Indice De Tranparencia da Moda - Brasil 2021

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FASHION REVOLUTION | ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA DA MODA BRASIL 2021

TÓPICOS EM DESTAQUE

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5. TÓPICOS EM DESTAQUE ANÁLISE - CLIMA E BIODIVERSIDADE Metas com base científicas e relatórios financeiros De acordo com o Acordo de Paris de 2015, os governos se comprometeram a realizar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C. Com isso, as empresas desempenham um papel fundamental no cumprimento desse compromisso, e as metas com base científica fornecem um caminho claramente definido para reduzir as emissões. Nossa pesquisa descobriu que um número pequeno, porém crescente, de marcas está divulgando metas com base científica, cobrindo clima e/ou outros tópicos ambientais, com 22% este ano, em comparação com 13% em 2020. Apesar disso, nenhuma marca publica um relatório que demonstre diretamente seus impactos ambientais em suas demonstrações financeiras, seguindo metodologias como as propostas pelo Environmental Profit & Loss (EP&L).

Falta de compromisso das marcas com práticas agrícolas regenerativas e com o desmatamento zero As florestas abrigam 80% da biodiversidade terrestre do mundo e nos fornecem elementos de sobrevivência e bem-estar essenciais como água limpa, sequestro de carbono, polinização, entre outros. Também são vitais no combate à crise climática e abrigam os habitats que sustentam os meios de subsistência e as culturas das comunidades indígenas, ribeirinhas e tradicionais. Materiais muito usados pela moda, como couro, viscose e algodão, correm o risco de estarem associados ao desmatamento. A Canopy estima que mais de 200 milhões de árvores são cortadas todos os anos e transformadas em tecidos com base celulósica (são fibras artificiais que dão origem a, por exemplo, viscose, rayon, modal e liocel). O Cerrado, região com a maior concentração de fazendas algodoeiras no Brasil, tem sofrido com o desmatamento e perdeu, aproximadamente, 50 mil quilômetros quadrados de vegetação

nativa nos últimos dez anos. A pecuária, que é voltada para a produção tanto de carne quanto de couro, é responsável pela maior parte do desmatamento na Amazônia, que vem se expandindo continuamente desde o início dos anos 1970. Nos últimos anos, o Brasil vem batendo recordes de desmatamento. Apenas em setembro de 2021, a Amazônia perdeu, diariamente, uma área de floresta maior do que quatro mil campos de futebol, registrando a pior marca mensal em dez anos. Apesar de todas essas informações só reforçarem a importância do engajamento da indústria da moda com o fim do desmatamento, nenhuma das 50 marcas analisadas divulga um compromisso mensurável para o desmatamento zero. No Índice global, os resultados também são desanimadores, com apenas 10% das marcas divulgando seus compromissos sobre este tópico. Outro tema que precisa de uma maior atenção por parte das empresas, e que foi incluído no Índice deste ano, é a agricultura regenerativa. Trata-se de um sistema de princípios e práticas agrícolas que reconstroem a matéria orgânica e restauram a biodiversidade do solo, levando em conta aspectos ecológicos

e sociais, reabilitando o ecossistema e aprimorando os recursos naturais, em vez de esgotá-los. Mesmo com a maioria das marcas de moda dependendo, em grande parte, da agricultura para obter matérias-primas, somente 6% divulgam evidências de implementação de práticas agrícolas regenerativas para pelo menos uma fonte de matéria-prima. Práticas agrícolas regenerativas podem auxiliar na transição para o uso de materiais de menor impacto, além de ter o potencial de criar novas oportunidades de emprego, neutralizar o aquecimento global e apoiar a biodiversidade. No entanto, é importante ressaltar que a agricultura regenerativa tem sido praticada em comunidades de todo o mundo há milhares de anos, e que seu potencial deve respeitar as práticas agrícolas ancestrais e as comunidades locais. A mudança para modelos de agricultura regenerativos deve se concentrar em questões como a reforma agrária, o bem-estar dos trabalhadores rurais e a valorização das comunidades indígenas, exigindo reflexões mais profundas sobre nosso passado colonial como indústria e como sociedade global.


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