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Estudos

A Influência da T eoria da Teoria complexidade de Edgar Morin no contexto Educacional Ir. Simone Cristina Machado

O contexto educacional desde sempre foi alvo de pesquisa, críticas e discursos para muitos pensadores de diferentes áreas. Na constituição inicial da filosofia, a preocupação em ensinar os jovens a pensar foi ponto fundamental para o desenvolvimento da sociedade, a instituição das academias e a própria organização de currículos. O período medieval foi o ponto forte para a instituição das universidades e a sistematização dos conteúdos, que contribuíam para o fortalecimento do pensamento cristão e a defesa da fé. Contudo, é do período moderno que a educação herdou a sistematização e a hierarquização dos conteúdos que temos até os dias atuais. Com intuito de buscar o “verdadeiro conhecimento”, a ciência moderna fragmentou os saberes em forma de disciplinas e os dividiu por área de conhecimento, dando destaque às especializações e esquecendo-se da realidade global e sistêmica em que esse saber está inserido. O advento da tecnologia, as novas descobertas no campo da biologia e o desenvolvimento na área da comunicação, faz perceber a necessidade de abrir-se para o contexto da complexidade de que faz parte e a educação é o caminho que possibilita esta mudança de mentalidade, em relação ao mundo e a vida. O pensamento científico do século XVI, não nasceu por acaso, mas é resultado dos conflitos existentes em sua época, sobretudo, alimentado pela filosofia renascentista expressada em sua recusa ao pensamento escolástico, que se postulava como fundamento seguro para a verdade. Neste período específico da modernidade, em que Descartes e Bacon estão inseridos, a figura do homem nasce como um meio de superação da dúvida. O homem aparece na história, tornase um problema para si mesmo e tem um lugar de destaque, com a exaltação da razão. A razão vai ter duas conotações na filosofia moderna, uma de origem francesa, representada por Descartes e caracterizada pelo método da dedução; e outra de origem Inglesa, defendida pelo pensamento de Francis Bacon, que em seu livro, Novum Organum, propõe o método da indução, como o ideal para a busca da verdade. Se-

gundo Bacon, o método indutivo é a garantia de que todos devem realizar a mesma estrutura de raciocínio – a partir da observação de casos particulares que se repetem na realidade, criase o universal. Para os ingleses, o conhecimento depende prioritariamente do objeto. Morin não vive em um período muito diferente deste que caracteriza o início da modernidade, e para compreender as críticas que faz aos “métodos” de busca de conhecimento, que tiveram início neste período e que estão presentes ainda hoje, é importante identificar a concepção de homem e suas relações com a realidade a qual pertence, uma vez a percepção que está de suporte em cada uma das formas de se buscar a verdade: seja ela por meio da dedução, da indução ou mesmo da complexidade. Segundo Morin (1973, p. 15-19), desde Descartes o homem pensa contra a natureza devido a certeza de que sua tarefa no mundo é de dominá-la, subjugá-la e conquistá-la, ignorando a realidade de que ele próprio seja parte dessa natureza, que integra os diferentes ramos da ciência como antropologia, biologia e a própria relação com a sociedade. Nesta concepção tradicional, esses ramos eram separados um do outro, o que permitia a criação de uma visão insular do homem, em que se ignorava os diferentes aspectos que constituem a vida, causando o desligamento das ciências naturais (biologia, física, química) da ciência do homem (antropologia) e o “mundo parecia estar constituído por três extratos sobrepostos, mas não comunicantes: Homem-cultura, Vida-natureza e Física-química” (MORIN, 1973, p. 19). O projeto da modernidade separou o homem da natureza. Esta relação de divisão e fragmentação vai interferir diretamente na forma do homem conceber a si mesmo, a natureza e os demais objetos existentes no mundo. Os séculos XVII e XVIII repercutem de alguma forma a visão cartesiana, ou seja: o homem é composto por duas realidades, uma corporal e outra mental, sem nenhuma preocupação ou dúvida em relação a essa verdade. Contudo, as coisas começam a ficar diferentes no século XIX

Revista Sagrado | 2014

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