ARQUI #12

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N°12 | 1 / 2019

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Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo



Universidade de Brasília Reitora: Márcia Abrahão Moura Vice-reitor: Enrique Huelva Decano de extensão: Olgamir Amancia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB Diretor: Marcos Thadeu Queiroz Magalhães Vice-diretora: Cláudia da Conceição Garcia ARQUI é uma publicação semestral da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UnB Editor: Marcos Thadeu Queiroz Magalhães Equipe Editorial Coordenação Editorial: Maria Cecília Filgueiras Lima Gabriele Coordenação de Ensaio Teórico: Ana Elisabete de Almeida Medeiros Coordenação de Extensão: Carlos Luna Coordenação de Diplomação: Cynthia Nojimoto e Paulo Roberto Carvalho Tavares Estagiários: Marcos Cambuí, Amora de Andrade e Leonardo Nóbrega Comissão de Diplomação: Cynthia Nojimoto, Neusa Cavalcante e Maria Claudia Candeia Comissão de Ensaio Teórico: Ana Paula Gurgel, Carlos Luna e Maria Claudia Candeia Diagramação: Marcos Cambuí Projeto Gráfico: Gabriela Bílá (Novo Estúdio Brasília) e Luiz Eduardo Sarmento com adaptações de Marcos Cambuí Revisão Ortográfica: Amora Andrade Imagens da Capa e Seções: Fotografias do Balé Triádico da Bauhaus com intervenções gráficas de Marcos Cambuí Versão Digital: https://issuu.com/fau.unb/docs/arqui12 Impressão: Gráfica Coronário

© Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB Universidade de Brasília, Instituto Central de Ciências – ICC Norte, Gleba A, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília DF, Brasil 70904-970 tel. (+55) 61.3107.6630 fax. (+55) 61.3107.7723 http://www.fau.unb.br/ n° 12 1/2019 As opiniões expressas nos artigos desta revista são de responsabilidade exclusiva dos autores. www.facebook.com/arquirevistadafauunb revistadafauunb@gmail.com instagram: @revistaarqui


editorial

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esta edição a Revista Arqui homenageia a Bauhaus em seu 100º aniversário. Nossas páginas foram inspiradas pelo Balé Triádico, com reflexões do Professor Eduardo Pierrotti Rossetti. Os ensaios deste semestre trazem um amplo espectro de temas que permeiam o local e o global, desde detalhes de janelas às questões urbanas. Assim também ocorre com a produção dos Trabalhos de Conclusão de Cursos, que desvelam olhares diferentes na complexidade de objetos estudados e desenvolvidos. A professora Neusa Cavalcante abre a edição com um texto sobre a Geometria Construtiva, tão importante para a formação de nossos alunos. Corre à boca miúda que os alunos saem com um “novo olhar” depois de desfrutar dos belos exercícios ali propostos. E uma nova seção é inaugurada, a “Arqui entrevista” com o eterno professor Nonato Veloso entrevistado pela nossos alunos Amora Andrade, Léo Nóbrega e Marcos Cambuí. Uma estreia com o pé direito!! Temos ainda as peripécias do “Pé na Estrada” e outras notícias da nossa FAU. Vamos à Arqui 12!

A equipe editorial



sumário pesquisa ensaio

20 Representação gráfica em urbanismo Angelina Guedes Trotta 21 Êxodo: Uma análise espacial da situação dos imigrantes venezuelanos na cidade de Boa Vista/RR. Anne Scandelari Raupp 22 Retratos da Cidade: Intervenções temporárias no espaço público Clara Alvares Camargo

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Metabolismo 1960: do conceito à matéria Clara Rezende Porto

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Significância Cultural da SQS 308 Luiza Peregrino Cunha

27 editorial 10 Geometria construtiva: de olho na criatividade Neusa Cavalcante 14

Pedagogia da utopia Rodrigo Mendes de Souza

Mulher e o direito à cidade: uma investigação sobre a adequação dos espaços e mobilidade urbanos com foco nas trabalhadoras domésticas de Brasília/DF Marcella Menezes Vaz Teixeira 28 De fora pra dentro, de dentro pra fora: Um panorama histórico da janela residencial Mariana Fernandes das Neves 29 Da terra à mesa: Territórios e comunidades produtivas Monique Gomes Nogueira 30 O museu do futuro Pedro Vitor Almeida Silva 32 Arquitetura Social: Experiências em Assistência Técnica Sarah Lima Cirino

diplô destaque

39 repensar a escola classe Kamila Venancio Moreira 40 ccol - complexo cultural orla livre Karoline de Sousa Cunha 42

habitar o campo: uma residência no lago oeste Marcia Del Lama

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lixo:compostagem e agricultura urbana no plano piloto de brasília Tainá Wanderley


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+ 48 cidade e natureza: urbanização em áreas de recarga de aquíferos Aline da Nóbrega Oliveira 49 a nova biblioteca pública de Brasília Angela Viana Pereira 50 modifica: eixo de produção e comércio de modas do df Bárbara Veras Rodrigues Queiroz 51 os movimentos sociais no direito à cidade: desenho coletivo dos espaços livres públicos no assentamento MTST em Nova Planaltina Cristina Nakamura Araujo

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duna – complexo praiano Danielle Mota 53 google brasília - em busca do conforto do usuário Débora Guedes Anacleto 54 centro gerontológico sensorial: atenção ao bem-estar físico e psicológico dos idosos Deyse Chagas Mendes 55 terminal de integração hidroviária Douglas Dornela Menezes 56 espaço do nascer: casa de atendimento à gestante e ao parto humanizado no hospital regional de ceilândia

viveiro caliandra Laura Santos Siqueira 64 parque aqua lakeshore Layane Christine Vieira 65 abrigo para pessoas em situação de rua Letícia Drummond de Oliveira Magalhães

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sambódromo da ceilândia Lucas Rodrigues Araújo

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espaços públicos modulares para crianças Luísa Viana Luniere de Azevedo 68 espaço iso photo e arts Maria Clara Viana Licursi 69 projeto quatro patas: projeto arquitetônico de abrigo pra animais abandonados Maria Eduarda Moll Chaves 70 requalificação urbana ao longo do metrô de ceilândia Maria Emília Monteiro

71 cw3 - coworking w3 sul Marina da Silva Ribeiro 72 “ei! tem alguém aí?”: arquitetura cenográfica Mariana Figueiredo Sobral Torres 73

novo zoo bsb Mario Sergio Facundes Taveira

encontros

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dorothy stang de baixo pra cima: modelo participativo e sustentável para uma quadra da ocupação

Estela Hirakuri 57 edifício de uso misto para locação social Luís Fernando Lucena

Mateus Marques Rangel

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76 espaço da moda Vanessa Silva Botelho 77 centro de intercâmbio cultural brasil – japão Vinícius Faustino de Oliveira Santos 78 cer - centro especializado em reabilitação visual, físico, auditivo

modhaus - modelo de habitação para autoconstrução sustentável Gabrielle Monteiro Teixeira

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permacultura urbana e habitação social Giulia Gheno

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emaa – escola municipal alice attuá Hiagson Souza de Jesus 61 intervenção no elefante branco: integrando a cidade com o parque

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eixo universitário do plano piloto Rachel Benedet de Sousa Martins

Yasmin Rodrigues da Costa

Pé na estrada: Expo Sampa Júlia Lopes Soares

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arquitetura, Urbanismo e seus nexos Caio Frederico e Silva

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palestra de Alexandre Brasil Maria Claudia Candeia

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workshop “Os espaços da FAUFRGS” Luciana Saboia e Paola Ferrari

entrevista 90

arqui entrevista: nonato veloso Amora de Andrade, Leonardo Nóbrega e Marcos Cambuí

homenagem

Joaquim da C. Bastos Júnior

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Larissa Carvalho de Paula

Eduardo Pierrotti Rosseti

menu brasília - espaço gastronômico e cultural

balé Triádico: trinômio do quadrado perfeito, ou não...


No final do século XIX, em consequência das transformações impostas pela Revolução Industrial, as artes e a arquitetura foram sacudidas por uma polêmica. De um lado, estavam os defensores do movimento Arts and Crafts (1850-1914) que, liderado por William Morris, rejeitaram o modo industrial de produção, colocando em dúvida a qualidade estética de seus produtos; de outro, aqueles que viam na industrialização uma forma de promover a produção em escala e, consequentemente, o barateamento dos preços, permitindo que mais pessoas adquirissem os produtos. Após considerar a máquina uma inimiga, Morris, influenciado pelos ideais socialistas, convenceu-se de que seria impossível produzir de forma manufatureira objetos que pudessem ser acessíveis a todos. Como desejava uma arte “pelo povo e para o povo” e rejeitava a ideia de produzir para “o luxo imundo dos ricos”, em seus últimos discursos, o artista inglês admitiu que “[...] devíamos tentar tornar-nos senhores das nossas máquinas e usá-las como instrumentos para conseguir melhores condições de vida”. (Apud PEVSNER, 1962, p. 27) O desafio proposto por Morris, de produzir um design adequado à produção em escala, serviu de estímulo para a criação, em 1919, da Staatliches Bauhaus, na cidade de Weimar, Alemanha, que buscou neutralizar os conflitos entre o artesanato e a indústria emergente. Durante o Vorkurs -, curso preparatório que durava cerca de 4 anos, davase ênfase ao desenho, à pintura, à escultura e à elaboração de maquetes e protótipos, ou seja, às disciplinas que implicavam o uso das mãos e o desenvolvimento da criatividade. Somente após essas práticas, eram oferecidos os conteúdos teóricos, pois acreditava-se que os alunos não deveriam ser, de início, influenciados pelas obras do passado. Na época, a experiência desenvolvida no âmbito da Bauhaus, precocemente abortada pelo regime nazista, foi, sem dúvida, uma grande inspiração para o ensino das artes e da arquitetura em todo o mundo. Assim, no rastro das ideias da escola alemã, foi criado, em 1962, na Universidade de Brasília, o Instituto Central de Artes (ICA), sob a coordenação do arquiteto e professor Alcides da Rocha Miranda. Seguindo as diretrizes da Bauhaus, no ICA, que reunia os ensinamentos preparatórios para os cursos profissionais de artes e arquitetura, com exceção de História da Arte I e II, a maior parte do tempo era dedicada aos trabalhos de expressão artística – desenho, pintura, escultura, gravura em metal, xilogravura, artes gráficas, fotografia – e, portanto, à criação, no sentido mais abrangente. No final da década de 1980, o ex-aluno do ICA Jayme Kerbel Golubov, criou, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-UnB), a disciplina Geometria Construtiva, que buscou, de certa forma, recuperar o instigante processo de ensino-aprendizagem das artes praticado nos primórdios da UnB. Assim, a Geometria Construtiva, carinhosamente chamada pelos alunos de GC, é “filha” do ICA e, por conseguinte, “neta” da Bauhaus. A ideia do saudoso arquiteto e professos Golubov, conforme ele mesmo esclareceu, não era ensinar geometria propriamente dita e sim estimular a construir a partir dela, daí o nome Geometria Construtiva. Ao invés de sobrecarregar os alunos com teorias e construções geométricas, dava-se preferência às práticas de atelier, em que os conceitos eram apreendidos de acordo com as necessidades impostas pelas construções artísticas. Ao assumir a referida disciplina no final da década de 1990, e com o foco em uma realidade dominada pela era digital, foram introduzidas algumas modificações, entre as quais as estratégias voltadas ao desenvolvimento da acuidade tátil-visual, da coordenação motora fina e, principalmente, da criatividade. Como pretexto para o exercício fundador, optou-se pelo uso da natureza, reconhecida como fonte privilegiada de conhecimento para o fazer artístico.


Geometria Construtiva: de olho na criatividade¹ Neusa Cavalcante


Com seus padrões geométricos, suas formas de organização, suas cores e texturas, a natureza é, como disse Antoni Gaudí, um livro aberto para quem quiser lê-lo. Segundo suas palavras: “[...] não invente soluções, mas observe como a natureza se organiza [...] Se a natureza é um feito do Criador e as formas arquiteturais derivam da natureza, isto significa que o Criador está sendo continuado”. (Apud PUIG, 2011, p. 25, 27) ² As novas estratégias adotadas em GC decorreram de uma reflexão sobre as práticas pedagógicas adequadas ao atual momento histórico, definido por Zygmunt Bauman (2001)³ como “modernidade líquida”, carente de profissionais criativos capazes de dar respostas para as demandas de uma sociedade que se desenvolve em um ambiente de imprevisibilidade. O caminho que parece mais seguro para atingir esse objetivo é o fomento à criatividade: ao invés de treinados para ser personagens de cenários já desenhados, os alunos devem ser estimulados a antecipá-los, recriá-los. Mais do que seguir dogmas, eles devem sentir-se libertos para sonhar e corajosos o suficiente fazer os sonhos acontecerem. Em um clima de instabilidade, tornam-se importantes os espaços para criar e sonhar. “Porque se chamavam homens, também se chamavam sonhos, e sonhos não envelhecem...” (Clube da Esquina II, 1972) ⁴ Acreditando que a liberdade e a criatividade não são dádivas e sim frutos de conquistas, diferentemente de um atelier livre, na Geometria Construtiva, a forma de concretizar ideias segue uma trilha previamente estabelecida, com etapas determinadas e conquistas parciais. O trabalho inaugural, que pressupõe uma acurada análise da natureza, é subdividido em três passos: o desenho de observação, o mais fiel possível; a descoberta dos padrões geométricos ocultos nas formas orgânicas; e a abstração, ou seja, a interpretação geométrica do material previamente analisado. Com isso, as formas da natureza, dissociadas de suas funções

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orgânicas, perdem suas formas originais. Nas palavras de Fayga Ostrower, [...] ao formar, ao dar forma à imagem, o artista é obrigado a deformar. Por necessidade substituirá as formas existentes na natureza por outras. Também criará novos contextos formais, cuja extensão e equilíbrio irão servir de padrão de referência à própria interpretação das formas articuladas pelo artista [...] mesmo querendo inspirar-se em formas da natureza, o artista as abandona para criar formas de linguagem. (OSTROWER, 2004, p. 314) ⁵ Da fase anterior, em que os alunos são observadores e intérpretes da Criação, passa-se para a etapa de síntese, a qual, destinada à criação a partir dos entes geométricos estudados, promove os alunos de criaturas atentas a criadores libertos. Trata-se, então, de produzir composições ou protótipos livres, cuja função principal é criar beleza. Para que esses rearranjos resultem harmoniosos, faz-se necessário, no entanto, adquirir um repertório estético, que marca o universo das artes plásticas, e também fazer uma reflexão sobre o conceito de beleza. O biólogo e estudioso das artes Paul Weiss coloca algumas luzes sobre o código estético da natureza: “[...] a beleza sugere mais que uma simples ordenação, especifica um tipo particular de ordenação. Postula a ordem compatível com a singularidade [...] a natureza não é caótica e atomizada. Seus padrões são primários e inerentes e a ordem fundamental de beleza é aparente”. (WEISS, 1960, 178)⁶ Para conceber uma obra de arte, não basta reproduzir uma determinada ordem ou fazer uma releitura geométrica dos padrões orgânicos, é necessário e desejável que se estabeleça uma harmonia entre as diretrizes ordenadoras e as singularidades propostas pelos criadores. Se a falta de ordem conduz ao caos, seu excesso enseja

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1.Oficina de cerâmica, Weimar, 1924 (http://ghdi.ghi-dc.org/sub_image.cfm?image_id=4305); 2. Oficina de carpintaria, Weimar, 1923. (https://br.pinterest.com/pin/565061703 Galeria da FAU-UnB, 2019. Foto Gabriel Lyon; 6. Geometrizando 7, Galeria FAU-UnB, 2011; 7. Geometrizando 6, Galeria da FAU-UnB, 2007. Foto Thaís Pompeu de Pina; 8.


monotonia e, por consequência, desinteresse por parte dos espectadores. A multiplicidade de elementos e a conciliação entre ordem e variedade transformam a difícil etapa de composição em um jogo, ou melhor, em um complexo quebra-cabeça. O fato de as peças e as regras estarem colocadas não garante o sucesso da produção artística. Como em qualquer jogo, é preciso agrupar as peças de acordo com certos critérios, o que exige perspicácia que, nesse caso, prefere-se chamar de criatividade. O desafio seguinte é traduzir os sonhos, materializar as ideias. Entra então em cena a verdadeira atividade construtiva, que se expressa por meio do domínio dos materiais e técnicas. Para isso, é necessário entender, mesmo que empiricamente, as características e propriedades dos materiais. ⁷ Mas, quase como num passe de mágica, após uma sensibilização sobre o assunto, as criações se transformam em objetos esperando para serem reconhecidos como obras de arte. Esse conhecimento empírico reforça o caráter experimental da Geometria Construtiva. Acompanhando de perto as experiências e dificuldades dos alunos, a disciplina tem se transformado ao longo do tempo. Buscando uma analogia, pode-se dizer que o seu fio condutor é a corda por onde se desloca a bailarina do circo: embora sempre estendida no mesmo lugar e fixada nos mesmos pontos, ela tende a se amoldar às acrobacias que sobre ela são feitas. Por fim, reproduzindo as práticas do antigo ICA, os melhores trabalhos são, de tempos em tempos, expostos ao público como merecem, de forma solene. Além de servirem para melhorar a autoconfiança, conforme reconhecido pelos alunos, essas iniciativas representam um meio, ainda que tímido, de prestar contas da produção acadêmica à sociedade, indo ao encontro da transparência que deve prevalecer nas instituições públicas.

Depois das primeiras experiências com os “objetos” da natureza, outros temas são eleitos como pontos de partida para as composições plásticas das unidades didáticas seguintes. Manifestações culturais, como a dança, o circo, o carnaval, as obras dos artistas e as cidades, tornam-se pretextos interessantes para promover releituras e rearranjos artísticos interessantes e inusitados. Para concluir, é preciso ressaltar a importância das disciplinas práticas e de criação, em geral, e da Geometria Construtiva, em particular, para o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília que, prejudicado pela baixa carga horária destinada à área de Projeto, Expressão e Representação,⁸ tem oferecido menos chances de os alunos desenvolverem a criatividade e, portanto, de se tornarem profissionais mais capacitados para enfrentar as demandas impostas pelos novos tempos. ____________________________________________________ ¹ Este artigo é uma homenagem aos 100 anos da Bauhaus. ² PUIG, Armand. La Sagrada Familia según Gaudí. Barcelona: El Aleph Editores, 2011. ³ BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. ⁴ Canção de Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges. ⁵ OSTROWER, Fayga. Universos da arte. 24. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. ⁶ WEISS, Paul. Organic forms: scientific and aesthetic aspects. In: KEPES, Gyorgy. The visual arts today. Middletown: Wesleyan University, 1960, pp. 177-190. ⁷ GC é oferecida aos calouros, os quais não possuem ainda conhecimentos sobre os materiais e as técnicas construtivas. ⁸ Na época da fundação da FAU-UnB, as disciplinas de projeto – os Projetos de Edificações e Urbanismo (PEUs) – tinham 12 horas por semana; na década seguinte, tiveram sua carga horária semanal reduzida para 8 horas, o que representou uma perda de 33% do tempo dedicado à criação e à prática de projeto. Em 1995, a área de Projeto, Expressão e Representação representava 92 dos 196 créditos (aproximadamente 47%) do total das disciplinas obrigatórias; atualmente essa relação é de 88 para 206 (aproximadamente 43%). Além disso, a área de Expressão e Representação, em específico, possui hoje apenas 4 disciplinas obrigatórias, com 4 créditos semanais cada. Nesses cálculos não foram considerados os estágios de projeto e de obra, o Projeto de Diplomação e o Ensaio Teórico.

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318262496/); 3. Exposição de trabalhos de alunos, Weimar, 1923. (https://www.pinterest.co.uk/pin/318348267394613891/); 4. Aula prática no atelier.; 5. Geometrizando 9, Geometrizando 8, Galeria FAU-UnB, 2014; 9. Professor Jayme Golubov (1940-1997); 10. Atelier de esculturas, Dessau, 1925 (https://www.akg-images.co.uk/archive).


Pedagogia da utopia

Rodrigo Mendes de Souza, prof. CAU/UFMS


Ao abordar a pedagogia da Bauhaus algumas distinções se fazem necessárias, seja quanto às possibilidades de tratar o tema no singular, seja acerca dos fundamentos presentes nos diversos estatutos da escola. É em Gropius que encontraremos alguma possibilidade de unidade pedagógica que perpassa toda a atividade da escola, sem que isso constitua, como afirmou o próprio, um estilo Bauhaus. Quando compõe o corpo docente, ele escolhe seus membros no círculo expressionista alemão. De modo que a valorização do artesanato como detentor de qualidade estética, a noção de matéria como precedente à forma e a concepção do fazer artístico enquanto operação da realidade e, portanto uma instância moral, se mantêm, mesmo com a radicalização racionalista do Existenz-minumum sob a diretoria de Meyer, a fim de oferecer as categorias operativas a orientar a produção de utensílios. Mas sua extensão e papel estruturante da pedagogia da escola podem ser melhor percebidos pela sua permanênia na inflexão da escola do Expressionismo para o Construtivismo. Embora parte da historiografia e mesmo o ambiente interno da escola retratem este momento como uma disputa entre as duas correntes , um olhar mais atento mostra uma aceitação aberta da indústria sobre as mesmas bases. Neste momento, em 1923, o estatuto é reformulado, há a saída de Itten e a permanência da estrutura do Curso Preliminar como ele preconizara. As aulas sobre a matéria (Materiestudien) ficam a cargo de Albers e Moholy-Nagy e as aulas de desenho (Gestaltungslehre ou Estudos da Forma) continuam com Klee e Kandinsky. No entanto, mais importante e destacado por Gropius é a admissão no corpo docente de antigos alunos, pois pela primeira vez, ele vê condições de suplantar a dicotomia entre mestres da forma e mestres artesãos, condição de partida da Bauhaus na conciliação entre os mundos da cultura e do trabalho, na síntese entre indústria e arte. Ele dispunha de uma geração detentora de mestria em ambos os campos, como assinalado em Bauhaus: Novarquitetura. Esta formação visava superar a separação entre ideação e execução, como forma de unir qualidade e quantidade sob o standard, formalização da resposta de Gropius a uma sociedade industrial e de massa. Ao tornar evidente o procedimento na forma, a identidade entre ideação e execução qualifica o espaço moderno no seu uso, em oposição à instabilidade de valores que caracteriza a Modernidade. Se a qualidade vem do uso, o standard racionaliza a inconstância da vida ao contemplar as necessidades do indivíduo, sujeito abstrato, característico da Modernidade. Aqui, a razão não atribui à técnica e à função valores absolutos. De modo a estabelecer dupla relação com as questões da física moderna, acerca da objetivação do mundo (sensível), pela óbvia relação com a técnica, mas também com os apontamentos acerca da imponderabilidade, como os feitos por Werner Heisenberg. Gropius articula no que chamou de chave ótica – equivalente visual da clave musical, ou à desvinculação total entre arte e natureza - a possibilidade de unidade da Bauhaus. Isto não poder ser simplificado como uma redução às formas básicas e cores primárias, porque consistiria em suporte a valores pré-definidos. Assim, a pedagogia da Bauhaus não trata da forma (Gestalt), coisa estável, mas da formatividade (Gestaltung), processo que articula experiência criativa e percepção inteligente no fazer e no uso, portanto, previamente indefinível na mesma medida em que abarca a imprevisbilidade da vida.



pesquisa


2020 e 2021 serão tempos lembrados nas páginas dos livros de história como anos aflitivos, assombrados pelo medo, pela fome e por nossa imprudência em desconsiderar os males do avanço sobre a natureza. Sombrios, certamente! Mas não destituídos de esperança - afinal, o que seria de nós se esse belo sentimento nos abandonasse? Se vimos florestas queimando, se testemunhamos as violências mais nefastas, também ouvimos se levantar contra elas inúmeras vozes. Trabalhemos, a nossa maneira e na medida do nosso possível, para engrossar esse coro e torná-lo mais audível e claro. Não é preciso muito, consideremos os trabalhos de ensaio, empenho de alunos e professores, sob essa perspectiva. Eles são nossa contribuição para a construção de conhecimento, ciência e tecnologia na área de Arquitetura e Urbanismo. Este esforço coletivo é luminoso e alegre – em outras palavras: é esperançoso. A diversidade de temas contemplando nessa edição de Revista Arqui nos dão prova disso. Envolvem discussões contemporâneas sobre o fenômeno crescente das expulsões de populações, de segregação e preconceito, de alternativas para as formas de produção em comunidades, assim como assuntos muitos específico do fazer de nossa profissão, importantes para o nosso ambiente construído – temas que nos afetam como viventes do século XXI.

Elane Ribeiro Coordenadora de Ensaio Teórico


ensaio


Representação gráfica em urbanismo Angelina Guedes Trotta

Imagens fornecidas pela autora

O desenho é uma ferramenta de expressão através da qual realidade e ficção se aproximam, onde uma situação pode ser ilustrada ou simulada e depois interpretada de inúmeras formas. Para arquitetos e urbanistas, desenhar é comunicar uma ideia, testar possibilidades, analisar agentes, comparar, dialogar e propor. Representar a cidade através do desenho é um ofício que vem sendo o escopo de profissionais como geógrafos, planejadores, cartógrafos e mesmo artistas, com as mais variadas técnicas. Para o arquiteto e urbanista, a questão abrange, além do ponto “o que representar”, a decisão de “como representar” - o que envolve uma gama de alternativas a serem avaliadas. É crescente a preocupação com o efeito visual que o mapa ou desenho irá passar, em um panorama de mídias e informações rápidas em que a primeira impressão pode ser decisiva ao atrair a atenção de um público. Assim, a representação gráfica vem se tornando tópico de pesquisas, palestras, oficinas e aulas - cada vez mais é procurada por estudantes e profissionais que querem expandir seu conhecimento nos meios de representação projetual. As formas em que são 20

encontrados registros e ilustrações de cidades são extremamente variadas, vão desde imagens feitas com ferramentas baseadas em satélite, até o uso de softwares de modelagem ou ilustração. Consequentemente, os dispositivos usados serão diferentes e cada mapa terá um processo de produção específico. A consciência desta escolha está relacionada à prática e à pesquisa por repertório, e este ensaio se propõe a ser um instrumento de auxílio à compreensão de como pode ser feita a representação gráfica da cidade. Posto isso, identifica-se a possibilidade de contribuir para a formação de urbanistas ao levar em consideração o desenho como instrumento de projeto. Entender a trajetória dos mapas e da cartografia ao longo da história se mostra pertinente à medida que as transformações vividas pela humanidade são também transformações no modo de pensar e enxergar o mundo - e consequentemente no modo de representá-lo. A transição entres os séculos XIX a XXI em especial trouxe inovações tecnológicas e artísticas que influíram imperativamente na representação da cidade - e no desenho em geral. Somado a essa trajetória, é oportuno entender também os problemas

atuais de registrar e ilustrar cidades - em uma aula da universidade ou na aprovação de projetos urbanos. Assim o trabalho é estruturado em duas partes: um breve panorama histórico apresentado no primeiro capítulo; e uma pesquisa de campo composta por entrevistas, assunto do capítulo dois. Questiona-se nessa etapa o uso de recursos gráficos computadorizados para representar a cidade, além da presença ou ausência do desenho à mão no processo. Com ela tem-se um cenário tangível das conveniências e das condicionantes que fazem parte da rotina de profissionais do urbanismo. Ao final, a conclusão e os anexos fecham o ensaio.

Orientadora: Ana Júlia D. Brandão Banca:Antônio Rodrigues da Silva e Benny Schvarsberg


Êxodo: uma análise espacial da situação dos imigrantes venezuelanos na cidade de Boa Vista/RR. Anne Scandelari Raupp

Devido à crise econômica e política na Venezuela que se agravou em dezembro de 2015, com a derrota do governo de Nicolás Maduro nas eleições parlamentares, um crescente número de venezuelanos começou a emigrar para alguns países da América Latina, principalmente Colômbia e Brasil. No primeiro semestre de 2018, estima-se que mais de 16 mil venezuelanos pediram refúgio em Roraima, segundo a Polícia Federal, número equiparável ao de solicitações registradas durante todo o ano de 2017, equivalente a 17.865, segundo o Ministério da Justiça (Ministério da Justiça, 2018). Em consequência da crescente entrada de imigrantes venezuelanos no território brasileiro, especialmente no estado de Roraima, somada à uma incapacidade do governo em lidar com a situação local de maneira rápida e eficiente, desencadeou-se uma ocupação espontânea de espaços públicos e edifícios abandonados em diversos pontos da cidade de Boa Vista, gerando conflitos urbanos e estimulando cada vez mais a segregação social deste grupo na cidade. Através de levantamentos realizados entre os dias 13 de maio de 2018 e 27 de junho de 2018, pela Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)

em parceria com as Forças Armadas e com as Organizações Não-Governamentais IMPACT e ACTED, foi possível identificar diferentes padrões de ocupação do território, e categorizá-los em quatro tipo distintos: venezuelanos vivendo em abrigos públicos oferecidos e mantidos pelo governo em parceria com a ACNUR, venezuelanos vivendo em situação de rua ao redor dos abrigos públicos, venezuelanos que invadiram e ocuparam edifícios abandonados como casas e edifícios públicos espalhados pela cidade e venezuelanos vivendo em situação de rua em pontos variados da cidade sem relação direta com os abrigos públicos. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo principal observar os diferentes padrões de ocupação decorrentes do fenômeno migratório ocorrido nos últimos três anos, e analisar, de maneira exploratória, a relação entre estes diferentes padrões com características configuracionais da cidade de Boa Vista que fossem relevantes para essa pesquisa, sendo elas, traçado urbano, oferta de equipamentos públicos, espaços livres públicos, uso e ocupação do solo urbano, distribuição espacial de renda e densidade, buscando entender quais variáveis influenciaram na fixação destes diferentes grupos no tecido urbano e em

que medida isso contribuiu para a segregação espacial destes indivíduos. O estudo foi realizado com base em dados sociais obtidos através do Censo Demográfico de 2010, tais como dados de densidade populacional, renda média familiar e uso do solo, e com o auxílio da Sintaxe Espacial ou Teoria da Lógica Social do Espaço (Hillier e Hanson, 1984) de modo a entender a lógica socioespacial da configuração urbana de Boa Vista e sua influência na dinâmica de ocupação do tecido urbano pelos imigrantes venezuelanos, cujas análises se concentraram nas variáveis de integração global (INThh), escolha angular normalizada (NACH) e integração angular normalizada (NAIN). Foi observado que as variáveis como oferta de equipamentos públicos, espaços livres públicos, uso e ocupação do solo urbano, distribuição espacial de renda e densidade podem ter sido determinantes na escolha dos locais onde os imigrantes decidiram ocupar.

Orientadora: Vânia Raquel Teles Banca: Vânia Raquel Teles e Valério Augusto Soares de Medeiros 21


Retratos da cidade: intervenções temporárias no espaço público Clara Alvares Camargo

Vemos em Brasília que nem mesmo todos os esforços para prever e organizar as funções da cidade foram capazes de responder a todas as necessidades de sua população, sobretudo, quando essa população não se concretizou como previsto. O centro de Brasília é palco do encontro de quem reside nas cidades satélites, com os moradores do Plano Piloto. É onde se encontram camadas segregadas pela estruturação da cidade modernista e onde se escancaram as fragilidades do planejamento. Brasília, enquanto cidade modernista planejada, delimita em sua geometria uma forma de viver a cidade. Essa forma de vida tão bem desenhada visa responder às necessidades de um homem-tipo brasiliense. É preciso, porém, entender que Brasília não é vivida somente pelo morador do Plano Piloto. Brasília é ocupada por uma população miscigenada, de pessoas de todas as regiões do Brasil, das mais variadas realidades sociais e econômicas e com uma diversa bagagem cultural. Não há como enquadrar essas pessoas em um modelo e, muito menos, ter a pretensão de que a cidade planejada atenda a todas as suas necessidades. Na lacuna entre o planejamento modernista e a vivência da população surge a necessidade de adaptações dos espaços da cidade. Essas subversões do funcionamento da cidade modernista encontram suporte em intervenções temporárias no espaço público. No espaço público, pois, é onde coexistem os atores que vivenciam a cidade. Temporárias, porque assim se concretizam sem a necessidade de se submeter 22

à rigidez da cidade construída e atendem a novas demandas na velocidade e dinamicidade que requer a vida cotidiana. Este homem-não-tipo de Brasília produz uma cidade que é totalmente avessa a ordem rígida e racional do plano modernista, reconstituindo – através de intervenções informais – espaços da vivência, da sobrevivência e do cotidiano. São estes corpos e sujeitos dissidentes que constroem uma outra cidade a partir de várias formas de apropriação, reapropriação e subversão do espaço. Parto da premissa de que a observação da apropriação da cidade, por intervenções realizadas por seus habitantes, é material que revela potencialidades e disfunções da cidade construída. A atenção a tais fenômenos pode contribuir para o entendimento de estruturas sociais e o que há de potencial a ser aproveitado no exercício de planejamento de cidades mais humanizadas e que respondam às necessidades de sua população. A partir do registro visual de inter venções no espaço público, confronto a cidade modernista às soluções não previstas no planejamento, colocadas em prática por seus habitantes, de maneira informal. O produto final é um ensaio fotográfico dos setores centrais de Brasília, um registro dos mecanismos utilizados para a apropriação e subversão dos espaços da cidade. Orientador: Paulo Tavares Banca: Maria Fernanda Derntl e Patrícia Silva Gomes


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Metabolismo 1960: do conceito à matéria Clara Rezende Porto

A forma como o ser humano passa a enxergar as transformações sociais, culturais, políticas e econômicas traduzem-se para o mundo construído por meio da arquitetura, ora de caráter mais palpável, ora exagerando o cenário vivenciado por aquela sociedade. Perante um século XX pautado na destruição da identidade das nações e rápida transformação das relações humanas após duas grandes guerras, artistas e arquitetos ao redor do mundo iniciaram sua busca por estratégias de fuga da realidade e da insatisfação com o modo de se pensar arquitetura e urbanismo na era moderna, culminando no redescobrimento da estética utópica e especulativa, mantendo em comum a crítica à realidade limitadora que enfrentavam. Além de destruições territoriais e estruturais das nações, pode-se dizer que o grande legado do século XX foi a extensa expansão tecnológica advindas das guerras: distâncias foram encurtadas por novos meios de comunicação, relações homem-máquina foram modificadas e cápsulas de habitação foram lançadas na corrida para a conquista do espaço durante o embate da Guerra Fria. Enquanto isso, do outro lado da terra, o anseio pela utopia do novo mundo e dominação das novas técnicas encontraram um Japão extremamente tradicional, economicamente abalado e completamente fragilizado pelas guerras. Assumindo a abertura do país à cultura ocidental como inevitável, 24

os avanços tecnológicos sobretudo na área das ciências biológicas instigaram a produção de um grupo de arquitetos japoneses que planejavam um movimento avant-garde de caráter semelhante ao comportamento biológico de um organismo, o qual regenera e se renova constantemente. Assim como o archigram na Inglaterra e o superestudio na Itália, o metabolismo no Japão nasceu como uma resposta às catátrofes sequenciais de seu território, justificando a estética emergencial da arquitetura do período e ganhando atenção especial no debate acerca das megaestruturas. A síntese desse movimento, baseado sobretudo no avanço tecnológico, mutabilidade da estrutura social e flexibilidade de uso dos espaços construídos, culminou na publicação do Manifesto Metabolista em 1960. Reunindo o pensamento de seis teóricos japoneses - quatro arquitetos (Kisho Kurokawa, Kiyonori Kikutake, Fumihiko Maki e Masato Otaka), um jornalista (Noboru Kawazoe) e um designer (Kenji Ekuan) as discussões eram centradas em planos urbanísticos para as cidades devastadas e soluções para o rápido crescimento daquelas que ainda mantinham sua estrutura. Os seis autores do manifesto ganharam maior visibilidade dentro do movimento, mas não se resumiu apenas à esse grupo, configurando-se bastante heterogêneo - enquanto uns negavam a estética conceitual metabolista, outros procuraram segui-la fielmente por acreditarem na reestruturação do país

através da arquitetura, enxergando-a como meio e não como fim. Sejam projetos desenvolvidos “em terra”, “no mar” ou “no ar”, de caráter conceitual ou efetivamente construídos, o metabolismo ultrapassou os limites de sua produção, deixando marcas culturais, econômicas e sociais no Japão mesmo após seu desfecho em 1980. Por vezes, as megaestruturas japonesas, as pequenas cápsulas de habitação e os planos de regeneração e ocupação de cidades entraram para a história da arquitetura como produtos de ficção científica e estética distópica - e, por isso talvez, tenham caído em esquecimento no campo acadêmico. A transformação do Japão elucida a importância do debate acerca da arquitetura especulativa, a qual posiciona o questionamento crítico sobre a produção atual e estimula a libertação da arquitetura de suas limitações técnicas dadas pela produção aos moldes do funcionalismo moderno. Entender essas especulações, tomando conhecimento de seu contexto e cronologia, nos permite levar discussões da frente acadêmica para o campo profissional, embasadas em pensamento crítico na forma de se pensar arquitetura e urbanismo.

Orientadora: Maria Cláudia Candeia Banca: Eduardo Rossetti, Maria Cláudia Candeia e Mônica Gondim


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Significância cultural da SQS 308 Luiza Peregrino Cunha

O projeto de Lucio Costa para a escala residencial de Brasília reservou uma ideia inovadora de moradia coletiva, as Superquadras: “grandes quadras dispostas, em ordem dupla ou singela, de ambos os lados da faixa rodoviária, e emolduradas por uma larga cinta densamente arborizada(...)” (COSTA, 1991). Importante componente urbanístico e pertencente à Unidade de Vizinhança brasiliense, a SQS 308 é o objeto de estudo deste ensaio, pois possui importantes atributos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos que a qualificam como a superquadra modelo de Brasília. Os documentos de tombamento e classificação da UNESCO consultados para a composição deste trabalho não fazem referência à noção de significância cultural, apesar do tombamento da Unidade de Vizinhança ser de 2009 e tal conceito já estar devidamente difundido. A significância cultural é central tanto ao processo de identificação patrimonial quanto ao processo de gestão da conservação destes bens por estar relacionada à compreensão do conjunto de valores atribuídos pela comunidade afetada pela sua conservação. Pode-se dizer também, que a significância cultural é entendida, atualmente, como parte do processo de democratização da seleção de patrimônios. Considerando essa problematização, o objetivo do ensaio foi a construção da significância cultural da SQS 308 junto aos atores sociais envolvidos com a sua conservação. Para atingi-lo, foi necessário consultar fontes sobre a superquadra a fim de detectar possíveis atributos; adaptar as fichas que compõem a ferramenta; aplicar a ferramenta junto aos atores sociais e, finalmente, a interpretar os dados obtidos, que auxiliou na compreensão dos valores conferidos aos atributos que qualificam 26

a superquadra como patrimônio e constroem sua significância cultural. A fase de pesquisa em fontes primárias e secundárias sobre a SQS 308 resultou na seleção de nove atributos: arquitetura dos blocos residenciais; paisagismo de Burle Marx; visita da rainha Elizabeth II ao Jardim de Infância; azulejos de Athos Bulcão para as paredes do Jardim de Infância; uso e ocupação dos espaços livres da quadra; prefeitura e zeladoria da quadra; equipamentos educacionais da quadra (Jardim de Infância, Escola Classe e Escola Parque) e a banca da Conceição. A aplicação da ferramenta adaptada foi realizada junto à amostra de 12 atores socias dentre os quais estavam residentes recentes; residentes antigos; funcionários dos blocos residenciais; funcionários dos equipamentos educacionais; especialistas em patrimônio e usuários dos espaços livres não residentes na quadra. Os estudos realizados neste trabalho ratificaram a importância da superquadra sul 308 para Brasília e seu conjunto urbanístico, tanto no âmbito funcional quanto nos âmbitos culturais e históricos. Os resultados da aplicação da ferramenta e a produção dos gráficos de ranking estão diretamente relacionados com o conceito de Significância Cultural, pois evidencia o significado e valor que cada um dos atributos selecionados representa para aquela comunidade no momento atual. O processo de identificação da significância cultural deve ser refeito periodicamente, pois tanto os atributos e os valores, quanto a relação dos usuários com estes se modificam com o passar do tempo. Orientadora: Flaviana Barreto Lira Banca: Eduardo Rossetti, Flaviana Lira e Oscar Luís Ferreira


Mulher e o direito à cidade: uma investigação sobre a adequação dos espaços e mobilidade urbanos com foco nas trabalhadoras domésticas de Brasília/DF Marcella Menezes Vaz Teixeira A historiografia das lutas feministas, muitas travadas no espaço público (Alves; Pitanguy, 1982; Marie Perrot, 2008), revela que apesar da conquista de direitos, as mulheres ainda experienciam a desigualdade no acesso à educação, ao mercado de trabalho, aos cargos políticos e ao próprio contexto urbano. Foram personagens invisíveis na construção das cidades – de Brasília, particularmente –, erguidas sob visões masculinas, desvalorizando o trabalho reprodutivo das mulheres e dificultando sua inserção no espaço público. Os papéis sociais historicamente atribuíram responsabilidades diferentes aos gêneros, estruturando a sociedade em um sistema de dominação masculina e levando à divisão sexual do trabalho (Bourdieu, 1995). Mesmo conquistando espaço, as mulheres continuam associadas ao trabalho social reprodutivo, assumindo mais responsabilidades e exercendo múltiplas jornadas de trabalho, se beneficiando menos das oportunidades do meio urbano. Foi constatado que na esfera privada são mais vulneráveis às inadequações urbanas e precariedades de serviços próximos à moradia. Já na esfera pública, são as mais prejudicadas pela insegurança e má qualidade de equipamentos e transportes públicos (Cymbalista; Cardoso; Santoro, 2008). O trabalho identificou que a desigualdade entre gêneros é intensificada no espaço urbano por questões socioeconômicas, raciais e de segregação espacial. De forma que as características de Brasília, concentrando as oportunidades nas regiões centrais, dificulta a mobilidade e potencializa a vulnerabilidade das mulheres. Caso este das trabalhadoras domésticas, grupo ao qual é sobreposto uma série de opressões – caracterizado por uma maioria

de mulheres de baixa renda, negras e pardas, de baixa escolaridade, moradoras das regiões periféricas e que exercem o papel doméstico tanto no lar, quanto no ofício. Diante disso, questionou-se: como os espaços públicos e o sistema de mobilidade do DF podem ser melhor adaptados às necessidades das mulheres, como foco nas trabalhadoras domésticas? A abordagem empírica constou, primeiramente, do levantado de dados socioeconômicos das mulheres do DF, utilizando dados da Codeplan, para mapeamento crítico. Em seguida, foi feita uma investigação dos principais desafios e inseguranças no espaço público, entrevistando trabalhadoras domésticas, cuidadoras, cozinheiras e prestadoras de serviços de limpeza. Aplicaram-se questionários presenciais utilizando o método da narrativa oral, valorizando as experiências pessoais e o conforto das pesquisadas. As narrativas foram corroboradas com os levantamentos teóricos e análises realizadas. Os principais desafios levantados foram: grandes custos e tempo de deslocamento, falta de equipamentos prioritários para mulheres e crianças, insegurança em relação ao assédio e violência sexual dentro do transporte público e na mobilidade a pé, baixo acesso ao lazer e dificuldade para desempenhar tarefas cotidianas pela ausência de comércio e serviços perto de suas moradias. Imagens fornecidas pela autora

Orientadora: Patrícia Silva Gomes Banca: Maria Fernanda Derntl e Paulo Roberto Tavares 27


De fora pra dentro, de dentro pra fora: um panorama histórico da janela residencial Mariana Fernandes das Neves

Ao imaginarmos uma casa, um edifício ou até mesmo uma cidade, no cenário formado em nossa mente, instantaneamente, desponta a janela, um elemento do cotidiano que dificilmente se desassocia do nosso imaginário arquitetônico e urbano. Como afirma Le Corbusier, “a história da janela é também a história da arquitetura, ou pelo menos, de uma parte das mais características da História da Arquitetura” à medida em que este elemento é capaz de revelar intenções arquitetônicas, urbanas, culturais, etc. Na primeira fase histórica da janela (Paleolítico e o primeiro período do Neolítico acerâmico), ela se fundia à porta através da qual permitia a passagem de luz e ar, suas funções primárias. Na segunda fase (segundo período do Neolítico acerâmico e cidades Antigas anteriores a Roma), ela se liberta da porta de modo tímido, tomando forma de pequenos e altos orifícios nas paredes das fachadas. Com estes pequenos vãos, estas primitivas janelas pareciam temer a exposição da privacidade e da segurança ao proporcionar modestas iluminação e ventilação. E com estas únicas funções primeiras permaneceu por quase três milênios. Na terceira fase (Roma Antiga ao Renascimento), a janela se mostra plena em suas funções primárias e secundárias permitindo a visibilidade 28

da paisagem externa e assumindo com destaque um importante papel na estética das edificações e das ruas. É quando a janela dialoga com suas vizinhas e com as pertencentes a outros edifícios. Por fim, a partir da industrialização observa-se o ocaso da janela, a princípio por questões econômicas e de precariedade dos projetos residenciais quando os exemplos de Londres e Nova Iorque mostram de forma lamentável que a sobrevivência humana dentro de uma moradia não pode prescindir de aeração e iluminação. Apesar disso, exemplos de moradias em cidades inseguras brasileiras, no presente momento, negam a importância da janela, com a sua ausência ou com seu permanente fechamento, se valendo de meios de ventilação e iluminação artificiais. Simultaneamente, é neste período industrial que se observa um vertiginoso desenvolvimento técnico que permite a liberdade da expressão estética da janela com um amplo repertório de soluções formais. Ventilação e iluminação naturais então passam a funções secundárias com uso de meios artificiais. Não apenas isso, com a utilização do vidro temperado a janela oferece mais conforto térmico e acústico. Quando, por fim, a janela assume o papel das paredes externas, deixa indelével a divisa entre o dentro e o fora, o privado e o público. É quando a janela faz da casa uma vitrine e a vida doméstica um palco.

No mundo artificial em que se vive, as funções básicas da janela talvez não sejam mais tão indispensáveis, o mesmo, no entanto, não se pode dizer de sua expressividade e poética no espaço e na arquitetura.

Orientadora: Mônica F. Gondim Banca: Maria Cláudia Candeia e Eduardo Rossetti


Da terra à mesa: territórios e comunidades produtivas Monique Gomes Nogueira

Os sistemas alimentares modernos geram consequências sociais e ambientais, alterando a paisagem e o território e influenciando o planejamento urbano. Dessa forma, a pesquisa investiga o percurso histórico de transformação dos atuais padrões alimentares, dentro do contexto ocidental, e como essas mudanças foram e são capazes de causar impactos no espaço rural e urbano. A partir disso, voltando-se para o cenário brasileiro, investiga-se o desenvolvimento da história social e política do Brasil, atrelada a produção de alimentos, abarcando as políticas e leis de incentivo à produção convencional e o surgimento das leis referentes à produção orgânica. A produção alimentar é um componente vital da civilização ocidental e possui uma ampla esfera de influência em diversas áreas. O ato de se alimentar, por sua vez, pode estar conectado a fisiologia, a saúde, a cultura, ao prazer, ao meio ambiente, a sustentabilidade, as relações de poder, a sobrevivência, entre outras coisas. As escolhas alimentares de uma população incentivam determinadas formas de produção. Estas, por sua vez, estruturam os espaços, desde o plantio, passando pelo transporte, comercialização, preparo, até o consumo. Dessa forma, a alimentação possui uma estreita e explícita relação com a arquitetura e o urbanismo, já que os espaços, paisagens

e territórios se modificam para adaptar-se as demandas de uma população. Os atuais padrões alimentares, marcados por um alto consumo de alimentos ultraprocessados possuem consequências não apenas para a saúde, mas também em uma escala macro, de abrangência territorial e sistêmica. A atual forma de produção dos alimentos, baseada no agronegócio, ou seja, na monocultura de determinadas espécies transgênicas com intenso uso de agrotóxicos e aditivos químicos, geram impactos negativos, do ponto de vista social, financeiro, ambiental e de saúde pública. Por se consolidar como um processo que envolve variáveis tão complexas, o ato de se alimentar pode ser considerado um ato político e social, visto que as decisões alimentares possuem impactos sociais e ambientais que podem influenciar as formas de produção. Como forma de ilustrar a discussão, são apresentada entrevistas com três produtores rurais agroecológicos do Distrito Federal, a fim de entender quais são suas capacidades de produção e de abastecimento, o quanto dependem/usam a estrutura urbana próxima e quais as distancias percorridas por semana pelas suas famílias em suas rotinas. Dessa forma, fica explicito o impacto que o desenho e o planejamento urbano tem para integrar o campo e a cidade, para proporcionar

um bom escoamento da produção e para permitir uma melhor integração dos moradores rurais com a estrutura da cidade, desde os espaços de feiras e de venda dos produtos, até hospitais, escolas, faculdades e espaços de lazer. Depreende-se com o estudo, que uma mudança no cenário presente da produção de alimentos, acontecerá paralelamente a conscientização social relativa aos nossos padrões de consumo. A produção sustentável de alimentos, seja ela orgânica ou agroecológica, possui consequências positivas tanto para o ambiente quanto para a sociedade, aumentando o emprego seguro no campo, e a fixação de famílias ao meio rural e, dessa forma, contribuindo para a segurança alimentar da população. Compreendendo que diversos atores participam dessa dinâmica e que tais mudanças são lentas e graduais, não podemos ignorar o papel transformador da ação popular sobre a indústria.

Orientadora: Natália da Silva Lemos Banca: Frederico Flósculo e Liza Maria Souza de Andrade 29


O museu do futuro Pedro Vitor Almeida Silva

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Pra entender o Museu do Futuro é preciso ampliar o olhar sobre o comportamento humano e as mudanças sociais e tecnológicas. Compreender o futuro também é perceber que a Geração Z (nascidos a partir dos anos 2000) já são grande parcela dos visitantes dos museus: jovens multitasking que nasceram conectados à internet 24 horas, telas e interação touchscreen. Uma geração diversa, ligada nativamente a uma consciência globalizada dos movimentos sociais e das transformações tecnológicas na era digital. Por outro lado, seres humanos mais expostos a grande quantidade de informações e dados visuais. Enquanto arquitetos como Guto Requena leem essa geração como “a primeira geração de ciborgues”, a edição 394 da Revista Superinteressante expõe dados que apontam o decréscimo de QI em vários países em uma capa com letras garrafais que dizem “A era da Burrice”. Para dialogar com essas pessoas e acompanhar as tendências de comportamento e de tecnologia os museus têm se transformado e reinventado. Os espaços estão sendo adaptados a pluralidade de atividades desempenhadas 30

no edifício: mais lojas, restaurantes, auditórios, coworkings e áreas cada vez mais personalizadas ao usuário e a sua sociabilidade. O visitante é cada vez mais percebido como consumidor e vetor de validação da relevância do museu. Portanto, os museus trabalham a sua marca e se comunicam mais com seus públicos: produtos personalizados com a identidade visual do museu, hastags específicas para repostagem de fotografias dos visitantes, programas para grupos sociais específicos, tecnologias de interação como Realidade Aumentada e Virtual e uso de Inteligência Artificial são ferramentas de personalização da experiência do usuário. No campo social, os museus participam ativamente de projetos que dialogam com a sociedade e a realidade de minorias. Em Londres, o British Museum hasteou a bandeira gay no alto do edifício em homenagem a comunidade queer. Nesse sentido, os museus buscam não só abrir suas portas para todas as pessoas, mas oferecer representatividade por meio dos artistas em exposições, atividades educativas específicas e eventos que celebrem a diversidade. Mais artistas negros,

LGBTQI+, afroamericanos, asiáticos e imigrantes ganham exposições, ao passo que o perfil da própria comunidade do museu também se transforma. Dessa forma, percebeu-se como desafio para os museus do futuro gerar conexões e interação entre pessoas no mundo real em um era de “hiperconectividade” digital. Gerar experiências únicas para consumidores, enquanto atende uma comunidade mais diversa, conecta culturas, gerações e etnias diferentes. Mais do que isso, os museus estão se posicionando a favor das pessoas, assumindo papéis políticos em assuntos como a imigração, diversidade e sustentabilidade. A partir dessas posturas, os museus atendem não apenas ideais econômicos, mas concentram-se no seu papel fundamental de perpetuação da memória e cultura dos povos e promoção do diálogo entre as pessoas e as suas diferenças.

Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes Banca: Márcio Buson e Maria Cecília Gabriele


Arquitetura social: experiências em assistência técnica Sarah Lima Cirino Prevista pela Constituição Federal, a moradia é um direito de todo cidadão brasileiro, sendo aplicada não só na necessidade de um espaço físico para habitar, mas também em toda a infraestrutura necessária para atender os requisitos de habitabilidade da construção. Em contraponto a essa afirmativa, temos os dados do déficit habitacional do Brasil, que é composto por famílias em situação de coabitação, ônus excessivo com aluguel e situação de precariedade da moradia. Em um relatório divulgado pela FJP (2013-2014), detectamos que o índice de demanda qualitativa das habitações representava 2/3 do déficit, enquanto a necessidade quantitativa corresponde à 1/3 da necessidade habitacional do país. A Lei de Assistência Técnica, promulgada em 2008, é um instrumento de política urbana/pública capaz de tornar acessível o direito à moradia digna, previsto pela Constituição Federal. Através desta lei é possível intervir no percentual qualitativo do déficit habitacional. A lei permite a atuação dos dois agentes principais na promulgação desse direito de forma conjunta, a saber: o Governo Federal, através do respaldo da lei para implementação de ações direcionadas a qualificação urbana; e ao profissional da arquitetura e engenharia, que se torna acessível à população ao cumprir sua função social na democratização do acesso ao direito à moradia. A pesquisa abordou o aspecto prático da lei, trazendo um rápido inventário de instituições que atuam junto à Assistência Técnica voltada para Habitação de Interesse Social, suas formas de atuação, e processos envolvidos na implementação da lei. Foi possível constatar que existe uma multiplicidade de ações, ligadas à suas formas de gestão – segundo a lei, os agentes implementadores são ONGS, Escritórios Públicos geridos pelo Estado, Profissionais Autônomos e Iniciativas acadêmicas – e que a lei não possui um

modelo centralizado de implementação, o que garante um atendimento individualizado a cada caso atendido pelos agentes. Em considerando o panorama apresentado na pesquisa, é possível constatar o potencial da lei no acesso à moradia digna, que é o tema principal da lei em análise. Pontuamos a importância da atuação dos agentes e os benefícios direcionados a estas personagens envolvidas no acesso à moradia digna, a saber que: ao poder público convém a iniciativa legislativa para a qualificação urbana e controle do déficit habitacional; a atuação de profissionais relacionados pelas iniciativas abordadas pela lei, por sua vez, é respaldada no cumprimento de sua função social, compondo seu papel na democratização do acesso aos serviços de assistência técnica; assim, é também atendida a demanda da comunidade por habitação digna, ao ser concedido a ela o acesso a esse direito. Dessa forma, compreendemos que a lei, em sendo aplicada de forma efetiva, tem grande potencial de transformação do cenário habitacional no País.

Orientadora: Orlando Vinícius Rangel Banca: Neusa Cavalcante, Renan Nascimento Balzani 31


novos arquitetos



O

final do curso é só o início de uma trajetória profissional de desafios e escolhas. Trata-se de um momento decisivo de avaliação do conjunto das habilidades dos estudantes adquiridas ao longo do curso e passe para o mundo profissional. Ao mesmo tempo, é um momento de liberdade e escolha onde o estudante se vale do fazer arquitetônico para projetar seus anseios e aflições perante os desafios do mundo e da cidade contemporânea. Por fim, a diplomação fecha um ciclo de parcerias colaborativas entre professores e alunos que juntos trabalharam na busca de soluções para a nossa complexa realidade. Os projetos apresentados nesta edição anunciam possíveis caminhos e interlocuções da arquitetura e do urbanismo e a pluralidade de pensamentos de nossos egressos reforçando a vocação multidisciplinar do curso da FAU-UnB. Convido os leitores a se debruçarem nas diferentes visões de mundo aqui apresentadas e a celebrarem a oportunidade de rico debate que esta escola nos proporciona. Boa leitura!

Maria Cláudia Candeia Coordenadora de Diplomação


diplô


destaques repensar a escola classe

ccol - complexo cultural orla livre

Aluna: Kamila Venancio Moreira

Aluna: Karoline de Sousa Cunha

Orientação: Caio Frederico e Silva

Orientação: Oscar Luís Ferreira

O trabalho apresenta um projeto de escola classe para a Região Administrativa do Riacho Fundo II, no Distrito Federal. O projeto foi estruturado a partir da construção do Residencial Parque do Riacho, que atende famílias integrantes do Programa Minha Casa Minha Vida, propondo uma alternativa arquitetônica aos projetos padronizados e replicáveis. Com a aplicação do conceito de escola humanizada e inclusiva, o trabalho evidencia o caráter cidadão da escola, como fomentadora do desenvolvimento social, igualitário, eficaz e sustentável.

A proposta do Complexo Cultural Orla Livre parte da demanda por espaços para a realização de atividades culturais e por pontos de atratividade e acessibilidade ao uso do Lago Paranoá. O terreno localizado ao lado do Parque das Garças no Lago Norte, é área pública integrante do Projeto Orla Livre. Devido a esse contexto e localização, o projeto instiga questionamentos acerca da democratização da orla, propondo a integração urbana e a diversidade de ocupação socioespacial, viabilizando o acesso a partir da mobilidade urbana, e por meio do transporte público e da inserção do transporte lacustre.


habitar o campo: uma residência no lago lixo: compostagem e agricultura urbana oeste no plano piloto de brasília Aluna: Marcia Del Lama

Aluna: Tainá Wanderley

Orientação: Joara Cronemberger Ribeiro Silva

Orientação: Gabriela de Souza Tenorio

Viver na APA da Cafuringa, área de amortecimento do Parque Nacional de Brasília (DF), e nas proximidades da Reserva Biológica da Contagem, requer um olhar sensível à preservação dos recursos naturais e à redução do impacto ambiental na ocupação do solo. Esse é o contexto da chácara residencial localizada no Núcleo Rural Lago Oeste, com ampla vista para a Chapada da Contagem. Nela viverá um casal habituado à vida urbana e às facilidades oferecidas pela vida moderna, mas que pretende viver no campo, em busca de uma vida mais saudável e de cultivar seus alimentos com práticas sustentáveis.

Lixo: ou se ressignifica esta palavra, ou se abole o termo de vez do nosso vocabulário. Costuma-se defini-lo como “resíduos provenientes de nossas atividades, que não prestam e são jogados fora”. Mas onde exatamente é esse “fora”? No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos introduziu conceitos inéditos no ordenamento jurídico brasileiro, para além de desenvolvimento sustentável: destinação ambientalmente adequada, responsabilidade compartilhada e logística reversa. Mas a grande lacuna entre o texto da lei e a realidade ainda não foi preenchida. Este projeto resultou de uma reflexão sobre o tema, usando as ferramentas da arquitetura e do urbanismo.


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Repensar a escola classe Kamila Venancio Moreira

“É óbvio que a arquitetura exerce grande influência no ambiente escolar. Agora, o ambiente humano, digamos, um bom professor, seria a primeira influência. A segunda, uma boa pedagogia. A terceira, eu vejo como sendo o material didático e equipamentos. A quarta seria o grupo, os alunos, a participação, o clima social. E nós, arquitetos, achamos que o ambiente físico é também um professor. Ele faz parte desse ambiente escolar.” (KOWALTOWSKI, 2011)

O trabalho surgiu a partir da reflexão de que o ensino público no Brasil ainda é, majoritariamente, desigual. A desigualdade está ligada à infraestrutura das escolas, na maioria das situações. Os alunos que cursam os ensinos fundamental e médio em instituições públicas, muitas vezes apresentam dificuldades de aprendizagem em razão, também, das precárias condições estruturais e curriculares do ensino público. A Escola Classe é responsável por ministrar, dentro do contexto de Ensino Fundamental de nove anos, os cinco primeiros. Sua estrutura abriga os cinco primeiros anos (1º ao 5 ano), sendo a ponte entre a educação infantil e as séries finais do ensino fundamental. Desenvolveu-se, portanto, um projeto de Escola-Classe na Região Administrativa do Riacho Fundo II, com o intuito de atender aos moradores do Programa Minha Casa Minha Vida, estruturado a partir da construção do Residencial Parque do Riacho. Utilizou-se no referido projeto escolhas estratégicas de materiais, método construtivo, implantação adequada e adequação ao espaço pré-existente, buscando requalificar o contexto no qual a intervenção está inserida e propor alternativas aos projetos padronizados e replicáveis. O trabalho desenvolvido adotou o método Montessori por se tratar de uma pedagogia alternativa que vem se consolidando no Brasil, adotada como metodologia de ensino em diversas escolas privadas, viabilizando a instrução e preparação do corpo docente no sistema público de ensino. O público-alvo foram crianças do ensino fundamental I (5-10 anos) em período integral (matutino e vespertino), em turmas mistas, característica principal da pedagogia Montessori, que propõe a composição e organização de salas como pequenas comunidades integradas entre si, assegurando uma atmosfera de aprendizado cooperativo, trabalho em equipe e desenvolvimento social e emocional. A Escola Classe idealizada no projeto visou, além da implementação das diretrizes pedagógicas, requalificar o espaço urbano, comprometendo-se a ser um ambiente que agrega a comunidade circundante, ademais a proposta também objetivou repensar o educandário através de escolhas projetuais que solucionem questões relevantes sobre o conforto dos espaços escolares, flexibilidade dos ambientes no que tange aos seus usos e, sobretudo, adotem estratégias de fácil execução.

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Orientador: Caio Frederico e Silva Banca: Gustavo Luna Sales, Joara Cronemberger, Aline Stefânia Zim e Luis Alejandro Pérez 39


CCOL - complexo cultural orla livre Karoline de Sousa Cunha Os conceitos de integração, permeabilidade e visuais foram extremamente importantes para o desenvolvimento do projeto. Os eixos de circulação e articulação com o Parque das Garças determinaram o traçado de ocupação do terreno. Através de uma extensão do eixo viário existente, o mesmo desenho estruturou um novo eixo secundário definido por uma grande marquise, seguida de um deck, que além de criar uma relação entre o terreno e o parque, é um mirante que aponta em direção ao Lago Paranoá. Devido ao extenso programa, optou-se por dividir as atividades em blocos, a fim de setorizar e concentrar as funções em 3 núcleos: bloco A - sociocultural, bloco B - esportivo e bloco C - teatro. Os edifícios foram implantados mais ao nordeste do terreno, na cota 1005, para permitir a construção de um pavimento enterrado diminuindo a altura das edificações, preservando o skyline da cidade. Desta maneira, criou-se uma praça central rebaixada para manter a integração com as áreas de praia existentes. Para amarrar a composição, criou-se um outro eixo de circulação no terreno dado por um segundo deck, que articula diretamente com as edificações, e concebe novos pontos de contemplação da paisagem. O deck também é um elemento de setorização das áreas de praia, categorizando de acordo com seus atuais usos: praia marina ,com um pier; praia família, entre as limitações internas do deck; e praia esportes, mais próxima ao parque, onde já há um projeto de práticas esportivas. Quanto às edificações, o bloco esportivo ficou semienterrado, com a fachada principal para a praça e mantendo a circulação por sua cobertura criando outro mirante para contemplação da paisagem, de acesso no mesmo nível da marquise e do Parque das Garças. Intencionalmente todos os edifícios se abriram tanto para a praça central e o lago Paranoá, quanto para o parque, criando uma relação de integração entre eles. O bloco A foi elevado para manter a permeabilidade, com o acesso principal também a nível do parque, e criando um acesso secundário pelo centro do edifício no térreo inferior, onde estão locadas as colunas de circulação vertical e uma grande distribuição de fluxos que também dá acesso a praça e ao bloco B esportivo. Parte do edifício parece apoiar no solo, e apesar do caimento do terreno, o pé direito é mantido, elevando a outra parte do edifício por pilotis , preservando a permeabilidade. A topografia permitiu também a inserção do bloco C, o teatro com a arquibancada projetada para o lago e o palco reversível, viabilizando sua abertura completa para a praça e para o lago. A caixa d’água conformou um marco visual de todo o complexo, que faz contraponto com o farol locado na outra extremidade do terreno. O conceito de abrir visuais para o lago também foi aplicada às fachadas com brises em chapa metálica perfurada, fazendo com que quem está dentro do edifício consiga ver fora e quem está fora, consiga ver dentro. O mobiliário urbano, conformou-se ao redor de árvores existentes mantidas no projeto. Orientador: Oscar Luís Ferreira Banca: Claudio Queiroz, Mônica Godim e Ricardo Trevisan 40


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Habitar o campo: uma residência no lago oeste Marcia Del Lama Viver na APA da Cafuringa, área de amortecimento do Parque Nacional de Brasília (DF), e nas proximidades da Reserva Biológica da Contagem, requer um olhar sensível à preservação dos recursos naturais e à redução do impacto ambiental na ocupação do solo. Esse é o contexto da chácara residencial localizada no Núcleo Rural Lago Oeste, com ampla vista para a Chapada da Contagem. Nela viverá um casal habituado à vida urbana e às facilidades oferecidas pela vida moderna, mas que pretende viver no campo, em busca de uma vida mais saudável e de cultivar seus alimentos com práticas sustentáveis. O projeto engloba uma residência unifamiliar, áreas para criação de aves, cultivo de frutas e verduras, além de uma reserva natural, planejadas com inspiração nos princípios da Permacultura e de Sistemas Agroflorestais. A implantação da residência é, portanto, o ponto de partida na distribuição dos demais elementos que compõem a chácara. Visando o menor gasto energético, distribuem-se nas proximidades da casa aquelas atividades de maior manejo diário, tais como horta e galinheiro. O estudo do entorno permitiu escolher a zona mais adequada do terreno destinada à reserva florestal, já que ela deverá restaurar a continuidade da vegetação original de cerrado e favorecer assim uma interação entre a fauna e flora locais. A casa, com sentido de Habitat, mostra-se como um ambiente de refúgio e relaxamento, com um caráter arquitetônico despojado e contemporâneo. O partido de projeto, organizado em três blocos, está marcado pelo uso de estratégias bioclimáticas para obtenção de conforto ambiental, como implantação adequada, sombreamento de superfícies envidraçadas, aberturas controladas, disposição de elementos para permitir resfriamento evaporativo, sempre desenhadas de acordo com a carta solar e a incidência dos ventos predominantes. A escolha dos materiais das paredes, revestimentos, coberturas e as aberturas dos ambientes estão em conformidade com os critérios de eficiência térmica da ABNT NBR 15575. A projeto da casa se compõe de áreas para habitação, lazer e hobby, interligados por uma cobertura. A habitação, com a sua maior fachada voltada para o Norte, oferece a vista deslumbrante da Chapada da Contagem. No térreo, o ambiente integrado de estar, jantar e cozinha está pensado para propiciar momentos familiares aconchegantes, além de uma suíte para acomodar eventuais visitas com dificuldade de locomoção. Circulando-se apenas pelo térreo, é possível desfrutar de todas as atividades da casa. No pavimento superior estão a suíte principal, a suíte de hóspedes e uma sala íntima, com acesso à varanda. Um sistema solar fotovoltaico e coletores para aquecimento solar de água na cobertura contribuem para a eficiência energética da edificação. A eficiência hídrica engloba reservatórios para armazenamento de águas pluviais, a condução das águas cinzas claras diretamente para irrigação e o tratamento das águas cinzas escuras por zona de raízes. O projeto atende ao desejo dos proprietários de se criar um ambiente de contemplação e conforto, com manuseio sustentável do solo e consumos hídrico e energético mais eficientes.

Orientadora: Joara Cronemberger Ribeiro Silva Banca:Caio Frederico e Silva, Gustavo de Luna, Aline Stefania Zim e Luis Alejandro Pérez 42


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Lixo:compostagem e agricultura urbana no plano piloto de brasília Tainá Wanderley Este trabalho tem alguns pontos de partida, mas talvez a premissa fundamental seja a descentralização do processo de coleta, tratamento e destinação dos resíduos sólidos, isto é, que o problema do lixo seja resolvido mais perto de sua geração. Para além de uma diminuição de impacto ambiental e econômico, isso poderia causar uma mudança comportamental, e quem sabe a formação de uma consciência coletiva mais sustentável. A ideia aqui é tentar fechar o ciclo, ou se aproximar disso. E Brasília, cidade planejada sob a ótica do movimento moderno, hoje tombada nacionalmente e Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, ganharia uma nova camada: a da sustentabilidade. Isso agregaria valor ao título que a cidade recebe, sem ferir as características que a tornam única. Optou-se por trabalhar com os resíduos orgânicos compostáveis, ao se notar, ainda, uma conexão temática entre o lixo e o alimento: como retirar os resíduos orgânicos do ciclo do lixo e recolocá-los no ciclo do alimento? Seria possível facilitar a integração entre os dois ciclos com ferramentas de desenho urbano e arquitetônico? Após um estudo sobre a história do lixo urbano, sobre a atual gestão do lixo no Distrito Federal, após uma análise atenta das diversas referências nacionais e internacionais, buscou-se dimensionar a geração de lixo no local, visando entender quais eram os processos mais adaptáveis à realidade da área de estudo, e quais as estruturas necessárias de acordo com o volume e o tipo de resíduo. E a proposta deste trabalho, então, foi elaborada em suas escalas urbana e arquitetônica, englobando três estratégias: a alteração do sistema de coleta dos resíduos sólidos nas superquadras e comércios locais; a realização de compostagem da fração orgânica desses resíduos nas Estações de Compostagem das Unidades de Vizinhança; a indicação de locais nas asas para realizar agricultura urbana, sendo uma destinação final mais próxima para o composto produzido na compostagem, fechando o ciclo. Nessa última parte, foram ainda exemplificados cinco modelos possíveis de serem implantados em conformidade aos parâmetros dos diversos setores da cidade. A Estação de Compostagem da Unidade de Vizinhança da 305/304/105/104 norte teve seu programa de necessidades criado a partir das demandas espaciais e técnicas para realização do processo de compostagem. Porém, também incluiu espaços complementares comerciais, criando também espaço para agricultura urbana em seu terraço, com a produção de mudas de hortaliças, ervas e flores. Além de uma infraestrutura abrigando função importante para a cidade, o projeto, com sistema estrutural em madeira, pretendeu ser uma contribuição arquitetônica harmoniosa ao contexto no qual se insere. Havia a intenção de que o edifício respeitasse as preexistências, se integrando a elas e dando forma a mais um espaço público qualificado, com mobiliário, áreas de permanência para os moradores, trabalhadores da região e passantes, favorecendo o acesso por pedestres e ciclistas, proporcionando uma integração paisagística com a Unidade de Vizinhança em questão, local generosamente arborizado. A cisão do bloco em duas partes com a criação de um jardim central, desejada por questões operacionais e bioclimáticas, também abre o edifício ao olhar das pessoas, permitindo mais participação e interesse pela própria temática materializada no edifício. O mérito do projeto é exatamente esse seu possível efeito multiplicador. Orientadora: Gabriela de Souza Tenorio Banca: Cláudia Garcia, Ivan do Valle, José Mario Pacheco e Mônica Gondim 44


Imagens fornecidas pela autora.

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cidade e natureza: urbanização em áreas de recarga de aquíferos Aline da Nóbrega Oliveira

a nova biblioteca pública de Brasília Angela Viana Pereira

modifica: eixo de produção e comércio de modas do df Bárbara Veras Rodrigues Queiroz

viveiro caliandra Laura Santos Siqueira

parque aqua lakeshore Layane Christine Vieira

abrigo para pessoas em situação de rua Letícia Drummond de Oliveira Magalhães

sambódromo da ceilândia Lucas Rodrigues Araújo

os movimentos sociais no direito à cidade

espaços públicos modulares para crianças

duna – complexo praiano

espaço iso photo e arts

google brasília - em busca do conforto do usuário

projeto quatro patas

Cristina Nakamura Araujo

Danielle Mota

Débora Guedes Anacleto

Luísa Viana Luniere de Azevedo

Maria Clara Viana Licursi

Maria Eduarda Moll Chaves

centro gerontológico sensorial

requalificação urbana ao longo do metrô de ceilândia

terminal de integração hidroviária

cw3 - coworking w3 sul

espaço do nascer

“ei! tem alguém aí?”

edifício de uso misto para locação social

novo zoo bsb

modhaus - modelo de habitação para autoconstrução Sustentável

dorothy stang de baixo pra cima

Deyse Chagas Mendes

Douglas Dornela Menezes

Estela Hirakuri

Luís Fernando Lucena

Gabrielle Monteiro Teixeira

permacultura urbana e habitação social Giulia Gheno

emaa – escola municipal alice attuá Hiagson Souza de Jesus

intervenção no elefante branco: integrando a cidade com o parque Joaquim da C. Bastos Júnior

menu brasília - espaço gastronômico e cultural Larissa Carvalho de Paula

Maria Emília Monteiro

Marina da Silva Ribeiro

Mariana Figueiredo Sobral Torres

Mario Sergio Facundes Taveira

Mateus Marques Rangel

eixo universitário do plano piloto Rachel Benedet de Sousa Martins

espaço da moda Vanessa Silva Botelho

centro de intercâmbio cultural brasil – japão Vinícius Faustino de Oliveira Santos

cer- centro especializado em reabilitação visual, físico, auditivo Yasmin Rodrigues da Costa


Cidade e natureza: urbanização em áreas de recarga de aquíferos Aline da Nóbrega Oliveira A forma de urbanização corrente nas cidades, proveniente de padrões urbanos que não dialogam com o meio físico, tem impactado os serviços ecossistêmicos hídricos, devido a excessiva impermeabilização do solo e a consequente diminuição da infiltração das águas, que reduz os níveis de água nos reservatórios subterrâneos, os quais são responsáveis pela manutenção da disponibilidade hídrica nos períodos de estiagem. Nesse contexto, o trabalho buscou identificar, analisar e simular padrões urbanos de baixo impacto para áreas com sensibilidade à recarga de aquíferos, aliados às infraestruturas verdes de drenagem que auxiliam na redução do impacto sobre o solo e propiciam o aumento da infiltração das águas. A área estudada está inserida na bacia do Paranoá, em Brasília, na Região Administrativa do Lago Norte, caracterizada como uma zona de expansão urbana e de alta suscetibilidade à perda da recarga dos aquíferos. Este estudo pode comprovar a efetividades das infraestruturas verdes e a possibilidade de se urbanizar com base nas demandas da natureza utilizando padrões sensíveis à água. Orientadora: Maria do Carmo de Lima Banca: Rubens do Amaral, Paulo Tavares, Luis Pedro de Melo e Gabriela Tenório

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A nova biblioteca pública de Brasília Angela Viana Pereira O objetivo da Nova Biblioteca Pública de Brasília é ser um equipamento cultural que contribua para ampliar a oferta de conteúdo, meios e espaços que se relacionam ao mundo da leitura e do aprendizado, assim como ao encontro, à troca e à abordagem lúdica do conhecimento. A biblioteca ocupa os terrenos da EQS 312/313 e EQS 512/513 – sítio voltado para a W3 Sul, contando com boa acessibilidade para pedestres e para o transporte público, grande fluxo de pessoas e infraestrutura para acomodar o edifício e acolher os visitantes. A forma proposta parte de uma malha, que modula os espaços internos e a estrutura. Dois pavimentos e um subsolo formam um volume único, no qual foram feitas subtrações para marcar os acessos e um pátio interno – um jardim para onde estão voltadas as áreas de coleção, que se interligam por uma passarela. O subsolo conta com acesso independente e abriga usos culturais, além de áreas destinadas aos funcionários e estacionamento. O edifício se descola das extremidades para iluminar o subsolo, sendo definido um talude voltado para a W3. Uma segunda pele metálica perfurada envolve as fachadas, unificando o volume e variando de acordo com a incidência solar.

Orientador: Maria Cecília Filgueiras Banca: Cláudia Garcia, Cláudio Queiroz e Elane Ribeiro Peixoto

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Modifica: eixo de produção e comércio de modas do df Bárbara Veras Rodrigues Queiroz

A Galeria Serpentine no Hyde Park de Londres possui uma tradição de quase 20 anos de exposições anuais de Pavilhões. O ambiente é propício à inovação, tanto formal quanto conceitual. O Homo Liber é literalmente o homem livre. É um reflexo da cultura dos nossos dias, cuja luta pela liberdade é a maior de todas as guerras. Os anseios pela liberdade de se expressar são latentes e, graças ao que o Homo Sapiens já viveu, são cada vez mais palpáveis. Implantado a 1,30m acima do nível do solo, a passarela parece flutuar no Hyde Park, em Londres. Barras de aço contraventadas oferecem sustentação para as placas metálicas da cobertura, que formam uma casca leve e fina. O percurso por uma passarela é linear. Ou seja, existe um começo e um fim. Em cada bloco do pavilhão é contada uma parte da história da humanidade. A peregrinação é, portanto, pela história da sociedade. O indivíduo vivencia em poucos minutos o que o ser humano vivenciou em milênios. A forma e o conceito, nesse caso, possuem a mesma relevância. Não há hierarquia, e sim, complementação. Por isso, o termo Homo Liber é tanto ao pavilhão quanto à exposição. Orientador: Maribel Del Carmen Aliaga Banca: Lucas Abreu, Mônica Fiuza Gondim, Paulo Tavares e Vânia Telles Loureiro

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Os movimentos sociais no direito à cidade: desenho coletivo dos espaços livres públicos no assentamento MTST em Nova Planaltina Cristina Nakamura Araujo Quando os moradores do MTST, Setor Habitacional Mestre D’armas I, (área que conquistaram 23 lotes junto à CODHAB e agora em processo de regularização) me trouxeram a demanda por uma agrofloresta comunitária, decidi complementar o projeto do governo com um trabalho focando nas áreas livres públicas e feito de forma participativa com as famílias. Neste caminho, foram levantadas também reflexões sobre o sistema alimentar no direito à cidade, como formas de soberania e resistência. Assim, o objetivo é que a área destas famílias seja mais que um espaço dormitório. Seja um espaço de convivência plena, que garante além do direito à moradia adequada, o acesso a espaços de convívio e lazer de qualidade; o fortalecimento do sentido de pertencimento e identidade; a diminuição dos conflitos socioambientais, e a promoção da autossuficiência alimentar. O resultado final foi a troca com as famílias através das oficinas: a discussão participativa na construção de soluções emancipatórias e de autogestão. A base criada aqui, no entanto, é apenas uma parte do trabalho, parte do grupo “Periférico, trabalhos emergentes” da FAU/ UnB, que não deve ser encerrado aqui, no tempo acadêmico, mas desenvolvido em suas próximas etapas no contexto temporal condizente com o dos moradores. Orientadora: Vânia Teles Loureiro Banca: Flaviana Lira, Rodrigo Faria e Valério Medeiros

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Duna – complexo praiano Danielle Mota O projeto DUNA nasceu do incômodo gerado por um edifício abandonado na praia Barreira D’água, há mais de 20 amos. A poluição visual causada pelas ruínas do Hotel BRA, juntamente com o sentimento de desperdício do terreno em questão, que situa-se entre o mar e o parque ecológico das Dunas em Natal - RN, estimularam o desenvolvimento deste projeto. A partir dessa análise, o projeto Duna estruturou-se em um complexo composto por um hostel com infraestrutura aberta para não-hóspedes (beach club + spa), um restaurante escola e uma ampla praça mirante pública para contemplação do visual. Uma das premissas utilizadas no projeto é a valorização do visual e a sua utilização como elemento atrativo. Para tanto, optou-se pelo não aproveitamento das ruínas do hotel BRA, uma vez que além de possuir estrutura inapta para utilização ( visto que foi deteriorada pela maresia), o empreendimento desrespeita a legislação vigente em 4 pavimentos no quesito gabarito permitido. Da opção pela demolição do esqueleto presente, somado à legislação atual que não permite que a construção exceda o nível da rua em altura, surgiu a ideia de transformar a cobertura do empreendimento em uma praça mirante. A ideia é que a praça seja um ponto turístico e também um espaço de lazer para os próprios potiguares. Orientadora: Eliel Américo Banca: : Claudia Garcia e Maria Cecília

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Google brasília - em busca do conforto do usuário Débora Guedes Anacleto As torres foram pensadas para atender a critérios referentes ao conforto luminoso e térmico em um edifício de escritórios, utilizando a luz como elemento de composição arquitetônica e considerando ainda aspectos da sustentabilidade e biofilia como base. Além disso, a fim de criar um edifício de escritório com mais personalidade, foi escolhido como cliente uma empresa que preza bastante pelo conforto e bem-estar de seus funcionários: a Google. Por outro lado, a base comercial foi pensada para solucionar os problemas de esvaziamento noturno do SAUN e trazer uma diversidade aos tipos de atividades que têm nesse setor. Com isso, a criação de espaços como cinemas e academias possibilita a transformação desse local em um polo atrativo. O partido arquitetônico foi baseado em dois conceitos: insolação e vistas, a fim de promover um melhor conforto térmico e visual para os usuários. Com isso, pensou-se nas maiores fachadas voltadas para Norte e Sul e em valorizar a melhor vista, a Leste. Em seguida, visando a presença de iluminação natural em todos os ambientes, foram feitos eixos de limitação de profundidade, para que a profundidade da planta não ultrapassasse 25m. Notou-se também uma necessidade de buscar uma forma mais orgânica, que permitisse a criação de espaços abertos e promovesse maiores possibilidades de vistas. Com isso, surgiu a proposta final. Orientador: Cláudia Naves Amorim Banca: Caio Frederico e Silva, José Manoel Sanchez, Natália da Silva Lemos

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Centro gerontológico sensorial: atenção ao bem-estar físico e psicológico dos idosos Deyse Chagas Mendes A hospitalização rompe com o cotidiano natural e pode diminuir a possibilidade de vivenciar experiências sensoriais usuais. A rotina dos idosos hospitalizados é cercada por estímulos dolorosos, restrição do espaço físico e de movimentação, e alteração de estímulos ambientais. O Centro Gerontológico Sensorial atrela o conceito de humanização e ambiência como principal base do projeto, pois o tratamento dado ao espaço físico proporciona um conforto e qualidade ambiental que serão percebidas pelo usuário, já que somos capazes de interagir com o ambiente imediato por meio dos sentidos. Busca-se não criar uma arquitetura hospitalar e sim uma arquitetura para a saúde. Localizado em Ceilândia, o Centro Hospitalar está interligado em 3 blocos, permeados por jardins e hortas comunitárias: O BLOCO 1 destinado ao ambulatório, exames, laboratórios e emergência, possui coberturas metálicas em sheds e fachada com brises horizontais, propiciando ventilação e iluminação natural. O BLOCO 2 possui 3 pavimentos com centros cirúrgicos e internações, pilotis como área de passagem entre os blocos e cobertura destinada para o solário dos pacientes, onde acontece os “percursos sensoriais”. O BLOCO 3 tem sua estrutura como o bloco 1, mas com destinações administrativas e de serviços, com anexos para refeitório e auditório.

Orientador: Frederico Flósculo P. Barreto Banca: Ana Flávia R. Mota, Augusto Cristiano P. Esteca e Ivan Manoel do Vale

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Terminal de integração hidroviária Douglas Dornela Menezes É proposto o edifício piloto do sistema de transporte hidroviário no lago de lajeado, como um equipamento público que reforce o caráter de reestruturação da cidade em torno das águas, uma espécie de experimentação teórica de apropriação das margens de forma integrada a vegetação densa da orla. A navegação teria função complementar nas atividades das cidades, podendo contribuir com a redução dos impactos decorrentes da desfragmentação territorial regional, reforçando o caráter público das margens como espaço indispensável na consolidação das atividades urbanas e na integração cidade/natureza. Ou seja, uma cidade que prioriza o transporte fluvial e que configura seus espaços e sua função urbana em proteger os rios. O caminho inicia através do percurso de quem vem através da praia, margeia o espaço preexistente de natureza, com alagados, campos, buritis e após, o terminal compõe o ponto final do percurso, se abrindo ao espaço externo e fornecendo abrigo. A partir de então é possível então continuar o caminhar, porém sobre as águas, navegando. Esse grande abrigo é capaz de oferecer suporte as atividades inerentes ao terminal de integração hidroviário, porém de forma a integrar e responder demandas do entorno, reconhecendo o lugar como espaço de pertencimento e referência. Orientador: Augusto Cristiano P. Esteca Banca: Maria Claudia Candeia, Frederico Flósculo Pinheiro, Ivan do Valle e Amanda Casé Monteiro

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Espaço do nascer: casa de atendimento à gestante e ao parto humanizado no hospital regional de ceilândia Estela Hirakuri O projeto procura atender a uma demanda tanto do governo enquanto medida de saúde pública, quanto das mulheres que querem ter um parto natural. Além disso, busca seguir o movimento de humanização dos espaços de saúde, que colocam o paciente como indivíduo de maior importância no processo projetual. Casas de parto são pensadas para ser um meio termo entre o domicílio e o hospital, promovendo um parto natural respeitoso, livre de intervenções e qualificando os serviços de assistência à gestante. Diferentemente de uma maternidade tradicional, onde a mulher transita de um ambiente a outro durante o procedimento de parto, casas de parto têm como principal elemento o “Quarto PPP”, que atende ao Pré-parto, ao Parto e ao Puerpério. Assim, ela permanece sempre no mesmo local, com o intuito de fazê-la se sentir mais familiarizada e confortável. A única casa de parto existente hoje no Distrito Federal, localizada em São Sebastião, é referência para as mulheres, mas atende somente moradoras da região. Esse projeto visa contribuir para a expansão da rede de atendimento, que já é parte das estratégias da rede pública de saúde, e abranger a região de Ceilândia. Orientador: Maribel Aliaga Fuentes Banca: Carolina Pescatori, Joara Cronemberger, Mônica Godim e Ana Laterza

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Edifício de uso misto para locação social Luís Fernando Lucena

Historicamente, os empreendimentos de habitação social brasileiros se encontram, em grande parte, nas periferias ou franjas urbanas, locais distantes de infraestrutura e com oferta deficitária de emprego e acesso a serviços de saúde, educação, transporte e opções de lazer. Atualmente evidencia-se, nos debates sobre habitação, a necessidade de se oferecer opções de moradias nos centros urbanos. Para tanto, desenvolve-se uma proposta de tipologia que una interesses públicos e privados em áreas centrais subutilizadas. A definição do local se apropria da situação de desaquecimento no mercado imobiliário em Águas Claras (DF) e da decorrente oferta expressiva de lotes não ocupados ou subutilizados. O edifício de uso misto permite a exploração dos pavimentos inferiores com comércio, gerando renda para a manutenção da porção residencial, cuja propriedade pública, destinada ao aluguel social, se esquiva de lógicas excludentes de mercado e lucro na concepção arquitetônica e uso do solo. Localizado em frente à estação de metrô Concessionárias, em um dos atuais 277 lotes vazios de Águas Claras vertical, o projeto prevê 44 unidades residenciais, para até 132 pessoas; bicicletário; 6 escritórios ou salas comerciais; 3 lojas; 20 vagas de estacionamento, contemplando 50% das unidades habitacionais. De uso comum dos moradores, há um espaço de convivência com cozinha, sala de estar/reuniões, terraço, administração e lavanderia coletiva. Orientadora: Cristiane Guinâncio Banca: Augusto Cristiano Prata Esteca, Eliel Americo, Benny Schvarsberg

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Modhaus - modelo de habitação para autoconstrução sustentável Gabrielle Monteiro Teixeira A casa MODHAUS surge da necessidade de se trazer maior consciência ecológica no setor da construção civil e, em especial, no setor da habitação. Assim sendo propõe uma alternativa arquitetônica residencial cujo conceito gira em torno de princípios sustentáveis e relacionados à economia em sua produção e ao longo de sua vida útil. O projeto prevê possibilidades de expansão em função das necessidades das famílias que venham a habitá-la. O projeto emprega fundamentos da bioconstrução para garantir uma casa de baixo impacto ambiental e de maior qualidade bioclimática, bem como dispõe de estratégias passivas para lograr um melhor desempenho térmico e de iluminação no interior da casa. Visando reduzir o impacto ambiental provocado pelas construções e necessidades diárias, a casa prevê sistemas ecológicos e sustentáveis para gestão de águas (pluviais, cinzas e negras) objetivando um uso mais responsável dos recursos naturais. A facilidade da técnica empregada permite a prática da autoconstrução para a execução da casa, com ou sem o regime de mutirão e, para tanto, conta com seu próprio manual de autoconstrução, contendo todas as informações necessárias, da implantação ao acabamento. Orientadora: Márcio Buson Banca:Caio Frederico e Silva, José Mário Pacheco, Nathália da Silva Lemos e Rosana Stockler Clímaco

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Permacultura urbana e habitação social Giulia Gheno A projetação urbana e arquitetônica apresenta-se como recurso para incentivar a discussão sobre o direito à cidade e à moradia através da sustentabilidade social, econômica, cultural e ambiental em cenários periféricos. Assim como aludir ao 11º Objetivo de Desenvolvimentos Sustentável da Agenda 2030 da ONU, que oferece princípios para tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. A condução do projeto acontece em parceria com a comunidade do Assentamento Irmã Dulce, que possui 1,6 ha e 93 famílias, localizado na ARIS Nova Colina II, em Sobradinho, DF. O processo participativo se pauta na metodologia do Grupo Periféricos através de questionários, visitas e oficinas lúdicas com os moradores. Em todo o percurso, as necessidades e as sugestões são preponderantes para nortearem cada escolha projetual. A Permacultura Urbana é usada como alternativa a infraestrutura urbana e gestão tradicionais. Através de princípios éticos e de design, são elencadas estratégias de zoneamento e tecnologias verdes aplicáveis ao contexto econômico e social. São abordadas a eficiência energética cíclica, a autoconstrução e a autogestão das habitações estruturadas em bioconstrução. O estudo aborda um sistema integrado entre habitação social, equipamentos públicos e espaço urbano para reuso e reciclagem das águas, práticas agroflorestais e fortalecimento de uma cultura de cuidado com a terra e com as pessoas com partilha justa. Orientador: Liza Andrade Banca: Liza Andrade, Mônica Gondim, Natália Lemos, Patrícia Gomes

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Emaa – escola municipal alice attuá Hiagson Souza de Jesus A EMAA – Escola Municipal Alice Attuá se localiza no distrito de Missão de Aricobé, município de Angical – Bahia, possui trinta e quatro anos de fundação e nunca passou por um processo de reforma eficaz a fim da requalificação dos espaços, que não atendem as demandas da comunidade. Com isso, a obra vem propor um novo projeto à EMAA, assim como a extensão de suas instalações no intuito de atender de maneira integral a maior parte da comunidade escolar local. A proposta à EMAA se baseia em algo novo, que seja um diferencial à cidade, divergindo da arquitetura local a fim de trazer identidade ao prédio e de certa forma atração aos usuários. O programa de necessidades se encaixou no prédio de forma a priorizar o fluxo de alunos, funcionários e visitantes por meio de uma hierarquia de pavimentos/função, onde se pode encontrar o que se dedica totalmente para ambientes pedagógicos, direção e administração, serviços, vivência e pedagógico, sendo o segundo no nível da rua que visa o fluxo de visitantes e prioriza a segurança dos alunos e funcionários. Além disso, existem muitos pátios internos cobertos, uma vez que o clima quente e árido da região provoca ao usuário a busca pela sombra. Orientador: Cláudia Garcia Banca: Ana Isabela Soares, Cláudia Garcia, Elaine Ribeiro e Maria Cecília Filgueiras

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Intervenção no elefante branco: integrando a cidade com o parque Joaquim da C. Bastos Júnior O prédio do Elefante Branco está situado na 907/908 sul, quadra referência de Brasília, no ponto intermediário do eixo cultural da quadra, no qual abriga obras de grande relevância para o cenário inicial da construção de brasília. Foi a primeira escola de ensino médio projetada em Brasília, em 1957, obra do arquiteto José de Souza Reis. Apesar da escola fazer fronteira com o Parque da cidade, não possui qualquer vínculo ou passagem, ignorando por completo sua existência e sua importância. Isso se deve ao fato da escola ter sido construída antes da instalação do Parque. Já no interior do lote, o fluxo de pedestres tem um traçado marcante nos sentidos transversais, mostrando-nos o desejo e a necessidade de requalificação para esse percurso que era ocupado pelo antigo estacionamento, superdimensionado, já que grande parte dos alunos não possuem idade para conduzir veículos motorizados. Além disso, os funcionários da instituição fazem uso do estacionamento posterior, localizado no piloti da edificação, diminuindo mais a carga de uso do estacionamento frontal. A proposta é remover por completo o estacionamento frontal do edifício, remover os cercamentos e os usos inapropriados do piloti; também construir uma nova sede para o Centro de Línguas, esta semienterrada para não tirar a importância do prédio já existente e requalificando a passagem dos usuários que por ali passam todos os dias. Orientadora: Luciana Saboia Fonseca Banca: Carolina Pescatori e Patrícia Silva Gomes

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Menu brasília - espaço gastronômico e cultural Larissa Carvalho de Paula Dentre as diversas tipologias comerciais de caráter público, o espaço gastronômico ressalta o potencial cultural, econômico e democrático, palco de relações humanas que desde a Antiguidade são fundamentais para impulsionar a urbanidade e a formação dos centros urbanos. Eles ultrapassam a ideia de intercâmbio de produtos para ser referência na cultura, tradição, comércio e relações sociais na cidade a que se insere. O projeto do MENU BRASÍLIA consiste em um novo equipamento estratégico na tentativa de integrar o Setor Cultural da cidade, localizado no Eixo Monumental, e recuperar o espaço urbano. Pretende proporcionar uma arquitetura capaz de servir de apoio a espaços de convívio, área gastronômica, ambientes destinados a atividades culturais, impulsionar o comércio local, as trocas e novas experiências. O complexo é composto por área gastronômica, lojas de especiarias, salas para cursos, coworking, escola gastronômica, praça interna destinada a eventos efêmeros e ainda uma grande escadaria como espaço de contemplação voltada para uma as mais belas visuais da cidade: a Torre de Televisão de Brasília. Espero ter contribuído para despertar a vontade reviver a ideia do mercado trazida para os dias atuais e demostrado o grande valor cultural existente nesta tipologia e em tudo que nela está intrínseco. Mas sobretudo, quem sabe, tenha despertado em você a vontade de intervir e vivenciar o local. Orientadora: Eliel Américo Banca: Augusto Esteca, Carlos Henrique Magalhaes, Juan Carlos Guillén e Neusa Cavalcante

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Viveiro caliandra Laura Santos Siqueira O Viveiro Caliandra localiza-se no Núcleo Rural Vale do Palha, Lago Norte. A região apresenta alta sensibilidade ambiental e fragilidade hídrica, devido à presença de vegetação nativa, nascentes e solo de recarga hídrica. Assim, foi elaborado um projeto de viveiro de produção e demonstração de técnicas de cultivo, com foco também na preservação e educação ambiental, que é capaz de abordar diversas questões sociais, culturais, econômicas e ambientais, além de trazer as atividades e processos que nele ocorrem para consolidar preceitos da relação campo-cidade. O resultado consolida uma configuração espacial que traz diversas técnicas de cultivo alternativas e sustentáveis, além de abordagens distributivas da água e a integração com pequenas animais aliados na produção. O projeto foi pensado em vários níveis, desde o posicionamento de bacias de contenção, passando pelo sistemo viário, até os diversos edifícios e locais de cultivo, todos cuidadosamente posicionados. Ainda, foi proposto um viveiro ornamental, que reúne as atividades administrativas do local, além restaurante, loja e mirante. Em consonância com o objetivo do projeto, o sistema estrutural escolhido foi a taipa de pilão. Orientadora: Natália da Silva Lemos Banca: Liza Maria de Souza Andrade, Mônica Fiuza Gondim e Patrícia Silva Gomes

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Parque aqua lakeshore Layane Christine Vieira O Parque Aqua Lakeshore (Chicago, IL) utiliza a arquitetura e o urbanismo como instrumento de disseminação do aprendizado referente à água e aos riscos aos quais os recursos hídricos estão suscetíveis diariamente, dando destaque à constante presença destes aquíferos na paisagem urbana. O parque tem como objetivo melhorar um dos principais problemas de infraestrutura urbana da cidade: a sobrecarga do sistema de esgoto e água pluvial, bem como oferecer espaços para manifestações artísticas onde a água protagoniza a história contada. Desta forma, há a hibridização de uma arquitetura de caráter intermitente (o reservatório de água da chuva) com uma arquitetura de uso contínuo (o parque). Por estar em meio a um grande centro urbano, o projeto funciona como uma “esponja urbana” para a água da chuva. A edificação compõe a paisagem da cidade de maneira descontínua e descompactada, criando diversas camadas de passeio nas quais sempre haverá uma apreensão diferente do espaço visitado, seja com novas visuais do terreno ou de sua vizinhança. Além disso, o parque tem o potencial de fazer a conexão direta entre a Avenida Michigan – uma importante rua turística e de comércio – e o Lago Michigan. Orientador: Márcio Buson Banca: Daniel Sant’Ana, Gustavo de Luna Sales, Luis Alejandro Pérez e Renata Mello Montenegro

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Abrigo para pessoas em situação de rua Letícia Drummond de Oliveira Magalhães Somente estrutura de pernoite não é suficiente para recuperação e reinserção social da pessoa em situação de rua. O projeto visa englobar diferentes frentes necessárias à recuperação dessa população, como alimentação, educação, saúde, atendimento psicossocial e convivência, além de lançar mão de uma arquitetura mais humanizada, aspecto importante que exerce grande impacto na recuperação da autoestima dessa pessoa. Propõe, ainda, uma localização privilegiada, no SGAN - quadra 601, próximo ao coração da cidade e do maior ponto de concentração dessa população no DF: a rodoviária do Plano Piloto. Com uma arquitetura simples e descontraída, o projeto apresenta como diretrizes a integração com a natureza por meio do aproveitamento da área verde e de jardins internos. Estes, também ajudam na iluminação e ventilação naturais, assim como as esquadrias que promovem ventilação cruzada. Estratégias de conforto térmico e acústico, como telhas de fibrocimento, fachada ventilada e estrutura em light steel frame foram empregadas. A integração do espaço público e privado se dá por meio de um “calçadão” inteiramente acessível, sendo o eixo regulador do projeto. A abertura do restaurante comunitário e dos cursos e oficinas à comunidade visa maior convivência social e auto reconhecimento do indivíduo em recuperação como membro da sociedade. Orientadora: Cláudia Garcia Banca: Cláudia Garcia, Eliel Américo, Lia Tostes, Márcia Trancoso

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Sambódromo da ceilândia Lucas Rodrigues Araújo A escolha do sambódromo como objeto de estudo é feita atenta à importância da criação de um espaço a sediar os desfiles das escolas de samba e atender às necessidades das agremiações. Assim, têm-se a intenção de que o projeto atue como um possível elemento propulsor do retorno e consolidação deste tipo de carnaval no Distrito Federal, buscando sanar os prejuízos causados à comunidade pela suspensão destes desfiles em 2015. Sensibiliza-se à necessidade de apoiar e preservar este tipo de manifestação popular essencialmente brasileira, talvez, um de seus traços culturais mais emblemáticos internacionalmente. É importante ressaltar que as atividades desenvolvidas pelas agremiações extrapolam o métier carnavalesco, desenvolvendo diversos papéis de caráter comunitário. Pretende-se a criação de um espaço destinado a sediar os desfiles de samba e fornecer às agremiações espaços dedicados que suportem eventos e atividades de médio a grande porte que, entre outras funções, viabilizariam financeiramente a realização dos desfiles. Para tanto, a proposta agrega à pista de samba um programa de atividades complementar que se divide em: Centro Cultural (cinema, café, sala de exposições e camarote), Feira Local, Camarote e Salão Multiuso, Tenda Multiuso e Barracões. Orientadora: Eduardo Rossetti Banca: Ana Elisabete de Almeida, Pedro Paulo Palazzo de Almeida e Sérgio Rizo Dutra

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Espaços públicos modulares para crianças Luísa Viana Luniere de Azevedo O presente trabalho de diplomação teve como objeto de estudo um parque infantil modular voltado para crianças de 5-10 anos que possa ser adaptável a várias realidades e sítios. Para tanto, foram propostos mobiliários urbanos lúdicos que desenvolvam habilidades cognitivas, físicas e sociais para crianças. Além disso, para a questão modular foi proposto um desenho urbano seguro e lúdico para as crianças em todo o raio de abrangência do parquinho. Este trabalho defende uma nova proposta de diretrizes que estes parquinhos modulares devem seguir para atender a todas as demandas, necessidades e potencialidades do desenvolvimento infantil. Os espaços públicos lúdicos precisam não só de equipamentos melhores que estimulem mais as habilidades cognitivas infantis, mas também de um desenho que favoreça as interações sociais entre crianças e adultos, além de trazer mais segurança e permitir maior empoderamento do espaço público pelos seus usuários. Mesmo propondo um desenho diferente dos brinquedos tradicionais, optou-se por fazer uma releitura dos mesmos pois estes já são muito abrangentes no desenvolvimento das habilidades necessárias ao desenvolvimento da criança, focando assim em possibilitar diferentes brincadeiras dentro de um mesmo equipamento e criar mais desafios daqueles já conhecidos pelas crianças. Orientador: Gabriela de Souza Tenório Banca: Luís Pedro De Melo, Maria Do Carmo De Lima e Paulo Tavares

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Espaço iso photo e arts Maria Clara Viana Licursi O Espaço ISO photo e arts é um espaço que oferece cursos de pós graduação, especialização e profissionalização em fotografia, contendo 4 grandes estudios de fotografia, salas de revelação manual, salas multimídia, espaços para oficinas, salas de aula e espaço para a área administrativa educacional, além de espaços de coworking para alugel e espaços públicos, como biblioteca, salas de estudos, brinquedoteca, sala de dança, música, teatro e trabalhos manuais, auditórios e lojinhas para a venda de produtos feitos no local, tudo isso disponível para a população. O espaço externo também faz parte do projeto e possui fortes ligações do interior com o exterior, uma grande praça pensada para atender todas as necessidades especiais de qualquer pessoa, com escadas e rampas ligando todos os principais pontos do terreno, criando espaços de estar para todas as faixas etárias, como playground, pista de skate e teatro de arena voltado, tanto para a parte interna de um dos auditórios, quanto para um palco externo. O café cituado no interior do edificio também possui acesso pelo lado externo, oferenco um espaço com mesas do lado de fora. A arquitetura do prédio foi pensada para fornecer a maior integração com o exterior, com brises e paineis metálicos perfurados nas fachadas de vidro, acessos aplos e livres de obstáculos, circulação vertical e horizontal com visuais livres de todo o prédio. Os principais materiais utilizados foram o metal nos pilares e o concreto aparente nas lajes nervuradas. Orientadora: Maria Cecília Filgueiras Banca: Cláudia da Conceição Garcia, Cláudio de Queiroz e Elane Ribeiro Peixoto

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Projeto quatro patas: projeto arquitetônico de abrigo pra animais abandonados Maria Eduarda Moll Chaves Projeto Quatro Patas é um estudo de arquitetura modular de rápida construção, fácil manutenção e eficiência econômica a médio e longo prazo, com principal conceito de animalização do espaço. Portanto, o estudo pretende otimizar a construção de novos espaços com a função de abrigar animais abandonados e, numa escala maior, como consequência indireta, poderia aumentar o número de abrigos a nível nacional. O Projeto Piloto desse estudo está implantado no terreno do abrigo Flora e Fauna, na cidade do Gama - Distrito Federal. A falta de espaços qualificados dedicados a abrigar animais em situações de risco aliada à precariedade de informação disponível sobre o tema, evidenciam a relevância de um projeto destinado a suprir essa lacuna. A escolha do tema se deu a partir de experiências pessoais no Abrigo Flora e Fauna, localizado na área estudada, onde pude notar a ausência de informação para orientar reformas e até mesmo novas construções desse tipo de arquitetura. Associado a isso, o número de animais abandonados só aumenta e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2014, no Brasil havia cerca de 30 milhões de animais abandonados. Mais de 20 mil desses animais estão nas ruas do Distrito Federal, segundo a Gerência de controle de Zoonoses da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (GERAZ). A abordagem do tema foi iniciada na disciplina de Ensaio Teórico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB, onde foram feitos estudos iniciais, foram levantados dados sobre o tema e foram realizadas tabelas com parâmetros arquitetônicos. Orientadores: Augusto Esteca e Frederico Flósculo Banca: Ana Flávia Rego Mota e Ivan Manoel do Valle

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Requalificação urbana ao longo do metrô de ceilândia Maria Emília Monteiro A partir dos conceitos de (1) Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável-DOTS, (2) Cidades Compactas, (3) Sprawl Repair e (4) Microacessibilidade, foi elaborado um projeto de requalificação urbana ao longo das estações do metrô de Ceilândia com o intuito de aumentar a vitalidade da região. O objetivo é representar o potencial de uso e ocupação do território dos corredores de transporte público de média e alta capacidade do DF. O diagnóstico foi feito por meio de caminhas-teste e da decomposição e análise dos espaços livres públicos. Após a identificação de problemas e potencialidades, o projeto se desenvolveu em três etapas: (1) criação de novas vias e reformulação de macroparcelas; (2) criação de novas tipologias nas áreas não ocupadas; e (3) readequação dos lotes já ocupados para novos parâmetros urbanísticos. O projeto alcançou seu objetivo ao mostrar como a área pode ser transformada para atingir seu potencial. Foram criadas 547 novas edificações para preencherem os vazios urbanos e os espaços residuais e foi proposta a reformulação de 13.637 lotes. A população da área de intervenção era de 490.000 habitantes e sofreu um aumento de 38%, passando para 675.222 habitantes. Orientadora: Vânia Raquel Teles Banca: Flaviana Barreto Lira, Mario Pacheco, Rodrigo Santos de Faria e Valério Augusto S. de Medeiros.

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Cw3 - coworking w3 sul Marina da Silva Ribeiro O Coworking é um tipo de espaço e forma de trabalho em ascensão, angariando cada vez mais adeptos devido ao seu potencial de estimular a economia, empreendedorismo e networking de um público bastante diversificado. No Distrito Federal não é diferente, a cada ano surgem novos espaços de coworking devido a uma demanda crescente de profissionais de diversas áreas por esse tipo de espaço, especialmente os da indústria criativa. Entretanto, suprir esta necessidade não pode se distanciar de uma arquitetura sustentável ou do potencial de revitalizar o seu entorno. O CW3 traz uma intervenção pontual na quadra 515 sul no intuito de estimular a revitalização da região. A arquitetura traz um sistema construtivo inovador e ambientalmente responsável, que combina estrutura em madeira lamelada cruzada (CLT) com madeira laminada colada (MLC). A escolha do material estrutural foi pautada no grande potencial ainda dormente no Brasil que a madeira industrializada possui. A requalificação da área pública se dá através de um Pocket Park que conecta a via W3 a W2 Sul, transformando uma área subutilizada em um espaço de lazer e contemplação. Orientador: José Manoel Sánchez Banca: Cláudia Naves David Amorim e Natália da Silva Lemos

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“Ei! tem alguém aí?”: arquitetura cenográfica Mariana Figueiredo Sobral Torres O projeto cenográfico desse trabalho foi desenvolvido para um curta-metragem escrito na diplomação - inspirado no livro “Ei! Tem alguém aí? ”, do autor Jostein Gaarder. O curta gira em torno de Joaquim, criança de oito anos, e Mika, uma criança extraterrestre que caiu no jardim da casa dele. Eles passam uma noite juntos e aprendem muito sobre si mesmos e sobre o universo. A criação dessa casa-cenário passa por discussões sobre as congruências de linguagem do cinema e da arquitetura; sobre percurso (com Sergei Eisenstein e Le Corbusier); sobre filmes que evocam a expressividade de um cenário; sobre casas inspiradoras dentro e fora das telas e, por fim, sobre a representação nos desenhos de criança. Esse último tema é o arremate pois a casa do Joaquim é projetada sob a perspectiva dele – a representação predominantemente 2d dos desenhos infantis remete ao conceito cinematográfico de montagem. O roteiro vem como o programa de necessidades. Nasceu assim uma casa em cortes, sob a visão de Joaquim, a criança protagonista. Com uma pincelada de direção de arte são discutidas cores e texturas e o projeto arquitetônico é voltado para soluções de uma arquitetura efêmera. Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes Banca: Carolina Pescatori, Joara Cronemberger, Monica Gondim e Ana Laterza

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Novo zoo bsb Mario Sergio Facundes Taveira Desenhar um zoológico vai além das questões de preservação, tendo em vista que alguns animais são resgatados por maus tratos e sequer conheceram o seu habitat natural. Dessa forma, não é apenas sobre recriar biomas e habitá-los, é mais sobre as necessidades de cada indivíduo, e para muitos humanos, a interação com o exótico e selvagem só acontece no ZOO. Importa nesta perspectiva é que, mesmo se o visitante entre no parque apenas pelo lazer, ele saia como um agente de preservação da vida animal. Como diretrizes principais foram estabelecidas o conceito de imersão paisagística, no qual o animal vive em seu habitat natural, sem divisões e com maior unidade estética dos espaços. Retirou-se o trânsito de veículos e foram realocados os animais para um novo trecho, permitindo assim recriar a proposta de um habitat ideal. A diretriz principal foi à educação e o lazer visando alcançar o potencial para conexão do espaço de preservação com os espaços projetados. Esta diretriz levou a desenvolver um eixo principal de circulação (denominado Grande Narrativa) que conduz, mas não limita as descobertas de seu entorno. Este eixo parte da praça da entrada e se desenvolve através de onze praças, que foram em grande parte recriadas com base nos antigos habitats, sendo sua última estrofe a praça da preservação. Um traçado radial distribui os habitats tornando os espaços dinâmicos e de possibilidades para o desenvolvimento de um percurso individual, ainda assim conectado a uma rede circular que facilita a orientação. Orientador: Orlando Vinícius R. Nunes Banca: Mônica Gondim, Natália Lemos, Patrícia Silva Gomes e Renata A. Montenegro

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Dorothy stang de baixo pra cima: modelo participativo e sustentável para uma quadra da ocupação Mateus Marques Rangel Dentre as ocupações não regularizadas existentes no Distrito Federal existe a Dorothy Stang, no Setor Nova Colina em Sobradinho. Segundo a professora Liza Maria Souza de Andrade, trata-se de uma comunidade de aproximadamente 544 famílias de baixa renda assentadas em habitações provisórias de madeira. Este trabalho propõe metodologias de projeto em que a população local participa de todo o processo de concepção, fundamental para estabelecer uma relação horizontal e para que se compreenda e se respeite a cultura e história daquele povo. O projeto considerou o caimento natural do terreno, a vegetação nativa e os pontos afetivos marcados pelos moradores. Também procurou-se adensar o espaço para criar maior diversidade social e propiciar o encontro das pessoas na rua por meio do alargamento das calçadas, da criação de quintais compartilhados e de tipologias voltadas para a rua. Foram criadas 4 tipologias residenciais para atender à diversidade de famílias existentes. Nessas tipologias foram incorporados padrões estéticos locais, priorizou-se a criação de espaços compartilhados, o uso de materiais e mão-de-obra locais, a vista para a rua, permacultura e drenagem urbana mais sustentável. Orientador: Liza Maria S. de Andrade Banca: Mônica Gondim, Natália Lemos e Patrícia Gomes

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Eixo universitário do plano piloto Rachel Benedet de Sousa Martins

O Eixo Universitário é composto por três camadas: Camada 1 “Transitar”, com intervenção urbanística, Camada 2 “Estudar”, composta pelos polos de estudo, e Camada 3 “Habitar”, com as reformas habitacionais. A primeira camada é caracterizada por uma linha contínua de 3m de largura e dois quilômetros de extensão, pavimentada com bloquetes de concreto e postes de iluminação pedonal na cor vermelha. Também foram dispostas pequenas praças com mobiliário para estudo ou descanso ao longo de todo o Eixo. A Camada 2 “Estudar” é composta pelos pequenos polos de estudo que abrigarão um programa mutável, com serviços complementares à moradia dos estudantes. O Eixo perpassa o espaço interno de cada polo a partir de duas entradas, permitindo fluidez e continuidade espacial. A terceira camada inclui a reforma das diferentes tipologias habitacionais da Asa Norte: blocos residenciais de 6 e 3 pavimentos, casas geminadas, e blocos comerciais com quitinetes. Uma unidade de cada tipologia foi requalificada para abrigar estudantes de ensino superior, prezando-se pela separação de fluxos entre ambientes privados e coletivos. Dessa forma, o projeto abrange todas as camadas incluídas na vida universitária. Orientadora: Ricardo Trevisan Banca: Cláudio Queiroz, Prof. Dr. Oscar Luis Ferreira, Mônica Gondim e João Augusto Pereira

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Espaço da moda Vanessa Silva Botelho O Espaço da Moda é o projeto de um complexo situado no Lago Norte (na principal via de entrada da região), destinado ao processo de ensino, criação, e produção da moda , contando com áreas para estudo e confecção, áreas para exposições de trabalhos realizados pelos próprios estudantes, por artistas locais e por grandes estilistas, além de áreas com cafés, lanchonetes e uma grande área livre que estimularão o uso do conjunto arquitetônico por diferentes tipos de usuários. O processo de criação teve como base as diretrizes da Expressão, Inovação e Liberdade, e como referência um corpo como base de sustentação e a vestimenta como sua continuidade. E foi a partir dessas diretrizes e da referência, que a arquitetura foi proposta e de imediato se interligou com o plano de necessidades, resultando assim em 3 áreas principais e conectadas: ÁREAS COMUNS com Museu, Feira, Áreas livres, Restaurante e lanchonetes, Café do Museu; ÁREAS PRÁTICAS com Ateliês na Escola da Moda e ÁREAS DE PESQUISA com Biblioteca, Auditório, Salas de Projeção. Toda a arquitetura parte de tons neutros e áreas livres, para que o espaço seja habitado e usado de formas e com cores diversas, propiciando um ambiente versátil para infinitas possibilidades de usos e instalações. Orientador: Eliel Américo Banca: Carlos Henrique Magalhães de Lima e Neusa Cavalcante

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Centro de intercâmbio cultural brasil – japão Vinícius Faustino de Oliveira Santos No ano de 2018, comemorou-se os 120 anos de amizade entre Brasil e Japão, bem como os 110 anos da imigração japonesa no Brasil, marcada com a chegada do navio “Kasato-Maru” (笠戸丸), em 1908. A presença nipônica no Brasil vem há muitos anos enriquecendo e diversificando nossa cultura, sendo celebrado vários acordos de cooperação mútua que aproximam ambas nações. Visando simbolizar esse laço de amizade, foi proposto a criação de um Espaço de Intercâmbio Cultural entre o Brasil e o Japão. Localizado nas proximidades da Universidade de Brasília e da Escola Modelo de Língua Japonesa (SGAN 606, módulo C), o Espaço promove ao público geral, a possibilidade de desenvolver práticas culturais relacionadas à culinária, arte, educação, esporte, entre outras, que busquem a aproximação entre brasileiros e japoneses, assim como, entre a cultura ocidental e oriental. Implantado sobre um terreno de 200x50m, adotou-se ao edifício uma arquitetura do tipo pavilhonar, que estendende-se em um conjunto de 3 partes: Pavilhão Japão (acesso via L2 Norte); Pavilhão Brasil (acesso via L3 Norte) e Hall dos Arcos (praça central). Além do intercâmbio cultural, o edifício busca ainda o intercâmbio de linguagens arquitetônicas (tradicional e moderno) e de materiais (madeira e concreto), característico de cada país. Orientador: Ivan do Valle Banca: Cláudia Amorim, José Sanchez, Anna Rachel e Neander Furtado

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Cer - centro especializado em reabilitação visual, físico, auditivo Yasmin Rodrigues da Costa Este Trabalho de Conclusão de Curso propõe como objeto arquitetônico um Centro Especializado em Reabilitação (CER), que promova maior reintegração social e autonomia para as pessoas com deficiências físicas, visuais e auditivas. Utilizando o conceito de humanização para a criação de um ambiente de saúde, em que a arquitetura influencie positivamente no tratamento, a ideia do CER é apresentar um lugar qualificado, cujo próprio ambiente influencie positivamente no bem estar dos pacientes, de forma a contribuir com o processo terapêutico. Tão importante quanto os hospitais são os lugares de assistência após o trauma, como os Centros de Reabilitação, por exemplo, que são medidas complementares necessárias no intuito de tratar os pacientes por meio de reabilitação multiprofissional em ambiente extra hospitalar para aqueles que necessitam de uma continuidade do tratamento mesmo após a alta. Dessa forma, a proposta deste trabalho sugere um lugar com infraestrutura adequada, acessibilidade e atividades que contribuam para a melhora da saúde física e mental, fornecendo atendimento, diagnóstico e terapia. O projeto está localizado na cidade de Ceilândia - DF, que tem uma população elevada e dentre as regiões administrativas do DF, de acordo com o IBGE, é a que possui a maior porcentagem de pessoas com deficiência. Orientador: Ivan Manoel do Valle Banca: Augusto Esteca, Frederico Flósculo e Maria Cláudia Candeia

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encontros



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Pé na estrada: Expo Sampa Na segunda semana de abril de 2019, realizou-se na Galeria Christina Jucá a EXPO Sampa, trazendo os trabalhos produzidos por alunos participantes da viagem à São Paulo com o Pé na Estrada, no segundo semestre de 2018. A abertura contou com a apresentação do grupo Atemporal Cia de Dança (@atemporalcia no instagram). A concepção do projeto foi feita pelo Projeto Pé na Estrada e coordenado pela aluna Julia Lopes Soares. Ao adentrar a galeria, o espectador é induzido a seguir a faixa vermelha que rodeia o espaço. Esse elemento linear que conduz o visitante remonta a Avenida Paulista, grande via de crista de morro que rasga São Paulo em várias faces, espécie de palimpsesto, e que é co uência das intensas mudanças sociais expressas na arquitetura que reside ali atualmente. No percurso expositivo, em um primeiro momento, pode-se adentrar em registros das vivências da viagem por parte dos alunos, através das cartilhas penduradas no primeiro painel. Em seguida, podia-se admirar as diferentes percepções dos SESC’s da cidade, através das maquetes realizadas. Em um dos painéis, exibiram-se também colagens produzidas com base nos arquitetos de edifícios visitados, além do Diário do Pedestre, que contava com mais detalhes o cotidiano e aventuras da grande selva de pedra pela perspectiva do pedestre. Por último, no centro, se encontravam cubos de luzes representando a noite de São Paulo, ressaltando todas as suas cores e texturas. Os trabalhos foram realizados durante e após a viagem, por integrantes e estudantes participantes, fazendo referência a momentos marcantes e a paisagem da cidade visitada, traduzindo essa percepção de forma lúdica e interpretativa para os visitantes da exposição. Participaram como integrantes da equipe organizadora da viagem os estudantes: Ana Carolina Michirefe, Ana Luísa Pedreira, Caio Nascimento, Iara Lemos, Jaqueline Sales, Júlia dos Anjos, Julia Lopes, Julia Costa, Juliana Albuquerque, Maria Emília Monteiro, e Maria Isabela Alves, Nayane Machado e Vivianne Fontoura. Participaram como expositores os estudantes: Aldo Brasil, Amanda Fernandes, Amanda Marques, Amanda Silva de Oliveira, Carolina Guida, Elciane Rocha, Gabriela Medeiros, Gabriela Pires Lucas, Guilherme Reis, Heloisa Ravena, Hiagson Souza, Isadora Artiaga, Julia C. Carvalho, Juliana Albuquerque, Karoline Cunha, Mairla Julia, Manuella Monção, Marcela Budó, Maria Eduarda Azambuja, Mawere Portela, Octavio Araujo, Rodrigo Figueiredo, Silvair de Freitas, Victoria Dias, Vivianne Muniz e Yngred Lopes. Texto de Julia Lopes Soares

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Arquitetura, Urbanismo e seus nexos Como as cidades do futuro, especialmente as cidades verdes, conseguirão abraçar as dimensões ambiental, cultural e a tecnológica? Foi tentando responder a esta indagação que sediamos, no âmbito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-UnB), o evento internacional intitulado “The Environment-Culture-Technology Nexus: Envisioning Future Green Cities ” nos dias 17, 18 e 19 de julho de 2019. O evento se deu num formato de workshop e teve como parceira a Universidade de Portsmouth e como financiador o Global Challenges Research Fund (GCRF). Para a realização do workshop, a nossa Faculdade recebeu cerca de vinte pesquisadores e pesquisadoras, sendo dois deles oriundos da instituição britânica e os demais de diversos centros de pesquisa e universidades brasileiras. Dentre o time de pesquisadores convidados para o evento, tivemos a Cláudia Almeida (INPE), Gabriela Celani (UNICAMP), Luciana Ferreira (USP), Fernando Lima (UFJF), Carme Machí-Castañer (USP), Ana Clara Mourão (UFMG), Ângela Rossi (UFRJ), Patrícia Sanches (USP), Geovany Silva (UFPB), Robson Silva (PUC PE) além dos professores da UnB. O evento discutiu as criativas maneiras de tornar as cidades do futuro mais verdes e sustentáveis, discutindo tópicos estratégicos como soluções de urbanização baseadas na natureza, cultura e sociedade em tempos de polarização, potencialidades da realidade virtual e aumentada no planejamento de cidades do futuro, entre outros. O objetivo do evento foi trazer um olhar interdisciplinar e sistêmico fundamentais para a promoção da sustentabilidade, resiliência, identidade, memoria e demais princípios de qualidade ambiental. A metodologia do workshop foi uma combinação de diferentes dinâmicas, ora palestras técnicas, ora grupos de trabalho, quando, por meio de um exercício de projeto urbano, todos os pesquisadores tiveram que tomar decisões rapidamente, e consolidar ideias para implementar soluções urbanísticas sustentáveis, social e culturalmente aderentes e tecnologicamente viáveis para o Distrito Federal. Para isso, o evento ofereceu, além de uma palestra de abertura sobre o DF, uma visita técnica à ARIE JK, locus do objeto de estudo, proporcionando aos participantes um panorama ainda mais palpável do contexto urbano do Distrito Federal. A coordenação geral ficou a cargo da Profa. Dra. Maria do Carmo Bezerra, com muitos trabalhos na área em questão, com a colaboração dos professores Caio Silva e Joára Cronemberger, que também foram integrantes do time de convidados do workshop, todos da FAU-UnB. Do lado britânico, os promotores foram o Prof. Dr. Fabiano Lemes (que atualmente é professor da Universidade Politécnica de Milão) e o Prof. Dr. Tarek Teba (University of Portsmouth). O evento contou com a colaboração efetiva de estudantes da FAU, dentre eles mestrandos e doutorandos do PPG-FAU: Júlia Adário, Rejane Viegas, Thiago Góes, Anna Carolina Palmeira e Aline da Nóbrega.

Texto de Caio Frederico e Silva

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Palestra de Alexandre Brasil (sócio fundador do Arquitetos Associados) Em julho de 2019, a FAU-UnB recebeu o arquiteto e urbanista Alexandre Brasil para proferir uma palestra sobre a sua atuação profissional. Brasil é sócio do escritório Arquitetos Associados (também composto por André Luiz Prado, Bruno Santa Cecília, Carlos Alberto Maciel e Paula Zasnicoff), com sede em Belo Horizonte-MG. Na palestra, falou de suas principais influências, da dinâmica do escritório e de algumas obras significativas. Os projetos realizados no Instituto Inhotim, em Brumadinho-MG, especialmente a Galeria Claudia Andujar, o Centro Educativo Burle Marx e a Galeria Miguel Rio Branco, ganharam grande reconhecimento nacional e internacional. Em 2020, o grupo assumiu a curadoria do Pavilhão Brasil na 17ª Bienal de Arquitetura de Veneza. Alexandre Brasil graduou-se em arquitetura e urbanismo pela EAUFMG em 1997, é mestre em engenharia civil e atua como professor de projeto e técnicas construtivas na UNI-BH. Segundo o arquiteto, além da tradição modernista, ele pertence a uma geração fortemente influenciada pelo movimento pós-moderno mineiro através das figuras dos arquitetos Éolo Maia, Maria Josefina de Vasconcellos e Sylvio de Podestá. Atualmente, o seu escritório funciona como um estúdio colaborativo no qual cada projeto é tratado de forma específica envolvendo equipes variadas e contribuições externas. Ao apresentar as obras, o arquiteto pontuou a forte relação de seus projetos com o sítio. Ressaltou que a topografia acidentada de Minas Gerais sempre foi um desafio, ao mesmo tempo que uma oportunidade para se pensar a implantação do edifício e o seu impacto na paisagem. Valeu-se da expressão “amnésia urbana” para criticar recentes projetos que “dão as costas” para a cidade e que não dialogam com o espaço público. A palestra ocorreu no Auditório da FAU-UnB e fez parte do evento “EXPO DIPLÔ: Abertura da Exposição dos trabalhos de Diplomação de 1.2019”. O evento contou também com o lançamento das nona e décima edições da revista ARQUI e a Premiação dos alunos destaques de 1.2018 pelo IAB-DF. Nos últimos anos, a Coordenação de Diplomação tem organizado palestras com representantes da arquitetura brasileira para falar de suas vivências e desafios da profissão. As palestras são dedicadas aos formandos, mas são abertas ao público em geral. Texto de Maria Cláudia Candeia de Souza

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Workshop “Os espaços da FAUFRGS” O workshop “Os espaços da FAUFRGS” foi realizado em Porto Alegre (RS). Resultou da parceria entre as Faculdades de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) através das disciplinas Projeto de Arquitetura - Problemas Especiais (PAPE) (UnB) e Ateliê de Projeto V (UFRGS), ministradas respectivamente pela profa. dra. Luciana Saboia e prof. dr. Sérgio M. Marques. Com Planos de Curso integrados, propunham exercício projetual a fim de promover a compreensão e o domínio das relações entre construção, tecnologia e programa, sítio, entorno construído e natural. O problema consistia em desenvolver anteprojeto arquitetônico para o Anexo da Faculdade de Arquitetura do Campus Centro da UFRGS. O workshop fez parte das atividades de ensino. Viajamos então a Porto Alegre com estudantes e os arquitetos convidados do escritório Arqbr, Éder Alencar e André Velloso. Lá, os alunos da UnB e da UFRGS se uniram em pequenos grupos e desenvolveram, nos três dias de oficina, propostas ao problema da disciplina. As soluções eram apresentadas em painéis aos professores e arquitetos convidados - escritórios Arqbr (DF) e Sauermartins(RS) – e discutidas amplamente. As diversas leituras feitas pelos participantes, a partir de sua bagagem teórica e prática, geraram verdadeiros brainstorm de ideias e reflexões acerca do espaço arquitetônico e da prática projetual. A programação incluiu palestras do prof. dr. Carlos E. D. Comas (PROPAR/UFRGS) e do escritório Arqbr, além de visitas de estudo a pontos estratégicos da cidade com o objetivo de aumentar o repertório de conhecimento sobre a arquitetura moderna. O workshop resultou em uma rica experiência, repleta de aprendizado e agradáveis momentos de confraternização entre todos. A parceria rendeu novos frutos. Ainda em 2020, o prof. Sérgio Marques e seus alunos de Ateliê de Projeto V virão à Brasília para novo workshop. Desta vez, o objeto de estudo será o nosso memorável Instituto Central de Ciências (Minhocão). Texto de Luciana Saboia e Paola Ferrari Organização: prof. Dr. Sergio M. Marques (PROPAR-FA/UFRGS), profa. dra. Luciana Saboia (FAU/UnB). Colaboração: profa. Paola Ferrari (FAU/UnB), escritório de arquitetura ARQBR (DF), estagiários Renata Beck (RS), Camila Wentz(RS) e Willian Flores(RS); Palestrantes convidados: prof. dr. Carlos E. D. Comas (PROPAR/UFRGS), arq. Eder Alencar (ARQBR) e arq. André Velloso (ARQBR). Participantes convidados: arq. Cássio Sauer e arq. Elisa Martins (escritório Sauermartins-RS) e mestranda Monica Bohrer.

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entrevista


arqui entrevista: nonato veloso O projeto Arqui Entrevista tem como objetivo apresentar professores consagrados da FAU aos estudantes de graduação. A nossa faculdade tem a alegria de ter uma trajetória rica em experiências profissionais, de pesquisa, de ensino e de extensão. Além do contato com os mestres é uma maneira de conhecer e vivenciar a história dessa instituição. O primeiro entrevistado é o professor Nonato Veloso. Ele é mineiro e cursou a graduação em Arquitetura e Urbanismo na UFMG (Universidade de Minas Gerais), formando-se em 74. Em 75 mudou-se para Brasília, para colaborar no escritório de seu antigo mestre Hélio Ferreira Pinto. Em 76 começou a lecionar na Universidade de Brasília, inicialmente no Departamento de Desenho (atual IdA), ao qual a FAU era vinculada. Em 95 passou a lecionar Projeto de Arquitetura 1, a porta de entrada dos estudantes da FAU no exercício projetual. Foi professor dessa disciplina até 2014, quando se aposentou. Nela aplicou o exercício do Espaço da Luz, de forma a ensinar como trabalhar a implantação do espaço arquitetônico e diversas de suas propriedades. Também em 2014, recebeu seu doutorado com a tese “Arquitetos Paulistas e os concursos nacionais de Arquitetura” e em 2016 estabeleceu seu escritório, o Estúdio NV. Os concursos de Arquitetura, além de objeto de análise científica, significaram para Nonato uma oportunidade de aplicar diversos dos seus conhecimentos e reflexões na prática arquitetônica. Entre as suas participações, podem ser elencadas as menções honrosas nos concursos para o Pavilhão do Brasil na EXPO92 Sevilha e para o Museu da Tolerância e as primeiras colocações para a Casa do Professor da Associação dos Docentes da UnB, para o Museu de Ciência e Tecnologia da UnB e para o Paço Municipal da Várzea Paulista.¹ ¹ A apresentação teve como referencial teórico a dissertação de mestrado de Paulo Victor Borges Ribeiro, apresentada em 2017 e de título “Arquitetura potencial: Nonato Veloso, concursos de projeto” vinculada ao PPG-FAU UnB e de orientação da professora Sylvia Ficher.

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[Amora de Andrade] Partindo do início de sua trajetória: como você descobriu que queria ser arquiteto? [Nonato Veloso] Eu não descobri que queria ser arquiteto, acho que veio naturalmente. Meu pai era arquiteto, professor de perspectiva na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), então eu já tinha essa referência, e em casa eu também gostava muito de desenhar. Além disso, em Belo Horizonte, as décadas de 50 e 60 foram muito ricas no âmbito da arquitetura com a presença forte de Oscar Niemeyer. A gente via a construção do Edifício Oscar Niemeyer na Praça da Liberdade, eu passava a pé ali menino, indo para escola, e até hoje eu me espanto quando vejo aquele prédio, uma obra prima do Oscar. Também teve o Edifício JK na Praça Raul Soares, que é outro ícone na cidade até hoje, e a Pampulha com seus edifícios. Outra referência muito forte para mim foi o Colégio Estadual Central de Belo Horizonte, onde estudei no meu primeiro e segundo grau, que é um projeto maravilhoso do Oscar Niemeyer. Tinha os pilotis, as salas de aula em cima e uma rampa que levava para uma sala de aula. O auditório dele é um precursor do olho que Oscar fez depois no Museu em Curitiba (Museu Oscar Niemeyer), mas dávamos outro apelido pro nosso. Não chamávamos de olho, era mata-borrão, pois tinha o desenho parecido com o objeto que usavam para tirar as tintas da caneta tinteiro que borravam o papel. Outra lembrança é que o piso do auditório era curvo; você entrava e as cadeiras já acompanhavam esse formato curvilíneo. Era uma maravilha! Vale a pena pesquisar sobre. A gente tinha muito orgulho de estudar lá, vinha gente do mundo todo conhecer aquele projeto. Então foi isso, eu tive a influência de todo esse contexto, mas foi nessa escola que eu tive um professor de geometria que me fez realmente gostar de estudar essa área. [Marcos Cambuí] Como foi a influência de Brasília na sua relação com Arquitetura. E sobre o plano urbanístico de Lucio Costa para a cidade, qual sua análise crítica?

[Nonato Veloso] Olha, eu sou daqueles que acham que não tem crítica alguma. Pra mim é uma maravilha, é uma obra prima do Modernismo e do Urbanismo Moderno. Eu entendo assim: é inédito no planeta. Como você constrói no Cerrado, em um contexto de país pobre, sem recursos, e consegue construir longe de tudo uma cidade desse tamanho, implantar todo o sistema viário, drenagem, vários palácios e Superquadras? Um fenômeno! A própria rodoviária é fantástica, ela não é um edifício rodoviário como tem em toda cidade. [Amora de Andrade] Você poderia falar sobre a sua participação no concurso para o Pavilhão de Sevilha? [Nonato Veloso] Foi um concurso disputadíssimo, tem muito debate sobre ele até hoje. Foi um marco na arquitetura da virada do pósmoderno, e uma retomada da arquitetura brasileira. Então foi muito disputado, com os escritórios todos participando, e foi uma revelação de vários grupos. Tanto que as equipes desse concurso foram chamadas de “Geração Sevilha”. O que acontece: a minha pesquisa de doutorado conversa com dados de Sevilha. São duas décadas sobre concursos de arquitetura no Brasil, de 1990 a 2010. O cenário da época era que ainda não tinha internet, mas as revistas começaram a publicar muitos outros projetos que não tinham sido selecionados. Matheus Gorovitz e eu, que éramos de equipes separadas, ficamos com menção honrosa. Em seguida teve uma exposição no Itamarati, vou contar pra vocês, eu morri de vergonha do meu projeto, no meio daqueles projetos ali. A maquete do Angelo Bucci era de madeira balsa e a minha era uma de papel desenhado em cima! Nossa! Horrível, né? Mas talvez a questão dos desenhos, das perspectivas que eu tinha feito ali, tenham servido para me dar um ponta pé e começar a me interessar por projeto e acabar participando de muitos concursos. [Marcos Cambuí] Como foi o seu primeiro contato com a Universidade de Brasília? Poderia falar um pouco


sobre a sua história na FAU e no IdA? Eu comecei a orientar diplomação preocupado porque é uma responsabilidade muito grande. Aquele é o momento em que você discute arquitetura com os alunos, é onde tem confronto. Antes você ficava com o seu orientando durante todo o processo e no dia da banca podia entrar qualquer professor que quisesse e que nunca viu o projeto, criticar e dar nota, entendeu? Era uma loucura. Pegava fogo! Depois tinha que entrar todo mundo pra uma sala, pra sala 6 que é maiorzinha, pra dar a nota no quadro. E era aquela tensão toda. Eu lembro até que em uma orientação um garoto, hoje ele é professor lá da engenharia, faltou uma orientação, e foi logo no início que comecei a orientar diplomação. Eu muito preocupado com aquela cobrança toda, e ele faltou uma orientação dizendo “a minha avó teve um problema”. Então eu fui na secretaria, peguei o telefone da avó dele, liguei e falei com ela: “seu neto não pode deixar de vir pra orientação, entendeu?” e a gente morre de rir disso. Naquela época a gente acordava de madrugada, lembrava do trabalho de um e de outro, e pensava: “não, tem que terminar o projeto; tem que ter isso e aquilo”. Mandava e-mail de madrugada, aquela coisa toda. Então tinha uma tensão, mas era uma coisa legal, né?! Comecei a dar aula com a Raquel Blumenschein, mas ela tirou licença e comecei a dar aula com a Christina Jucá. A Christina é aquela pessoa de uma cultura arquitetônica, um negócio fantástico! Ela dava aula de projeto e teoria, e foi ótimo. A gente teve uma parceria de uns dois semestres, e depois a Raquel voltou. Christina era aquela figuraça, fazia várias coisas, inclusive era muito preocupada com o conforto ambiental. Ela pediu pro Jayme Almeida fazer parceria comigo no PA1. Bruno Capanema ficou comigo um monte de tempo, sabe?! Ele era ótimo. Só parceria maravilhosa. Neusa! Olha bem, a parceria que eu tive com a Neusa era a coisa mais fantástica do planeta! A gente se divertia dando PA1, conversávamos sobre muitas coisas além da arquitetura e além daquele

trabalho. Conversávamos sobre a vida! Teve um dia que estávamos nos intervalinhos que davam entre uma orientação e outra, e a gente ficava conversando um assunto que não podia deixar de acabar naquele momento. Aí foi dando a hora do café, o pessoal foi levantando e tinha ainda uns três ou quatro alunos para orientar. Acho que ainda conseguiram falar com a gente. Daí a Neusa foi falando daquele outro assunto que não tinha nada a ver com a orientação, levantando, mas alguns alunos ainda queriam conversar, então a Neusa falou: “Nonato, vamo logo pro café porque esses meninos não deixam a gente conversar”. A gente começou a rir e eles também. Era muito bacana. [Marcos Cambuí] Como foi pra você a transição da prancheta para as novas tecnologias? [Nonato Veloso] Eu não senti muito. Trabalhei muito com desenho técnico tradicional naquela época e tinha feito o meu método de perspectiva. Tinha uma colega de artes plásticas que aprendeu o 3DS e me deu aula. Quando eu vi aquilo eu pensei: “eu acabei de criar esse método de perspectiva, mas ninguém vai querer saber disso”. Não precisa mais ficar marcando perspectiva, né?! Mas eu não tive nenhum conflito com isso. Tinha uma garota de 17 anos que estudava desenho industrial lá no IdA, mas fazia desenho de arquitetura pra escritórios. O desenho a lápis dela era maravilhoso e o desenho a nanquim então, nem se fala. Logo ela aprendeu o AutoCAD e me ensinou, nessa virada de 1991-92. De vez em quando eu pegava alguns ex-alunos pra me dar alguma aula. O Marco Antônio me deu aula também do 3DS. No meio da aula eu achava aquilo um mundo. O manual do 3DS eram umas três vidas. Teve um curso de extensão de SketchUp na FAU há algum tempo, e eu fui fazer. Vocês não imaginam quem fez o curso do meu lado: o Zimbres. Nessa época eu devia ter uns cinquentas e poucos anos, e o Zimbres já devia estar com a idade que eu tô hoje. Mas ele foi atrás também. Nós fomos coleguinhas no SketchUp. Depois me convenceram que SketchUp era bom. Então eu fui

fazer um curso do programa, que já não tem nem tanto tempo assim, e de lá pra cá uso ele bastante. [Marcos Cambuí] Na sua prática projetual, quando o projeto passa do croqui pra prancheta? em que fase do projeto se deixa o desenho à mão e se passa aos meios digitais? Apesar dos meus métodos de ensino serem todos em maquete física, que por conveniência na época era a ferramenta que eu achava mais simples, hoje em dia eu fiquei um pouco preguiçoso quanto ao uso dela. Faço de vez em quando. Mas o processo é esse mesmo, o processo que vocês conhecem e fazem. É muito croqui também, e à medida que você vai fazendo, o croqui vai te ajudando a chegar no momento em que aquilo merece um 3D. Em concursos as vezes eu faço um mundo de ideias. Um mundo de croquis. Mas não faço aquele croqui bonitinho que os arquitetos gostam. Eu faço aquele risco rápido, vou riscando vários papeis e assim vai. Ainda tem um problema: a minha esposa é bióloga, professora de biologia, e desde sempre ela não me deixa usar papel só no verso, tem que usar frente e verso: “ah porque tem a questão ecológica, tem as químicas que usam pro papel ficar branquinho, depois aquilo vai pro lixo e ainda tem a celulose...” então se você pegar os meus papéis de croquis é um mundo de garrancho, um mundo de risco em cada lado. [Marcos Cambuí] Como tem sido a sua participação recente em concursos de arquitetura? [Nonato Veloso] Quando eu penso em um concurso, já monto uma equipe com recém formados, estudantes, e já vou mostrando pra eles o que estou fazendo pra gente ir conversando. Eu já estava trabalhando nessa forma virtual bem antes da pandemia. Reunião presencial só acontecia quando não tinha jeito. 2018 foi atípico pra mim. Cada concurso leva uma média de 2 meses e meio a 3, e nesse ano eu fiz sete concursos. Só entregamos seis, porque um ninguém pôde entregar. Na véspera da entrega já estava com tudo pronto e teve uma questão. O 91


coordenador teve que ligar pra todo mundo falando: “olha, infelizmente foi cancelado”. Então entreguei seis concursos em 2018.

A gente é amigo, Paulo Victor de vez em quando me chama pra dar essas aulinhas, essas conversas com os alunos dele.

[Amora de Andrade] e concurso é muito interessante, né?! É uma matéria de projeto que você faz fora da fau. Como se fosse isso

[Marcos Cambuí] Na FAU os professores são de dedicação exclusiva e não podem exercer a profissão de arquiteto projetista. Na sua relação com os concursos havia também a busca pela prática arquitetônica?

[Nonato Veloso] Aí que tá... Eu comecei a trabalhar muito com concurso porque pra orientar diplomação eu tinha que conhecer temas diversos e ter velocidade. E o concurso é isso: em um tempo de 2 meses e meio que você pega um tema e tem que correr atrás e montar. Eu participei de muitos concursos e eles me ajudaram muito nas orientações. Agora me aposentei, mas continuo fazendo como exercício pra não ficar parado. Há uns 5 anos, o Paulo Victor (Borges) resolveu fazer um mestrado sobre a minha participação em concursos. Aí eu falei: “Paulo Victor, tem tantos outros arquitetos, escritórios estabelecidos, pessoas fantásticas, arquiteta, arquiteto que tem produção, né?!”. Ele não quis mudar, então eu passei o material todo pra ele. Foi bom porque eu fui atrás de muita coisa que tava perdida, passei pra ele e ele fez a dissertação.

[Nonato Veloso] Em vários concursos eu montava grupos com colegas da FAU. Muitos professores, o Ivan (do Valle), a Luciana (Saboia), o (José Manoel) Sánchez... eu nem vou lembrar agora quantos... Vários trabalharam comigo. É uma saída. O concurso é interessante. Na época em que eu já era professor, participei do primeiro concurso pro IAB. Foi logo quando cheguei em Brasília. Quem ganhou esse concurso foi o Aleixo (Furtado), que era professor da UnB. Só que o Aleixo era tempo parcial. Eu só conheci três professores de tempo parcial o tempo todo que eu tive na UnB. Eu acho o seguinte: o ensino que vocês têm é fantástico: as pesquisas, as formações, os doutorados, os laboratórios, os grupos... Dá pra

aprender muito. E nesses casos, a maioria dos professores precisa mesmo ser dedicação exclusiva. É como na ciência: não tem como um professor da Física não ser dedicação exclusiva. Eu acho que no nosso caso, das artes e da arquitetura, é totalmente compatível você ter professores de tempo parcial ou integral. Durante a minha pesquisa final eu li a tese de um professor da FAU USP, Antonio Barossi. Na tese dele tem um estudo com estatísticas mostrando que em 2005 o departamento de projetos da USP tinha 66 professores e 22 em dedicação exclusiva. Os outros 44 são distribuídos em tempo parcial e tempo integral. E a estrutura deles é bem parecida com a nossa: Departamento de Projeto, Departamento de Tecnologia e Departamento de Teoria e História. Eu tenho contato com o Álvaro Puntoni, encontrei com ele ano passado e surgiu esse assunto. Ele falou que agora na USP estão querendo incentivar a dedicação exclusiva, mas o que eu quero dizer é o seguinte: eu acho que não é incompatível. Eu conheço também o exemplo da UFMG que

“Como você constrói no Cerrado, em um contexto de país pobre, sem recursos, e consegue construir longe de tudo uma cidade desse tamanho, implantar todo o sistema viário, drenagem, vários palácios e Superquadras? Um fenômeno!”

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tem os Arquitetos Associados como professores em tempo parcial, e nem por isso esse pessoal deixou de ter doutorado. Os Arquitetos Associados, o Ângelo Bucci da FAU USP, todos tem doutorado, publicam e não são dedicação exclusiva. Agora acho que grande parte sendo dedicação exclusiva importa muito, porque senão fica muito difícil levar grupos de trabalho e de pesquisa. [Amora de Andrade] Gostaríamos que você explicasse um pouco sobre o Espaço da Luz e quais práticas do ofício arquitetônico você trouxe ao introduzir essa matéria para os calouros. [Nonato Veloso] A influência foi da Oficina Básica das Artes. Havia uma série de exercícios lá no PA1 (Projeto Arquitetônico 1). Antes de chegar no espaço da luz, havia o exercício que focava na questão do conforto ambiental e que depois eu abandonei para poder criar o espaço da luz. Era um exercício de ocupação do espaço interno. Eram três ambientes associados: um grande, um médio e um pequeno. A Neusa participou muito comigo desse trabalho. Eu dava uma base quadrada e uma base retangular, já ela criou a base

triangular. A gente falava “lá no PA1 podia tudo”. A gente dava um panorama sobre as proteções solares e eu falava “qual o melhor lugar para sua proposta? Onde você colocaria o norte?”. Mas eu achava que aquilo dava um trabalho muito grande. As maquetinhas eram sem tempo. Eu comecei a achar que era muito pro PA1: sensibilizava para a questão do conforto, mas tinha que entrar com a parte técnica que eu acho que não era a Oficina Básica. Aí eu abandonei o exercício e criei o Espaço da Luz com o objetivo de trabalhar também com a questão luminosa. O enunciado do exercício era “um espaço único para meditação ou recolhimento onde a luz pudesse entrar de forma indireta”. Eram exercícios muito rápidos e interessantes. Uma entrada, um caminho, um terreno que a gente mexia. Durante um bom tempo os professores achavam que eu fazia um exercício de composição até que comecei a ver que eu fazia era muito mais exercício de implantação. Aí eu comecei a orientar até melhor com esse foco. Não era composição, era

implantação. Eu comecei a fazer uma aula, de vez em quando eu ainda faço, que é uma seleção de projetos do mundo nos quais eu acho que a implantação é mais determinante que a forma. Eu já começo com a Rodoviária de Brasília e vou pegando outros clássicos do Movimento Moderno. [Marcos Cambuí] Gostaríamos a que você compartilhasse arquitetos ou arquitetas que você tem como referência e inspiração no seu momento de projetar. [Nonato Veloso] O repertório da gente tem os nomes clássicos do Movimento Moderno. No Brasil a gente sempre tem Lúcio, Oscar, Lelé, Paulo Mendes, Artigas, entre tantos outros. Mais ou menos na década de 90, o Tadao Ando começou a ser publicado e todo mundo ficou encantado pela arquitetura dele. Uma influência muito positiva. Tem o (Alberto) Campo Baeza, na Espanha, a Arquitetura Contemporânea Portuguesa, a Arquitetura Contemporânea Espanhola, o Siza, o Souto Moura, aquela turma toda. E no Brasil, além disso, tem toda a Geração Sevilha

“A gentileza urbana também deveria acontecer nas obras privadas.”

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e os frutos dela. Esses jovens mulheres nas turmas. Era só homem. Tinha uma ou outra. Dois grupos de meninas da FAU que eu orientei foram premiados. Um grupo foi no concurso de estudantes para o metrô de Fortaleza e outro na Nona Bienal de São Paulo. Os dois ficaram em primeiro lugar. Eu trabalhei muito na diplomação, mas não é só nisso. A gente também tem que orientar outros grupos com outros objetivos. [Marcos Cambuí] Pra você, qual a função do arquiteto na sociedade? [Nonato Veloso] É tudo isso que a gente tem hoje. Vocês têm professores fantásticos em todos os níveis. A universidade, a pública por excelência, mas também as particulares, ambas trabalham com a questão social o tempo todo. Começa da cidade, do geral para o particular. É a cidade, as pessoas, a acessibilidade universal, o transporte público, a inclusão social, o acesso aos espaços, a qualidade dos espaços. O papel social do arquiteto acaba entrando por aí. Mesmo se tratando de arquitetura privada, ela sempre tá ligada a cidade. A gentileza urbana também deveria acontecer nas obras privadas. A gente tem vários exemplos fantásticos em obras particulares que estão preocupadas com o espaço público, com o ir e vir, com essa busca toda, com essa troca e com essa liberdade. Mais ou menos por aí que são as coisas que vocês acabam também discutindo nos grupos na faculdade. A mensagem que eu deixo como um recado pros alunos de arquitetura é: aproveitem a escola! Aproveitem os professores e professoras porque lugar melhor não tem! Pra mim foi o melhor.

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e os frutos dela. Esses jovens arquitetos que estão por aí tem uma influência muito forte da Arquitetura Paulista e esse pessoal também permeia o que eu penso hoje. Admiro muito os jovens arquitetos e arquitetas. Por falar em arquiteta, eu fui de uma geração que quase não tinha mulheres nas turmas. Era só homem. Tinha uma ou outra. Dois grupos de meninas da FAU que eu orientei foram premiados. Um grupo foi no concurso de estudantes para o metrô de Fortaleza e outro na Nona Bienal de São Paulo. Os dois ficaram em primeiro lugar. Eu trabalhei muito na diplomação, mas não é só nisso. A gente também tem que orientar outros grupos com outros objetivos. [Marcos Cambuí] Pra você, qual a função do arquiteto na sociedade? [Nonato Veloso] É tudo isso que a gente tem hoje. Vocês têm professores fantásticos em todos os níveis. A universidade, a pública por excelência, mas também as particulares, ambas trabalham com a questão social o tempo todo. Começa da cidade, do geral para o particular. É a cidade, as pessoas, a acessibilidade universal, o transporte público, a inclusão social, o acesso aos espaços, a qualidade dos espaços. O papel social do arquiteto acaba entrando por aí. Mesmo se tratando de arquitetura privada, ela sempre tá ligada a cidade. A gentileza urbana também deveria acontecer nas obras privadas. A gente tem vários exemplos fantásticos em obras particulares que estão preocupadas com o espaço público, com o ir e vir, com essa busca toda, com essa troca e com essa liberdade. Mais ou menos por aí que são as coisas que vocês acabam também discutindo nos grupos na faculdade. A mensagem que eu deixo como um recado pros alunos de arquitetura é: aproveitem a escola! Aproveitem os professores e professoras porque lugar melhor não tem! Pra mim foi o melhor.

Amora de andrade, Leonardo Nóbrega e Marcos Cambuí

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homenagem

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o balé triádico da bauhaus


Balé Triádico: trinômio do quadrado perfeito, ou não... Eduardo Pierrotti Rossetti



“Enquanto aqui embaixo a indefinição é o regime E dançamos com uma graça cujo segredo Nem eu mesmo sei Entre a delícia e a desgraça Entre o monstruoso e o sublime...” Caetano Veloso – Americanos


O texto incidental “Americanos” de Caetano Veloso —interpretado na versão ao vivo da canção “Black or white”, de Michael Jackson— evoca uma relação atávica entre o corpo e o movimento. Os pares antagônicos dos versos da música não suplantam nossa capacidade de dançar. A graça, o sublime e a possível delícia da dança decorrem da ação do corpo e da execução de movimentos no espaço. Trata-se de um campo de experimentação ilimitado. Diante de tal potencial, as experiências didáticas da Bauhaus também tomaram o teatro, a dança e o balé como um suporte para novas expressões e experimentações estéticas. Na Bauhaus, a ambição de atingir uma “obra de arte total” (gesamtkunstwerk) norteia as práticas, integrando os saberes das oficinas, dos mestres de ofício e dos alunos para realizar uma dada manifestação artística. Assim, o Balé Triádico, de 1922, elaborado por Oskar Schlemmer, que teve sua estreia em Stuttgart, é uma obra consagrada, referência de uma experiência exitosa na integração de figurino, dança e música. O nome do balé deriva do número 3. São 3 formas geratrizes —círculo, quadrado, triângulo— que num conjunto de 3 partes, ou 3 cores, estruturam plasticidade e a performance com 18 figurinos, que executam 12 coreografias. Assim exposto, evocando uma operação matemática, parece até que o balé resulta de um trinômio do quadrado perfeito. A estruturação cromática do balé se constrói a partir das 3 cores: amarelo, rosa e preto; em que o amarelo representa uma dimensão de alegria; o rosa representa uma dimensão de sensibilidade; enquanto que o preto representa uma dimensão introspectiva. O uso de máscaras, os adereços com partes rígidas, as diversas texturas para maciez, dureza e os contrastes de luzes, brilho... tudo isso constrói uma poética própria para cada uma das partes e seus atos, sincronizada com o andamento da música. Este enredo se desenvolve construindo uma tensão entre o corpo e o espaço cênico, mas também pode evocar um contraponto entre a dimensão sensível do sujeito —seja o bailarino ou o expectador— diante de um país em profundo processo de transformação social, técnica e artística, em um contexto de recuperação pós-Guerra. Um contexto em que, parafraseando Caetano Veloso, a desgraça e o monstruoso prevalecem sobre a delícia e o sublime. A coreografia de movimentos diretos, que se fixam em uma articulação do corpo, perfaz os desenhos dos movimentos dos elementos geométricos no espaço. Estes movimentos marcados se contrapõem com a alternância dos passos do balé, com movimentos mais delicados. A desenvoltura dos elementos geométricos que se movem no espaço também decorre da própria construção dos figurinos, que possibilitam movimentos e expressão corporal. Menos que a total liberdade de um corpo aberto no espaço, os figurinos limitam os movimentos da coreografia e ressignificam a proporção do corpo, seu volume e suas dimensões. As limitações do corpo, a relação entre música e dança, os contrastes de cores e formas... as estruturas físicas e simbólicas da expressão do movimento... tudo isso recobra o caráter transformador e, no limite, subversivo, das experiências da Bauhaus. Recobrar a experiência do Balé Triádico pode ser instigante para atiçar a memória de nossa própria capacidade de bailar e de dançar. Ao mesmo tempo em que “aqui em baixo a indefinição” é um fator constante, é possível revigorar também os nossos hábitos ancestrais de dançar, as nossas habilidades de mexer o corpo, seja na capoeira, no samba, mas também com os parangolés de Oiticica, nas coreografias do Grupo Corpo, da Quasar Cia. de Dança... além de muitas outras práticas de movimentarse, sejam elas perfeitas, ou não. bauhaus. Stuttgart: Institut für auslandsbeziehugen, 1974. DROSTE, Magdalena. Bauhaus. Berlin: Taschen, 1994. Triadisches Ballett von Oskar Schlemmer – https://www.youtube.com/ watch?v=mHQmnumnNgo acesso:27/03/2021




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