Revista Esquinas - nº 42 - O tamanho da encrenca - Faculdade Cásper Líbero

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de “favelado”. Ele vive da venda de materiais de limpeza em um salão de seu sobrado. Com dois quartos, sala, cozinha e garagem, o imóvel é contíguo à casa de Milton, da AOS. Manuel ostenta, ao lado do balcão, o processo de usucapião da casa, que move desde 2003. Ele guarda uma cópia do Estatuto da Cidade e da lei que garante a posse da propriedade para quem reside em um determinado local por mais de cinco anos. DALI NÃO SAIO O paulista de Promissão chegou em Heliópolis em 1988 e pode ser considerado exceção num local em que 92% das pessoas são de origem nordestina, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ele decidiu morar na favela para fugir do aluguel, mas hoje tem uma visão diferente. “Se quisermos ter algo, temos que arcar com os gastos. Senão vamos ser favelados para o resto da vida”. Manoel é um dos poucos que procuraram um advogado para buscar na justiça a posse de sua casa. “Tenho direito a escritura. Não tenho nada que ir para apartamentinho minúsculo e ainda pagar por 25 anos”, diz ele. De acordo com a Secretaria Municipal de Habitação, nem todos terão que ser retirados de suas casas e, ainda neste ano, serão emitidos as primeiras escrituras para os moradores de 1.058 lotes. Para Elisabete França, a comunidade de Heliópolis é “muito mimada” e reclama mais do que deveria das condições sanitárias e de renda da população, piores em outras regiões. “A prefeitura vem trabalhando, mas essa história da urbanização é piada. Aqui tem tudo. É mais trabalho de regularização”, diz Milton. “Quase ninguém quer sair daqui. Estamos no centro da cidade.”

É difícil sair da irregularidade: há lojas de CDs piratas e uma borracharia que também vende peixe


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