umpramil EXTRA Férias 2008

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fosse, era de muito mau gosto, concluía. Cogitou passar parar o outro lado do muro e ver, desculpe... averiguar se havia alguém. Mas, se houvesse provavelmente sairia correndo de medo de uma menina sem olhos. Então passava seus dias sozinha, digerindo sua solidão. Sua solidão escura. Às vezes conversava sozinha no jardim, fazia pausas, como se esperasse por uma resposta. Desejava que alguém um dia respondesse, e que talvez a ajudasse a regar suas plantas. O menino sem fala pensava em pular o pequeno muro também. Mas isso não é coisa que se faça, refletiu. Mesmo porque, o que ele faria? Tocaria nela? Ela faria perguntas das quais ele não poderia responder. Desesperado escreveria alguma coisa, faria mímicas, ou um desenho de um coração patético. Seria em vão. O problema afinal não era aquele murinho de tijolos. O problema era outro muro. E este outro muro ele não sabia como pular. Então ficava como ficou. Todo dia eles se encontravam sem se encontrar. Uma falava, outro olhava. E quem olhasse de fora bem que poderia ajudar. Mas afinal, daria certo? As coisas são como são.


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