Revista Evoluir

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#01 󲑁󲑎󲑏 󲑉 󲑄󲑅󲑚/2017

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EDITORIAL

Evoluir é caminhar

N

a Evoluir, o que nos motiva é uma transformação na educação. Uma transformação que torne escolas, bairros e até mesmo cidades inteiras em ambientes mais inspiradores, e que seja capaz de impulsionar crianças, jovens e adultos a colocarem para fora todo o potencial que têm dentro de si mesmos. Uma educação que estimule o interesse pela descoberta e a vontade de aprender, pois são as pessoas curiosas e criativas que mudam o mundo. Para mostrar um pouco sobre as metodologias e processos de aprendizagem que norteiam os projetos e atividades da Evoluir rumo a essa transformação, decidimos criar a Revista Evoluir. Nesta primeira edição, pontuamos na matéria de capa o que entendemos por educação transformadora e, nas demais páginas, desenvolvemos temas que se destacaram e provocaram bastante reflexão em 2017 no universo de cada um dos nossos quatro pilares. A importância de abordar as habilidades socioemocionais na infância e a Aprendizagem Baseada em Projetos são alguns dos assuntos abordados, bem como a igualdade de gênero nas escolas e a presença de protagonistas negros nos livros da Editora Evoluir. Os programas de voluntariado desenvolvidos por nós para empresas também é destaque. Esperamos que você se inspire com esse conteúdo especial e que possamos tecer juntos a rede dessa nova educação. Boa leitura! Fernando Monteiro Diretor da Evoluir


índice

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evoluir é caminhar

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O que nos motiva é uma educação transfomadora para todos

Escolas públicas mostram que é possível aplicar metodologias inovadoras e abrir caminhos para transformar a educação no Brasil

4 Ensinar

autoconhecimento também é papel da escola Investir nas habilidades socioemocionais em sala de aula é essencial para o desenvolvimento do estudante

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Projeto ensina como brincar com pipas de forma segura

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Brincando com Pipas mobiliza escolas em comunidades com alto índice de incidentes na rede elétrica

9 Partilha de saberes

Evoluir desenvolve programa de voluntariado para aproximar empresas de causas importantes e contribuir para o crescimento individual dos funcionários

10 Aprendizagem com a mão na massa!

Como a aprendizagem baseada em projetos pode contribuir para o desenvolvimento dos estudantes de forma integral

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igualdade de Gênero Como educar meninas e meninos livres de estereótipos

representatividade negra na literatura infantil importa, sim!

26 Agora a Editora Evoluir tem loja virtual!

Mais de 70 títulos da editora podem ser adquiridos pela internet

28 infográfico: a

Evoluir em números

2017: um ano de muito trabalho e aprendizado

30 colaboração

com propósito

Conheça as organizações que possibilitaram a chegada dos nossos projetos a todo Brasil

32

empregato do ano Como animais de estimação impactam positivamente o ambiente de trabalho

Coordenação geral Brena Duarte Projeto gráfico Chico Maciel

Gabriela Ferreira

Ilustrações Marcella Tamayo

Design Chico Maciel

David Renó Gabriela Ferreira

Produção gráfica Chico Maciel Textos Babi Dias

Brena Duarte Bruno Cavalcante Camila Paixão Fernando Monteiro Gabriela Ferreira Irene Silva Luciana Vidal Mariangela Carocci Mayra Maldjian

Editora Evoluir engajase na representação de personagens negros em títulos de seu catálogo

festival mundaréu: transformação de dentro para fora Evento com atividades lúdicas e educativas passou por quatro cidades em 2017 com o objetivo de despertar a população para pequenas, mas importantes ações sustentáveis

educar muda as pessoas, pessoas transformam o mundo

Edição e revisão Elisa Andrade Buzzo Impressão Gráfica Hawaii

Fonte Zeitung

Papel Couchê fosco 150 g/m² (capa)

Couchê fosco 90 g/m² (miolo) Dimensões 203 x 254 mm (576 x 720 pt) Tiragem 1.000 exemplares

evoluir.com.br 󲜠 editoraevoluir.com.br Fundação Bia Monteiro

Direção geral Fernando Monteiro

Gerência Rafael Pereira Comercial Gilbert Bijoux Renata Polacow

Financeiro Cida Silva Micaela Pires

Seviços Klévia Regina Severino Silva

Editora Evoluir

Gerência Patrícia Monteiro Comercial Flavia Monteiro Claudia Regina

Equipe de educação integral Coordenação de área Luciana Vidal Analista de projetos Camila Paixão

Coordenação de projetos Babi Dias

Coordenação de projetos Irene Silva

Consultoria de projetos Bruno Cavalcante

Equipe de programas educacionais

Coordenação de área Mariangela Carocci

Coordenação de projetos Cristiane Baena

Coordenação de projetos Junior Ribeiro

Analista de projetos Erika Isabella

Contatos ola@evoluir.com.br

+55 11 3816 2121

Endereço Rua Aspicuelta, 329

Vila Madalena São Paulo-SP

CEP 05433-010



aprender

Ensinar autoconhecimento também é papel da escola Investir nas habilidades socioemocionais em sala de aula é essencial para o desenvolvimento do estudante

Fernando Monteiro e Mariangela Carocci

T

odos nós esperamos que as crianças recebam uma educação que amplie seus conhecimentos, as tornem responsáveis, atenciosas e socialmente comprometidas. Esperamos também que ao crescer se tornem adultos produtivos e cidadãos conscientes. De uma forma ou de outra, isso é o que a maioria das pessoas espera da educação. Frente a isso, vem ganhando cada vez mais força a ideia de que a escola deve oferecer ao estudante mais do que apenas conteúdos e conhecimentos. A sociedade mudou muito desde o século passado e hoje as crianças vivem em um mundo muito mais complexo. A mídia e o acesso à informação pelas várias tecnologias disponíveis ampliam o seu contato com outras realidades sociais e culturais quase que em tempo real. Sob esta perspectiva o educador enfrenta dois desafios: o de trabalhar com grupos de estudantes cada vez mais diversos sob os pontos de vista social, econômico e étnico; e o de prepará-los para uma sociedade e mercado de trabalho igualmente complexos.

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A aprendizagem socioemocional oferece caminhos teóricos e práticos que contribuem para ampliar a capacidade do estudante em se tornar um indivíduo realizado pessoal e profissionalmente.

Por que aprendizagem socioemocional é importante A ciência tem demonstrado que a aprendizagem socioemocional contribui positivamente não apenas para um melhor aproveitamento acadêmico mas também para o aumento de comportamentos socialmente desejáveis como ética, bondade, colaboração e empatia. Além disso, tem-se observado que o ensino da aprendizagem socioemocional é melhor quando acontece de forma coordenada em múltiplos ambientes: na sala de aula, na escola, na família e na comunidade, visando o desenvolvimento e o aprimoramento de cinco grandes habilidades:


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Autogerenciamento

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“A habilidade de regular com sucesso as emoções, pensamentos e comportamentos em situações diferentes − gerenciar o estresse, controlar os impulsos e motivar-se. A capacidade de definir e trabalhar em direção a objetivos pessoais e acadêmicos”.

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Fonte: CASEL, 2017

Autoconhecimento

“A capacidade de reconhecer com precisão as próprias emoções, pensamentos e valores e como eles influenciam o comportamento. A capacidade de avaliar com precisão as forças e limitações, com um bom senso de confiança, otimismo e uma ‘mentalidade de crescimento”’.

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Consciência social

“A capacidade de tomar a perspectiva de empatia com os outros, incluindo aqueles de origens e culturas diversas. A capacidade de compreender as normas sociais e éticas para o comportamento e de reconhecer os recursos e apoios da família, da escola e da comunidade”.

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Habilidades de relacionamento

“A capacidade de estabelecer e manter relacionamentos saudáveis ​​e gratificantes com diversos indivíduos e grupos. A capacidade de se comunicar com clareza, ouvir bem, cooperar com os outros, resistir à pressão social inadequada, negociar o conflito construtivamente e buscar e oferecer ajuda quando necessário”.

Tomada de decisão responsável

“A capacidade de fazer escolhas construtivas sobre comportamento pessoal e interações sociais baseadas em padrões éticos, preocupações de segurança e normas sociais. A avaliação realista das consequências de várias ações, e uma consideração do bem-estar de si mesmo e de outros”.


O ensino de habilidades socioemocionais em sala de aula Ensinar habilidades socioemocionais é algo novo para muitos professores e por isso é fundamental investir em formação e capacitação. Sabemos que para ensinar habilidades socioemocionais é importante o professor tê-las desenvolvidas ele mesmo, assim, os programas de formação devem dedicar atenção especial para o desenvolvimento pessoal do professor ao longo do processo. E visando criar ambientes de aprendizagem perenes, a criação de espaços de troca de aprendizagem e de experiências entre eles, como redes e grupos de estudo merece ser favorecido. A literatura e a prática demonstram que o ensino de habilidades socioemocionais é mais efetivo quando realizado de forma direta e explícita. Por isso, são necessários materiais e metodologias específicas para a condução dessas atividades em sala de aula. Na Evoluir, nós elaboramos e oferecemos cursos de formação para professores e desenvolvemos materiais específicos para o ensino e aprendizagem socioemocional. Um destes materiais é o Baú das Artes.

socialização, criatividade, leitura e habilidades manuais da criança. O material acompanha um projeto pedagógico e um acervo de materiais que permite ao educador desenvolver projetos e realizar atividades lúdicas com as crianças, estimulando um aprendizado significativo. O projeto pedagógico está organizado a partir dos temas Meio Ambiente, Saúde, Trabalho e Consumo, Pluralidade Cultural, Sexualidade e Ética. Cada tema é trabalhado por meio da metodologia de projetos, e o professor recebe uma formação continuada e materiais de apoio com orientações sobre como realizar cada projeto, tempo de duração estimado, didática, sugestão de práticas e exercícios e formas de avaliação. Uma Matriz de Competências e Habilidades Socioemocionais auxilia o professor no uso do Baú das Artes e indica os conhecimentos, valores e competências que cada projeto permite trabalhar bem como os cruzamentos com conteúdos curriculares. O Baú das Artes já foi distribuído para cerca de 700 escolas de diversas regiões brasileiras, beneficiando mais de 300 mil crianças e educadores. 󲓆

Baú das Artes: temas transversais para a aprendizagem socioemocional O Baú das Artes é um recurso pedagógico destinado ao desenvolvimento de formas de expressão,

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na prática

Projeto ensina como brincar com pipas de forma segura Brincando com Pipas mobiliza escolas em comunidades com alto índice de incidentes na rede elétrica

A

magia de soltar pipas continua a atravessar gerações e a conquistar crianças de todas as idades, mas a prática pede atenção redobrada, principalmente em áreas próximas à rede elétrica e a vias bastante movimentadas. Pensando nisso, a Evoluir criou, em 2015, o programa educacional Brincando com Pipas. A proposta é conscientizar as crianças sobre os perigos da brincadeira e orientá-las sobre a melhor forma de se divertir sem colocar a vida em risco. Para isso, desenvolvemos uma metodologia para trabalhar o tema de forma interdisciplinar, aplicando em sala de aula e fora dela atividades educativas, que vão desde peças teatrais e palestras até uma oficina de confecção de pipas. As atividades acontecem durante o ano todo, para estudantes da educação infantil até o início do ensino fundamental – entre o 1º e o 5º ano. Desenvolvido com apoio do Instituto EDP – organização que coordena as ações socioambientais da EDP Brasil, grupo do segmento de geração, distribuição, comercialização e soluções em energia elétrica –, o programa já chegou a 14 escolas públicas, impactando mais de 6,5 mil alunos nas cidades de Iúna, no Espírito Santo, e Suzano, em São Paulo. “Identificamos um alto número de ocorrências na rede elétrica em Suzano, principalmente nos meses de férias escolares. A partir disso, fizemos uma análise dos incidentes e pensamos em um projeto para mudar esse quadro”, explica Paulo Ramicelli, assessor do Instituto EDP. “Iniciamos o projeto em escolas públicas em Suzano e os resultados foram muito bons nesses

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TUDO COMEÇA COM UM LIVRO O livro Sofi, a pipa bailarina é o ponto de partida e também o fio condutor das ações do Brincando com Pipas. A publicação foi desenvolvida exclusivamente para o projeto pela psicopedagoga Solange Garcia. A narrativa em forma de poesia do livro nos leva a uma viagem pelo universo do protagonista Vitor. Com a ajuda da família, o garoto confecciona a sua própria pipa e se prepara para participar do “Campeonato do Ar”. Após minuciosa criação, a pipa deixa de ser um simples brinquedo e passa a ter um valor afetivo que pode levar seu criador a aventuras arriscadas para ver sua pipa bailarina, a Sofi, alçar voo e retornar sã e salva.

três anos. Na sequência, atuaremos em Guarulhos por mais três anos”, conta. De acordo com a companhia, as cidades com maior índice de incidentes na rede foram Guarulhos, Itaquaquecetuba e Suzano. “Os resultados em 2015 foram tão positivos que queremos expandir por todas as regiões do Brasil. Para isso, estamos abertos a novas parcerias com comercializadoras e distribuidoras de energia e qualquer outra empresa que se interessar pelo projeto”, afirma Fernando Monteiro, diretor da Evoluir. 󲓆


voluntariado

Partilha de saberes Evoluir desenvolve programa de voluntariado para aproximar empresas de causas importantes e contribuir para o crescimento individual dos funcionários

Fernando Monteiro

E

ngajar-se em uma causa nobre faz o olho de muita gente brilhar, mas nem todo mundo consegue quebrar a barreira entre o desejo de ajudar e a ação em si. Uma pesquisa da Rede Brasil Voluntário indicou que apenas 25% da população brasileira faz ou fez alguma atividade voluntária. É um número baixo, se comparado com outros países, mas que revela que há espaço para crescimento. Oportunidades não faltam. O Brasil tem um grande número de organizações que carecem de ajuda. E são muitas as causas em que voluntários são necessários, como a educação e a cultura, o cuidado com crianças, a assistência a idosos ou a proteção ao meio ambiente. O que precisamos é criar uma cultura de voluntariado. E nesse desafio as empresas podem dar uma importante contribuição. O voluntariado corporativo ou empresarial surge a partir do reconhecimento de que as empresas têm um papel social. O conhecimento e a experiência de seus funcionários, quando colocados a serviço dessas instituições, têm um enorme potencial transformador. E é pensando nisso que a Evoluir desenvolve programas de voluntariado voltados ao desenvolvimento de habilidades e competências do próprio voluntário. Um desses programas foi colocado em prática em parceria com a Mondelēz Brasil, que recebeu de braços abertos, em 2016, o projeto Voluntários da Alegria como parte do programa Ação Saudável. O objetivo era incentivar e preparar os voluntários da empresa para, junto dos educadores de cada escola beneficiada,

promover a integração das ações com as crianças. Para se preparar, o time de voluntários recebeu o Guia do Voluntário, uma ferramenta completa de capacitação desenvolvida pela Evoluir, com o passo a passo para organizar uma equipe e embasamento teórico para colocar em prática brincadeiras relacionadas à alimentação saudável e atividade física. Neste ano, a ALCOA também desafiou a equipe da Evoluir a criar um programa que tivesse dois objetivos: estimular o voluntariado por habilidade e aproximar a empresa das escolas, bairros e comunidades a partir de uma prática relevante e contínua. Com esse desafio em mente, criamos um programa no qual os voluntários atuam como mediadores de aprendizagem em atividades educativas e lúdicas. Há crescimento e desenvolvimento socioemocional dos dois lados: tanto da criança quanto do voluntário. O que aprendemos a partir dessas experiências é que, quando bem planejado, o voluntariado corporativo exerce tanto uma função social necessária quanto um importante papel na formação de lideranças e no desenvolvimento pessoal dos colaboradores.󲓆

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metodologia

Aprendizagem com a mĂŁo na massa! Como a aprendizagem baseada em projetos pode contribuir para o desenvolvimento dos estudantes de forma integral

Babi Dias, Bruno Cavalcante, Giselle Paes e Luciana Vidal 10

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NA TEORIA Os elementos essenciais da ABP

Conteúdo significativo

I

magine uma aula que pode acontecer fora da sala, em que as crianças têm voz e participam ativamente das escolhas no processo de aprendizagem, interagem com sua comunidade, trabalham em grupos e criam coletivamente soluções para questões de sua realidade. Parece interessante? Essa é a proposta da aprendizagem baseada em projetos, uma abordagem pedagógica que sustenta os programas e as formações da Evoluir. A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) é um processo de ensino e aprendizagem baseado na experiência e investigação. Nele, os estudantes concentram-se em uma questão ou problema complexo para responder a uma pergunta ou resolver um desafio com base em um processo colaborativo de investigação durante um período de tempo. Ao longo do processo, os participantes aprendem conteúdos, informações e elementos necessários para tirar conclusões e propor intervenções sobre o tema em questão ao mesmo tempo que desenvolvem suas habilidades e capacidades operacionais e interpessoais.

Heróis em ação A metodologia Heróis em Ação transformou essa abordagem em um jogo lúdico e colaborativo para crianças do ensino fundamental, que estimula o trabalho cooperativo, o senso de cidadania, a autonomia, a criatividade e as habilidades socioemocionais dos participantes. O jogo é organizado em cinco fases, cada uma contendo várias missões coletivas e divertidas: Na primeira fase, “Montando o time”, os participantes se conhecem melhor e somam talentos e habilidades às equipes. É o momento de criar uma identidade, distribuir responsabilidades e elencar acordos para a boa convivência.

O projeto é focado em desenvolver conhecimentos e habilidades relevantes para a vida pessoal e profissional dos estudantes.

Competências do século XXI Os estudantes constroem competências valiosas para o mundo como pensamento crítico, resolução de problemas, colaboração, comunicação, criatividade e inovação, que são ensinados e avaliados.

Investigação aprofundada Os estudantes se envolvem em um processo de questionamentos e utilizam os recursos disponíveis, como internet e pessoas próximas, para encontrar respostas.

Revisão e reflexão O projeto inclui processos para que os estudantes usem o feedback a fim de considerar adições e mudanças que levem a projetos, produtos e aprendizados de alta qualidade, e para dizer o que pensam sobre o que e como estão aprendendo.

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NA prática Passo a passo para desenvolver um projeto

Pergunta de condução É a questão em aberto que intriga os estudantes e que engloba as tarefas e delimita o campo de exploração do projeto. Neste momento, estimulam-se os raciocínios crítico e investigativo.

Necessidade de saber Os participantes veem a necessidade de adquirir conhecimento, compreender conceitos e aplicar habilidades. Aqui, eles desenvolvem habilidades de pesquisa e exploração do tema.

Diálogo e escolha Sob orientação do educador, os estudantes são estimulados a fazer escolhas sobre os produtos a serem criados e a entender como eles funcionam. Habilidades de comunicação e colaboração são a chave desta fase.

Apresentação As turmas apresentam o trabalho para outras pessoas, além de seus colegas e professores, e desenvolvem suas habilidades de comunicação.

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Em “Conhecendo o nosso pedaço”, segunda fase, o time parte para a exploração do território para além da sala de aula e observa o que pode ser melhorado para gerar benefícios a todos. Percorre a escola e os arredores, visita praças e espaços de lazer para reconhecer os potenciais e as belezas da comunidade, bem como para fortalecer vínculos com os moradores do bairro, conhecer suas histórias de vida e, por meio delas, a história da região. Na sequência vem a terceira fase, “O Sonho”, momento de idealizar o sonho coletivo. A tomada de decisões, o planejamento e a apresentação do projeto, a organização das ações, a definição de tarefas e o levantamento dos materiais necessários compõem o passo a passo da criação e elaboração do projeto de intervenção. Na quarta fase, “Mão na massa”, é hora de arregaçar as mangas e colocar o projeto em prática com a ajuda de pessoas da escola e de novos parceiros do bairro. Trabalhando em equipe em prol de um objetivo comum, os times fazem muitas mudanças e transformações. Na quinta e última fase, “Celebração das conquistas”, chega o momento especial de reunir todos que contribuíram para compartilhar os aprendizados e comemorar os resultados alcançados. Essa metodologia é utilizada em diversas escolas públicas participantes dos programas da Evoluir, e em todas elas observamos que a ABP aumenta o interesse em aprender das crianças, melhora as relações entre elas, a integração entre escola e comunidade e desenvolve diversas habilidades socioemocionais. 󲓆


COM AS CRIANÇAS, A PALAVRA Depoimentos de estudantes que vivenciaram os projetos da Evoluir em suas escolas

“Nosso bairro está sendo asfaltado, por isso escolhemos fazer um projeto para sensibilizar os moradores e os órgãos competentes para a sinalização de trânsito, evitando acidentes. Visitamos o Departamento Municipal de Trânsito e conhecemos seu funcionamento em nosso município. Para transformar uma sociedade é importante a participação de cada um de nós.” — Projeto Trânsito Seguro, cuidados com a vida, da EMEF Maria Lucia Nascimento da Silva (Programa ECOA, Juruti, PA)

“O Rio de Seu Caboclo pertence à nossa comunidade e há muito tempo está esquecido por todos. Realizamos o monitoramento da qualidade das águas com a parceira da ONG SOS Mata Atlântica e as análises mostraram que o rio está precisando de cuidados para voltar a ser o que era. Conversamos com a comunidade, fizemos reuniões e, aos poucos, mais pessoas estão aderindo à causa.” — Projeto Limpando o Rio de Seu Caboclo, da Escola Senador José Ermirio de Moraes (Programa ECOA, Igarassu, PE)

“Em nosso projeto construímos uma casinha de barro, aprendemos o que é permacultura e a trabalhar em equipe! Começamos pela estrutura, levantando as toras de sustentação. Uma lona pregada em varas de bambu e palha jogada por cima formou o telhado. A parede da Eco Casa Top foi feita com tela de galinheiro e precisou ser bem pregada, para ficar esticadinha. A massa que revestiu a parede foi feita com barro amassado com os pés.” — Projeto Eco Casa Top, do Centro Educacional Dr. João Batista Ferreira Monteiro (Programa ECOA, Poços de Caldas, MG)

“Eu gostei muito do projeto, pois aprendi que devemos preservar a natureza e que nós podemos mudar as coisas que estão à nossa volta. Foi muito proveitoso, gostei das mudanças que fizemos no jardim, ficou muito lindo! Agora sei que posso transformar minha escola.” — Projeto Jardim Sustentável, da EMEF Angelo Recla (Heróis em Ação, Estação Sustentável, Linhares, ES)

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eventos

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Festival Mundaréu: transformação de dentro para fora Evento com atividades lúdicas e educativas passou por quatro cidades em 2017 com o objetivo de despertar a população para pequenas, mas importantes ações sustentáveis

Q

uantas vezes já nos sentimos impotentes e desmotivados diante da complexidade dos problemas do mundo, sem saber muito bem o que fazer e por onde começar? A distância entre o pensar e o agir parece enorme, mas é possível encurtá-la, sim, se entendermos que as grandes mudanças começam com pequenas ações. E é exatamente essa visão que o Festival Mundaréu, um dos projetos desenvolvidos pelo núcleo de eventos culturais da Evoluir, quer despertar em cada um de nós. O Mundaréu tem como proposta mostrar como a nossa relação com o mundo pode ser mais saudável e sustentável em três esferas: individual, coletiva e ambiental. Para isso, o festival é estruturado em três espaços, o “Eu”, o “Nós” e o “Mundaréu”, e, dentro de cada um desses espaços, há um universo lúdico e educativo de atrações musicais, teatrais, brincadeiras, oficinas, jogos e exposições. Compreender nosso papel de agentes transformadores, começando de dentro para fora, é a chave para fazer deste mundo um lugar melhor para viver. É no espaço “Eu” onde tudo se inicia: ele representa o indivíduo, as escolhas e desejos de cada um, um convite a olhar para dentro e se conhecer. Depois da experiência de se conectar a si mesmo, os visitantes são convidados a olhar ao redor e vivenciar o coletivo.

No espaço “Nós”, a ideia é pensar na forma como nos relacionamos e interagimos com as outras pessoas, e despertar em cada um o senso de colaboração e solidariedade tão necessários para o bem comum. A experiência termina no “Mundaréu”, o planeta em que vivemos, que nos inspira e acolhe. Nesse terceiro espaço, queremos mostrar a importância de cuidar do meio ambiente para que a vida e a sociedade prosperem. Para isso, é essencial entender como as nossas ações e comportamentos podem causar tanto danos quanto melhorias. É compreender nosso papel como agente transformador, começando de dentro para fora, para fazer deste mundo um lugar melhor para viver. Neste ano, a Evoluir levou o Festival Mundaréu a quatro cidades em parceria com o Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, e patrocínio da Ball Embalagens para Bebidas América do Sul. A primeira edição ocupou o Parque da Redenção, em Porto Alegre, durante quatro dias em maio. Na sequência, foi a vez de levantar lona no Parque Lage, no Rio de Janeiro, durante a Virada Sustentável – passaram por lá mais de 6 mil visitantes de todas as idades. O evento seguiu para o Parque da Cidade, em Jacareí, no interior paulista, e encerrou sua turnê na cidade fluminense de Três Rios. 󲓆

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os mundos do mundaréu Os temas desenvolvidos em cada um dos três espaços do festival

Eu

Um mergulho no autoconhecimento com questões simples, mas que são primordiais para percebermos nosso espaço. Quem sou eu? O que preciso para viver? O que consumo? O que eu produzo? Nesse espaço, queremos despertar no indivíduo sua consciência, valorizando as características que fazem de cada indivíduo um ser único.

Nós Como é a vida na comunidade em que vivemos? Quais são os hábitos que ajudam todos a viver melhor? De onde vêm os produtos que consumimos? Para onde vai o lixo que produzimos? Aqui, o visitante participa de ações coletivas e colaborativas visando relações mais sustentáveis.

Mundaréu O despertar do pensamento de como aproveitamos os recursos que o ambiente nos oferece e como alteramos e nos adaptamos a cada ambiente. Mostrar como os resultados das nossas ações e comportamentos podem causar danos ou melhorias no meio ambiente, e reforçar a importância de agirmos pensando não apenas em si, mas nos outros e no mundo.

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capa

Educar muda as pessoas, pessoas transformam o mundo Escolas públicas mostram que é possível aplicar metodologias inovadoras e abrir caminhos para transformar a educação no Brasil

Babi Dias, Bruno Cavalcante e Luciana Vidal

H

á clichês que valem a repetição: “A educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo” é um deles. A frase icônica do Paulo Freire, presente no livro Educação como prática de liberdade, poderia ser um eficiente resumo de sua obra e daquilo que acreditamos ser o fundamento da transformação humana. Uma educação verdadeiramente intencional na autonomia e na liberdade de todos os indivíduos, respeitando o ser e o estar de cada um no mundo, integrada à realidade, à resolução de problemas e à cooperação é, provavelmente, a única capaz de promover mudanças positivas na vida de pessoas e comunidades. Acontece que, embora aparentemente consensual, a ideia de transformar a educação (quem não sonha com isso?) enfrenta grandes e seríssimos entraves. A estrutura escolar tradicional brasileira, historicamente baseada na valorização da teoria sobre a prática, no privilégio dos currículos conteudistas e no escasso diálogo com a comunidade

externa, ainda está engatinhando no que diz respeito à gestão democrática, ao protagonismo infantojuvenil e ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais, por exemplo. Neste cenário, fica a questão: como promover a autonomia de crianças e jovens presos em salas de aula, silenciando sentimentos importantes, repetindo conteúdos decorados que sequer fazem sentido para suas realidades? Refletindo sobre essas e outras tantas perguntas, educadores e educandos de várias cidades brasileiras vêm optando pela mudança, com um olho na prática cotidiana e outro na utopia, no sonho possível de escolas justas, acessíveis, democráticas e livres de qualquer forma de opressão. O cenário é mais positivo do que

A responsabilidade de transformar a

educação – tarefa

valorosa, mas

bastante árdua –

não pode ser só dos

professores.

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se pensa: não é raro ver comunidades escolares que derrubaram seus muros (físicos e simbólicos), promoveram a integração entre seus membros, aprenderam a arte do diálogo e, enfim, se transformaram. Aliás, estão se transformando – no presente mesmo, porque essa é uma tarefa ininterrupta e inacabável. Nosso país é muito grande e muito, mas muito mesmo, diverso. Não foi à toa que, em 2015, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) criou o Mapa da Inovação e Criatividade, com mais de 170 exemplos de escolas que negaram condições históricas

limitantes e assumiram o desafio da transformação. São organizações públicas e privadas, de ensino infantil, fundamental e médio, rurais e urbanas, que servem de exemplo, inspiração e prova de que mudar é, sim, possível. Mais do que possível: é necessário. A EMEF Desembargador Amorim Lima, em São Paulo, é uma das escolas públicas reconhecidas no Mapa pela sua forma inovadora de educar, baseada nos princípios e práticas da Educação Integral. “O Amorim Lima é uma escola de educação integral, concebida como uma educação de corpo e alma. Um dos

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princípios pedagógicos é o trabalho com as famílias, pais e comunidade”, afirma a educadora Anna Cecília Simões, em entrevista à Evoluir para a série Escolas que transformam, publicada em nossa página no Facebook (www.facebook.com/evoluircultural). Para além dos casos mais conhecidos, como as escolas Amorim Lima, Campos Salles ou Chico Anysio, todas públicas e de áreas urbanas, há muitos bons exemplos espalhados pelo Brasil. É animador pensar que há centenas de instituições que, embora ainda não estejam no Mapa, são igualmente inovadoras. Nos últimos anos, inclusive, nós, da Evoluir, tivemos o privilégio de acompanhar e aprender com várias delas. A UEB Zebina Eugênia Costa, localizada na zona rural de São Luís, no Maranhão, e participante do Programa ECOA – uma iniciativa do Instituto Alcoa desenvolvida com a Evoluir com objetivo de promover, entre as comunidades e redes públicas, o fortalecimento de uma cultura de educação transformadora – desde 2014, é um exemplo de como desenvolver metodologias inovadoras mesmo em contextos socioeconômicos desfavoráveis. Em São Luís, 34% é a proporção de alunos que aprenderam o adequado na competência de leitura e interpretação de textos até o 5º ano, segundo dados do QEdu. No 9º ano, essa proporção cai para 19% apenas.

Uma ponte para a leitura Nesse contexto, a escola desenvolveu em 2016 o projeto “Literatura: uma ponte para ler, viver e aprender” com o objetivo de implementar práticas de ensino e aprendizagem lúdicas e interdisciplinares que desenvolvem a leitura, escrita e oralidade. Educadores, educandos e comunidade colocaram a mão na massa e prepararam, juntos, diversas novidades como a lata lúdica que traz histórias, o livro-brinquedo, os fantoches de dedo com temas literários, minilivros para contação de histórias e painéis de releitura de clássicos infantis. Ao longo do desenvolvimento das ações, foi possível notar crianças mais participativas, engajadas na busca de soluções para problemas comunitários, além de um expressivo crescimento das habilidades de leitura e escrita.

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A EMEF Elza Albuquerque de Lima, de Juruti, no interior do Pará, também é participante do ECOA desde 2014 e nos inspira ao mostrar como tem desenvolvido projetos que envolvem toda a comunidade e geram transformações positivas para além dos muros da escola. Com o projeto Horta escolar, parte da colheita da horta foi utilizada para melhorar a merenda da escola e parte foi distribuída entre as famílias das crianças. Durante o desenvolvimento do projeto, educadores utilizaram conteúdos de português, matemática, ciências, história e geografia. Além dos programas curriculares, as crianças desenvolveram habilidades sociais como solidariedade, cooperação, motivação, disciplina e confiança. É possível notar características semelhantes nessas escolas inovadoras e criativas. Todas incorporam o conceito de educação integral e estimulam a aprendizagem a partir de três níveis fundamentais: eu comigo mesmo; eu com o outro; eu com o mundo. Ou seja, promovem atividades cotidianas que incentivam o desenvolvimento de competências socioemocionais, a realização de projetos coletivos, a expressão artística, a corresponsabilidade, a tomada de decisão colegiada, o contato com a natureza, entre vários outros aspectos. Entendem que essas habilidades e vivências são fundamentais para o sucesso integral dos indivíduos, inclusive nos aspectos cognitivos relacionados às disciplinas tradicionais de português, matemática, ciências, história e geografia. No entanto, como diria João Cabral de Melo Neto, “um galo sozinho não tece uma manhã”. Não mesmo, João. A responsabilidade de transformar a educação – tarefa valorosa, mas bastante árdua – não pode ser só dos professores. É fundamental o engajamento de todos: secretarias de educação, aparelhos públicos, organizações da sociedade civil, gestores escolares, educadores, funcionários, estudantes, famílias e comunidades. Compreendendo que todos os seres humanos têm algo a ensinar e a aprender (olha o Paulo Freire aí de novo!), é impossível não concordar que quanto maior a participação, quanto maior a quantidade de vozes e contribuições, mais rico e efetivo será o processo de transformação da escola brasileira. 󲓆


Igualdade de Gênero Como educar meninas e meninos livres de estereótipos Irene Silva e Luciana Vidal

U

ma educação transformadora, comprometida com o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens, precisa promover um ambiente escolar livre de preconceitos e opressões de gênero. É essencial trabalhar esse tema nas escolas para que elas se tornem espaços seguros, acolhedores e estimulantes para que as crianças desenvolvam todos seus potenciais. Com o intuito de levar esta reflexão para as comunidades escolares, o projeto Mundo da Leitura, desenvolvido pela Evoluir e patrocinado pelas Pernambucanas, realizou em parceria com o projeto Roda Livre formações com o tema Educando meninas e meninos livres, com educadores e gestores de 45 escolas em 9 cidades no interior de São Paulo. A partir deste trabalho, selecionamos 3 dicas para educarmos meninas e meninos de forma mais igualitária:

1. Permita que meninas e meninos tenham liberdade para descobrir os seus talentos e interesses. Não diga para uma criança fazer ou deixar de fazer alguma coisa “porque ela é menina ou menino”. Não existem brincadeiras, comportamentos, esportes ou disciplinas curriculares “de menina” ou “de menino”. Todas as brincadeiras são divertidas e oportunidades de desenvolvimento para ambos os gêneros. Da mesma forma, todos se beneficiam das atividades físicas. Tanto meninas quanto meninos podem ser excelentes em artes ou matemática e quando associamos essas atividades ou habilidades a um gênero, desencorajamos muitos talentos que poderiam florescer.

2. Estimule a convivência entre meninas e meninos. Evite separá-los em grupos por gênero. É importante que meninas e meninos aprendam a conviver, a se respeitar, a dialogar. Podemos, por meio de dinâmicas de grupo, fortalecer os laços de amizade e de respeito entre meninas e meninos, estimulando uma relação de parceria e não de competição entre os gêneros. Nos grupos, encoraje as meninas a serem líderes. 3. Dê destaque para personagens femininas que alcançaram grandes feitos. Ao conhecer protagonistas poderosas, as crianças percebem que as mulheres podem sim ter papéis relevantes na sociedade. A literatura é uma grande aliada nesse sentido. Utilizar livros que tragam meninas e mulheres como protagonistas é uma ótima forma de promover a igualdade na escola. A Editora Evoluir tem vários SAIBA mais! títulos com protagonistas meninas inteONU Mulheres ligentes, divertidas https://goo.gl/rg23oR e corajosas como: Lá onde eu moro, ODS As raízes de Luriel, https://goo.gl/QyvneE Gigi e sua tesoura mágica e Coleção Roda Livre Heróis da Natureza, http://rodalivre.net.br entre outros. 󲓆

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editora

Representatividade negra na literatura infantil importa, sim! Editora Evoluir engaja-se na representação de personagens negros em títulos de seu catálogo

Q

uando criança, o ilustrador e designer Edson Ikê nunca leu um livro sequer com um personagem negro ou de outra etnia em suas páginas. “Nos livros que estudei na escola, os negros eram associados somente ao período da escravidão, com imagens horríveis, sempre em desvantagem, e eu me irritava com esse tipo de representação”, conta. Edson, que hoje luta para romper com estereótipos e representar de forma positiva os afrodescendentes em seus trabalhos visuais, foi convidado pela Editora Evoluir para ilustrar o livro Sofi, a pipa bailarina,

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base do projeto Brincando com Pipas, que tem como missão conscientizar toda a comunidade escolar sobre os perigos de empinar pipa nas proximidades da rede elétrica. Nessa obra, escrita pela pedagoga Solange Garcia, o protagonista Vitor é representado como um menino negro, assim como seu pai e alguns amiguinhos. “Me inspirei nuns meninos daqui de Mauá [região metropolitana de São Paulo], dos prédios do CDHU onde morava e de onde observava as brincadeiras, as pipas – o personagem se parece comigo na infância”, explica o ilustrador, que é fascinado pelo universo infantil.


Incluir personagens negros em seus títulos, mesmo que, originalmente, eles não tenham sido imaginados como tais (e a visão eurocêntrica da sociedade brasileira limita, e muito, a nossa imaginação), é uma das iniciativas da Editora Evoluir para diversificar a representação de meninos e meninas na literatura infantojuvenil. “É um crime a literatura não representar a diversidade brasileira, principalmente os afrodescendentes, uma vez que somos 54% da população brasileira”, pontua Edson. Durante uma palestra para o TED Talks, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, autora de Americanah e Para educar crianças feministas – um manifesto, entre outros, lembra como se sentia, na infância, ao ler apenas contos de fadas em que as meninas eram brancas, de olhos claros e habitantes de lugares frios, sendo ela uma criança negra e que morava num país muito quente. Nesse encontro, ela reforça a importância da representatividade para que não exista uma história única e homogeneizada sobre os povos, culturas e lugares diferentes. A literatura, assim como os filmes, desenhos, brinquedos, propagandas e revistas, tem um forte impacto na construção da identidade, na autoestima e no desenvolvimento de meninos e meninas. “A representatividade é muito importante porque é uma forma da criança se reconhecer. Quando um personagem é corajoso, bem-sucedido e faz coisas incríveis, a criança acaba internalizando que ela também pode fazer aquilo. Agora, quando você só vê brancos nesses papéis, de maneira sutil você está dizendo para aquela criança negra que ela não pode ocupar esses lugares”, explica a psicóloga Irene Silva, cofundadora do projeto Roda Livre e coordenadora de projetos na Evoluir. “O lúdico é muito poderoso e essas mensagens sutis que recebemos têm muito poder e impacto no desenvolvimento da criança. Por isso é importante mostrar para as crianças negras e também as indígenas e as brancas – especialmente as meninas, que sofrem com a desigualdade de gênero – que elas podem ser o que elas quiserem.”

Desde 1996, quando foi fundada pela psicóloga e escritora Bia Monteiro, a Editora Evoluir tem como missão investir numa linha editorial conectada a temas relacionados ao desenvolvimento humano, à cidadania, à cultura e ao meio ambiente. Dessa forma, consegue mostrar a crianças e jovens uma visão global e criativa da vida, fazendo-os refletir sobre si mesmos, seus interesses e valores e, especialmente, sua inserção e participação na sociedade De lá para cá, a editora distribuiu mais de 1 milhão de livros a crianças e jovens de todo o Brasil por meio de seus projetos de incentivo à leitura, como Mundo da Leitura, Ler para Saber, Leia Brasil, Viajando na Leitura e Prazer em Ler. Atualmente, seu acervo reúne mais de 100 títulos, cujas páginas representam crianças de todos os tipos e realidades. 󲓆

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diversidade Conheça três livros lançados pela Evoluir em 2017 com protagonistas negras

As raízes de Luriel – uma aventura agroecológica Aventureira que só, Luriel transforma as férias no sítio dos avós em uma verdadeira temporada de descobertas. Com seu jeitinho questionador e inquieto, a menina descendente de quilombolas desbrava o universo dos alimentos orgânicos, da agroecologia e dos quilombos na companhia do amigo Saci e das fadinhas PANCs. Juntos, eles têm de enfrentar um vizinho vilão que envenena sua plantação, causando um estrago no entorno. Criada pelo poeta, fotógrafo e ambientalista André Biazoti, As raízes de Luriel – uma aventura agroecológica é ficção mas tem muito de realidade. “É uma tentativa de levar crianças, jovens e adultos a se questionarem sobre como nossos alimentos são produzidos e quais são os benefícios de apoiar a agroecologia”, explica o autor. Há, inclusive, sugestões de atividades relacionadas aos temas do livro.

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Gigi e sua tesoura mágica Quando pequena, o sonho de Gigi era ser “fazedora” de bonecas de pano, como a Vó Nena, que presenteava a neta com bonequinhas negras de cabelos encaracolados, assim como ela. Os olhinhos da menina sempre brilhavam ao ver a tesoura mágica da vovó em ação – tac, tac, tac... Boa de comunicação, apesar de sua deficiência auditiva, Gigi era tão fascinada por esse universo que propôs à irmã Mariana, à amiga Aline e aos novos amiguinhos que fez na ecobrinquedoteca do parque colocar a mão na massa e criar seus próprios bonecos. Dá para imaginar o que acontece com a garota no futuro, não é? O livro foi escrito por Marilena Flores e ilustrado por Brunna Mancuso.

Lá onde eu moro Tudo o que Babi mais queria depois da escola era encher a pança com o bolo de coco molhadinho que só a Vó Eunice sabia fazer. Mas, no caminho, a garota foi surpreendida por uma daquelas chuvas de verão implacáveis e, então, viveu a maior aventura da sua vidinha. À procura de um lugar seguro para se proteger do pé-d’água, ela se deparou com um portão antigo sinalizado pela placa “Estação Leopoldina”. Ali, embarcou no Trem do Tempo e testemunhou momentos importantes da História do Brasil, muitos deles narrados nas contações da sua avó. Lá onde eu moro é uma ficção com um fundão de realidade escrito pela Babi Dias, que cresceu em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, comendo bolo de coco e ouvindo as histórias da Vó Eunice (sim, ela existe!), e pelo paulista Victor Peres e Perez, que só conheceu melhor a cidade quando ouviu as histórias da Babi.


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loja virtual

Agora a Editora Evoluir tem loja virtual! Mais de 70 títulos da editora podem ser adquiridos pela internet

O

catálogo da Editora Evoluir – ou boa parte dele – agora pode chegar às mãos de qualquer pessoa com apenas alguns cliques. Isso porque, em maio deste ano, a editora lançou a sua loja virtual: editoraevoluir.com.br. São mais de 70 títulos à venda, entre eles o trio A cadelinha russa, Cara feia e Mário, o menino imaginário, de Victor Peres e Perez, Lá onde eu moro, de Babi Dias e Victor Peres e Perez, e As raízes de Luriel – uma aventura agroecológica, que ganharam festas de lançamento com direito a bate-papo e sessão de autógrafos com os autores. Outro destaque da loja são as coleções, a exemplo da Coleção Tatiana Belinky, Coleção Aventura Humana, de Bia Monteiro, e Coleção O mundo que queremos, assinada por Bia Monteiro, Edson Grandisoli e Fernando Monteiro. Para comprar os livros, é necessário realizar um cadastro no site, que aceita como forma de pagamento boletos bancários e a maioria dos cartões de crédito.

Estreia tripla Três livros de Victor Peres e Perez abriram os trabalhos da loja virtual em maio A cadelinha russa Engana-se quem acha que a cadelinha russa Laika, primeiro ser vivo a orbitar a Terra, lá nos anos 50, em meio à Guerra Fria e à Corrida Espacial, virou pó de estrela. Depois de atingida por um raio, caiu com nave e tudo

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atmosfera adentro e veio parar no interior paulista. Isso mesmo, aqui no Brasil. A aventura pós-espacial da cachorrinha, acredite você, foi testemunhada pelo Mano do Sítio e sua irmã quando ainda eram pequenos, e registrada nessa obra pela narrativa sagaz de Victor e pelas ilustrações envolventes como cheiro de terra molhada de Jana Glatt. Cara feia Prestes a ganhar um irmãozinho, um menino se aventura pelo bairro atrás de um limão. Pula portões, pendura-se em árvores e vai parar até em um cemitério. Tudo isso para satisfazer o desejo de sua mãe por uma limonada. Quem ousaria, em sã consciência, ignorar os desejos de uma grávida e correr o risco de ter um irmão com a pele verde? A escrita é leve e bem-humorada, e forma um belo par com a narrativa visual, um misto de ilustração e colagem, criada por Bruna Assis Brasil. Mário, o menino imaginário Sempre cansado e cabisbaixo, Mário é o único ser imaginário da turma que não tem, veja bem, um amigo do mundo real. Durante um momento tenso, um papo sobre abandono, o faz lembrar de seu criador, um garoto que há muitos anos ele não via. Mário, o menino imaginário, embarca, então, em uma grande aventura em busca de seu inventor Roberto; esse é o nome dele, que virou um grande escritor de histórias de amor. Um livro sensível em forma de poesia escrita e visual – as ilustrações são de Arthur Vergani – para aquecer corações e resgatar um pouco daquela criança que ainda há dentro de nós. 󲓆



infográfico

A Evoluir em números 2017 foi um ano de muito trabalho e aprendizado para dar continuidade à nossa missão de transformar a educação brasileira

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escolas e instituições contempladas

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projetos concebidos e realizados 1. Ação Saudável 2. Baú das Artes 3. Brincando com Pipas 4. Clube da Cidadania 5. Desafio dos Cubos 6. Edital CPRH 7. EDP nas Escolas 8. É Tempo de Reciclar 9. Festival Mundaréu 10. Heróis em Ação 11. Heróis em Defesa da Água 12. Mundo da Leitura 13. Nau dos Mestres 14. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 15. Programa ECOA 16. RAIS 17. Story Jam 18. Viajando na Leitura 19. Voluntários ECOA

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125.371 pessoas beneficiadas pelos projetos e ações

245

encontros de capacitação e formação


82.104 17

livros distribuídos pelos programas de incentivo à leitura

estados onde estamos presentes 1. Amapá 2. Amazonas 3. Bahia 4. Ceará 5. Espírito Santo 6. Goiás 7. Maranhão 8. Mato Grosso 9. Minas Gerais 10. Pará 11. Pernambuco 12. Rio de Janeiro 13. Rio Grande do Norte 14. Rio Grande do Sul 15. Santa Catarina 16. São Paulo 17. Tocantins

292

viagens para a execução dos projetos

70

municípios favorecidos

2.339.025 km percorridos pela equipe para o desenvolvimento das atividades dezembro de 2017

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iniciativa

Colaboração com propósito Conheça as organizações que possibilitaram a chegada dos nossos projetos a todo Brasil

A

missão da Evoluir é inovar a forma como ensinamos e aprendemos. E, para que nossos projetos transformadores possam alcançar mais e mais comunidades escolares Brasil afora, recebemos apoio por investimento direto ou por leis de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet e o ProAC, entre outros. Em 2017, por exemplo, levamos o Festival Mundaréu a quatro cidades brasileiras em parceria com o Ministério da Cultura e patrocínio da empresa Ball Embalagens para Bebidas América do Sul. O projeto Mundo da Leitura, que incentiva o hábito de ler a partir da distribuição de baús com livros a escolas públicas, também percorreu o interior e o litoral paulista graças ao apoio da Petrocoque e da Pernambucanas. Confira os projetos e parceiros que caminharam lado a lado com a Evoluir ao longo deste ano. 󲓆

Instituto

Seja um apoiador! Entre em contato pelo email: ola@evoluir.com.br

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Navegue pelo conhecimento!


espreguiçar

Empregato do ano Como animais de estimação impactam positivamente o ambiente de trabalho camila paixão e Gabriela Ferreira

J

á que passamos a maior parte do dia no local de trabalho, por que não tornar esse momento ainda mais agradável? Além de proporcionar conforto e funcionalidade, o bem-estar individual e coletivo é primordial para um clima favorável no trabalho. Na Evoluir, um dos facilitadores do trabalho não é uma pessoa, mas um gato: o Boi, que nos ajuda a construir um ambiente mais leve e, acredite, produtivo. Um estudo norte-americano sobre a presença de animais no trabalho, publicado pelo International Journal of Workplace Health Management, afirma que o estresse de funcionários é menor quando há bichanos por perto. Profissionais de RH avaliam que momentos de interação com animais são positivos por serem pausas necessárias para que a mente volte a focar e por aproximarem as pessoas. Achamos que encontrar o felino durante o expediente é bom demais! E não é só aqui que essa prática existe: a experiência de ter um mascote ou visitas de pets nas empresas é novidade, mas já existe até um termo para isso – são as empresas pet-friendly. Apesar de ser mais comum em pequenas empresas, gigantes como Google e Nestlé já adotaram essa prática. 󲓆

Ele, sem saber, me alegra! O Boi é o nosso abraço apertado e carinho diário. — Brena Duarte, coordenadora de comunicação

Sua companhia nos faz exercitar o afeto, deixando nosso dia a dia mais leve! — Chico Maciel, designer

Foi devido à convivência com ele que tomei coragem para adotar um gatinho, que hoje é uma das maiores paixões da minha família. — Rafael Pereira, gerente executivo

Vida de gato: a linha do tempo do Boi 2 017▶

2 01 6▶

O Boi tem um

▶ 2015

O primeiro

pé de manga

A primeira

aniversário do

O ano em que

enorme, no qual

festa junina.

Boi. Teve bolo

Boi ganhou uma

o Boi chegou

ele se aventura

e presentes.

portinha para

por aqui.

desde pequeno.

O dia em que o

circular entre a casa e o quintal.

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Nossa equipe é tão apaixonada pelo Boi, que não é difícil ver fotos do bichano espalhadas pelo Instagram. Procure pela localização Evoluir e divirta-se com as poses do mascote!




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