Eco Dixit - Edição 2011 - NEECUA

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€co Dixit Jornal de núcleo de estudantes de Economia da Universidade de Aveiro Edição 2011

OS ALUVIÕES 2010/2011 “Exportar é, de facto, importante!” por Prof. Doutor Egas Salgueiro

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“ A situação em Portugal é muito grave” por Pedro Cosme Vieira, FEP

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Car@s colegas, Mais um ano passa, mais uma edição do jornal Eco Dixit que está “nas bancas”. É de salutar que mesmo com as adversidades e carga de trabalho que o Processo de Bologna nos impõe, ainda há quem consiga fazer mais do que o curso e se dedique a causas tão nobres como o associativismo. É uma arte em declínio (!) e continua bem viva a necessidade da reformulação dos estatutos da AAUAv. A todos os que sacrificam um, ou dois, anos de entrada no chamado desemprego friccional em detrimento da sua carteira, um grande bem-haja! Aos que já lá estão, desejo muita força! Estão para vir tempos complicados embora a flexibilização do mercado do trabalho imposta pela Troika, provavelmente, dê frutos nesse sentido. Embora já tenham passado uns meses, quero congratular o nosso colega Tiago Alves pela enorme reeleição para o cargo de Presidente da Direcção da AAUAv à frente da Lista Q. Não só esta vitória se exprimiu na Direcção como também na Mesa da Assembleia Geral e, consequentemente, no Conselho Fiscal. A intenção dos estudantes foi expressiva e agora só resta pôr as mãos ao trabalho, fazendo jus ao voto de confiança neles depositado. Na passada semana de 23 a 27 decorreu a II Semana do Emprego da AAUAv onde o NEEC-AAUAv teve presença. Foram realizadas duas conferências. Uma sobre O Que Procuram as Empresas nos Recém-Licenciados, levada a cabo pelo Prof. Dr. Arménio Rego, e outra sobre a oferta curricular de 2º Ciclo do DEGEI, protagonizada pelo Prof. Dr. Egas Salgueiro. Esta última contou também com a participação do Ricardo Silva, antigo aluno do 1º e 2º Ciclos de Economia, que nos falou do seu percurso académico e profissional. Espero que tenham sido proveitosas, em especial para os alunos finalistas que estão para iniciar uma nova fase. No que toca ao Nosso núcleo, muito se tem feito para que este deixe de ser um conjunto de alunos numa sala. Estes dois mandatos à frente do NEECAAUAv têm sido de trabalho intenso a corrigir

alguns erros de tesouraria, o que nos impediu de concretizar grande parte das actividades às quais nos propusemos no mandato. Contudo, esse “fosso” só reafirmou o mérito e empenho da direcção actual, e anterior. Tudo fica mais fácil quando pomos sentido nas coisas e quando sabemos para onde queremos ir. Mas o trabalho não fica por aqui, ainda há mais de meio mandato para vir. A nível académico, quero deixar os meus sinceros Parabéns a todos os aluviões por um ano fantástico e pelo 3º lugar no Desfile do Enterro 2011 e sobretudo pela vitória no Grito Académico. A hegemonia economista está mais do que garantida – sete anos sem sair do pódio, é muito! Resta-me desejar um bom trabalho à nova Comissão de Faina e Mestre de Curso e que a tradição se mantenha. Deixo-vos com uma leitura atenta aos conteúdos do jornal que, decerto, despertarão o vosso interesse. Saudações académicas, João_Santos

neec@aauav.pt

Ficha Técnica

Degei

Jornal Eco Dixit Redactores: Nelson Duarte, Diana Moita, Filipa Vieira Conselho Editorial: Moita, Filipa Vieira Conselho Duarte

gráfico:

Editado em 2011

Diana

Nelson

Coordenação: Nelson Duarte Triagem: 150 exemplares Data de Edição: Junho de 2011 Universidade de Aveiro

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«Trata-se do encontro mais representativo jamais realizado no nosso País», afirmou o ministro da Economia, Vieira da Silva, Dia 6 de Fevereiro de 2011 “Nos próximos anos, o mercado interno vai definhar. Exportar será a única forma de crescermos. Será também a forma 'virtuosa' de travarmos o crescimento da dívida externa, que hoje nos sufoca

Exportar é, de facto, importante. Não tanto por ser a única forma de promover o crescimento económico, mas por ser a melhor forma de promover a competitividade das nossas empresas. Mas não exportar os mesmos produtos tradicionais para mercados pouco competitivos, como Angola, Venezuela ou a Líbia. Para desenvolver o tecido produtivo temos de conseguir vender produtos modernos e com alto valor acrescentado, em mercados competitivos, como a Europa do Norte, os Estados Unidos ou a Ásia. Empresas que forem competitivas nos mercados avançados, também o serão no mercado português. Os conceitos de mercado interno e externo estão, agora, um tanto confundidos. O nosso mercado interno é a zona euro, é a União Europeia. A chamada divida "externa" é, neste sentido, maioritariamente interna. Não sufoca a economia por ser externa, mas sim por ser excessiva. Se os aforradores alemães não quiserem financiar o Estado, os bancos e as empresas portuguesas, os investidores portugueses também o não farão. Se os capitais fugirem de Portugal, fugirão todos, sejam estrangeiros ou portugueses.

Mas é claro que o endividamento excessivo, principalmente por parte do Estado, concorre para a perda de poder de compra da maioria da população portuguesa, para a retracção do investimento em Portugal, para a estagnação (ou reversão) do crescimento. A questão não é apenas exportar mais, é produzir mais e consumir menos, aumentar a poupança e diminuir a dívida. Aliás, penso que, a curto prazo, se começará a discutir cada vez mais outras formas de diminuir a dívida, que poderão passar pela sua reestruturação e pela imposição de algum prejuízo ("haircut") aos próprios credores.

Egas Salgueiro é docente na Universidade de Aveiro, onde lecciona cadeiras como Econometria, Microeconomia e Economia I/II .

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A situação de Portugal é muito grave Nos últimos 15 anos, em Portugal, temos gasto mais do que produzimos o que levou a uma situação insustentável e gravíssima. Como, para grandes males são precisos grandes remédios, é necessária uma profunda reestruturação do país começando pela flexibilização dos contratos de trabalho.

Como chegamos à falência Desde 1960 que em Portugal consumimos mais do que produzimos. Este vício agudizou-se no pós-25-de Abril (nos anos 1974/1984, o défice corrente foi, em média, de 5.5%/ano e o crescimento de 2.3%/ano, do PIB) e no pós – Cavaco Silva (nos anos 1996-2010, o défice corrente foi, em média, de 8.9% e crescimento 1.8%/ano, do PIB). Apenas esteve controlado nos mandatos de Cavaco Silva (nos anos 1985/1995, houve um superavit, em média, de 0.04% e crescimento 3.6%/ano, do PIB).

Deveria ser explicado ao país que, em termos de longo prazo, o importante é a taxa de crescimento do PIB subtraída do Defice Corrente que nos anos 1974/1984 foi -3.2%/ano, nos anos 1985/1995 foi 3.7%/ano e nos anos 1996-2010 foi - 7.1%/ano.

É como uma senhora gorda que precisa iludir um potencial candidato a namorado e que, em vez de fazer dieta e ginástica, usa uma cinta muito apertada que resolve o problema naquela noite mas que lhe vai criar, a prazo, graves problemas de saúde. O défice corrente implica pedir-se dinheiro emprestado ao estrangeiro. Supondo que a dívida externa em 1974 era nula, o défice acumulado traduz-se actualmente num endividamento ao exterior de 160% do PIB. Este número fica um pouco aliviado com a contabilização das transferências dos emigrantes. O défice corrente existe porque tem um efeito positivo, no curto prazo, no crescimento económico mas um efeito negativo no longo prazo. Governantes com horizontes curtos, aumentam o défice para iludir o eleitorado por mais uns meses. Não tendo coragem nem saber para explicar ao eleitorado como melhorar a estrutura do país, lançam-se em medidas de curto prazo.

Normalmente, um país não pode manter um défice corrente durante muitos anos porque, lentamente, a taxa de juro exigida vai aumentando. O termos entrado na Zona Euro permitiu manter governos despesistas (Guterres, Santana Lopes e Sócrates) durante tempo de mais. Agora a situação é desesperada. De um momento para o outro, vais entrar tudo em rotura financeira: a segurança social deixa de pagar reformas, subsídio de desemprego, o Governo deixa de pagar salários, os bancos ficam sem liquidez, a CP e demais empresas públicas deixam de pagar a electricidade, terrível.

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A senhora gorda apertou tanto a cinta que já não respira há mais de 5 minutos. De um momento para o outro, o coração parou. Tem não só que soltar a cinta rapidamente (cortar o défice) como receber respiração boa a boca de um bombeiro com os dentes todos podres já (pedir socorro ao FMI). Para situações desesperadas, soluções desesperadas Agora que vem ai um novo governo, talvez com pessoas sérias, é preciso explicar aos portugueses que vai acontecer uma redução do rendimento disponível das famílias próxima dos 20%. Não é uma contracção de 2% mas de 20%. Actuando de forma séria, essa redução poderá acontecer ao longo dos próximos 5 anos, senão, será a rotura imediata. E são necessárias medidas muito duras. Começando pelo mercado de trabalho, é necessário haver liberdade contratual entre empregadores e empregados. 1) Acabar com o Salário Mínimo. O SM português é muito elevado (>40% do PIBpc) o que é insustentável para a segurança social (aumenta o desemprego e os não activos). Teria que ser 300€/mês mas, psicologicamente, é melhor acabar com ele. Fica como já acontece com os recibos verdes onde cada trabalhador tem a liberdade de aceitar o salário que entender nem que seja nada. 2) Introduzir o despedimento individual. Os contratos terão que ser todos “por tempo indeterminado” mas havendo a possibilidade de despedimento individual. Tal como um empregado se pode despedir quando quiser dando um pré-aviso (de 2 meses) terá que ser possível despedir um empregado, respeitado um pré-aviso que deverá ser o actual “tempo de indemnização”: um mês por cada ano de trabalho mas o empregado fica a trabalhar. Se o empregador quiser um despedimento imediato, pagará um mês por cada ano de trabalho de subsídio de desemprego.

desemprego durante dois meses por cada ano de trabalho. No caso de o trabalhador ter sido despedido com efeito imediato, receberá um mês do empregador mais dois meses da Segurança Social. 4) Introduzir liberdade na renegociação dos contratos de trabalho. Terá que ser possível o empregador e o trabalhador, respeitado o tempo de pré-aviso, decidirem alterações no contrato de trabalho como, por exemplo, reduções salariais. 5) Flexibilizar as relações de trabalho. Existe uma multiplicidade de contratos informais de trabalho que têm que ser acomodados na lei. Por exemplo, terá que ser possível contratar empregados às segundas-feiras das 8h às 12h; 10 horas por mês à escolha do empregado, 50 horas por ano à escolha do empregador. 6) Acabar com o "valor mínimo" das contribuições obrigatórias . Se o empregado trabalha um dia por semana e ganha 100€/mês, não pode ser obrigado a descontar 159,72€/mês. Desconta 11% ou, em caso de trabalhador independente, 34.5%. Quando ficar desempregado, recebe 65€/mês. Se ficar de baixa médica, recebe 3.30€/dia. Mas isto é a lei da selva. Pois é, mas não se pode fazer nada. Como o Estado não nos pode alimentar a todos, o melhor é deixar-nos viver o melhor que pudermos. O Estado também se propõe acabar com a mendicidade, o guardar carros, a prostituição, mas, como isso não parece prejudicar ninguém e o Estado não tem meios para garantir o seu fim, salve-se quem puder porque já não há Pai Natal. "Então posso fazer um aborto."; "Não porque o aborto é proibido mas, se fizeres um aborto, não te acontece nada."; "Então é permitido?" "Não, o aborto é proibido mas não te acontece nada."

3) Reduzir o subsídio de desemprego. A Segurança Social apenas pode pagar subsídio de

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Pedro Cosme Costa Vieira, Faculdade de Economia do Porto

Vivi até aos 18 anos numa pequena aldeia de Ovar. Fiz o secundário na Feira e prossegui os estudos no Porto (na FEUP e na FEP) onde fiquei a trabalhar, sendo então licenciado em Engenharia de Minas (FEUP, 1988), mestrado em Economia (FEP, 1997), doutorado em Economia (FEP, 2001) e agregado em Economia (FEP, 2007). Apesar de ter vivido 75% do meu tempo no Distrito de Aveiro, sinto-me pertencer ao Grande Porto. Desde 1991 que sou docente na FEP-UP onde já leccionei Informática, Matemática, Microeconomia e Matemática Financeira. Considero-me professor a tempo inteiro, um teórico.

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“ NÃO RI! “

“JUSTEZA, HONESTIDADE, COERÊNCIA E IMPARCIBILIDADE!” O mistério do baptismo, as exigentes praxes, os despiques... Tudo isto nos faz ficar orgulhosos dos nossos caminhos nos terem conduzido a Economia. Hoje, enquanto aluviões, agradecemos pela enorme dedicação dos mestres e veteranos à praxe, à integração e à disponibilidade para as tantas actividades promovidas.

Irónico, porque é Economia que nos deixa sempre com um sorriso na cara. É na praxe que é cultivada toda esta devoção ao curso. Sermos praxados em ECONOMIA é, sem dúvida, umas das melhores sensações. Sentimonos privilegiados por estarmos no melhor curso da academia, o curso onde impera como objectivo primordial a nossa integração e a união entre todos. É/foi por Economia que suamos, que cantamos até não haver mais voz, que dedicamos a melhor parte de nós…

Todo este caminho que temos vindo a percorrer tem sido uma batalha exigente mas que dá e dará frutos no que toca ao que somos e ao que seremos. Por tudo isto, OBRIGADO!

“‘TÁ A ENCHER ! “ Ali, aprendemos a valorizar o curso e a lutar por ele. Ganhamos espírito académico, respeito e companheirismo. É a praxe que nos une, que nos torna mais próximos e que cultiva o nosso espírito de solidariedade. Todas as brincadeiras feitas serviram para aumentar

a dedicação e esforço pelo curso ensinandonos a nunca virámos a cara à luta, nunca desistimos, e defendemos sempre Economia da melhor forma que soubermos: unidos, porque acima de tudo Economia é “solidariedade”.

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Faina 2010-2011 Mais um ano de faina, mais um ano de praxe, mais um ano de tardes no drinks, festas, jantares, grito académico, construção do carro, mais um ano a ensinar aos aluviões o que ECONOMIA tem melhor que qualquer outro curso da academia. Acabou-se por juntar um grupo de praxistas pouco homogéneo, mas que com as suas diferenças conseguiram criar um todo que deu bons resultados. Sempre com o espírito já bem nosso característico, passado de faina em faina, geração em geração, este foi mais um ano que fica para recordar, mas com um gosto particularmente agridoce. Não foi fácil por em ordem todos aqueles que iam aparecendo, sempre cheios de razões e manias, mas que perderam logo no primeiro instante, abrindo os olhos para a nova realidade que lhes foi colocada. Desde os primeiros recados que os lodos levaram acerca das brincadeiras do facebook até ao derradeiro momento em que foram reveladas as pontuações do desfile, este ano tem muitos momentos para recordar. Pela primeira vez, e com muito esforço e dedicação, ganhamos o grito académico, competição na qual tínhamos sempre vindo a ser mal-amados todos estes anos. Ensinamos a honrar o nosso curso e a ter orgulho nele onde quer que estivessem, defendendo-o com unhas e dentes. Chatices, acabam por haver sempre, embora nem tenham sido muitas, a verdade, é que quando há um bom grupo de aluviões, a tarefa da faina é muito mais facilitada e é possível alcançar objectivos cada vez mais ousados.

Todo este ano de praxe teria sido perfeito, se no final de tudo não aparecessem pontuações duvidosas e que mancharam o nosso orgulho na recta final, mas sempre superiores a tudo isso soubemos dar a volta por cima e mantermo-nos no sítio a que pertencemos, o de melhor curso da UA. Ser muito bom, também pode ser penalizado às vezes… Como faina, orgulhamo-nos de ter passado os nossos conhecimentos a esta nova fornada e esperamos, obviamente, grandes coisas deles.

Pela Comissão de Faina: Mestre Carlos de Brito

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A importância da literacia económica entre a população em geral* Celeste Amorim Varum e Abigail Ferreira

Licenciada pela Universidade de Évora e doutorada pela Universidade de Reading em Economics International Business, Celeste Amorim Varum é docente na universidade de Aveiro. Coordena também investigação nas área de negócios internacionais e Investimento directo estrangeiro.

Abigail Ferreira é bolseira de investigação na Universidade de Aveiro.

Numa altura em que todos olhares estão centrados na crise financeira e no colapso económico e social de várias economias desenvolvidas, torna-se imperativo olharmos para o futuro, repensando na estrutura de um dos pilares fundamentais da sociedade: a educação. Se por um lado a educação é um investimento essencial e crítico para o futuro, não só para cada indivíduo per si, mas para toda a sociedade em geral, por outro, ensinar os jovens para o Século 21 implica modernizar o sistema de educação. A este nível, julgo que educar a população jovem de hoje em assuntos de economia é vital para o futuro da nossa

A nível mundial, o interesse pela literacia económica e a percepção da sua importância estão reflectidos no aumento do número de projectos de divulgação de assuntos de economia (sendo o projecto Economicando da UA uma das iniciativas pioneiras em Portugal nesta esfera) e também, ao nível académico, no aumento de publicações na temática. Refira-se que este tema merece enquadramento próprio no Journal of Economic Literature (JEL), na generalidade, no tópico A- General Economics and Teaching, e espeficamente no tópico A2- Economic Education and Teaching of Economics, nos seus pontos A20- General ou A21- Pre-college e A29- Other.

nação! Educar os jovens de hoje em assuntos

Uma revisão profunda e recente das

de economia contribuirá para o aumento no

publicações existentes na temática permite

futuro da literacia económica da população

identificar não só o aumento do número de

em geral, um aspecto considerado crítico para

publicações, como também apontar algumas

fortalecer a competitividade da economia Por-

tendências*.

tuguesa no futuro.

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Uma das questões centrais da literatu-

consenso em torno do argumento de que

ra reside na discussão sobre o interesse e efei-

agentes mais informados têm melhores apti-

tos da literacia económica. Afinal, quais as

dões e competências para optimizar as suas

vantagens de promover a literacia económica

decisões no dia-a-dia (decidir melhor entre

entre a população em geral?

poupar ou consumir no presente; investir em

Em 1776, em “A Riqueza das Nações”,

educação ou em bens de consumo; trabalhar

Adam Smith descreveu a economia de merca-

com eficiência ou não; pedir um empréstimo

do como algo que regula a interacção dos indi-

ou usar fundos próprios; prevenir o débito

víduos numa determinada ordem, como se

excessivo, etc…, etc….), contribuindo assim

houvesse uma "mão invisível" que os orientas-

para uma melhor afectação de recursos

se….apesar da inexistência de uma entidade

(financeiros e outros) e maiores níveis de ri-

coordenadora do interesse comunal. Cada

queza individual.

agente económico actuaria com vista apenas à

Porém, as vantagens da literacia finan-

prossecução dos seus próprios objectivos. O

ceira vão além dos benefícios pessoais. A

mecanismo de mercado funcionaria assim,

“mão invisível” funciona melhor quando os

como uma "mão invisível", que conduziria os

agentes económicos são economicamente

agentes económicos para uma situação ópti-

literados porque, participantes informados

ma do ponto de vista da eficiência. Este princí-

podem tomar decisões mais acertadas e, as-

pio apresenta, contudo, algumas limitações,

sim, melhorar a afectação de recursos, contri-

pois apenas pode ser aplicado a situações em

buindo para o aumento da eficiência, da pro-

que os agentes estão dotados do conhecimen-

dutividade e do nível de vida. Agentes mais

to e da capacidade para tomar as melhores

informados serão também com certeza cida-

decisões, isto é, em concorrência perfeita

dãos mais activos.

quando não se verificam falhas de mercado.

Esta ideia vem fortalecida na Reco-

Mas os agentes não estão sempre em condi-

mendação da União Europeia sobre as compe-

ções de fazer as melhores escolhas, sendo que

tências essenciais para a aprendizagem ao

grande parte deles não possui conhecimentos

longo da vida, no âmbito do programa

económicos e não age segundo princípios raci-

“Educação e Formação 2010”, onde uma com-

onais. Akerlof e Shiller (2009) em How Human

preensão alargada do funcionamento da eco-

Psychology Drives the Economy, and Why It

nomia é entendida como competência funda-

Matters for Global Capitalism demonstram

mental.

que o comportamento irracional dos agentes explica várias crises, incluindo a actual. Assim, e apesar do debate existente, existe algum

Um outro aspecto crítico na literatura prende-se com a discussão sobre se se deve (ou não) iniciar a literacia económica desde

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criança. Enquanto a importância da literacia

jogos de computador, usados em sala de aula

económica é, em alguns países, crescente-

ou fora dela, são muito apropriados aos novos

mente reconhecida, e de alguma forma intro-

paradigmas de educação. No entanto, em al-

duzida no percurso de aprendizagem, em mui-

guns domínios, e especificamente no da eco-

tos outros, não existe muito contacto com

nomia, o papel dos jogos como ferramenta

temáticas de economia sendo mesmo vista de

para chegar à população jovem não tem sido

forma negativa: não tão nobre como a histó-

explorado.

ria, nem tão excitante como a geografia, a

Por fim, no que respeita aos principais

economia é vista como a filha bastarda das

temas que são o focus dos programas e pro-

ciências sociais e humanas! Este facto traduz-

jectos, a literacia financeira tem uma marca-

se numa população com elevadas dificuldades

da predominância, salientando-se a temática

em enquadrar-se numa sociedade dominada

da poupança. Quando muitos em geral advo-

pelas temáticas de economia. Assim, defende-

gam o consumo, muitos economistas enfati-

se que a educação económico-financeira deve

zam a poupança! A poupança desempenha

ser introduzida o mais cedo possível na forma-

um papel fulcral na economia. Primeiro, como

ção do indivíduo, e deve acompanhar as crian-

estabilizador automático, permitindo que flu-

ças ao longo do seu percurso escolar.

tuações no rendimento, devido a ciclos econó-

Um terceiro aspecto central da litera-

micos ou ao longo da vida, tenham um impac-

tura prende-se com os métodos de ensino ou

to reduzido no nível do consumo. Segundo, os

de divulgação da ciência económica aos jo-

recursos poupados são fonte de financiamen-

vens e público em geral. Face aos curricula

to para o investimento via banca ou mercado

cada vez mais saturados, torna-se necessário

de capitais. Na ausência de poupança interna,

ensinar fora da sala de aula e dos planos curri-

o resultado é um elevado endividamento ex-

culares, usando métodos que envolvem entre-

terno ou um reduzido investimento. Constata-

tenimento e diversão, especialmente quando

se hoje, o que já se vinha a desenvolver há

a população alvo são as crianças ou jovens. Os

alguns anos, isto é, que o crescimento econó-

métodos abrangem o uso de jogos, músicas,

mico Português está particularmente em cau-

histórias, entre outros, e podem ser tanto em

sa devido à reduzida taxa de poupança inter-

formatos tradicionais como usando as TICs. É

na. O baixo nível de poupança deriva do baixo

verdade que os jogos são entendidos como

nível de rendimento disponível, mas está tam-

diversão. Mas, para além de divertidos, reco-

bém relacionado com o sobre-endividamento

nhece-se que os jogos podem ser uma manei-

das famílias e do sector público. A queda das

ra eficiente de transmitir conhecimento e

taxas de juro, uma atitude pró-risco, e políti-

competências. Tem sido defendido que os

cas comerciais agressivas da banca geraram

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este forte acréscimo de crédito. A despesa

to, implementação e avaliação de um conjun-

incontrolada do sector público ditou o resto!

to de actividades junto dos jovens das escolas

Como consequência, o endividamento interno

de Aveiro. É dirigido a crianças do 1º ciclo do

foi acompanhado por um crescimento desme-

ensino básico e são utilizados vários instru-

surado da dívida do País ao estrangeiro.

mentos de ensino, desde literatura infantil,

Centrando-nos nos indivíduos, como

cartoons, desenhos, música e jogos, usando

factores que impulsionam a poupança pode-

não só suportes tradicionais como também as

mos identificar: a) Precaução: reservas para

novas tecnologias. Ao integrar vários níveis de

contingências imprevistas; b) Empreendedo-

exigência, exploramos e desenvolvemos com-

rismo: para especulação; c) Orgulho: herança

petências não só do aluno médio, como tam-

das futuras gerações; d) Avareza: precaução

bém acompanhamos os alunos de excelência.

ou avareza; e) Previsão: necessidades presen-

O projecto envolve uma equipa interdiscipli-

tes e futuras; f) Melhoria do bem-estar: me-

nar da Universidade de Aveiro, conjugando

nos consumo no presente, maior no futuro. É

assim conhecimentos profundos na ciência

incontestável que para se dedicarem recursos

económica com a experiência acumulada em

à produção lucrativa, os países têm de sacrifi-

projectos de ensino inovadores em outras

car o consumo corrente! Obviamente que

áreas da ciência.

quando se é pobre à partida, a redução do

Esperamos contribuir não só para a

consumo corrente de modo a permitir o con-

divulgação da ciência económica em Portugal

sumo futuro parece impossível! Neste contex-

como também para investigar sobre o nível e

to, para além de medidas de política, uma

formas de promoção de literacia económica

melhor formação em assuntos de economia e

da população em geral, e das crianças em par-

como esta funciona pode ser útil no sentido

ticular. Desta forma pretendemos também

de fomentar em todos, nos cidadãos e nos

lançar esta nova área de investigação no DE-

agentes definidores de política, a poupança

GEI. Num futuro muito próximo poderás

por vários motivos, quanto mais não seja por

acompanhar desenvolvimento deste projecto

precaução.

no site (economicando.web.ua.pt)

Tomando esta linha de argumenta-

* Artigo resumido da revisão de literatura. Amorim Varum, C, e Ferreira, Abigail (2011) A systematic review of research on economic education.

ção, justifica-se a importância do ensino de

Relatório de Projecto (sumetido a RER). Para mais informação sobre o

temas económicos e financeiros à população

projecto dirija-se á equipa do projecto: Coordenação Professora Celeste

em geral. O projecto Economicando a decor-

(abigail.ferreira@ua.pt). O projecto “Economicando”, do DEGEI e da

rer na UA contribui para ser fim. O seu principal objectivo é a divulgação da ciência económica em Portugal através do desenvolvimen-

Amorim

Varum

(camorim@ua.pt)

ou

Abigail

Ferreira

Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas, da Universidade de Aveiro, é financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES (PIDDAC) e co-financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do COMPETE – Programa Operacional Factores de Competitividade (POFC).

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Estágio de Verão na CGD Consciente da exigência cada vez maior

O estágio teve início no Edifício Sede

no mundo do trabalho, forte foi a minha von-

da CGD em Lisboa, onde durante três dias

tade de querer aprofundar conhecimentos e

recebemos formação sobre diversos temas.

vivências numa experiência mais real, prática.

Assim,

Deste modo, não hesitei em concorrer à pri-

“Academia de Verão”, o Grupo Caixa, a Mar-

meira Academia de Verão, em 2009, propor-

ca CGD, a Culturgest, o Negócio Bancário em

cionada pelo maior Banco português, a Caixa

termos genéricos, bem como os Produtos e

Geral de Depósitos.

Serviços Bancários, etc. Foi-nos também incu-

Trata-se de um estágio académico, remunerado, com a duração de 6 semanas (entre Julho e Agosto), destinado essencialmente a alunos do 2.º ano de licenciatura. Tive conhecimento desta oportunidade através de colegas e, a partir daí, fui-me mantendo a par das actualizações no site da CGD, respeitantes aos prazos de candidaturas para recrutamento de estagiários.

foi-nos

apresentado

o

Projecto

tido o espírito do que é ser profissional numa Agência Bancária, da importância dos Clientes e da Qualidade de Serviço. Tivemos ainda a possibilidade de conhecer fisicamente várias áreas, como por exemplo a Sala de Mercados, entre outras… Após a formação em Lisboa, fiquei colocada na Agência da Murtosa, localizada na principal praça e centro de comércio do Concelho. Trata-se de uma Agência composta por

Passado poucas semanas de me ter

cerca de 10 empregados, com um tipo de

candidatado no mesmo site e de ter partici-

negócio local e que enfrenta uma concorrên-

pado numa entrevista individual em Coimbra,

cia bastante agressiva.

tive conhecimento que, dos 300 candidatos a nível nacional, tivera o privilégio de pertencer ao grupo de 60 alunos seleccionados para estrear este programa.

Ao longo da minha estadia nesta Agência, tive a oportunidade de conhecer várias áreas, como o Atendimento Genérico e Passivas, o Back-Office, o Front-Office, as activida-

As Academias de Verão proporciona-

des conjuntas com a Região, bem como algu-

das por este Banco têm como principais ob-

mas Aplicações, Sistemas Operativos e Bases

jectivos dar a conhecer o funcionamento de

de Dados.

um banco, dando-nos a oportunidade de aprender grande parte das operações que se executam numa Agência, conhecer as funções que cada colaborador exerce dentro da mesma, bem como nos possibilita conhecer outros horizontes hierarquicamente superiores dentro do Grupo Financeiro.

No plano de estágio vigorava a rubrica “Um dia com…” cujo propósito era passarmos, semanalmente, um dia inteiro com um determinado colaborador, com vista a melhor entender o seu dia-a-dia, conforme a sua função. Desta forma, pude passar “Um dia com…” a Directora Comercial da Região, uma Técnica Comercial, a Gestora de Cross-Selling,

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o Gestor de Cliente, um Gestor de Caixa Em-

O ponto que mais me fascinou foi a mo-

presas e também com a Gerente da Agência

dernidade da Caixa, os esforços feitos por es-

da Murtosa.

tar sempre ao nível das expectativas do Clien-

No término deste estágio, fora-nos pedido que elaborássemos um relatório de estágio, onde sucintamente relatássemos a nossa

te, o espírito de inovação aguçado, sempre com uma visão futurista, mas sem se desviar em demasia da actualidade.

experiência ao longo das seis semanas. O últi-

Na CGD aprendi como é importante cri-

mo dia foi passado novamente em Lisboa, no

armos uma relação de empatia com o Cliente,

Edifício Sede, onde participámos nalgumas

sabermos colocar-nos no lugar dele, criarmos

sessões de trabalho (individual e em grupo)

confiança e segurança quando tratamos com

com o intuito de partilharmos impressões

rigor, profissionalismo e atenção as necessi-

finais acerca do estágio.

dades e expectativas dos clientes.

Mais do que ensinar uma profissão, este

Muito mais haveria para relatar sobre a

estágio teve a particularidade de ser uma

CGD e sobre tudo o que se aprende numa

grande oportunidade oferecida pela Caixa

Agência deste Grupo durante mês e meio… É

Geral de Depósitos aos alunos académicos

uma experiência que aconselho vivamente a

para poderem abrir os seus horizontes e des-

todos que ambicionem trabalhar numa área

cobrir como funciona um banco. Pessoalmen-

como esta, e que queiram ver o seu trabalho

te, empenhei-me em agarrar esta experiência,

valorizado e reconhecido.

tentando absorver atentamente todas as informações e dicas que os meus colegas me foram dando. De facto, pude comprovar como o universo deste Grupo Financeiro é vasto, estendendo-se por várias áreas, evitando sempre qualquer tipo de discriminação.

Cindy Sousa Entrei na UA na segunda fase do ano lectivo de 2006/2007, no curso de Economia (1º Ciclo), sendo esta a minha primeira opção de candidatura ao Ensino Superior. Actualmente encontro-me a terminar a Licenciatura e, simultaneamente, a frequentar as cadeiras do 1º ano do Mestrado em Economia, no ramo de Economia da Empresa.

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Visita ao Banco de Portugal No dia 4 de Maio decorreu, organizado pelo Núcleo de Estudantes de Economia a par da direcção de curso, uma visita ao Banco de Portugal. Com a partida marcada para as 7H30m, rumou-se a Lisboa. Chegados ao Banco, iniciou-se a visita com o visionamento de um filme sobre a história do dinheiro em Portugal, nas suas diferentes formas: a evolução histórica, socioeconómica e também artística, que caracterizam a sociedade portuguesa e os povos que antes da fundação do reino habitaram o ocidente peninsular. Procedeu-se a uma visita guiada pelo museu do Banco de Portugal, onde podemos ver peças raríssimas das colecções: moedas, notas, retratos de figuras ligadas à história portuguesa, pintura e objectos diversos relacionados com a actividade do Banco. Em suma, a evolução do dinheiro desde o artigo padrão ao euro que circula nos dias de hoje.

Pela tarde, assistimos a uma palestra dirigida pelo Dr. João Matelo, que começou com a visualização de um pequeno filme sobre a história do Banco de Portugal e a sua evolução. Esta palestra dirigiu-se especificamente para as funções do Banco de Portugal, entre outras, a estabilidade de preços (politica monetária), gestão de activos e reservas, fiscalização dos mercados monetário e cambial. No entanto, ainda houve tempo para um debate de assuntos relacionados com situação económica actual do país, como a presença do FMI/UE/BCE (TROIKA). Foi uma excelente oportunidade para conhecermos o Banco de Portugal por dentro e de cruzarmos informação com o que nos é leccionado nas aulas.

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Discurso de Economia na Benção de Finalistas 2010 / 2011 22 de Maio de 2011

Uma saudade que nos acompanhará para o resto da vida pois estes momentos são tão únicos, tão nossos… Chegamos tão pequeninos e saímos tão cheios de coragem, com vontade de enfrentar uma nova fera chamada Futuro. O desejo de conquista e construção de um futuro melhor é algo que todos temos em comum. E cada erro será para nós uma vitória, pois aqui aprendemos que a derrota não existe e que “a vida é uma infinita luta onde só perde quem desiste”. Se um dia imaginamos que era impossível, hoje, temos a prova de que afinal “tudo vale a pena se a alma não é pequena”… Bastou que acreditássemos nesta luz que há em nós, nesta coragenzinha imparável, nesta vontade de querer sempre mais e mais.

Aos nossos professores, a gratidão é enorme. Às nossas famílias a gratidão não é mensurável. O apoio que sempre nos deram será retribuído a cada dia, com sorrisos e abraços, com promessas de recompensa por todos os sacrifícios que fizeram por nós.

Ao longo dos anos muitas dúvidas foram surgindo: será que este é o caminho certo? Será que Obrigado Senhor por teres guiado e abençoado o nosso caminho! existe força suficiente para aguentar? Aos meus colegas e amigos: hoje temos a prova de que não devemos perder o brilhozinho dos nossos olhos, baixar a cabeça e… cair para a vida e para as suas armadilhas. É preciso ter a ambição de querer atingir o inatingível. A partir daqui, corram e percorram todos os caminhos, Sorriso após sorriso e lágrima após lágrima todos os atalhos que precisam para chegar à construímos o nosso pequeno mundo académi- meta e dizer “CONSEGUI…mais uma vez!” co. Pequenas estrelinhas foram sendo a resposta para todas as incertezas. Estrelinhas da força, da coragem, estrelinhas doces, sensíveis e frias, … Mas sempre presentes nos momentos de glória e de tristeza: os amigos.

Chegamos, lutamos e vencemos! Lutamos contra os terríveis testes: a álgebra, os cálculos, a Macro e a Micro. E a econometria? Só de pensar nas dores de cabeça, nos imensos cafés que nos mantinham acordados, nem parece realidade. No entanto, são estes momentos de luta que nos trazem já uma enorme saudade.

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