Terra é nosso chão?

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Coleção O Mundo que Queremos

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Os livros da Coleção “O Mundo Que Queremos” abordam os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, avançando na compreensão de que os desafios para a sustentabilidade dependem da nossa capacidade de chegar a soluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam a muitos.

ISBN 978-85-8142-047-9 VENDA PROIBIDA

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COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS  TERRA É NOSSO CHÃO?

superfície da Terra é o único lugar onde existe vida e onde nós, seres humanos, podemos sobreviver. Porém, ao longo da história, temos cuidado mal desse bem precioso, comprometendo a existência de milhões de espécies, bem como ameaçando a nossa própria existência e qualidade de vida. Neste livro, promovemos uma reflexão sobre a importância de garantir a produção dos vegetais que nos alimentam e também nutrem os outros animais.

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Bia Monteiro • Edson Grandisoli • Fernando Monteiro Ilustrações de Samuel Rodrigues

evoluir



COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS

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bia monteiro • edson grandisoli • Fernando monteiro ilustrações de samuel rodrigues


Evoluir, 2014 Este livro atende às normas do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor desde janeiro de 2009.

Coleção Título original Volume Autores Ilustrações Coord. Editorial Design gráfico Revisão

O Mundo Que Queremos Terra é nosso chão? 6 de 6 Bia Monteiro, Edson Grandisoli e Fernando Monteiro Samuel Rodrigues Fernando Monteiro e Uriá Fassina Uriá Fassina Fernanda K Soifer e Lilian Rochael

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Monteiro, Bia Terra é nosso chão? / Bia Monteiro, Edson Grandisoli, Fernando Monteiro ; ilustrações de Samuel Rodrigues. -- 1. ed. -- São Paulo : Evoluir Cultural, 2014. -- (Coleção o mundo que queremos) 1. Cidadania 2. Desenvolvimento sustentável 3. Educação Finalidades e objetivos 4. Meio ambiente 5. Terra - Literatura infantojuvenil I. Grandisoli, Edson. II. Monteiro, Fernando. III. Rodrigues, Samuel. IV. Título. V. Série. CDD-370.115

14-09434 Índices para catálogo sistemático 1. Educação sustentável

370.115

ISBN deste livro ISBN da coleção

978-85-8142-048-6 978-85-8142-042-4

Fontes Impressão Tiragem Papel miolo Papel capa Acabamento capa

Whitney e Brandon Grotesque Prol (Diadema–SP) — novembro de 2014 4 mil exemplares Polém Bold 90g/m² Papelão 18 revestido por Couché 150g/m² Laminação Soft Touch, Verniz UV High Gloss

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Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional Evoluir · FBF Cultural Ltda. Rua Aspicuelta, 329 · São Paulo-SP · CEP 05433-010 · (11) 3816-2121 evoluir@evoluircultural.com.br · www.evoluircultural.com.br


sobre a coleçÃo o mundo Que QueremoS

Raras são as ocasiões em que conseguimos estabelecer uma associação clara entre causa e efeito. Quando o assunto é meio ambiente, então, isso torna-se bastante improvável. Apenas recentemente é que começamos a tomar consciência dos efeitos da degradação ambiental sobre a saúde humana, mas os custos sociais decorrentes dessa destruição ainda passam despercebidos por boa parte da sociedade. A exemplo, ainda que saibamos que faz mais sentido investir em medidas preventivas como saneamento básico do que tratar, mais tarde, os doentes em hospitais, pouco se promove nesse sentido. Será que o sentimento de culpa que temos por contaminar o meio ambiente nos torna incapazes de perceber os danos causados a nós mesmos? O título da coleção “O Mundo Que Queremos” pode sugerir ao leitor a existência de um mundo hipotético ideal, onde todos concordariam sobre como “as coisas deveriam ser”, e como sociedade e natureza poderiam conviver em harmonia. Ledo engano! O que os livros da coleção abordam são os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, realçando os múltiplos interesses, posições defendidas e visões de mundo subjacentes aos diversos atores sociais envolvidos com as questões apresentadas. A leitura e as atividades propostas despertam no leitor um olhar crítico sobre a realidade socioambiental do planeta, e o convida a buscar, a partir do diálogo e do consenso, soluções para as situações-problema propostas. O processo da busca por soluções consensuadas contribui para o desenvolvimento da capacidade de argumentação, escuta, reflexão e empatia entre os integrantes de um grupo social. E é a troca de ideias e


opiniões, com o justo confronto dos pontos de vista, o que permite aos participantes de um diálogo chegar a soluções. Trata-se de avançar na compreensão de que a superação dos desafios para a sustentabilidade depende da nossa capacidade de alcançar resoluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam muitos. A Coleção é composta por seis livros. Na primeira parte de cada um deles, são apresentadas descrições detalhadas sobre os principais temas ambientais do planeta Terra. Cada tema é retratado a partir de três perspectivas: características do meio biofísico, impactos da sociedade e aspectos pessoais, onde o leitor poderá se reconhecer como parte de uma cadeia de interações. Na segunda parte, são expostos conceitos e atividades que desenvolvem nos leitores a capacidade de colaboração e aprendizagem social para o momento em que forem trabalhar o livro de forma coletiva. Em cada volume é proposto um exercício em grupo baseado na dinâmica do Jogo de Papéis. Por meio desta atividade, os leitores podem colocar em prática os princípios do diálogo, desenvolver suas habilidades de comunicação, escuta ativa, argumentação, busca pelo consenso e colaboração. Desta forma, a Coleção “O Mundo Que Queremos” oferece o conteúdo e sugere um processo que leva as pessoas a ampliar sua capacidade de leitura crítica e de uma interpretação propositiva dos desafios colocados para uma sociedade sustentável, levando-as à ações responsáveis sobre o ambiente, sobre os outros e sobre elas próprias.


Sumário

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prefácio

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Terra é nosso chão?

12 O solo 16 O solo e nós 20 O solo e eu 23 Como tudo isso afeta a nossa vida? 24

A complexidade da cadeia produtiva da soja

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como a soja é produzida no brasil?

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Os atores sociais da cadeia da soja

anexos A01 diálogo e consenso A03 Jogo de Papéis A10 Atividades auxiliares A10 Conhecendo outras perspectivas A12 Jogos Psicodramáticos


preFÁcio por pedro r. jacobi

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Ao avançarmos na segunda década do século XXI, vive-se uma crise do estilo de pensamento, dos imaginários sociais e do conhecimento que sustentaram a modernidade, dominando a natureza e multiplicando a lógica de mercantilização e consumo planetários. A humanidade chegou, portanto, a uma encruzilhada que exige novos rumos para uma melhor reflexão sobre a cultura, as crenças, valores e conhecimentos em que se baseia o comportamento cotidiano, assim como sobre o paradigma antropológico-social que persiste em nossas ações, no qual a educação tem um enorme peso. Atualmente, os caminhos para uma sociedade sustentável são permeados de obstáculos, na medida em que existe uma restrita consciência da sociedade a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso. A coleção “O Mundo que Queremos”, representa uma oportunidade para compartilhar ideias e trajetos para o aperfeiçoamento das práticas em torno de temas socioambientais que fazem parte do nosso cotidiano, como o consumo da água, o tratamento dos resíduos e o lidar com a biodiversidade. A coleção contribui para construir e estimular processos de colaboração e interconexões entre pessoas, ideias e ações para multiplicar a disseminação de um conhecimento baseado em valores e práticas sustentáveis, indispensáveis para promover o interesse e o engajamento de cidadãos e cidadãs na ação e na responsabilidade social. Trata-se de uma abordagem que mostra como é possível superar o reducionismo, e estimula um pensar e fazer sobre o meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, à participação e aos


preceitos éticos como valores fundamentais para fortalecer a complexa interação entre sociedade e natureza. Nesse sentido, o papel dos educadores é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que assuma o compromisso com o desenvolvimento sustentável e também com as futuras gerações. Existe hoje o desafio de avançar uma nova forma de conhecimento, criando espaços de convivência que favoreçam mudanças de percepção e de valores, e que promovam um saber solidário e um pensamento complexo, aberto à possibilidade de construção e reconstrução coletiva num processo contínuo de novas leituras e interpretações, configurando novas possibilidades de ação. Assim, o principal eixo de atuação da Educação para a Sustentabilidade deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. O que se fundamenta no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos face ao consumo na nossa sociedade, além de estimular a mudança de valores individuais e coletivos. A educação para a sustentabilidade e cidadania ambiental representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar os modos de participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade. Em sintonia com as urgentes necessidades de mudanças da atualidade, a coleção “O Mundo que Queremos” contribui para a co-responsabilização acerca dos principais temas ambientais, estimulando iniciativas apoiadas em aprendizagem social, no diálogo e na participação. Ao destacar a ideia de Aprendizagem Social, ela cria a oportunidade para que os leitores ampliem seu conhecimento, fortaleçam os diálogos e estabeleçam laços de confiança e cooperação, a base de qualquer proposta que busque a amPedro Roberto Jacobi é professor Titular do Programa de Pós pliação da cidadania ambiental.

Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente, da Universidade de São Paulo (USP) e editor da revista Ambiente e Sociedade (ANPPAS).

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Terra é nosso chão?

COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS


A superfície da Terra é o único lugar onde, até provem o contrário, existe vida. É o único reduto seguro onde nós, seres humanos, podemos sobreviver. Uma pequena camada, com cerca de 18 quilômetros, que denominamos biosfera, abriga todas as formas de vida conhecidas e as que ainda poderemos descobrir. Essa tênue parte da Terra, representa apenas 0,14% de seu diâmetro total e, apesar de ser bastante fina, tem garantido a sobrevivência de todos e de tudo. É da superfície do planeta, de sua crosta, que retiramos minérios, água, madeira e toda a variedade de alimentos que produzimos. Os vegetais são a base da cadeia alimentar e são eles que têm garantido, por milhões de anos, a sobrevivência da grande maioria das formas de vida por meio da fotossíntese. Fotossíntese é um processo que ocorre dentro das células dos seres vivos clorofilados, que, por meio da utilização da energia da luz solar, água e CO2 (dióxido de carbono) da atmosfera, produzem glicose, uma substância rica em energia. Sem o solo, entretanto, seria impossível garantir a produção dos vegetais que nutrem a nós e a outros animais. Apesar de sua importância, o ser humano, ao longo da história, tem cuidado mal desse bem precioso, comprometendo a existência de milhões de espécies, bem como ameaçando a sua própria e também a qualidade de vida. O trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, Dom Manuel, já previa a riqueza e a importância de nossa terra e de nosso solo. “Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo… !”. Desse célebre trecho nasceu a expressão, usada por muito tempo e até hoje: “aqui, em se plantando, tudo dá”.

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O solo 12

Tanto nós quanto as outras espécies de seres vivos ocupamos uma porção bem fina e delicada da Terra, conhecida como crosta terrestre. A crosta terrestre pode ser comparada a uma “pele do nosso planeta”, e é sobre essa “pele” frágil que todas as dinâmicas e interações que garantem a existência da vida acontecem. Como você interage com o planeta? Interagir significa estabelecer uma relação mútua, ou seja, uma união onde todos os participantes se influenciam e estão abertos a mudanças em seu modo de pensar e agir. Nós interagimos com o planeta em todos os segundos da nossa vida. Mesmo dormindo, sofremos influência e nos relacionamos com o que está ao nosso redor. Você deve ter percebido, pelo exercício anterior, como estamos conectados intimamente ao nosso planeta. A atividade proposta também demonstra aquilo o que é essencial para a sobrevivência, e o que retiramos do planeta ou dos seres vivos, muitas vezes sem perceber suas inúmeras conexões conosco. Tudo aquilo o que é retirado do planeta e de ouPara fazer tros seres vivos para garantir a sobrevivência de nós, Pense em todas as etahumanos, chamamos de recursos naturais. pas do seu dia e faça uma lista contendo as maneiVisto dessa maneira, o solo — ou a terra como ras como você interage é comumente chamado — é um dos recursos nacom o que está a sua volturais mais importantes que temos. É nele que ta. Vale lembrar que até a cultivamos a maior parte dos alimentos que consusua própria respiração é uma forma de interação mimos e, onde se desenvolvem os vegetais, desde com o planeta Terra.


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arbustos até florestas. É no solo que existem micro-organismos que mantêm vivo este sistema. O solo recobre boa parte da superfície terrestre. É a parte que se situa entre a litosfera e a atmosfera. Os solos são constituídos de elementos que se apresentam naturalmente em três estados da matéria: sólido (minerais e matéria orgânica), líquido (água e outras substâncias) e gasosa (ar). O solo é resultado do constante intemperismo, ou seja, o efeito de desgaste exercido pelo tempo sobre um material de origem, em especial, as rochas. Este mesmo solo pode ser visto sobre diferentes pontos de vista. Para um engenheiro agrônomo, é a camaPara refletir da na qual pode-se desenvolver vida, Observando o exercício anterior, grife os tanto vegetal quanto animal. Para um recursos naturais dos quais dependem a sua e a sobrevivência de milhares de seres engenheiro civil, sob o ponto de vista vivos no nosso planeta e reflita sobre isso.


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da mecânica dos solos, é um corpo passível de ser escavado, sendo utilizado posteriormente como suporte para construções ou como material de construção. Para um biólogo, é parte essencial na ciclagem biogeoquímica dos nutrientes minerais e determina os diferentes ecossistemas e habitats dos seres vivos. À medida que começamos a entender melhor como nossa vida e hábitos influenciam a saúde do planeta e de outros seres vivos, passamos a compreender também a nossa responsabilidade sobre eles. Tudo o que fazemos, de uma forma ou de outra, provoca uma mudança no destino do planeta, em maior ou menor proporção. Pode parecer exagero pensar dessa forma, afinal, o que uma única pessoa, em meio a outros sete bilhões de humanos, poderia fazer para o bem ou para o mal do planeta? Infelizmente, muita gente ainda nutre um raciocínio individualista em relação ao seu próprio destino e do planeta. Mas é importante perceber que tudo está conectado, pois assim nos sentiremos responsáveis e inclinados a mudar o nosso jeito de ser individual, e ajudar a criar uma cultura coletiva de paz e de respeito ao planeta Terra.

Para refletir

O que você entende por qualidade de vida? Que fatores ou ações podem garantir uma melhor qualidade de vida para todas as espécies do planeta, incluindo a nossa? Depois de responder a estas perguntas, compartilhe-as com seus colegas e, juntos, façam uma lista no mural da escola, com tudo aquilo que vocês acreditam que possa melhorar a vida das pessoas.


Adaptado de Brasil Escola (biologia).

A hipótese Gaia cientistas alertam para as relações existentes entre os seres vivos e o meio ambiente A hipótese Gaia foi elaborada pelo cientista inglês James Lovelock no ano de 1979. Foi batizada com esse nome porque, na mitologia grega, Gaia é a deusa Terra e mãe de todos os seres vivos. Segundo a hipótese, a Terra é um imenso organismo vivo, capaz de obter energia para o seu funcionamento, regular seu clima e temperatura, eliminar seus detritos e combater suas próprias doenças, ou seja, assim como os outros seres vivos, um organismo capaz de se autorregular. A hipótese Gaia sugere também que os seres vivos são capazes de modificar o ambiente em que vivem, tornando-o mais adequado para a sua sobrevivência. Um dos argumentos utilizados pelos defensores da hipótese é o fato de que a composição da atmosfera parece, hoje, depender principalmente dos seres vivos. Sem a presença dos seres fotossintetizantes, o teor de gás carbônico (CO2) no ar seria altíssimo, enquanto que o gás nitrogênio (N2) e o gás oxigênio (O2) teriam concentrações muito baixas. Com a presença dos seres fotossintetizantes, a taxa de CO2 diminuiu, aumentando consideravelmente os

níveis de N2 e O2 disponíveis na atmosfera. A redução do CO2 favorece o resfriamento do planeta, já que esse gás é o principal responsável pelo efeito estufa. Assim, a própria vida interfere na composição da atmosfera, tornando-a mais adequada à sobrevivência dos organismos. Embora muitos cientistas concordem com a hipótese Gaia, outros não a aceitam, divergindo da ideia de que a Terra seja um “superorganismo”. Um dos argumentos utilizados por eles é que, não só os fatores biológicos moldam o planeta, mas também os geológicos, como erupções vulcânicas, glaciações, cometas que se chocam contra a Terra, ou seja, eventos que modificaram e continuam alterando profundamente o seu aspecto e funcionamento. Discordando ou não da hipótese, ela nos chama a atenção para as relações existentes entre os seres vivos e o meio ambiente, e principalmente para as relações existentes entre a nossa espécie e as demais. Dessa forma, utilizemos a hipótese Gaia para refletir sobre os impactos que as nossas atividades estão causando no planeta Terra.

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O solo e nós 16

Ao abrirmos um jornal, assistirmos a um noticiário de TV ou lermos um texto na internet, nos deparamos com os mais diferentes tipos de notícias vindas de todos os cantos do mundo. Infelizmente, boa parte delas não mostram o lado bom, generoso e criativo do ser humano, o que às vezes pode nos levar a acreditar que existem mais pessoas más do que aquelas que fazem o bem — o que está longe de ser verdade. As informações relacionadas ao meio ambiente normalmente seguem o mesmo padrão. A destruição dos ambientes naturais, a extinção de espécies, a poluição, entre outros impactos, também acabam ganhando mais destaque do que as boas práticas. De qualquer forma, notícias boas ou ruins possuem um ponto em comum: a ação do ser humano sobre o planeta. Desmatamento, uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos, poluição, contaminação do solo por resíduos tóxicos, lixo radioativo etc. Esses são apenas alguns pontos de uma longa lista de impactos que o homem tem causado ao seu próprio meio ambiente, sua única casa. E as consequências têm levado à rápida extinção de espécies e à diminuição acelerada da qualidaPara refletir de de vida de todos nós. E você? Sente-se responO Brasil é um país privilegiado. Aqui possuísável pelo planeta em que vive? Se sim, como colabora mos sete grandes biomas com uma infinidade para torná-lo um lugar mede espécies de plantas, animais, fungos e microlhor para todos? Por que é ‑organismos. Note que o nosso país possui dois importante que haja a pretipos de florestas em seu território: a Mata Atlânservação dos solos, das florestas e dos ecossistemas?


* O mapa mostra a distribuição original dos biomas, ou seja, antes de sofrerem o impacto da ação humana.

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tica e a Amazônia. Esta última é considerada a maior floresta tropical do mundo, e acredita-se que ela guarde mais de 10% de toda a biodiversidade presente na Terra. A história de nossas duas florestas possui semelhanças e diferenças. Segundo a ONG SOS Mata Atlântica, restam apenas 8% da floresta atlântica original, sendo que a maior parte dela está localizada em propriedades privadas, como fazendas. O processo de ocupação humana e os ciclos econômicos (café, cana-de-açúcar etc.) que se sucederam na área originalmente ocupada pela floresta foram os principais responsáveis pela perda acelerada de quase 92% da cobertura vegetal. Atualmente, mais de 61% da população brasileira vive na região.


Muitos quilômetros distantes da Mata Atlântica, está a Floresta Amazônica. O bioma Amazônia é marcado pela bacia amazônica, que escoa 20% do volume de água doce do mundo. Estima-se que ele abrigue mais da metade de todas as espécies vivas do Brasil. Nessa região, cerca de 20% da cobertura vegetal já foi perdida. Garimpos, exploração de madeira, pecuária e a expansão da soja e da cana-de-açúcar são apenas algumas das pressões sofridas pela floresta que luta para permanecer em pé. A história de nossas duas florestas, como acabamos de ver, reflete 18 a forma como nós, brasileiros, temos ocupado o solo. Cidades e também extensas monoculturas instalam-se cada vez mais rapidamente em áreas originalmente cobertas por florestas e outros biomas como os cerrados, por exemplo. Porém, como sabemos, toda história tem dois lados. Um deles destaca, como positiva, a ocupação dos solos para a produção de espécies de interesse comercial, pois gera empregos e renda para a população. Em especial, no caso do Brasil, o chamado agronegócio é um dos principais fatores que, ao longo das últimas décadas, tem colaborado com nosso Produto Interno Bruto (PIB). Contudo, o outro lado da história mostra que o chamado agronegócio avança cada vez mais sobre as florestas e outros biomas brasileiros, destruindo paisagens, desalojando espécies nativas, influenciando na distribuiPara fazer ção e no ciclo da água, empobrecendo o solo, A história do desmatamento da causando desertificação, assoreamento, enMata Atlântica e da Amazônia está bem documentada, graças tre outros impactos. ao acompanhamento feito por Toda discussão sobre o uso da terra e do satélites nas últimas décadas. solo parece muito distante da maioria dos Utilizando a internet e também brasileiros, já que cerca de 85% da população livros especializados sobre florestas do Brasil, busque imagens mora nas grandes cidades. Mas é um assunto de mapas que mostrem a coberque deveria interessar a todos. Todo alimento tura vegetal original desses bioque está hoje sobre a nossa mesa, foi produzimas e qual a sua situação atual. do graças ao uso (adequado ou não) do solo. Quais conclusões você pode tirar dessa comparação?


Fonte: Adaptado de Agência de Notícias de Portugal S. A., 2013.

842 milhões de pessoas passam fome! alerta da onu é extremamente preocupante

O Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro) dá o alerta de que 842 milhões de pessoas passam fome no mundo e mais dois bilhões têm deficiências nutritivas. A informação foi transmitida pela agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que, destacou que todos os anos, morrem 2,5 milhões de crianças com fome e dois bilhões de pessoas têm deficiências nutritivas, ou seja, não dispõem de vitaminas e minerais suficientes para uma vida saudável. Por outro lado, 1,4 bilhão de pessoas vivem atualmente com excesso de peso, das quais quase 500 milhões sofrem de obesidade, o que traz ameaças de doenças cardiovasculares e diabetes. Todos os anos, 3,5 bilhões de dólares gastos em saúde — 500 dólares por pessoa — poderiam ser poupados se estivesse garantida uma alimentação saudável para todos. Mas além de refletir sobre a saúde do indivíduo, a FAO pretende propor uma reflexão sobre a saúde no mundo. Daí a preocupação com os sistemas alimentares, que correspondem a todos os processos que garantem a existência de alimentos, desde a produção, aos mercados, ao acesso, às políticas, tecnologias, crédito e legislação. Hoje, em um momento em que os padrões de consumo e de produção estão colocando em risco a base de recursos capazes de garantir a vida no planeta (em que a água começa a faltar e há cada vez mais desmatamento e degradação dos solos), é preciso “uma mudança de paradigma”.

Para a FAO, a erradicação da fome é possível, mas depende muito de políticas públicas e lideranças fortes. Considerando que 98% das pessoas que passam fome estão nos países em desenvolvimento, a situação das nações desenvolvidas prova que é possível acabar com a fome, através de políticas públicas mais eficazes, envolvendo uma coordenação internacional que possa garantir, de fato, alimentação para os mais vulneráveis.

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O solo e eu 20

Uma das grandes riquezas da humanidade encontra-se sob os nossos pés: o solo. Assim como a água, o solo tem uma grande importância na vida dos seres do planeta e principalmente para o futuro da humanidade. Mas, e quanto a você, qual é a sua relação com esse solo e com os alimentos que nele são cultivados? Você já parou para refletir sobre isso? Da mesma forma que o ar é essencial para a nossa vida, o alimento é o combustível que nos move e nos permite praticar os tipos de atividades diárias, inclusive pensar. Então, imagine-se no deserto, onde há pouca comida e pouca água. O que acontecerá quando encontrar alimento e bebida? Você sentirá vontade de comer tudo o que estiver pela frente, não é verdade? Nada mais natural, já que o nosso organismo entende que devemos nos preparar para a próxima restrição, armazenando uma parte do que ingerimos. Mas nem sempre a quantidade de alimento ingerido significa qualidade daquilo que consumimos. Uma alimentação saudável vai além de comer o suficiente. Muito bem, que tal conhecer melhor o que fazer para garantir uma alimentação saudável e adotá-la como prática diária? Uma alimentação saudável vem de uma dieta composta de proteínas, carboidratos, gorduras, fibras, cálcio e outros minerais, como também é rica em vitaminas. Ela inclui um cardápio variado, com todos os tipos de alimentos, sem abusos ou exclusões. É rico em variedade de tipos de cereais, carnes, verduras, legumes e frutas. É importante lembrar que carboidratos e proteínas são dois elementos básicos, essenciais para a saúde. Devem estar presentes no prato


todos os dias para manter uma alimentação saudável e equilibrada. Restringir a dieta a apenas um deles ou consumi-los em excesso pode ser perigoso e fazer mal ao organismo. Os carboidratos, por exemplo, são fontes primárias de energia e funcionam como combustível para o cérebro, medula, nervos e células vermelhas do sangue, ou seja, mantêm o corpo funcionando. Por isso, a deficiência deles pode trazer riscos para o sistema nervoso central e para o organismo, de maneira geral. As proteínas são fundamentais em todos os aspectos da estrutura e funções celulares, também para expressar a maior parte da informação genética. Além disso, elas são essenciais para a defesa do organismo e para abastecer a musculatura. Também participam diretamente da quebra de substâncias, aceleração e regulação do nosso metabolismo por meio das enzimas. Assim, para garantir a boa alimentação, é importante consumir diferentes tipos de alimentos e nutrientes. É fundamental, portanto, que cada refeição seja “colorida”, variada, balanceada e em quantidade adequada, contendo vitaminas, proteínas, minerais, água, gorduras e carboidratos.

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ato de comer bem, aliado ao consumo de água e à prática regular de atividade física, previne o sobrepeso e a obesidade, promove maior resistência a doenças, além de trazer benefícios para a saúde mental e emocional. E, não se esqueça: uma alimentação balanceada pode e deve ser gostosa. Então, aqui vão algumas dicas para uma alimentação saudável e uma vida melhor:

O

A Tenha uma alimentação baseada em vários tipos de alimentos e, consequentemente, você terá vários nutrientes! 22 B Não fique muito tempo sem se alimentar. Pequenos lanches, entre as refeições principais, irão evitar a vontade de devorar o primeiro prato que encontrar pela frente. C Comece sempre a refeição com um caprichado prato de saladas! D Beba bastante água durante o dia. A água é um nutriente indispensável ao funcionamento do organismo. A ingestão diária de no mínimo dois litros é altamente recomendada. E Prefira sucos naturais! F Ingira alimentos ricos em fibras como legumes, verduras e frutas. G Evite alimentos fritos. Dê preferência aos grelhados ou cozidos. H Enlatados são ricos em sódio. Prefira os alimentos naturais! I Dê preferência aos alimentos desnatados como leite e iogurtes. J Deixe de lado o sedentarismo e movimente-se! Por que não ir à academia ou caminhar três vezes por semana pelo bairro? Apenas 40 minutos por dia vão deixá-lo muito mais animado e ativo!


Como tudo isso afeta a nossa vida? No exercício a seguir, propomos uma situação hipotética, imaginária, mas baseada em fatos reais, pela qual conseguiremos entender melhor quais os desafios relacionados à produção de alimentos e ao cuidado com o solo e com a vida. Este exercício poderá ser realizado utilizando-se as metodologias do Diálogo e do Jogo de Papéis. As informações necessárias para realizá-lo estão na última sessão do livro. Pode parecer mágica, mas para que um produto industrializado chegue ao consumidor, existe uma série de etapas que devem ser cumpridas. O caminho percorrido, desde a matéria-prima até o consumo nas prateleiras das lojas e mercados, é chamado de cadeia produtiva. Um outro conceito, chamado de ciclo de vida do produto, é o que descreve todas as etapas pelas quais um produto passa, desde a sua concepção até o destino final após o seu uso, inclusive de sua embalagem e dos impactos por ele causados. Neste exercício, vamos conhecer um destes caminhos: a cadeia produtiva da soja.

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A complexidade da cadeia produtiva da soja

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Uma das cadeias produtivas mais importantes para o Brasil é a da soja. Uma cultura que se estabeleceu economicamente no país a partir da década de 1960. Naquele período, a sua produção multiplicou-se por cinco, passando de 206 mil toneladas em 1960, para 1.056 milhão de toneladas em 1969, sendo que 98% desse volume era produzido nos três estados da Região Sul. Apesar do significativo crescimento da produção nos anos 60, foi na década seguinte que a soja se consolidou como a principal cultura do agronegócio brasileiro, passando de 1,5 milhões de toneladas (1970) para mais de 15 milhões de toneladas (1979). O crescimento se deveu, não apenas ao aumento da área cultivada (1,3 para 8,8 milhões de hectares), mas também ao expressivo incremento da produtividade (1,14 para 1,73t/ha) graças às novas tecnologias disponibilizadas aos produtores pela pesquisa brasileira. Mais de 80% do volume produzido na época ainda se concentrava nos estados da Região Sul do Brasil. Nas décadas de 1980 e 1990 repetiu-se, na região tropical do país, o explosivo crescimento da produção ocorrida nas duas décadas anteriores na Região Sul. Em 1970, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida no Centro-Oeste. Em 1980, esse percentual passou para 20%; em 1990 já era superior a 40% e, em 2003, estava próximo dos 60%, com tendência a ocupar maior espaço a cada nova safra. Essa transformação promoveu o Estado do Mato Grosso a líder nacional de produção de soja. Para o Brasil, a soja responde por uma receita direta, ao longo de sua cadeia produtiva, de mais de 30 bilhões de dólares anuais. Observe com atenção a tabela e o gráfico da página ao lado. São várias as atividades econômicas que constituem a cadeia produtiva da soja. E a atividade agrícola é a base de toda essa cadeia, por movimentar e interligar os demais segmentos. Entretanto, para plantar, o agricultor depende diretamente de diferentes insumos, os quais podem ser divididos em três categorias:


1 Biológicos: compreendem produtos de origem animal ou vegetal como, por exemplo, estercos usados como adubos, sementes e mudas, fertilizantes orgânicos líquidos, adubos verdes etc. 2 Químicos ou Minerais: englobam tanto substâncias provenientes de rochas, quanto aquelas produzidas artificialmente pela indústria como, por exemplo, agrotóxicos, fertilizantes solúveis (usados na agricultura convencional), fertilizantes de baixa solubilidade etc. 3 Mecânicos: máquinas e equipamentos agrícolas como tratores, arados, adubadoras, roçadoras, pulverizadores, equipamento de irrigação etc.

Complexo Soja Exportações brasileiras

Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, 2014. — (*) Previsão.

Soja em grão

Farelo de soja Valor (US$ bi)

Volume (milhões de t)

Valor (US$ bi)

Volume (milhões de t)

Valor (US$ bi)

2009

28,536

11,424

12,253

4,593

1,580

1,223

2010

29,073

11,043

13,669

4,719

1,564

1,352

2011

32,986

16,327

14,355

5,698

1,741

2,129

2012

32,916

17,455

14,289

6,595

1,757

2,071

2013

42,796

22,812

13,334

6,787

1,362

1,366

2014*

44,000

22,000

13,550

6,098

1,050

1,131

Receita total Do complexo (em US$ bilhões) 30

24,154 20

26,122

30,245 29,229

17,240 17,115

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Óleo de soja

Volume (milhões de t)

2009

2010

2011

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2014

para fazer

Compare a tabela e o gráfico ao lado e converse com seus amigos. Será que existe um crescimento proporcional entre a produção de soja em grãos, farelo e óleo? A que conclusão vocês podem chegar a respeito do valor agregado dos produtos da cadeia produtiva da soja?

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pós a produção, a soja precisa ser armazenada, processada e transportada até atingir o consumidor final no Brasil ou em outros lugares como, por exemplo, a China, os EUA a Europa. Muitas vezes, a soja exportada pelo Brasil irá alimentar o gado e outros animais de criação. O infográfico desta página resume um pouco essa complexa trajetória. No exercício proposto, todos os atores sociais da cadeia produtiva da soja estão reunidos em uma “Rodada de Diálogos” para decidir qual será o destino de uma grande área de terra, com cerca de 500 mil hectares. Para se ter uma ideia, tal extensão territorial corresponde, a mais ou menos, um terço da Região Metropolitana de São Paulo. Durante a reunião, cada grupo apresentará o seu ponto de vista sobre o que se deve fazer com a área e, posteriormente, por meio do diálogo, todos deverão chegar a um consenso. De um lado, estão os que buscam preservar a área, constituída por mata primária e centenas de espécies em extinção, e que abriga uma comunidade indígena, ainda sem território regulamentado. Esse grupo também apoia a regularização fundiária para trabalhadores sem-terra. De outro lado, estão os que visualizam uma grande oportunidade de desenvolvimento para a região, tanto do ponto de vista econômico, com a ampliação da produção, quanto social, pela expectativa de geração de emprego e renda. Ambos os grupos argumentam que a região é estratégica e um investimento na área resultará em oportunidades para todos os envolvidos. O representante do governo local está mediando o encontro, pois os participantes ainda não chegaram a um acordo sobre qual será o destino da área. Frente a essa situação, o que você acha que precisa ser feito? A área deve ser totalmente preservada, com a criação de uma unidade de conservação, ou destinada ao desenvolvimento da agricultura? Deve existir uma alternativa combinada ou você acredita que é possível chegar a um novo acordo capaz de beneficiar a todos os grupos? A reunião está prestes a começar. Será que os envolvidos conseguirão chegar a um consenso?

A

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como a soja é produzida no brasil?

Desmatamento É a forma mais comum para a expansão dos campos de plantio, ocasionando a perda da biodiversidade das áreas desmatadas.

Exploração da área desmatada Na maioria dos casos, antes do plantio, é feita a retirada da madeira e em seguida a área é ocupada pela pecuária extensiva.

Plantio e colheita Para aumentar a produtividade, faz-se uso intensivo de insumos agrícolas como adubos químicos e agrotóxicos.

Transporte e exportação Boa parte da produção de soja brasileira é exportada, na forma de grãos, para os EUA, China e Europa.

Produção animal Uma parte significativa da produção mundial de soja se destina à nutrição animal: aves, suínos e bovinos.

Consumo A maioria dos produtos de origem animal que consumimos está diretamente envolvida na cadeia produtiva da soja.

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Os atores sociais da cadeia da soja Ao longo da cadeia produtiva da soja, bem como de qualquer outro bem de consumo, existe algo importante em comum: pessoas (os atores sociais), seus interesses e valores. De acordo com as informações trabalhadas pelo texto, pode-se notar que a produção da soja envolve atores sociais em diferentes partes do planeta, ou seja, a soja, como muitos outros produtos e serviços, é um item globalizado. 28 A relação entre a maior parte dos atores que participa da cadeia produtiva da soja é comercial, ou melhor, produtos e serviços são comprados e/ou contratados para que a produção seja possível, garantindo o abastecimento. Assim, o papel desses atores na cadeia produtiva da soja é claro e a relação entre eles é linear, ou seja, de compra e venda. Entretanto, existem outros atores que participam e influenciam direta ou indiretamente nessa cadeia — você conhecerá alguns deles nas próximas páginas. A expansão do cultivo do grão de soja Para fazer acelerou‑se nos últimos 30 anos, O texto anterior traz informações importanem especial no Centro-Oeste. Para tes sobre a soja no Brasil, com a afirmação de que essa é uma das culturas agrícolas que se plantar é preciso espaço, o que mais cresce no país. Faça uma lista de ponsignifica necessidade de cada vez tos positivos e pontos negativos com relação mais áreas de cultivo. à expansão da área cultivada com soja no Originalmente, o Centro-Oeste nosso país. Procure considerar em sua lista aspectos econômicos, sociais e ambientais. era todo coberto por dois tipos de biomas principais: o Cerrado e a Floresta Amazônica. Estes têm cedido lugar a diferentes tipos de plantações, incluindo algodão, milho e, claro, a soja. São mudanças que geram preocupação entre os ambientalistas, alguns setores do governo e também entre os pequenos produtores rurais (agricultores familiares). Saiba o que pensam os diversos atores sociais envolvidos com a cadeia produtiva da soja:


Maurício Lemos, 53 anos Fornecedor de adubos, fertilizantes e agrotóxicos A produção de soja é muito importante porque é um dos principais produtos que alimenta a população. Contudo, mais importante que a própria produção da soja é garantir que ela seja de qualidade. Pensando nisso, expandi o meu negócio e hoje estamos instalados em vários lugares do Brasil. 29 Adriano Oliveira, 41 anos Agricultor Minha família produz soja há meio século. No começo era difícil, mas agora a produtividade esta cada vez maior e o nosso lucro aumentou. Essa é uma cultura que passa de pai para filho e, hoje, sou eu quem cuida da fazenda e da produção. Acho que a soja é um excelente produto, que torna mais fácil cuidar do solo. Outras fazendas, que mantêm várias outras culturas, não contam com a mesma facilidade. Pedro Luis Alvarez, 65 anos Dono de transportadora de soja (caminhões e navios) Na última década, a safra da soja foi tão boa que exportamos muito para a China, os Estados Unidos e a Europa. Os EUA são nossos maiores consumidores. Por outro lado, quando falo do caminho de nossa produção até os portos, sinto-me angustiado, pois as estradas de acesso estão precárias, congestionadas. Isso sem falar nos impostos, elevadíssimos!


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Giovani Bianchi, 72 anos Dono de indústria que beneficia a soja Abri minha indústria no Mato Grosso porque é o estado que mais produz soja no país. Porém, o custo do negócio é muito alto, pois além da manutenção e de todo o processo de beneficiamento da soja, ainda temos que cuidar do transporte, da logística. Acho que o governo brasileiro poderia promover mais incentivos para esse agronegócio, beneficiando as indústrias, claro. Camila Alvarenga, 26 anos ONG ambientalista A cultura da soja destrói o solo e acaba com a vegetação nativa. Mas não adianta somente a nossa luta por uma causa ambiental. É como se estivéssemos batendo a cabeça contra a parede. Precisamos que haja uma legislação forte, uma interferência do governo para que exista um maior fiscalização. Débora Correia, 38 anos Agrônoma, representante do setor governamental responsável pelos aspectos ambientais A minha função é orientar o trabalho do pequeno agricultor ao grande empresário agrícola. E essa orientação segue a legislação e as regras de plantio. Sei que no Brasil muitas áreas de mata nativa foram devastadas para o cultivo de culturas como a soja. É uma discussão que, em longo prazo, vai além de minha competência como técnica.


Marcelo Weber, 31 anos Liderança do MST (Movimento dos Sem-Terra) Fico indignado com os latifúndios. Com tanta terra no Brasil e nós, pequenos produtores organizados da agricultura familiar, precisamos ficar implorando por um pedaço de chão. Isso não está certo, é muita terra para pouca gente! Iracema Jatobá, 18 anos Movimento Indígena Desde criança, acompanho meus pais e todo o meu povo na luta pela demarcação de nossas terras. Mas como isso é difícil! Uma vez o problema é com o governo, outra com os donos de grandes fazendas. Existe ainda o pessoal da agricultura familiar e do MST. O Brasil tem tanta terra… Não consigo entender as razões que levam essas pessoas a desejar o nosso pedaço de chão! Christian Smith, 58 anos Importador europeu de soja e derivados O mercado consumidor europeu está cada vez mais exigente, e as legislações, mais restritivas. Eu preciso ter garantias de que os produtores da soja adquirida pela minha empresa estejam respeitando as leis ambientais e trabalhistas locais, além dos parâmetros europeus. Caso tais condições não sejam atendidas pelos meus fornecedores, serei obrigado a buscar o produto em outra região ou país.

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Espera-se que nesse encontro, os atores sociais envolvidos no dilema possam expor seus pontos de vista e procurem encontrar uma solução para a situação apresentada. É fato que as florestas e a conservação do solo são essenciais para a preservação da vida animal, das espécies vegetais, das nascentes. São fundamentais para a própria sobrevivência humana. Entretanto, no mundo contemporâneo, com uma população mundial que aumenta a cada dia, a preservação das áreas onde se produz os alimentos também é de extrema importância. Será que é possível chegar a um acordo onde todos os pontos de vista e interesses sejam contemplados? Ou este é um assunto onde não existe meio-termo?

O encontro já vai começar e o seu objetivo, agora, é construir, juntamente aos outros grupos, uma solução combinada, se possível. Caso os envolvidos não consigam chegar a um consenso, um novo encontro deverá ser agendado até que todos encontrem uma solução conjunta.


diรกlogo e consenso


á se tornou sabedoria popular a importância da comunicação para a superação de impasses. Entretanto, o que se nota é que, em muitas ocasiões, grupos de pessoas se encontram em condição de conflito, não por discordar a respeito de uma determinada situação, mas porque são incapazes de perceber aquilo com que concordam. O diálogo é uma forma pela qual os atores sociais envolvidos em impasses podem estabelecer conversas significativas, ou seja, que permitam o surgimento de alternativas capazes de superar — ou evitar — situações de conflito, chegando assim ao consenso. O diálogo é um melhor caminho para o consenso do que o debate, pois permite que cada cidadão exponha as suas ideias, levando a uma convergência entre os participantes, das suas percepções sobre os significados dos problemas. Isso acontece porque somente o diálogo possibilita que indivíduos exponham seus pontos de vista acerca das questões sociais. Quando as pessoas conseguem sair do nível das posições defendidas e chegam ao patamar das concepções de mundo que trazem consigo, ampliam-se as possibilidades de consenso. Uma troca de pontos de vista que se traduz em novos conceitos, valores, crenças e ideias que, por sua vez, se transformam conforme são expostos. É no espaço da livre troca de impressões e argumentos que as pessoas têm a oportunidade de aprender, ou seja, de transformar a si mesmas a partir de influências e reflexão. Só assim, é que poderão chegar a consensos.

J

A02

Diálogo ou Discussão? Um diálogo verdadeiro não é um embate de ideias e pontos de vista, com um grupo fazendo de tudo para convencer o outro a mudar de visão ou de opinião para que uma posição prevaleça. O diálogo verdadeiro acontece quando as pessoas escutam atentamente a opinião dos outros e estão abertas para mudar seus pontos de vista. É somente quando estamos abertos para ouvir interpretações diferentes das nossas e, eventualmente mudar de opinião, que se


chega a acordos para soluções efetivas e duradouras. Se a solução for imposta por um grupo, quem foi “vencido” na discussão ficará contrariado e provavelmente desistirá de participar do processo. Mas sabemos que manter um diálogo construtivo não é tarefa simples. É mais fácil tentarmos convencer o outro a fazer as coisas “do nosso jeito” do que criarmos alternativas que atendam aos interesses de todos, ainda que parcialmente. Somente quando as soluções propostas satisfazem aos interesses de todos é que se chega a um consenso. A03

debate Há um espírito de “ganhar ou perder”: é um embate de ideias e posições.

discussão

Diálogo

Troca de argumentos sem necessariamente se aprofundar no tema ou chegar a um consenso.

Mais sintonizado com o pensamento e com as preocupações do grupo.

Jogo de Papéis A atividade coletiva proposta nos livros desta Coleção, é um Jogo de Papéis, ou seja, um tipo de dinâmica onde os jogadores interpretam um personagem, criado dentro de um determinado cenário ou ambiente. A técnica permite aos jogadores se colocarem em situações de tomada de decisão similares às reais, permitindo a aprendizagem em relação ao tema abordado, possibilitando a observação das atitudes dos jogadores e a discussão do resultado de suas ações.


Preparando o grupo para o jogo de papéis Antes de iniciar o Jogo de Papéis, é importante que um participante seja escolhido para organizar o funcionamento da sessão. Esta pessoa será chamada de “mediador”, assim como nos debates políticos da televisão. Se o jogo for promovido entre um grupo de alunos, o papel de mediação pode ser assumido pelo professor responsável. O mediador deverá criar um espaço seguro para que os participantes possam se expressar aberta e livremente, removendo as desigualA04 dades de poder ou posição que possam existir no grupo. É fundamental que o grupo perceba o ambiente como um lugar aberto e acolhedor para se expressar sem medo de críticas ou ridicularização. Você já esteve em situações em que não se sentiu à vontade para expressar a sua opinião? Então podemos dizer que aquele não era um ambiente propício para um diálogo construtivo. Também é papel do mediador encorajar novos pontos de vista sem rotulá-los. A troca de opiniões, e não o convencimento, é o que se busca. Para tanto, o mediador deve conceder a palavra e organizar as falas. É muito importante que esta pessoa dê voz a todos, de forma democrática e em igualdade. Ela é responsável por estipular um tempo para a sessão, sinalizando ao grupo quando o término estiver próximo. Após a definição do mediador e da apresentação das regras do diálogo, os grupos devem ser formados. Cada grupo irá representar um dos atores sociais envolvidos no caso que vimos neste livro e terá determinado tempo para apresentar suas ideias e pontos de vista, assim como estar aberto para ouvir as posições dos demais. O objetivo do Jogo de Papéis é estabelecer o diádica importante logo entre todas as partes envolvidas da forma mais O Jogo de Papéis pode democrática e séria possível, buscando uma solução durar de 2 a 3 horas. Considere a possibilidaconsensuada para a questão apresentada. de de dividir a atividade Para que isso aconteça, converse com os demais em dois encontros: um integrantes do grupo sobre cada ator social que será para preparo dos grurepresentado, troquem impressões e façam anotapos e pesquisa e o outro para a sessão coletiva.


ções. Para que suas opiniões não fiquem simplesmente no terreno da fantasia, vocês poderão fazer uma pesquisa sobre casos reais, levantando pareceres de especialistas e apresentando números e estatísticas. Somente com informações concretas, será realmente possível defender os seus argumentos de forma objetiva. Sem informações que embasem os seus pontos de vista, a discussão ficará no “achismo”. Por outro lado, lembrem-se que um mesmo fato ou informação pode ter mais de uma interpretação. Para definir melhor o perfil do ator social que vocês irão representar, respondam: A05 • • • • • •

Quem eu sou e o que eu faço? Quais as coisas que eu mais valorizo? Quais são as minhas reais necessidades? Até que ponto estou disposto a mudar de opinião? De que eu abriria mão? De que eu não abriria mão?

Técnicas para a promoção do diálogo Para ajudar o grupo a chegar a um consenso, vamos apresentar algumas técnicas. Sim, há técnicas para se alcançar o consenso! A Pare de falar e escute atentamente o que os outros estão dizendo. Não vá logo pensando em como irá confrontar o ponto de vista do outro. Antes, pare, escute. O que você concorda naquilo que o outro falou? Com o que você não concorda? B Não interrompa os outros participantes enquanto eles estiverem falando. Controle a ansiedade e aguarde a sua vez. C Se coloque no lugar dos outros participantes, tentando visualizar os problemas por eles enfrentados, buscando compreender a sua visão de mundo, sua linguagem e seus valores.


D Demonstre e aja com verdadeiro interesse. Não disperse a sua atenção enquanto os outros falam. E Procure o significado nas entrelinhas das falas dos outros. O que eles estão querendo dizer, mas que não foi verbalizado, foi omitido ou não explicado? Pergunte a respeito disso.

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F Foque em fazer apenas comentários construtivos. Resista à tentação de criticar, replicar ou estigmatizar uma fala assim que ela for proferida. Guarde os seus comentários para o momento em que o contexto tiver se alterado, que é quando a crítica poderá ser feita ao tema ou assunto e não à pessoa que fez o comentário. G Observe o comportamento não verbal, como linguagem corporal, para perceber o que foi “dito” mas não foi falado. H Não fique com dúvidas. Você realmente entendeu o que o outro quis dizer ou está supondo que entendeu? Verifique se a sua compreensão está correta por meio de perguntas que comecem com frases como “estou certo em admitir que você(s)…”. Investigue também, por meio de perguntas, por que ele acha que a posição por ele apresentada é a melhor. I Exponha seu ponto de vista de forma clara e objetiva, para que todos entendam por que você está defendendo determinada posição. Lembre-se de demonstrar a todos quais são as suas reais necessidades e como a posição que você está defendendo atende a isso. Apresente sua perspectiva com frases do tipo “nosso ponto de vista está baseado no fato de que…” . J Explore coletivamente soluções criativas e que não apareceram antes. Não fique preso apenas ao que você já sabe sobre os outros grupos. Faça perguntas do tipo “as suas necessidades ainda seriam atendidas se, ao invés da sua solução, fizéssemos…?”.


Desenvolvimento do Jogo de Papéis Após cada grupo ter elaborado o perfil dos respectivos atores sociais e respondido às perguntas citadas, inicia-se a sessão de diálogo. O mediador apresenta novamente o dilema em questão, certificando-se de que todos entenderam o entrave, como serão conduzidas as falas e a duração prevista para a atividade. Não é necessário estipular um tempo máximo para cada fala, pois isto pode limitar a qualidade das conversas. Por outro lado, não queremos sessões de monólogos e se não houver bom senso por parte de quem fala, o mediador tem o direito de pedir a palavra. O papel do mediador é promover, por meio do questionamento, a expressão dos diversos pontos de vista, explorando as possibilidades e interesses comuns à medida em que estes vão se revelando. É importante que o grupo explore as oportunidades de consenso a partir das necessidades de cada ator social. Muitas vezes, as conversas estagnam em torno das posições defendidas, sem que se aprofundem para o campo das necessidades. Passar do campo das posições para o das necessidades permite ao grupo criar ou visualizar oportunidades inexploradas. A imagem do iceberg, ilustrada ao lado, representa bem a diferença entre posições, interesses e necessidades de cada pessoa. As posições divergentes são como as pontas de um iceberg, sobressalentes na superfície da mar. Assim como é impossível visualizar o restante do iceberg, escondido abaixo da linha d’água, muitas vezez não somos capazes de identificar com precisão quais são os reais interesses de nossos interlocutores, pois nos atemos à superficialidade de seus argumentos,

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e não ao que vai em seu íntimo, aquilo que gostariam verdadeiramente de comunicar. Nos atemos somente à parte mais visível. Mais profundas ainda que os interesses, estão as necessidades do grupo ou indivíduo. Um diálogo só é produtivo quando cria uma ampla gama de alternativas para o posicionamento dos atores envolvidos. Discussão e Aprendizagem sobre o jogo de papéis

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As questões abaixo devem ser utilizadas como guia para uma conversa em grupo sobre o processo e os resultados alcançados durante a sessão de diálogo. Um dos integrantes, ou o professor, pode mediar esta conversa, sempre passando a palavra a todos os participantes. Sobre os resultados • Houve consenso? Em caso afirmativo, vocês consideram sustentável o acordo ou o consenso a que o grupo chegou? O que pode garantir que esse tipo de acordo se mantenha? • Todos os atores sociais tiveram as suas necessidades atendidas? • Foi possível assegurar ganhos mútuos, ou seja, situações de “ganha-ganha”, nas quais ninguém perde? O que pôde garantir isso? • Foi possível fortalecer os relacionamentos entre os participantes? Em outras palavras, vocês estariam dispostos a negociar com essas pessoas novamente? E, será que estas pessoas teriam interesse em negociar com vocês outra vez? Sobre a representatividade • Os interesses e necessidades fundamentais de todas as partes foram bem representados? • Vocês acreditam que poderiam realizar este tipo de negociação e diálogo de grupo em uma situação real? O que precisa ser superado para que o diálogo funcione em situações reais?


• Há grupos de atores sociais que não estavam presentes, mas que poderiam ter afetado o resultado do consenso? Como o grupo poderia ter considerado as preocupações destes atores sociais? Sobre a negociação e a construção do consenso • Foram formadas coalizões? Quais? Estes acordos ajudaram a construir o consenso ou a bloqueá-lo? • Como o grupo chegou ao consenso? Tratou um ponto de vista de cada vez ou abordou o problema de uma forma completa? • Algum ator social ficou insatisfeito com o resultado? Como o grupo lidou com isso? Sobre o processo • Quais foram as principais fontes de incerteza que surgiram no decorrer do processo e como vocês lidaram com elas? • Como as informações foram obtidas? Elas foram compartilhadas? O grupo foi capaz de criar soluções criativas? Quem propôs estas soluções e por quê? • Como o grupo lidou com as diferenças dos valores morais apresentadas por cada ator social? • O poder dos atores sociais interferiu no resultado final do diálogo? • Como o grupo lidou com as diferenças de poder e informação? Como vemos, o diálogo não é apenas uma série de técnicas destinadas a melhorar a comunicação, chegar a um consenso ou resolver um problema. Durante o processo de diálogo, pessoas aprendem a pensar juntas. Não apenas analisam um problema ou criam coletivamente, mas constroem uma sensibilidade comum na qual os pensamentos, emoções e ações resultantes não pertençam a apenas um indivíduo, mas a todo o grupo.

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Atividades auxiliares A10

As atividades que descrevemos neste capítulo podem ser realizadas antes que o Jogo de Papéis seja iniciado, pois, servirão como uma espécie de “aquecimento” e irão ampliar as possibilidades de consenso. Conhecendo outras perspectivas Quanto mais perspectivas sobre a questão central do projeto a equipe levar em consideração, maiores serão as possibilidades de se chegar a um consenso e construir uma ação coletiva. Em situações complexas, é importante que você tenha uma compreensão holística, ou seja, respeite o todo, levando em consideração as partes envolvidas e suas interrelações. Uma compreensão construída a partir das múltiplas perspectivas dos diversos atores sociais, permite que você possa tomar decisões informadas e relevantes. Ser capaz de identificar e compreender o ponto de vista das diversas partes envolvidas é um aspecto fundamental para um agente de mudança. Sua capacidade de “ver o mundo através de outros olhos” irá impactar diretamente a forma como você toma decisões. O nome que se dá a isso é empatia. Em uma folha de papel disposta sobre o chão, ou em uma mesa, desenhe um diagrama como o da figura a seguir. No centro da roda, exponha o desafio principal enfrentado pelo grupo do diálogo. Nas áreas


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ao redor do centro, anote os nomes dos grupos de atores sociais, ou seja, aqueles que estão interessados ou envolvidos na questão central (você poderá, por exemplo, usar os nomes e as ocupações dos personagens sugeridos para o Jogo de Papéis proposto neste livro). Cada participante deverá se posicionar no “pedaço da pizza” com o nome do ator social que ele representa. Cada pessoa, na sua vez, dirá com suas próprias palavras qual o seu entendimento do problema, a partir da perspectiva de quem ela representa. Sua fala, neste momento, não deverá ser uma interpretação, mas sim estar baseada em fatos extraídos dos textos de apoio e pesquisas. As conversas não


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precisam durar mais do que um minuto e a pessoa que fala não deve ser interrompida. Para deixar a atividade ainda mais interessante, os participantes podem trocar de lugar, assumindo o papel de um outro ator social, tendo assim contato com um ponto de vista diferente sobre o tema. Como conclusão do exercício, o grupo chega a um insight para cada ator social. Um insight tem a ver com aquilo de mais significativo que foi expressado por cada ator social, e que ajudará a construir uma solução ao desafio colocado. Este exercício e os seus resultados visam levar a uma melhor compreensão das múltiplas perspectivas que possam existir sobre um mesmo problema. Jogos Psicodramáticos A dramatização é uma ferramenta de grande valor quando se trata de incentivar a aprendizagem. É um método de intervenção social e pesquisa das relações interpessoais, em grupo ou/e individualmente, e um poderoso agente de transformação. Ao favorecer a vivência da experiência do grupo, recria modelos de relacionamento, e a percepção das diferenças individuais de opinião, sentimentos e emoções, servindo para aprofundar a consciência dos valores. Tornando-se ao mesmo tempo autor, jogador e observador, cada indivíduo participa do jogo através do movimento e da espontaneidade, o que promove atuação livre de todos, estimulando a criatividade na produção dramática e na catarse. Os únicos requisitos para a dramatização são: espaço, tempo, grupo de indivíduos e tema. O objetivo destes jogos é praticar o diálogo e a cordialidade, e observar o contexto nas diversas dimensões em que se apresentam. O tempo de duração varia de acordo com o planejamento do grupo. Para desenvolver a atividade são necessários materias para anotações. Adereços como roupas e cenário podem ajudar, mas não são indispensáveis.


Organização do Jogo 1 O coordenador propõe um tema central como, por exemplo, "Uma alternativa para a poluição sonora em um bairro da cidade". 2 Os participantes podem atuar de diferentes formas: como um único grupo, como subgrupos que representarão diferentes aspectos da questão ou ainda divididos entre atores e plateia. 3 Os participantes criam o roteiro coletivamente e distribuem as funções e papéis. 4 Os atores representam seus respectivos papéis. Seguindo o exemplo acima, os personagens podem ser: o prefeito, a moradora, o catador de recicláveis, o empresário de limpeza urbana, o diretor de uma ONG, um pai de família que vive no lixão etc. 5 Depois da dramatização, é dado um tempo para que atores e espectadores percebam o que aprenderam. 6 Após esse tempo, o coordenador inicia a discussão final em que levanta tanto o que foi conscientemente verbalizado, quanto aquilo inconscientemente revelado através da dramatização. A Dramatização de uma Cena Distinguem-se, no desenvolvimento da ação psicodramática, três momentos de importância singular. A primeira fase, o aquecimento, é quando o grupo se prepara. Os participantes desenvolvem um tema e, com o afloramento de um protagonista, dá-se início a um segundo momento: a representação propriamente dita, ou seja, a cena dramática. Aqui ganham importância os coadjuvantes, que serão os encarregados de encenar os personagens ao contracenarem com o prota-

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gonista, com outros personagens reais ou fantasiosos, sempre com atenção para os aspectos dos atores do jogo, símbolos de seu mundo etc. A terceira fase é o compartilhamento, o retorno do protagonista, momento em que o grupo compartilha seus sentimentos e vivências, reflete sobre tudo o que foi acontecendo a cada personagem durante a cena, bem como as ressonâncias que ela produziu. Coleta de Perspectivas A14

Os participantes da atividade devem anotar as impressões, perspectivas e opiniões de cada um dos grupos retratados no psicodrama. Para organizar a coleta de informações, é necessário registrar a palavra, frase ou expressão considerada mais significativa na representação de cada um dos grupos/personagens. Veja o exemplo na próxima página: os personagens do psicodrama discutem sobre “uma alternativa para a poluição sonora em um bairro da cidade”. Imagine uma situação em que um bairro tradicional de uma cidade de médio porte se transforma em um ponto de encontro e entretenimento, com muitos bares, casas de shows e restaurantes, dividindo o espaço com os moradores. Reflexão Ao final da encenação e da coleta de perspectivas, o grupo deve se juntar para refletir e argumentar sobre o aprendizado coletivo. Veja alguns questionamentos que podem ser feitos neste momento: • Como foi participar ou assistir a atividade? • Qual foi a parte mais difícil? E a mais fácil? • Quais insights e feedbacks foram adquiridos através do jogo?


Almir Simões, o fiscal da prefeitura

Minha função é fiscalizar, multar quando for preciso e fazer cumprir a lei. Pelo que tenho visto nos últimos dias, esse bairro está muito barulhento! Jucélia Leal, a moradora do bairro

Está insuportável! Os bares e restaurantes não respeitam os moradores e fazem barulho até altas horas da madrugada. Chega! Mauro Sá, músico que se apresenta na região

O bairro é muito bom para os músicos. Com os shows que fazemos nos bares daqui, sustentamos nossas famílias. O bairro é o nosso “ganha-pão”. Marta Leite, proprietária de uma casa de shows

As pessoas que frequentam os bares querem se divertir! Empregamos muita gente e movimentamos toda a economia dessa região. Zeca Vieira, o diretor da Associação do Bairro

O bairro está dividido entre os moradores e os empresários. Precisamos chegar a uma solução que beneficie a todos. Aqui, um depende do outro. Jô Américo, vereador que propôs a Lei do Silêncio

Barulho tem limite. Vamos aumentar a fiscalização e tentar acabar com toda esta bagunça aqui! Em breve teremos uma lei específica para isso.

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BIA Monteiro é graduada em Psicologia pela PUC-SP e pós‑graduada em Psicologia Social na Boston University. Trabalhou durante muito tempo na área educacional e, nos últimos anos, tem se dedicado ao estudo do potencial humano participando de cursos em diversos países. Em 1997, fundou a Evoluir, uma organização dedicada a promover uma nova forma de ensinar e aprender, seja na escola, em casa ou em qualquer espaço de convivência e que, por meio de publicações, eventos e projetos, leva a público a discussão de diferentes temas. Edson Grandisoli é Biólogo, Ecólogo e Consultor em Educação e Sustentabilidade. Nas últimas duas décadas tem se dedicado à sala de aula e elaboração de coleções didáticas e paradidáticas. Há 11 anos, é Diretor Pedagógico da Escola da Amazônia, projeto do terceiro setor em Educação para a Conservação e Sustentabilidade. Atualmente, colabora com diferentes escolas no desenvolvimento e implementação de projetos em Educação e Sustentabilidade, tema de seu doutoramento pelo Programa de Ciência Ambiental da USP. Fernando Monteiro é graduado em Agronomia pela ESALQ/USP e doutorado em Ciência Ambiental pela USP, com estudos sobre Aprendizagem Social. Foi diretor de redes e comunicação do LEAD International, em Londres, entre 2007 e 2009, e pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP–Procam. É educador e acredita que a aprendizagem profunda acontece por meio de experiências transformadoras. É sócio-fundador da Evoluir.

Samuel Rodrigues é ilustrador. Desde pequeno gosta de desenhar, simplesmente por gostar de desenhar. Aprendeu observando o mundo e praticando, aperfeiçoando os traços, “gastando” a mão e o olhar. Ilustra para livros, revistas, publicidade e jornais. Além disso, também desenha nas horas vagas.



Coleção O Mundo que Queremos

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Os livros da Coleção “O Mundo Que Queremos” abordam os principais temas ambientais da atualidade pela perspectiva da complexidade socioambiental, avançando na compreensão de que os desafios para a sustentabilidade dependem da nossa capacidade de chegar a soluções coletivas, pois os problemas são causados por todos — ainda que de maneira diferenciada — e as consequências afetam a muitos.

ISBN 978-85-8142-047-9 VENDA PROIBIDA

projeto

patrocínio

realização

COLEÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS  TERRA É NOSSO CHÃO?

superfície da Terra é o único lugar onde existe vida e onde nós, seres humanos, podemos sobreviver. Porém, ao longo da história, temos cuidado mal desse bem precioso, comprometendo a existência de milhões de espécies, bem como ameaçando a nossa própria existência e qualidade de vida. Neste livro, promovemos uma reflexão sobre a importância de garantir a produção dos vegetais que nos alimentam e também nutrem os outros animais.

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Bia Monteiro • Edson Grandisoli • Fernando Monteiro Ilustrações de Samuel Rodrigues

evoluir


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