Barbara boswell quer se casar comigo (desejo hm 33)

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QUER SE CASAR COMIGO? The Wilde Bunch Barbara Boswell

Desejo Homem do mês nº 33

ELE SÓ OUER UMA COISA DELA... O Homem: Mac Wilde necessita de uma mulher. Desesperadamente! A Mulher: Vera Kirby seria uma esposa maravilhosa. Mas será que vai concordar com a proposta de casamento de Mac? Mac sabe que ela não veio até Montana para arranjar marido. Porém, esse atraente fazendeiro precisa de Vera, para tomar conta de suas quatro crianças. E só há uma maneira de impedir que ela vá embora: colocando uma aliança em seu dedo. Contudo, Vera não está a fim de se casar sem amor!

Digitalização e revisão: Nell


Querida leitora, Imagine que você seja solteira e tem sonhado com uma família por toda a sua vida, mas não tem nenhum marido em vista. E, de repente, um bonito e atraente fazendeiro lhe faz uma proposta: casar-se com ele para ajudá-lo a cuidar de quatro crianças travessas. A proposta parece tentadora, mas será que é prática? Esse é o dilema vivido por Vera no romance Quer Se Casar Comigo?, de Barbara Boswell. O que fará Vera? Não vou contar a você, porque descobrirá se deliciando com esta divertida e comovente história! Um beijo carinhoso do seu Roberto Pellegrino Editor

Copyright © 1995 by Barbara Boswell Originalmente publicado em 1995 pela Silhouette Books Divisão da Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma. Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá. Silhouette, Silhouette Desire e o colofão são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Título original: The Wilde Bunch Tradução: Ângela Falcão Riccetto de Mello EDITORA NOVA CULTURAL uma divisão do Círculo do Livro Ltda. Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346 - 2e andar CEP 01410-901 - São Paulo - Brasil Copyright para a língua portuguesa: 1995 CÍRCULO DO LIVRO LTDA. Fotocomposição: Círculo do Livro Impressão e acabamento: Gráfica Círculo.


CAPÍTULO UM — O que está para acontecer, acontece. — Receio que não possa concordar com você, Mac — discordou o reverendo Franklin, balançando a cabeça. — Seu modo de pensar é muito pessimista e não deixa lugar para a força de... — De um pensamento positivo — interrompeu Mac Wilde. — Li sobre isso naquele livro que me emprestou. Tentei acreditar e ser otimista quando Brick foi suspenso por uma semana na escola. Quando Lily fugiu de casa e passou uma noite fora, tentei ser compreensivo, sem falar de quando Clay e seus amigos entraram na escola e abriram as gaiolas de todos os ratos brancos do laboratório. Tenho certeza de que tentei... — Sei o quanto tem sido difícil para você — disse o reverendo, não se deixando persuadir a concordar com a forma pessimista de Mac encarar os fatos. — As crianças de seu irmão Reid têm tido dificuldade em se adaptar à vida de Bear Creek. — Eles não se ajustaram nem um pouco — afirmou Mac —, nem pretendem fazê-lo. São uns loucos, reverendo. Às vezes são sutis, outras debochados e irreverentes. Cada um é louco a seu modo. — Não posso negar que os quatro são bem... difíceis — concordou o religioso, procurando o adjetivo mais apropriado para descrever aquelas criaturas —, mas, meu filho, você deve ter fé. — Fé não me ajuda com essas crianças, a menos que esteja se referindo a exorcismo. — Sei que não fala sério. Sempre teve um senso de humor muito apurado. — Não, não estou. Eles estão comigo há quase seis meses. Quando chegaram, em junho, achei que se adaptariam durante o verão, e em setembro, no início das aulas já estariam bem. Mas estamos no meio de outubro e estou desesperado. Não posso continuar assim.


— Está pensando em desistir e entregá-las ao Estado? — O Estado não os aceitaria. Montana, que acabou de conhecê-los, acha que devem voltar para a Califórnia de onde vieram, e os Estados vizinhos já fecharam as fronteiras. — Entendo o que quer dizer. — Que as crianças Wilde são incorrigíveis e insuportáveis. — Não, Mac. Que você não desistirá de cuidar dos filhos de Reid e Linda, por mais difícil que seja. Admiro muito sua coragem, ou melhor, sua dedicação e resolução — corrigiu o reverendo. — São meus parentes, temos o mesmo sangue — suspirou Mac. — Amava meu irmão e gostava muito de Linda; apesar de termos idéias muito diferentes, me dava muito bem com eles. — A maioria das pessoas pensava diferente de Reid e Linda. Foi uma pena não ter pego as crianças logo após a morte dos pais. O ano que passaram com seu irmão James e a mulher, Eve, foi um tanto... infeliz. Acho que a maioria dos problemas dessas crianças começou nesse difícil período. — Concordo, eu mesmo não gostaria de morar com James e Eve. Quando me ofereci para cuidar de meus sobrinhos eles alegaram que meu lar não era adequado para os meninos por eu ter um casamento desfeito, enquanto eles formavam um par perfeito. Isso até o casal não suportar mais os quatro monstrinhos. Aí então, o tio Mac, apesar de divorciado, fracassado e inadequado era a pessoa apropriada para cuidar das crianças. — Bem, James e Eve são muito difíceis. Mais uma vez o reverendo usava a palavra difícil, pois não cabia a um pastor usar os adjetivos que de fato descrevessem o casal, que se julgava melhor que todas as pessoas. — Além do mais, como podem dizer que seja um fracassado só porque seu casamento com Amy não deu certo? Vocês eram muito jovens quando se casaram, eram muito diferentes, e depois, quando amadureceram, perceberam que tudo fora um engano. Foi uma pena o que aconteceu, mas não pode deixar que um erro o


impeça de recomeçar. — Lá vem o sermão de sempre: devo escolher uma boa moça e dar-lhe um lar — comentou Mac, erguendo as mãos para o alto. — Não quero ser chato e ditar regras de comportamento como seu irmão. No entanto, devo dizer que uma mulher nessa casa traria mais estabilidade, sem mencionar o senso de família e segurança de que as quatro crianças precisam desesperadamente. — Tinha certeza de que diria isso — afirmou Mac, andando de um lado para o outro na frente da lareira. — O senhor não sabe o que aconteceu comigo! Depois do casamento desastroso com Amy, decidi que ficaria solteiro, mas agora sei que não posso criar os quatro sozinho, preciso de outro adulto. Decidi, então, me casar, porém agora nenhuma mulher sequer sonha em aceitar o pedido ao tomar conhecimento dos meus sobrinhos. — Você chegou a falar sobre o assunto com alguma de suas "amigas"? — Não fiz exatamente uma proposta de casamento, mas toquei no assunto. Jill Finlay disse que não estava interessada em cuidar de crianças que não fossem as dela. Tonya Bennett aceitaria casar-se comigo, se eu me livrasse dos meninos, e Marcy Tanner acha que eles sabotariam qualquer chance de sermos felizes. É claro que, se eu não tivesse meus sobrinhos comigo, não precisaria casar-me. Não fazia parte dos meus planos, mas é assim que tem que ser. Mac parou de frente para a lareira e encarou a cabeça de um alce empalhado que decorava a parede. — E inútil, reverendo. Que mulher em sã consciência se casaria comigo para cuidar de uma gangue? — E pensar que no ano passado foi eleito o solteiro mais cobiçado de Bear Creek no baile do dia dos namorados — suspirou o reverendo. — Bem, estou decepcionado com Jill, Tonya e Marcy, mas não surpreso. Você precisa de uma moça de caráter, íntegra e dedicada, e elas não condizem com a posição de mãe e mulher. No entanto, conheço a pessoa ideal.


— Está tentando fazer o papel de cupido — falou Mac, encarando o amigo. — Muito obrigado, sei que posso encontrar uma mulher sozinho. — Mac, desculpe interrompê-lo — disse um vaqueiro, entrando apressado e nervoso. — Mac sentiu um nó no estômago. O administrador da fazenda, Webb Asher, não costumava ficar desesperado, e só entrava na casa de seu patrão se o assunto fosse de real urgência. — O que aconteceu, Webb? — A cerca do pasto norte está no chão, e o gado está indo na direção de Blood Canyon. — Quando achei que nada pudesse piorar... — resmungou Mac. — Temos que consertar a cerca e recolher o rebanho agora; no entanto, tenho que pegar Anne no centro comunitário às cinco horas, quando a aula de dança terminar. — Posso pedir à minha filha, Trícia, que a pegue e a traga aqui para a fazenda — ofereceu o reverendo Franklin. — Isso, se achar que Anne entrará no carro com Trícia. — Não sei — respondeu Mac, andando de um lado para outro mais uma vez. — Anne não conhece sua filha muito bem e ela tem tantos medos... Aquela menina vê perigo em tudo. Nunca vi ninguém gritar tão alto quanto ela por estar amedrontada. — Isso é verdade! — concordou Webb, entrando na conversa. — A primeira vez que aquela criança gritou, pensei que um urso a tivesse agarrado, mas berrava só porque o irmão estava jogando água nela e dissera estar jogando ácido. Anne pensou que sua pele fosse ficar cheia de bolhas e marcas. Quem poderia imaginar que uma garotinha soubesse tanto sobre queimaduras de ácidos? — Anne é especialista em catástrofes e tragédias. Acho que ela lê sobre o assunto — concluiu Mac. — Tem uma imaginação muito fértil, pena que seja tão mórbida. Como posso estar em dois lugares ao mesmo tempo? Pegar Anne e ir até o pasto norte? Sinto-me o tempo todo puxado em cinco direções diferentes e não consigo achar uma solução para isso. — Se tivesse uma mulher em casa, ela estaria supervisionando as crianças. Poderia ajudar com as refeições e...


— Droga! Tinha me esquecido do jantar! — exclamou Mac, desesperado. — Lily não pode preparar algo para os irmãos mais novos? — indagou o reverendo Franklin. — Sei que ela tem aulas de culinária na escola, porque Trícia também está cursando. — Pode ser que Trícia cozinhe, mas Lily... colocará fogo na comida ou envenenará os outros de propósito. A sra. Lattimore prepara as refeições nos três dias que vem limpar a casa, mas os outros quatro são um grande problema para mim — concluiu Mac, com um suspiro. — A jovem a quem me referi alguns minutos atrás, adora cozinhar, é ótima com crianças e sempre quis ter uma família. Agora ela está trabalhando em Washington, e pelas cartas que recebo, estou certo de que está pronta para uma mudança em sua vida. Poderíamos trazê-la para Bear Creek. — Uma noiva sob encomenda? — comentou Mac, achando graça. — Isso parece mais uma novela. — É melhor do que anunciar nos jornais e revistas que está querendo alguém para casar-se. Além do mais, meus planos são muito melhores e mais seguros. Eu mesmo posso providenciar... — Ei, Mac, seu sobrinho está dirigindo o jipe! — exclamou Webb, já na porta. — Brick? — perguntou, surpreso. — Ele deveria estar na escola. Se ele foi expulso mais uma vez... Os três homens saíram correndo, preocupados. — Meu Deus, é o pequeno Clay! — afirmou o reverendo. Por alguns segundos ficaram paralisados olhando o garoto de oito anos na direção do veículo. — Oi, tio Mac — cumprimentou Clay, gritando pela janela do carro. — Vim para casa mais cedo porque estou doente, mas veja como posso dirigir! — Doente? — repetiu Webb, confuso. — Ouvi dizer que a escola primária está com alguns casos de catapora — informou o religioso. — Se Clay pegou, perderá pelo menos uma semana de aula. — Precisará de sorte, Mac, para dirigir a fazenda e cuidar de uma criança


doente — comentou Webb, olhando para o patrão. — Um casamento de conveniência está me parecendo algo tentador. Um acordo sensato entre duas pessoas adultas que não querem perder tempo com fantasias e os fatos do cotidiano. Pelo menos não precisaremos nos preocupar com aquelas desilusões amorosas que sempre acabam estragando os relacionamentos. Reverendo, chame essa moça que gosta tanto de crianças e família o mais depressa possível. Tudo por minha conta. Agora, vamos tentar parar o jipe. Vera Kirby leu a carta várias vezes sem acreditar. "É com grande pesar que venho informar-lhe que, devido a decisão de eliminar certas funções do Departamento de Comércio, seu cargo será extinto no prazo de trinta dias." A carta dava ainda mais algumas explicações, dizia que, apesar de ter realizado um bom trabalho no setor e ser muito eficiente, nada poderia ser feito diante das medidas para redução de gastos. Vera estava desempregada. Seus olhos encheram-se de lágrimas, e um certo pânico tomou conta de seus sentimentos. Trabalhara durante cinco anos, e agora seu departamento não era mais prioritário. Apesar de ter se sentido cansada algumas vezes, o salário era bom, tinha plano de saúde e uma semana de férias paga. Durante esses anos, Vera foi capaz de alugar um apartamento em Virgínia, que ficava próximo a Washington, sem ter que dividir as despesas com ninguém. Gostava de ter sua privacidade, apesar de sentir falta de companhia. Sempre foi reservada e tímida, mas, no início, quando morava com amigas, foi obrigada a se desinibir. Com a estabilidade financeira, preferiu morar sozinha com seu gato siamês, Tai. No seu aniversário de vinte e seis anos, três meses antes, enquanto assistia à televisão, fez um balanço de sua vida. Solteira ainda, os anos se passavam sem que ela percebesse, rodeada de antigos amigos que já se haviam casado. Passava os dias sem grandes novidades. Percebeu que chegara a hora de procurar mudar seus hábitos


ou acomodar-se. Faltavam apenas quatro anos para completar trinta e não tinha uma família e filhos. Tristonha, encarou a realidade. Não encontraria o príncipe encantado com quem tanto sonhara. Mas ainda pensava em ter ao seu lado um homem que amasse, com quem pudesse dividir suas alegrias e tristezas. Desde criança, quisera ter marido e filhos, e agora estava ali, sem emprego e sem família. Tai miou e pulou do sofá, procurando carinho e atenção. Começou a se esfregar na pernas de Vera. — Oh, Tai, o que faremos? O gato parecia satisfeito com sua existência solitária, porém o futuro sem uma família assustava Vera. O telefone tocou, e ela atendeu, na expectativa de arrumar alguma diversão para aquela noite. — Vera? — Tio Will! — exclamou Vera, ansiosa. — O que acha de vir até Bear Creek visitar-me? — Gostaria muito, tio, mas... — Sem "mas". Já comprei sua passagem de avião. Todos nós insistimos para que venha a Montana, amanhã, se possível. Em pé no aeroporto, Mac olhou a fotografia que tinha nas mãos. Estava certo de que o casamento com Vera Kirby, era a única forma de conseguir um pouco de paz em sua vida. O reverendo Will Franklin estava em casa, satisfeito e ansioso com a chegada da enteada. Vera e Franklin se conheciam havia muitos anos, e ele afirmava que ela tinha padrões morais e era confiável. Conviveu com ela como padrasto, por quase cinco anos. Na época, era apenas uma menina, e, quando sua mãe pediu o divórcio, Vera tinha oito anos. Desde então, se viam de vez em quando ou se falavam por telefone com freqüência, pois tornaram-se grandes amigos. O reverendo Franklin mais tarde casara-se com Ginny e teve duas filhas,


Trícia, agora com dezesseis e Joana com doze anos. A foto de Vera tinha sido tirada cinco anos atrás em Washington. Mac achou que o sorriso era meio forçado, como se alguém a tivesse mandado fazer pose para ser fotografada. Os cabelos eram castanhos e semilongos. Os olhos eram grandes, e estavam vermelhos por causa da luz do flash. O nariz, pequeno e elegante, dava ao rosto um ar refinado; os dentes brancos e bem formados iluminavam sua expressão. Mac sentia-se um pouco inseguro, não sabia como ela seria pessoalmente. Tentava convencer-se de que o que importava era a retidão de caráter, e não a aparência física. Segurando a cabine de viagem de Tai, Vera desembarcou. Procurou o reverendo Franklin entre a multidão que esperava pelos passageiros, mas não o encontrou. — Você é Vera Kirby? — Sim — respondeu. Não conhecia aquele homem alto que parecia ser um fazendeiro usando calça jeans, botas de couro surrado e camisa de algodão. — Sou Mac Wilde — apresentou-se. Vera continuava com as mesmas características da foto. Os cabelos lisos e castanhos ainda estavam com o corte reto na altura dos ombros. Os olhos eram verdes e o corpo parecia bem-feito, mas como usava um blazer e calça de pregas, Mac não foi capaz de descobrir com certeza. Vera sentiu-se constrangida ao ser analisada por um desconhecido, que provavelmente fora mandado pelo reverendo e que parecia não ter ficado muito satisfeito com o que vira. Mac, um homem moreno alto com traços fortes e atraentes, não era o tipo que gostava de mulheres como ela. Pelo que sabia, o percurso do aeroporto até a casa de seu antigo padrasto era longo, e deveria passar várias horas na companhia de Mac Wilde. Não tinha idéia do que dizer ao estranho, por mais que tentasse pensar em algo interessante para conversarem. — Presumo que o reverendo Franklin não pôde vir e pediu para que você me


acompanhasse — disse, arrependendo-se por parecer óbvia. — Fui eu quem quis vir — respondeu Mac. — Foi muito gentil de sua parte — afirmou, sorrindo satisfeita com a delicadeza. Mac ficou surpreso. O sorriso de Vera era algo deslumbrante, trouxe luz ao rosto tímido e o fez notar que sua pele alva era suave e delicada, muito diferente das moças da região. Vera, no mesmo instante, tentou parecer séria como antes, o que fez Mac ficar ainda mais interessado, pois sabia que sob aquela aparência de mulher sóbria havia algo muito diferente. Permitiu-se imaginar como seria tocar aquela pele suave e beijar a boca de lábios carnudos e sensuais. Seria ótimo poder ter uma mulher que o ajudasse na educação e criação das crianças, e, ao mesmo tempo, ter uma vida sexual em sua própria casa, já que nos últimos meses foi impedido de namorar com tranqüilidade. Não tinha tempo para sair de casa e tomava conta das crianças à noite. Estava ansioso por retomar sua vida sexual. Vera ficou constrangida com os olhares de Mac. Não estava acostumada a lidar com essas situações, apesar de sua idade. — Demoraremos muito para chegarmos a Bear Creek? — indagou, tentando disfarçar o nervosismo. — Por volta de três horas e mais vinte e cinco minutos até a fazenda. — Que fazenda? — A minha. — Você tem uma fazenda? — perguntou, interessada. — O reverendo não lhe contou sobre a R.R.? — indagou Mac, confuso, pois presumira que o amigo a informara pelo menos dos fatos básicos sobre o casamento. — Não. Falou muito pouco até sobre a casa dele. Não conheço Bear Creek, era sempre ele que me visitava — explicou Vera, sem entender a razão de Mac estar tão perplexo. Tai começou a miar, provocando os olhares curiosos das pessoas que estavam


no saguão do aeroporto. — Acho que Anne terá um rival em suas gritarias — murmurou Mac, pensando que um gato era tudo o que faltava em sua casa... — Ele não gosta de viajar, ficou assustado — disse Vera, tentando desculparse, ao notar que seu gato não era muito bem-vindo. — Deve estar um pouco traumatizado. — Traumatizado? Um gato? — repetiu Mac, satisfeito, pois, se era tão cuidadosa com animais, como seria com os quatro órfãos? — Vamos pegar sua bagagem para podermos ir à fazenda. — Preferia ir para a casa de tio Will. Faz tanto tempo que não o vejo. Estou com saudade dos Franklin. Mac não estava satisfeito, mas achou o pedido sensato. — Está certo, porém não posso deixar as crianças sozinhas muito tempo — explicou, preocupado. — Temos que ir logo. Vera o seguiu até a esteira de bagagem e ficou observando o porte másculo de Mac. Achou óbvio que um homem tão atraente fosse casado e tivesse filhos. Então, por que deixaria as crianças para buscá-la no aeroporto? E sua mulher, onde estaria? E por que olhava para ela daquela forma? Não era certo um homem casado olhar outra mulher assim. Pegaram a bagagem e saíram do aeroporto com Tai miando. — Quantos filhos tem? — perguntou Vera, já na caminhonete. Tai foi retirado da cabine de viagem e estava acomodado no colo de sua dona. — Quatro — respondeu, certo de que o reverendo havia mencionado as crianças e a verdadeira razão de sua vinda. — Que bom — comentou, com frieza, corando diante do olhar penetrante de Mac. O rádio estava ligado e tocava uma música romântica. Vera acariciava Tai, tentando acalmá-lo e disfarçando o incômodo que sentia diante de Mac. Os dedos longos na direção, o peito forte e os braços e as pernas musculosos não passaram


despercebidos. Vera ficou chocada com seu próprio comportamento, mas não conseguia evitar, sentia-se atraída por aquele homem que acabara de conhecer. Nunca sentira isso antes, e acontecia justo agora, com um homem casado e com quatro filhos. — Que idade têm as crianças? — indagou enquanto brincava com a coleira de Tai. Tudo estava acontecendo diferente do que Mac imaginara. Achou que Vera chegaria a Montana sabendo de toda a situação e do que a esperava. Imaginou que talvez estivesse tentando quebrar o gelo com perguntas cujas respostas já soubesse. Ficou pensativo por alguns instantes ouvindo o som do sax que tocava no rádio e imaginando como seria acariciar aquela pele alva. — E os nomes delas? — insistiu Vera. Mac parecia ignorá-la, não respondendo às suas perguntas, porém, ao encarála, mostrava estar bastante interessado. — Quer saber sobre as crianças — suspirou Mac. — Não seria justo esconderlhe a verdade, então vou contar-lhe. Lily está com dezessete anos. É manipuladora, mal-educada e rebelde; bom, essas são suas qualidades. Brick, faz catorze no final do ano e, quando não está no meio de confusão, está procurando por uma. Anne, de dez anos, é uma criança que vê perigo em tudo. É obcecada por crimes e desastres. Clay, o mais novo, tem sete anos, vive de acordo com suas próprias regras e não vê razão para obedecer aos outros. É desnecessário dizer que conviver com essa turma não tem sido fácil. — Suponho que não — respondeu Vera, assustada. Achou que Mac deveria estar nervoso por descrevê-los daquela forma. Tentou fazer algum comentário diplomático. — Os nomes das crianças são interessantes e diferentes. — Ah, sim! — concordou. — Assim como eles. Os pais deles, meu irmão Reid e sua mulher, Linda, gostavam desses nomes. — Acho que entendo — murmurou ao concluir que os filhos não eram dele. Mac parecia satisfeito. Vera parecia tolerante e não fez nenhum comentário maldoso sobre seus sobrinhos. Tinha tomado a decisão certa ao trazê-la para


Montana. Seria melhor para todos que ela se mudasse para a fazenda o mais depressa possível. — As crianças estão com você agora? — perguntou Vera, tentando unir os pedaços da história. — Estão vivendo comigo. É definitivo. Seus pais morreram em um acidente de carro dois anos atrás. — Que tragédia! — exclamou Vera, horrorizada. — Pobres crianças. — Foi muito difícil. No começo a mãe de Linda mudou-se para a casa deles, mas não conseguiu cuidar dos netos e também não se adaptou ao lugar. — Meu Deus! — murmurou Vera. — Depois, meu outro irmão, James e sua mulher, Eve, decidiram ficar com as crianças, mas desistiram, depois de um ano muito complicado. — As crianças não se davam bem com os tios? — Podemos dizer que não. Mac gostou da forma como Vera se interessou por seus sobrinhos. — E depois que nada tinha dado certo, você pegou as crianças. — Estão comigo desde junho, e sou o primeiro a admitir que não entendo nada sobre educação de crianças e adolescentes. Ficou bem claro para mim que não conseguiria ser um pai solteiro. Então Mac não era casado, concluiu Vera, sentindo-se aliviada. — Vou ligar para as crianças e avisar que estamos chegando — informou, ao pegar o telefone celular. — Por que ninguém atende? Onde será que eles estão? São cinco horas, deveriam estar em casa. — Talvez tenham ficado um pouco mais na escola... — Alô — interrompeu Mac ao ouvir uma voz no outro lado da linha. — Anne, é o tio Mac. Por que demorou tanto para atender ao telefone? — Estava no meu quarto e tive que tirar o armário que eu tinha colocado na frente da porta — sussurrou a menina. — Por que estava trancada em seu quarto e armou uma barricada? E onde estão os outros?


— Eu estava assistindo à televisão, tio Mac. — No seu quarto? Não há nenhum aparelho lá. — Eu o coloquei no meu quarto. Podia entrar um ladrão aqui e tentar me seqüestrar ou me matar. — Anne, já lhe disse para não assistir a programas violentos. — Mas os outros são chatos. — E não deveria ter pego a televisão. Quero que a coloque no lugar agora — ordenou Mac. — Anne, não me disse onde estão seus irmãos. — Foram embora — afirmou a sobrinha, tristonha —, não sei para onde, só sei que se foram. Tio, e se entrou um assassino aqui, levou Lily, Brick e Clay e... — Já chega, Anne. Não tem idéia de aonde eles foram? — repetiu Mac, nervoso. — Lily e Brick não, mas Clay disse que ia montar naquele cavalo preto bem grande. — Blackjack? — indagou, incrédulo. — O garanhão? Meu Deus, Anne, você tem que... — Tio Mac, tem alguém batendo na porta! Deve ser um ladrão. Nesse momento, Mac e até Vera ouviram pelo telefone o grito de horror que a menina deu. — Ela está bem? — perguntou Vera, preocupada. — Anne, Anne! — Mac gritou o nome da sobrinha algumas vezes tentando atrair, a atenção dela até que os gritos cessaram. — Ele disse que é Webb Asher, tio Mac — informou Anne —, e está mandando eu abrir a porta, mas eu não vou fazer isso, não. É alguém fingindo ser Webb — concluiu, dramática. — Anne Wilde, abra já a porta e deixe-me falar com Webb, agora! — ordenou Mac. Após alguns minutos, Mac desligou o telefone. — O administrador pegou Clay dando biscoitos para o garanhão. Estava fazendo amizade com o cavalo porque queria passear pela fazenda com o animal.


Blackjack não é manso, uma só patada poderia ter matado o menino. — Mac sentiu um nó no estômago. — Preciso ir para casa já. Só Deus sabe onde Lily e Brick estão e não posso deixar os dois mais novos sozinhos. Webb disse que ficaria com eles até eu chegar, mas não tem paciência com crianças. — Demora muito para chegarmos a Bear Creek? — indagou Vera, olhando o relógio. — Não passaremos pela cidade. Pegarei outra estrada, um atalho, na verdade, assim chegaremos mais depressa à fazenda. Vera engoliu em seco, desapontada, mas, diante das circunstâncias, não poderia pedir a Mac Wilde que a deixasse na casa do reverendo Franklin. — Está bem. Ao chegarmos, ligarei para tio Will e pedirei que ele me pegue lá. Assim, não precisará deixar as crianças sozinhas novamente. — Não pode esperar até amanhã para vê-lo? Fez uma longa viagem e não há necessidade de fazer o reverendo vir até minha fazenda depois de escurecer. — Esperar até amanhã? — repetiu Vera, confusa. — É impossível, eu... — Deixe-me colocar de outra maneira. Ninguém vai a lugar nenhum essa noite. Falaremos sobre sua visita ao reverendo amanhã. — Não posso passar a noite na sua fazenda! — afirmou Vera, em pânico. — Querida, você pode e vai. Sei que está tendo um ataque de nervos, com medo de encontrar meus sobrinhos. Mas quem não estaria? Dou-lhe toda a razão e a compreendo; afinal, contei-lhe toda a verdade sobre essa turma intimidadora. Mas não podemos esquecer a razão de sua vinda a Montana... — Sim, não podemos — interrompeu Vera. — Vim aqui visitar a família do reverendo Will Franklin. — Já é hora de acabarmos com essa charada. Vamos ser honestos um com o outro e parar com esse jogo. Você sabe que está aqui para casar-se comigo e ajudarme a criar aquelas crianças.


CAPÍTULO DOIS Vera ficou boquiaberta, muda e assustada. As palavras de Mac ecoavam em sua cabeça, e sentiu a face corar. — Se isso é uma brincadeira, não gostei nem um pouco — afirmou Vera, após recuperar o fôlego. Nunca sentira-se tão desestruturada, não sabia como agir ou o que falar. — Tio Will comprou minha passagem e... — Não foi ele, fui eu quem comprou a passagem. Se o reverendo disse outra coisa ele... mentiu — disse Mac, desrespeitando a posição do amigo religioso. — Afinal, todos são humanos, quem não comete pecados? — Honestamente, quer que eu acredite que tio Will concordaria em me convidar para visitá-lo e casar-me com um estranho sem ao menos mencionar seu nome para mim? — Eu não queria que fosse assim — disse Mac, mostrando que reprovava aquela conduta —, pensei que o reverendo tivesse lhe contado tudo; afinal, a idéia foi dele. — Ele não faria tal coisa! — gritou Vera, incrédula. — Não meu tio Will! — Ouça, meu bem, seu tio Will planejou tudo. Eu nem ao menos sabia da sua existência. O reverendo, sabendo que eu estava tendo problemas com as crianças e que precisava de uma mulher para ajudar-me, sugeriu você para casar-se comigo. Quando aceitou minha passagem, presumi que tivesse aceito... tudo o mais. — Meu Deus! — exclamou Vera, levando as mãos ao rosto na tentativa de esconder seu constrangimento. — Isso não pode ser verdade. — Sabe que é — afirmou Mac, com voz firme. — Não! Vim visitar meu tio... — Ele é seu padrasto. O reverendo me contou tudo sobre o casamento com sua mãe. Fiquei surpreso, pois ninguém aqui em Bear Creek sabia que ele já tinha sido casado e que tivesse uma enteada. — Ex-enteada — corrigiu Vera. — Ginny, sua atual mulher deixou isso bem


claro durante os últimos anos. Quando eu ainda era pequena, ela me disse para não chamá-lo mais de pai, que ele tinha suas próprias filhas e que eu não era uma delas. — Nunca pensei que... — Sim, me disse que o chamasse de tio ao invés de pai. Fiz o que ele queria, mas por muito tempo o considerei como meu pai. O verdadeiro morreu pouco depois do meu nascimento, Will foi o único pai que tive. — Então ele preferiu agradar a mulher. — Não tinha escolha — defendeu Vera. — Um marido deve fazer tudo para fazer a mulher feliz. — Em outras palavras, deixou-se influenciar por uma mulher. Foi um grande erro. — Erro esse que você com certeza não cometerá. — Isso mesmo — concordou, orgulhoso, interpretando o comentário como um elogio, e não como crítica. — Mas nada disso parece com o reverendo e Ginny, que conheço há quinze anos. — Tio Will ficou muito desiludido quando minha mãe o deixou por outro homem, assim como eu também fiquei — explicou Vera, com a voz mais fraca ao relembrar fatos tão dolorosos para ela. — Mamãe sempre diz que ele casou-se com Ginny em seguida para esquecer dela, e Ginny sabia. Por isso todo o ressentimento. Eu a faço lembrar que minha mãe foi o grande amor da vida de Will Franklin. — É difícil imaginar o reverendo no meio desse conflito amoroso, e ainda mais difícil ainda é ver Ginny como uma pessoa possessiva e egoísta. Ela sempre foi tão prestativa e generosa. — Não duvido que as pessoas mais generosas e prestativas sintam-se inseguras ao saberem não ocupar o primeiro lugar na vida de alguém, se estivermos nos referindo a relacionamentos amorosos, é claro. Além do mais, todas as mulheres sempre consideraram minha mãe uma ameaça por ser muito bonita. Vera sentiu que Mac a encarou. Com certeza, não compreendia como uma mulher invejada poderia ter como filha alguém tão comum. — Não pareço nada com minha mãe. Acho que tenho os traços de meu pai.


Sou um tipo mais normal. — Não há nada de errado com sua aparência. Você é muito bonita — elogiou Mac, em voz baixa. Vera ficou constrangida e olhou para Tai, que dormia no seu colo. Nunca contara detalhes de sua vida a um homem, era a primeira vez que falava de seus problemas. Ficou em silêncio por alguns instantes. — Está esperando que elogie cada parte de seu rosto? Olhe, nunca fui do tipo de fazer galanteios. E eu... — E óbvio que não! — interrompeu Vera, irritada. — Você parece prático demais, sem tempo ou paciência para nada que se refira a sentimentos, não é? Deve haver uma relação entre precisar comprar uma mulher e esse seu jeito tão prático. — Para mim, isso é até redundante. Mac olhou para ela e passou os longos dedos por toda a extensão do braço de Vera. — Tem cócegas assim como seu gato? Vera estremeceu. Apesar de estar bem protegida pelo blazer, sua pele se arrepiou quando ele a tocou. — Não me trate como se fosse superior — ordenou Vera. — Sim, querida — respondeu, divertindo-se ao encará-la. Vera estava assustada. Quando Mac sorria daquele modo, era irresistível. Ele sabia ser charmoso, e tirava proveito disso. Ficaram quietos, mas ela sentia os nervos à flor da pele, não compreendia como aquela situação chegara a tal ponto. Mac comprara a passagem e esperava obter em troca um casamento, uma mulher para ajudá-lo com as crianças. Que idéia absurda. Aquilo tudo deveria ser um pesadelo, não poderia ser realidade. Mac, por outro lado, estava calmo e dominava a situação. — Essa é uma de minhas músicas favoritas — disse, aumentando o volume do rádio. — Devolverei o dinheiro da passagem — afirmou Vera, tentando parecer fria e controlada, mas deixando transparecer sua tensão. — Sinto muito por todo o mal-


entendido. Toda a história é muito embaraçosa. — Não quero ser reembolsado. Espero que honre os termos do acordo e casese comigo. — Mas eu não fiz acordo algum. — Comprei a passagem com boa-fé e acreditei que tivesse aceitado o pedido — informou, olhando de relance para ela. Mac estava satisfeito com a situação. Era capaz de saber tudo o que Vera estava pensando. Ela estava confusa e horrorizada. — Talvez esteja tentando se aproveitar de mim — acusou Mac —, usando meu dinheiro para conhecer Montana, e com a ajuda de seu tio. — Como pode pensar uma coisa dessas? — bradou Vera, em pânico. — Foi tudo um mal-entendido terrível, é só. — Isso é o que você diz. — Não tem razão para suspeitar de nós, como também não tem provas — respondeu Vera, admitindo a possibilidade de Mac estar jogando com os fatos. — Não? Então me responda, Vera. Se Ginny não gosta de você e nunca a quis por perto, como consentiria em sua visita depois de tantos anos? Ela quer esquecer que você existe, como acabou de me contar. E então, como a convidaria e até pagaria sua vinda para Montana? Vera não sabia o que responder, ela mesma fizera essa pergunta várias vezes para si mesma. Porém estava tão contente pelo convite que parou de pensar sobre o assunto. — Nunca veio visitá-los antes — continuou Mac. — Era o reverendo quem ia vê-la quando viajava para a igreja. Ele mesmo me contou que gostaria de tê-la visitado mais vezes, mas não pôde. A verdade é que Ginny não está esperando por ninguém; ela nem ao menos sabe de sua visita a Bear Creek, só sabe que ficará comigo na fazenda R.R. — Está usando a informação que lhe dei contra mim — afirmou Vera, após engolir em seco. — Tudo é válido no amor e na guerra, querida.


— Bem, não estamos falando nem de um nem de outro. Pare este carro! — ordenou, furiosa. — Quero sair daqui. — Está planejando pegar uma carona de volta para o aeroporto? Com toda a sua bagagem e esse gato que não pára de berrar? — indagou Mac, rindo. — Sim. — Tem certeza? O sol está se pondo e é perigoso ficar aqui no escuro. Ursos, lobos e outros animais andam por esta estrada. Seu gato pode servir de aperitivo e você será o prato principal. — Está tentando amedrontar-me de propósito. Acho que corro mais riscos aqui com você do que perto de qualquer animal predador. E se não parar logo esse carro, vou pular. Mac parou o carro rapidamente no acostamento. Vera estremeceu. Ele parecia estar disposto a deixá-la sair. Estava com medo. Como voltaria para o aeroporto? Tai começou a miar, e Vera assustou-se. — É melhor colocar o gato na cabine onde ele viajou. Ela pegou a casinha de madeira, prendeu Tai, e Mac colocou-a no banco traseiro do carro. — Pegarei minha bagagem e depois Tai. — Não será necessário — afirmou Mac. Antes que Vera se desse conta do que estava acontecendo, Mac soltou o cinto de segurança que os prendiam ao banco e aproximou-se, segurando firme as mãos dela. — O que está fazendo? — ela perguntou, tentando, sem êxito, puxar seu braço. — Vou dizer o que não estou fazendo. Não estou abandonando você e seu gato na estrada. Nunca a deixaria se expor a tal perigo. O coração de Vera disparou. Estava em perigo. Tentou recobrar o equilíbrio e pensar no que deveria fazer. — Relaxe — disse Mac, com voz suave. — Você está tremendo. Não vou machucá-la. — Então deixe-me ir agora.


— Não precisa ter medo, Vera. — Não entendo por que está se esforçando tanto para me assustar. Faz com que acredite que me deixaria aqui sozinha e depois tenta me agarrar. — Foi você quem mandou parar o carro, até ameaçou pular se eu não obedecesse. Não sei lidar com mulheres histéricas, pode perguntar à minha exmulher. — admitiu Mac. — Já foi casado? — indagou, curiosa. — Uma vez. Durou três anos, foi há nove, faz parte do passado. Não fique tão chocada, Vera. A maioria dos homens não atinge trinta e cinco anos sem experimentar ao menos uma vez o casamento. — Por que fala nesse tom sobre casamento? Se não gostou de estar casado por que então... — Já expliquei. Existem quatro boas razões para me casar pela segunda vez. Tai começou a miar mais uma vez. — Deixei que acreditasse que permitiria que fosse embora para que colocasse o gato na cabine. Assim, poderíamos conversar. Não queria que ele a distraísse. — Pobre Tai — comentou Vera, já sem medo, mas ainda sentindo a pulsação acelerar a cada instante. Ao sentir Mac beijar-lhe a mão, arrepiou-se. O gesto era provocador e sensual. — Não acha que precisamos conversar antes de continuarmos? — Acho — murmurou, tentando disfarçar a respiração acelerada. — Sinto muito mesmo por todo o gasto e pela inconveniente situação. — Esqueça — ordenou Mac. — Vamos parar com isso, Vera. Sei que toda a situação é pouco ortodoxa. Um casamento sob encomenda... — Casamento sob encomenda — repetiu ela. — É isso o que devo ser? — indagou com um sorriso irônico. — Sei que parece ridículo. Também achei a idéia absurda quando o reverendo sugeriu, mas aos poucos percebi que a fórmula era muito boa. E agora que a conheci, ficou ainda melhor. — Por favor — pediu Vera, passando a mão nos cabelos. — Não tem


cabimento pensar que estou tão desesperada por um homem a ponto de vir até Montana casar-me com um estranho que pagou por minha passagem. Não piore as coisas fingindo que sente atração por mim. — Quem disse que estou fingindo? Sinto-me atraído por você. — Está brincando comigo, dizendo coisas que acha que eu gostaria de ouvir — afirmou, deprimida. Ficou muito satisfeita com a declaração, mas não conseguia acreditar em uma só palavra. Respirou fundo antes de continuar: — Deve me achar uma mulher tola, para acreditar... — Já falei sobre o que sinto. E você? Acho que também sente-se atraída por mim. Apesar de ter um pouco de medo também. Mac passou os braços pela cintura de Vera e a trouxe até seu colo. — Vamos acabar com esse medo e aumentar a atração. — Não, Mac — protestou Vera. — Vamos transformar "não, Mac" em "oh, Mac" disse, segurando-a com determinação. Vera não sabia o que fazer. Sentir aquele corpo musculoso e viril junto ao seu a perturbava. — Eu disse que me interessei por você — afirmou, olhando nos olhos de Vera, aproximando-se para beijá-la. — Sei que não sou do tipo que inspira tanta cobiça e... — Não é? — perguntou Mac, passando a língua ao redor dos lábios dela. — Não há mais ninguém aqui além de você, meu bem. Sabe o que isso significa, não sabe? — Talvez que você esteja há muito tempo longe de uma mulher — falou, tentando se livrar dos braços de Mac. — Está se subestimando — afirmou, com voz rouca. — É você quem está me provocando, quem está me deixando excitado. Você, Vera. As longas mãos, em movimentos suaves, deslizaram até seus seios. Não havia nada de assustador no toque daquele estranho. Era gentil e delicado ao percorrer e


aprender as formas do corpo feminino. A respiração de Vera ficava cada vez mais ofegante. Mac a estava seduzindo, e ela sabia disso. Sempre se relacionara com homens tímidos e reservados. Era a primeira vez que experimentava o prazer de viver as investidas de um homem sensual e atraente. Nunca fora colocada no colo, nem sentira um corpo tão musculoso, nem mãos tão habilidosas. Era inútil tentar livrar-se de Mac, não conseguia conter seu desejo. Ele começou a beijar-lhe o rosto e desceu até a altura do pescoço. — Sua pele é tão suave, bonita. Quero ver mais, poder senti-la e tocá-la — declarou, já fazendo carícias sob a blusa de Vera. — Não, Mac — disse Vera, afastando as mãos dele. — Estou indo depressa demais? — Sim, afinal acabamos de nos conhecer — afirmou, mas ainda sem força de vontade suficiente para sair do colo de Mac e voltar para seu lugar. — É verdade, mas não precisamos perder tempo com todas as formalidades tradicionais — retrucou, acariciando-a. — Essa é uma das vantagens do plano: deixamos de lado todas as etapas de um relacionamento normal, já sabemos que nos casaremos, não há necessidade de ficarmos perdendo tempo com besteiras. Mac segurou com delicadeza a cabeça de Vera e puxou-a para mais perto. Ao sentirem o calor da respiração um do outro, beijaram-se sem nenhuma hesitação. Enquanto uma das mãos acariciava os cabelos de Vera, a outra deslizava por todo o seu corpo. Embriagada de prazer, não conseguia conter tanto desejo e deixava que Mac a conduzisse por um caminho de excitação totalmente novo e desconhecido. De repente, o telefone tocou, interrompendo toda a sensualidade do momento. — Droga! — resmungou Mac, afastando o rosto, mas ainda abraçando-a. — Essa é a desvantagem de se ter telefone no carro. Antes, ninguém interrompia esses encontros mais íntimos. O telefone tocou de novo e Mac atendeu. Tai, que tinha ficado quieto, começou a miar de novo. Vera voltou para seu banco, sentindo-se frustrada, privada de tanto prazer.


— Sim, aqui é o tio Mac, Anne. Não, não é um ladrão fingindo ser seu tio, sou eu mesmo. Não tem importância ter me telefonado, é por isso que deixo o número perto do telefone. Vera estava confusa. Como ele podia estar agindo com tanta naturalidade, como se nada tivesse acontecido? Talvez estivesse acostumado a abordar mulheres nos acostamentos daquelas estradas e mantinha tudo sob o mais absoluto controle. — Ela o quê?! — gritou Mac, assustado. — Anne, chame Webb ao telefone. Ele o quê? Meu Deus! Vera ficou ali olhando Mac, que estava muito agitado. — Anne, vamos fazer um trato. Se você e Clay ficarem quietos na frente da televisão até eu chegar, comprarei o brinquedo que escolherem do catálogo de Natal. Mas lembre-se, para que o acordo aconteça, vocês não podem sair do sofá, nem brigarem, certo? Mac colocou o telefone no lugar, ligou o carro e saiu em alta velocidade. Estava sério e pensativo. Não havia sinal do homem sensual e sedutor de alguns instantes atrás. Vera cruzou os dedos, nervosa. Não conseguia manter seu equilíbrio mental, muitas coisas estavam acontecendo rápido demais. O silêncio do carro a fazia ainda mais inquieta, deixando que vários pensamentos e hipóteses sobre Mac surgissem a esmo. Resolveu conversar para tentar entender o que estava acontecendo. — Presumo que haja algo errado na fazenda. São as crianças? — Alguma coisa está sempre acontecendo com elas. Anne ligou para avisar que o xerife encontrou Lily em um bar, na saída de Bear Creek, um lugar chamado Rustler. O pessoal de lá gosta de jogar, beber e brigar bastante. — E mulheres são bem-vindas? — Algumas vão até lá, mas as que estão à procura de confusão ou coisa parecida. — Entendo. — Não é lugar para uma menina de dezessete anos — informou Mac, sorrindo. — Meu capataz foi até lá para trazer Lily, e isso quer dizer que Clay e Anne estão


sozinhos. — Por isso seu suborno. — Não aprova subornos com crianças? — indagou, curioso. — Bem eu... — Não posso arriscar com teorias que não funcionam a longa distância. Tenho que usar o que sei que funciona, e prometer balas ou brinquedos tem dado bons resultados. É o único método que tenho em mãos no momento. — Se age assim com os menores, o que promete para os mais velhos? — Nada. Ninguém pode comprá-los. Brick e Lily fazem só o que querem. Às vezes acho que é tarde para tentar educá-los, parece que serão mesmo delinqüentes. Eles sempre foram umas pestes, seus pais os consideravam espíritos livres e não acreditavam em métodos que limitassem a criatividade e curiosidade infantil. Não havia regras a serem seguidas. Minha cunhada, Linda, era muito liberal, e meu irmão ao casar-se foi muito influenciado. Criaram os filhos em completa liberdade. — Acho que crianças precisam de limites — murmurou Vera. — Muita liberdade é prejudicial. Existem algumas barreiras que servem para dar segurança a elas. — Concordo com você — sorriu, satisfeito. — Acho que formaremos um bom time. Gostaria de agradecer-lhe por estar aqui, estou muito grato por você estar querendo... Estaria Mac tão grato a ponto de fingir uma atração física só para tê-la sob seu domínio? Vera estava confusa. — Não quero agradecimento — interrompeu, cruzando as pernas para que Mac tirasse as mãos de suas coxas. — Ainda não concordei com nada. Mac percebeu que não deveria insistir. Tentou compreendê-la, queria saber mais sobre seus sentimentos. Decidiu ter mais paciência, daria a Vera o tempo que ela precisasse. Decidiu conversar sobre um assunto mais neutro. — Fale sobre seu trabalho. O reverendo disse que trabalha no departamento de... — Trabalho com estatística no Departamento de Comércio — informou Vera,


sem se preocupar em dizer que tirara uma semana das férias a que ainda tinha direito, pois dentro de trinta dias estaria desempregada. O reverendo também ignorava o fato de Vera ter perdido o emprego, e foi muito bom não ter contado a ninguém. Todos pensariam que estava indo para Montana para "empregar-se" como mulher de um fazendeiro. — Estatística? Deve lidar bem com números. — Sempre fui muito boa em matemática — confessou, relutante. — Ótimo! — exclamou Mac. — Pode me ajudar com os impostos. Para mim essa parte é um pesadelo. Há também a questão do seguro e mais outras dores de cabeça que terei prazer em transferir para você. Ficará encarregada de toda a parte financeira da fazenda. — Eu... — Lá vem você mais uma vez. Eu quis dizer, se você aceitar ficar, me ajudará com esses encargos — corrigiu Mac, tentando ser mais gentil. Vera olhou para ele, que tentava parecer inocente e inofensivo. — Vou tirar Tai da cabine — anunciou Vera ao ouvir os miados do gato. — Boa idéia — concordou, amável. Mac sorria enquanto dirigia, perdido em pensamentos. Pelo preço de uma passagem de primeira classe, conseguira uma mulher desejável e atraente, uma pessoa para cuidar das crianças e uma especialista em matemática. Um ótimo retorno pelo investimento inicial. — Bonito gato — elogiou Mac, tentando acariciá-lo. — Ele não gosta de estranhos — explicou Vera quando o animal tentou mordêlo. — Não tem problema. Terá muito tempo para me conhecer melhor. Mac pensou em segurar as mãos de Vera. Seria bem romântico, mas, diante da presença de Tai, resolveu manter as suas sobre a direção. — Já contei que a filha mais velha do reverendo, Trícia, é alérgica a gatos? Sei, porque uma vez o pai deu-lhe um no aniversário e tiveram que levá-la às pressas ao hospital. O animal acabou indo para outra casa e sendo substituído por um


passarinho. — Está inventando — acusou Vera. — Por que faria isso? Estou só dando algumas informações necessárias. — Está dizendo que Tai não poderá ficar na casa de meu tio, comigo? — Isso com certeza — assegurou Mac. "E se for mesmo verdade?", pensou Vera. Não perguntou ao reverendo se poderia trazer o gato, mas ele sabia da existência de Tai. — Mas quero dizer-lhe que Tai é muito bem-vindo na fazenda, e, se resolver ficar na cidade com seu tio Will, ele poderá ficar conosco. Porém, sendo um gato sensível, poderá vir a ter traumas irreparáveis, caso seja abandonado com estranhos. — Quer me convencer que se importa com ele! Quer me persuadir a... — Sim — interrompeu Mac, satisfeito. — É isso mesmo, quero que fique comigo. Durante o resto da viagem, ele falou sobre o lugar, a história da cidade e de sua família. — A fazenda foi de meu bisavô. Vem passando de pai para filho desde então. Mas meu pai teve três filhos: Reid, James e eu, aí houve um problema. Com quem ficaria a fazenda? Ficou comigo porque sempre adorei o lugar. Reid foi para o sul da Califórnia, e James preferiu o mundo acadêmico. Meu pai me deu a fazenda há dez anos, após a morte de minha mãe. Agora ele mora em Scottsdale, no Arizona, em um condomínio fechado, com pessoas da idade dele. Vera ouvia atenta. — Ficou com a fazenda e seus irmãos não herdaram nada? — Reid não se importou, Linda era muito rica, mas James não gostou. Achava que deveria ter recebido o equivalente em dinheiro, mas meu pai se negou a considerar a hipótese. Disse a James que pagara por sua educação, que ele ganhava bem como professor de faculdade e que a fazenda ficaria para o filho que se dedicasse a ela e morasse nela. — James ainda se sente prejudicado? — É claro. Passa o tempo colecionando injustiças contra si. Os filhos de Reid


ainda aumentaram o número delas. Não conte com ele e a mulher para o nosso casamento. — Acho injusto que só os homens pudessem herdar as terras. Isso é medieval. — Minhas tias não gostaram mesmo, nem seus maridos. Mas faz parte da tradição e... — Isso é uma estupidez — interrompeu Vera —, e se eu tiver uma filha... — Espero que tenhamos — completou Mac. — Além de um herdeiro, é claro. — Se eu tivesse um casal, os dois dividiriam a herança em partes iguais. Jamais permitiria o contrário. Vera sentiu-se ridícula discutindo os possíveis filhos que teriam, se ficassem juntos. — Estamos sonhando demais. Depois que conhecer os filhos de Reid, optará pela esterilização. — Eles não podem ser tão maus como você os descreve — insistiu Vera, querendo contrariá-lo em qualquer assunto. — Está certa, eles são ainda piores — afirmou Mac, ao sair da estrada de asfalto e entrar por um caminho de terra. — A casa fica a alguns quilômetros. Prepare-se para a aventura.

CAPÍTULO TRES Os faróis do carro iluminaram a casa. Vera viu grandes árvores na lateral que protegiam a residência dos ventos de inverno. Todas as luzes estavam acesas, inclusive a da varanda. — Lar, doce lar — disse Mac, ao parar a caminhonete. — Posso até ouvir os gritos de boas-vindas. Mac estava exagerando, não havia nenhum ruído vindo de dentro da casa. Vera sentiu-se indefesa e confusa. Estava em lugar desconhecido, com uma pessoa


estranha, e agora iria enfrentar um grupo de crianças malcriadas ao lado de um homem que queria casar-se para obter ajuda. Virou-se para Mac, desesperada, não conseguiria passar a noite na casa dele. — Mac, não posso fazer isso. Por favor, leve-me para a casa de tio Will. Sem saber o que fazer diante daquele rosto exausto, com os olhos cheios de lágrimas e lábios trêmulos, Mac pegou as mãos de Vera. — Estou me sentindo um crápula, amedrontá-la e fazê-la chorar é uma injustiça. — Não estou chorando — protestou, afastando-se. Mac segurou forte a mão de Vera para acalmá-la. — Você tem sido maravilhosa. É uma mulher de coragem, considerando o que aconteceu. Fui cruel com você. — Não foi sua culpa. Tio Will deveria ter me contado toda a história desde o começo. Teríamos evitado todo esse... — Mal-entendido — completou Mac, sorrindo. Vera correspondeu ao sorriso, deixando-o deslumbrado diante de tanta beleza. — Eu a levarei para a casa do reverendo, mas primeiro preciso ver as crianças e saber se Webb já voltou com Lily, isso se ela não o matou pelo caminho. Vem comigo para a inspeção? Vera respirou aliviada, não seria forçada a ficar. Mac viu nos olhos dela a confiança depositada em sua promessa, mas não pretendia levá-la a lugar algum. Sentiu-se mal por ter que traí-la e não sabia que desculpa daria para não sair de casa. — Obrigada, Mac — agradeceu Vera, satisfeita. — E não se preocupe tanto, estou certa de que as crianças estão bem. Enquanto isso, vou ligar para meu tio e dizer-lhe onde estou e que logo estarei lá. — Boa idéia. Ligue para o reverendo — concordou Mac, saindo do carro para abrir a porta para ela. Ofereceu a mão para ajudá-la a descer. — Bem vinda à R.R., Vera — disse, sorrindo. As pernas de Vera estremeceram, estava embriagada com o olhar de Mac. — Devemos levar o gato para dentro? — perguntou ele, querendo mostrar-se


preocupado. — Sim, talvez seja melhor levá-lo. Alguns minutos aqui no carro sozinho podem deixá-lo irritado. — Foi o que pensei. O casal entrou pela varanda segurando a cabine de Tai, que miava sem cessar. A porta estava aberta. O chão de madeira fazia com que os passos fossem ouvidos com clareza. Mac dirigiu-se à sala de estar onde duas crianças assistiam à televisão. Nenhuma delas desviou o olhar quando Vera e Mac entraram. Nem mesmo os miados de Tai atraíram a atenção deles. — Esses são Clay e Anne — murmurou Mac. — Adoram ver televisão. Cheguei a comprar uma antena parabólica quando eles se mudaram para cá. Assim, sempre há algo para assistirem. Gostam desde novelas mexicanas até jogos australianos. Uma antena para mantê-los ocupados? Apesar de não ser nenhuma especialista em educação infantil, Vera sabia que aquele procedimento não era correto. Mas Mac parecia sincero e orgulhoso por conseguir fazer as crianças felizes de alguma maneira. — A que programa eles estarão assistindo? Parece ser bem interessante — perguntou Mac. Ao aproximar-se, Vera viu na tela mulheres sendo perseguidas por maníacos. Era um festival de terror e sangue. — Vampiros vão a faculdade — informou Clay, com os olhos arregalados e fixos na televisão. — Um filme educativo — comentou Mac. — Quando eu for para a universidade, levarei um crucifixo para espantar os vampiros — disse Anne, assustada. — Eles não terão pesadelos? — murmurou Vera. — Este filme é horrível, me deixa arrepiada. — O sangue é artificial, não existem vampiros de verdade — informou Clay, compenetrado.


— Mas às vezes assassinos de verdade fingem ser vampiros e bebem mesmo o sangue das pessoas — comentou Anne, com satisfação. — Desliguem isso e venham conhecer Vera, uma amiga minha. Como nenhuma das crianças fez menção de sair do sofá, Mac atravessou a sala e desligou o aparelho. Os dois rostinhos contrariados viraram-se para Vera. — Cheguei a contar-lhe que Clay está se recuperando de uma catapora. Ficou sem ir à escola por uma semana e é provável que fique em casa por mais alguns dias. — E você precisa de alguém para ficar com ele enquanto trabalha — concluiu Vera, entendendo o drama de Mac e seu desespero para encontrar alguém que o ajudasse. — Não sou um bom enfermeiro — ele admitiu —, e é claro que Clay não é um bom paciente. As coceiras nos deixaram quase loucos, não é Clay? — Foi horrível! — concordou o menino. — Cocei-me o tempo todo, até mesmo quando tio Mac me pagou para não fazer isso. — Você pagou para que ele não se coçasse? — indagou Vera, incrédula. — Nada funcionava, nem pomadas, loções ou ameaças. Tentei explicar que as cicatrizes ficariam para o resto da vida. Então fui obrigado a oferecer dinheiro. — Estou bem rico agora, mas ainda coça às vezes — confessou Clay. — Tem uma gata aqui! — exclamou Anne. — Ela é bem bonita. Qual é o seu nome? — Tai, e é macho. Ele está muito triste por causa da viagem — explicou Vera, pois o gato ainda miava. — Pobrezinho! Não pode soltá-lo? — Não acho que... — Vera começou a falar, mas Anne já havia aberto a cabine, e Tai saiu correndo e desapareceu pela casa. — Ele gostou daqui — disse Clay, satisfeito. — Acho que quer brincar de esconder conosco. — E vou brincar primeiro. Fui eu quem o viu — protestou Anne, saindo correndo atrás do animal. Vera e Mac se olharam.


— Existe algo mais bonito que crianças e animais juntos? — Vampiros perseguidores de animais — brincou Vera, fazendo alusão ao nome do filme na televisão. Mac soltou uma gargalhada, e Vera ficou satisfeita por fazê-lo rir um pouco. As vozes das crianças ecoavam pela casa, mas os miados de Tai cessaram. Ao que parecia, o gato havia se escondido. — Mac! Graças a Deus chegou — disse Webb aliviado. — Conseguiu trazê-la? Onde está Lily? — Amarrei-a na cozinha. — Tio Mac! — gritou uma voz feminina. — Ajude-me! Mac atravessou a sala com passos firmes. Vera e Webb seguiram-no. A cozinha era grande e arejada. Não tinha nada de rústico, era moderna e bem equipada. No canto havia uma mesa grande de madeira com oito cadeiras. Em uma delas, uma adolescente bonita, de cabelos negros e olhos escuros, estava amarrada a ela. Vera ficou assustada, cena igual aquela só vira em filmes de faroeste. A menina deveria ser Lily, a sobrinha mais velha de Mac. Os braços estavam presos com uma corda para trás e cada uma das pernas amarradas em um dos pés da cadeira. Tentava mexer-se, mas era inútil. — O que está acontecendo aqui? — perguntou Mac, olhando para o administrador. — O xerife mandou que a pegasse no Rustler ou a levaria para a cadeia. Deveria ter deixado prendê-la, Lily é sinônimo de confusão. — Amarre-me, Webb — interrompeu Lily, provocando-o. — Webb, você é um homem pervertido. Aposto como queria prender-me em sua cama. A moça vestia calça jeans e um suéter azul. Ao enfrentá-lo, erguia o corpo, deixando os seios em destaque. — Eu gostaria de amordaçá-la! — bradou Webb. — Viram como estou certa? — desafiou Lily, passando a língua pelos lábios. — E o que acha de olhos vendados, Webb?


— Pare com isso — ordenou Mac. Vera, vendo que nenhum dos dois homens pretendia desamarrá-la, foi em seu auxílio. Como tinha sido escoteira, desfez os nós com certa habilidade. — Obrigada — agradeceu Lily. — Seja lá quem for. — Sou Vera Kirby, uma amiga do reverendo Will Franklin. — Errou o caminho, então. Este manicômio é longe da casa dos bons Franklin. — Você é realmente boa nisso. Em geral, ninguém consegue desatar meus nós, só eu mesmo — elogiou Webb, surpreso. — Sou Webb Asher, srta. Kirby. Prazer em conhecê-la. — Qualquer amigo do reverendo também é amigo seu, não é Webb? — comentou Lily livrando-se das cordas e correndo em direção do administrador da fazenda com a mão fechada. Ao perceber as intenções de Lily, Webb agarrou sua mão ainda no ar. — Terá que ser bem mais rápida se quiser me atingir, menininha — avisou Webb, prendendo os braços dela. — Lily, não pode andar por aí agredindo as pessoas! — exclamou Mac nervoso. — Nem mesmo depois de ter sido amarrada em uma cadeira? Mande-o me soltar, tio Mac. — Se você prometer não provocá-lo novamente. Lily parou de debater-se e começou a abraçar Webb Asher. — Pensando melhor, devo ficar onde estou. Gosto de sentir o calor de um homem forte bem junto ao meu corpo. Nesse momento, Webb empurrou-a para longe. Lily foi de encontro a Vera, que percebeu que a garota tinha toda a situação sob controle, estava manipulando os dois homens à sua frente. — Quero ficar longe dessa aprendiz de feiticeira — afirmou Webb, furioso, ao sair da cozinha. — Lily! Só falta fazer meu administrador pedir demissão! — exclamou Mac, indo atrás de Webb.


— Que posso fazer? Estou louca por esse homem — declarou Lily, virando-se para Vera. — Está brincando, não está? — indagou, incerta. — Você está mesmo apaixonada por Webb Asher? — Apaixonada? Que palavra mais antiga — comentou Lily, achando graça. — Sinto-me atraída por aquele corpo musculoso. Precisa vê-lo sem camisa! É tão forte, pode pegar-me com um braço só. — Mas ele é muito mais velho que você — protestou Vera. — Imagine. Ele só tem trinta e quatro anos. — O dobro de sua idade. — Que rapidez! Parece uma calculadora humana. Mas quem se importa com a idade de um homem desses? É claro que, sendo amiga dos Franklin, acha que devo namorar um dos rapazes bobos da escola. — Seu tio Mac sabe o que sente por Webb? — perguntou, curiosa. — Sim, é claro. Nós conversamos muito sobre meus amores e a falta deles para meu tio. — Ele não tem namoradas? — indagou Vera, constrangida por estar pedindo informações a uma adolescente. — Nenhuma. Por que não fica com ele? O pobre não faz amor desde que meus irmãos e eu chegamos. — Não? O coração de Vera disparou., Agora compreendia o que acontecera na estrada. Mac estava desesperado, era só um forte desejo de satisfazer suas necessidades sexuais, e não uma forte atração por ela. — Não mesmo. Pelo que sei, tio Mac era o homem mais cobiçado de Bear Creek, tinha várias namoradas e todas se derretiam por ele. Aí, nós quatro chegamos, e os dias de festa e alegria de meu tio acabaram. Tornou-se um homem de família, responsável, e as mulheres da cidade não gostaram da idéia, ou melhor, não gostaram de nós. — E ele tem muitas amigas aqui em Bear Creek?


— Bastante, e, segundo o que dizem, já namorou todas elas, mas desde junho... coitado. Vera lembrou-se mais uma vez do que acontecera na estrada e acreditou na história de Lily. — Por que está fazendo tantas perguntas sobre tio Mac? Está interessada nele? Mac entrou na sala. — Pare de incomodar Vera, Lily. — Ela só está falando sobre alguns moradores de Bear Creek — explicou Vera. — É, e ainda não falei sobre os amigos dela, os Franklin. Tenho muito a contar sobre eles. Ginny sorri o tempo todo, mesmo não querendo; Trícia finge ser amiga de todos, mas não espera ninguém se afastar muito para começar a falar mal das pessoas. — Já chega, Lily — advertiu Mac. — Tenho certeza de que Vera não quer ouvi-la falar mal dos amigos e, além do mais, eu gosto de Ginny e Trícia. — Isso não vale, você gosta de tantas coisas estranhas: assistir a jogos de golfe na televisão, a comida da sra. Lattimore... É claro que gosta de Ginny e Trícia Franklin. Clay e Anne entraram na cozinha. — Não conseguimos encontrar o gato. Acho que algum ser de outro planeta o seqüestrou. — Que gato? — indagou Lily. — Mais uma das suas fantasias, Anne? — Não, é um gato de verdade. Ela o trouxe — afirmou Clay, apontando para Vera. — Anne e eu queremos brincar com ele. Mande-o vir brincar conosco. — Não pode dar ordens aos gatos — explicou Mac. — Talvez se vocês ficarem mais quietos e pararem de correr atrás dele, decida aparecer. Não conseguirão ser amigos de Tai se o perseguirem como dois malucos. Sentem-se no sofá e fiquem assistindo à televisão. As crianças saíram da cozinha empurrando um ao outro. — E não quero saber de filmes de vampiros. Por que não vêem A pequena sereia ou A bela e a fera! — sugeriu Mac. Anne e Clay saíram reclamando, pois achavam esses filmes muito sem graça.


— Bem, já conheceu três. Agora falta só Brick. Lily, onde está seu irmão? — Como posso saber? Ele vai aonde quer e não avisa ninguém — respondeu Lily. — E você, Vera, vai mesmo visitar os Franklin? — Bem, acho que sim, mas devo ligar para lá e... — Isso é ótimo! — gritou Lily, eufórica. — Parece tão inofensiva e doce e é uma verdadeira bruxa. O tom que Lily usou deixava claro que aquilo era um elogio. — Não compreendo — respondeu Vera, confusa. — Seu plano é perfeito. Até Ginny acreditaria em seu jeito de falar. Levar um gato para visitar os Franklin! É fantástico, colocaria Trícia no hospital em poucos minutos. Que idéia! Adorei, Vera! — Você também sabe da alergia de Trícia, Lily? — perguntou Mac. — Todos que conhecem os Franklin sabem que Trícia quase morreu quando ganhou um gato. Acho que deve ter sido o único momento excitante na vida daquela sonsa, ela só sabe falar sobre isso quando é apresentada a alguém. Vera acreditara que Mac estava inventando a história da alergia para mantê-la na fazenda, mas agora tinha certeza de que ele falara a verdade. O que faria? Não seria bem-vinda na casa de seu tio com Tai. — Honestamente, não sabia da alergia de Trícia a gatos. O que farei com Tai? — Deixe-o no quarto de Trícia. Esfregue-o no travesseiro dela — sugeriu Lily. — Sabe que pode deixá-lo aqui — disse Mac. — Anne e Clay vão adorar. Vera respirou fundo. Não poderia deixar o pobre animal correndo de um lado para o outro procurando um lugar para se esconder. — Gostaria de falar com tio Will — disse Vera, amável. — É claro, o telefone está ali — respondeu Mac, mostrando o aparelho. — Tio Will? — indagou Lily. — O reverendo é tio dela? — Explico depois. Vamos deixá-la só — afirmou Mac, levando a sobrinha para fora da cozinha. — Tio, aqui é Vera. — Vera! Já está pronta para a viagem? Amanhã é o grande dia. Não posso


esperar para vê-la. Estarei no portão de desembarque à sua espera. Poderemos jantar no aeroporto antes de vir para Bear Creek. — Eu já estou aqui. Cheguei hoje — informou, confusa. — O quê? Chegou hoje? Como pode ser? Está aqui, marcado na minha agenda, você deveria chegar amanhã. — Quem disse? Foi Mac Wilde? — suspeitou Vera. — Sim — confirmou o reverendo. — Isso explica tudo, não é? Os pedaços da história estavam se encaixando. Mac comprara a passagem e dera ao amigo a data errada de sua chegada. — Quando iria me contar sobre Mac e o casamento, tio Will? — Já o conheceu? Ele contou-lhe tudo? — perguntou o reverendo, meio sem jeito. — Tudo — confirmou Vera. — Casamento?! — exclamou Lily do outro lado da porta da cozinha. Mac e a sobrinha estavam no corredor, ouvindo. Às vezes Mac puxava Lily sem muita determinação para sair, porém também queria saber o que iria acontecer. — Tio Mac, você vai se casar? — Não gostou da idéia, não é? Já sei que vai fazer o impossível para estragar tudo — comentou Mac. — Acho uma ótima idéia se casar. Anne e Clay precisam de uma mãe, e você também parece precisar bastante de uma mulher... — Fique quieta! — ordenou Mac, enérgico. — E saia daí, não deveria ficar espionando Vera. — Tudo bem. Deixarei que faça isso sozinho. Boa sorte com ela, estou certa de que precisará. Pelo que ouvi, Vera não se entusiasmou muito pela união — concluiu, ao ir para a sala. Lily estava certa, tudo o que dissera era verdade. Mac continuou parado perto da porta, tentando saber o que estava sendo dito.


— Por que não me contou, tio Will? Deixou-me acreditar que tinha comprado as passagens e queria que o visitasse. — De fato, minha querida. Estava com muita saudade, faz muito tempo que não nos vemos. Por isso pensei em você, como mulher de Mac. Pareceu-me a solução perfeita para todos nós. Mac precisava se casar, e você parecia tão solitária naquela cidade grande. Sei que sempre quis ter uma família, e aqui tinha uma para você. Vera suspirou. Era verdade que se sentia muito solitária em Washington, mas nunca comentara nada com seu tio. Será que era tão evidente sua infelicidade? — Minha filha, se você se casar com Mac, viverá na fazenda R.R., perto de Bear Creek — continuou o reverendo. — Posso voltar a fazer parte de sua vida, ver seus filhos crescerem e ficar ao seu lado. Sei que deveria ter contado toda a verdade, mas pelo telefone pareceu-me muito estranho. Pessoalmente seria melhor, então esperei até que chegasse. Conhecendo Mac, poderiam namorar, e tudo pareceria natural. — E eu não saberia que tudo fora arranjado. Pensaria que estava me casando por amor. — Vera ficou desiludida com a explicação do reverendo. Sentiu-se traída. Pelo menos Mac fora mais honesto. — Mac não concordaria com a farsa, ele deixou bem claro a razão por que deve se casar. Quer um retorno imediato para seu investimento. Não quis me enganar em momento algum e pensou que eu já estivesse a par do plano todo. Mac abriu a porta da cozinha, assustando Vera, que não esperava pela interrupção. — Deixe-me falar com o reverendo, agora — ordenou Mac, exaltado. Vera percebeu que Mac não seria nada gentil. Ela não queria provocar brigas ou discussões; sempre, durante toda sua vida evitara problemas. Engoliu em seco e encarou Mac. Não poderia deixar que o homem que amava como pai brigasse com o outro que encomendou uma mulher, comprou uma passagem pensando ter comprado uma noiva, mas que também a havia beijado e feito com que se sentisse desejada e atraente, e que tomara a custódia de quatro crianças órfãs. Vera já sabia que Mac era uma boa pessoa, porém impulsivo e agressivo e que,


às vezes, atos impensados podem trazer futuros arrependimentos. — Deve acalmar-se antes de falar com ele, Mac — aconselhou, impedindo que pegasse o telefone. — Pode arrepender-se do que disser agora. — É muito gentil de sua parte se preocupar comigo e com o reverendo, protegendo-nos de nós mesmos — murmurou Mac, mais calmo, aproximando-se mais de Vera. Ao sentir o calor do corpo másculo junto ao seu, Vera afastou-se, com medo de não resistir. Mac achou graça. Seu sorriso, carregado de sensualidade, fez com que ela se distraísse e deixasse o telefone cair no chão. — Mac — disse, tentando afastá-lo com as mãos colocadas no peito dele. Sentiu o contorno do peito musculoso e viril sob seus dedos e lembrou-se do que Lily dissera a respeito das namoradas do tio. — Vera... — sussurrou Mac, passando os braços pela cintura dela. A atração que sentia era irresistível, mas, ao ouvir a voz do pastor chamando ao telefone, pegou o aparelho. — Ignore-o. Talvez assim ele desista. — Tio Will — respondeu Vera, tentando fugir do controle de Mac. — Diga-lhe que ficará aqui esta noite. — Tio, é verdade que Trícia é alérgica a gatos? — Não tinha lhe dito? É muito alérgica. Chegou a ser internada no hospital. Will Franklin contou toda a história. Vera tentou disfarçar o desapontamento. — Precisava ouvir tudo para verificar se estávamos dizendo a verdade, não é? E agora, o que vai fazer? — indagou Mac, se divertindo diante da situação. — Achamos o gato — declarou Clay, ao entrar correndo pela cozinha. — Está em cima da lareira do quarto de tio Mac. — Estão deixando o pobre assustado — afirmou o tio. — Tio Will, preciso desligar agora — avisou, apressada. — Vou passar esta noite aqui. Falo com você amanhã. Vera desligou o telefone e saiu correndo atrás de Mac e das crianças. No quarto havia uma cama grande de casal, dois criados-mudos, uma lareira de


pedras igual à da sala e janelões de onde podiam-se avistar as árvores laterais da casa. — Em todos os lugares vocês têm animais empalhados? — indagou Vera, referindo-se à cabeça de carneiro que enfeitava a parte superior da lareira. — No meu tem um ganso selvagem. — E no meu, um urso horrível. Tive tanto medo que o tio Mac o cobriu com um lençol — comentou o pequeno Clay. Vera pensou que talvez ficasse melhor se todos os animais fossem cobertos. Inclusive o da sala. — Meu avô era um caçador inveterado e deixou muitos presentes para as futuras gerações dos Wilde. — Ali está o gato, nos chifres do carneiro — apontou Clay, que subiu na cama e começou a pular na tentativa de pegá-lo. — Posso fazê-lo descer com um pouco de comida — sugeriu Vera. — Ele deve estar com fome, pois não comeu nada durante todo o dia. Tem um pouco de sua comida favorita na minha mala. Porém, preciso ficar a sós com ele. Tai é muito tímido na frente de estranhos. — Eu também — anunciou Clay. — Estranhos são perigosos — disse Anne, compenetrada. — Tenho medo deles. — Pare, Anne — avisou Mac. — Sabe que estou aqui para protegê-la e não deixarei que nada aconteça a vocês. Venham, vamos deixar Vera com o gato. Trarei a mala em seguida. Pode ficar aqui o tempo que precisar. Depois de alguns minutos, Mac entregou a mala e saiu do quarto, segurando uma criança em cada braço. Era estranho ficar sozinha naquele lugar. Vera colocou a comida em uma tigela e deixou-a no chão para atrair Tai. No quarto não havia retratos ou enfeites que pudessem ter algum significado para Mac. A decoração era comum, sem um traço particular. Ao olhar para a cama, imaginou-o deitado, com e sem pijamas. Assustou-se com seus pensamentos. Não compreendia o que estava acontecendo com ela, nunca desejara um homem dessa


forma. Sentou-se na cama e ficou a pensar no que deveria fazer. A cada momento que cogitava partir da fazenda, cenas eróticas com Mac a fazia mudar os planos. Estava exausta e não conseguia raciocinar direito. — Vejo que Tai resolveu descer para jantar. A voz suave de Mac não distraiu o gato, que continuou comendo. Em pé, na porta do quarto, ele a olhava com intensidade. — Os três já foram dormir. Lily confessou que Brick está na casa de um amigo — suspirou Mac. — A turma de Brick é muito conhecida na cidade por suas aventuras. Outro dia, tiraram fotos das meninas no vestiário da escola. Foi um escândalo. — Tem muito trabalho com as crianças. Trazê-los para morar com você deve ter mudado completamente a sua vida. Admiro ter assumido a responsabilidade de educar seus sobrinhos. A maioria dos homens não faria isso. — Não pense que sou um santo, Vera. Posso assegurar-lhe que sou normal, apenas um homem — afirmou, aproximando-se de Vera. — Segundo Lily, não tem uma "vida normal" desde que eles chegaram e, tendo tido sempre muitas mulheres ao seu redor, deve estar estranhando... — Não acredite em tudo o que dizem, em especial quando for Lily a fonte de informação. — É claro que diria isso. Não achei que fosse confessar ser um... — Conquistador? — indagou Mac, provocando-a com o olhar. — Tenho até um caderninho onde anoto o nome de cada mulher com quem já me relacionei. Está ali no criado-mudo, você não viu? Vera, tentando disfarçar, olhou para o lado da cama. — Ah! Acreditou, não é? — disse Mac, divertindo-se com a cena. — Não existe caderninho nenhum! — exclamou, achando graça, percebendo que ele estava brincando com ela. — Então, quer dizer que... Mac passou os braços pela cintura de Vera e puxou-a.


— Quer dizer que está tentando mudar de assunto. Ainda estou muito confusa e nem sei ao certo do que estamos falando. — Estamos falando sobre o passado, que é irrelevante — afirmou Mac, passando os lábios pelo pescoço de Vera. — O que importa agora é o presente e o futuro que teremos juntos. Vera sentiu seu corpo estremecer. Mac tentava seduzi-la mais uma vez com sua voz sensual e forte, suas mãos grandes e habilidosas e todo o calor de seu corpo. — Esqueça as bobagens que ouviu sobre outras mulheres, Vera — pediu, pegando-a no colo. — Você será minha mulher. Mac carregou-a e sentou-se na cama. Vera relaxou e abraçou-o, deixando-se envolver. — Você é tão sexy, tão bonita. Quero muito ficar com você.

CAPÍTULO QUATRO Vera ficou estática. — O que há de errado, meu bem? — indagou Mac, sem entender o que acontecia. Ela levantou-se rapidamente e foi em direção a Tai. Mac, assustado, pensou que talvez Vera estivesse constrangida em fazer amor na frente do gato. — Devemos colocá-lo em outro quarto? — perguntou, gentil. — O gato pode ficar aqui, se ele quiser, mas eu vou para outro quarto — anunciou Vera, andando firme em direção à porta. Mac levantou-se e a seguiu. — Pode ao menos me explicar o que a fez mudar de idéia tão rápido? Vera parou na porta e virou-se. — Disse que sou sexy e bonita. — E isso a ofendeu? — indagou, ainda mais confuso.


— Sim, porque foi uma mentira óbvia demais. — Mentira? — Deve dizer isso para todas as mulheres que leva para a cama. É insultante fazer comigo o que faz com elas. — Não é verdade! — protestou Mac, indignado, mas sem muita certeza do que na realidade dizia quando estava com uma mulher na cama. Vera continuou andando pelo corredor sem saber direito para onde ir. Como chegaria até a cidade, e se chegasse, não teria lugar para ficar com Tai. Mac alcançou-a e puxou-a pelo ombro com determinação. — Você deve estar com fome, pois eu estou faminto — disse, antes que ela pudesse pensar em algo para falar. — Não jantamos no aeroporto porque... — Porque estava com pressa para ver as crianças — lembrou Vera, sentindo as mãos fortes e delicadas segurando-a. Ficou corada diante de seus pensamentos. — Além do mais, estava tão certo de que eu havia vindo para cá só para casarme que esqueceu das coisas elementares, como restaurantes ou qualquer outro ato que lembre um namoro, um conhecimento prévio. — Está me colocando no devido lugar — concluiu Mac. — Suponho que fui depressa demais, você está certa. Agora vou providenciar algo para comermos. A sra. Lattimore deixou... — Sra. Lattimore? A comida dela é horrível, segundo Lily. — Ela exagerou. Vamos, nós dois podemos preparar algo que valha a pena. Segurou-a pelo braço e a conduziu até a cozinha. Vera consentiu, pois estava de fato com fome e não conseguia fugir dele. Sentou-se à mesa enquanto ele esquentava alguns pratos no microondas. — Por que não disse ao reverendo o dia certo em que eu chegaria? — perguntou Vera ao olhar para o telefone em cima da mesa. — Achei melhor não dividi-la com ninguém. Quis que suas primeiras horas em Montana fossem ao meu lado. — Mais um de seus chavões? Quero saber a razão real.


— Bem, devo admitir que estava com receio de conhecer minha futura mulher na frente dele. E se antipatizássemos um com o outro e mesmo assim ele quisesse continuar com a missão de cupido? Por outro lado, se a atração fosse imediata, não queria que ele interferisse. Vera hesitou em perguntar qual tinha sido sua primeira impressão. Apesar de não considerar a reação de Mac negativa, não se achava capaz de atrair um homem como ele. Parecia estar resignado diante de seu destino, mas jamais admitiria para ela a verdade. — Estive pensando sobre tudo — ele declarou, colocando os talheres na mesa. — Não sou muito original com elogios, mas, quando os faço, digo o que realmente penso. Não engano ninguém. — Então quando diz a uma mulher que ela é sexy e bonita, a considera como tal de verdade? — É claro. Por que faria amor com alguém que não me atrai? — É o que me pergunto. — Desculpe se a ofendi. — Sua intenção era me levar para a cama porque sou sexy e bonita — afirmou Vera com ironia e deboche. — Não sei por que acha tão difícil acreditar no que digo. Lembra-se de hoje à tarde no carro... — Não quero falar sobre aquilo — interrompeu, constrangida. Mac abriu a geladeira e retirou duas latas de cerveja e colocou-as na frente de Vera. — Não conheço essa marca. — É a bebida favorita dos adultos da fazenda. Precisará dela para engolir a comida da sra. Lattimore — brincou Mac. — Prefiro água, se não se incomodar. — De forma alguma. Gelada? — Sim, por favor. Após terminarem de jantar, levantaram-se e colocaram os pratos na pia da


cozinha. — Colocarei suas malas no quarto de hóspedes. É claro que o convite para dormir no meu quarto continua de pé. — Tai e eu ficaremos no de hóspedes, obrigada. Se tiver uma caixa de papelão, arrumarei tudo. Mac saiu para pegar a caixa. Estava certo de que tinha decidido corretamente. Vera ficava mais atraente a cada minuto que passava; era uma mulher com instinto maternal e responsável. — Trouxe a comida e tudo o mais porque não queria incomodar ninguém. Sei que pareço esquisita, mas... — Acho que é conscienciosa — elogiou Mac, observando-a. Vera pegou a areia especial e colocou-a na caixa. Mac ajudou-a com as malas e o gato. Ao conversar, tomava cuidado com os elogios, com medo de provocar mais discussões. O quarto não era grande. Havia uma só cama e um criado-mudo de mogno. Em uma das paredes, a cabeça de um veado empalhado. — Seu avô não poupou nem a mãe do Bâmbi! — Parece que não aprova a idéia de decorar uma casa com troféus de caça. — Nunca pensei sobre o assunto. Mas, diante de tantas cabeças de animais, vejo que a idéia me causa uma certa repulsa. — Quando nos casarmos, poderá redecorar a casa. Substitua os animais por quadros ou o que quiser. Desculpe-me pelo quarto, é frio e pequeno, mas é o único disponível. No quarto das crianças estou certo de que não seria agradável, e você deixou bem claro que não quer dormir no meu. Pode trancar a porta se estiver com medo que eu tente alguma coisa. — Não tenho medo de você — afirmou, segura. — Ainda bem. O meu banheiro é melhor. Pode tomar banho primeiro. — Obrigada. Depois do banho, Vera deitou-se. O colchão era macio, mas ela não conseguia dormir. Estava muito frio e não se esquentava. Colocou meias e enrolou-se na


coberta. — Vera? Ouviu a voz de Mac do outro lado da porta. Ao vê-lo entrar, sentiu o coração disparar. Sentou-se na cama e cobriu-se com o lençol. — O que você quer? — perguntou, assustada, ao vê-lo aproximar-se. Mac vestia apenas um short. Vera não conseguiu desviar a atenção do corpo forte e viril. Ficou hipnotizada pelas linhas do corpo dele. — Vim trazer mais uns cobertores — disse em voz baixa. — A noite está fria, tenho certeza de que precisará deles. — Oh? — murmurou, envergonhada. Estava tão nervosa que nem notara os cobertores nas mãos de Mac quando ele entrara. Ficou estática, observando-o colocar as cobertas sobre a cama. O luar iluminava o quarto e o rosto de Vera, que estava aterrorizada. — Pensei que não tivesse medo de mim — disse Mac, sentando-se na beirada da cama. — Estou me sentindo como se fosse um vampiro amedrontando-a. — Fui tola — afirmou, tentando sorrir. — Fiquei em uma posição muito vulnerável. — Sim, é verdade. É por isso que precisa de um marido, para tomar conta de você — declarou, aproximando-se e deixando suas mãos deslizarem sobre o corpo dela. — Cuidarei de você e não a deixarei ter problemas ou ficar em situações delicadas, exceto comigo, é claro. — Mac, por favor, eu... nós não podemos... O prazer que Vera sentia ao toque de Mac era tão intenso que a impedia de pensar. — Não podemos e não iremos ficar juntos. Não esta noite — afirmou ele. — Agora, beije-me e eu sairei daqui. Vera estremeceu ao sentir a boca quente e sensual de Mac tocando a sua. Aos poucos, os lábios se entreabriram. Correspondeu ao beijo com ardor e deixou que ele a tocasse. As mãos másculas acariciavam os seios, o que lhe provocava arrepios por todo o corpo. Queria que ele a beijasse inteira.


Mac abraçou-a e deitou-a com carinho, desabotoando-lhe a camisola. Vera sentiu a respiração ofegante e experimentou o calor da língua de Mac em seus seios. Sem conter-se de tanto prazer, soltou um gemido. De repente, Mac afastou-se e tentou controlar-se. — É melhor paramos por aqui ou chegaremos até ao fim. Vera estava deitada, seu corpo ansiava por Mac. Nunca estivera tão fora de controle e nunca sentira tanto desejo. Se ele não parasse, ela não o impediria de fazer nada. Frustrada fechou os olhos. — Boa noite. — disse Mac, inclinando-se mais uma vez para beijá-la. — Durma bem. Ao sair do quarto, Mac sentiu as pernas trêmulas. Não olhou para trás, com medo de não resistir à tentação, mas resolveu esperar mais tempo, talvez até o dia seguinte. Percebera a inexperiência de Vera diante de fatos novos, o que a deixava sem controle da situação. Mac estava determinado a conquistá-la e queria que ela tivesse certeza de tudo o que fizesse. Tai começou a miar. Vera acordou assustada e olhou o relógio. Eram quase onze horas. Nunca dormia até tão tarde. Desorientada, levantou-se com pressa. A casa estava toda silenciosa, só se ouviam os miados de Tai. Tomou um banho rápido, secou os cabelos, vestiu uma calça jeans e uma blusa lilás. Ao sair do banheiro, passeou pelo quarto de Mac, que estava vazio. — Está bonita! — elogiou Anne, entusiasmada, no corredor. — Lily e eu não queríamos incomodá-la. Onde está o gato? Ouvi seu miado. Tai saiu do quarto e correu para a sala, como se estivesse fugindo de Anne. — Quer tomar café? Posso esquentar algo no microondas — ofereceu a menina. — Quero, sim, obrigada. As duas foram juntas para a cozinha. Vera notou que Anne ainda estava de


camisola e com os cabelos despenteados. Aquela hora, a menina deveria estar na escola, pois não parecia doente. — Podemos descongelar pratos prontos. Alimentos crus não fazem bem. Não matamos todas as bactérias, sabe? Meu pai e minha mãe morreram, não por causa da comida, mas em um desastre de carro. Avisei ao Brick que ele também pode bater o carro e morrer. — Brick está dirigindo? — perguntou Vera, tentando compreender o que Anne falava, pois misturava com facilidade o presente e o passado. — Está dirigindo o carro da mãe de Jimmy. Veio até aqui pegar umas roupas porque vai acampar em Yellowstone. — Anne, quer dizer que seu irmão e Jimmy estão indo de carro para o parque Yellowstone? Seu tio Mac sabe disso? — indagou, assustada. — Se soubesse não deixaria. — Sem falar que Brick tem só treze anos! Anne, precisamos encontrar seu tio agora. — Certo. Onde está ele? — Pensei que soubesse — comentou, desanimada. — Talvez Lily saiba, mas suponho que esteja na escola. Vou ligar para lá. — Lily não está na escola — respondeu Anne, achando graça —, ela disse que iria para o Paraíso. Vera não sabia o que era o Paraíso, mas presumiu que fosse um bar parecido com Rustler. Agora precisariam encontrar o sobrinho e a sobrinha. — E Clay? Onde está ele, Anne? — Foi ver o cavalo. — Blackjack? — perguntou Vera, lembrando que Mac avisara que o garanhão poderia matar uma criança com apenas uma patada. — Sim, Blackjack. Aquele lindo cavalo preto. Clay o adora e quer montá-lo. Vera estremeceu ao imaginar o que poderia acontecer. Os três Wilde precisavam de ajuda, e o caso de Clay era o mais urgente. — Anne, precisa me mostrar onde fica esse cavalo. Precisamos achar Clay


imediatamente. — Devo vestir-me primeiro? — Não há tempo. Coloque uns sapatos e um casaco. Temos que ir depressa. Alguns minutos mais tarde, as duas corriam de mãos dadas. Vera rezava para que a menina soubesse aonde a estava levando. — Ali ficam os cavalos. Talvez Clay esteja lá. Juntas abriram a porta pesada. A construção era toda de madeira e havia bonitos animais presos nas baias. — Não vejo nenhum cavalo preto — disse Vera, examinando os garanhões —, nem Clay. Onde mais ele pode estar? — Talvez no pasto. — Vamos até lá. Mostre-me onde fica. Felizmente não era muito distante. Seguindo a estrada atrás do celeiro, podiam avistar os pastos e, mais ao fundo, um conjunto de montanhas majestosas. O cenário era deslumbrante, e Vera lamentou não poder apreciá-lo com mais calma, precisava encontrar o menino. Avistaram Clay sentado na cerca, olhando o garanhão, que corria, elegante. — Venha, Blackie! Aqui, vem, tenho algo para você — chamava o garoto, com as mãos estendidas. O cavalo, irritado com os gritos, começou a agitar-se em direção da cerca. O coração de Vera disparou, e ela correu até o menino. Clay se comportava como se o animal fosse manso e domado. Chegou a tempo de puxá-lo para o seu colo. Vestindo apenas uma camiseta e short, seu corpinho estava gelado, apesar do sol. — Clay, deve ficar longe desse cavalo — disse Vera, determinada, vendo o torrão de açúcar em uma das mãozinhas. — Ele é perigoso e pode machucá-lo. — Blackjack pode matar Clay? — perguntou Anne, assustada. — Não sabia que cavalos também matam pessoas. Vera percebeu que causara mais preocupações à pobre menina, que via perigo em tudo. Talvez, fizesse isso para se proteger deles e não morrer, como seus pais, de uma hora para outra.


— Em geral, cavalos não machucam as pessoas, mas Blackjack é uma exceção — tentou explicar para as crianças enquanto caminhavam de volta para a casa. — Queria ser amigo dele — argumentou Clay, tristonho. — Como naquele filme Beleza negra. — Ele já assistiu a esse filme mais de um milhão de vezes — informou Anne. — Acho que um animal de estimação seria melhor — sugeriu Vera —, algo menor e mais amável. — Um cachorro? Quando poderemos comprar um? — Sempre quis ter um cãozinho, mas meus pais nunca deixaram. Tio James e tia Eve diziam não para tudo, mas tio Mac só não permitiu porque não havia ninguém em casa que tomasse conta do bichinho. — Agora que você vai ficar conosco, poderemos ter um, não é? — questionou Clay, satisfeito. Vera não sabia o que dizer, e nenhum dos dois exigiu uma resposta, pois já consideravam como certa a presença dela na fazenda dali para a frente. De volta a casa, levou as crianças para seus quartos e encontrou roupas adequadas para a temperatura daquele dia. Clay estava bem, mas e Lily e Brick? Entrou na cozinha e avistou o telefone: precisava falar com Mac. Pediu o número para Anne e sentiu um nó na garganta ao discar. — Alô — atendeu, cauteloso. — Desculpe incomodá-lo, mas... — falou, tentando achar as palavras certas para informá-lo sobre os sobrinhos. — O que aconteceu? Vera decidiu poupá-lo, não falando nada sobre Clay. Disse que Brick saíra para acampar com o amigo dirigindo o carro da mãe de Jimmy. — Estou no lado sul da fazenda, consertando algumas cercas. Vou demorar pelo menos uma hora para chegar a casa. Se você puder ficar com Clay, vou direto para a cidade falar com o xerife. É um antigo amigo meu e poderá me ajudar a encontrar os meninos, evitando que sejam presos. Anne e Lily devem estar chegando da escola.


— Anne está aqui em casa — interrompeu Vera. — Por quê? Ela está doente? — Não, mas está aqui comigo. Não se preocupe, ficarei com eles. Mac estava tão preocupado com o sobrinho que não perguntou sobre Lily, e Vera não teve coragem de sobrecarregá-lo com mais problemas. — Vera, desculpe-me por não tê-la esperado esta manhã. Em geral, tenho uma certa flexibilidade no horário, mas hoje é o dia de folga de Webb e precisei substituílo. Fui vê-la quando acordei, era um pouco mais de cinco horas, mas quando a vi dormindo, não tive coragem de acordá-la. Ao pensar em Mac observando-a na cama, estremeceu. — Estava tão serena e tentadora que foi difícil resistir à vontade de deitar-me com você. Logo, chegará o dia em que poderemos ficar juntos, sossegados. Vera respirou fundo. Podia imaginar a cena com clareza, porém não deveria perder-se em devaneios. — Precisa encontrar Brick logo — disse, tentando mudar de assunto. — Não se preocupe — declarou, achando graça da reação de Vera. — Vou achá-lo e levá-lo para casa. Até mais tarde, meu bem.

CAPÍTULO CINCO Ao desligar o telefone, Vera ficou pensativa. Sentou-se em uma das cadeiras da mesa de jantar. Mac a chamara de "meu bem" mais uma vez, porém, ao invés de sentir-se ofendida como antes, sentiu-se desejada, diferente da mulher que sempre fora. Um miado alto a fez voltar à realidade. Correu até a sala e deparou-se com um gato malhado que tentava atacar Tai. — Acho que não se deram muito bem — murmurou Anne, que trouxera o animal.


As duas crianças estavam sentadas no sofá, observando os gatos. Tai subiu pela lareira e se posicionou sobre a cabeça do alce, entre os chifres. — Temos que levá-lo de volta para o mato — disse Vera, com calma —, antes que eles comecem a brigar. — Vou pegá-lo — ofereceu-se Clay, subindo no braço do sofá, pronto para se jogar sobre o bicho. O gato saiu correndo desesperado até que encontrou a porta da sala aberta e desapareceu pelo pátio. — Conseguimos! — exclamou Clay, batendo sua mão na de Vera, dividindo sua vitória. Foi a primeira vez que Vera participou de um ritual de celebração. — Acho que não deveríamos ter trazido o gato malhado para cá — admitiu Anne, desapontada. — Queria que Tai tivesse um amigo. É difícil estar em um lugar estranho onde não conhecemos ninguém. Vera passou os braços pelos ombros da menina, tendo o pressentimento de que ela estava se referindo mais a si própria que a Tai. — Está tudo bem. Tai gosta de ser o único gato da casa, ele até prefere assim, não é como as pessoas. — E ainda será o único quando conseguirmos o nosso cachorrinho — interrompeu Clay. — Anne, por que não quis ir à escola hoje? — Hoje organizarão os grupos para a festa de Halloween, e sei que seria a última a ser escolhida. Estando ausente, me colocarão em qualquer grupo, e eu não precisarei ficar lá, em pé, esperando... Vera ficou comovida. Sabia como era ser uma pessoa não aceita por um grupo. Por sua timidez, passara grande parte da vida sendo deixada de lado. — Deve ser difícil mudar para uma escola nova, principalmente em uma cidade pequena onde todos se conhecem há muito tempo. — Não está sendo difícil para mim — disse Clay. — Todos gostam de mim, tenho muitos amigos.


— É porque está na primeira série. Crianças mais novas são mais amáveis. As da segunda não são tanto, pois já têm seus amigos e não aceitam intrusos. E se tentasse ter pelo menos uma amiga — sugeriu Vera, ao lembrar-se de sua infância. — Chame uma das meninas de sua classe para irem a algum lugar, cinema, shopping center, ou vir até aqui depois da aula. — Não há shopping center em Bear Creek, mas tem o cinema — falou Clay, procurando ajudar. — Tinha amigos quando morávamos na Califórnia com papai e mamãe. Em Ohio eu não queria que ninguém conhecesse tio James e tia Eve. — E com seu tio Mac? Sente-se da mesma maneira? — perguntou Vera, curiosa. — Amo tio Mac — afirmou Anne —, mas não seria divertido para uma amiga vir aqui. Clay a deixaria louca, eu teria que ficar tomando conta dela. — Agora mamãe não está mais aqui para dizer que não devo perturbar as meninas — explicou Clay. — Tio Mac está sempre trabalhando, e, se Brick e Lily estiverem aqui, nos mandarão calar a boca para não atrapalhá-los. Por que, então, eu traria uma amiga até aqui? Estava claro que Anne já havia pensado sobre o assunto e decidira não ter amigos para não revelar o caos em que vivia. Vera ficou tocada por seu problema. Anne sentia-se sozinha e triste, e Mac não compreendia as angústias de uma menina de dez anos que achava sua família diferente dos padrões normais. Clay levantou-se, ligou a televisão e sentou-se no sofá. Anne juntou-se ao irmão. Vendo que o ambiente estava calmo, Tai desceu da lareira e pôs-se aos pés de Vera. Faminta, lembrou que não tinha comido nada desde que acordou. Olhou para as crianças na frente da televisão. Não queria deixá-las o dia inteiro hipnotizadas pelo aparelho. — Tenho que dar uns telefonemas e tomar um copo de leite, depois quero que me levem para conhecer a fazenda. Quando chegarmos, podemos preparar uns


biscoitinhos. Não houve reação de nenhum deles. Estavam totalmente concentrados no programa. Vera foi até a cozinha, pegou um copo de leite e algumas torradas enquanto procurava na lista telefônica algo chamado Paraíso. Procurou por bares, restaurantes, boates e até motéis, mas nada encontrou. Rezou para que Lily voltasse antes de Mac. Levantou-se e saiu com as crianças menores. Eram cinco horas quando Lily finalmente apareceu. Vestia uma blusa solta, short de ciclista e botas pretas. Parou na porta do quarto de Anne ao ver Vera e os irmãos rodeados de brinquedos e jogos. — Oi, Lily — cumprimentou Anne, acenando. — Vera está me ajudando a arrumar o quarto. — Fizemos biscoitos — anunciou Clay, sentado no chão, lendo um gibi e comendo os doces amanteigados. — Vamos ganhar um cachorro também. — Calma — disse ela, rindo para o irmão. Lily foi em direção a seu quarto, e Vera a seguiu. — Sei que não foi à escola hoje — afirmou, ao entrar no quarto pintado de violeta e com um peixe empalhado pendurado na parede. — Aprendi muito mais onde eu estava — comentou Lily, ao deitar-se na cama. Vera analisou a expressão no rosto da garota. Os cabelos em desalinho, a maquiagem já bem fraca e o brilho dos olhos deixavam claro, mesmo para a inexperiente Vera, que Lily parecia uma mulher sexualmente satisfeita. Respirou fundo e temeu pela precocidade da sobrinha mais velha de Mac. — Anne contou-me que foi a um lugar chamado Paraíso — comentou, procurando parecer casual. — Pensou que eu estivesse em um lugar chamado Paraíso? — repetiu Lily, divertida. — Que gentil de sua parte! — Estava preocupada com você. Não contei a seu tio que não foi à aula porque ele estava muito preocupado com a viagem de seu irmão. No entanto, não sei se agi


corretamente. — Obrigada, Vera, mas não precisa se preocupar comigo. Sei o que estou fazendo e o que quero. Estava certa ao não contar a tio Mac. Não há nada que ele possa fazer e, além do mais, já tem muitos problemas. Você disse que Brick foi viajar? Vera explicou toda a aventura dos dois meninos. Lily achou tudo muito divertido. — Brick é um espírito livre, assim como Jimmy Crow. Foi ótimo terem se conhecido, apesar de todos discordarem de mim. — Não vai me contar onde esteve hoje, não é? — Estava no paraíso, com "p" minúsculo. É mais que um lugar, é um estado de... felicidade — disse Lily, com tom de provocação. — É tudo o que posso contarlhe por enquanto. Talvez quando já estiver dormindo com meu tio, possamos conversar e trocar idéias de como deixar um homem louco na cama. Vera sabia que Lily queria chocá-la, e conseguiu. Estava se sentindo como uma adolescente, corando diante de um comentário malicioso. — Vou dormir um pouco até o jantar. — Colocou os braços nos ombros de Vera e a conduziu à porta. — Tive um dia exaustivo. Obrigada por ter cuidado das crianças. Você é um anjo. Vera saiu do quarto, e Lily fechou a porta. Ao andar pelo corredor, pensativa, ouviu o som do carro, das portas batendo e de passos no hall de entrada. Seu coração disparou ao ver aquele homem de calça jeans, botas e camisa marrom entrando pela casa. Ficou desorientada. Passara todo o dia com Anne e Clay, se acostumara com o ambiente calmo, e a presença de Mac trazia um elemento diferente àquela atmosfera. Uma sensualidade que a atraía e ao mesmo tempo a fazia querer fugir. Decidiu enfrentar os fatos. — Estou feliz por vê-la — disse Mac, aproximando-se para beijá-la. Ao sentir os lábios dele tocarem os seus, Vera estremeceu. Passou os braços sobre os ombros de Mac e o abraçou. Louca de desejo, entregou-se ao longo e sedutor beijo.


Quando Mac levantou-lhe o rosto, Vera quis recomeçar, porém deveria afastarse dele para poder pensar melhor sobre suas reações. — Não quero interrompê-los, mas temos companhia e não vão acreditar quem são — murmurou uma voz atrás deles. — Companhia? — repetiu Mac. Vera afastou-se, embaraçada, com as pernas ainda trêmulas e a respiração ofegante. — Deve ser Vera. Sou Brick. Tio Mac disse que foi você quem contou sobre a minha viagem a Yellowstone. Vera não tinha certeza de como deveria responder. Brick não parecia estar acusando-a ou sendo hostil. Estava simplesmente curioso. Tinha os cabelos ondulados e não muito curtos. Os olhos castanhos eram mais claros que os dos irmãos. Era baixo, e o rosto, todo cheio de sardas. Apesar da idade, os hormônios ainda não haviam mudado suas feições infantis. — Estou contente por conhecê-lo, Brick — cumprimentou Vera, estendendo a mão. — Espero que entenda que precisei contar a seu tio. — Sim, eu sei. Mas queria mandar Anne para outra dimensão. Se ela não tivesse contado, Jimmy e eu estaríamos em Yellowstone agora — disse e, virando-se para o tio, informou: — Vou para o meu quarto, não agüentarei a chata da Joana. — Os Franklin estão aqui? — perguntou Mac, assustado. — Vêm vindo. Não deixe nenhum deles chegar perto de mim, especialmente Joana — advertiu Brick ao sair da sala. Através da porta parcialmente aberta, Mac e Vera observaram o reverendo Franklin e sua família se aproximando do portão da frente da casa. Vera ficou tensa ao vê-los, os olhos grandes e amendoados procuraram os de Mac. Ele passou os braços por sua cintura e ficou ao seu lado. — Vera, minha querida! — exclamou Will Franklin quando a viu. Entraram todos, a mulher e as duas filhas segurando pratos de comida cobertos com papel alumínio. A primeira reação de Vera foi querer abraçá-lo como fazia quando criança e


ainda o chamava de papai, porém conteve-se. Não era mais uma garotinha, e o reverendo não era seu padrasto ou mesmo seu tio. Além do mais, estava acompanhado pela família, que fazia questão de deixar bem claro que Vera não pertencia a ela. Olhou para Ginny. Fazia muitos anos que não se viam. De aparência jovem e atraente, a mulher do pastor não parecia ter quarenta anos. Trícia, apenas um bebê na época, agora era uma bonita adolescente de cabelos loiros, e Joana estava igual à foto que recebera no Natal. — Olá, reverendo Franklin — cumprimentou, educada. — Boa tarde, sra. Franklin, Trícia, Joana. É um prazer vê-las aqui. Mac observou a forma como Vera se comportava diante do reverendo e sua família. Percebera a dor do amigo diante da frieza da enteada. Mas como ela deveria tê-los recebido após tantos anos? Mac sentiu necessidade de protegê-la. Vera fora afastada do círculo familiar por muito tempo. Como o pastor poderia imaginar que ela seria calorosa depois de tudo o que se passara? — Não precisamos ser tão formais. Chame-nos de Will e Ginny — falou a mulher do reverendo, procurando ser simpática. — Mac, Vera, vocês estão ótimos! — Trouxemos o seu jantar de boas-vindas a Montana — disse Joana. — Fui eu mesma quem fez a salada. — E temos frango frito e batatas assadas. Para sobremesa, bolo de abóbora — completou Ginny. — Podemos levar tudo até a cozinha? A pergunta foi dirigida a Vera, que já era considerada a responsável pela casa. — Acho que sim — respondeu Vera, olhando para Mac, que a fitava e ainda a segurava pela cintura. Ginny e as filhas, aparentemente familiarizadas com a casa, foram para a cozinha, deixando Vera, Mac e o reverendo a sós. — Tentei ligar antes, mas ninguém atendia ao telefone — comentou o reverendo, quebrando o silêncio. — Não podia imaginar onde estaria, sendo que Mac estava atrás de Brick. — Então todos já sabem da aventura dos dois meninos? — indagou Mac.


— Toda a cidade — confirmou Will Franklin. — Queria vir mais cedo, mas, como não consegui falar com você, minha filha, decidi esperar mais um pouco. — Deve ter ligado enquanto Anne e Clay me mostravam a fazenda — respondeu Vera. — Andamos pelos arredores da casa, pelos celeiros, estábulos e pastos. Vimos os cavalos, os gatos e as galinhas. Anne até disse que há um surto de salmonela que pode chegar por aqui. — Não na minha fazenda — disse Mac, satisfeito com o que acabara de ouvir. — Então as crianças passearam com você... Amanhã a levarei de carro para ver onde criamos os bezerros e as novilhas. Vamos conhecer os pastos e as plantações. — Gostaria que passasse o dia de amanhã conosco, Vera — sugeriu o reverendo. — Poderíamos mostrar-lhe a cidade, almoçar em casa e quem sabe eu conseguiria convencê-la a ficar conosco. Temos um quarto de hospedes que... — Pai, tem um gato na cozinha! — exclamou Trícia ao chegar correndo à sala. — É um siamês e está miando para nós de cima da cabeça do alce. Meus olhos começaram a lacrimejar e já dei dois espirros. Mamãe mandou-me vir para cá enquanto elas terminam de preparar os pratos. Mas temos que partir imediatamente, é claro. — O gato está em cima da cabeça do alce? — repetiu Mac, incrédulo. — Gatos siameses gostam de lugares altos — explicou Vera. — Tai descobriu que em cima dos troféus de seu avô está seguro e em posição privilegiada diante de tantos estranhos. — É melhor deixar entrar mais ar fresco — concluiu Trícia, abrindo a porta da sala, fazendo o vento frio entrar pela casa. — Não posso ficar exposta a pêlos de gato, fui parar no hospital... — Não precisamos discutir onde Vera ficará, reverendo — interrompeu Mac, sem dar importância ao que Trícia falava. — É aqui onde vai morar de hoje em diante. — Poderemos conversar a respeito mais tarde. Vamos fazer os planos para amanhã, Vera. Ficarei muito feliz em poder buscá-la de manhã, ou melhor, poderá vir conosco ainda hoje e nós...


— Não será possível — disse Mac, determinado. Vera, ao sentir que ele a segurava mais firme, olhou-o e viu a implacável determinação em sua expressão. Estava respondendo por ela sem ao menos consultála. Não queria que ele determinasse como deveria agir. — Adoraria conhecer Bear Creek e... — Clay ainda está com catapora e não pode ir à escola por enquanto. Vera não pode deixá-lo sozinho para conhecer a cidade — interrompeu Mac, abruptamente. — Haverá muito tempo para ela ir até lá. A arrogância de Mac irritou Vera. Afinal, não era uma prisioneira e podia responder por si mesma. Antes que explicasse os fatos, Ginny e Joana voltaram para a sala, trazendo os pratos vazios. — Transferimos toda a comida para as suas vasilhas — informou Ginny. — Já está tudo preparado para o jantar. Espero que gostem. — Brick está aqui? — perguntou Joana. — Quero contar-lhe que trouxemos frango frito. Sei que ele adora, pois comeu vinte e dois pedaços na festa da igreja. Foi um recorde! — Brick está no quarto, de castigo, e não pode receber visitas — respondeu Mac, após arrepender-se da idéia de torturar o garoto com a presença de Joana. — Mas pode deixar que darei a ele o frango no jantar. — Onde está Lily? Espero que não esteja doente, pois não foi à aula de culinária hoje — informou Trícia, procurando fazer intriga de modo suave e gentil. — Lily não foi à aula? — indagou Mac, curioso. — Não à de culinária — explicou Vera —, Lily foi para a cama assim que chegou a casa. Está dormindo agora. Estava preocupada em dizer a verdade, ou pelo menos meia verdade, deixando que todos pensassem que Lily fora à escola. Não tinha alternativa; afinal, os Franklin não deveriam se intrometer na vida dos Wilde. Vera sentiu necessidade de ser fiel a Lily e Mac, apesar da culpa por estar omitindo fatos. Trícia ficou desolada ao ser sabotada. — Amanhã então, Vera — insistiu o reverendo. — Ficarei feliz em


providenciar... — Acho melhor eu ficar aqui com Clay amanhã, reverendo Franklin — interrompeu Vera, falando o que sentia. Mac sorriu satisfeito e deslizou a mão até a curva de seus quadris. Ela corou, tentando inutilmente afastar-se. — Tai pulou na mesa, roubou um pedaço de frango e voltou para os chifres do alce da cozinha — anunciou Anne, correndo pela sala. — Ele também gosta de salada de batata? Posso dar-lhe um pouco? — O gato! — exclamou Trícia. — Minha garganta está coçando, acho que vou começar a espirrar. Meus olhos estão inchando? — Anne, não ouse colocar salada de batata no troféu de meu avô! — ameaçou Mac. — Brick vai à escola amanhã? — perguntou Joana. — Devemos ir fantasiados, haverá um concurso, e os vencedores desfilarão. — Fantasias? — repetiu Anne. — Por isso Brick e Jimmy decidiram ir para Yellowstone. — Anne, vá para a cozinha e proteja contra Tai o resto do frango — ordenou Mac. — Temos que ir agora — disse Ginny, apressada ao mencionarem a presença do animal mais uma vez. — Devem estar com fome e nós não podemos expor Trícia. Ela é alérgica. Confusos, todos se despediram. Ginny e as filhas saíram primeiro. Anne chamou Vera até a cozinha para ajudá-la com Tai. Mac e o reverendo ficaram a sós no hall de entrada. — Está tentando evitar que fique com Vera. Por que, Mac? — Acho que é melhor para ela ficar aqui. — Melhor para ela? Conheceu-a ontem, como pode decidir o que é melhor para Vera? — Vou me casar com ela. Foi sua a idéia e devo confessar que muito boa, mas sua parte no plano termina aqui. Só precisa realizar a cerimônia. Prometo que será


logo. — Mac, não pensei que tudo fosse ser assim — tentou explicar o pastor, angustiado. — Queria que ela ficasse na minha casa enquanto vocês se conhecessem. Vera deveria ter uma chance de escolha, se desejava ou não casar-se. — Ela quer — assegurou Mac, sorrindo, confiante. O reverendo engoliu em seco. — Mac, sei que é um homem bonito, que tem muita habilidade com mulheres. Uma mulher jovem, sensível e tímida como Vera ficará iludida com sua... atenção. — Pai, a mamãe está chamando — avisou Joana. — Os Wilde precisam jantar. — Já vou, querida. Espere no carro com Trícia e sua mãe. Obediente, Joana correu de volta para o automóvel. — Mac, sua fazenda é a mais promissora e bem-sucedida do Estado, e você conseguiu todo esse sucesso usando sua inteligência, determinação e agressividade. Mas usar essas qualidades para apressar uma inocente jovem a tomar uma decisão sobre seu futuro enquanto a... — É melhor ir embora, reverendo — interrompeu Mac. — Quando teve que tomar uma decisão sobre Vera, preferiu ficar sob o comando de sua mulher, deixando sua enteada desprotegida. Não se importou com os sentimentos dela. — Sei que abandonei Vera quando ainda era uma criança — murmurou o pastor, com olhar abatido. — Isso não acontecerá de novo. Dessa vez, estarei aqui sempre que ela precisar de mim. — Mas ela não precisa do senhor — afirmou, com sinceridade. — Não é mais uma criança. Posso dar-lhe o que precisa. O senhor não está envolvido com esse acordo. — Ao contrário, estou muito envolvido. Fui eu quem sugeriu que a convidasse para vir aqui esperando que, quando a conhecesse, se apaixonasse. — Já lhe disse que vou me casar com ela — interrompeu Mac, decidido. — Não entendo por que de repente está contra a idéia que foi sua a princípio. — Em meu plano, haveria amor, consideração pelos sentimentos de Vera, e ela poderia fazer sua escolha. Mac, você não está se importando com ela.


— Não tenho tempo a perder, reverendo. As crianças e eu precisamos de alguém agora, e essa pessoa é Vera. — Não é justo. Ela não está sendo valorizada pelo que é. Tudo o que consegue enxergar é uma boa candidata para assumir o trabalho da casa, a responsabilidade com as crianças. Decidiu casar-se com quem quer que saísse daquele avião. — Por isso quis uma noiva sob encomenda. Meu objetivo era um casamento, e quero uma mulher como ela. — E os sentimentos da mulher em questão? Não são importantes? — Ela consegue um marido, uma família e um lar, tudo com que sonhava. — Não gosto da idéia de Vera não ser considerada pelo que é — afirmou o reverendo, desanimado. — Deixou bem claro que se casaria com qualquer mulher que chegasse aqui. É deprimente ver seres humanos serem tratados como objetos desprovidos de qualquer direito. — Está dramatizando, reverendo — disse Mac, ao ser interrompido pela buzina do carro do pastor. — E o senhor é o patrocinador da idéia. Não se preocupe com Vera, tomarei conta dela. A buzina tocou mais uma vez, e Will Franklin saiu apressado. Vera estava em pé na sala de estar. Saíra da cozinha para conversar com o tio a sós e ouvira a conversa que os dois tiveram. Ouviu o padrasto expressar sua preocupação com ela e Mac analisando os fatos de maneira fria e calculista. "Qualquer pessoa que saísse do avião..." "Não está valorizando Vera pelo que é..." As frases ecoavam na cabeça de Vera, deixando-a ainda mais confusa. Quando viu o reverendo indo embora, quis sair daquela casa o mais depressa possível e fugir de Mac Wilde. Correu até a porta e deparou-se com ele no hall. — Calma! — sorriu, colocando as mãos nos ombros de Vera para segurá-la. — Está tentando bater algum recorde de velocidade? Ela não achou graça e nem ao menos olhou para ele. Saiu da casa apressada, tentando alcançar o carro do tio, que já havia partido.


— O reverendo teve que ir — afirmou Mac, atrás dela. — Ginny estava determinada a tirar Trícia daqui o mais rápido possível. Foi gentil da parte deles trazer o jantar, mas, para falar a verdade, estou feliz que já tenham ido. Mac aproximou-se, passou os braços ao redor da cintura de Vera e inclinou-se para beijar-lhe o pescoço. — Oh, não! — ela exclamou, se livrando das mãos de Mac e correndo para dentro da casa. — O que aconteceu? Ele estava confuso. Não compreendia a razão de tanta tristeza, e a sua total falta de sensibilidade irritou ainda mais Vera. — Estava na sala enquanto conversavam. Ouvi tudo o que foi dito. — E daí? — E daí? — repetiu Vera, indignada. — Sim, disse que ouviu nossa conversa e quero saber por que ficou tão brava. Não ouviu nada que já não soubesse. Por que esse chilique? — Não estou tendo um chilique. É que não pensei que fosse tão insensível, a ponto de achar que gosto de saber que sou considerada como uma solução conveniente, que não sou vista como uma pessoa, que só estou sendo usada... — Espere um pouco, senhorita! — interrompeu Mac, levando-a para uma saleta. Vera ainda não conhecia aquele cômodo. Havia mesas, computadores e outras máquinas de escritório. Mac apertou-a contra a parede e segurou-lhe o rosto com uma das mãos. — Se tivesse ouvindo com atenção, perceberia que não fui eu quem disse aquelas coisas. Foi seu querido tio Will quem a descrevia, meu bem, não eu. — Deixe-me ir — ordenou Vera, tentando livrar-se do domínio de Mac. Sentia-se humilhada, furiosa e muito magoada. Esquecera por alguns momentos o real motivo de sua presença naquela casa. — Decidi ficar com os Franklin hoje e voltar para Washington amanhã — afirmou, se recusando a encará-lo. — Tai pode passar a noite na garagem, algumas


horas apenas não farão mal a ele. Agora deixe-me ir, preciso arrumar minha mala. — Não vai a lugar algum — bradou Mac, pressionando-a ainda mais contra a parede. Vera pôde sentir o calor do corpo de Mac e a evidência de seu desejo por ela. Como poderia estar tão excitado se nem ao menos a beijara ou a tocara de forma mais íntima? Tentou afastar-se, mas não conseguiu se mexer. — Gostei de tê-la aqui, de vê-la me esperando no final do dia — declarou Mac, com voz suave e sensual. — Vamos recomeçar daquele momento, quando abri a porta e você me beijou. Enquanto falava, passava os lábios no rosto de Vera provocando-a. — Não! Deixe-me ir, Mac. Não quero fazer parte desse plano estúpido. Só quero... Mac ergueu a perna e acariciou as coxas de Vera com os joelhos. Ofegante, não resistiu e sentiu seu corpo estremecer. Uma paixão incontrolável a impediu de raciocinar com lógica. — Você quer o que eu quero — sussurrou Mac.

CAPÍTULO SEIS — Não pense que pode usar seu charme e habilidade com as mulheres para... — Não vou perder tempo discutindo com você. Atos falam mais que palavras — afirmou Mac, passando os dedos entre os cabelos de Vera, beijando-a. Mais uma vez Vera estava entregue às vontades de Mac. Sabia que deveria afastá-lo, suas mãos agora estavam livres para empurrá-lo, mas, no íntimo, não queria sair dos braços do homem que a deixava indefesa. Abandonou qualquer sombra de resistência e entregou-se ao prazer. Seus braços deslizaram nas costas de Mac, e o beijou com paixão. — Espero que tenha conseguido desfazer o mal-entendido sobre o quanto a


quero aqui. Quando chego perto de você, sinto todo o meu corpo desejando tocar o seu — declarou Mac, após afastar seus lábios, mas ainda mantendo-os bem próximos aos dela. Ninguém jamais dissera que Vera era irresistível. Porém, as palavras de seu tio ainda a deixavam confusa. — Diria tais coisas para qualquer outra mulher que descesse daquele avião — resmungou, olhando para baixo. — Só quer uma mulher que... — Eu só quero você, e você também me quer. Vera estava tremendo, suas pernas, fracas, não agüentavam sustentá-la. Com certeza cairia se ele não a estivesse segurando, e Mac tinha consciência do que provocava. Apesar de saber das reais intenções dele, ela o desejava. Seus olhos encheram-se de lágrimas por não conseguir lutar contra seus sentimentos. Mac encarou-a, procurando entender o que ela pensava. Estava louco de desejo. Vera o excitava mais que qualquer outra mulher que conhecera. — Sinto muito que o reverendo a tenha deixado triste — disse, amável e preocupado. — Estava tão alegre até a chegada dos Franklin. Acho melhor ficar um pouco afastada deles, pelo menos por enquanto. Vera fitou os olhos pretos de Mac. Ele estava sendo sincero, de fato acreditava que a causa de seu sofrimento eram os Franklin. Não considerava a hipótese de ele ser o responsável pela mágoa que sentia. Ao ouvir um barulho vindo da cozinha, Mac passou os braços pelos ombros de Vera. — Terminaremos este assunto mais tarde, depois que a tropa estiver dormindo — sussurrou, beijando-a na testa. A sensual promessa e o abraço possessivo a fizeram estremecer. — Mac, eu não posso... — Respirou fundo e continuou: — Não gosto de relações casuais. — Sabe que não é essa a minha proposta, quero me casar com você — afirmou, determinado. Ao passarem pela sala, Vera perguntou:


— Espera realmente que eu continue com esse plano de casamento sob encomenda? — Isso mesmo. — Acha que estou tão desesperada para casar-me que concordaria em aceitar como marido um homem que conheço há dois dias? Como sabe se não estou apaixonada por alguém? — E está? — O tom da pergunta mostrou tanta indiferença que insultou Vera. — Talvez esteja. — Então, por que seu tio Will sugeriu que lhe pedisse para ser minha mulher? — desafiou Mac, com um sorriso sarcástico. — Não teria feito isso se soubesse de seu amor por outro homem. — Talvez ele não soubesse. — Se estivesse apaixonada por alguém, teria contado a ele — declarou, seguro. — Mulheres não guardam segredos sobre esses assuntos. Ao contrário, no momento em que descobrem estar amando alguém, tornam seus sentimentos públicos. Mac estava certo do que dizia. — Isso não é verdade. Há momentos em que uma mulher não tem escolha e precisa manter segredo. Por exemplo, eu não contaria a meu tio se estivesse apaixonada por um homem casado. Vera colocou a mão no rosto, tentando disfarçar seu acanhamento. Jamais se relacionaria com alguém comprometido. Sem olhar para Mac, entrou na cozinha, onde Clay, Anne e Brick estavam jantando. — Se incomodam se eu me sentar com vocês? — perguntou, olhando para trás. Sentiu-se aliviada e ao mesmo tempo desapontada vendo que Mac não viera atrás. Sentou-se e fez seu prato. — Não está tão bom quanto o frango da lanchonete KFC, mas é muito melhor que a comida da sra. Lattimore — informou Brick, entregando-lhe o prato com frango. — Aquilo que comemos ontem deve ter sido carne de alce. — Alce? — repetiu Vera, assustada.


— Talvez até de urso ou cascavel — informou Brick, divertindo-se. Todos riram diante da expressão de Vera. — Talvez a sra. Lattimore seja uma canibal, e aí adivinhem que tipo de carne comemos — comentou Anne. — Canibais parecem pessoas normais, mas gostam é de comer pessoas normais. Tai miou do alto do troféu, e Anne continuou a falar sobre um documentário a que assistira na televisão sobre o assunto. Vera comeu sem prestar muita atenção ao que as crianças diziam. Na sala, Mac olhava para a lareira, pensando sobre a forma como Vera reagira. — Não sei se devo cumprimentá-lo ou sentir pena de você, tio Mac. A voz de Lily veio do outro lado da sala. — Se estava tentando insultar Vera, parabéns, fez isso muito bem. Porém, se tentava seduzi-la para o casamento ou até mesmo para a sua cama, foi um fracasso. Mac virou-se para ver a sobrinha, que estava deitada no sofá, comendo uma coxa de frango. — Quando entrou na sala? — Estava aqui quando chegou com Vera — disse Lily, tranqüila. — É claro que não me viu, estava muito ocupado fazendo bobagens. Ouvi dizer que, antes de nós quatro chegarmos, era o solteirão mais popular de Bear Creek, com várias mulheres cercando-o e desejando-o. Porém, depois de ver sua técnica, acho que todas elas, sem exceção, estavam desesperadas ou eram insensíveis. — Não deveria ficar escutando conversas particulares. — Desculpe — respondeu Lily, sem sinal de remorso. — Mas o que estava querendo fazer? Mudou de idéia quanto ao casamento? Está tentando mandá-la de volta para o Leste o mais depressa possível? — É claro que não. Quero casar-me com ela. Não quero que vá embora. — Não? Então me enganou direitinho — disse Lily, jogando os negros cabelos para trás e dando mais uma mordida no frango. — Aposto que Vera também não entendeu suas intenções. Homens! — O que quer dizer?


— Significa que os homens não dizem o que pensam, ou não pensam no que dizem. — E as mulheres? — Poderíamos ser mais sinceras, se vocês não nos forçassem a entrar no jogo e mentir. — Como Vera, ao dizer que estava apaixonada por um homem casado? Não acreditei na história nem por um minuto, e você? — Tio Mac, a questão é que a obrigou a mentir quando disse que ela deveria aceitar sua oferta por estar desesperada por um marido e não ter nenhum projeto definido. Que mulher ouviria um insulto tão grande sem ao menos tentar salvar um pouco de seu orgulho? — Não quis dizer isso — retrucou Mac, indignado —, nem falei dessa forma. — Bem, foi o que eu ouvi e o que Vera ouviu. Naturalmente não poderia deixar passar, precisava defender-se. — É só? Havia algo no tom de voz de Lily que o perturbava. Olhou para a sobrinha, que estava distraída, com uma expressão adulta, consciente do poder de sua beleza e sensualidade. Mac ficou assustado. — Lily, o que está acontecendo com você? — Tio Mac, vamos voltar a discutir esse assunto? — perguntou, sorrindo. — Estou preocupado com você, minha querida. — Não precisa. Sei o que estou fazendo — afirmou, levantando-se para ir à cozinha. — Pelo menos acho que sim. Mac a seguiu pensativo. No momento que passou pela porta, viu Clay jogando gelatina em Brick, acertando o alvo com precisão. Os cabelos e o rosto dele ficaram esverdeados. — Clay, pare com isso! — gritou Mac, vendo o sobrinho procurar mais munição. — Brick, não ouse! — ameaçou o menino que pretendia retribuir a agressão com a salada de repolho. — Não vou tolerar guerra de alimentos e esse tipo de... — Socorro! — pediu Clay, saindo de seu lugar e indo aconchegar-se no colo de


Vera, escondendo o rosto. — Não deixe meu tio me bater, tia Vera! Vera, que assistia à cena achando até divertido, assustou-se ao ser chamada de tia. Clay era pequeno e a abraçava forte, amedrontado. Rindo e todo sujo de gelatina, Brick foi até a pia e colocou a cabeça sob a torneira. Mac estava em pé, atrás de Vera, esperando por Clay. — Clay Wilde, quero conversar com o senhor — afirmou, segurando o braço do sobrinho. — Ele vai me bater! — exclamou Clay. — Não, Mac — interrompeu Vera, defendendo a criança. — Acalme-se, Clay estava apenas... — Procurou pelas palavras certas. Jogando comida no irmão durante o jantar? Não lhe pareceu uma boa defesa, mas Clay era tão pequeno, e Mac tão grande. — Não serei manipulado dessa forma. Devemos deixar bem claro que... — Ei, tio! — chamou Brick. — Vou ajudá-lo. O menino mais velho pegou o bico da torneira e virou para o tio, provocando um jato de água que molhou Mac inteiro. Por alguns segundos, ficou parado sem saber direito o que acontecia. Foi o tempo necessário para ficar ensopado e para o sobrinho fugir correndo da cozinha para o quarto. — Brick! — bradou Mac, saindo atrás dele. — Abra essa porta! Se não o fizer, a derrubo com o pé! Anne, que assistia a tudo, começou a berrar, horrorizada. — Tio Mac vai matá-lo! — Anne, seu tio não vai matar ninguém. Ele está bravo, mas... A menina começou a berrar ainda com mais força. Vera sentiu, que se Anne gritasse mais uma vez, poderia ficar surda. Colocou Clay no banco e levantou-se. — Anne, não vai mais gritar. Clay, mantenha as mãos longe da comida e da gelatina. Vou falar com seu tio. — Tio Mac está com problemas — disse Clay, satisfeito. — Não está feliz por poder participar de um jantar com os Wilde? Se nos


caracterizar como uma família desajustada, estará nos elogiando — comentou Lily. — Vocês não são desajustados, são... emotivos e expressivos — explicou Vera, que continuou repetindo a frase até chegar à porta do quarto de Brick. — Mac, você está todo molhado. — Vera colocou a mão sobre seu braço. — Por que não troca de roupa e vai jantar? A calma de Vera contrastava com a irritação de Mac. Ela segurou mais forte o braço dele. — Se continuar gritando, Anne ficará berrando, pois acha que vai matar o irmão dela. Talvez esteja pensando que vai pendurar a cabeça de Brick em uma das paredes da casa. Ouviram por detrás da porta a risada de Brick. Mac respirou fundo e se apoiou na parede. — Não há nada de engraçado nisso tudo — esbravejou. Vera sentiu-se aliviada ao ver que os gritos cessaram. — Acha que estou sendo injusto? — perguntou, bravo. Vera assustou-se, com medo que ele transferisse toda a fúria para ela. — Acha que não tenho o direito de ficar irritado quando aqueles pequenos monstros... — Eles não são monstros — argumentou Vera, enfrentando-o. — São criativos e levados. Você e seus irmãos nunca fizeram nada parecido quando crianças? — É claro que sim. Até fazíamos guerra de comida, às vezes, mas nunca joguei água em minha mãe, nem a desobedecíamos quando nos mandava parar. Tenho o direito de esperar que... — Minha mãe também não permitiria uma atitude dessas — interrompeu Vera. — Lembro-me bem quando ela confiscou um revólver de água, que comprara com a minha mesada, e o jogou no lixo quando molhei a sala. Fiquei muito triste por ter perdido o brinquedo e o dinheiro. Mac segurou o riso. Se Vera quisesse acalmá-lo e distraí-lo, não sucumbiria. — Pois ela estava certa, jogar água dentro de casa é anarquia. — Eu também não molharia minha mãe, tio Mac! — gritou Brick do outro


lado da porta, após ouvir toda a conversa. — Mas você é o meu tio que gosta de fazer brincadeiras e que me molhou todo com uma mangueira quando reclamei do calor. "Refresque-se Brick", foi o que disse. Eu fiquei ensopado e você achou muita graça. Lembra-se, tio Mac? Todos nós rimos juntos. — Era diferente — respondeu Mac, corado. — Como? Para mim as regras devem servir para todos. — Concordo com ela — animou-se Brick, vendo Vera tomar seu partido. Mac passou as mãos pelos cabelos molhados e olhou para cima. — Está certo. De agora em diante, as guerras de água estão proibidas e essa regra é para todos. Quem violá-la será... — Terá a cabeça pendurada na parede? — sugeriu Brick, abrindo a porta do quarto. — E guerras de comida? Estão proibidas também? — Sim — disse Vera, decidida. — E acho que devemos informar Clay sobre as novas regras. Vamos até a cozinha. — Anne também. Não viram quando ela deu a Clay um dólar para que ele atirasse gelatina em mim? — Sem mais guerras de água ou de comida — informou Mac aos mais novos. — E nada de pagamentos para um fazer o serviço do outro, certo, Anne? Lily, pegue um pano e limpe essa bagunça. — Nem pensar — negou-se, jogando os cabelos para trás. — Brick sujou, ele é quem deve limpar. — Mac, pode resfriar-se com essas roupas molhadas — interferiu Vera. — Não se preocupe, cuidaremos de tudo aqui. Vá se trocar! — Pobre tio Mac. Pode pegar um resfriadinho? — provocou Clay, debochado. Vera o olhou. O menino não desistia com facilidade. Com medo de mais uma discussão, ficou na frente de Mac e colocou as mãos nos ombros dele, pensando em sua reação. No entanto, ele não perseguiu o sobrinho. Segurou o braço de Vera e acariciou-a. — Ao contrário do que pensa, não sou um tirano louco que fica perseguindo as


crianças. Nunca coloquei a mão em nenhum deles, apesar de saber que umas boas palmadas não os machucariam. Vera pensou na forma como Clay a abraçara procurando proteção. — Talvez seu irmão James batesse neles quando estava zangado — murmurou, assustada com suas conclusões. — Ou talvez Clay saiba o que fazer para ativar o seu instinto maternal — sugeriu Mac. — Que horror, Mac Wilde. Clay é apenas uma criança de sete anos de idade — retrucou Vera, tentando afastar-se. — Você gosta de crianças, não é? Se importa com o que acontece com elas. — É claro que sim. São apenas crianças e já passaram por muitas coisas. — Não jogarei comida em mais ninguém — anunciou Clay, abrindo caminho entre o tio e Vera, que sentiu-se grata por conseguir afastar-se de Mac. O menino abraçou os dois e indagou: — Quando teremos nosso cachorrinho? Tia Vera deixou-nos trazer um para cá — explicou para o tio. — Oh, na verdade precisamos de um animal de estimação aqui. Que tal um filhote de lobo ou um bebê urso? Eles se encaixarão com perfeição. — Não estamos brincando, tio Mac — reprovou Anne. — Vamos mesmo ter um cachorrinho. Tia Vera prometeu. — Bem, sendo que ela é quem vai tomar conta da casa e do adestramento do bichinho, está bem, por mim — concordou Mac, sorrindo. Olhou para Vera e levantou as sobrancelhas desafiando-a. Queria ver como ela explicaria para as crianças que não poderiam ter um cachorro porque não ficaria para tomar conta nem deles nem do animal. Vera não conseguiu mencionar uma só palavra tendo o pequeno Clay abraçando suas pernas e os três mais velhos fitando-a. — Parece que estou vivendo um romance de televisão — comentou Lily, olhando ao redor. — Uma crise foi resolvida e no final todos sorriem, felizes. Só falta o tema musical e a câmera fechando em close.


— Gosto desse tipo de programas — suspirou Anne. — Acho que nos encaixamos melhor em histórias de horror — opinou Brick, fazendo todos acharem graça, incluindo Mac. Havia na sala um sentimento familiar com que Vera sempre sonhara, e nunca tivera, desde que Will Franklin deixara sua casa. Não se sentia mais parte importante de uma família havia muitos anos. Sua mãe e o padrasto Drew Answell sempre tentavam ficar a sós, deixando-a sempre de lado. Mas, com os Wilde, voltou a sentirse necessária. Sua presença fazia uma diferença, e para melhor. Vera olhou para as crianças e depois para Mac, que segurava suas mãos. Ficou confusa ao ver o desejo em seus olhos. As roupas molhadas e agarradas a seu corpo deixavam evidente a atração que sentia por ela. Assustada, Vera afastou-se. — Acho melhor trocar essas roupas ou pegarei um resfriado. Depois que Mac se retirou, Vera sugeriu que Anne e Brick fossem dormir. Ficou espantada ao ver que eles a obedeceram sem nenhuma queixa. Lily ficou para ajudá-la a limpar a cozinha mesmo após ter dito ao tio que não o faria. — Fez um ótimo trabalho com tio Mac hoje. Soube acalmá-lo quando todos pareciam estar em uma guerra. E deixá-lo tão excitado foi... — Lily! — interrompeu, envergonhada. — Aposto que está tomando um banho gelado agora. Até quando vai resistir a ele? Espero que não demore muito porque tio Mac está... — Lily, por favor! — Envergonhada? Que gracinha! — Pare com isso, Lily. — Para mim, alguém que fica corada ao pensar em meu tio tomando banho não pode estar apaixonada por um homem casado. Não estou certa? Vera deixou cair o pano que passava na mesa. — Desculpe-me por tudo o que ouviu. É claro que não era verdade, e eu não deveria ter dito aquilo.


— Sei por que o fez. Tio Mac a forçou, não lhe deixou alternativa. Já disse a ele como foi estúpido e nem ao menos percebera o que fizera. Não entendo por que os homens teimam em negar o que realmente querem e pensam. Por que não dizer: "Estou louco por você e quero que fique comigo" ao invés de "fique e cuide das crianças, já que não tem ninguém"? Por que não "eu te amo" ao invés de "você é muito jovem para mim e não posso ficar com você"? Vera ficou atemorizada diante do primeiro comentário e curiosa a respeito do segundo, que era com certeza uma alusão à própria Lily. — Foi isso o que o sr. Paraíso lhe disse? E o que ele não disse? — Sr. Paraíso? — repetiu Lily, achando graça. — Sim, ele mesmo. Foi que não disse, e deveria dizer. Não tem sentido, formamos um par perfeito, mas ele não consegue superar o problema da idade... Como podemos nos relacionar com tipos tão machões e retrógrados? Será que um dia admitirão que precisam de mulheres não só para sexo? — E para cuidar dos filhos — murmurou Vera. — Esse homem com quem está saindo... seu tio o conhece? Como no dia anterior Lily dissera ser louca por Webb Asher, o administrador da fazenda, Vera pensou que pudesse ser ele o amor secreto. Logo em seguida, descartou a idéia, uma vez que Webb a rejeitou com raiva, amarrando-a numa cadeira. Respirou aliviada. — Sim, meu tio o conhece, mas é tudo o que posso dizer. É melhor que não saiba o nome dele, assim não se sentirá compelida a contar a tio Mac. — E ele ficaria furioso? — Talvez... ou melhor, com certeza. — Lily, gostaria de poder dar-lhe um conselho, algo que... — O único conselho que pode me dar é "vá em frente, garota". — Sem saber dos detalhes, creio que não posso dizer isso. — Eu sei — respondeu Lily, colocando o pano de chão no balde. — Acho melhor ir dormir. Tenho que levantar cedo para ir à escola. Ao passar pela porta, parou e virou-se sorrindo.


— Vera, que tal hoje a noite? Vá em frente e não tenha medo, hein?

CAPÍTULO SETE Ao terminar de limpar a cozinha, Vera passou pelo quarto de Clay e Anne. Ajeitou as cobertas, e cada criança a abraçou, dando-lhe um beijo. Ficou emocionada diante da demonstração de carinho. Desejou boa noite também aos mais velhos, que responderam amáveis. Sentia-se necessária. Finalmente encontrara um lugar onde era importante por uma razão ou outra. A frase de Lily, "vá em frente e não tenha medo", ecoava na cabeça de Vera. A situação com Mac não era comum, mas ela agiria com naturalidade, como uma mulher madura e honesta. Não queria nenhum tipo de jogo com mentiras para atingir um determinado alvo. Voltou para a cozinha e preparou um prato de comida para Mac, que não jantara. Achou que ele deveria estar com fome. Deixaria a comida e o suco de laranja no quarto e depois iria dormir. Estava cansada, o dia fora muito desgastante. Bateu na porta e esperou uma resposta. — Entre. — Não posso. Estou com as mãos ocupadas — respondeu. Ao ouvir a voz de Mac, estremeceu. — Trouxe seu jantar. Mac abriu a porta e a seguiu. Usava um robe branco felpudo. Enquanto Vera colocava a bandeja sobre uma escrivaninha, ele secava os cabelos com uma toalha. — Não trouxe gelatina? — Depois de ter virado munição, foi retirada do cardápio. Mac sorriu diante do comentário e olhou para ela. — Acho que exagerei esta noite, correndo pela casa como um louco. — Teve razão para fazer o que fez — defendeu Vera. — Procurou Brick


durante o dia todo. Acho que precisava chegar a casa e poder descansar, no entanto, só encontrou mais confusão. Aquela guerra de comida foi a gota d’água. — Não só as brincadeiras das crianças. A visita dos Franklin foi algo bem desagradável. Pensei que fosse chamar seu tio e pedir que ele a levasse embora. — Decidi ficar — afirmou, ao colocar o suco ao lado do prato. — Fique aqui enquanto janto. — Está bem. Ficarei um pouco. Sentou-se na beira da cama, já que não havia outra cadeira no quarto. — Enquanto estava no banho, pensei até em provocar um defeito no carro do reverendo para que não a levasse à cidade — declarou Mac, ao morder uma coxa de frango. — Graças a Deus não o chamou. — Mac, eu... — falou Vera, levantando-se. — Preciso ver Tai e depois vou para meu quarto e... — Mais tarde — interrompeu, com firmeza e olhar intenso. Vera sentou-se outra vez. — Deve estar cansado. Eu estou. Depois do dia que teve, acho que está precisando de descanso. Não me contou como encontrou Brick e o que o xerife disse. — Os garotos já estavam bem longe, mas Jack Tate, o xerife, chamou a polícia estadual pelo rádio para que nos ajudassem a localizar os meninos sem fazê-los fugir em alta velocidade. Ainda bem que deu certo. Os policiais os encontraram e os levaram para a delegacia onde eu e Jack estávamos. — Espero que as crianças tenham aprendido a lição. — Bem, ficaram muito impressionados com os soldados e assustados com as viaturas. Acho que não repetirão a aventura. Jack levou Jimmy Crow para a casa de seus pais, e eu trouxe Brick, que não falou muito na volta. Pediu para colocar algumas de suas fitas no gravador. As músicas de que ele gosta são horríveis. Já ouvi alarmes de carro com som mais agradável. — Está falando como um tio antiquado que não gosta de sons modernos. — Não sou antiquado, mas realista. Aquilo é de deixar qualquer um louco. Os dois acharam graça dos últimos acontecimentos. Mac colocou os talheres


sobre o prato vazio, deixando apenas o bolo de abóbora. — Não vai querer a sobremesa? — Se fosse uma torta, eu até provaria, mas bolo! — Mac levantou-se e andou na direção da cama, com um olhar reluzente. — Estou interessado em outro tipo de sobremesa. Assim como você — afirmou, sentando ao lado de Vera. O coração dela batia acelerado, e a insinuação de Mac deixou-a confusa. — Preciso sair daqui — murmurou, tentando convencer a si mesma. No entanto, não teve forças para se mexer. — Obrigado por ter me trazido o jantar. Foi muito gentil de sua parte — agradeceu, com voz suave, passando os dedos pelos cabelos castanhos e lisos de Vera. Ela olhou o robe branco contrastando com a pele bronzeada do peito viril e percebeu que aquela era a única roupa que Mac usava. — Venha cá. — Com delicadeza, colocou as mãos nos ombros de Vera e deitou-a na cama, sentando-se em seguida a seu lado. O olhar intenso e dominador a deixava excitada e com medo ao mesmo tempo. Porém, esse medo também a excitava. — Seus olhos são lindos — ele declarou, passando os lábios pelo rosto dela, que não conseguia resistir aos carinhos. Mac deslizou as mãos pelas pernas e pela curva do quadril. — Suas pernas são bonitas — murmurou —, longas e bem-feitas, quero vê-las sem essa calça. O tom sensual da voz máscula a deixava tonta. Permitiu que ele percorresse e descobrisse cada parte de seu corpo. — Mac, por favor. Nós mal nos conhecemos. — Tentou ser racional; no entanto, impulsionada pelo desejo enlouquecedor, abraçou-o, querendo cada vez mais. Mac afastou-se e começou a desabotoar a camisa. Quando abriu o botão da calça, Vera colocou as mãos sobre as dele. — Nos conhecemos há apenas dois dias — argumentou, ofegante. — Meu bem, nessa casa um dia vale por cinco anos de prisão, e, como nos


conhecemos há dois dias, isso vale por... — declarou, beijando as delicadas mãos. — Dez anos? — Você é de fato boa em matemática. — Mas não acho que estar nesta casa seja o mesmo que estar numa prisão — admitiu, serena. — Não? Acha que pode se acostumar à fazenda? — indagou, massageando-lhe as costas. — Gosto daqui, acho que já me acostumei. — Você realmente pertence a este lugar. Está predestinada, e qualquer um que se ajuste a esta casa de loucos deve fazer parte da família. Ele poderia estar brincando, mas Vera adorou o que ouviu. Ela pertencia ao lugar onde encontrou as pessoas com quem sempre sonhara. — Obrigada — agradeceu, com os olhos brilhantes. Mac ficou comovido. Vera parecia tão doce, amável e feliz. Não costumava se incomodar com esses sentimentos e reações femininas, mas tudo estava diferente naquele momento. Ficou satisfeito e quis protegê-la e possuí-la. Estava louco de desejo. Afastou o cinto do robe e deitou-se sobre ela. — Não se preocupe, algumas pessoas demoram anos para se conhecerem, outras conseguem fazê-lo em apenas algumas horas. Tempo é irrelevante, especialmente para nós. Logo estaremos casados. Quero vê-la em minha cama todas as noites a partir de hoje. Vera imaginou-o indo embora após uma noite de amor. Não conseguiria suportar a dor de ser abandonada. Talvez todo esse medo fosse a razão de ainda ser virgem aos vinte e seis anos. No entanto, as promessas de Mac a fizeram mudar de idéia. Ele queria casar-se e deitar todas as noites a seu lado. — Parece uma menina amedrontada. Sei que não está com medo de mim e quer fazer amor comigo. Foi por isso que veio aqui, não foi? — Só queria trazer seu jantar — sussurrou Vera. — Tenta se enganar, mas de qualquer forma está aqui agora. Sem mais conter seus instintos, abraçou-a e terminou de despi-la.


— Quero senti-la — declarou, fascinado pelo contorno delicado dos seios, tomando-os na mão e em seguida sugando-os e acariciando-os com a língua. — Você é linda. Respirou fundo e aproximou-se para beijá-la. A sensação de ter o corpo de Mac junto ao seu a fez delirar. Acreditava no que ouvia, não havia razões para duvidar. Passou as mãos pelas costas fortes e musculosas e o pressionou contra os seios macios. Com delicadeza, Mac se pôs sobre ela e abriu as pernas bem torneadas de Vera, que sentiu o membro viril penetrando-a. Não conteve um gemido, e os olhos se encheram de lágrimas. Mac levantou o rosto e fitou-a, perplexo. — Nunca fez amor antes? — indagou, sabendo a resposta. — Não — admitiu, fechando os olhos, ainda estranhando o contato e sentindo dor. — Achei que fosse inexperiente, mas nunca pensei que... — Fosse virgem — disse, tentando parecer descontraída. Não queria parecer uma mulher que chora por qualquer coisa. Mac percebeu os olhos cheios de lágrimas. — Meu Deus! Não chore — implorou, emocionado. — Sinto muito, não quis que o homem mais experiente e cobiçado de Bear Creeck ficasse às voltas com uma virgem chorona em sua cama. — E pensar que cheguei a dizer que não havia razão para ficar nervosa — comentou Mac, sentindo-se culpado. — Realmente estava me trazendo só o jantar, não havia uma segunda intenção, e eu a interpretei mal. Nunca esteve com um homem antes... é virgem. — Não precisa ficar repetindo isso. É humilhante e... — Humilhante? Pensei que estivesse sofrendo, sentindo dor. — Estou, ou melhor, estava — afirmou ao perceber que seu corpo se adaptava aos poucos ao dele. Mac se mexeu, e Vera estremeceu de prazer.


— Está melhor agora? — perguntou, com voz rouca. Ela assentiu. A sensação de ardor tinha desaparecido e agora experimentava algo totalmente novo. — Não quero que sinta-se humilhada. Se estava se preservando para o casamento, logo estaremos casados e poderemos fingir ser esta a nossa noite de núpcias. — A capacidade que tem de entender mal os fatos é inacreditável. Senti-me humilhada porque você fez com que me visse como um ser de outro planeta só porque nunca... tinha tido uma relação sexual antes. — Sinto muito tê-la feito sentir-se mal. Você é uma mulher linda, carinhosa e responsável. Sou privilegiado por ter sido o primeiro. — Obrigada, Mac — sussurrou. — E posso garantir-lhe que nunca disse isso a outra mulher, nunca me envolvi com uma virgem. Hoje é a primeira vez para nós dois — confessou, inclinando-se para beijá-la. Um delicioso tremor tomou conta do corpo de Vera, que o abraçou com força. Os movimentos lentos foram ficando mais intensos e rápidos até que os dois atingiram o clímax juntos. Vera não conteve um gemido de prazer. Mac deitou-se ao seu lado e a colocou sobre o peito. Estavam felizes e satisfeitos. — Você está bem? Eu a machuquei? — Estou ótima — assegurou, sem contar que o que sentia era algo indescritível. Tinha vontade de rir, dividir seus sentimentos, pular de alegria. No entanto, por achar que para Mac aquele ato não tinha sido tão especial quanto para ela, calou-se. — Devo voltar para o meu quarto — murmurou —, não posso ficar aqui. — Por que não? — ele indagou, após apagar o abajur lateral. — Não quero que as crianças nos encontrem juntos, e eu também não conseguiria dormir aqui. — A porta está trancada, ninguém virá nos incomodar. E o que quer dizer com "eu não conseguiria dormir aqui"? — perguntou, não muito satisfeito com o


comportamento de Vera. — Este colchão é muito melhor que o seu. — Virou-se e passou os braços pela cintura delicada, puxando-a para mais perto. — Não me refiro ao colchão. É que... além de não ter tido relações sexuais antes, nunca dormi com ninguém. Meu sono é muito agitado, se eu ficar aqui, nenhum de nós conseguirá dormir. — Vamos tentar. Você ficará aqui, meu bem. — Você é tão autoritário! — exclamou, tentando afastar-se, porém sem sucesso. — Boa noite, querida. Vera ficou irritada diante da teimosia de Mac. E do silêncio também. Ele não dissera uma só palavra a respeito do ato sexual em si. Não disse se gostara ou não. — Mac, não adianta, não consigo dormir aqui — insistiu. — Deixe-me ir. — Não. Vera tentou controlar-se. Não poderia culpá-lo por estar tão cansado e com sono ao invés de eufórico com o que acontecera. — Tudo é tão fácil para você — acusou, fitando-o, pois queria ouvir dos lábios do homem por quem se apaixonara que fazer amor com ela fora especial. — Fácil? Não entendo. Acabei de fazer amor com minha futura mulher, e agora está na hora de dormir juntos. Mac falava com segurança e otimismo. Fechou os olhos, negando-se a fazer divagações sobre o assunto. Antes de dormir, pensou que deveria agradecer ao reverendo com algum tipo de donativo para a igreja. Vera ficou mais alguns minutos acordada, ouvindo a respiração de Mac, que dormia abraçado a ela. Percebera que era inútil discutir com ele, esperaria mais um pouco e iria para o seu quarto. Apesar da agitação emocional, seu corpo estava relaxado. O quarto estava escuro e silencioso. Mac os cobrira com um cobertor grosso para não sentirem o ar frio da noite. Seus olhos começaram a ficar pesados, tinha que fazer um grande esforço para mantê-los abertos. Vera respirou fundo, ficaria só mais alguns minutos...


CAPÍTULO OITO O insistente alarme do relógio não parava de tocar. Mac acordou e o desligou. Vera abriu os olhos e percebeu que já amanhecera, e ela estava ainda nua na cama. — Fique aqui e volte a dormir — sugeriu Mac. — Vou acordar as crianças para irem à escola, mas você pode... — Vou me levantar — interrompeu, levantando-se e indo para o banheiro. Fechou a porta e a trancou. Mac sorriu, achando graça ao ouvir o barulho da chave. Estava com vergonha de sua nudez. Lembrou-se da noite anterior. As cenas sensuais eram inesquecíveis. Vera havia sido tão doce, apaixonada, e era tão excitante. Fora o primeiro homem e seria o marido dela. Nu, foi abrir as cortinas da janela. O dia estava nublado e chuvoso. Começou a assobiar. Pegou o robe do chão e o vestiu. Estava pronto para começar um novo dia. Vera colocou mais uma panqueca no prato de Brick. Já era a terceira que o menino comia. Anne ainda tentava terminar a primeira. Lily tomou uma xícara de chá e comeu uma torrada. Clay, que ainda não podia ir à escola, dormia em seu quarto. Tai entrou na cozinha, miando. — Tai dormiu na minha cama esta noite — declarou Anne. — Quando acordei, ele estava nos meus pés, e eu nem havia percebido. Vera colocou a comida do gato na tigela e deixou-o entretido com sua primeira refeição. — É ótimo podermos tomar um café da manhã como este! — exclamou Mac, entusiasmado, servindo-se de mais uma panqueca. — Fazia muito tempo que não tínhamos nada preparado na hora. O reverendo está certo, você é ótima cozinheira, Vera.


— Pelo seu olhar, tio, posso ver que ela não é só uma ótima cozinheira — provocou Lily. Vera corou, envergonhada. — Lily! — Mac repreendeu a sobrinha. — O que Lily quer dizer? — indagou Anne, colocando mais mel sobre a panqueca. — Significa que todos estamos muito felizes por Vera estar aqui conosco e preparando nosso café da manhã. — Brick, por que está usando uma camiseta branca e jeans? Hoje é o dia de irem fantasiados à escola. Deve usar algo fora de moda. — O quê? — surpreendeu-se Brick, quase engasgando. — De que está falando? — Oh, oh — murmurou Lily, preocupada. Anne, entusiasmada, contou a descrição que Joana Franklin fizera sobre a festa. — Eu não vou. Vou sentir-me ridículo usando algo cafona. Ninguém pode me forçar a ir. — Brick, você tem que ir à escola. Não foi ontem e já perdeu muitos dias — afirmou Mac. — Então vou perder outro — reagiu. — Por que não adiam essa discussão? — sugeriu Lily. — Ainda são sete horas da manhã. Vera olhou para Mac e Brick. Um encarava o outro com inflexível determinação. Viu que Anne sorria, satisfeita ao ver o irmão em apuros. — Não me incomodo se Brick ficar em casa — afirmou Vera, tentando impedir outra briga. — Ele pode me ajudar a entreter Clay. Podem jogar videogame, e coisas assim. — Concordo — consentiu Brick, com o olhar triunfante. — O garoto não vai ficar em casa, Vera. Não é uma questão de fazer escolhas — declarou Mac, irritado.


— Ela disse que posso ficar e vou obedecê-la, e não a você — enfrentou Brick. — Brick fazia o mesmo com o tio James e a tia Eve. Estavam quase se divorciando por causa desse tipo de provocação. Antes que tudo piorasse, mandaramnos para cá — informou Lily. — Não posso recriminar Brick por não querer usar roupas cafonas. No meu tempo, havia também esse tipo de brincadeira. Eu era nova na escola, tinha acabado de chegar à cidade e usava roupas diferentes das outras crianças. No dia da festa, algumas meninas vieram fantasiadas de Vera. Percebi que eu era o modelo da cafonice. Não foi um dia muito agradável para mim. — Que malvadas! — exclamou Anne, indignada. — Isso foi há muito tempo, Anne. Porém, o resultado dessas brincadeiras sempre acaba machucando alguém. — Na minha escola tem um grupo de meninos muito tímidos. Aposto como os chatos do grupo de Snot farão algum tipo de brincadeira de mau gosto — disse Brick, pensativo. — Mas Jimmy e eu não deixaremos que isso aconteça. Vou à escola hoje, tio Mac. Preciso estar lá, vou pegar meus livros. — E eu, os meus. Gostaria que na minha escola também tivesse uma festa como essa para eu poder defender os injustiçados. — Brick vai à escola de livre e espontânea vontade. Você é de fato boa com as crianças — admitiu Lily, admirada. — Ela é brilhante. — Mac sorriu. Atravessou a cozinha e passou os braços pela cintura de Vera. — Ter inventado essa história foi uma ótima tática. Obrigado por ter me poupado de uma discussão logo cedo. Com a agitação do café da manhã, Vera conseguiu manter o equilíbrio, mas a presença de Mac junto ao seu corpo a deixava perturbada. Lembrou-se da noite anterior e estremeceu. Afastou-se dele, constrangida pela presença de Lily, que os observava. — Acha que criei aquela história? — perguntou, tentando manter-se distante. Mac aproximou-se novamente. — Você foi ótima, muito criativa.


Não só Mac acreditava ser aquela uma história fictícia, quase todos os Wilde. Anne e Brick voltaram para a cozinha seguidos por Webb. — As crianças abriram a porta e pediram que eu entrasse — disse Webb, justificando sua presença ali. — Como está chovendo, os rapazes trabalharão nos celeiros, hoje. E, tendo que ir à cidade, pensei em levá-los à escola de carro. — Ótimo! — exclamou Brick, entusiasmado. — Não precisaremos pegar aquele ônibus velho. — Ou ficar na caminhonete esperando que o ônibus chegue — continuou Anne. Mac passara os braços pela cintura de Vera mais uma vez e a segurava próxima a seu corpo. — O ônibus da escola passa na estrada principal, e quando chove, levo as crianças de carro até o ponto. Assim, eles não ficam na chuva. — Esse encargo será seu após o casamento com tio Mac, esta é uma das mordomias que terá ao ser a sra. Wilde — comentou Lily. — Poderia contar-lhe outras mordomias que tenho certeza de que gostará muito — murmurou Mac, respirando próximo ao pescoço de Vera. Ela tentou afastar-se, porém só conseguiu fazê-lo parar com as provocações. — Pegue o livro, mocinha. Não quer atrasar-se, não é? — indagou Webb, olhando para Lily. Vera os observava. Havia um tom diferente na voz do administrador da fazenda. Os dois trocaram olhares, e ela andou de maneira sensual, encarando Webb. — Obrigado por levá-los — agradeceu Mac. Lily sorriu com malícia ao sair da cozinha. Seria ele o amor secreto da sobrinha de Mac? Vera engoliu em seco e olhou para ele. Queria ver se ele percebera algo diferente entre Lily e Webb, mas estava tão concentrado em analisá-la que nem notou a saída dos sobrinhos. — Clay ainda está dormindo, e já que não tomamos banho esta manhã, poderíamos aproveitar e irmos juntos para o chuveiro.


O coração de Vera bateu acelerado. Foram até o quarto. Mac trancou a porta e beijou-a com ardor. Vera entregou-se à paixão e abraçou-o com carinho. — Estava ansioso para tocá-la desde o momento em que acordamos, mas se levantou tão rápido e logo se ocupou com as crianças. — Elas são o motivo da minha presença aqui — lembrou Vera. Sabia estar apaixonada por ele e que esse sentimento não era recíproco. — Não vamos começar tudo de novo. — Suspirou. — Fizemos amor e você é minha. Pertence a mim. Mac não conseguia imaginá-la com outro homem, e só ela poderia ser sua mulher. Estava assustado, pela primeira vez na vida considerava uma mulher como parte de sua existência, e não como um mero instrumento de prazer. — Venha — chamou-a para o banheiro. Tirou o robe e convidou-a: — Tire logo as roupas e entre aqui. — Preciso ver Clay. E se ele acordar? — Estava constrangida por vê-lo nu no chuveiro. — Pegará um pacote de cereais e ficará assistindo à televisão. Adora os desenhos animados desse horário. Mac puxou-a e começou a despi-la. — Mac! — exclamou escandalizada e atraída pelo banho sedutor e sensual. Com as mãos, começou a molhá-la. — Está quebrando uma de suas regras. "Sem mais guerras de água" — afirmou Vera, com as pernas trêmulas. Tudo era novo para ela e muito excitante. — Uma exceção à regra, porque você é especial, meu bem. Agora, venha. Aos poucos, Vera foi se sentindo mais à vontade para conhecer os próprios desejos e percorrer o corpo viril de Mac com desinibição. Amaram-se, loucos de desejo. Saciados, tomaram banho juntos. Ao ensaboar a barriga de Vera, ele viu uma cicatriz. — Apendicite? Foi há muito tempo? — Sim. Tinha seis anos. Passei mal na escola e fui levada às pressas para o hospital. Operaram-me no mesmo dia. Estava com medo a princípio, mas meu pai


deu um jeito para eu não ficar sozinha no hospital. Minha mãe trabalhava em uma loja de departamentos, estava em uma importante viagem de negócios e não podia voltar para casa. Ele ficou comigo e até dormiu na cadeira ao lado da cama. — Seu pai seria o reverendo Will? — Sim. Sempre o considerei como pai, e em minhas lembranças ainda o vejo como tal. — Foi difícil para você perder um pai e vê-lo transformar-se em um falso tio. — Foi muito difícil. — Por isso não conseguiu confiar nos homens após ter sido passada para trás — comentou, orgulhoso de si por ter sido o primeiro. — Isso explica manter-se virgem até os vinte e seis anos. — Por favor! Não comece com psicologia — comentou Vera ao buscar uma toalha. Não queria ser analisada por Mac Wilde. — Você está comigo e ficará para sempre. Provou que é isso o que quer ao dormir comigo. — Talvez estivesse só com vontade de perder minha virgindade. Mac achou graça. — Bem, agora não é mais. É minha sexy e doce noiva — declarou, secando-a com uma toalha azul. — Mac, sei que precisa de alguém para cuidar das crianças, mas deve considerar o que isso significa para eles. Se daqui a alguns anos se arrepender, será muito difícil para seus sobrinhos, em especial Clay e Anne. — Isso não acontecerá — afirmou, determinado. — Dará tudo certo. Teria sido o momento ideal para dizer-lhe que se apaixonara também, que jamais se separariam. Vera gostaria de ouvi-lo confessar o seu amor. No entanto, Mac ficou em silêncio. Vera, sabendo que ele não mentia, concluiu que não havia amor. Meia hora mais tarde, os dois passaram pelo corredor. Mac caminhava segurando-a pela cintura. — Ainda está chovendo. Hoje, ficarei no escritório revendo alguns


documentos. Odeio esse serviço. — Odeia analisar a documentação ou ficar em casa? — Ambos. Sou um fazendeiro porque gosto de trabalhar ao ar livre. Não entendo como alguém consegue ficar preso em um escritório o dia inteiro. — Assim é o meu trabalho. — Era. Não voltará para lá. O tom possessivo da voz de Mac a fazia tremer na cama, mas, fora dela, Vera sentia necessidade de assegurar seu direito de escolha. Precisava deixar claro que poderia ser dominada algumas vezes, mas em outras certamente não. — Preciso voltar, Mac. Eu... — Não. Contratarei uma empresa especializada em mudanças para trazer suas coisas. Pode mandar a carta de demissão por fax. Não permitirei que vá. — Na verdade, não precisarei me demitir. Meu cargo foi cortado, redução de despesas — confessou com dificuldade, mas precisava ser honesta com ele. — Estou em minha semana de férias e preciso trabalhar mais duas semanas. — Não voltará. Quem se importa se estará lá ou não para trabalhar essas semanas? Se já foram estúpidos o suficiente para demiti-la, não devem ter o privilégio de sua presença. Nós é que merecemos. Seus dias como empregada estão terminados. Acostume-se com a idéia. Ela já se acostumara e estava gostando da nova vida, apesar de ainda estar meio confusa. O som da televisão levou-os até a sala. Clay estava sentado no sofá comendo sucrilhos e entretido com um desenho do Papa-Léguas. Tai olhava a chuva pela janela. Ignorou a presença de Vera e Mac, assim como Clay. — Viu como estava certo? Cereal e desenho. Acho que vou para o escritório agora. Vejo-a mais tarde. Deixara a responsabilidade com Clay nas mãos de Vera, que aceitara com naturalidade. Observou-a sentar-se ao lado da criança e começar a conversar. Agradeceu a


Deus por ela estar ali; caso contrário, ele mesmo teria que ficar com o sobrinho. Meia hora mais tarde, o telefone tocou. Vera estava na cozinha vendo o menino fazer as lições. — Aqui é da Escola de Bear Creek. Estamos ligando para saber se Lily ainda está doente. — Está doente... — repetiu Vera, sem entender o que estava acontecendo. A pessoa entendeu como uma confirmação do fato. — Obrigada. Espero que melhore logo. — E desligou. Ficou pensativa. Lily não estava na escola? A cena da garota passando na frente de Webb e sorrindo veio à sua mente. Seria ele o responsável pela ausência de Lily ou a teria deixado na escola? E se Webb fosse o tal sr. Paraíso? Decidiu manter suas suspeitas para si. Perguntaria a Lily quando voltasse. Acusar o administrador sem ter provas não era certo. Ainda chovia quando Lily entrou em casa com Brick e Anne naquela tarde. — Não precisamos pegar o ônibus e andar por aquela estrada lamacenta — informou Anne. — Webb nos pegou na porta da escola. Vera olhou para a adolescente e viu a mesma expressão de satisfação na garota, que foi direto para seu quarto, alegando dor de cabeça. Vera não se convenceu e decidiu ir conversar em particular com ela. Porém, Mac e os três menores entraram na cozinha procurando por comida. Todos sentaram-se à mesa e comeram com calma. Era evidente a mudança nos hábitos, e Mac estava satisfeito com os resultados. Ficou a observá-la sentindo o prazer de admirá-la. Vera vestia uma blusa cinza com um leve decote e calça jeans. Ele não se cansava de admirar o colo de pele alva e as pernas bem torneadas. Imaginou-a com as roupas íntimas e estremeceu. Pensou em levá-la para a cama novamente, mas conteve-se. As crianças estavam lanchando. — Estou namorando com Courtney Egan — anunciou Brick, orgulhoso. — Ela é a garota mais bonita da escola.


— A filha de Tom Egan? — indagou Mac, curioso. Tom Egan era o procurador da cidade e antigo amigo de Mac, que dizia não ter esse relacionamento afetado pelo entusiasmo do sobrinho. — Ela estava linda hoje. Veio conversar comigo e me convidou para sua festa de aniversário sexta-feira. Concordei, e ela me mandou um bilhete. — E agora estão juntos? — perguntou Vera. — Você é muito rápido, Brick. Um romance que surgiu como um furacão. Mac gostava do senso de humor dela. Era divertido viver dividindo experiências. — Brick é tão impulsivo quanto eu — concluiu, piscando para o sobrinho. — Espero que não seja tão apressado. — Segurou a mão de Vera e beijou-a. A chegada do reverendo Franklin alguns minutos mais tarde interrompeu a conversa na mesa da cozinha. Mac convidou o pastor para entrar, apesar de não estar satisfeito com sua presença. Foi educado, porém frio. O reverendo, por sua vez, ignorou-o. Concentrou toda a atenção em Vera. — Vai jantar comigo esta noite, minha querida — insistiu, segurando suas mãos. — Ginny preparou alguns pratos deliciosos, e depois iremos à quermesse da igreja, é a Festa do Elefante Branco e haverá venda de roupas no final. Poderá conhecer outras pessoas e... — Elefante? Branco? — repetiu Clay, surpreso. — Já vi tigres brancos no zoológico. Haverá elefantes na igreja? É um circo? O pastor não gostou da intromissão. — Não é educado interromper os outros quando estão falando. Deixe-me acabar e lhe explicarei. — Quero ver os elefantes também. Podemos ir, tio Mac — continuou Clay. — Por favor! — Um elefante branco não tem nada a ver com o animal — explicou Mac, com paciência. — As pessoas levam objetos que não usam mais ou não querem mais e os vendem para outras pessoas. — Até roupas velhas? — Clay estava perplexo.


O reverendo começou a ficar impaciente. — As pessoas trazem as roupas que já não têm valor para elas e as vendem na quermesse. E as pessoas que compram economizam dinheiro porque o preço é menor — Vera explicou, de novo tentando fazer as crianças compreenderem do que estavam falando. — Tenho várias roupas que não uso mais! — exclamou Anne, excitada. — Posso conseguir algum dinheiro com elas? — Não. As roupas são doadas, etiquetadas, e o dinheiro arrecadado é da igreja — finalizou o pastor. — Estamos fugindo do assunto, estava falando do jantar de hoje à noite. — Quero que tia Vera fique aqui e não vá festa de elefante branco nenhum — reclamou Clay. — Diga a ela que não pode ir, tio Mac. Vera viu que Clay e Anne olhavam para o tio e para o reverendo, mexendo as cabecinhas como se assistissem a uma partida de tênis. — É claro que pode ir — afirmou o reverendo, com firmeza. — Vera não é uma prisioneira e é hora de ir visitar seus amigos na cidade. — E se ela quiser ficar com os amigos na fazenda? — perguntou Anne, inocente. — Sim — concordou Brick —, ela é a namorada de meu tio e o senhor não pode dizer-lhe o que deve fazer. Só ele pode. Mac sorriu para o garoto, aprovando o comentário, mas ficou em silêncio. Vera não poderia deixá-los pensar de maneira tão machista. — Não sou exatamente a namorada de seu tio, Brick. Além do mais, os homens não dão ordens às suas namoradas. As mulheres decidem o que devem fazer. Ninguém me diz o que devo fazer. — Quer dizer que faz tudo o que quer? — perguntou Anne, curiosa. — Sim. Bem, dentro dos limites, é lógico — esclareceu. Não poderia deixar os pequenos Wilde pensarem que a vida adulta era algo com liberdade sem fim. — Tudo seguindo as regras e com muita responsabilidade. Sempre dentro das leis. — Isso não me parece fazer o que se bem entende — comentou Brick. — Tio


Mac faz as regras e você não o desobedece. Então, ele diz o que você deve fazer. — Tio Mac é o chefe aqui — declarou Clay, repetindo uma frase que deveria ter ouvido antes. — Isso mesmo. E não se esqueça disso — concordou Mac, sorrindo. — Vamos voltar a falar sobre o jantar? — O reverendo estava impaciente. — Vera, espero que fique conosco hoje. Estou esperando há muito tempo a oportunidade de ficar algumas horas com você. — Gostaria muito — disse Vera —, irei sim. — Está certo, pode ir jantar com os Franklin — concordou Mac, não muito satisfeito. — Que magnânimo de sua parte dar-me permissão — falou, com tom irônico. — É claro que irei, reverendo. — Nem mesmo tio Will? — Tio era a forma como ela o chamava quando ainda era uma criança. Pai era outra, não era? Mas Vera agora cresceu, já é uma mulher e logo será sra. Macauley Wilde. Nos olhos de Mac, Vera viu muita determinação e a vontade de desafiar. Não se constrangia com a presença de ninguém. — Já contei a vocês que as crianças e eu iremos jantar na cidade esta noite. Clay está quase bom, já passou o período de contágio. Merece um passeio diferente. O que preferem: Burger Barn ou Pizza Ranch? Os três pequenos Wilde ficaram entusiasmados com a notícia e despediram-se de Vera. Mac os acompanhou até a porta. — Depois que comermos iremos até a quermesse. Clay está muito curioso, nunca foi a uma, vou mostrar como é. Será uma ótima experiência para ele. Nos encontraremos na festa e viremos juntos para casa, Vera. Assim, o reverendo não precisará vir até aqui. — Gostaria que ela passasse a noite conosco — declarou Will Franklin. Mac negou com um movimento de cabeça. — Eu a trarei de volta — afirmou decidido, abraçando-a com firmeza. —


Encontro com você mais tarde, meu bem. — Está muito sério, Mac. Isso é uma promessa ou um tipo de ameaça? — provocou o reverendo. — Ela é quem decide — respondeu Mac, deixando-a ir.

CAPÍTULO NOVE — Vera, minha querida. Não sei como me desculpar por tê-la trazido a Bear Creek sob essas circunstâncias. Como pude envolvê-la com os Wilde dessa forma? Estou tão arre... — Está tudo bem, tio Will — interrompeu. O pobre homem se desculpava desde que entrara no carro. — Não, não está tudo bem. Só vejo que Mac está determinado a casar-se. Apesar de admirá-lo pela dedicação aos sobrinhos, não posso concordar com a forma como a está tratando. Vera ficou em silêncio. Não se sentia à vontade para contar como ficara íntima de Mac em tão pouco tempo. — Ele é um homem forte e dominador — continuou o reverendo. — Um bom homem, mas está acostumado a fazer tudo a seu modo. Tenho medo dos métodos que pode usar para alcançar seu objetivo. Acredito que fará qualquer coisa para fazê-la ficar na fazenda com aquelas crianças... difíceis. — São apenas criativas e espirituosas — defendeu Vera. — Minha querida, não precisa escolher palavras tão gentis para descrevê-las. Pode ser franca comigo, estou preocupado com você. Não quero que seja enganada por aqueles... — Tio Will — interrompeu-o. — Estou considerando seriamente a hipótese de casar-me com Mac. O pastor olhou-a, assustado.


— Adoraria a notícia se tivesse certeza de que sabe o que está fazendo, Vera. Mas não sabe. Mac a manteve lá, afastada de todos. Usou seu poder de sedução, sua experiência para persuadi-la a casar-se. É tudo muito conveniente para ele. — Mac não está me forçando a nada. — Ele a fez acreditar que tem participação nas decisões. Vera suspirou. — Mac não é esse vilão, tio Will. Você é quem sugeriu que eu serviria para os planos dele. — Pensei que vocês dois pudessem se apaixonar, mas não dessa forma. Deveriam se conhecer aos poucos e ir desenvolvendo um relacionamento maduro. Ao invés disso, ele a raptou no aeroporto e a manteve prisioneira na fazenda. — Como pode ver, não sou prisioneira de ninguém. Estou aqui, não estou? — Ele permitiu que viesse e passasse algumas horas fora de casa. Viu como insistiu em levá-la de volta para o cativeiro? — Sim — afirmou. Ao pensar em Mac querendo-a de volta, estremeceu. Ele a queria ao seu lado na cama naquela noite. Sabia dos truques que Mac usara, e, se casando, teria a vida com que sempre sonhou. Ficou observando o antigo padrasto. Tanto ele, quanto sua mãe refizeram suas vidas e a deixaram de lado. Sentiu-se necessária e integrada a uma família no momento em que conheceu os Wilde. Agora sentia que precisava deles tanto quanto eles dela. Como explicaria um laço tão forte a Will Franklin? Sabia que jamais conseguiria fazê-lo compreender. — Onde está o seu bom senso, Vera? E o orgulho? — lamentou o reverendo. — Costumava ser tão realista e prática quando criança. Não é você que Mac quer, é alguém que cuide das crianças. É claro que não se importa em usá-la fisicamente. O comportamento dele não é baseado em sentimentos, como amor e respeito. Não está vendo-a como indivíduo. Casaria com qualquer uma que concordasse com seus termos. — Mac foi honesto comigo desde o princípio. Nunca tentou me enganar, e


honestidade é uma das bases para um bom relacionamento, não é? — Mac não precisa enganá-la, você está fazendo um ótimo trabalho enganando a si mesma. Sei, por experiência própria, que esse tipo de casamento não funciona. Estava muito apaixonado por sua mãe e queria tanto casar-me com ela que não me importei quando disse que não me amava, desde que se casasse comigo. Seria um bom pai e um bom marido. Quando ela conheceu Drew Answell e se apaixonou por ele, tudo desmoronou. Não quero que passe pelo que passei. Vera ficou em silêncio durante o percurso até a cidade. O reverendo Franklin falou mal de Mac todo o tempo. Ela sentiu-se descartável, usada e manipulada. Estava desmoralizada diante da situação. Ao chegarem à porta da casa dos Franklin, ele disse: — Vera, antes de entrarmos... bem, Trícia e Joana não sabem que me casei com sua mãe. Ginny nunca quis contar-lhes a verdade. Achou que pudessem ficar traumatizadas ao saber que o pai amara outra mulher além da mãe delas. — Acho que Ginny foi quem ficou traumatizada — afirmou Vera. — E parece que ainda está. Mas não precisa se preocupar. Não contarei nada às suas filhas. Se perguntarem, direi apenas que conheceu minha família quando morou no Leste. O pastor respirou aliviado. Ginny, Trícia e Joana receberam-na com cordialidade. Sendo uma família importante na cidade, estavam acostumadas a receber visitas. No entanto, a dona da casa não conseguiu disfarçar sua antiga animosidade. Vera respondeu a algumas perguntas de Joana sobre Brick. Trícia fez comentários maldosos sobre Lily, e Vera fingiu não entendê-los. Depois do jantar, quando as filhas estavam na cozinha e o reverendo atendia a um telefonema, Ginny e Vera ficaram a sós. Apesar de não ser mais uma criança de oito anos, sentiu as mãos suadas e ficou apreensiva. — Como está sua mãe? Vera quase deixou a xícara de café cair. — Está bem. Ela e Drew mudaram-se para a Carolina do Norte há sete anos. Ainda trabalha como compradora para a cadeia de lojas Miller-Richards, e Drew


advoga lá. Estão muito ocupados. — Sua mãe é uma das mulheres mais bonitas que já vi. Não pensei que Will se casaria com uma mulher como eu depois de tê-la como esposa — murmurou Ginny, olhando para a porta da cozinha, atenta para que as filhas não a ouvissem. — E também não entendo como ela pôde ter desistido de um homem tão bom quanto Will. Fico sempre achando que um dia se arrependerá e voltará para ele. Vera sentiu empatia pelo problema de Ginny. Era muito parecido com o seu. Estava apaixonada por um homem que a escolhera por razões pessoais e familiares, não por amor. — Tenho certeza de que Will jamais se casaria se não a amasse — afirmou Vera, tentando ser amável, porém, não tinha muita certeza do que dissera. — Queria muito falar com você, a sós, para desfazer os mal-entendidos. Pelo que ouvi, ficará morando na fazenda R.R. e será um membro de nossa congregação. Nos veremos com regularidade. Vera não respondeu. Longe de Mac e das crianças e depois de ter ouvido as histórias de Will e Ginny, ficou bastante pessimista. Se Mac não a amava, e ela sabia que não, quanto tempo duraria esse casamento? Ele estava sexualmente interessado nela por ser a única disponível em sua própria casa. Ela não significava nada para Mac, como seu tio Will dissera. E se Mac viesse a se apaixonar por outra mulher? Vera estremeceu. As pessoas não conseguem agir com raciocínio lógico quando estão apaixonadas. E ela estava indo em direção a um casamento com um homem que conhecera alguns dias atrás. Considerou suas opções. Viver em Washington com o gato e trabalhar para pagar suas contas seria pior do que ser rejeitada pelo homem de sua vida? — Fiquei surpresa quando Will me disse que estava em Bear Creek visitando Mac Wilde — continuou Ginny, perturbada com o silêncio de Vera. — Will me contou que o conheceu através de seu padrasto, que defendeu uma causa para Mac. Vera entendeu a explicação que seu tio dera à família, sem se envolver na história. Ficou impressionada com a criatividade do antigo padrasto. Lembrou-se da sinceridade de Mac, que não usou subterfúgios, nem


romantizou a situação, e mesmo assim a levou para a cama. Os olhos encheram-se de lágrimas, mas Vera se conteve. — Não há planos de casamento — afirmou, evitando encarar Ginny. — Posso entender sua hesitação. Não por Mac, ele é um homem bonito, capaz, responsável e muito cobiçado por todas as mulheres da cidade. Agora, aquelas crianças acabam com qualquer atrativo que ele possa ter. Vera não respondeu. Não tinha a intenção de discutir a vida dos Wilde com Ginny, que estava determinada a continuar. — E se mais tarde tiver um filho, não poderá dedicar-se só a ele, terá que dividir a atenção com todos. Se fosse você, os mandaria de volta para James e Eve ou para os avós. Por que Mac deve sacrificar-se por eles? Vera a observava, atenta. Será que Ginny percebera que estava falando também sobre o que sentira a respeito da ex-enteada do reverendo? E tendo sido rejeitada pelo padrasto, Vera faria o impossível para jamais fazer uma daquelas crianças sofrer o que ela sofrerá. Will Franklin voltou para a sala de jantar, sorrindo. — Estava ao telefone, e as garotas estão acabando de lavar a louça. Já estão prontas para irmos à quermesse? — Claro que sim — disse a dona da casa, beijando o marido e voltando-se para Vera: — Vai divertir-se muito. Nossa quermesse anual e as vendas Elefante Branco fazem parte da tradição de Bear Creek. Não é só para os membros da igreja, é aberta a todos os que podem comprar, vender ou simplesmente visitar a festa. Há ótimas ofertas em nossas barracas. — E algumas coisas horríveis — comentou Trícia, ao chegar à sala. — Não seja mal-educada. Lembre-se de que o lixo de uns pode ser o tesouro de outros. Ao passar pelos produtos oferecidos, Vera achou que havia mais lixo que tesouros. O casal Franklin parava para conversar com seus conhecidos e a apresentavam como uma amiga de Washington ou a amiga de Mac Wilde.


Tentou evitar dar respostas sobre Mac e sentiu-se o centro das atenções. O reverendo parou para conversar com um amigo, e ela continuou a andar com Ginny. Encontraram uma mulher chamada Jill Finlay, que era uma antiga namorada de Mac. — Foi difícil recusar a proposta dele, mas não poderia viver com aquelas crianças, e ele é irredutível. Não quer mandá-los embora. — Já falei sobre isso com Vera. Ela está indecisa quanto ao casamento — comentou Ginny. — É claro que deve estar! Que mulher em sã consciência agüentaria aquelas pestes? Até Tonya recusou-se a casar, e olhe que ela já está com trinta e quatro anos, divorciada e desesperada. Acho que Mac já percebeu que nenhuma mulher o aceitará com os sobrinhos. Aquilo era demais. — Gosto das crianças, não tenho problema algum quanto a morar com eles. Meu problema é Mac, é ele quem me faz hesitar — afirmou e sorriu para as duas, que ficaram boquiabertas. — Tia Vera! Tia Vera! Estamos aqui! — gritaram Clay e Anne, correndo ao seu encontro. Satisfeita por vê-los, os abraçou. — Comemos no Pizza Ranch — exclamou Anne. — Agora quero comprar alguma coisa. Tem um kit com linhas e contas para fazermos colares e pulseiras. — Eu quero uma lancha com torpedo daquela barraca de brinquedos. Custa quatro dólares e está quase nova, mas esqueci meu dinheiro em casa. Compre para mim, tia Vera! — Você disse que só gosta dos Power Rangers, por que vai comprar a lancha dos Comandos em Ação, seu bobo? — provocou Anne. — Gosto dos dois. Pare de me encher, fique quieta — ordenou Clay, empurrando a irmã em cima de uma barraca cheia de revistas. Pelo menos cinqüenta delas foram para o chão. Anne começou a chorar. — Acho que meu braço quebrou em três pedaços diferentes.


— Você me chamou de bobo! — gritou Clay, tentando defender-se. Vera percebeu que todos os observavam, com exceção de Mac. Toda a cidade estava ali. Examinou o braço da menina e viu que nada sério tinha acontecido. Começou a recolher as revistas e pediu que as crianças a ajudassem. Nenhum deles fez menção de obedecê-la. Continuaram a chorar. Brick chegou quando as revistas já estavam em seu devido lugar. — Calem a boca, parecem dois bobos chorando como bebês. — Não é verdade — respondeu Anne, indignada. As lágrimas dos dois desapareceram em poucos segundos. — Onde estão Lily e seu tio Mac? — perguntou Vera a Brick. Apesar dos olhares não estarem tão atentos, ela notou que ainda eram a atração principal da festa. — Lily disse que estava com dor de cabeça e quis ficar em casa. Tio Mac achou que era desculpa para poder sair sozinha, então mandou Webb ficar lá, vigiando-a. — Vigiando-a... — repetiu Vera, pensativa. Se estivesse certa, Mac estava colocando uma raposa para tomar conta de sua criação. — E tio Mac ainda está com ela — continuou Brick, olhando para os irmãos. — Estão lá dando risadas. — Ela quem? — perguntou Vera, curiosa. — Marcy Tanner — informou Brick — sentou-se conosco na pizzaria e fez de tudo para ser simpática com tio Mac. Ela é horrível. — Não fala com a gente, nos odeia — disse Anne. — Trícia Franklin contou a Lily sobre as mulheres que não querem mais sair com o nosso tio por nossa causa, e Marcy é uma delas. — Tia Vera, se eu contar-lhe um segredo, algo feio, ainda comprará a lancha para mim? — sussurrou Clay, puxando-a pela manga da camisa. Vera acompanhou os olhares das crianças e viu Mac entrar na quermesse com uma mulher loira segurando seu braço. Ela sorria, e os olhos azuis brilhavam. Mac também estava contente.


Sentiu ciúme ao vê-los. Controlou-se para conter o impulso de ir afastá-los, se preciso com o uso da força. Seus instintos assustaram-na. Sempre resolveu os problemas com calma e paciência, mas agora, apaixonada, viu-se forte para lutar. — Não se preocupe, logo ela vai embora — cochichou Anne ao ouvido de Vera. — É mesmo, nós demos um jeito para nos livrar dela — afirmou Brick, orgulhoso. Vera olhou para as crianças, assustada. — O que vocês fizeram? — Escondemos sua carteira — exclamou Anne, eufórica. — Brick a tirou da bolsa e eu escondi no banheiro das mulheres da pizzaria. — Logo que ela for comprar algo, verá que sua carteira sumiu — explicou Brick, achando graça. — Sairá para procurá-la, e quando a achar, já estaremos longe daqui. Vera ficou horrorizada. — Que coisa feia. Vocês sabem que é errado roubar, e foi isso o que fizeram, vocês roubaram! E se alguém levar a carteira do banheiro? Quero que vocês contem tudo a ela agora. — Olhe, é Courtney Egan! — Entusiasmado, Brick virou-se para ir ao encontro da garota. — Vejo vocês mais tarde. — Você vai beijá-la? — indagou Anne, vendo o irmão partir. — Cale a boca! — gritou o garoto, indo embora. — Vamos comprar a lancha, tia Vera? Vera sentiu a cabeça latejar. Não era fácil concentrar-se, com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Mac e Marcy, Lily e Webb, Brick e Courtney, Clay e Anne brigando. E ainda a carteira de Marcy. Os Wilde não eram apenas formidáveis, eram implacáveis. — Por favor, tia Vera — implorou Clay. — Vou contar-lhe um segredo. — Está certo. Que segredo? Clay, não quero que empurre mais sua irmã.


Promete? — Prometo. — Anne, não vai mais chamar seu irmão de bobo ou qualquer outra coisa. Agora devem contar a Marcy Tanner onde colocaram a carteira. — Marcy é chata e feia e come cuspe. — Anne, isso é nojento! Clay riu e explicou o que a irmã dissera. — Eu cuspi no prato de Marcy e ela nem notou. Comeu tudo! — Até o último pedaço! — disse Anne. — Também fiquei com tanto nojo que quase vomitei. Já era hora de mostrar autoridade àquelas duas crianças. — Vocês trataram Marcy muito mal e devem pedir desculpas. — Depois que comprarmos a lancha. — E eu quero meu kit de bijuterias. — Não faremos nada e não compraremos nada até que façam a coisa certa — disse Vera, com paciência e em voz baixa. — E o certo é contar a Marcy sobre a carteira e pedir desculpas por terem sido mal-educados. Não precisam entrar em detalhes. Apesar de Vera não ter gostado da ex-namorada de Mac, sentiu necessidade de protegê-la. — Esperarei por vocês aqui — afirmou, decidida a não acompanhá-los. Não poderia deixar de lado seu orgulho e bom senso. Anne e Clay trocaram olhares. Vera sabia que podiam causar uma grande confusão. Não sabia o que fazer, mas não poderia recuar. Ficaria esperando as crianças. — Faremos tudo certinho — informou Anne. Pegou a mão de Clay e correram em direção ao tio. Todos ouviram quando Marcy Tanner gritou e avançou nas crianças, que foram mais rápidas e saíram correndo para perto de Vera. A ex-namorada saiu furiosa da quermesse. Toda a cena foi vista por um público ávido. Vera viu a expressão do rosto


de Mac mudar. Estava indignado. Andou firme em direção aos sobrinhos, que tentavam se esconder. Vera sentiu um nó no estômago. — Pedi desculpas por ter cuspido no prato em que ela comeu, tia Vera — exclamou Clay. — E eu contei que vi a carteira no banheiro e pedi desculpas por não ter falado nada a respeito — explicou Anne. — Ela é uma pessoa má, tentou nos bater. Você acha que irá até nossa casa e nos matará? — Não. Marcy tentará ficar o mais longe possível de vocês. — Bem, então vamos comprar os brinquedos — pediu Clay, puxando a mão de Vera. — Vamos embora agora — ordenou Mac ao aproximar-se. — Ninguém comprará nada. — Nós vamos. Tia Vera prometeu — enfrentou a menina. — Não quero saber o que ela disse. Vocês foram longe demais dessa vez. Não serão recompensados por terem cuspido no prato de uma amiga e por terem roubado sua carteira. — Eu disse que vi a carteira, e não que a roubei — argumentou Anne. — Isso porque seu irmão Brick foi quem a pegou, e você colocou no banheiro. Vamos embora e não quero mais desculpas — disse Mac, irritado, ao dirigir-se para a saída, puxando a sobrinha pela mão. — Vera, traga Clay e venha comigo. Agora! — Está machucando meu braço. É o mesmo que Brick quase quebrou. — Vamos comprar minha lancha antes que ele nos pegue, tia — apelou Clay, puxando-a em direção contrária. Ainda segurando Anne, Mac virou-se para Vera e Clay. — Se não vierem já, juro que vou... — Mac, posso falar com você por um minuto? — interrompeu Jill Finlay. — Estamos indo para casa — informou Mac. Ao se distrair por um momento, Anne parou de gritar e escapou. Correu para perto do irmão. — Vamos deixá-los conversar em paz — informou Vera, retirando-se com as


duas crianças. Não queria ficar ali e assistir a mais uma animada conversa. — Bem, Mac, como sempre seus sobrinhos foram responsáveis pela principal atração da noite — comentou Jill, com malícia. — Mas, pelo que vi, sua namorada provou que sabe lidar com os pequenos psicopatas. Se ela não estivesse aqui, não sei o que teria acontecido. Mac olhou os três se afastando. As duas crianças conversavam e sorriam para Vera. — E aí? — indagou Mac, querendo saber do que se tratava a conversa. — Queria parabenizá-lo. Ginny me apresentou a futura sra. Wilde. Acho que finalmente encontrou a mulher certa, mas devo adverti-lo de que deveria aumentar sua oferta. Seja lá quanto estiver pagando para tê-la aqui, parece ser pouco para ela. Disse que está pensando em recusar, ainda mais depois da cena com Marcy Tanner. É provável que tenha que entregar toda sua fazenda para persuadi-la a ficar. — Era só isso? — questionou, hostil. Jill deu um sorriso forçado. — Gostaria também de assegurar-lhe de que não há ressentimentos de minha parte. Estou namorando Tom Egan. Ele está divorciado de Jane e estamos querendo ficar juntos. — Tom tem dois filhos. — Mac não resistiu ao comentário. — Não tinha dito que não queria cuidar de filhos que não fossem seus? — Nunca disse isso! — O sorriso transformou-se em uma expressão de desconforto. — Não quero evitar os filhos dos outros, só não quero morar com eles. Courtney e Tommy Junior vivem com a mãe e são muito diferentes desses que você herdou. Os filhos de Egan são educados e bem-comportados. É fácil lidar com eles. — Pelo menos, por enquanto. — Mac lembrou que Brick estava saindo com Courtney. Logo, o sobrinho corromperia a menina. Despediu-se de sua antiga namorada agradecendo a Deus por não estar mais com ela. Pensava o mesmo a respeito de Marcy Tanner. Seus olhos estavam fixos em Vera, que estava com as crianças na barraca de brinquedos. Em muito pouco tempo, ela tornou-se parte essencial em sua vida, mas, mesmo assim, estava furioso com ela.


As palavras de Jill Finlay não saíam de sua mente: "Ela está pensando em recusar..." "Terá que aumentar sua oferta". Não conseguia imaginar Vera tendo esse tipo de conversa com alguém. Será que ela seria capaz de... Clay e Anne estavam com os brinquedos nas mãos. — Obrigado, tia Vera — agradeceram em coro. — Espero que saibam que isso não é uma recompensa pelo que fizeram com Marcy Tanner — avisou Vera, um pouco insegura. Mac estava certo, não deveriam receber nada, porém, a presença daquela mulher deixou-a com ciúme, confusa, e, afinal, havia prometido que daria os brinquedos. Viu que Mac se aproximava com ar de reprovação. Parecia estar mais calmo, porém ainda bravo. — Estamos prontos para ir embora, tio Mac — informou Anne, sentindo-se vitoriosa. — Já comprei meu kit de bijuterias. — E eu, a minha lancha — anunciou Clay, mostrando a mais nova aquisição para seu tio. — Estou vendo — respondeu Mac, olhando para Vera. — O que ele ganhará quando colocar veneno de rato na comida de alguém? Um fuzil? E quando Anne roubar uma loja? Será recompensada com um colar de ouro? — Tio Mac, ainda está bravo conosco? — indagou Clay, surpreso. — Sim, ainda estou muito bravo com todos vocês. — Mac colocou a mão nos ombros de Vera segurando-a com firmeza. No momento que a tocou sentiu a ira dissipar-se. Estava ansioso para levá-la para casa. — Vamos embora agora. — Certo, nós vamos procurar Brick — concordou Anne. — Ele deve estar beijando a namorada. — Brick e Courtney, Courtney e Brick — Clay saiu cantarolando. — Meu Deus, que noite! Primeiro o desagradável jantar no Pizza Ranch e depois servir de atração na quermesse da igreja. Não posso esperar a hora de colocar os pés na fazenda onde você e eu teremos uma conversa séria sobre compra de presentes para delinqüentes juvenis.


Vera estava confusa diante de tantas emoções diferentes. — Se não tirar as mãos do meu ombro vou gritar tanto que os gritos de Anne vão parecer sussurros. — Está blefando — disse Mac, mantendo as mãos no mesmo lugar. — E eu ainda vou fazer minha ameaça. Se não vier comigo agora mesmo, vou carregá-la e levá-la embora sem dar a mínima importância ao que todos dirão.

CAPÍTULO DEZ Vera virou-se para encará-lo. Ergueu o rosto, desafiando-o. — Agora sou eu quem diz que você deve estar blefando. Não vou sair daqui humildemente ao seu lado, apesar de saber que é isso que seu lado machista deseja. Afinal, já se divertiu com Marcy Tanner e Jill Finlay. Uma semana atrás, Vera não ousaria responder daquela forma. Jamais confrontaria alguém ou levantaria a voz para expressar sua raiva. Normalmente ficaria quieta e resignada com a situação. — Acha que estava me divertindo com Marcy e Jill? Nem um pouco, meu bem. Sua percepção é... — De repente parou de falar e sorriu satisfeito. — De uma mulher ciumenta! Está com ciúme, Vera, porque eu estava conversando com minhas ex-namoradas? — Não estou! Não me importo com o que faz ou deixa de fazer. E se quiser flertar com elas na frente de toda a cidade, problema seu. — Vera virou-se, livrandose do domínio de Mac, e saiu com passos firmes. Mac ficou parado, fitando-a. Sabia que, mais uma vez, eram o centro das atenções. Todos esperavam para ver a reação dele, se a ignoraria e ficaria na festa com os amigos ou a seguiria. O solteiro mais cobiçado de Bear Creek estava apaixonado? Sem pensar, saiu apressado atrás de Vera Kirby. Encontrou-a encostada no tronco de uma árvore. O chão estava coberto com


folhas secas que estalaram quando Mac se aproximou. Vera não se incomodou em conferir quem estava ali. Sabia que ele viria. — Parabéns! — cumprimentou, irônico. — Todos viram sua saída enfurecida e eu vir correndo atrás de você. — Eu quis sair. Não o obriguei a vir comigo. Mac achou graça. — Sim, é claro. Eu poderia ter ficado na festa e conversado um pouco mais com Jill até que Marcy voltasse com a carteira. Assim, poderia divertir toda a cidade por estar flertando com ex-namoradas. Não é o que quero, obrigado. Não me importa a opinião dos outros. Quero agradar só a você. — Não pense que não sei o que está fazendo. Está querendo seduzir-me de propósito. — E está funcionando? — Mac passou os dedos entre os cabelos de Vera. Ela cruzou os braços e continuou olhando para o estacionamento em frente, onde Clay e Anne corriam procurando pelo irmão dentro de cada um dos carros. — Está me ignorando — persistiu Mac, acariciando-a. Vera estremeceu e insistiu em fingir ignorá-lo. — Sou convencido o suficiente para gostar de ser ignorado. Vera continuou em silêncio. Não tinha certeza se Mac acreditava que estava pondo em prática algum plano para fazê-lo ficar atrás dela. Mac percebeu que os sobrinhos corriam pelo estacionamento espiando de carro em carro. — O que eles estão fazendo agora? — Tentando encontrar Brick e Courtney em uma posição comprometedora dentro de algum daqueles carros. Espero que não consigam. — Então somos dois. Brick ainda é muito novo para um relacionamento íntimo. — Talvez seja genético. Tenho certeza de que você começou cedo e nunca mais parou, continua com muita vitalidade. No momento que disse essas palavras, arrependeu- se. Mais uma vez parecia


estar com ciúme. Mac aproximou-se devagar e ficaram um em frente ao outro. — Está enganada ao pensar que Marcy e Jill ainda significam alguma coisa para mim, Vera. — Se casaria com uma ou com a outra, se tivessem aceito cuidar das crianças. Acho que isso significa alguma coisa. — Não mais. Jill e Marcy serviam para um romance casual de um homem solteiro, mas, no momento em que decidi me casar, elas não serviriam para ser minha mulher — declarou Mac, segurando o delicado queixo e fitando-a nos olhos. — Elas não são e nunca foram importantes para mim. — Não precisa se explicar. — Parece que sim, então o farei — afirmou, puxando-a para perto de si. Vera hesitou e tentou manter distância. As palavras de seu ex-padrasto ainda ecoavam em sua cabeça: "Mac se casaria com qualquer mulher que aceitasse suas condições". Qualquer mulher, ela, Jill ou Marcy, quem aceitasse primeiro. E se as duas mudassem de idéia, Vera tinha certeza de que estaria no vôo seguinte para Washington. Afinal, era a terceira da lista. Talvez houvesse ainda mais candidatas. Por que deveria esperar para ser rejeitada? Tomaria a iniciativa de partir antes que fosse mandada embora. Mac suspirou. Discutir assuntos tão irrelevantes era muito cansativo. O passado nunca o interessou, só o presente e o futuro eram importantes. Estudou Vera, que remexia em seu passado e dava extrema importância a ele. — Olhe, meu bem, Marcy se convidou para jantar conosco e, quando soube que viríamos para a quermesse, decidiu vir também. Não sei por que, pois as crianças a maltrataram o tempo todo. — Vi vocês juntos, Mac — interrompeu —, ela estava flertando com você, que sorria como se estivesse encantado. — Não é nada disso. Comportei-me como se tivesse ligado o piloto automático. Quando uma mulher começa a falar e achar graça de bobagens, eu me


desligo. Fico sorrindo e, às vezes, respondo com frases curtas, me transporto para outros lugares. Estava pensando em uma venda de gado quando Clay e Anne foram confessar o que tinham feito. — Trícia Franklin contou-me que Marcy odeia as crianças e parou de vê-lo por causa delas. Na minha opinião, eles estavam sendo leais a você. — Talvez, no estilo da família Adams, mas acho que estavam sendo leais a você, Vera. Meus sobrinhos consideram você a única capaz de lidar com os Wilde, qualquer pessoa que ouse se intrometer nessa relação será fuzilada pela habilidade das crianças, que não é pouca. Mac a segurou com mais determinação. — Venha aqui e beije-me. Depois iremos para casa. — Não. — Vera recuou, empurrando-o. — Desculpe, pensei que pudesse... — Preste atenção, Jill acha que sou um idiota por querer ficar com meus sobrinhos, mas ficou muito impressionada com você. Estava convencendo-me de que encontrei a pessoa certa, e que então deveria propor um acordo mais vantajoso para você. — Acordo vantajoso — repetiu, sem entender do que se tratava. — Sim, ela acha que deveria oferecer-lhe mais dinheiro para ficar comigo. Ela está certa? É isso o que está querendo? — Não. Nunca disse isso, não entendo por que ela foi dizer um absurdo tão grande! Nunca quis dinheiro. — Vera ficou sem ar. Estava indignada. Não se lembrava com certeza sobre o que conversaram, mas estava certa de não ter feito referência a nenhuma recompensa em momento algum. — Se quiser entrar em um acordo, podemos falar com o atual namorado de Jill, Tom Egan. Ele é o melhor advogado da cidade e um velho amigo meu. Não se incomodaria em... — Não quero seu dinheiro! — Então casaria comigo mesmo sem o dote? — Sim! Quero dizer, casaria mas, preciso de tempo para pensar. Nós precisamos.


— Não concordo, porém pode pensar na fazenda se for tão importante para você. — Preciso ficar algum tempo sozinha. Não consigo pensar direito quando você... — Bem, não quero que pense quando estiver na cama comigo. Deixe para pensar em cuidar das crianças, em me ajudar nos negócios da fazenda... Vera não conseguia evitar ver-se no quarto dele e imaginar cenas ardentes de amor. — Não posso ficar na fazenda. Devo voltar a Washington amanhã — declarou, engolindo em seco diante do olhar intenso e determinado de Mac. — Pedirei a tio Will que me leve até a R.R. para eu apanhar minhas coisas. Ficarei na casa dos Franklin esta noite. Pegarei Tai amanhã antes de irmos para o aeroporto, isso se não for incomodo para você. — É claro que o gato pode ficar — afirmou. — Acho que ele gostou tanto do lugar que não vai mais embora. — O que quer dizer? — Exatamente o que ouviu, minha querida. O gato é meu hóspede. Se quiser ficar com ele, terá que ficar na fazenda ao meu lado. — Não pode mantê-lo como refém. — Não? — indagou, sorrindo. — Quem vai me impedir? Vera o encarou sem saber se ele falava ou não a sério. — Eu vou. Não seria capaz de fazer isso comigo. — Então vamos negociar. — Que grandiosa atitude! — exclamou Vera, com tom irônico, irritada com a arrogância no rosto de Mac. — Vamos, Vera — desafiou, em voz baixa. — Vá em frente e esbofeteie-me. E isso o que quer, não é? Prefiro que brigue se está brava e não fique contendo sua raiva. Mac estava quase alcançando seu objetivo. Vera se viu perdendo a compostura, no entanto, controlou-se.


— Não conseguirá fazer com que eu o agrida fisicamente, Mac Wilde. — Então vou incitá-la a outro tipo de ato físico — provocou, puxando-a para junto de si. Abraçou-a e beijou-a com paixão. Vera estremeceu de prazer. Todo o corpo reagia ao contato com Mac. Queria ficar com ele, nada mais importava. O mundo se resumia aos dois. — Uau! — Anne exclamou eufórica. — E assim que eles beijam nas novelas. Mac, ainda abraçado a Vera, olhou para as crianças. Nenhum dos dois fez menção de separar-se, nem conseguiram conversar com a garota, que continuou seu monólogo: — Será que Brick e Courtney estão se beijando assim? — Deus, espero que não — comentou Mac. Vera afastou-se, deixando-o frustrado. — Lily e Webb se beijam assim também — disse Clay ao lado da irmã. Vera assustou-se e olhou para Mac, que ficou paralisado. — O que você disse, Clay? — perguntou, fingindo uma calma que estava longe de sentir. Ao perceber o que fizera, o menino colocou as mãos na boca. — Esqueci que não podia contar a ninguém. É um segredo. — Você tinha um segredo? — indagou Anne, indignada. — Como não me contou? — Não contei a ninguém — afirmou Clay, orgulhoso. — Vi Lily e Webb se beijando no celeiro e Lily comprou um Gameboy para que eu prometesse não contar nada a ninguém. — Olhou para baixo, desapontado. — Agora que contei, ela ficará muito brava, vai pegar o jogo de volta. Disse que faria isso. — Webb Asher? — repetiu Mac, incrédulo. — E Lily? Meu Deus, e pedi que ele ficasse com ela esta noite! Precisamos ir para casa agora. A raiva de Mac amedrontou Anne. — Webb vai matar Lily se não chegarmos a tempo? — indagou, confusa.


— Não — afirmou Vera, tentando acalmá-la. Mac começou a andar pelo estacionamento em busca de sua caminhonete. Vera mudara seus planos diante dos últimos acontecimentos. Se alguém poderia ajudar os Wilde naquele momento, esse alguém era ela. — Mac, espere! — gritou ao vê-lo andando decidido. — Não pode partir sem Brick. — Tinha me esquecido dele — afirmou, levando as mãos à cabeça. — Lily e Webb? Há quanto tempo isso está acontecendo? Juro que vou... — Ter uma conversa séria com os dois — interrompeu Vera, olhando para as crianças. Mac entendeu a insinuação no mesmo momento. Não deveria falar em mortes, mesmo sendo metáforas, diante daquela criança obcecada por crimes. — Isso mesmo — concordou, pegando a mão de Vera. Os dois se olharam com perfeita compreensão. — Ei, Mac! Jill e eu estávamos falando sobre vocês — declarou um homem magro e alto, de terno escuro, abraçado a Jill Finlay. — Estamos de saída, Tom — respondeu de forma brusca. Jill não ficou satisfeita, mas Tom Egan não se ofendeu. — Nós também. Estou procurando minha filha, Courtney. Tenho que deixá-la na casa da mãe. Você a viu? Suas amigas disseram que tinha saído para tomar ar fresco. Estava muito cheio na quermesse. — Nós a encontraremos para o senhor — ofereceu-se Anne. — Vamos Clay. Os dois saíram gritando o nome da menina pelos arredores. Mac estava apreensivo, não conseguia conversar com Tom Egan. Vera assumiu a responsabilidade, discutiu o clima de Montana com o casal até que Courtney aparecesse, acompanhada por Clay e Anne. — Oi, pai — cumprimentou, sorrindo, e em seguida olhou para Jill com antipatia. Logo, ficou entre o pai e a namorada e os três foram embora. — Courtney odeia Jill — cochichou Anne para Vera. — Ela quer que os pais voltem a morar juntos.


— Disse que Brick a ajudará a se livrar de Jill — informou Clay, sentindo-se importante. "Quem melhor que Brick para fazer esse serviço?", pensou Vera. Parecia que Courtney sabotaria o romance do pai e Jill. Brick chegou de repente. Mac não perguntou nada. Estava preocupado demais com Webb e Lily. Pegou a mão de Vera e foram todos para o carro. — Se andar mais depressa, conseguiremos nos classificar para as Quinhentas Milhas de Indianápolis — murmurou Vera, segurando no assento do carro. Olhou para as três crianças. Estavam quietas, pareciam estar ouvindo a música do rádio, mas tão apreensivos quanto ela. Mac dirigia sem dizer uma palavra. Ela achou esse silêncio mais enervante que sua vociferante raiva. Lembrou-se do que ele dissera a respeito de guardar para si os sentimentos e concordou que seria melhor que se expressasse de qualquer forma. Chegaram a R.R. na metade do tempo normal. Mac parou o carro na frente da casa, que estava com as luzes acesas, e abriu com pressa a porta. Vera o alcançou e o puxou pelo braço. — O que é? — perguntou, nervoso. — Quero conversar com você por alguns minutos — afirmou Vera, com firmeza. Não era fácil mostrar-se confiante e controlada diante de tanta impaciência. — Crianças, por que não vão entrando? — sugeriu. — Tio Mac vai colocar o carro na garagem e logo entraremos. — Está parecendo um plano — opinou Brick, chamando os irmãos. Saíram do carro e correram para dentro de casa. — Com Brick trabalhando no caso, dou a Jill e Tom Egan no máximo uma semana juntos — comentou Vera. — Olhe, sei que mandou as crianças na frente para avisarem Lily e Asher que estou furioso. Não adianta tentar acalmar-me, Asher merece ser morto por se envolver com uma menina de dezessete anos e, além do mais, sou responsável por ela. — Caso não tenha notado, Lily não é mais uma menina, e vou, sim, tentar


impedi-lo de entrar como um furacão na sala e arrebentar a cara de Webb. De que adiantará isso? As crianças já sofreram bastante para assistirem ao tio atacar um homem dentro de sua própria casa. — O que quer que eu faça? Abençoe a união do casal? Empreste meu carro para que possa levá-la à escola? — Por enquanto, gostaria que colocasse o carro na garagem — murmurou Vera, com os olhos fixos na porta da frente da casa. As crianças já deveriam ter avisado Webb, era provável que ele saísse por ali. Mac percebeu o que Vera pensava. — O calhorda não vai aparecer por aqui, vai usar a porta dos fundos. Apesar da raiva, Mac fechou a porta do carro, dirigindo-se para a garagem. Abriu a porta, e assim que entraram, ela se fechou. O lugar ficou escuro. Havia somente a luz do luar entrando pela janela lateral. — Este não é o momento certo, mas devo dizer-lhe que... — Não diga nada — interrompeu ele. — Não vou ouvi-la dizer que vai embora amanhã. O reverendo tentou convencê-la a me largar? Não importa o que ele tenha dito, estava errado. Você é minha, pertence a este lugar, vai ficar comigo e com as crianças. Farei qualquer coisa para que mude de idéia. Quero fazê-la feliz, e a única coisa que não farei é deixá-la partir. — Porque precisa de mim como dona de casa e para cuidar das crianças? — Porque eu a quero ao meu lado. Não pode continuar fingindo que não percebeu nada. Sempre que estou perto de você, não consigo parar de observar como se move, como sorri. Gosto de tudo o que faz ou diz e me vejo querendo cada vez mais estar ao seu lado. Fico lembrando de nós dois na cama e não vejo a hora de tê-la em meus braços mais uma vez. — Não se incomoda em usar-me, não é? Estou disponível e sou conveniente para você, sendo que não tem relações sexuais desde que as crianças chegaram. Mas essa relação não vai durar por muito tempo porque não é baseada em amor e respeito. Os olhos de Vera encheram-se de lágrimas. — Você acredita nisso mesmo? Foi esse tipo de besteira que ouviu do


reverendo Franklin? Droga! Não deveria ter deixado que fosse visitá-lo esta noite. Deveria ter seguido meus instintos; ter permitido que fosse ver seu ex-padrasto foi uma péssima idéia. — Eu quis ir. Eu tomo minhas próprias decisões. Não sigo suas regras. — O reverendo deve estar com sentimento de culpa por tê-la abandonado durante todos esses anos, só porque Ginny insistiu em afastá-lo de você. Agora decidiu que deve protegê-la, acha que vou abandoná-la. Mas não tem cabimento, não farei isso e não deixarei que vá embora também. Mac se aproximou, passou para o banco de passageiros e a colocou em seu colo. — Estou surpreso por seu tio ter uma opinião tão negativa a meu respeito. Não creio que tenha afirmado que eu não a valorizo como ser humano. Você é única, carinhosa, meiga, inteligente, tem senso de humor. Sei que não nos conhecemos há muito tempo, mas não consigo imaginar minha vida sem você. E como se tivesse sempre estado ao meu lado porque tudo se encaixa com perfeição. Admito que a forma como nos conhecemos foi ridícula. Noiva sob encomenda? Agora, temos um ao outro e nada é mais importante que nossas vidas, desde que fiquemos juntos. Vera nunca fora tão feliz. Seu coração se acelerou, não poderia duvidar do homem que amava. Ele estava sendo honesto. — Vamos ficar juntos — disse Mac com voz suave. — Sim. Eu o amo e não me importo se é cedo demais para confessar. Era isso o que eu queria lhe contar. Não posso lutar contra meus sentimentos e não vou deixar você ou as crianças. — Eu já sabia — assegurou, confiante. — Quero fazer amor com você. — Aqui? Agora? — indagou Vera, louca de desejo. — Sim aqui e agora — afirmou enquanto a despia. — Eu... Vera estava nos braços de Mac e considerava-se uma mulher feliz e realizada. — Eu a amo — declarou, emocionado. Se amaram no carro, embevecidos de paixão.


— Você me diverte, Vera. — Só porque sou boa aluna e aprendi tudo o que me ensinou com facilidade? — indagou, beijando-o. Com os corpos ainda unidos, sentia-se extremamente confiante e bonita. — O professor que tenho é ótimo e gosta de variar bastante. — Não posso acreditar no que acabamos de fazer. Você fez de propósito, me seduziu. — Não gostou? — Acho até que deveria fazer isso mais vezes. Sem pressa, começaram a se vestir. Mac acendeu a luz do interior do carro e Vera penteou os cabelos e passou batom. Ficou surpresa com o reflexo que viu no espelho, uma mulher segura e sensual, diferente de tudo o que tinha sido durante toda a vida. Ao ficarem prontos, Mac abriu a porta e a ajudou a sair do carro. Foram abraçados para casa. — Mac, o que vai fazer a respeito de Lily e Webb? — Não se preocupe. Não serei violento — afirmou, com um sorriso sexy. — Não tenho mais energia, e você é a culpada. — Lily deve estar no quarto, fingindo dormir, e Webb, no trailer. Não poderíamos deixar a conversa para amanhã? Seria melhor para todos discutir com a cabeça fresca. — Certo. Terei que demitir Asher. Infelizmente, porque é um bom administrador. Trabalha direito e tem recomendações muito boas. Veio do Texas, de uma fazenda muito próspera. Nunca achei que houvesse algo entre ele e Lily. Pensei que a odiasse. A casa estava em silêncio. Nem a televisão estava ligada. Anne e Clay vieram correndo para a sala ao ouvi-los entrar. — Tai pode dormir no meu quarto de novo, tia Vera? — perguntou Anne, segurando o animal. — Sim, pode.


— Boa noite, tia Vera, tio Mac — despediu-se Clay, beijando-os. Vera e Mac trocaram olhares. — Algo está errado. Os dois saíram da linha de fogo. — O que eles acham que será a linha de fogo? — Bem, vamos deixá-los mais calmos. Haverá agitação só no nosso quarto esta noite — disse Mac, sorrindo. — Não posso esperar — sussurrou, pegando-o pela mão e o conduzindo ao corredor. Levou um susto ao ver Webb na sala, vindo na direção deles. Vera não esperava que ele ainda estivesse em casa. Sentiu que Mac ficou muito tenso e avançou em direção a Webb. — Mac, não! — gritou, puxando-o pelo braço. — Pare, tio Mac! — implorou Lily, que estava ao seu lado, junto com Brick, tentando impedir que o tio cometesse uma loucura. — Vá em frente e acabe comigo — disse Webb, sério —, já esperava por isso. Mac ficou furioso. — Saia daqui, Asher. Quero seu trailer fora da minha fazenda ao amanhecer, se possível fora do Estado. — Não, tio Mac — interrompeu Lily, ficando ao lado de Webb, dando a mão a ele. Vera viu que Mac não suportava olhar para o casal. Decidiu mandar Brick para a cama, pois o garoto estava eufórico com a confusão. — Brick, vá para a cama, essa discussão não lhe diz respeito. — Tio Mac pode precisar de mim para massacrar Webb Asher — respondeu o menino, se achando muito importante e indispensável. Mac respirou fundo e olhou para o sobrinho. — Ninguém será massacrado aqui. Vá para a cama. — Webb só quer conversar com nosso tio e contar-lhe o quanto nós nos amamos — declarou Lily, sorrindo para o administrador. — Não é, Webb? — Não vou ficar aqui para ouvir tanta besteira. Acho melhor ir para a cama. —


Brick retirou-se da sala, contrariado. Os dois casais ficam frente a frente. — Por que não vamos até a cozinha? Farei um chá ou um café e poderemos conversar com calma — sugeriu Vera, incomodada com o clima na sala. — Acho que tio Mac e Webb deveriam tomar algo mais forte. Talvez uma dose de uísque fosse mais apropriado. Mac ainda segurava a mão de Vera e controlava sua raiva. Ela o puxou e o levou para a cozinha. Lily e Webb os seguiram. — Por que ainda está aqui, Asher? Se tivesse um pouco de bom senso, já estaria a caminho do Texas. — Ele me ama demais para tentar fugir, tio Mac. — É verdade — concordou Webb, encarando o patrão. — Deus sabe o quanto tentei lutar contra esse amor, mas não consegui. Realmente, amo sua sobrinha. Sentia-me muito mal escondendo a verdade de você e estou aliviado por poder enfrentá-lo. Eu a amo, e você deve saber de tudo. Vera estava arrumando a mesa e ficou estática. Não pensou que o administrador tivesse coragem de assumir o relacionamento daquela forma. — Ela é apenas uma criança! — exclamou Mac, desesperado. — Deixei de ser uma criança há muito tempo — explicou Lily, com suavidade. — Amadureci cedo e considero-me uma mulher em todos os aspectos. Mac puxou uma cadeira e sentou-se. Vera veio ao seu encontro e passou os braços sobre os ombros largos e fortes. — Apaixonei-me por Webb no momento em que o vi pela primeira vez — continuou. — Tentei seduzi-lo, mas ele se afastou. Às vezes conversávamos, ouvíamos música juntos, e Webb sempre alegava ser muito velho para ficar comigo. Para mim, a idade não tem importância alguma porque ele não é velho. Preciso de um homem, e não de um garoto, tio Mac. — E Webb Asher é esse homem? — indagou o tio, com sarcasmo. — Sim — respondeu, decidida. — Durante todo o verão fiquei atrás dele, passamos várias horas juntos e sempre me respeitou. Não me tocava um dedo sequer.


Porém, em setembro, aconteceu, e Webb se sentiu tão culpado que tentou afastar-se de mim, mas nós precisávamos um do outro e eu jamais o deixaria me evitar. — Você é persistente, não desiste nunca — concordou Mac, pensativo. — Parece que é característica da família — concluiu Vera, massageando os ombros tensos, tentando ajudá-lo a relaxar. Lily, ao ver a cena, sorriu para Vera e prosseguiu com sua história: — Bom, tinha certeza de que o amava e que ele a mim, apesar de não admitilo. Tive que tomar uma decisão drástica. Então, fui ao Rustler no dia que Vera chegou a Montana. O xerife chamou Webb, que foi me pegar. Ele estava de fato com raiva de mim. Fiz tudo de propósito, o provoquei e brinquei com ele. — Essa parte nós vimos — interferiu Mac —, estava amarrada na cadeira aqui na cozinha. — Sim, e no dia seguinte... — Chega, Lily — ordenou Webb com firmeza. Mac e Vera ficaram surpresos com a obediência da garota, que calou-se. — Mac, sei que parece loucura. Se alguém me dissesse que eu me apaixonaria por uma mulher muito mais nova, o consideraria digno de um hospício. Nunca me envolvi com ninguém, sempre evitei relacionamentos sérios. No Texas, a filha do patrão se apaixonou por mim e eu preferi mudar de emprego por não poder retribuir os sentimentos dela. Quando cheguei aqui, não pretendia... — Ser vítima dos desejos de minha sobrinha. Percebo que não devo culpá-lo, mas Lily ainda está no colegial, Webb! Não posso ficar aqui e admitir que continuem esse namoro. — Eu sei — disse Webb —, no entanto, nosso relacionamento é muito mais que um namoro. Vamos nos casar, Mac. Não vou desistir de Lily. Tenho dinheiro guardado e meu tio me venderá uma parte de um haras no Colorado. É uma boa propriedade e sei como trabalhar nela. Sempre quis ir para lá e esse é o momento certo. Partiremos assim que encontrar alguém para me substituir, e Lily irá comigo. Ela terminará de estudar lá e... — Casar-se, você e Lily, agora! — bradou Mac. — Isso é uma loucura, que


idéia mais estúpida! — Posso lembrar-lhe de outra idéia mais louca e mais estúpida. Encomendar uma noiva, se apaixonar por ela e decidir casar-se em menos de uma semana não é uma loucura, tio Mac? — Isso é diferente — retrucou o tio. — Nós somos diferentes. E a forma como os Wilde se comportam, somos diferentes das outras pessoas. Mac encostou-se em Vera, fechou os olhos e respirou fundo. Fitou a sobrinha e falou: — Se não consigo persuadi-los a desistir, só me resta desejar-lhes boa sorte. Não quero forçá-la a fugir. — É o que faria se tentasse impedir-me de viver com Webb — assegurou Lily. — E sejam felizes como eu serei. Não precisa se preocupar comigo, tio. Tenho certeza de que tudo dará certo para mim e Webb. Vera ficou admirada com a determinação de Lily. Parecia muito com o tio, tinham uma arrogância e confiança invejáveis. Mac levantou-se, abraçou a sobrinha, estendendo a mão a Webb, apesar da expressão ainda séria. — Você não vai passar a noite com ele até estar legalmente casada — informou Mac, ao vê-los saindo juntos da sala. — Não seja tão antiquado, tio Mac. Vou ficar com Webb. Vera segurou a respiração. Conhecia os Wilde o suficiente para saber que mais uma discussão estava para vir. Assim como Webb, que resolveu interferir: — Mac está certo, Lily. Não dormiremos juntos até nos casarmos. — Posso fazer o que eu quiser e se eu quero passar a noite com você, assim será, Webb Asher. — Não até tornar-se a sra. Webb Asher — afirmou o noivo, decidido. Mac e Vera trocaram olhares. — Está bem — consentiu Lily, com a cabeça erguida. — Ficarei aqui. Vou para o meu quarto agora. Boa noite. — Primeiro, leve-me até a porta e me dê um beijo de boa noite — declarou


Webb, segurando-a. Lily hesitou por um momento, em dúvida se deveria insistir ou não. Respirou fundo e abraçou-o. — Parece que consegue controlá-la — comentou Mac enquanto andava com Vera pelo corredor em direção ao quarto. — Sinto que falhei com Lily, Reid e Linda. Minha sobrinha ainda é muito jovem para casar-se. — Isso não tem nada a ver com você. Acho que Lily precisa sentir que pertence a alguém, alguém que seja só dela. Um sentimento como esse não pode ser analisado de acordo com as regras convencionais sobre idade e... — O tempo necessário para uma pessoa se apaixonar. Vera sorriu diante do comentário de Mac. — Instintivamente, Lily deveria saber que Webb poderia dar a ela a segurança e o amor de que tanto precisava. Não deixaria você ou qualquer outra pessoa interferir em seu relacionamento. Vocês, Wilde, não desistem do que querem. — Somos implacáveis! Ao entrarem no quarto, Mac trancou a porta. O coração de Vera disparou. — Lily estava determinada a conquistar Webb, assim como eu a conquistar você. — Podemos dizer que conseguiu — admitiu, com doçura. Passou os braços pelo pescoço de Mac e beijou-o com desejo. Ele a carregou até a cama e deitou-a devagar. — Eu o amo. — Eu sei, meu bem, e eu também a amo. — Não precisa se preocupar em dizer o que acha que quero ouvir. Sei que me quer e... — Eu a amo — insistiu Mac. — Percebi que Lily estava certa ao afirmar que eu tinha me apaixonado por você. Acho que tudo começou no momento em que a vi no aeroporto. Quando chegamos à fazenda, já sabia que faria tudo para não deixá-la partir. E isso nunca havia acontecido comigo antes.


Vera fitou-o, descrente. — É verdade! Quando uma mulher recusava a proposta de casar-se comigo para tomar conta das crianças, eu não me importava. Virava as costas e tentava com outra. Isso aconteceu até eu conhecer você. É única e insubstituível, é a mulher que amo e com quem passarei o resto de minha vida. Vou provar-lhe o meu amor a cada minuto de nossas vidas. — Começando agora, eu espero — sussurrou Vera, abraçando-o. — Sim, começando agora.

BARBARA BOSWELL gosta muito de escrever sobre famílias. "Acho que a vida familiar tem influenciado muito meus livros", diz a autora. "Particularmente, gosto de escrever sobre como o relacionamento familiar influi nos meus personagens." Quando Barbara não está lendo ou escrevendo, passa o tempo com sua família: o marido, três filhas e três gatos, que ela admite serem os verdadeiros donos de sua casa. Viveu na Europa, mas agora mora no Estado da Pensilvânia. Coleciona miniaturas e pequenos ornamentos.


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