portugal e Espanha. Atualmente ela oferece na FCA a disciplina eletiva ‘Treinador Esportivo’, criada há três anos, inédita no país e disponível para os alunos do último ano do curso, os quais já estão se direcionando para o mercado de trabalho. As aulas – que agora abordam inclusive discussões desenvolvidas durante a experiência da docente no Japão – atraem a atenção de muitos estudantes que querem conhecer mais sobre a atividade profissional do treinador esportivo ou planejam seguir esta carreira. Além das aulas da graduação, as discussões abrangem atividades de pesquisa e extensão. O Laboratório de Estudos em Pedagogia do Esporte abriu uma linha de pesquisa sobre treinador esportivo em 2015, e está construindo uma cadeia de profissionais e pesquisadores do tema.

Prof. Alcides Scaglia, Profª Larissa Galatti (sentados) e equipe do LEPE durante o lançamento dos livros sobre pedagogia do esporte e treinador esportivo. No canto direito, o Prof. Luciano Mercadante, coordenador do LABIN – Laboratório de Instrumentação Biomecânica.

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LEPE LEPE: o lugar dos especialistas em pedagogia do esporte Alcides Scaglia, especialista em pedagogia do esporte e pedagogia do jogo, fundou e coordena o Laboratório desde 2010. Juntos, Larissa e Scaglia têm lançado livros sobre o assunto (http://bit. ly/2Af5ilA), orientado vários projetos de mestrado e doutorado na área, e publicado artigos científicos sobre diversos aspectos relacionados à pedagogia do esporte e do jogo e formação do treinador esportivo. O trabalho intitulado Sport Coaching as a Profession in Brazil: An Analysis of the Coaching Literature in Brazil From 2000-2015, por exemplo, teve como objetivo apresentar uma visão geral da produção científica brasileira sobre treinamento esportivo e encontrou um total de somente 82 artigos produzidos sobre o assunto num período de 15 anos. A atuação dos docentes e alunos ligados ao laboratório deve colaborar para o aumento desta produção. Outra doutoranda do laboratório, Yura Sato, está investigando a formação do treinador esportivo dentro do currículo da FCA e, como parte de sua pesquisa, está oferecendo, juntamente com as atléticas da Faculdade, um curso livre de formação de treinadores esportivos. Os pesquisadores do LEPE também concluíram, há dois meses, o projeto “Desenvolvimento profissional de treinadores de jovens: análise das ações formativas de um clube de futebol de elite”, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Eles investigaram quem são e como se formaram os treinadores contratados por este clube de referência. Mapearam como eles aprendem, quais suas trajetórias de vida, como trabalham tecnica e taticamente, como interveem no clube, e quais suas preocupações com os atletas. Com o intuito de socializar os resultados das pesquisas e aproximar o laboratório de potenciais parceiros, o laboratório periodicamente realiza o evento ‘LEPE de Portas Abertas’. O evento é uma atividade de extensão e a ideia é, portanto, aproximar-se da própria cidade de Limeira e outros municípios da região. Para mais informações sobre as próximas edições do evento, acompanhe a página do lab nas mídias sociais. (https:// www.facebook.com/lepeunicamp)

Veja outras publicações do LEPE Formação de treinadores esportivos: orientações para organização das práticas pedagógicas nos cursos de bacharelado em educação física http://bit.ly/2Ad9jXo O ensino da tática e da técnica no futebol: concepção de treinadores das categorias de base http://bit.ly/2jq4gss Livros ‘Multiplos Cenários da Prática Esportiva’ e ‘Desenvolvimento de Treinadores e Atletas’ http://www.editoraunicamp.com.br/ busca.asp Texto PNUD (ONU) do Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano no Brasil, sobre Esporte de Alto Rendimento e Desenvolvimento Humano http://bit.ly/2iXYRt2 Sport Coaching as a Profession in Brazil: An Analysis of the Coaching Literature in Brazil From 2000-2015 http://bit.ly/2zHQUT7 Coaches development in Brasil: structure of sports organizational programmes http://bit.ly/2hXCaEy Coaches’ perceptions of youth players’ development in a professional soccer club in Brazil: paradoxes between the game and those who play http://bit.ly/2k1TXyz Professional competencies in tennis coaching http://bit.ly/2zuasq1 Theoretical and pratical knowledge for table tennis coaches development in a sports science bachelor’s degree http://bit.ly/2Bq9oop

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LEPE Mulheres treinadoras A Professora Larissa chama atenção para o fato de que, nas olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, apenas 11% dos treinadores credenciados eram mulheres e que a profissão ainda tem um ambiente majoritariamente masculino. “Ainda temos muito a conquistar nesta área. Há países que têm políticas públicas para inclusão de mulheres nas comissões técnicas – o Canadá, por exemplo. Então está na hora de jogarmos o holofote para cima desta questão”.

É comum meninas terem que praticar seu esporte favorito em equipes masculinas por falta de programas esportivos que destinem, na sua grade, horários para turmas femininas. Portanto, é possível supor que a falta de treinadoras mulheres no Brasil é um dos resultados da falta de oportunidades das meninas em praticar esporte desde cedo, somada às dificuldades que as meninas enfrentam ao longo da adolescência e vida adulta para conciliar esporte com os outros papeis sociais atribuídos a elas por uma sociedade patriarcal. Além disso, faltam modelos femininos para que elas aspirem um dia serem treinadoras, num universo em que essa função é dominada por homens.

Ela lembra que, de 1965 a 1979, houve no Brasil uma legislação que proibia certas modalidades esportivas para mulheres (como lutas e futebol, por exemplo) e que, portanto, as barreiras que ainda existem hoje, inclusive culturalmente, têm origens históricas. “Imagine você, uma proibição por lei! E algumas pessoas ainda falam

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que o esporte feminino é menos desenvolvido porque as mulheres têm menos interesse…será mesmo? Se havia até uma lei proibindo a participação feminina em certos esportes, imagina o que isso não gerou na cabeça das pessoas, no imaginário popular... Foram decisões tomadas por uma sociedade machista que acabaram gerando várias consequências danosas. Até hoje muitas mães preferem colocar as meninas no balé do que no futebol, por exemplo...”, alerta a professora. Atualmente, Paula é também ativista pela igualdade de gênero no esporte. Em 2014, ela participou do Global Sports Mentoring Program, iniciativa do Departamento de Estado dos EUA em parceria com a EspnW, com o intuito de construir uma rede internacional de lideranças para atuar em prol do empoderamento feminino pelo esporte. A doutoranda acredita que, apesar de estarmos no século XXI, o cenário esportivo para meninas e mulheres é bastante desigual. “É comum meninas terem que praticar seu esporte favorito em equipes masculinas por falta de programas esportivos que destinem, na sua grade, horários para turmas femininas. Portanto, é possível supor que a falta de treinadoras mulheres no Brasil é um dos resultados da falta de oportunidades das meninas em praticar esporte desde cedo, somada às dificuldades que as meninas enfrentam ao longo da adolescência e vida adulta para conciliar esporte com os outros papeis sociais atribuídos a elas por uma sociedade patriarcal. Além disso, faltam modelos femininos para que elas aspirem um dia serem treinadoras, num universo em que essa função é dominada por homens”. No universo do alto rendimento, esta questão começou a ser mais equilibrada no momento em que o mesmo número de medalhas foi oferecido tanto para o esporte feminino quanto masculino, mas mesmo assim o número de mulheres treinadoras ainda é menor. Entretanto, Paula salienta que, “tanto atletas como treinadoras, reportam receber salários menores em comparação com os homens, mostrando que a desigualdade não está só na proporção de homens e mulheres atuando no esporte, mas nas condições oferecidas para ambos, reforçando o entendimento de que o cenário esportivo atual ainda é muito machista”§

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LEPE

Perguntamos para a Profª Larissa o que é necessário para ser um bom treinador(a) esportivo(a). Veja o que ela diz: “Conhecimento técnico não basta. O treinador é, antes de tudo, um educador. Ele tem uma convivência próxima, frequente e intensa com as pessoas, durante muitos anos, e precisa de uma formação específica para assumir esta função. É preciso discutir como formamos este profissional. Como educar educadores para formar pessoas por meio do esporte? Esta é uma questão vital sobre a qual temos que nos debruçar” “No LEPE, entendemos o esporte como um fenômeno sociocultural, portanto movido por pessoas. O treinador é um agente de desenvolvimento humano. É uma pessoa que facilita o percurso de outras pessoas pelo esporte, atividade que compreende trocas humanas intensas” “O treinador é alguém que aprende por toda a vida e com todos os aspectos da vida. Carregamos as experiências da vida para a prática profissional e vamos continuamente aprendendo com ela” “Através de nossos estudos que investigam como alguém se torna treinador, vimos que são muito importantes as experiências familiares na infância, com esporte; o aprendizado e as redes de trocas e relacionamentos com outros treinadores, a capacidade de refletir e aprender com sua própria atuação e prática” “Podemos pensar o treinador como aquele que ganha ou que perde, mas isso é muito limitado, principalmente para o esporte de alto rendimento. Às vezes, o treinador não é campeão, mas forma bons atletas. Se pensarmos no esporte profissional, ser um treinador campeão é importante, mas mais importante ainda é como os atletas se referem a ele – ‘este treinador mudou a minha vida’; ‘ele se preocupava comigo, com a minha família, com meu desenvolvimento pessoal’ ... Treinadores que possuem uma preocupação e um cuidado legítimo com o desenvolvimento pessoal e profissional dos atletas são aqueles que serão lembrados por toda vida. Os treinadores focados em resultados, somente, não tendem a ser tão importantes na vida dos atletas e nem sempre conseguem se prolongar no cargo” “Treinadores das categorias de base são aqueles que revelam atletas adultos e são responsáveis, principalmente, por manter as pessoas no esporte. O bom treinador de iniciação é capaz de despertar o prazer e o engajamento dos atletas, os quais podem então tornar-se tanto atletas de alto rendimento como espectadores críticos, árbitros, gestores que entendem realmente do esporte. Portanto, na iniciação, o bom treinador é aquele que se preocupa com as pessoas e mantém o engajamento; e no alto rendimento é aquele que se preocupa com as pessoas e proporciona o desenvolvimento profissional dos atletas profissionais” “O treinador de base precisa entender muito sobre jogos para a iniciação esportiva e sobre como a criança percebe o esporte. Tem que entender que o esporte é um fenômeno humano: é necessário adaptar o esporte para as pessoas e não somente as pessoas para o esporte. O esporte da criança, do adulto, do amador e do profissional, são coisas diferentes e o treinador de base deve estar consciente disso”

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RETRATOS DO BIMESTRE Nossa história cotidiana em imagens

Prof. João Guilherme Leite traz alunos da escola Cônego Manuel Alves para o Cine Vagalume. O professor criou o programa ‘A escola vai ao cinema’ após passar a frequentar a sala de cinema na FCA.

Visão noturna do campus

Professores do curso de Administração recebem docentes da Universidad Nacional del Altiplano e estreitam possiblidades de parceria para intercâmbios com o Peru.

Equipe do SB Lab – Laboratór Sustentáveis, a qual organizou Smart Cities.

Público apresenta trabalhos durante o IV Seminário Nacional – População, Espaço e Ambiente, que ocorreu neste bimestre nas dependências da Faculdade.

Prof. Márcio Belli aplica prova final para o curso de Administração.

Aluna de Administração Pública balho final do semestre


Professores e alunos do curso de Administração Pública em novembro/2017

Visão noturna do campus em novembro/2018

Alunos do curso de Nutrição preparam oficinas sobre alimentação saudável para alunos de escola municipal de Limeira

em novembro/2018

rio de Negócios o 1º Seminário

a durante apresentação de tra-

Alunos do curso de Nutrição preparam oficinas sobre alimentação saudável para alunos de escola municipal de Limeira

Organização estudantil Liga do Mercado Financeiro traz para a Faculdade palestra sobre finanças pessoais, de Marcia Dessen, colunista da Folha de S. Paulo.


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ALUNOS DA UNICAMP E CRIANÇAS DE ESCOLA MUNICIPAL DE LIMEIRA EM AULA DE PROJETO DE EXTENSÃO CRIADO PELOS GRADUANDOS DE CIÊNCIAS DO ESPORTE

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PROJETO DE EXTENSÃO COM CRIANÇAS DE LIMEIRA PROPORCIONA ESPAÇO EDUCATIVO, FORTALECE ENSINO E CRIA OPORTUNIDADES DE PESQUISA

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uas vezes por semana, no período da tarde, dezenove meninos e quatro meninas com idades entre 09 e 12 anos, de bairros periféricos de Limeira, se encontram a um grupo de oito graduandos de diferentes cursos da Unicamp para participar de aulas de futebol – e aprender, na verdade, muito mais do que técnicas, táticas e gestos motores próprios do esporte. A Escolinha de Futebol nasceu de iniciativa dos próprios alunos da Faculdade, os quais sentiam necessidade de fortalecer sua formação através da criação de um espaço onde fosse possível colocar em prática teorias e metodologias aprendidas durante as aulas e, ao mesmo tempo, exercer o relevante papel social da extensão

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universitária: colaborar para a redução de problemas específicos criados por situações de exclusão. Bruno Santana, graduando do curso de Ciências do Esporte e um dos criadores da escolinha, afirma que o principal objetivo do projeto não é desenvolver atletas profissionais, mas sim, “trabalhar o esporte juntamente com aspectos históricos, humanísticos, culturais, educacionais e valores de cidadania”. Ele explica que cada aula tem um objetivo esportivo (técnico ou tático) e outro cultural-histórico-educacional e que são trabalhadas questões como a importância do trabalho colaborativo, igualdade de gêneros, respeito dentro e fora de campo, cooperação, esforço e amizade.

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Aprendendo muito mais que o jogo: através das aulas de futebol são trabalhados valores e conceitos como respeito ao próximo, a importância da dedicação, do esforço e do trabalho colaborativo, a importância da concentração, a coragem para enfrentar o desconhecido e as próprias limitações; e o valor da amizade e do companheirismo.

O aluno afirma que o objetivo é que a escolinha se transforme e se consolide como uma nova organização estudantil da FCA e passe a ser uma escola de esportes, incluindo diferentes modalidades e atingindo um número maior de crianças e adolescentes. “O retorno que as crianças nos dão é muito gratificante. O contato com elas, a troca de experiências e a relação de amizade e respeito que conseguimos desenvolver através das aulas é incrível”. Bruno e Scaglia destacam a importância deste projeto para o aprimoramento do ensino-aprendizado e melhoria da própria formação profissional dos alunos de Ciências do Esporte, já

Cada aula tem um objetivo esportivo (técnico ou tático) e outro cultural-histórico-educacional e que são trabalhadas questões como a importância do trabalho colaborativo, igualdade de gêneros, respeito dentro e fora de campo, cooperação, esforço e amizade.

Desde o início do planejamento do projeto, no final de 2016, os alunos trabalharam para estabelecer parcerias e conseguir recursos para compra de materiais esportivos ou doações de equipamentos. “Vendemos pipoca de leite ninho na Faculdade e conseguimos ajuda voluntária de colaboradores”, conta Bruno. Mais recentemente, com o apoio do Prof. Alcides Scaglia, coordenador do Laboratório de Estudos em Pedagogia do Esporte (LEPE), ganharam um edital da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp e foram contemplados com um valor que permitirá a compra de alguns materiais e o pagamento do aluguel do campo por um ano.

que o curso ainda não conta com instalações próprias adequadas devido à paralisação do processo de construção do centro esportivo da Faculdade. “A perspectiva que temos no momento é, ao fim deste período de um ano, ganhar outros editais para sermos capazes de continuar mantendo o projeto, já que temos de pagar aluguel, pois falta espaço próprio para desenvolver estas iniciativas. A importância de termos projetos de extensão ligados ao ensino é justamente a possibilidade dos alunos aplicarem e testarem as teorias, propostas metodológicas e práticas aprendidas durante a graduação nas vivências com crianças em diferentes idades e, portanto, em diferentes fases do desenvolvimento cognitivo. Isto acarreta uma perspectiva

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O jogo tem que se associar à aprendizagem, ao trabalho e não pode ser predominantemente recreação. Eu defendo o jogo que se associa ao trabalho, que exige dedicação, comprometimento, atitude, disciplina, entrega. E isso acontece através do embricamento entre o ambiente de jogo e o ambiente de aprendizagem. Na escolinha, isto se torna possível.

de formação profissional muito mais adequada, já que pressupõe um melhor controle da proposta metodológica”, diz o professor. A escolinha de futebol também está proporcionando um ambiente de coleta de dados para pesquisa conjunta do LEPE em parceria com o Laboratório de Instrumentação Biomecânica (LABIN, coordenado pelos Professores Milton Misuta e Luciano Mercadante).

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A pedagogia do jogo: dedicação, entrega, comprometimento e trabalho O Prof. Alcides Scaglia estuda a metodologia denominada pedagogia do jogo há 25 anos. Para ele, todo jogo é educativo por natureza e qualquer criança que joga está aprendendo. O jogo é muito mais que recreação e o prazer daquele que joga não deve ser a medida para avaliar se a metodologia está sendo aplicada corretamente – o prazer é uma consequência do jogo. “Esta metodologia se pauta na aprendizagem e aprendizagem exige trabalho. Na perspectiva de um pedagogo que uso como referência, Celestin Freinet, o jogo tem que se associar à aprendizagem, ao trabalho e não pode ser predominantemente recreação. Eu defendo o jogo que se associa ao trabalho, que exige dedicação, comprometimento, atitude, disciplina, entrega. E isso acontece através do embricamento entre o ambiente de jogo e o ambiente de aprendizagem. Na escolinha, isto se torna possível”, afirma o professor. Para mais informações sobre o projeto, entrar em contato via redes sociais na página “Projeto Social Escolinha de Futebol UNICAMP limeira” ou @psunicamplimeira §

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FCA NA MÍDIA

DIVULGAR PRA QUÊ?

Como instituição financiada com recursos públicos, é dever da Faculdade divulgar os resultados das ações de ensino, pesquisa e extensão realizadas por seus professores e alunos, bem como aquelas realizadas por seus funcionários. O site, a fanpage e o Abre Aspas têm como objetivo colaborar para o cumprimento desse dever, assim como contribuir para a construção da identidade da Faculdade e zelar por sua imagem perante a opinião pública.

O Pint of Science é um festival internacional anual de divulgação científica, que nasceu na Inglaterra em 2013 e já foi realizado também em várias brasileiras – inclusive em Piracicaba, nossa vizinha, no início deste ano. Para 2018, a FCA e a Faculdade de Tecnologia estão organizando conjuntamente a 1ª edição do evento em Limeira. Serão três noites (14, 15 e 16 de maio de 2018), dois bares por noite e um total de 12 palestrantes – docentes das duas Faculdades e de outras instituições convidadas. A ideia é promover uma oportunidade para que cientistas e público interajam de maneira próxima e descontraída. Fiquem atentos às próximas divulgações e não perca esta oportunidade!

Equipe organizadora da 1ª Edição do Pint of Science Limeira.

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