Poema à liberdade

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Poema à Liberdade De Isabel Ferreira Natal de 2014

Hoje acordei para mim! Num lampejo de clarividência eu percebi finalmente quem eu sou e como sou! AH! Quanta simplicidade, quanta alegria, quanta clareza, quanto Amor. Num instante que desceu sobre mim eu vi a mentira que enrolava a minha vida as cenas tristes e infelizes que me enlearam os momentos de pânico e desespero que me acompanharam! Meu Deus quanta ilusão, quanta dor, quanta ignorância! Corri toda a minha vida atrás de uma verdade inatingível acreditando que ela estaria algures ... guardada num altar inacessível que eu precisaria de me transcender e tornar-me algo que não cabia neste mundo. Hoje, eu tive um momento de luz, onde a simplicidade da verdade sobre mim me foi estendida nos braços de um pensamento que abriu uma brecha na minha mente ansiosa e confusa! Um sorriso escondido iluminou a minha cara como se o Amor que me criou me acolhesse de volta a Casa e eu me tornasse, de novo, aquilo que sempre fui ... sem saber. Acordei quando percebi que o bem e o mal são caras de uma farsa sem sentido que a guerra entre mim e ti é inútil e nada resolve que o Amor que procurei por todo o lado ... não existe senão em mim... que o poder de criar ilusões e nelas mergulhar como se fossem reais, é meu! Que as escolhas que pareço fazer são invenções da confusão da minha mente.


Ah! como estou surpresa e encantada! Procurei a Liberdade e ela sempre fugiu de mim Procurei a Verdade e a mentira ocupou o seu lugar. Procurei o verdadeiro Saber e ele afastou-se de mim ... Baixei, finalmente, os braços e rendi-me ao silencio do nada saber. Nesta quadra de renascimento, a que chamamos Natal recebi a dádiva que me abriu a porta de mim mesma O meu corpo explodiu como se as suas células se quisessem evaporar e a mente sem palavras aquietou-se para honrar aquele instante mágico. Era o doce Canto da Liberdade cujos acordes entoavam na minha consciência e curavam as dores internas que espreitavam à porta dos becos escuros onde se escondiam. Uma voz serena e doce as acolheu oferecendo o alívio esperado há milhares de anos. A Porta de Liberdade começava a abrir-se e o convite para ela entoava por todo o meu corpo e assim, começou a redenção! Por entre notas sublimes e cantos suaves eu sentia uma onda de Amor que se anunciava e dizia: EU SOU LIVRE! E antes que eu pudesse perguntar ou questionar as imagens da minha vida se soltaram do poço onde eu as meti e à medida que passavam por mim eu reconhecia o que era a Liberdade! Entendi ... como era livre, sem saber! Quem seria aquela que agora tudo reconhecia? Seria eu as histórias guardadas ou algo que as acolhia e libertava? Onde estava aquela que eu pensava fazer parte delas? E à medida que eu entoava o doce canto da liberdade


Cada uma que se livrava da miséria de milénios me abraçava em gratidão, perfumando o ar que me envolvia. E assim, fui batendo às portas do medo e da culpa, da raiva e do ódio entoando a doce melodia que o Amor que me criou me ofereceu. Enquanto caminhava pelos escombros das minhas memórias, eu repetia as palavras que havia recebido. E as portas foram abrindo ... e abrindo ... e continuam a abrir ... E assim continuo, numa viagem de regresso a Mim, a soltar os acordes, a oferecê-los e a dançar ao som do seu Poder. E vou repetindo: Eu sou Livre de sofrer o quanto quiser Eu sou livre de me esquecer de quem sou Eu sou livre de te culpar pela minha dor Eu sou Livre de te atacar, para me poupar Eu sou livre de ter medo e ali ficar Eu sou livre de me julgar e rebaixar Eu sou livre de me impedir de viver em Amor Eu sou livre de reprimir o que eu não gosto de sentir Eu sou livre de te ver como o causador da minha tristeza Eu sou livre de te fazer o meu herói Eu sou livre de me comparar contigo para ganhar com isso Eu sou Livre de te usar para me diminuir Eu sou Livre de te dar o Poder para me dominares Eu sou livre de olhar para ti como aquele que me deve seja o que for Eu sou livre de ter pena de mim Eu sou livre de olhar mais por ti do que por mim Eu sou livre de dizer sim quando quero dizer-te não. Eu sou livre de sentir raiva de mim ou de ti


Eu sou livre de esconder de mim o que sinto Eu sou livre de me fechar na pobreza Eu sou livre de te diminuir para que eu colha valor para mim Eu sou livre de soltar esta raiva e esta frustração que me consome e que eu calo para não me assustar Eu sou livre de virar a cara para fugir do que eu trago comigo Eu sou Livre de te maltratar para me proteger Eu sou livre de me tornar dependente de ti Eu sou livre de te obrigar a ficar comigo, mesmo quando queres partir. Eu sou livre de te enganar com as minhas falinhas mansas Eu sou livre de reclamar os meus direitos e fugir da falta respeito que tenho por mim. Eu sou livre de te dar o pódio para que eu te possa atacar Eu sou livre de sentir ciúmes de ti por medo de descobrir o Poder em mim. Eu sou Livre de projetar sobre ti as minhas falhas, medos e culpas. Eu sou Livre de te cobrar a aprovação que não dou a mim mesma Eu sou livre de ter pena de ti para não sentir a pena de mim mesma Eu sou livre de me fazer tua salvadora para não ter que me salvar a mim. Eu sou livre de te condicionar para me dar a ilusão que tenho o Poder sobre ti. Eu sou livre de viver na mentira sobre mim e sobre ti Eu sou Livre de criar um mundo de miséria e impotência Eu sou livre de me dar o papel de coitada e infeliz Eu sou livre de acreditar que o mundo me fez aquilo que eu fiz a mim mesma Eu sou Livre de acusar os outros da minha fragilidade Eu sou Livre de te atacar se me devolveres os meus medos


Eu sou Livre de me justificar perante ti Eu sou livre de me vitimar com o Poder que te dou sobre mim. Eu sou livre de viver a fantasia desta ilusão e sou Livre de acordar deste pesadelo a que chamo a minha vida. Eu sou Livre de te libertar de tudo o que eu pensava que fosses. Eu sou livre de reprimir e rejeitar o que o mundo me ensinou sobre o que é bom e mau e com isso castrar a minha vida, limitar as minhas oportunidades e viver os meus sonhos Sou Livre para me torturar com as mágoas que teimo em guardar em mim dilacerando o meu corpo, fazendo-me doente, tornando-me gasta e desesperada Sou livre de me deixar massacrar pelos media, pelos políticos, pela sociedade, pelos amigos, pela família e pelos meus pensamentos acerca deles. E porque sou livre para tudo isto e muito mais deixei de me enganar e reergui-me. Sacudi a poeira que deixei acumular em mim, abri mão da coitada que vivia em mim, devolvi as asas ao mundo para que ele possa voar de novo e prometi a mim mesma que, desta vez, eu vou lembrar, a cada instante, a minha liberdade e responder por ela perante mim mesma, no altar da Verdade que vive cá dentro. A ti, eu te devolvo as chaves da tua vida que no desespero de te conquistar, para enganar a minha dor, fechei dentro dos meus medos e necessidades! Agora, também tu és livre porque eu acordei para mim. Não mais precisas de viver para mim, Não mais precisas de te esquecer de ti, por mim... Não mais te farei entrar para te prender Não mais te prometerei o que nunca poderá ser meu. Que a tua Liberdade encontre a minha e que juntos


possamos rir e viver, sem passado e sem futuro num Instante que dissolve o tempo e nos liberta do que foi, sem o ser e do que serรก, sem nunca ter sido. Um Bem Haja pois aqui, hoje, vive-se e deixa-se viver! Finalmente em Paz!


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