Revista Esquinas - nº 41 - 60 anos - Faculdade Cásper Líbero

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história de sua carreira. Embora defenda ser “mais que um amador e menos que um profissional”, seu trabalho é reconhecido em todo o mundo. No livro Labirinto e Identidades: Panorama da Fotografia no Brasil [1946-98], o crítico Rubens Fernandes Jr. ressalta que Farkas “procurou registrar, sem grandes interferências no ‘real’, uma visão fotográfica moderna, trazendo para sua fotografia novos e inusitados ângulos de tomada, cortes e aproximações geométricas de luz e sombra.” GATO, cAchORRO E FAMíLIA Desde pequeno Thomaz Farkas carregava uma máquina fotográfica a tiracolo, influenciado pelo pai, Desidério Farkas, desenhista de uma fábrica de armas na Hungria, que faliu após a Primeira Guerra. Desempregado, Desidério fora aconselhado por seu irmão, que conhecia o Rio de Janeiro, a explorar o mercado de fotografia no Brasil. Em 1920, no centro de São Paulo, mais precisamente na rua São Bento, foi fundada a Fotoptica. A empresa foi durante décadas a maior do país no ramo de revelação de negativos, trazendo novidades como a revelação em uma hora. Hoje, a família Farkas não é mais dona da Fotoptica. “Os juros bancários se tornaram caros demais”, desabafa o fotógrafo que contraiu dívidas em empréstimos durante a expansão da rede de lojas. A empresa foi vendida em 1997 para um fundo de investimentos. Nascido em Budapeste em 1924, chegou ao Brasil em 1930, aos 6 anos de idade. Os primeiros retratos, “de gatos, cachorros, família e colegas”, foram tirados quando tinha apenas 8 anos. A paixão tornou-se um ofício e, em 1940, o olhar já não era de criança. Nesse mesmo ano, no dia 27 de abril, foi inaugurado o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Estádio do Pacaembu, e Farkas, com 15 anos, passou a fotografá-lo com um olhar mais profissional. “Como eu conhecia os porteiros, entrava por trás sem pagar nada e fotografava à vontade. Um pouquinho do jogo, mas principalmente a torcida.” DA FOTO AO cINEMA Foi no final dos anos 1940 que seu trabalho começou a se destacar. Em 1942, participou do Foto Cine Clube Bandeirante de São Paulo, cujas reuniões eram realizadas no prédio da Fotoptica, na rua São Bento. No Foto Clube, também se encontravam outros grandes nomes da fotografia da época, como Geraldo de Barros, Eduardo Salvatore e German Lorca (veja reportagem na página 20). O grupo foi responsável por iniciar um novo movimento estético. “Até então, se fotografava do mesmo modo que se pintava, mas nós tínhamos idéias diferentes”, lembra Farkas. A regra era libertar-se dos padrões antigos e inovar, criando estilos próprios. As imagens de Thomaz Farkas eram inovadoras porque, além de romper com a estética vigente da repetição de pinturas — o pictorialismo —, se aproximavam do modernismo europeu e norte-americano. Para reforçar as linhas e formas geométricas,

ele explorava a luz e os contrastes. São fotos marcadas por áreas bem claras e outras bem escuras. Não há meios-tons. E assim o Foto Clube promovia excursões fotográficas, concursos, festivais e intercâmbios com outros do Brasil e do exterior. Mas Farkas nunca fotografou para comercializar seu trabalho. “Já me ofereceram 30 mil por esta foto, mas eu não vendo”, revela, mostrando o delicado retrato em preto e branco de uma bailarina cuja sombra se estende pelo chão, da década de 1940, durante um ensaio do Balé da Juventude, no prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE) do Rio de Janeiro. A partir de 1964, Farkas viajou pelo Brasil para documentar o país em cinema. Em dez anos o projeto, que ficou conhecido como Caravana Farkas, produziu dezenove filmes de curta e média-metragem dirigidos por jovens talentos da época, como Geraldo Sarno, Maurice Capovilla, Eduardo Escorel e Sérgio Muniz, dentre outros. Os temas eram variados: a cultura do tabaco (Erva Bruxa, 1969-70), a literatura oral (Jornal do Sertão, 1970), a produção de rapadura (Engenho, 1970), a religiosidade popular (Padre Cícero, 1971). “Não era nada político, apenas queria mostrar o Brasil aos brasileiros”, diz Farkas. Mesmo assim, os documentários sofreram censura dos militares do governo ditatorial brasileiro. Atualmente, são exibidos pela TV Senado.


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