FASHION REVOLUTION | ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA DA MODA BRASIL 2021
"Como mulher negra criadora de moda, compreendo como indissociável ao meu campo de atuação a prática de decodificar os parâmetros que aproximam as metodologias e os processos criativos dos modos de saber/fazer referentes ao legado da nossa ancestralidade. Isso se inicia a partir do momento em que se compreende a pessoa criadora como potencial inventora de novos mundos e, assim, vislumbramos a definição de novas paisagens humanas, sociais e culturais. Uma vez cientes de que nossa memória e nossa história foram apagadas e deturpadas, podemos visualizar que falta informação à maioria das pessoas brasileiras sobre a ancestralidade negra, indígena ou qualquer outro legado cultural que não seja branco hegemônico. Portanto, para fins de enfrentamento à desigualdade, e como uma contribuição à desconstrução das relações de poder, é necessário melhorar a qualidade e o aprofundamento das pesquisas, para que a partir daí possamos construir processos criativos e produtivos mais respeitáveis. Do mesmo modo, se faz importante a compreensão de que a sustentabilidade não se encerra nos aspectos ambientais e, assim, é indissociável da esfera sociocultural. Sem dignas condições de trabalho e de remuneração, assim como a efetiva participação e valorização do trabalho de mulheres negras, não há processo que possa ser sustentável ou respeitável. O papel da mulher negra na cadeia produtiva da moda é a compreensão definitiva de que sempre fomos vistas como meras reprodutoras ou executoras da criação alheia, colocadas como prestadoras de serviço em condições subalternizadas, e, nesse sentido, a partir da compreensão da produção de estereótipo como uma forma de controle, precisamos ter o compromisso de alterar essa lógica que nos afeta diretamente."
PONTO DE VISTA
CAROL BARRETO CRIADORA DO PROJETO MODATIVISMO, ARTISTA VISUAL, DESIGNER DE MODA AUTORAL E PROFESSORA DO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DE GÊNERO E FEMINISMO DA UFBA
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