

Odocumentário revela de maneira impactante as condições desumanas de trabalho que persistem nos bastidores da indústria da moda, um sistema profundamente enraizado no capitalismo. Ao expor a exploração de trabalhadores em facções e além, temos impactos ambientais devastadores da produção de jeans na cidade de Toritama (PE). A moda consciente e sustentável emerge como uma
alternativa vital, mas será que tais soluções não causariam grandes impactos na vida dessas pessoas? Este documentário serve como um chamado para uma reflexão profunda em um dos viés do FAST FASHION.
O documentario dirigido por marcelo gomes trás a visão pouco cohecida da cidade que produz 25% do jeans nacional.
Lembro-me como se fosse ontem das minhas férias de infância no interior ensolarado de pernambuco, a última Toyota (como era chamado o transporte alternativo) passava as 17:00 no padre Cícero próximo a Camaragibe, indo em direção à cidade de Santa Cruz do Capibaribe, onde meus primos moravam, era 4 h de estrada podendo chegar a 5 h, cada terminal uma nova aventura com a disputa das Toyota(s) e os comerciantes que transitavam levando suas mercadorias de uma cidade a outra, eram eles que davam vida a cidade. Enquanto outras crianças ansiavam por praias paradisíacas ou parques temáticos, eu ansiava por algo diferente — a empolgante rotina da feira de roupas. Ao chegarmos na cidade, o aroma inconfundível dos tecidos
preenchia o ar. Eu sabia que iria vivenciar algo único. Meus primos, possuíam sua própria facção e não apenas costuravam as peças como também criavam os moldes e o desenho das estampas e as executavam.
As madrugadas eram longas nos dias próximos da exposição da feira (que ocorriam na rua, antes da construção do Moda center) tanto da cidade de Toritama como de Santa Cruz. As máquinas de costura pareciam roncar em harmonia, enquanto minha tia e meus primos trabalhavam incansavelmente para bater as metas. Eu, pequena aprendiz, tentava ajudar, mas minha destreza era limitada a queimar as pontas de linha.
De manhã, a cidade se transformava em um espetáculo de cores e sons. As ruas estreitas se enchiam de barracas, onde comerciantes de todas as partes vinham em busca das últimas tendências.
O mercado de Toritama era famoso em todo o Brasil por sua
qualidade e inovação em roupas. Meus primos, exibiam com orgulho as peças que haviam confeccionado, enquanto eu observava o movimento da feira com admiração.
A verdade é que todos que conheci nesse cenário eram trabalhadores informais, que encontravam uma peculiar satisfação, pois era dali que tirava seu sustento. No entanto, essa aparente satisfação coexiste com condições precárias de trabalho. Jornadas extensas, muitas vezes sem folga, são uma realidade que muitos enfrentam. Além disso, a poluição resultante das lavanderias de jeans que despejam resíduos tóxicos no Rio Capibaribe é um problema ambiental longe de ser solucionado.
Portanto, a produção de jeans em Toritama é um paradoxo que nos lembra da necessidade de abordar as questões trabalhistas e ambientais de maneira abrangente, mas é inegável a legitimidade do ditado popular nesse caso “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
O mercado de Toritama era famoso em todo o Brasil por sua qualidade e inovação em roupas
“A GENTE TRABALHA DAS 7 DA MANHÃ ÀS 10 DA NOITE. CANSA, NÉ?, MAS A GENTE VAI GANHAR MAIS”
Trecho retirado do documentario
“EU JÁ TRABALHEI COM FEBRE, PORQUE SE EU NÃO TRABALHAR, NÃO SAI MERCADORIA. A GENTE VEM TRABALHAR DOENTE MESMO, QUE É PARA A META NÃO CAIR”..”Dispara Luana, em um trecho retirado da reportagem da pagina gênero e numero.
A VIDA DA GENTE NÃO É RUIM, NÃO. QUEM PENSAR QUE A VIDA DA GENTE É RUIM TÁ ENGANADO, POR QUE NÃO É TODO MUNDO QUE TEM O PRIVILÉGIO DE TER SAÚDE, TRABALHO, GANHAR O SEU DINHEIRO […] GENTE QUE EU VEJO PASSANDO AÍ, NA TELEVISÃO, NA ÁFRICA, MORRENDO DE FOME, OS PAÍSES AÍ FORA EM GUERRA E, GRAÇAS A DEUS, AQUI ONDE A GENTE MORA NÃO TEM ISSO. AÍ, ISSO É UMA VIDA RUIM? É NADA. RUIM É PARA QUEM MORRE
Moradora de toritama
TEM GENTE QUE PENSA QUE É FÁCIL PORQUE TEM A FACÇÃO, MAS NÃO É. COM O PASSAR DO TEMPO, MUDA MUITO O PSICOLÓGICO, ESSE
NEGÓCIO DE BATER A META MEXE MUITO COM A MENTE”
Dispara Luana, em um trecho retirado da reportagem da pagina gênero e numero.
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