Escola Parque 3.0: arquitetura como aliada da educação.

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escola parque 3.0 arquitetura como aliada da educação

ernani rodrigues otero





CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOS Curso de Arquitetura e Urbanismo

ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Trabalho Final de Graduação apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo em 2019 pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos. Orientador: Prof.º Fabrício Godoi Orientando: Ernani Rodrigues Otero

São João da Boa Vista - SP 2019



ERNANI RODRIGUES OTERO

ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Orientador: Prof.º Fabrício Godoi

Avaliador:

Avaliador:

Data de aprovação: _____ /_____ /_____

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOS Curso de Arquitetura e Urbanismo



A minha avó Margarida, in memorian. Tive o privilégio de ser colocado no seu caminho como neto, e só eu sei o quanto queria partilhar deste momento com você. No fundo, eu sei que o faço.



Agradeço a minha parceira Ingra, irmã que a faculdade me deu, por sempre estar ao meu lado para compartilhar das alegrias e frustrações que essa jornada nos proporcionou. Que esse seja apenas o começo de uma amizade forte e duradoura, a qual eu valorizo muito. Agradeço também a minha amiga Cláudia, que participou de forma igualmente importante deste caminho, fosse nos finais de semana desenvolvendo projetos até a madrugada durante os anos de faculdade ou nas longas conversas reclamando da vida ou aconselhando um ao outro. Sua amizade me enriquece. Agradeço por fim ao Prof. Fabrício Godoi pela parceria e pelo aprendizado que me proporcionou ao longo da construção desse trabalho. Foi uma experiência gratificante trabalhar sob sua orientação.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a minha família, meus pais Conceição e Rogério e minha irmã Rafaella, por todo o suporte ao longo dos 5 anos de curso e por sempre acreditarem no meu potencial. São meu porto seguro, hoje e sempre, e eu não poderia ser mais feliz do que sou tendo vocês ao meu lado.


RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise sobre o panorama educacional da cidade de Vargem Grande do Sul (SP), afim de compreender seus aspectos positivos e possíveis carências. Fundamentou-se a pesquisa a partir da construção de um embasamento teórico sobre o percurso histórico do sistema educacional brasileiro e as respostas dadas pelo campo da arquitetura na tentativa de revolucionar a organização de um ambiente escolar regido pelo método tradicional de ensino, para em seguida, abordar a realidade do município. Constatou-se que a qualidade da educação é satisfatória, porém enfrenta uma grande lacuna devido à falta de equipamentos urbanos que ofereçam opções para complementar a formação pessoal dos cidadãos, uma vez que os únicos espaços disponíveis são subutilizados e minimamente relevantes. Logo, o objetivo consiste na proposta de um complexo educacional que ofereça à população a infraestrutura adequada para suprir essa demanda, acompanhado pelas análises necessárias para viabilizar sua implantação e garantir o melhor desenvolvimento do projeto arquitetônico. Palavras-chave: Vargem Grande do Sul. Panorama educacional. Ambiente escolar. Projeto arquitetônico.


Key-words: Vargem Grande do Sul. Educational panorama. School environment. Architectural project.

abstract

This study presents an analysis about Vargem Grande do Sul (SP) educational panorama, in order to understand its positive aspects and possible deficiencies. The research was based on a construction of a theorical basis about the historical course of brazilian’s educational system and the answers given by the architecture field in an attempt to revolutionize the organization of a school environment governed by the traditional method of teaching, and then to approach the town’s reality. It has been verified that the educational quality is satisfatory, but faces a major gap due to the lack of urban facilities that offer options to complement the personal formation of citizens, since the only available spaces are underused and minimally relevants. Therefore, the goal is to propose an educational center that offers to the population the adequate infrastructure to supply this demand, followed by the necessary analyzes to enable its implementation and ensure the best development of the architectural project.


lista de figuras

Figura 01 Figura 02 Figura 03 Figura 04 Figura 05 Figura 06 Figura 07 Figura 08 Figura 09 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22 Figura 23 Figura 24 Figura 25 Figura 26 Figura 27 Figura 28 Figura 29 Figura 30 Figura 31 Figura 32 Figura 33 Figura 34 Figura 35 Figura 36 Figura 37 Figura 38 Figura 39 Figura 40 Figura 41 Figura 42

Imagem ilustrativa da chegada dos jesuítas às terras brasileiras Modelo de sala de aula tradicional, com carteiras enfileiradas e professor à frente A Passeata dos Cem Mil, em 1968 no Rio de Janeiro, em protesto contra a ditadura militar Número de estabelecimentos escolares no Brasil Percentual de escolas por município que apresentam biblioteca/sala de leitura Escola Raimundo Paixão, do município de Codó (MA) Banheiro feminino em escola de um povoado no Maranhão Anísio Teixeira na escola-parque de Salvador Croquis das escolas-classe, por Hélio Duarte Setorização dos prédios do CECR Escola-parque das superquadras 307 e 308/Sul Darcy Ribeiro, Brizola e Niemeyer Projeto padrão criado por Niemeyer para os CIEPs Linguagem arquitetônica dos CIEPs Marta Suplicy visitando, anos depois, o primeiro CEU inaugurado na periferia de Guaianazes (SP) Setorização do projeto padrão para os CEUs Fachada colorida do CEU Butantã, projetada pelo escritório VD Arquitetura Crianças nos corredores de circulação do CEU Jambeiro, em São Paulo Presidente da FDE Leandro Damy (à esquerda) acompanhando a entrega de kit de material escolar Catálogos técnicos dos parâmetros desenvolvidos pela FDE Projeto de uma das escolas da FDE, a unidade Jardim Maria Helena em Barueri, São Paulo. Ilustração dos bandeirantes Mapa de Vargem Grande do Sul em 1886 Paisagem de parte da cidade Mapa de localização das escolas de Vargem Grande do Sul Índice de matrículas em Vargem Grande do Sul Escola Prof. Flávio Iared, atualmente em construção Escola Municipal Nair Bolonha Brinquedoteca da Creche Dona Cezarina, inaugurada em julho de 2018 Biblioteca Municipal Vitor Lima Barreto Sala de estudos da Biblioteca Municipal Programação de férias da Biblioteca Municipal Corredor de livros na biblioteca Casa da Cultura de Vargem Grande do Sul Sala de exposição da história dos imigrantes Fachada principal da escola primária Lairdsland, na Escócia Michál Cohen e Cindy Walters Localização da escola Implantação do projeto e cortes do terreno Maquete eletrônica da fachada norte Maquete eletrônica da fachada sul Disposição do programa de necessidades

23 24 26 27 29 29 29 35 36 37 37 38 39 39 40 41 41 42 42 43 43 47 47 48 49 51 51 51 52 53 53 54 54 55 55 61 61 62 62 63 63 64


Figura 43 Figura 44 Figura 45 Figura 46 Figura 47 Figura 48 Figura 49 Figura 50 Figura 51 Figura 52 Figura 53 Figura 54 Figura 55 Figura 56 Figura 57 Figura 58 Figura 59 Figura 60 Figura 61 Figura 62 Figura 63 Figura 64 Figura 65 Figura 66 Figura 67 Figura 68 Figura 69 Figura 70 Figura 71 Figura 72 Figura 73 Figura 74 Figura 75 Figura 76 Figura 77 Figura 78 Figura 79 Figura 80 Figura 81 Figura 82 Figura 83 Figura 84

Setorização dos ambientes Projeto estrutural Painéis de madeira utilizados na fachada Escadaria e mezanino da escola Mobiliário modular Estudo de insolação nas quatro fachadas do projeto Varandas cobertas e marquise na fachada sul Esquema de ventilação natural na escola Grandes aberturas para a captação de luz natural Setorização em planta de atividades de aprendizado Espaços de aprendizado integrados Entrada do Espaço Alana Rodrigo Ohtake Espaço Alana, em São Paulo Mapa de situação do Espaço Alana Entorno edificado do Espaço Alana, na comunidade Jardim Pantanal em São Paulo Setorização do programa de necessidades Planos de projeto Disposição do programa de necessidades Perspectiva 3D da sala de ensaios Setorização dos ambientes Layout da biblioteca Layout de uma das salas de reuniões Planta estrutural Estrutura metálica aparente do Espaço Alana Marquise translúcida Estudo de insolação nas quatro fachadas do projeto Brise vertical em estrutura metálica de chapa perfurada Estudo de ventilação Crianças brincando embaixo da marquise do Espaço Alana Fachada da Praça das Artes, em São Paulo Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, fundadores do Brasil Arquitetura Mapa de situação da Praça das Artes Fachada do Conservatório, restaurada e incorporada ao projeto Ilustração da volumetria do projeto incorporada aos prédios históricos existentes no entorno Configuração da praça e jogo de composição da volumetria Disposição do programa de necessidades do subsolo ao térreo (Praça das Artes) Disposição do programa de necessidades do 1ª ao 4ª pavimento (Praça das Artes) Disposição do programa de necessidades do 5ª ao 8ª pavimento (Praça das Artes) Setorização do programa de necessidades Bloco de apoio (circulação principal e ADM) Acesso principal

65 66 66 67 67 67 68 68 68 69 69 70 70 71 71 71 72 72 73 74 74 75 75 75 75 76 76 77 77 79 79 80 81 81 81 81 82 83 84 86 87 87


Figura 85 Figura 86 Figura 87 Figura 88 Figura 89 Figura 90 Figura 91 Figura 92 Figura 93 Figura 94 Figura 95 Figura 96 Figura 97 Figura 98 Figura 99 Figura 100 Figura 101 Figura 102 Figura 103 Figura 104 Figura 105 Figura 106 Figura 107 Figura 108 Figura 109 Figura 110 Figura 111 Figura 112 Figura 113 Figura 114 Figura 115 Figura 116 Figura 117 Figura 118 Figura 119 Figura 120 Figura 121 Figura 122 Figura 123 Figura 124 Figura 125 Figura 126

Contraste do concreto pigmentado com a iluminação noturna Interior de uma das grandes salas de ensaio Interior de uma das salas de música Estudo de insolação nas quatro fachadas do projeto Composição de janelas nas fachadas do projeto Estudo de ventilação Mapa ilustrativo da localização de Vargem Grande do Sul Sistema viário do município Pirâmide etária da cidade de Vargem Grande do Sul Plantação de batatas no extremo oeste da cidade Cerâmica São Paulo, localizada em Vargem Grande do Sul Evolução do PIB por setor em Vargem Grande do Sul Temperatura anual em Vargem Grande do Sul Períodos dechuva em Vargem Grande do Sul Horas de luz solar e crepúsculo ao longo do ano na cidade Rosa dos ventos nos períodos diurno e noturno Carta solar de Vargem Grande do Sul Mapa de declividade de Vargem Grande do Sul Uso e ocupação do solo no limite municipal Cultivo da batata na porção sul do município Serra da Mantiqueira paulista, ao norte do município Uso e ocupação do solo no perímetro urbano Contraste entre um dos edifícios residenciais da cidade e a paisagem do entorno Rua do Comércio, no Centro da cidade Mercadinho de bairro na zona leste Distrito Industial às margens da rodovia BR - 267 Vazios e urbanos e seleção de lotes para estudo Seleção de possíveis lotes para a implantação do projeto Mapa ilustrativo da área alagável ao redor do rio verde Cotas gerais, de nível e área total do lote Ilustração demonstrativa das condicionantes geográficas Seleção de fotos do lote Uso e ocupação do solo no entorno do local de projeto Cheios e vazios e gabarito das edificações no entorno do local de projeto Classificação do sistema viário no entorno do local de projeto Tempo de deslocamento das escolas ao projeto Número de matrículas nas escolas vargengrandenses em 2017 Diagrama de quantificação de usuários Relação de atividades e vagas disponíveis Fluxograma do projeto Parede de tijolinhos cerâmicos maciços Croquis de evolução da proposta

87 88 88 88 89 89 95 96 97 98 99 100 100 101 101 101 101 102 103 103 104 104 105 105 106 106 107 107 108 109 109 110 111 112 113 114 119 120 121 124 e 125 129 130


Figura 127 Figura 128 Figura 129 Figura 130 Figura 131 Figura 132 Figura 133 Figura 134 Figura 135 Figura 136 Figura 137 Figura 138 Figura 139 Figura 140 Figura 141 Figura 142 Figura 143 Figura 144 Figura 145 Figura 146 Figura 147 Figura 148 Figura 149 Figura 150 Figura 151 Figura 152 Figura 153 Figura 154 Figura 155 Figura 156 Figura 157 Figura 158 Figura 159 Figura 160 Figura 161 Figura 162 Figura 163 Figura 164 Figura 165 Figura 166 Figura 167 Figura 168 Figura 169

Croquis de evolução da proposta Diagrama de evolução da forma Sistema construtivo e materiais internos Paginação de tijolos desenvolvida Implantação do projeto Planta de pavimento (Térreo bloco A) Planta de pavimento (Térreo bloco B) Planta de pavimento (Primeiro pav. bloco B) Planta de pavimento (Térreo bloco C) Planta de pavimento (Primeiro pav. bloco C) Planta de pavimento (Segundo pav. bloco C) Planta de pavimento (Térreo bloco D) Planta de pavimento (Segundo pav. bloco D) Planta de cobertura Eixo de circulação Esquadrias internas e portas de acesso Paisagismo do projeto Fachada norte e estacionamento Parede de tijolinhos Acesso principal, meio à Av. Antônio Bolonha Esquina da Av. com a Rua Delta Fachada lateral direita “Blocos de estar” e rampa de acesso ao platô principal Bloco A e quadra poliesportiva Bloco B Recepção Cafeteria Cafeteria Bloco C Praça interna Praça interna Portal de acesso ao interior dos blocos Praça interna e bloco D ao fundo Palco de apresentações e bloco B ao fundo Praça interna e vão livre ao fundo Praça interna Rampa de conexão com o bairro residencial Eixo de conexão entre o bairro e a praça Passarela de conexão entre os blocos C e D Passarela de conexão entre os blocos B e C Passarela de conexão entre os blocos B e D Terraço jardim e ateliês de jardinagem Terraço jardim

131 132 e 133 134 135 136 137 138 139 140 141 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173


lista de tabelas

Tabela 01 Tabela 02 Tabela 03 Tabela 04 Tabela 05 Tabela 06 Tabela 07 Tabela 08 Tabela 09 Tabela 10 Tabela 11 Tabela 12 Tabela 13 Tabela 14 Tabela 15 Tabela 16 Tabela 17

Projeção populacional e dados educacionais dos estados do Pará, Ceará e São Paulo (2010) Taxa (%) de evasão escolar no Brasil em 2017 Disponibilidade (%) de recursos relacionados à infraestrutura nas escolas brasileiras Informações básicas sobre as escolas de Vargem Grande do Sul Resultados e metas do IDEB em Vargem Gde. do Sul Resultados obtidos sobre a visitação à Biblioteca Municipal em relação ao número de usuários no período de uma semana Listagem de ambientes (Lairdsland Primary School) Resumo do estudo de insolação Listagem de ambientes (Espaço Alana) Resumo do estudo de insolação Listagem de ambientes do subsolo ao quarto pavimento (Praça das Artes) Listagem de ambientes do 4º ao 8º pavimento (Praça das Artes) Resumo do estudo de insolação Crescimento populacional em Vargem Grande do Sul e situação de domicílio Faixa etária e somatória da população vargengrandense Critérios de avaliação para os lotes pré-selecionados Programa de necessidades

28 28 28 50 52 54 65 67 74 76 85 85 88 97 98 108 122 e 123


Áreas de Preservação Permanente´ Centro Educacional Carneiro Ribeiro Centros Educacionais Unificados Centros Integrados de Educação Pública Data Manipulation Language Departamento de Edificações Escola Municipal de Ensino Fundamental Escola Municipal de Ensino Infantil Exame Nacional de Ensino Médio Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Fundação para o Desenvolvimento da Educação Instituições de Ensino Superior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Quilômetro Quilômetro quadrado Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Metro Metro quadrado Programa Especial de Educação Produto Interno Bruto Unidade de Pronto Atendimento

lista de abreviaturas

APPs CECR CEUs CIEPs DML EDIF EMEF EMEI ENEM FAU FDE IES IDEB INEP Km Km² LDB M M² PEE PIB UPA


introdução ...........19

EDUCAÇÃO NO BRASIL: PERCURSO HISTÓRICO E POSSIBILIDADES ........................................................21 1.1. Os povos indígenas submetidos ao cristianismo ....................................21 1.2. O período pombalino e seu impacto na reforma da educação ...............21 1.3. Escola Nova x Igreja Católica: A ascensão da concepção renovadora de ensino .........................................24

1.4. O papel da ditadura militar na questão educacional ......................25

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RESPOSTAS DA ARQUITETURA

À PROBLEMÁTICA DA EDUCAÇÃO NACIONAL

...........................................................................33 2.1. As Escolas Parque ........................35

.........................................................59 4.1. Lairdsland Primary School ..........61

2.2. Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) ...............................38

4.2. Espaço Alana ..................................70

2.3. Centros Educacionais Unificados (CEUs) ..............................................40

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estudos urbanos

1.6. O cenário educacional brasileiro hoje ..................................................26 1.7. Os métodos pedagógicos vigentes ...........................................................30

sumário

4.4. Considerações ................................90

2.4. Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) .........................42

1.5. A LDB de 96 e as reestruturações do sistema ......................................26

1.7.1. Pedagogia tradicional (liberal) 30 1.7.2. Pedagogia liberal renovada progressista ....................................30 1.7.3. Pedagogia liberal renovada nãodiretiva ..............................................30 1.7.4. Pedagogia liberal tecnicista .....30 1.7.5. Pedagogia progressista libertadora ....................................................30 1.7.6. Pedagogia progressista libertária ........................................................31 1.7.7. Pedagogia progressista críticosocial dos conteúdos ..................31

4.3. Praça das Artes ..............................79

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VARGEM GRANDE DO SUL X EDUCAÇÃO: A CORRELAÇÃO DA TEMÁTICA COM A REALIDADE MUNICIPAL

.............................................................45 3.1. História ...........................................47 3.2. Cenário educacional ......................49 3.3. Entre cultura e educação, qual o “X” da questão? ....................................52

.............................................................93 5.1. Aspectos populacionais ..............96 5.2. Aspectos econômicos ...................98 5.3. Aspectos climáticos ....................100 5.4. Topografia .....................................102

5.5. Uso e ocupação do solo ..............103 5.6. Área de intervenção ......................107 5.6.1. Aspectos geográficos ..............109 5.6.2. Uso e ocupação do solo ..........111 5.6.3. Cheios e vazios e gabarito de altura ...............................................112 5.6.4. Sistema viário e deslocamentos ............................................................113


..........................................................117 6.1. Público alvo .................................119 6.2. Condicionantes legais .................120 6.3. Programa de necessidades .......121

7

PROJETO arquitetônico

...............................................................127

7.1. Conceito e partido arquitetônico .........................................................129 7.2. Evolução da proposta ..................129 7.3. Sistema estrutural e detalhes construtivos ...........................................134

7.4. O projeto ........................................136

conclusão referências

6

parâmetros de projeto

.........177

.........178



É papel das escolas garantir ao aluno a oportunidade de construir seu intelecto baseado no aprendizado científico (considerado formal), proporcionando assim melhores condições de igualdade social em virtude de sua formação. Porém, o percurso histórico da constituição do sistema educacional que atualmente rege a grande maioria das instituições de ensino brasileiras encontra-se defasado, uma vez que sua rigidez inibe a exploração de novas táticas didáticas. Felizmente, com o passar dos anos e a constante mutação mencionada anteriormente, são várias as escolas que passaram a preocupar-se com este aspecto e buscaram aprimorar suas práticas, adotando métodos que dão ao aluno voz ativa no próprio processo de aprendizado. Cabe aqui salientar a estreita relação estabelecida entre pedagogia e cultura (esta considerada um saber informal), que interferem diretamente uma na outra, complementando a construção de um senso crítico e maximizando o aprendizado pessoal (CARDOSO, DUARTE, WERNECK, 2013). A cidade de Vargem Grande do Sul, objeto de estudo deste trabalho, apresenta características intrigantes quanto ao seu panorama educacional, uma vez que o nível avaliativo mensurado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) constata que a qualidade do ensino ofertada à população é competente, porém, isso não dispensa a necessidade de atuação de atividades externas que contribuam para o aprimoramento do indivíduo no que diz respeito à sua formação. Logo, a problemática aborda a carência de equipamentos urbanos de cunho educacional que fomentem a prática de atividades complementares trabalhando em conjunto com as escolas existentes, e entrega como proposta a implantação de um complexo educacional baseado no conceito desenvolvido pelo educador Anísio Teixeira para as Escolas Parque, tendo como objetivo servir ao município e sua população através da oferta de espaços de integração, produção, ensino e lazer.

introdução

Dadas as transformações intelectuais sofridas pelo homem ao longo da construção do que hoje se entende por sociedade e a constante necessidade de inovação mediante aos avanços informacionais e tecnológicos, é evidente o desafio imposto ao sistema educacional vigente de garantir a boa formação de futuros cidadãos. São diversas as possíveis abordagens para lidar com essa dificuldade, e uma delas considera a arquitetura como agente transformador da prática de ensino.

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educação no brasil: percurso histórico e possibilidades

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ARQUITETURA E URBANISMO


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

1.1. os povos indígenas submetidos ao cristianismo O ano é 1549. Após diversas tentativas de colonização do novo território então descoberto pelos portugueses em 1500, o rei de Portugal, João III, tomou a decisão de instituir um governo central e colocou à cargo da função Tomé de Sousa, que ao chegar em terras brasileiras, trouxe consigo um grupo de jesuítas chefiados pelo Padre Manuel de Nóbrega. Logo, foram instalados os primeiros colégios jesuíticos no Brasil, estes financiados pela coroa portuguesa, cuja função que lhes foi atribuída era de converter os índios que habitavam o local moldando-os à fé católica, pois as crenças dos mesmos eram consideradas, dentro do âmbito do catolicismo, obra do demônio. Deu-se início a chamada “pedagogia brasílica”, que reuniu as ideias de Nóbrega junto as de José de Anchieta e introduziu o cristianismo no país (MATTOS, 1958).

Anchieta, que, dada sua facilidade com línguas, aprendeu o tupi para poder se comunicar com os nativos), seguido pela doutrinação cristã, ou seja, catequizar, para que então pudesse ser ensinada a leitura e a escrita e, posteriormente, as atividades agrícolas. (MATTOS, 1958). Deu-se a escravidão, dada a necessidade de mão-de-obra para a manutenção das atividades que passaram à ser realizadas na colônia, como a criação de gado e o cultivo de alimentos (SAVIANI, 2005). Anos depois, um novo conjunto de normas para regulamentar o ensino nos colégios jesuíticos tomou vigor. Elaborada pela Companhia de Jesus à partir de 1584 e publicado em 1599, a Ratio Studiorum expressava novas ideias pedagógicas que reorganizaram a forma como eram regidas as atividades educadoras até então (FRANCA, 1952). As normas abrangiam toda e qualquer atividade ou pessoa ligada ao método de ensino, intervindo nas matérias à serem ensinadas, na conduta dos professores, na obrigação dos alunos e até mesmo no método de avaliação utilizado até então. Pode-se dizer que a maneira como a Ratio Studiorum modificou o método de ensino influenciou a concepção, na modernidade, da “Pedagogia Tradicional”, que rege as escolas brasileiras até os dias de hoje (FRANCA, 1952).

1.2. O período pombalino e seu impacto na reforma da educação Figura 01 - Imagem ilustrativa da chegada dos jesuítas às terras brasileiras l Fonte: al.sp.gov.br (2014)

Tal pedagogia foi regida por um plano de estudos que, em primeiro lugar, buscou ensinar a língua portuguesa aos indígenas (tarefa atribuída à

Caracterizado pelas ações de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, o período pombalino nasceu da necessidade de ajustar a política colonial portuguesa, então mercantil, visando desenvolver seu potencial industrial na tentativa de equiparar-se com as nações de destaque no setor, como a Inglaterra.

Nomeado como primeiro ministro pelo então rei de Portugal D. José I, Pombal colocou em prática medidas criadas por ele visando a transformação da cultura portuguesa. Conhecidas como as Reformas Pombalinas, tiveram impacto direto no sistema educacional brasileiro, pois seus ideais batiam de frente com a prática jesuítica vigente na época, contrapondo-se ao predomínio da religião católica. Logo, em 1755, proclamou a libertação dos índios em todo o país, e em 1760 expulsou os jesuítas do Brasil, assim como já havia feito em Portugal. Com a saída dos jesuítas, o papel da educação passou a ficar nas mãos do Estado, pois o único sistema educacional posto em prática até então deixou de existir. Dessa forma, foram instituídas aulas régias, desligadas da Igreja, que abordavam diversas temáticas (como filosofia, latim, grego, etc) e eram ministradas por professores nomeados por Portugal. Pode-se dizer que estas aulas foram a primeira forma de ensino instituída pelo Estado no Brasil (AMARAL; SECO, 2004). A educação entrou em estado de inércia. Dada a situação, o governo português buscou solucionar o problema através da instituição de um “subsidio literário”, que nada mais é do que um imposto recolhido sobre a venda de produtos cujo lucro passou a ser injetado no ensino para o pagamento dos professores, compra de livros, etc (AMARAL; SECO, 2004). Porém, apesar da suposta “libertação” do método de ensino das práticas jesuíticas, é importante constar que as escolas continuaram sob a orientação de padres e missionários igualmente católicos. Ou seja, as propostas que visavam implementar uma pedagogia mais racionalista, modernizando a prática educadora com base no Iluminismo (ideais laicos) não atingiram totalmente as expectativas.

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ARQUITETURA E URBANISMO

Já em 1808, entra em vigor o chamado método mútuo, ou lancasteriano¹, onde alunos mais avançados recebiam a função de monitores, ajudando os professores na tarefa do ensino (supõe-se que tal medida foi dada como solução para a falta de professores nas escolas). Propunha também a separação dos alunos de acordo com seu nível de conhecimento, e os mesmos eram dispostos em grandes salas de forma organizada, rígida e totalmente subordinada à autoridade do professor. Nota-se a semelhança com o método tradicional de ensino que se alastra até os dias de hoje na grande maioria das escolas brasileiras (NEVES, 2003). Com o passar dos anos, esse método foi sendo diluído e passou a dar espaços a novas tentativas pedagógicas que buscavam sanar as exigências intelectuais de uma sociedade em transformação devido à Revolução Industrial. Deu-se o surgimento do método intuitivo (moderno, com base na intuição sensível, moral e intelectual, ou seja, fornece ao aluno um material a ser trabalho a partir de sua percepção sobre aquilo) e posteriormente, na década de 20, a adesão à Escola Nova, visando a construção de uma sociedade democrática e respeitando o individualismo (SAVIANI, 2005).

1.3. escola nova x igreja católica: a ascensão da concepção renovadora de ensino Nas décadas seguintes, que compreendem os anos 30 até meados dos anos 60, o país passou por um processo de reestruturação socioeconômica marcado pela transição do modelo agrário para o industrial, e tal mudança refletiu diretamente no campo da educação, que passou por diversas reformas mais à frente.

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Durante o primeiro período de governo de Getúlio Vargas (1930 – 1945), onde o cenário político ficou dividido entre progressistas e conservadores (não seria assim até os dias de hoje?), criou-se o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública (atual MEC), e com ele a implementação da Reforma Francisco Campos, idealizada pelo mesmo, que determinou a reestruturação do ensino secundário agora dividido dois ciclos, fundamental e complementar, bem como a exigência de cumprimento neles para ingressar ao ensino superior, que serviria: a) à pesquisa científica e à cultura desinteressada; b) à formação do professorado para as escolas primárias, secundárias, profissionais e superiores; c) à formação de profissionais em todas as profissões de base científica; d) à vulgarização ou popularização científica literária e artística, por todos os meios de extensão universitária (RIBEIRO, 1986, p. 102).

Em 1932, com a publicação do “Manifesto Dos Pioneiros da Educação Nova”², o movimento renovador ganha ainda mais espaço, visto que a necessidade de mudança do método tradicional de ensino era eminente, dadas as transformações sociais, políticas e econômicas sofridas pela sociedade nas últimas décadas. O conceito da Escola Nova, ou Educação Nova, questionava principalmente o papel do professor e do aluno dentro do ambiente de ensino segundo o método tradicional, este organizado de maneira que tal relação era estritamente vertical, ou seja, cabia ao aluno demonstrar obediência e respeito ao professor submetendo-se completamente aos seus ensinamentos, logo, nenhuma prática relacionada à experimentação ou ao desenvolvimento da busca pelo saber era estimulada. Aqui faz-se o contraponto, pois a

proposta é passar a valorizar a natureza do aluno e seus aspectos sensoriais, emocionais, físicos, e claro, racionais (BITTAR, 2012).

Figura 02 - Modelo de sala de aula tradicional, com carteiras enfileiradas e professor à frente l Fonte: jws.com.br (2017)

Assim como outras metodologias, tal conceito foi importado de países europeus, onde seu pioneiro foi Adolphe Ferrièrre³, dentre outros grandes nomes conhecidos no meio pedagógico, tais como Maria Montessori e Jean Piaget. Porém, foi John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, quem estruturou essa corrente, acreditando no abandono do autoritarismo e na educação disseminada de forma mais democrática, priorizando seu aspecto psicológico e colocando o educando sempre em primeiro lugar, no centro do processo. Já no Brasil, Anísio Teixeira, grande adepto aos ensinamentos de Dewey, publica o livro “Educação progressiva: uma introdução à filosofia daeducação” logo após à ascensão do movimento no país, onde afirma:

¹ Idealizado pelos ingleses Andrew Bell e Joseph Lancaster, o mesmo passou a ser conhecido também como “método lancasteriano”. ² Documento que defendia a universalização da escola pública e a laicidade do ensino. Escrito por um grupo de 26 educadores, dos quais destacam-se grandes nomes como Darcy Ribeiro. ³ Escritor e pedagogo, fundou a “Oficina Internacional das Escolas Novas” (“Bureau International des Écoles Nouvelles”, responsável pela disseminação da Escola Nova na Europa logo depois de 1880.


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

A escola deve ser uma réplica da sociedade a que ela serve, urge reformar a escola para que ela possa acompanhar o avanço “material” de nossa civilização e preparar uma mentalidade que moral e espiritualmente se ajuste com a presente ordem das coisas (TEIXEIRA, 1934, p. 42).

É importante frisar que apesar da educação progressista crescer exponencialmente, boa parte das instituições de ensino permaneceu sob o comando da Igreja, que mostrou-se contra o novo conceito. Dessa forma, ao longo dos anos, foi constante o embate entre Escola Nova x ensino católico no âmbito pedagógico, cada uma lutando para conquistar seu espaço. Destacam-se a fundação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) em 1938, seguido pela Reforma Capanema em 1942, que estabeleceu o ensino técnico-profissional incorporando ao sistema educacional o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Posteriormente, em 1946, ocorre a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que reafirmou o direito à educação pública e a obrigatoriedade escolar previstos pela Constituição, atribuindo ao Estado tal responsabilidade (HISTEDBR, 2019). Em contrapartida, percebendo também a necessidade de mudança, a Igreja articula-se e desenvolve uma espécie de “escola nova católica”, onde abre espaço para a adesão de determinados pensamentos progressistas moldados às tradicionais práticas do cristianismo, e através da organização de semanas pedagógicas passa a instruir seus professores ministrando palestras onde foi apresentado o “método Pierre Faure”4, que passa à ser adotado nas escolas religiosas (AVELAR, 1978). 4

Por fim, em meados da década de 60, a ineficácia das reformas no sistema educacional era evidente, visto que o país lidava com uma grande taxa de analfabetismo (cerca de 40% da população), dada principalmente pelas grandes dificuldades impostas à população menos favorecida em relação ao acesso à educação, pois até então o Brasil podia ser considerado um país predominantemente rural, e a presença de escolas nas fazendas era praticamente nula (educação x urbanização) (BITTAR, 2012).

1.4. o papel da ditadura militar na questão educacional Instituída em 1964 por meio de um golpe de Estado, alegando uma possível ameaça comunista ao país, a ditadura militar afetou diretamente o sistema educacional brasileiro, pois segundo os ideais do regime, umas das maneiras de garantir a transformação do Brasil em potência era escolarizar sua população. Pode-se dizer que foram três as intervenções militares que provocaram mudanças na estrutura de ensino do país: a) a abertura do ensino para investimentos de iniciativa privada, introduzida pela Carta da Constituição de 1967, aprovada pelo regime; b) a Reforma Universitária em 1968, que dividiu o curso de graduação em duas partes (ciclo básico e profissional) além de estruturar departamentos dentro das universidades e instituir a periodicidade semestral; e c) a reforma do ensino fundamental em 1971, que alterou o modelo prévio aprovado pela Constituição e mantido pela Lei de Diretrizes e Bases de 1961 (que contemplava a obrigatoriedade do ensino por apenas 4 anos, referente ao Fundamental I), passando a adotar 8 anos de escolaridade obrigatória mantidos sob a responsabilidade do Estado (BITTAR, 2012).

Padre e fundador do Centro de Estudos Pedagógicos de Paris, em 1937. Seu método pode ser considerado uma síntese de várias teorias pedagógicas (Dalton, Montessori, Lubienska, etc), estas, sempre embasadas no catolicismo.

.Tais medidas refletiram no aumento significativo do número de matrículas nas escolas, gerando a necessidade de expansão física das mesmas (ora, aumentada a demanda, as instituições de ensino não comportavam o número de alunos). Porém, é necessário lembrar que a legislação vigente que antecedeu o período militar obrigava que 12% do Produto Interno Bruto (PIB) fosse investido na educação, bem como 20% do orçamento de cada município, e tal medida foi revogada pelo regime, logo, a expansão aconteceu de forma rápida e sem verba suficiente, resultando em escolas cuja infraestrutura era precária e sem recursos necessários para oferecer educação de qualidade aos alunos, como material didático, instalação de bibliotecas, etc (ZINET, 2016). Dessa forma, a qualidade de ensino das escolas públicas decaiu drasticamente, e uma vez que o país estava aberto às iniciativas privadas anteriormente citadas, aqueles com maior poder aquisitivo passaram a estudar em colégios particulares, culminando nas desigualdades educacionais existentes no Brasil até os dias de hoje. Esse processo resultou na inviabilidade de ingresso nas universidades daqueles que não tinham condições de investir em um ensino melhor; além disso, o segundo grau passou a ser regido pela pedagogia tecnicista, de caráter “profissionalizante”, pois era de interesse principalmente da elite formar mão-de-obra capacitada e segregar a educação superior, da qual faziam parte apenas aqueles com privilégios financeiros. A educação subordinou-se ao capitalismo.

25


ARQUITETURA E URBANISMO

1) A formação docente, onde até então somente professores com graduação específica em sua área de atuação poderiam lecionar nas escolas, e perante a nova lei isso deixou de ser uma obrigatoriedade;

às universidades, é exigido por regra que 1/3 do corpo docente tenha titulação acadêmica de mestrado ou doutorado, onde o prazo para reajuste é de 8 anos, como forma de garantir a capacitação dos professores que ali lecionam.

2) O aumento do tempo letivo, que passa a ser de pelo menos 200 dias ou 800 horas anuais;

É possível concluir que mesmo entrando em vigor, as transições impostas por este processo não se mostraram suficientes para garantir a universalização educacional no Brasil, uma vez que o panorama brasileiro enfrenta outros problemas correlacionados, por exemplo, a exclusão de parcelas menos favorecidas da população que enfrentam dificuldades impostas socialmente para ter acesso ao sistema educacional, ainda muito defasado no país.

3) A obrigatoriedade e gratuidade da educação básica, que compreende a pré-escola e os ensinos fundamental e médio; Figura 03 - A Passeata dos Cem Mil, em 1968 no Rio de Janeiro, em protesto contra a ditadura militar l Fonte: Agência O Globo (2018)

1.5. a ldb de 96 e as reestruturações do sistema Sancionada há 22 anos atrás, a LDB promoveu transformações determinantes na gestão da educação brasileira. Ainda que o panorama educacional esteja distante do ideal, enfrentando desafios como o desenvolvimento de crianças em situação de risco social e a falta de professores qualificados para ocupar os cargos de ensino, os avanços alcançados devem ser reconhecidos, uma vez que sua última atualização foi em 1971, dez anos após sua criação. O processo, que partiu da iniciativa de um grupo de educadores (onde destaca-se, por exemplo, Darcy Ribeiro), teve início ainda em 1988, durante a aprovação da Constituição5, e contemplou questões quanto a autonomia das instituições de ensino, a formação de seus professores, entre outras. Aprovada como a LEI Nº9.394/96, em 20 de dezembro de 1996, dispõe principalmente sobre:

26

4) O implemento de novas disciplinas no currículo acadêmico que contemplem as áreas de conhecimento linguístico, matemático, ciências humanas, ciências da natureza e formação técnica e profissional, a serem definidas pelos sistemas de ensino; 5) O ensino da língua inglesa, que passa a ser obrigatório à partir do sexto ano do ensino fundamental, tendo como opção o ensino de outros idiomas;

1.6. o cenário educacional brasileiro hoje

7) O conteúdo à ser exigido nos vestibulares das Instituições de Ensino Superior (IES), que passa a ser determinado pela Base Nacional Comum Curricular, uma vez que as universidades eram livres para definir o que cobrar nas provas.

Dadas as transformações sofridas pelo cenário da educação ao longo da história anteriormente discutida, faz-se necessária uma análise do panorama educacional brasileiro nos dias de hoje, alvo não só do aprimoramento do método de ensino como também da necessidade de constante renovação, visto que o processo educador intercede em diversas outras práticas, sejam elas sociais, econômicas ou mesmo voltadas à cultura e política.

Ainda à respeito do que dispõe a LDB sobre a educação superior, o vestibular deixa de ser a única forma de ingresso nas IES, abrindo espaço para novos processos seletivos à exemplo do ENEM, anteriormente criado pelo governo em 1998 com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino médio mas que a partir de 2004 passa oferecer ao candidato a oportunidade de utilizar sua nota para ingressar no ensino superior. Quanto às

Na interpretação mais despretensiosa do que se entende sobre um sistema educacional eficaz, pode-se dizer que é aquele onde o aluno frequenta uma escola com boa infraestrutura, participa de aulas onde é encorajado a desenvolver um pensamento crítico sobre os assuntos apresentados e tem acesso à material didático de qualidade, a uma boa biblioteca e outros espaços munidos dos instrumentos necessários para o

6) O investimento de recursos aplicados anualmente no setor da educação (18% do PIB, obrigatoriamente);

5

De acordo com o art. 23, inciso V, da Constituição Federal de 1988, “é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (...) proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência”.


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

aprendizado, bem como aqueles onde é possível desenvolver a prática social com os demais colegas. Lá ele estuda, aprende, evolui, se informa e se forma. Porém, a realidade no Brasil é um pouco diferente, visto que muitas das escolas ao redor do país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste (mas também em outros locais como é o caso de São Paulo) encontram-se longe dos aspectos qualitativos considerados ideais. Além das análises quanto à infraestrutura das instituições de ensino de modo geral ainda neste capítulo, os dados apresentados a seguir permitem a compreensão deste cenário como um todo. Em uma breve análise quantitativa, a figura 4, apresentada abaixo, mostra o número de estabelecimentos escolares no Brasil divididos por tipo de ensino e suas variações em um período de 2 anos.

É possível observar uma leve queda no número de instituições de ensino fundamental, indicando o fechamento de escolas, visto que em 2015 eram 135.939 e em 2017 esse número caiu para 131.606. Quanto às de ensino médio, o número aumenta irrisoriamente, passando de 28.025 escolas em 2015 para 28.558 em 2017 (IBGE, 2010). O número de matrículas quando no ensino fundamental somam um total de 27.348.080, indicando que 87% da população de faixa etária correspondente está matriculada nas escolas (dada a projeção da população de 6 à 14 anos de idade igual a 32.136.136 pessoas). No ensino médio, totalizam 7.930.384 matrículas, abrangendo 66% dos 11.990.847 jovens de 15 à 17 anos (IBGE, 2010). Aproximando a análise afim de comparar três estados de diferentes regiões do país, sendo eles Pará (região norte), Ceará (nordeste) e São Paulo

140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 2015 Figura 04 - Número de estabelecimentos escolares no Brasil Fonte: IBGE (2010). Adaptado pelo autor.

2015

2017 Ensino fundamental

Ensino médio

(sudeste), a tabela 1 (pág.28) mostra os indicadores educacionais dos mesmos quanto à frequência escolar, nível de instrução e ocupação de sua população, e o resultado obtido evidencia que em média 52% da população de cada um deles, considerada a faixa etária de 10 anos ou mais, não conta com nenhum nível de instrução ou sequer completou o ensino fundamental. Um número ainda menor chegou a cursar todo o ensino médio, e ao analisar-se a porcentagem de pessoas que completaram o ensino superior, é possível perceber que o valor não atinge 5% da população nos estados do Pará e Ceará, e 12% no estado de São Paulo (IBGE, 2010). No que diz respeito à evasão escolar, os índices apresentados na tabela 2 (pág.28) apontam a porcentagem de estudantes que abandonaram os estudos no último ano do ensino fundamental em 2017, e também daqueles que evadiram logo após o começo do ensino médio (INEP, 2017). Totalizando aproximadamente 2,8 milhões de jovens que anualmente deixam de frequentar as escolas ao redor do país, é importante evidenciar que a evasão é reflexo, também, de diversos fatores socioeconômicos que assombram o cenário político brasileiro, tais como: a dificuldade de acesso, uma vez que uma significativa parcela dos estudantes vive em regiões rurais ou periféricas e sofrem com a baixa qualidade do sistema de transporte público para deslocarem-se até as escolas; o déficit de aprendizagem daqueles que tem mais dificuldade em absorver os conteúdos ensinados e acabam desistindo dos estudos frente à uma reprovação; a gravidez e maternidade precoce, nos caso das mulheres; e até mesmo a violência física e psicológica (bullying) sofrida por exemplo, por alunos negros, homossexuais e de baixa renda (GESTA, 2017).

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ARQUITETURA E URBANISMO

INDICADORES PROJEÇÃO POPULACIONAL Pessoas de 10 anos ou mais de idade FREQUÊNCIA ESCOLAR Frequentavam a escola Não frequentavam a escola NÍVEL DE INSTRUÇÃO Sem instrução e fundamental incompleto Fundamental completo e médio incompleto Médio completo e superior incompleto Superior completo SITUAÇÃO DE OCUPAÇÃO Com ocupação Sem ocupação

ESTADOS Pará (PR)

Ceará (CE)

São Paulo (SP)

79,8%

84,1%

86,5%

29,8% 70,2%

25,9% 74,1%

23,6% 76,4%

59,9% 17,2% 18,9% 4,0%

56,0% 17,6% 21,5% 4,9%

41,9% 19,2% 27,0% 11,9%

47,9% 52,1%

47,3% 52,7%

56,0% 44,0%

Tabela 01 - Projeção populacional e dados educacionais dos estados do Pará, Ceará e São Paulo. Fonte: IBGE (2010). Adaptado pelo autor.

Quanto à infraestrutura das instituições de ensino brasileiras, alguns dados são preocupantes. Primeiramente cabe avaliar a discrepância entre escolas de ensino público e privado, e para isso, a tabela a seguir com os resultados do Censo Escolar 2018 elaborado pelo INEP mostra a disponibilidade de recursos voltados às dependências e serviços, presentes ou não, nas escolas ao redor do país. RECURSO Biblioteca/sala de leitura Banheiro (dentro/fora) Banheiro PNE Dependências PNE Lab. de ciências Lab. de informática Acesso à internet Pátio Quadra esportiva E.Pub.= Escolas Públicas

E.Pub.

E.Priv.

48,9% 95,1% 38,6% 28,0% 8,0% 43,9% 63,4% 63,9% 37,8%

81,6% 98,4% 55,6% 44,7% 26,3% 46,1% 96,0% 87,9% 59,7%

E.Priv.= Escolas Privadas

Tabela 03 - Disponibiliade (%) de recursos relacionados à infraestrutura nas escolas brasileiras l Fonte: INEP (2010). Adaptado pelo autor.

ANO ESCOLAR ENSINO FUNDAMENTAL 9º ano ENSINO MÉDIO 1º ano 2º ano 3º ano Tabela 02 - Taxa (%) de evasão escolar no Brasil em 2017. Fonte: INEP (2017). Adaptado pelo autor.

28

TAXA DE EVASÃO 7,7% 12,9% 12,7% 6,8%

De forma geral, as escolas públicas contam com menos investimentos em infraestrutura, à exemplo das quadras esportivas que estão presentes em apenas 37,8% delas, enquanto 59,7% das escolas privadas contam com este espaço. O acesso à internet, ferramenta primordial para auxiliar a prática de ensino nos dias de hoje também é defasado, visto que um pouco mais da metade das escolas públicas contam com este recurso, enquanto quase a totalidade das privadas tem acesso à rede. Ainda assim, no que diz respeito à infraestrutura preparada para receber alunos portadores de necessidades especiais, ambas encontram-se em déficit (INEP, 2018).


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

O mapa a seguir evidencia que as regiões Norte e Nordeste são as mais carentes em relação à presença de bibliotecas ou salas de leitura, um recurso também considerado fundamental para o aprendizado.

De 0,0 a 20,0% De 20,1 a 40,0% De 40,1 a 60,0% De 60,1 a 80,0%

Figura 06 - Escola Raimundo Paixão, no município de Codó (MA) l Fonte: Reprodução/Tv Mirante (2018)

De 80,1 a 100,0% Figura 05 - Percentual de escolas por município que apresentam biblioteca/sala de leitura l Fonte: INEP (2018). Adaptado pelo autor.

O levantamento também dispõe informações alarmantes em relação aos serviços de saneamento básico. De acordo com o censo, apenas 41,6% das escolas de ensino fundamental contam com rede de esgoto, enquanto 52,3% coletam seus dejetos em fossas e 6,1% não apresentam nenhum tipo de sistema sanitário. O abastecimento de água ocorre em 65,8% dos casos através da rede pública, mas o restante recorre à recursos como poços artesianos ou cisternas, enquanto 10% não conta com água encanada ou mesmo energia elétrica (INEP, 2018). Novamente, as mesmas regiões são as mais precárias, chegando a casos de extrema pobreza.

Figura 07 - Banheiro feminino em escola de um povoado do Maranhão l Fonte: Divulgação/Ministério Público (2015)

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ARQUITETURA E URBANISMO

1.7. os métodos pedagógicos vigentes Cada um dos períodos históricos analisados até então corresponde à influência de uma determinada concepção pedagógica, e seria um equívoco considerar que, apesar da evolução, o Brasil tenha deixado de lado toda a construção tradicional que dominou as escolas ao longo dos séculos desde seu descobrimento. Pelo contrário, tal método continua vigente até a atualidade, mas pouco a pouco, principalmente a partir da década de 90, dado esse histórico de reformas e o fim do regime militar, a base da educação passa a ser contestada pelo ideal progressista e libertador, que atribui à mesma o papel de importante modificador socioeconômico, culminando no surgimento de pedagogias embasadas nesse pensamento que passaram a ganhar espaço nas escolas brasileira, uma vez que já eram praticadas em outros países. Em seguida, uma breve análise das concepções mais significativas desenvolvidas na história, das quais basearam-se muitos educadores para elaborar seus próprios métodos (LIBÂNEO, 1992).

O método de ensino é baseado na prática da exposição verbal da matéria pelo professor (autoridade máxima na sala de aula), e cabe ao aluno memorizar o conteúdo para aplicá-lo posteriormente em uma prova, logo, o processo de aprendizagem é embasado na repetição, acontecendo de forma mecânica e passiva. É adotada na grande maioria das escolas brasileiras, principalmente em colégios católicos.

1.7.2. pedagogia progressista

O professor tem como objetivo auxiliar o desenvolvimento do aluno, motivando-o a refletir sobre suas dificuldades. O ritmo e as necessidades de cada um são respeitados, e a aprendizagem é construída gradualmente. Encaixam-se nessa concepção o método Montessori e os projetos pedagógicos desenvolvidos por John Dewey e Piaget.

30

liberal

Embasada nos ideais do psicólogo Carl Rogers, este método influencia pedagogos voltados ao aconselhamento pessoal, podendo ser praticado em salas de aula.

renovada 1.7.4.

Passa a levar em consideração os interesses individuais do aluno, adequando suas necessidades ao meio social. Diferente do método tradicional, a busca pelo saber através da experimentação e da pesquisa passa a ser encorajada.

1.7.1. pedagogia tradicional (liberal) 1.7.3. pedagogia não-diretiva Pautada na construção social capitalista, a posição da escola nesta concepção pedagógica tem como objetivo preparar o aluno para assumir seu papel na sociedade. Seu conteúdo, embasado nos valores sociais acumulados ao longo da história, é imposto como verdade absoluta, incontestável, e cabe ao aluno esforçar-se para vencer suas dificuldades e alcançar aqueles com facilidade no aprendizado.

liberal

ao professor desenvolver uma relação de confiança com seus educandos, facilitando meios para que estes busquem o conhecimento que lhes interessa.

pedagogia

liberal

TECNICISTA

Busca profissionalizar o indivíduo, passando o conteúdo necessário para que o mesmo adquira os conhecimentos e habilidades exigidas pelo meio social vigente (capitalista). O conteúdo ensinado tem base profissionalizante e parte de princípios científicos, leis, etc, eliminando qualquer subjetividade. O professor administra a prática de ensino de forma neutra e objetiva, ou seja, cabe à ele apenas estruturar a ponte entre o conhecimento e o aluno, este que não tem participação da elaboração da prática. Difundida ao redor do Brasil principalmente em Escolas Técnicas (ETECS).

renovada

1.7.5. pedagogia progressista libertadora

De caráter mais humano, tal pedagogia tem como principal objetivo dar atenção às necessidades pessoais do aluno, preocupando-se com o autodesenvolvimento e a realização pessoal.

Com base na análise crítica sobre os aspectos sociais, as pedagogias de cunho progressista questionam, de modo geral, as práticas tradicionais, uma vez que enxergam a educação como um importante instrumento de transformação social.

Ao contrário dos outros métodos, o conteúdo dá ênfase ao aperfeiçoamento da comunicação interpessoal, do trabalho em grupo, e as atividades propostas encorajam o aluno a se expressar. Cabe

A libertadora, por exemplo, é vista como um processo de conscientização do qual o aluno e o


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

professor participam conjuntamente, problematizando o meio onde estão inseridos e extraindo dele o conteúdo de aprendizado. As disciplinas tradicionais entram apenas como informações adicionais, e o método é pautado na discussão em grupo através de debates fomentados pelo professor, que sempre estabelece um diálogo aberto com os educandos. No Brasil, é representada pelo método Freiriano, desenvolvido pelo educador Paulo Freire.

A relação professor-aluno acontece horizontalmente, através de trocas estabelecidas entre ambos na busca de conhecimento e progresso, ampliando a experiência de ambos. Difundida principalmente pelo pedagogo russo Anton Makarenko, que dedicou sua carreira ao trabalho com crianças em situação de risco social. No Brasil, destacam-se os estudos de Dermeval Saviani sobre o tema.

1.7.6. pedagogia progressista libertária De caráter político, a concepção libertária atua como forma de resistência à burocracia educacional, enxergando nesta uma barreira para o crescimento pessoal do aluno. As matérias, por exemplo, são optativas, pois o conhecimento essencial é aquele desenvolvido à partir das discussões em grupo de temas políticos e sociais, onde o professor atua como orientador, colocando-se à serviço do aluno e catalisando os resultados obtidos, sem expor suas convicções. Abrange toda e qualquer tendência de caráter antiautoritário, a exemplo do método Freinetiano, desenvolvido pelo pedagogo anarquista francês Célestin Freinet.

1.7.7. pedagogia progressista crítico-social dos conteúdos Tem como premissa preparar o indivíduo para atuar em comunidade, transformando-o em um agente crítico da sociedade atual, e a base do saber é fundamentada no conhecimento histórico e de outras culturas universais, sempre em relação com a vivência individual do aluno.

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respostas da arquitetura à problemática da educação nacional

2


ARQUITETURA E URBANISMO


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Dado o histórico apresentado no capítulo anterior de buscas por renovações de impacto significativamente positivo (por vezes) no funcionamento do sistema de educação brasileiro, faz-se necessário evidenciar que tal tarefa envolve a ação de diversas áreas do conhecimento, não só aquelas relacionadas à política e pedagogia propriamente ditas. A arquitetura vem ao longo dos anos mostrando-se como uma forte aliada para o pensamento da problemática educacional. O espaço no qual uma criança ou adolescente se encontra quando dentro de uma escola (sala de aula, por exemplo) determina o conjunto de ações ou atividades para serem praticadas ali dentro. Logo, pode-se dizer que a arquitetura, trabalhando conjuntamente com o método pedagógico, passa a conduzir também o processo de aprendizado (KOWALTOWSKI, 2011). No Brasil, destacam-se algumas iniciativas que, aliadas à constante necessidade de melhoria da educação, usufruem da arquitetura como ferramenta principal de reestruturação do espaço de ensino. Algumas das principais são: as Escola Parque de Anísio Teixeira, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), os Centros Educacionais Unificados (CEUs) e a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE).

2.1. as escolas parque Idealizado por Anísio Teixeira, educador brasileiro, escritor e um dos intelectuais que desenvolveram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, explicado anteriormente, o conceito das Escolas Parque deu-se a partir de sua preocupação com o problema da qualidade da

Figura 08 - Anísio Teixeira na escola parque de Salvador Fonte: CPDO/FGV (1962?)

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ARQUITETURA E URBANISMO

educação primária popular no Brasil, especialmente em Salvador, cidade onde residia e pioneira na implantação do projeto. Entusiasta da concepção progressista de ensino, defendia a ampliação da oferta de uma educação de cunho democrático, onde professor e aluno trabalham em conjunto na busca do aprendizado munidos de materiais e principalmente de uma infraestrutura adequada que propiciem essa busca. Segundo ele: “nenhum outro elemento é tão fundamental, no complexo da situação educacional, depois do professor, como o prédio e suas instalações” (TEIXEIRA, 1951). Finda a ditadura Vargas, foi nomeado secretário da Educação do Estado da Bahia pelo governo de Octávio Mangabeira, onde então elaborou o Plano Estadual de Educação Escolar que abrange a ideia de criação de um espaço inovador voltado à formação educacional, denominado Escola Parque. Para o educador, não bastava que a renovação acontecesse somente no método pedagógico. O espaço também deveria ser modificado. Insistia que umas das maneiras de garantir a preparação do educando para a cidadania dava-se a partir da socialização entre os mesmos dentro do ambiente de ensino, logo, a conformação dos espaços em uma escola tradicional, que tende a segregar os alunos, deprecia o espírito de comunidade (CHAHIN, 2016). O programa de ensino criado por ele propôs a divisão do conteúdo em dois grupos: o primeiro, ministrado no período matutino, abrange as matérias consideradas fundamentais na formação do aluno, como língua portuguesa, matemática, ortografia e ciências; já o segundo, ministrado no período vespertino, diz respeito às atividades complementares de caráter social e

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Figura 09 - Croqui das escolas classe, por Hélio Duarte Fonte: au17.pini.com.br (2015)

profissionalizante, como oficinas de trabalhos manuais, de dança, música e arte (TEIXEIRA, 2007). Essa divisão caracterizou o partido arquitetônico do projeto, desenvolvido pelos arquitetos Diógenes Rebouças e Hélio Duarte, em parceria com o engenheiro Paulo de Assis. O plano previa a criação de nove unidades na cidade de Salvador, mas apenas uma foi realmente implantada: o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR). A ideia era que o complexo fosse dividido em duas tipologias: quatro escolas-classe e uma escola-parque. Na primeira, os alunos passariam 4

horas do período escolar aprendendo as matérias básicas de formação, para então dirigir-se à segunda, onde se dedicavam à atividades complementares conforme citado anteriormente. O projeto também contava com anexos como um auditório, biblioteca, ginásio e ala administrativa. O esquema apresentado na figura 10 (a seguir) exemplifica a setorização dos prédios. Os quatro volumes nos extremos da imagem representam as escolas-classe 1, 2, 3 e 4, localizadas consecutivamente nos bairros Liberdade, Pero-Vaz e Caixa D’água (3 e 4); no centro, a escola parque.


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Figura 10 - Setorização dos prédios do CECR Fonte: SANTOS (2013)

Parte do complexo passou a funcionar em 1950 mas apenas em 1964 concluiu-se a construção, onde cada escola-classe possuía 12 salas de aula que atendiam 1000 alunos por dia divididos entre turnos (manhã e tarde), totalizando 4 mil crianças, reunidas nas salas de acordo com sua faixa etária. Já na escola-parque, os mesmos eram divididos de acordo com seus interesses pelas atividades disponíveis, podendo interagir e aprender com crianças de outras idades (CHAHIN, 2016). O modelo desenvolvido por Teixeira foi também implantado no Distrito Federal onde em 1960 inaugurou-se o Centro de Educação Primária de Brasília, desta vez projetado pela equipe de Oscar Niemeyer. Reproduzindo o modelo do programa educacional do CECR, também contava com quatro escolas-classe localizadas em superquadras distintas (107, 108, 114 e 308/Sul) e uma escola parque entre as quadras 307 e 308/Sul.

Figura 11 - Escola parque das superquadras 307 e 308/Sul Fonte: INEP (1960)

O objetivo era o mesmo: estender a jornada de ensino dos alunos da escola elementar passando a incluir no currículo de formação atividades complementares que contribuíssem para o desenvolvendo pessoal de cada um, ampliando seus horizontes (CHAHIN, 2016).

como um equipamento urbano, e tendo como finalidade a formação dos educandos para a vida em comunidade, o conceito elaborado por Anísio Teixeira obteve reconhecimento internacional e criou um marco na história da educação brasileira.

Ambos os projetos buscaram formular sua arquitetura embasada nos conceitos da concepção pedagógica progressista, oferecendo aos alunos um ambiente de ensino diferenciado, livre das amarras e conformações de uma escola tradicional. A escola aqui passa a ser entendida

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ARQUITETURA E URBANISMO

2.2. centros integrados de educação pública (cieps) Instituídos no Rio de Janeiro durante o primeiro Governo de Estado de Leonel Brizola (1983 – 1987), os CIEPs surgiram como uma promessa de oferecer à população carioca educação pública de qualidade em período integral. Após uma análise crítica quanto à expansão quantitativa (e não qualitativa) das escolas nos últimos anos, justificou-se a criação de novas instituições que, além de priorizar o ensino, passaram a oferecer às crianças assistência médica e odontológica além de encorajar a prática de esportes e outras atividades extracurriculares. Logo, baseado nos conceitos da Escola Nova, sendo Anísio Teixeira o pioneiro do movimento no Brasil, e influenciado pelo funcionamento do CECR, cujo plano pedagógico foi desenvolvido pelo mesmo em Salvador, o vice-governador Darcy Ribeiro desenvolveu como parte de seu Programa Especial de Educação (PEE) a proposta de criação dos CIEPs (FERREIRA, MOTA, SIRINO, 2012). A principal preocupação do educador era garantir à população de classe baixa os recursos necessários para conferir aos alunos o senso de pertencimento à sociedade, ofertando-lhes acesso à educação, cultura e lazer através de espaços adequados e um plano pedagógico diferenciado (integral), visto que a tendência governamental defendia a redução do período de permanência do aluno na escola como forma de ofertar mais vagas, ao invés de preocupar-se com o aprimoramento da mesma (RIBEIRO, 1995). No total, foram 506 prédios construídos ao longo de quase 4 anos, situados principalmente

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Figura 12 - Darcy Ribeiro, Brizola e Niemeyer Fonte: Acervo Folha (2017)

nas periferias da cidade. O projeto arquitetônico padrão, de autoria de Oscar Niemeyer (vide figura 13 e 14), dividia-se em prédio principal, salão polivalente (um ginásio onde também eram realizadas outras atividades como aulas de dança e oficinas variadas) e biblioteca, adaptando sua tipologia conforme a necessidade do local de implantação (FERREIRA, MOTA, SIRINO, 2012).

O prédio principal possui três pavimentos ligados por uma rampa central. No pavimento térreo estão localizados o refeitório com capacidade para 200 alunos, e uma cozinha dimensionada para até mil refeições diárias. No outro extremo do pavimento térreo fica o centro médico-odontológico e entre este e o refeitório, um amplo recreio coberto. Nos pavimentos superiores estão localizadas vinte salas de aula, um auditório, salas especiais para Estudo Dirigido e outras atividades e instalações administrativas. No terraço, uma área reservada para o lazer e dois reservatórios de água. O ginásio é dotado de arquibancada. Vestiário e depósito para


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

guarda de materiais. A terceira construção é a Biblioteca, dimensionada para atender aos alunos e à comunidade. (NIEMEYER, 1995, p. 41)

Figura 13 - Projeto padrão criado por Niemeyer para os CIEPs Fonte: SCIELO (1991)

O primeiro CIEP foi inaugurado em 1985 e recebeu o nome de CIEP Tancredo Neves. Sua construção, bem como das próximas 19 unidades que o sucederam, foi de responsabilidade de uma empresa de engenharia local. De qualquer forma, o sistema construtivo que adota peças pré-fabricadas em concreto garantiu a reprodução fiel da linguagem arquitetônica obrigatória planejada por Niemeyer nas demais unidades. O Programa Especial de Educação de Ribeiro também buscou lidar com um problema social alarmante na época (e que persiste até os dias de hoje): a evasão escolar. Ora, não basta fornecer ao aluno infraestrutura de ensino; é necessário, acima de tudo, garantir que o mesmo permaneça na escola, visto que muitas vezes a barreira que o impede de fazê-lo é a distância da mesma. Assim, um dos grandes diferenciais do programa de necessidades dos CIEPs é a presença de moradias

Figura 14 - Linguagem arquitetônica dos CIEPs Fonte: CORDEIRO (2012)

para abrigar crianças desamparadas, que passam a ser assistidas por um casal-residente preparado para lidar com essa situação. (FERREIRA, MOTA, SIRINO, 2012). (...) Sobre a Biblioteca ficam os alojamentos destinados aos alunos residentes dotados de todas as dependências necessárias para a acomodação do casal responsável pelas crianças, cozinha, banheiros e dependências para doze meninos e doze meninas. (NIEMEYER, 1995, p. 41)

Como qualquer iniciativa política, a criação dos CIEPs sofreu diversas críticas, principalmente pelo fato de que suas unidades eram implantadas majoritariamente em regiões periféricas e atendiam à parcela da população com baixo poder aquisitivo, fato esse que põe em questionamento a integridade da sociedade quanto à inserção de pessoas menos favorecidas em seu meio. Porém, é inevitável evidenciar o avanço na educação trazido pelo programa à partir da implementação da jornada escolar de período integral, possibilitando aos alunos um maior desenvolvimento interpessoal através das práticas encorajadas nessas escolas.

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ARQUITETURA E URBANISMO

2.3. centros educacionais unificados (ceus) Os CEUs (Centros Educacionais Unificados) basearam-se nas duas propostas apresentadas anteriormente, analisando as soluções mais adequadas para que reunidas formassem um novo conceito de equipamento urbano educacional, de lazer e cultura na cidade de São Paulo. O plano nasceu no ano de 2002, em discussão entre a Secretaria Municipal de Educação e o Departamento de Edificações da Secretaria de Serviços e Obras (SSO) da Prefeitura com o intuito de ofertar a estrutura necessária para uma boa educação pública em regiões desfavorecidas da cidade (majoritariamente periféricas), onde as primeiras unidades foram inauguradas entre 2003 e 2004 durante o governo da prefeita Marta Suplicy, conferindo um novo significado ao conceito de espaço escolar (GADOTTI, 2000). O que diferencia esta proposta das demais é o fato de se tratar de um complexo intersetorial, que atua em várias áreas sociais, não somente com a educação. Os CEUs também contemplam áreas de prestação de serviço à comunidade, tais como: assistência social, atendimento médico, emprego e renda, cultura e lazer. Funcionariam de domingo à domingo, mesmo em período de férias escolares, quando suas instalações continuam abertas à disposição da população (GADOTTI, 2000). Não se trata de uma escola de período integral, pois aqui a jornada educacional é dividida em turnos. A participação em peso da população pode ser considerada quase como elemento central, mediador das decisões à serem tomadas. Assim, as instalações físicas dos centros eram pensadas de acordo com as necessidades dos moradores locais, instaurando-se como um verdadeiro equipamento público que atende não somente

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Figura 15 - Marta Suplicy visitando, anos depois, o primeiro CEU inaugurado na periferia de Guaianazes (SP) l Fonte: LOPES (2016)

aos alunos, mas à comunidade como um todo, além de trabalhar com diferentes modalidades de ensino: Ensino Infantil (EMEI), Ensino Fundamental (EMEF), educação de jovens e adultos e creche. O intuito não é criar um novo sistema educacional, mas sim trabalhar para que a infraestrutura fosse uma aliada do projeto de ensino, pois entendia-se que cada escola deveria ser única, baseada no reflexo daqueles que a frequentam (GADOTTI, 2000). Com 46 unidades distribuídas pela metrópole paulista, o projeto arquitetônico padrão foi

desenvolvido por Alexandre Delijaicov, arquiteto e professor da FAU-USP. Inspirado nas Escolas-parque, o conceito baseia-se na criação de um espaço público de encontro totalmente disposto à população, onde a praça torna-se o espaço principal, cheio de vida e movimento, e as demais instalações atuam em conjunto, transcendendo a função de uma simples escola. O projeto pretendia atender cerca de 1500 alunos por dia, divididos em turnos (manhã, tarde e noite).


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Figura 16 - Setorização do projeto padrão para os CEUs Fonte: Prefeitura de São Paulo (2005)

O programa de necessidades é vasto. Cada unidade conta com 14 salas destinadas ao atendimento de crianças (creche), 10 salas de EMEI, 14 salas de EMEF, sala de leitura, laboratórios de ciências e informática, teatro e anfiteatro (onde os alunos participam de oficinas de dança, música e artes cênicas), ginásio com quadras cobertas e descobertas, 3 piscinas e seus vestiários (masculino e feminino), biblioteca, ateliê de artes e demais espaços de apoio, como recepção, foyer, diretoria, administração, refeitório, cozinhas, etc (GADOTTI, 2000). O edifício é composto por um grande pavilhão e dois blocos adjacentes (vide figura 16). No principal, e maior deles, organizam-se as salas de aula, dispostas no segundo e terceiro pavimento, enquanto a biblioteca, a cozinha, a recepção e o refeitório ocupam o térreo. O segundo, denominado bloco cultural, abriga os ateliês, as salas de música e os estúdios de dança. Já o terceiro, de estrutura circular localizado na extremidade do bloco principal abriga a creche, com capacidade para aproximadamente 300 crianças.

Figura 17 - Fachada colorida do CEU Butantã, projetado pelo escritório VD Arquitetura l Fonte: KON (2018)

A estrutura pré-moldada em concreto permite a fácil adaptabilidade do projeto em qualquer terreno, adequando-o à topografia e acelerando o processo de construção, que também envolveu diversos trabalhadores das comunidades onde os complexos foram implantados, como serralheiros, pintores e etc. O jogo de cores que compõe a volumetria é proposital: as paredes pintadas de azul indicam espaços onde há passagem de água

(banheiros e caixas d’água), as vermelhas indicam espaços de circulação (corredores e caixas de escada), e as amarelas mostram onde estão as salas de aula e demais espaços de aprendizado, referindo-se à gema de um ovo e a formação das crianças (vide figura 18).

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ARQUITETURA E URBANISMO

Figura 18 - Crianças nos corredores de circulação do CEU Jambeiro, em São Paulo l Fonte: KON (2018)

Fruto de uma linhagem de iniciativas que buscaram minimizar as deficiências do sistema de educação pública brasileiro, os CEUs empenharam-se em oferecer uma conjuntura de oportunidades educacionais não-formais a pessoas que tendenciosamente são excluídas da sociedade. A inovação neste projeto com vertentes sociais é evidente, principalmente por preocupar-se com a menor e mais importante escala de todo seu contexto: os usuários; tornando-o referência no âmbito pedagógico.

2.4. FUNDAÇÃo PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (FDE) Fundada em 23 de junho de 1987 com o objetivo de assegurar a qualidade do ensino público no Estado de São Paulo, a FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) atua como uma instituição responsável por implantar e gerenciar programas e projetos voltados às escolas do Estado à partir de um trabalho conjunto com os

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Figura 19 - Presidente da FDE Leandro Damy (a esquerda) acompanhando a entrega de kit de material escolar l Fonte: FDE (2019)

gestores das mesmas e seus educadores, atuando tanto na área de construção, reforma e manutenção das instituições de ensino como na busca pelo aprimoramento dos métodos pedagógicos nelas ministrados (FDE, 2019). No que se trata do campo da arquitetura, é necessário evidenciar a preocupação da Fundação quanto à estrutura das escolas que passaram a ser de sua responsabilidade. A ideia inicial era

desenvolver um projeto-protótipo que pudesse ser reproduzido em larga escala conforme sua necessidade de implantação. Porém tal ideia mostrou-se inviável em razão das condicionantes particulares de cada caso, por exemplo, a topografia do terreno, hora tão desafiadora à ponto de descaracterizar o projeto inicial uma vez que fossem feitas as alterações necessárias (DELIBERADOR, 2012).


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(salas de aula, salas multiuso, laboratórios de ciência e informática, sala de leitura e depósito de materiais pedagógicos); c) Vivência (cozinha, refeitório, cantina, quadras poliesportivas, pátios e demais áreas comuns); e d) Serviços, que corresponde aos sanitários, despensas, depósitos e áreas de circulação e acesso ao edifício (Catálogo de Ambientes – FDE, 2019).

Figura 20 - Catálogos técnicos dos parâmetros desenvolvidos pela FDE Fonte: FDE (2019)

Logo, o projeto das escolas passou a ser terceirizado para diversos escritórios distintos, que apesar de não serem submetidos à uma linguagem arquitetônica padrão, como acontece com os CIEPs de Niemeyer, ainda recebem diretrizes para sua concepção, visto que a FDE dispõe uma equipe de arquitetos e urbanistas responsáveis por determinar parâmetros arquitetônicos à serem seguidos nas unidades (DELIBERADOR, 2012). As especificações técnicas dispõem sobre todos os cuidados necessários para a viabilização do projeto e abrangem desde o sistema construtivo que deverá ser adotado até o padrão de layout requerido e as normas de elaboração de mobiliário no caso de instituições de ensino infantil (FDE, 2019). O programa de necessidades é pré-estabelecido e sugere a metragem quadrada mínima necessária de cada ambiente, porém passa por adaptações em função do número de alunos a serem contemplados pela infraestrutura da nova escola, havendo a necessidade de aumentar ou diminuir a quantidade de salas de aula e a dimensão

dos espaços comuns, por exemplo. É subdividido em quatro categorias, sendo elas: a) Administrativo, que contempla ambientes como a sala do diretor, vice-diretor, secretaria, almoxarifado, coordenação pedagógica, sala dos professores, copa e tesouraria; b) Pedagógico (sala

Com mais de 5 mil escolas contempladas hoje, a FDE merece destaque no cenário político brasileiro ao longo de sua jornada, que contabiliza mais de 30 anos. Em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, primou pela preocupação em aperfeiçoar e manter os serviços prestados pelas escolas do Estado à população, almejando suprir as demandas do sistema educacional brasileiro, fossem elas físicas (quanto à infraestrutura dos edifícios da rede de ensino ou até mesmo o material pedagógico utilizado) ou ideológicas (como o método pedagógico propriamente dito, também alvo da busca por melhorias).

Figura 21 - Projeto de uma das escolas da FDE, a unidade Jardim Maria Helena em Barueri, São Paulo l Fonte: KON (2011)

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VARGEM Grande DO SUL X EDUCAÇÃO: a CORRELAÇÃO DA TEMÁTICA COM A REALIDADE MUNICIPAL

3


ARQUITETURA E URBANISMO


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Objeto de estudo do presente trabalho, a cidade de Vargem Grande do Sul merece atenção no que diz respeito a seu cenário educacional, uma vez que atualmente é um dos municípios com melhores resultados de desenvolvimento neste quesito entre os demais da região (IDEB, 2017). Ainda assim, visto que as instituições escolares vargengrandenses limitam-se ao ensino formal praticado dentro da sala de aula, nota-se a carência de equipamentos públicos que fomentem as práticas educacionais e culturais consideradas informais porém necessárias para a formação de um cidadão, já que os espaços destinados à disseminação do saber cultural são minimamente presentes no município. As análises apresentadas a seguir tem como objetivo permitir a compreensão desse cenário e esclarecer suas necessidades, afim de propor a área de intervenção mais adequada para o desenvolvimento do projeto arquitetônico.

Vargem Grande do Sul, Casa Branca, São Sebastião da Grama e Caconde (FASANELLA, 1993). Ao longo desse percurso, denominado Estrada Grande, Boiadeira ou Francana, constituíram-se fazendas em antigas terras de sesmarias que eram concedidas a pessoas que estivessem dispostas a povoar e cultivar naquele local, dada a necessidade de prover alimento e abrigo aos viajantes (FASANELLA, 1993). A cidade teve como origem uma dessas fazendas, localizada na sesmaria conhecida como Várzea Grande pertencente ao Sargento Mor José Garcia Leal, que compreendia desde a Serra dos Rabello (Sant’ Ana e Fartura) até Bagassu (Pirassununga), do Córrego Aterrado (Casa Branca) até o Rio Itupeva (São João da Boa Vista), limitando-se com Aguaí, na Fazenda Embirussu.

Entre os anos de 1825 e 1874 a terra pertencente a Leal passou por diversas divisões, originando novas fazendas e sítios que pouco a pouco se transformaram em povoados, sendo um deles o Bairro da Porteira, futura Vargem Grande. Em 26 de setembro de 1874, data oficial de sua fundação, a primeira missa foi celebrada pelo Padre José Valeriano de Souza, então vigário de São João da Boa Vista, às margens de um córrego que desaguava no Rio Verde, para que meses depois fosse construída a primeira capela, ao que hoje caracteriza-se como o centro da cidade e a Praça da Matriz. Os anos seguintes foram marcados pela expansão da população e consecutivamente das casas, primeiras escolas e estabelecimentos comerciais. Logo em 1881, a cidade é elevada à condição de Distrito de Paz, e já contava com cerca de 350 habitantes e 50 edificações (FASANELLA, 1993).

3.1. história Vargem Grande do Sul originou-se de um antigo povoado às margens da rota percorrida pelas Bandeiras no século XVII, porém o local hoje compreendido pela cidade foi previamente habitado pelos chamados “índios do Jaguarí”, pertencentes à Tribo Kaigang, que em determinadas épocas do ano desciam a Serra da Fartura e fixavam-se às margens do rio Jaguarí Mirim para pescar e caçar nos cerrados. Décadas se passaram até chegarem à esta terra os primeiros homens brancos (bandeirantes), que partiam de São Paulo em direção ao estado do Goiás na busca por ouro fazendo um caminho que atualmente corresponde aos municípios de

Figura 23 - Mapa de Vargem Grande do Sul em 1886 Fonte: Acervo da Casa da Cultura de Vargem Grande do Sul (S.I.)

Figura 22 - Ilustração dos bandeirantes Fonte: Acervo da Casa da Cultura de Vargem Grande do Sul (S.I.)

Posteriormente, entre os anos de 1887 e 1910, parte do fluxo de imigrantes que vieram ao Brasil e desembarcaram em Santos à procura de trabalho passou a instalar-se na cidade, que abrigou

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ARQUITETURA E URBANISMO

Figura 24 - Paisagem de parte da cidade Fonte: Autoria própria (2019).

cerca de 300 famílias majoritariamente de descendência italiana ou espanhola. O pequeno Distrito evoluiu e as então 50 edificações passaram a ser 150, e assim, em 1921, de acordo com a Lei Estadual n.1804 assinada pelo então presidente do Estado de São Paulo Washington Luiz Pereira de Souza, Vargem

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Grande do Sul recebeu o título de cidade, para que no ano seguinte, em 24 de fevereiro de 1922, atingisse sua emancipação política através da eleição do primeiro prefeito municipal, Capitão Belarmino Rodrigues Peres, que estabeleceu a comarca do território vargengrandense.

Hoje, prestes a completar seu 145º aniversário, o município localizado ao norte do estado de São Paulo, a 30 minutos da divisa com Minas Gerais, abrange uma extensão territorial de aproximadamente 268 km² que compreendem as áreas rural e urbana e conta com a população estimada em 39.266 habitantes (IBGE 2010).


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3.2. cenário educacional A análise do conjunto das instituições de ensino de Vargem Grande do Sul mostra-se satisfatória nos aspectos qualitativos necessários para a compreensão do cenário educacional da cidade. Isso porque, apesar das escolas em sua totalidade seguirem as diretrizes do ensino tradicional imposto pela história anteriormente analisada (tanto no que diz respeito ao próprio método pedagógico quanto à organização espacial das salas de aula), a qualidade da infraestrutura para atender crianças e jovens é competente, uma vez que a gestão governamental preocupou-se em garantir às escolas públicas as mesmas atribuições físicas daquelas particulares. O município atualmente conta com 25 instituições educacionais consolidadas e uma em construção, divididas entre escolas e creches municipais, escolas estaduais e escolas particulares, que por vezes também prestam serviços de creche e berçário. A distribuição física das mesmas na área urbana é uniforme e condizente com a densidade demográfica da cidade, abrangendo mesmo os bairros mais recentes que surgiram devido ao espraiamento, com exceção das escolas particulares que agrupam-se no centro. A tabela disposta na próxima página nomeia e classifica (de acordo com as cores, correspondentes à legenda do mapa acima) cada uma das instituições existentes e expõe dados básicos a respeito das mesmas, como horário de funcionamento, quantidade de alunos matriculados (no primeiro semestre de 2019, segundo pesquisa desenvolvida pessoalmente), qual o tipo de

Figura 25 - Mapa de localização das escolas de Vargem Grande do Sul Fonte: Elaborado pelo autor. Dados: Ultra Haus Strategic Solutions (2018)

material didático utilizado e quais etapas do ensino básico atende, sendo elas: a) Educação Básica: de 0 à 5 anos de idade; b) Ensino Fundamental: dos 6 aos 14 anos e c) Ensino Médio: dos 15 aos 17 anos, segundo a resolução do Conselho Nacional de Educação do Brasil.

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ARQUITETURA E URBANISMO

INSTITUIÇÃO

HORÁRIO DE FUNC.

ESTAPA DE ENSINO

MATERIAL

QTTD. DE ALUNOS

Creche Alice G. João

07:00h - 16:45h

Educação Infantil

Anglo

74

Creche Dona Cezarina

07:00h - 16:00h

Educação Infantil

Anglo

71

Creche Geraldo C. Rinaldi

07:00h - 16:00h

Educação Infantil

Anglo

73

Creche Irmã Getrudes

07:00h - 16:30h

Educação Infantil

Anglo

68

Creche Padre Donizete

07:00h - 17:00h

Educação Infantil

Anglo

112

Creche Vergínia G. Ruiz

07:00h - 17:00h

Educação Infantil

Anglo

157

Creche Dona Zinha Cordeiro

07:00h - 16:30h

Educação Infantil

Anglo

150

Colégio Castro Alves

07:00h - 18:00h

Educação Básica e Ensino Fundamental

SAS

263

Colégio Caracol

07:00h - 17:00h

Educação Básica

Anglo

174

Escola D. Pedro ll

07:00h - 17:30h

Educação Básica e Ensino Fundamental e Médio

Universitário

392

Colégio Nova Era

07:00h - 17:00h

Educação Básica e Ensino Fundamental

Anglo

275

Escola Levado da Breca

07:00h - 18:30h

Educação Básica

Anglo

109

Escola Crescer e Aprender

07:00h - 18:30h

Educação Básica

Mackenzie

66

EE. Prof. Achiles Rodrigues

07:00h - 17:00h

Ensino Fundamental e Médio

Governo de SP

603

EE. Alexandre Fleming

07:00h - 17:00h

Ensino Fundamental e Médio

Governo de SP

362

EE. Benjamin Bastos

07:00h - 18:00h

Ensino Fundamental e Médio

Governo de SP

506

EE. Gilberto Giraldi

07:00h - 18:00h

Ensino Fundamental e Médio

Governo de SP

497

EE. Prof. José Gilberto Souza

07:00h - 18:00h

Ensino Fundamental e Médio

Governo de SP

514

EMEB Antônio Coury

07:00h - 17:30h

Educação Básica e Ensino Fundamental

Anglo

427

EMEB Darci Trancoso Peres

07:00h - 17:30h

Educação Básica e Ensino Fundamental

Anglo

513

EMEB Francisco Carril

07:00h - 17:45h

Educação Básica e Ensino Fundamental

Anglo

546

EMEB Henrique de Brito

07:00h - 17:30h

Educação Básica e Ensino Fundamental

Anglo

312

EMEB Mário Beni

07:00h - 17:00h

Educação Básica e Ensino Fundamental

Anglo

276

EMEB Nair Bolonha

07:00h - 17:00h

Educação Básica e Ensino Fundamental

Anglo

398

EMEB Padre Donizete

07:00h - 17:00h

Educação Básica e Ensino Fundamental

Anglo

234

Tabela 04 - Informações básicas sobre as escolas de Vargem Grande do Sul Fonte: Elaborado pelo autor.

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ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Segundo dados do IBGE (vide figura 26), a taxa de escolarização atinge 98,8% da população vargengrandense de 6 a 14 anos de idade, distribuída entre as 15 instituições de ensino fundamental. O dado é compreensível, uma vez que nem todas as famílias optam por matricular os filhos de 0 a 5 anos em creches, muitas vezes por poder contar com o apoio de familiares para cuidar das crianças ou mesmo pelo fato de um dos pais se dedicar aos cuidados da casa e dos filhos. No total, considerando as 25 escolas, são 966 crianças matriculadas na pré-escola (educação base), 4.991 no ensino fundamental e 1.364 no ensino médio, ainda que a taxa de matrículas tenha sofrido leves variações nos últimos anos (IBGE 2010). A disponibilidade de vagas é condizente com a demanda populacional. Ainda assim a nova gestão governamental da cidade (pelo prefeito Amarildo Duzi Moraes, eleito em 2016) garantiu retomar a construção da futura Escola Prof. Flávio

Iared, paralisada em 2013 e projetada para ser a maior da rede municipal, atendendo alunos do ensino fundamental em período integral.

Conforme mencionado anteriormente, a infraestrutura das escolas da cidade é satisfatória, uma vez que os espaços internos são adequados às diferentes faixas etárias atendidas, tanto no que diz respeito ao mobiliário disponível nas salas de aula e demais espaços de ensino quanto às normas de acessibilidade e instalações prediais do projeto como um todo. A grande maioria conta com bibliotecas à disposição dos alunos, quadras para a prática de educação física e salas multimídia. É importante ressaltar também a atuação de iniciativas que contribuem para a avaliação positiva do cenário educacional, como a distribuição de kits de material escolar feita pela Prefeitura e a preocupação da mesma em garantir que o cardápio de refeições nas cantinas seja desenvolvido por um profissional nutricionista.

Figura 27 - Escola Prof. Flávio Iared, atualmente em construção Fonte: Gazeta de Vargem Grande do Suk (2019)

5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 2017

2016

2015

2012

Pré-escola Figura 26 - Índice de matrículas em Vargem Grande do Sul Fonte: IBGE (2010). Adaptado pelo autor.

2009

2007

Ensino fundamental

2005 Ensino médio Figura 28 - Escola Municipal Nair Bolonha Fonte: Angelino Júnior (2013)

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ARQUITETURA E URBANISMO

O reflexo positivo do investimento no ensino municipal é evidente quando analisado o resultado obtido pelo principal indicador de qualidade da educação básica, o IDEB, uma vez que a cidade vem, com o passar dos anos, melhorando os resultados apresentados e suprindo as metas projetadas pelo índice na última década (vide tabela 05). A nota obtida em 2017 colocou o município em segundo lugar quando comparado aos demais da região, ficando atrás somente de São Sebastião da Grama que atingiu a nota de 7,2; mas destacando-se em relação à São João da Boa Vista (6,8), Divinolândia (6,7), Águas da Prata (6,5), Santa Cruz das Palmeiras (6,5), Pirassununga (6,4), Aguaí (6,3) e Casa Branca (6,2), tornando inegável a qualidade do ensino oferecido à população levando-se em consideração esse indicador.

3.3. entre cultura e educação, qual o “x” da questão? Figura 29 - Brinquedoteca da Creche Dona Cezarina, inaugurada em julho de 2018 I Fonte: Gazeta de Vargem Grande do Sul (2018)

ANO

METAS PROJETADAS

IDEB OBSERVADO

4,9 5,2 5,6 5,9 6,1 6,4 6,6 6,8

5,1 5,0 5,9 6,5 6,6 7,1 -

2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021 Tabela 05 - Resultados e metas do IDEB em Vargem Grande do Sul Fonte: IDEB (2017)

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A compreensão da temática educacional, desde o surgimento do que hoje se considera um sistema bem como do percurso e possibilidades desenvolvidas no Brasil ao longo da história, juntamente à análise do panorama na cidade de Vargem Grande do Sul permitem correlacionar a importância entre a temática abordada neste trabalho e o objeto de estudo do mesmo. Afim de apresentar a problemática passiva de soluções trazidas pelo campo da arquitetura, fez-se necessário primeiro compreender as necessidades do município em relação ao assunto. Logo, uma vez demonstrada a disponibilidade de escolas e equipamentos culturais na cidade (vide figura 25) e as demais informações apresentadas a respeito do desempenho educacional da mesma, nota-se que


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apesar dos resultados positivos em relação à educação, o município é dotado de profunda carência de equipamentos de cunho educacional/cultural que trabalhem em conjunto com estas escolas. Isso porque, com o passar dos anos e a evolução do método de ensino, estreitou-se a relação entre as atividades culturais e a prática educacional, que agora interferem diretamente uma na outra visto que são processos complementares na formação do indivíduo. A cultura passa a ter o papel de aprimorar a prática pedagógica, que em contrapartida busca maximizar a produção cultural, embora esta seja considerada um ato informal da busca pelo saber (CARDOSO, DUARTE, WERNECK, 2013). Ainda segundo Werneck: Entende-se a cultura como sendo o produto, o resultado, a modificação que ocorre no sujeito, ou no meio ambiente graças à ação do seu imaginário, da sua educação ou da sua instrução (...) Seria considerado como cultura tudo o que resultasse do agir humano englobando valor e contravalor, o que leva a grandes impasses no plano da educação, da ética e do direito (WERNECK, 2013).

Logo, abordar a problemática propondo como solução a construção de uma nova escola (possibilidade aventada na fase inicial desta pesquisa ) seria redundante, mesmo que o projeto arquitetônico e o método pedagógico fossem elaborados de maneira a diferenciá-la das demais, uma vez que o diagnóstico sobre a realidade educacional da cidade mostrou-se efetivo. Por outro lado, constatou-se ao longo da construção teórica da pesquisa que o panorama vargengrandense é precário no que diz respeito à presença de espaços que fomentem a prática e a produção cultural, fato que comumente ocorre em cidades pequenas do interior.

Figura 30 - Biblioteca Municipal Vitor Lima Barreto Fonte: Site da Prefeitura de Vargem Grande do Sul (2002)

Atualmente, na cidade que consta com aproximadamente 42 mil habitantes (projeção estimada para o ano de 2018 de acordo com o IBGE), os únicos espaços disponíveis para as pessoas que por ventura busquem complementar sua construção intelectual e artística são a Casa da Cultura e a Biblioteca Municipal Vitor Lima Barreto, ambas localizadas no centro.

tecnológicos que proporcionaram o fácil acesso à informação, seja ela científica ou não, colocando algumas bibliotecas em desuso, como é o caso desta em questão.

A biblioteca, inaugurada em 2002, conta com um acervo de mais de 30 mil obras, e a infraestrutura disponível abrange o espaço destinado à exposição dos livros, sala de estudos conjunta, biblioteca e brinquedoteca infantil, videoteca e sala de informática. Embora a infraestrutura seja adequada e mantida sob cuidado, é possível observar que o local é relativamente subutilizado, consequência da expansão informacional causada pelos avanços

Figura 31 - Sala de estudos da Biblioteca Municipal Fonte: Autoria própria (2019)

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ARQUITETURA E URBANISMO

Afim de observar o fluxo de usuários em um determinado período de tempo, realizou-se uma pesquisa mediante à visitação periódica durante uma semana em três horários distintos: às 10:00h da manhã, às 14:00h e 17:00h da tarde. Os resultados constam na tabela ao lado: Os dois primeiros visitantes que recorreram às instalações na segunda-feira às 14:00h da tarde (meninos de 12 e 13 anos de idade) disseram estar utilizando do espaço para realizar um trabalho de escola, uma vez que não puderam fazê-lo em casa e direcionaram-se à biblioteca a pedido dos pais. Das outras quatro pessoas encontradas ao longo da semana, uma delas (mulher de 32 anos) levava livros pedagógicos para doação, utilizados segundo ela no seu curso de graduação e que atualmente não tinham mais serventia; duas delas (meninas de 10 e 12 anos) procuravam o que ler; e a última (homem de 43 anos) apenas conversava com um dos atendentes sobre assuntos pessoais. Como iniciativa da Prefeitura no ano de 2018, uma programação de férias foi lançada para atrair crianças de 4 a 12 anos de idade que poderiam desenvolver algumas atividades recreativas no local (aula de culinária, festa a fantasia, sessão de cinema e conto de histórias) mediante à inscrição prévia. Ainda que a iniciativa seja válida, as atividades acontecem ocasionalmente (apenas 2 vezes ao ano, sendo o mês de janeiro de 2019 a segunda edição) e a abrangência da população é extremamente limitada, dada a faixa etária estipulada e o número irrisório de vagas ofertadas. Cabe mencionar que a Prefeitura ou mesmo a gerência do local não possuem nenhum registo dos acontecimentos.

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DIA DA SEMANA Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado

Nº DE USUÁRIOS POR HORÁRIO 10:00h 0 0 1 0 0 0

14:00h 2 0 1 0 0 0

17:00h 0 0 0 2 0 0 TOTAL= 06

Tabela 06 - Resultados obtidos sobre a visitação à Biblioteca Municipal em relação ao número de usuários no período de uma semana Fonte: Elaborado pelo autor

fundamental e médio) a usufruir de suas instalações, tais como rodas de leitura, saraus, lançamentos de livros e discussão com autores ou debates literários. Porém, este tipo de projeto infelizmente passa desapercebido pelas preocupações da administração municipal, contribuindo para que a biblioteca se transforme em um mero depósito de livros.

Figura 32 - Programação de férias da Biblioteca Municipal Fonte: Site da Prefeitura de Vargem Grande do Sul (2018)

Uma vez que tornou-se crescente o desinteresse entre crianças e adolescentes pelo hábito da leitura, o espaço demonstra que carece de demais programas de mobilização que incentivem o público a frequentá-lo, promovendo sua movimentação e convidando a população (principalmente estudantes do ensino

Figura 33 - Corredor de livros na biblioteca Fonte: Autoria própria (2019)


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

O mesmo acontece com a Casa da Cultura, reinaugurada em 2006 e que hoje ocupa um prédio histórico datado do início do século XX anteriormente utilizado como escola, Fórum Municipal e até mesmo a antiga cadeia da cidade.

Figura 34 - Casa da Cultura de Vargem Grande do Sul Fonte: Angelino Júnior (2013)

O edifício conta com três salas de exposições que abrigam um acervo de objetos sobre a trajetória do município quanto as suas tradições (como a Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana) e percurso histórico, além de um auditório no segundo pavimento com capacidade para 100 pessoas que comumente é utilizado para audiências públicas e reuniões. No entanto, nenhuma ação relacionada de fato à movimentação cultural ocorre no local, que recebe apenas uma média de 1000 pessoas ao ano, embora a visitação seja gratuita e aberta ao público de segunda à sábado em horário comercial, constituindo-se apenas de um simples mostruário histórico disposto em um local adaptado.

Figura 35 - Sala de exposição da história dos imigrantes Fonte: Autoria própria (2019)

Além destes dois equipamentos apresentados anteriormente, é importante evidenciar que a cidade não conta com um cinema, um teatro ou mesmo um local destinado a exposições de arte ou para ministrar cursos para a população. A produção cultural e artística local resume-se

simplesmente ao artesanato confeccionado individualmente por aqueles que se interessam pela atividade e aos trabalhos escolares feitos pelos alunos das instituições. Dessa forma, é evidente concluir que as opções disponíveis não contribuem de forma significativa para a

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ARQUITETURA E URBANISMO

construção de um senso crítico ou para a evolução dos valores culturais dos moradores, que frequentemente recorrem às cidades vizinhas em busca de suprir essa demanda. Justifica-se então a proposta de oferecer via sistema educacional um espaço que contemple a prática de atividades voltadas principalmente à população jovem da cidade, articulando-se juntamente às escolas existentes como um complemento à sua infraestrutura. O projeto a ser desenvolvido baseia-se no conceito elaborado por Anísio Teixeira para as Escolas Parque, que oferecem aos locais onde estão implantadas um espaço cujo objetivo consiste em estender a jornada de ensino dos estudantes, que passarão a aprender modalidades extracurriculares que constribuam para seu desenvolvimento pessoal e auxiliem na evolução de seus valores culturais.

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ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO



estudos de caso

4


ARQUITETURA E URBANISMO


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

4.1. LAIRDSLAND PRIMARY SCHOOL Localizada na cidade Kirkintilloch, no estado de Glasgow, na Escócia, a demanda pela construção da escola primária Lairdsland nasceu em 2012 como parte do programa dirigido pelo Governo escocês intitulado “Schools of the Future” (Escolas do Futuro), que provê fundos para a construção ou reforma de escolas no país. O projeto foi de autoria do escritório londrino Walters & Cohen Architects.

Figura 37 - Michál Cohen e Cindy Walters Fonte: Walters & Cohen (S.I.)

Figura 36 - Fachada principal da escola primária Lairdsland, na Escócia Fonte: Dennis Gilbert (2016)

Fundado em 1994 com sede em Londres, o escritório conta com cerca de 30 profissionais da área e desenvolve projetos arquitetônicos de cunho residencial, comercia, educacional e cultural, onde a abordagem de design é caracterizada por linhas retas e pelo minimalismo, resultando em edifícios arrojados, contemporâneos e imaginativos, adequados à um propósito e disfrutados pelos usuários. Criado pela arquiteta sul-africana Michál Cohen e sua parceira londrina Cindy Walters, o escritório acumula uma vasta lista de premiações

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ARQUITETURA E URBANISMO

mundiais em seu portfólio, com destaque para o prêmio “AJ Woman Architect of the Year”, conquistado em 2012 pelas fundadoras. O terreno determinado, de 2.4 hectares, está localizado à oeste de uma área ocupada por edifícios comerciais e da marina de Strathkelvin Place. É uma grande área plana beneficiada por um extenso limite com o canal Forth & Clyde, classificada anteriormente à construção do projeto como um “brownfield”, ou seja, um local previamente utilizado para fins industriais com baixa presença de vegetação.

Figura 38 - Localização da escola Fonte: Google Maps

Ao norte, o limite principal que determinou as condicionantes para o posicionamento do projeto é a presença do canal, e ao sul a rua Donald Street, que separa a escola de um bairro residencial. Já à leste, encontra-se uma praça junto à marina, que começa na base de uma ponte que cruza o canal, criando um eixo de circulação para pedestres, e à oeste um parque arborizado com topografia levemente acidentada por onde escoa parte do canal. A implantação do projeto foi elaborada em conjunto com a equipe educacional e também com a comunidade, que decidiu incorporar a arquitetura ao canal, mantendo assim sua identidade. Os dois acessos principais, destinados ao fluxo de pais e

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CORTE AA nivelamento proposto CORTE BB

Figura 39 - Implantação do projeto e cortes do terreno Fonte: Material disponibilizado pelo escritório (2019). Adaptado pelo autor.

nivelamento proposto


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alunos, encontram-se ao lado da marina, e a a entrada de funcionários, utilizada para o descarregamento de suprimentos (para a cozinha, laboratórios) e que também dá acesso ao estacionamento para professores localiza-se no extremo oposto do terreno (vide figura 39). O terreno original, que apresentava um relevo de aproximadamente 2 metros acima do nível da marina, passou por um processo de terraplanagem criando um pequeno desnível na divisa com o canal e outro de aproximadamente 5,5 metros em relação ao parque, onde desenvolveu-se uma barreira de vegetação que impede o acesso direto dos transeuntes ao interior da escola ou dos alunos à parte externa.

Figura 40 - Maquete eletrônica da fachada norte Fonte: Material disponibilizado pelo escritório (2019)

A volumetria, posicionada na esquina nordeste, consiste em três grandes blocos conectados através de uma estrutura metálica renderizada que os envolve. Dois deles possuem dois pavimentos, que abrigam as salas de aula, o auditório e mais dois espaços chave do projeto: o hall principal e a “escada anfiteatro”. O terceiro volume, térreo, abriga as cozinhas e o refeitório, que se abre para um terraço com vista para o parque e o canal. A percepção de quem analisa o edifício muda conforme o ponto de observação. Quem passa pela margem oposta do canal, ao norte, vislumbra um grande maciço composto por vidro, madeira e envolvido por uma estrutura de concreto branco que funciona como marquise. São os espaços destinados ao auditório, laboratório de ciências, cozinha infantil e a escadaria de acesso ao segundo pavimento, que conforme citado anteriormente, funciona como uma espécie de arquibancada.

Figura 41 - Maquete eletrônica da fachada sul Fonte: Material disponibilizado pelo escritório (2019)

Já a fachada sul, aparente para aqueles que passeiam pela marina, revela um bloco de pé direito mais baixo, que abriga as salas de aula, banheiros e vestiários, onde a disposição de varandas cobertas no segundo pavimento permitiu a movimentação do volume através da criação de um jogo de cheios e vazios. Ainda assim,

as linhas retas predominam por todo o projeto. O programa de necessidades, analisados à seguir, abrange ambientes administrativos, educacionais e de apoio distribuídos uniformemente entre os dois pavimentos.

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ARQUITETURA E URBANISMO

1º Pavimento

14 13

10

1

3

6

6 2

11

15

12 6

9

9

9

9

5

9

7

6 16

16

4 8

16

17

N

Térreo

27 15

25

5

19

18

24

20 22

6 29

12

27

Figura 42 - Disposição do programa de necessidades Fonte: Elaborado pelo autor

12

12

12

12 11

27

64

17

6

14 21

23

16

13

27

13

27

13

27

3

2

9

1

8

4

7

4

10

3

6


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AMBIENTE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

TÉRRO Entrada principal Administração Banheiros Vestiário Auditório Depósito Datacenter Enfermaria Banheiro PNE Sala do zelador Sala dos professores Salas de aula Banheiros e armários Refeitório Estúdio de artes Depósito de materiais Sala de exposições Cozinha infantil Laboratório de ciências Depósito de mesas Depósito de limpeza Cozinha Administração da cozinha Banheiros e vestiário Sala de máquinas Depósito de lixo Área externa coberta

Tabela 07 - Listagem de ambientes (Lairdsland Primary School) Fonte: Elaborado pelo autor

1º PAVIMENTO Depósito Sala de reuniões Depósito de limpeza Diretoria Higienização Banheiros Sala dos professores (social) Escritório dos professores Salas de aula Mezanino Armários Banheiro PNE Depósito de materiais Escadaria anfiteatro Terraço Varandas para alunos Varanda para funcionários

Os espaços educacionais são interligados, uma vez que as salas de aula são abertas para um grande corredor de circulação, possibilitando a integração entre crianças de diferentes idades, que de acordo com o projeto pedagógico, brincam e aprendem entre si. Os ambientes adjacentes, como banheiros e depósitos, dispõem-se ao longo do edifício, intercalados com o restante. A sala dos professores, diretoria e a administração encontram-se nos extremos, uma vez que o acesso é restrito à uma pequena parte dos usuários do conjunto. Conforme o esquema apresentado a seguir, é possível notar que 75% do projeto é destinado à educação; 17,5% à serviços de apoio e 7,5% ao uso de funcionários. 1º Pavimento

Térreo

Educação

Serviço

Funcionários

Figura 43 - Setorização dos ambientes Fonte: Elaborado pelo autor

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Quanto ao sistema estrutural, devido à natureza húmida do solo subjacente do terreno por conta da presença do canal, houve a necessidade de se implantar uma estrutura específica para suportar o peso da construção, que consiste em pilhas pré-fabricadas de concreto. Logo, as cargas verticais e horizontais da superestrutura do edifício serão transferidas para a as fundações, empilhadas através de vigas de concreto armado. A estrutura metálica é constituída por colunas de aço estrutural, distribuídas em uma grade de aproximadamente 7,2 metros sobre as áreas de ensino. No térreo utilizaram-se pisos de concreto reforçado (14cm de espessura) fixados sobre as vigas de aço através de furos de cisalhamento soldados in loco.

Figura 44 - Projeto estrutural Fonte: Material disponibilizado pelo escritório (2019)

Para evitar o posicionamento de colunas estruturais no meio das áreas de ensino do pavimento térreo, parte da estrutura do pavimento superior é suportada por cabos de aço tracionados e suspensos a partir do telhado, este composto também por uma estrutura metálica que se estende entre as vigas que fazem sua sustentação. As escadas internas são de concreto pré-moldado, garantindo qualidade e rapidez de instalação. Os demais materiais que compõe o projeto foram escolhidos através da busca por duas principais características: alta durabilidade e

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Figura 45 - Painéis de madeira utilizados na fachada Fonte: Dennis Gilbert (2016)

similaridade com a paleta já predominante nas construções ao redor. Dessa forma, a parte externa do edifício é revestida por grandes placas de vidro duplo, conectadas por uma trama de perfis metálicos garantindo o isolamento térmico necessário devido à rigidez do clima escocês. O hall de entrada, o auditório e o bloco onde está localizada a escada principal são revestidos por painéis verticais de madeira de larício, material de demolição devidamente tratado e abundante na região.

Com a exceção de alguns pontos de destaque, o projeto foi mantido majoritariamente em uma paleta de tons neutros, para que os trabalhos desenvolvidos pelas crianças seja o destaque dos ambientes internos. Apenas alguns elementos arquitetônicos e parte do mobiliário levam tons vívidos, como o vermelho e o amarelo.


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O design arquitetônico da escola possibilita que a iluminação diurna seja captada pelas grandes aberturas duplamente envidraçadas de forma uniforme, sem excesso de brilho, e distribuída nos ambientes garantindo altos níveis de conforto visual e economia de energia. O projeto

de iluminação artificial trabalha em conjunto ao natural, sendo utilizado somente em áreas e períodos necessários, dessa forma todos os ambientes recebam a luminosidade recomendada por norma de acordo com seus usos.

Figura 46 - Escadaria e mezanino da escola Fonte: Dennis Gilbert (2016)

Figura 48 - Estudo de insolação das quatro fachadas do projeto Fonte: Elaborado pelo autor

FACHADA Norte Sul Leste Oeste Figura 47 - Mobiliário modular Fonte: Dennis Gilbert (2016)

PERÍODO DO ANO Verão 13:30h - 21:00h 03:30h - 14:40h 03:30h - 10:00h 10:00h - 21:00h

Equinócio 14:10h - 18:00h 06:00h - 15:20h 06:00h - 09:10h 09:20h - 18:00h

Inverno 14:50h - 15:30h 14:50h - 15:30h Não recebe insolação 08:30h - 15:30h

Tabela 08 - Resumo do estudo de insolação Fonte: Elaborado pelo autor

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ARQUITETURA E URBANISMO

Uma vez analisada a incidência solar, conclui-se que as fachadas sul e leste são as que mais recebem insolação por um maior período de tempo. Por isso a decisão dos arquitetos de locar as grandes salas de aula na fachada sul, que recebem iluminação natural ao longo de todo o período letivo, mas sem a incidência direta de raios de sol devido às varandas e a cobertura que se estendem logo à sua frente.

Figura 50 - Esquema de ventilação natural da escola Fonte: Material disponibilizado pelo escritório (2019)

espaços, e para garantir a satisfação dos usuários, as mesmas requerem movimentação manual, adequando-se à necessidade de cada um. Já no inverno, a ventilação se dá por meio da captação do fluxo de ar por aberturas fenestradas. A presença de alguns climatizadores ajudam na renovação do ar fresco durante o período da noite, e os banheiros também contam com exaustores mecânicos.

Figura 49 - Varandas cobertas e marquise na fachada sul Fonte: Dennis Gilbert (2016). Adaptado pelo autor.

A ventilação natural foi aproveitada ao máximo, uma vez que o posicionamento da escola no terreno permite que os ventos predominantes na região (sul – norte) sejam captados pelas aberturas dos principais espaços de aprendizado. Durante o verão, grandes janelas articuladas permitem que o vento caminhe por todos os

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renovável devido à presença de uma caldeira de biomassa e painéis fotovoltaicos na cobertura; e um sistema de controle de iluminação programado para evitar o desperdício, uma vez que a luz do dia é aproveitada ao máximo em todos os ambientes, diminuindo o período em que as artificiais ficam acesas.

A questão da sustentabilidade também foi levada em consideração, conferindo ao projeto nível máximo de excelência na categoria BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method), que utiliza categorias de avaliação reconhecidas internacionalmente julga critérios relacionados à energia, água, poluição, transporte, materiais construtivos, resíduos e processos de gestão. A Lairdslant Primary School apresenta, assim, um baixo consumo de energia através de um sistema automático de economia, onde a mesma é

Figura 51 - Grandes aberturas para a captação de luz natural Fonte: Dennis Gilbert (2016)


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O método pedagógico construtivista adotado pela escola propõe que o aluno participe ativamente do próprio processo de aprendizado, mediante à experimentação, a pesquisa em grupo, o estimulo à dúvida e o desenvolvimento do raciocínio. A vivência é mediada pelo educador, que intercede de acordo com a necessidade dos pupilos. Enfatiza-se a importância do erro não como um tropeço, mas como um trampolim na rota da aprendizagem, logo, a teoria condena a rigidez nos procedimentos de ensino, as avaliações padronizadas e a utilização de material didático demasiadamente estranho ao universo pessoal do aluno. A própria distribuição dos espaços e o fluxo de circulação do projeto designa à cada parte da escola, de forma indireta, as atividades mais apropriadas para serem desenvolvidas ali:

Figura 52 - Setorização em planta das atividades de aprendizado Fonte: Elaborado pelo autor

Além da organização dos espaços definida pelas arquitetas, outra ferramenta primordial é o layout proposto, que se destaca tanto pela riqueza em cores fortes quanto por sua disposição livre e modular, permitindo o rearranjo de acordo com as necessidades de cada atividade a ser realizada, seja ela para comunicação em pequenos grupos, criação em grupos maiores, leitura, etc; conferindo à Lairdsland Primary School a garantia de excelência no processo educacional de suas crianças.

Figura 53 - Espaços de aprendizado integrados Fonte: Dennis Gilbert (2016)

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4.2. espaço alana Localizado à rua Erva do Sereno, sem número, no Jardim Pantanal, comunidade no extremo da Zona Leste de São Paulo, o Espaço Alana atua como sede do Instituto Alana, uma ONG sem fins lucrativos voltada ao desenvolvimento infanto-juvenil criada oficialmente em 2002 com a missão de “honrar a criança”. O Instituto promove programas de desenvolvimento social voltados a crianças e jovens menos favorecidos, conta com parcerias e é mantido, hoje, por um fundo patrimonial (ALANA.ORG, 2019). O projeto arquitetônico, executado em 2015, é de autoria do escritório de arquitetura e design Rodrigo Ohtake.

Figura 55 - Rodrigo Ohtake Fonte: rodrigoohtake.com (2019)

Figura 54 - Entrada do Espaço Alana Fonte: Rafaella Neto (2015)

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Filho do renomado arquiteto brasileiro Ruy Ohtake, Rodrigo fundou seu escritório em 2011 na cidade de São Paulo. Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (FAU/USP) em 2009, o arquiteto que atuou ao lado do pai, hoje conta com um repertório de projetos residenciais, comerciais e de design de mobiliários onde exibe sua paixão por cores vibrantes e formas livres, sempre presentes em seus trabalhos.


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Figura 56 - Espaço Alana, em São Paulo Fonte: Rafaella Neto (2015)

O terreno designado para o desenvolvimento do projeto localiza-se em uma rua sem saída do bairro, à oeste do Rio Tietê e consta com aproximadamente 1.260m², onde a volumetria foi encaixada de forma a mesclar-se com o entorno preservando as características da paisagem que o rodeia, composta por residências unifamiliares. Ainda que os aspectos urbanos tenham sido preservados, a edificação representa um marco para a população local (ALANA.ORG, 2019). Figura 58 - Entorno edificado do Espaço Alana, na comunidade Jardim Pantanal em São Paulo Fonte: rodrigoohtake.com (2019)

N Figura 57 - Mapa de situação do Espaço Alana Fonte: rodrigoohtake.com (2019)

Visto que os limites físicos impostos pelo entorno cercam o terreno de todos os lados impossibilitando a criação de recuos, a disposição do programa de necessidades apropriou-se dos cantos extremos do lote, de forma a maximizar a circulação externa da praça de entrada e otimizar os espaços internos criados para atender os usuários. A topografia original que apresentava um pequeno desnível de 1,5m foi regularizada, dessa

forma a implantação do projeto é caracterizada por volumes majoritariamente térreos à nível da rua, com exceção de um bloco no segundo pavimento, que abriga ambientes de apoio. Dois eixos imaginários traçados pelo arquiteto levando em consideração o perímetro do lote conduziram a forma final dos espaços, que mesclam linhas retas e curvilíneas, todas conectadas pelo principal elemento arquitetônico: a marquise.

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ARQUITETURA E URBANISMO

O estudo da forma foi desenvolvido com a intenção de explorar uma maneira de convidar a população a adentrar o espaço de forma gradativa, uma vez que o mesmo está inserido em uma grande massa de edificações. O desafio foi integrar o projeto ao meio urbano já existente e delinear uma súbita divisão de espaços: a) o que ainda é extensão da rua e b) onde de fato “começa” o Espaço Alana. Tal efeito foi obtido à partir da adoção de 3 “planos” projetuais, sendo o primeiro (horizontal e à nível do chão) a praça que traz a sensação de ser uma extensão do bairro; o segundo, (vertical) os espaços físicos do programa de necessidades; e o terceiro, (também horizontal mas um nível acima) a marquise, que conecta os planos anteriores. De acordo com Rodrigo:

Cantina e banheiros Banda Alana Marquise (praça coberta) Manutenção e caixa d’água Biblioteca e brinquedoteca Figura 59 - Setorização do programa de necessidades Fonte: rodrigoohtake.com (2019). Adaptado pelo autor.

O conjunto se qualifica de modo delicado, sem modificar o sentido local, mas oferecendo a ele soluções técnicas inovadoras e atributos arrojados. A marquise sintetiza estas qualidades. Além de delinear o espaço entre a cidade e o lote, tornando-o livre e convidativo, sua forma singular é contundente e a aplicação dos materiais é cuidadosamente concebida. Sua presença forte se dissolve na experiência do visitante graças ao material translúcido, que abriga sem confinar (OHTAKE, 2015).

O programa de necessidades baseia-se na composição de um pequeno centro cultural e foi desenvolvido em conjunto com a comunidade, afim de instituir um espaço de convivência social e aprendizado. É constituído, no térreo, por uma praça central, sala de ensaios e apresentações musicais, cantina, biblioteca e brinquedoteca e demais espaços de apoio; e no pavimento superior por mais salas de música, administração e um espaço voltado à associação da comunidade, totalizando 800m² construídos.

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Rua de acesso Plano horizontal Plano vertical Plano de integração Figura 60 - Planos de projeto Fonte: Elaborado pelo autor


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1º Pavimento

1 2 3

4 4

6

N

11 11

Térreo

15 15

11

1

13

2

14 12 12

3

4

5 9

10

6

11 11

7 8

Figura 42 - Disposição do programa de necessidades Fonte: Elaborado pelo autor

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ARQUITETURA E URBANISMO

AMBIENTE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

TÉRRO

1º PAVIMENTO

Marquise Praça Sala de ensaios e apresentações Depósito de instrumentos Banheiro masculino Banheiro feminino Cantina Refeitório DML Elevador Jardim Biblioteca Catalogação Brinquedoteca Área técnica

Marquise Jardim elevado Administração Sala de música Associação da comunidade Elevador

A análise da disposição dos ambientes em planta evidencia a conectividade entre os mesmos, sempre voltados à um espaço em comum, aqui representado pela praça (vide figura 62). A classificação dos mesmos, apresentada abaixo, demonstra que no pavimento térreo 50% da área é destinada à convivência, 25% ao aprendizado e os outros 25% à ambientes de apoio (banheiros, área técnica, etc); já no primeiro pavimento apenas 10% da área é destinada ao aprendizado (pela presença de duas pequenas salas de música) enquanto os outros 90% destinam-se a administração. 1º Pavimento

Tabela 09 - Listagem de ambientes (Espaço Alana) Fonte: Elaborado pelo autor

Térreo

Conviência Figura 62 - Perspectiva 3D da sala de ensaios Fonte: rodrigoohtake.com (2019)

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Aprendizado

Figura 63 - Setorização dos ambientes Fonte: Elaborado pelo autor

ADM

Serv.


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Os espaços voltados à prática de atividades culturais/educacionais como a biblioteca, brinquedoteca e salas de música são livres de estruturas (com exceção das paredes de fechamento) e o que configura sua organização é a disposição do layout, que pode ser adaptado de acordo com a necessidade do usuário, tornando-os versáteis.

E

F

G

H

44 AA

BB

CC

11

DD 55

22

33

Pilar metálico (perfil “I”)

Figura 66 - Planta estrutural Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 64 - Layout da biblioteca Fonte: Rafaella Neto (2015)

Figura 65 - Layout de uma das salas de reunião Fonte: Rafaella Neto (2015)

O sistema estrutural adotado é simples e eficiente. Consiste em pilares metálicos de perfil “I” distribuídos em uma malha regular e baseia-se em um dos cinco pontos da arquitetura de Le Corbusier6 : a planta livre de estruturas. É possível observar que a disposição dos mesmos nem sempre coincide com as estruturas de fechamento, compostas por placas de cimento alternadas com panos de vidro. Alguns deles, inclusive, encontram-se posicionados no meio dos ambientes, como é o caso da sala de ensaios, o depósito de instrumentos e a sala DML. Percebe-se que o arquiteto incorporou a estrutura metálica aparente à estética do conjunto. O bloco técnico, representado pela volumetria curva sem nenhuma estrutura apontada na figura acima é de concreto armado. 6

Nomeado como primeiro ministro pelo então r

Figura 67 - Estrutura metálica aparente do Espaço Alana Fonte: Rafaella Neto (2015)

Arquiteto francês, desenvolveu os chamados “5 pontos da Arquitetura Moderna” que consistem basicamente em: uso de pilotis, terraço jardim, planta livre de estruturas, fachada livre e teto jardim.

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ARQUITETURA E URBANISMO

Mais uma vez, devido à inserção do projeto no meio urbano super adensado, a captação da luz solar nos ambientes acontece de forma indireta no pavimento térreo. Ou seja, eles são sim iluminados, mas não com incidência direta dos raios, com exceção da sala de ensaios que tem abertura para a rua sem saída logo atrás. A análise demonstra que apesar de todas as fachadas receberem incidência solar nos diferentes períodos do ano (exceto pela face sul no inverno), nem todas elas precisaram receber os cuidados necessários para a proteção dos espaços, uma vez que a implantação do projeto já resolve esse problema por si, à exemplo das faces leste e oeste que são totalmente vedadas por um muro. Já a fachada norte é toda protegida pela presença da marquise, que por conta do seu material translúcido permite a permeabilidade de luz sem causar desconforto a quem está embaixo. .

Figura 69 - Estudo de insolação nas quatro fachadas do projeto Fonte: Elaborado pelo autor

FACHADA Norte Sul Figura 01 - Imagem ilustrativa da chegada dos jesuítas às terras Fonte: al.sp.gov.br (2014)

Figura 68 - Marquise translúcida Fonte: Rafaella Neto (2015)

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Leste Oeste

PERÍODO DO ANO Verão 10:00h - 13:00h Do nascer - 08:10h, 12:00h - 19:00h Do nascer - 12:00h 12:00h - Pôr do sol

Tabela 10 - Resumo do estudo de insolação Fonte: Elaborado pelo autor

Equinócio 06:00h - 17:30h 16:15h - 18:00h

Inverno 06:45h - 17:15h Não recebe insolação

06:00h - 12:00h 11:40h - 18:00h

06:40h - 12:00h 11:20h - 17:20h


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Já no segundo pavimento, onde os espaços destinados à administração, salas de música e associação da comunidade são mais expostos à luz solar, adotou-se a solução de aplicar em frente as janelas uma estrutura metálica composta por uma chapa perfurada que filtra a luz direta, difundindo-a de forma a tornar a luminosidade interna agradável e suficiente.

A

N

B

B

A

Térreo

Corte AA

Figura 70 - Brise vertical em estrutura metálica de chapa perfurada Fonte: Rafaella Neto (2015)

O fluxo de ventos predominantes na região acontece no sentido noroeste – sudeste, dessa forma a disposição do programa de necessidades em planta foi projetada de forma a possibilitar a ventilação cruzada em todos os ambientes, uma vez que a presença de estruturas de fechamento sólidas (placas de concreto) é muito pequena no projeto, utilizadas apenas em ambientes secundários e que requerem privacidade, como é o

1º Pavimento

Figura 71 - Estudo de ventilação Fonte: Elaborado pelo autor

Corte BB

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ARQUITETURA E URBANISMO

caso dos banheiros. Cerca de 80% das vedações são caracterizadas por caixilhos metálicos geométricos, ou seja, grandes janelas do chão ao teto que também possuem aberturas na parte mais alta para liberar o ar quente. A presença de pequenos corredores e jardins na lateral e ao fundo da biblioteca e também no refeitório e na ala administrativa colabora para o fluxo de ventilação, como é possível observar no estudo abaixo, tornando a sensação térmica no interior dos espaços agradável e dispensando assim o uso de ar condicionado. O estudo do projeto como um todo permite a compreensão de todos os aspectos levados em consideração para o desenvolvimento do projeto arquitetônico, que apesar de simples em questões formais e funcionais, apresenta uma complexidade notória quanto à preocupação do arquiteto em atender as necessidades do cliente. O espaço Alana foi criado com a objetivo de conferir àquela comunidade um local de estímulo ao aprendizado, um centro de disseminação cultural e de entretenimento para a população local, e o resultado edificado comprova que a arquitetura é, também, um importante agente de moção social.

Figura 72 - Crianças brincando embaixo da marquise do Espaço Alana Fonte: Rafaella Neto (2015)

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ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

4.3. Praça das Artes Localizada na cidade de São Paulo (Av. São João, 281, Centro), a Praça das Artes é um complexo cultural voltado às diversas formas de expressão artística como a música, a dança, o teatro e as exposições. O projeto, de autoria do escritório Brasil Arquitetura em parceria com Marcos Cartum, pode ser enquadrado na categoria de restauro e patrimônio histórico uma vez que teve como missão integrar ao centro cultural as antigas instalações do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, um edifício datado do ano de 1886 que originalmente foi construído para abrigar uma loja de pianos e posteriormente um hotel, até ser restaurado depois de décadas de abandono e incorporado ao projeto nos dias de hoje. O espaço é também sede da Escola de Dança e da Escola Municipal de Música de São Paulo, além de abrigar outros grupos artísticos da Fundação Theatro Municipal (THEATROMUNICIPAL.ORG, 2019).

Figura 73 - Fachada da Praça das Artes, em São Paulo Fonte: Nelson Kon (2013)

Figura 74 - Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, fundadores do Brasil Arquitetura l Fonte: Lucas Soares (2016)

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ARQUITETURA E URBANISMO

Fundado em 1979 pelos arquitetos e urbanistas Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, o escritório Brasil Arquitetura, localizado também na metrópole paulista, conta com 40 anos de carreira e uma equipe de nove profissionais que desenvolvem projetos das mais variadas áreas do campo da arquitetura, seja ela comercial, residencial, institucional, cultural, educacional, urbanística ou habitacional.

Centro Cultural Olido

Mosteiro de São Bento

Galeria do Rock Escola Municipal de Música

Francisco é formado pela FAU/USP em 1977 e além do trabalho no escritório é professor de projeto e coordenador do Estúdio Vertical da Escola da Cidade (SP); já Marcelo, formado pela mesma faculdade porém em 1978, foi colaborador de Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer, lecionou na Washington University (Saint Louis, EUA) como professor convidado e dirigiu o Programa Monumenta do Ministério da Cultura para recuperar cidades históricas (BRASILARQUITETURA.COM, 2019). Hoje em dia o escritório conta com um vasto portfólio de projetos nacionais e internacionais reconhecidos e premiados e dele nasceram serviços externos como a Marcenaria Baraúna, também fundada pelos mesmos profissionais.

Edifício Martinelli Theatro Municipal Praça Ramos de Azevedo

A demanda pelo projeto da surgiu ainda em 2005 através de uma iniciativa da Secretaria da Cultura do município, preocupada em disponibilizar um espaço de ensaio mais adequado próximo ao Theatro Municipal e que funcionasse como uma extensão do mesmo, situado a uma quadra de distância.

Figura 75 - Mapa de situação da Praça das Artes Fonte: brasilarquitetura.com (2019). Adaptado pelo autor.

O terreno designado para sua construção consiste em três lotes que se interligam em um miolo de quadra entre a Avenida São João, a rua Conselheiro Crispiniano e o Vale do Anhangabaú, totalizando uma área de 7.210m² que contorna o antigo prédio tombado do Conservatório. Este grande vazio urbano originou-se à partir de um

conjunto de pequenas desapropriações, principalmente no início da década de 70 quando boa parte de sua área ainda constava com um prédio que era ocupado pelo Exército brasileiro, então demolido quando a Prefeitura adquiriu o lote, que ficou subutilizado

80

N

pelos próximos 35 anos que antecederam a implantação da Praça (MELENDEZ, 2012).


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Segundo Fanucci: O lugar contém marcas e memórias de diferentes épocas, retratadas nas arquiteturas do Conservatório Dramático e Musical, na fachada do Cine Cairo e, também, nos edifícios que o cercam. Resultado dos desacertos de um urbanismo que sempre se submeteu à ideia do lote, à lógica da propriedade privada da terra, contém um ‘estoque’ de espaços vazios, subutilizados ou ociosos, abandonados, esquecidos, esperando que a cidade volte a ter interesse por eles (FANUCCI, 2006). Cine Cairo (1949)

Conservatório Musical (1886)

Acesso ao estacionamento

Figura 76 - Fachada do Conservatório, restaurada e incorporada ao projeto Fonte: Nelson Kon (2013)

A concepção formal deu-se a partir do conceito de integração almejado pela equipe e traduzido pelo partido arquitetônico através da verticalização dos grandes blocos de concreto, que em sua maioria foram elevados à um nível superior do chão resultando na criação de uma grande praça que funciona como a continuação “natural” das ruas, trazendo a sensação de conectividade com o meio urbano ao redor. A partir do centro do terreno, os blocos se espalham em três distintas direções, criando múltiplos acessos e abrangendo ainda mais os extremos da quadra. Além disso, o complexo dialoga com a vizinhança carregada de

Figura 77 - Ilustração da volumetria do projeto incorporada aos prédios históticos existentes no entorno l Fonte: brasilarquitetura.com (2019). Adaptado pelo autor.

Figura 78 - Configuração da praça e Jogo de composição da volumetria. Fonte: brasilarquitetura.com (2019). Adaptado pelo autor.

história, uma vez que outros edifícios originais do entorno foram incorporados ao conjunto que promove a requalificação urbana do centro da cidade, à exemplo do Conservatório, citado anteriormente, e também do antigo Cine Cairo.

complexo, foi desenvolvido à partir de alguns pré-requisitos estipulados pela Secretaria Municipal da Cultura, que após um estudo aprofundado de suas necessidades levou aos arquitetos a tarefa de abrigar no novo espaço as Orquestras Sinfônicas Municipal e Experimental de Repertório, os Corais Lírico e Paulistano, o Balé da Cidade, as Escolas de Música e Dança do município, o Centro de Documentação Artística, o Museu do Theatro Municipal, administração, salas de recitais, áreas de convivência, restaurantes, cafés, estacionamento e demais ambientes de apoio.

A paisagem predial do entorno, caótica e desigual, também foi levada em consideração, dessa forma a volumetria final brinca com um jogo de cheios e vazios, altos e baixos, mesclando o projeto aos edifícios existentes ao redor. Já a topografia original, acidentada e irregular, foi respeitada de forma a fazer com que os novos espaços se encaixassem no terreno aproveitando suas condicionantes, onde o declive foi utilizado a favor dos arquitetos para a construção de dois pisos de estacionamento no subsolo com capacidade para 180 veículos. O programa de necessidades, extenso e complexo, foi desenvolvido à partir de alguns

O projeto arquitetônico totaliza aproximadamente 28.500m² construídos distribuídos em 10 pavimentos (sendo 02 deles no subsolo), mas conforme explicado anteriormente, cada bloco consta com um gabarito de altura distinto que ao final compõe a volumetria desconstruída.

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3 2

1

4

1 5

1

7 6

8

9

4

10

2

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Subsolo 01

13

Subsolo 02

14

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N

15 11

A

7

7

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B

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3

2 1

Térreo Figura 79 - Disposição do programa de necessidades do subsolo ao térreo (Praça das Artes) Fonte: Elaborado pelo autor

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B

7 9

5

A


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10

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14 11

13

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15 11

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10

8

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6

7

4

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2

4

5

6

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1

7

7

8 8

1

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3

7

1º Pavimento

2º Pavimento

N 12 13

8

11 10

9

10

11

7

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5 4

1

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7

8

8

2 1

2

5

5

5 6

4

3

5

5 3

1

3º Pavimento

4º Pavimento

Figura 80 - Disposição do programa de necessidades do 1º ao 4º pavimento (Praça das Artes) Fonte: Elaborado pelo autor

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8

9

10

7 6

6

6

5

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6

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3

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2

1

1

5º Pavimento

6º Pavimento

N 9 8

6 7

7

10 4

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5

3

2

4

3

2 1

1

7º Pavimento

Figura 81 - Disposição do programa de necessidades do 5º ao 8º pavimento (Praça das Artes) Fonte: Elaborado pelo autor

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8

6

8º Pavimento


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AMBIENTE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

SUBSOLO 01

SUBSOLO 02

TÉRREO

Foyer Orquestra Área técnica Depósitos Praça Restaurante Estacionamento Sanitário Depósito de lixo Vestiários Caixa d’água

Estacionamento Depósitos Área Técnica

Acesso principal Museu Apoio ao museu Foyer Recepção Circulação vertical Praça Lanchonete Café Acesso ao estac. ADM do Theatro Depósitos Vestiários Camarins Arquivo vivo

1º PAVIMENTO

2º PAVIMENTO

3º PAVIMENTO

4º PAVIMENTO

Sala de concertos Centro de doc. Salas de reunião Circulação vert. Bar e restaurante Cozinha e apoios Área externa Jardim e terraço Sala de convívio Depósitos Vestiário mas. Vestiário fem. Camarins Escada de acesso

ADM esc. dança Centro de doc. Secretaria Circulação vert. Sanitários Ensaios de piano Metais e madeira Percussão Rampa de acesso Salas maestros Coral Terraço Sanitários Instalações pred. ADM e reuniões

Depósit instrum. Oficina instrum. Salas de teoria Circulação vert. Coral Percussão Sala de piano Cordas Quartetos Arquivos Vestiário fem. Vestiário masc. Depósitos

Centro de doc. Vestiários Fisioterapia Circulação vert. Sala de dança Depósito figurinos ADM do balé Depósitos Copa Instalações pred. Área técnica

Tabela 11 - Listagem de ambientes do subsolo ao quarto pavimento (Praça das Artes) Fonte: Elaborado pelo autor

AMBIENTE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

5º PAVIMENTO Centro de doc. ADM geral Sanitários Circulação vert. Musculação Salas de ensaio Depósitos Salas de vídeo Vestiários Fisioterapia

6º PAVIMENTO ADM geral Sanitários Circulação vert. Depósitos Sala coreógrafos Vestiários Camarins

7º PAVIMENTO ADM geral Sanitários Circulação vert. Ensaios gerais Sala multiuso Depósito cenog. Sala de máquinas Depósitos Figurino Sanitários

8º PAVIMENTO ADM geral Sanitários Circulação vert. Deck Piscina Depósitos Vestiários Mezanino

Tabela 12 - Listagem de ambientes do quarto ao oitavo pavimento (Praça das Artes) Fonte: Elaborado pelo autor

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ARQUITETURA E URBANISMO

A organização dos espaços foi distribuída de acordo com a classificação das atividades a serem desenvolvidas em cada um. O estudo apresentado logo em seguida demonstra essa divisão, separando a área construída em 5 setores diferentes.

Corpo artístico

Apoio/ADM

Escolas

Ampliação escolas/ Auditório/ Discoteca

As atividades educacionais, como a escola de música e dança, ficarão concentradas no módulo Escolas, anexado ao antigo prédio do Conservatório que agora abriga uma sala de concertos e um pequeno espaço de eventos. O módulo retangular e estreito onde localiza-se o CPDOC, cuja face principal se volta para a Av. São João (vide figura 76) abriga um centro de pesquisa e documentação. Logo atrás é possível observar a presença de um bloco de apoio (vide figura 83) que também funciona como o centro articulador de todo o conjunto, uma vez que todos os escritórios administrativos, as principais circulações verticais de acesso e os halls de chegada e distribuição do fluxo de usuários se concentram ali (GUERRA, 2012). Por fim, o bloco destacado em laranja representa a ampliação das salas de ensaio da escola de música e um amplo auditório; já o amarelo, denominado módulo Artístico, serve como um espaço para exposições de arte; enquanto o azul, e menor de todos, demonstra onde está localizada o restaurante, além do café e da lanchonete, todos interligados com a grande praça. Restaurante

Figura 82 - Setorização do programa de necessidades Fonte: brasilarquitetura.com (2019)

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CPDOC

Sala de concertos

Estacionamento


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interfira nas demais. Para tal efeito, adotou-se um sistema de lajes duplas separadas por um conjunto de molas e alavancas que criam um colchão de ar entre elas e, juntamente ao acabamento de forros de lã, isolam o ambiente e as vibrações sonoras produzidas nele, impedindo que ultrapassem as paredes. O concreto utilizado nas paredes externas também contribui para o isolamento.

Figura 84 - Acesso principal Fonte: Nelson Kon (2013)

A imensidão dos edifícios corroborou para que o projeto estrutural (produzido e executado pelo escritório especializado FTO Yamada) fosse igualmente complexo. Embora a topografia tenha sido respeitada, fez-se necessária a construção de enormes muros de arrimo ao redor de todo o perímetro para que o solo do entorno não cedesse para dentro da Praça.

Figura 83 - Bloco de apoio (circulação principal e ADM) Fonte: Nelson Kon (2013)

Um dos acessos, considerado o principal, intriga o transeunte que passa por ali. Localizado ao lado da fachada do Conservatório, a passagem que interliga a rua da cidade ao coração da praça (vide figura 84) formou-se devido ao pé direito duplo das salas de reunião da escola de música, configurando uma grande marquise que abriga, eventualmente, exposições de arte itinerantes.

O material construtivo em destaque é o concreto, utilizado não em sua forma natural, mas pigmentado em tons ocre e avermelhado, que contrastam com as edificações ao redor e conferem ao conjunto um aspecto brutalista e imponente, além da praticidade construtiva e durabilidade proporcionada pelo material. Ele é a estrutura e a própria vedação. Porém, a principal preocupação ao elaborar a Praça das Artes foi garantir a excelência acústica dos ambientes internos. As salas de música, de dança e ensaio bem como os espaços destinados ao coral e as salas de apresentação necessitam de um cuidado especial com essa questão, de forma com que o som produzido em uma não

Figura 85 - Contraste do concreto pigmentado com a iluminação noturna Fonte: Nelson Kon (2013)

É possível assim, otimizar a distribuição dos espaços e construir as salas uma ao lado da outra, não importa quão intenso será o barulho interno. Naquelas destinadas ao estudo musical e aos ensaios de dança, as paredes e o teto são revestidos com materiais próprios também para a absorção do som, e isso não impediu que o visual estético final fosse agradável, pelo contrário, uma vez que os acabamentos em tecidos coloridos foram desenhados pelo artista plástico Edmar de Almeida.

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ARQUITETURA E URBANISMO

A múltiplas fachadas do projeto recebem insolação por longos períodos de tempo em todos os períodos do ano, sendo a fachada norte, onde encontra-se o acesso principal, a mais privilegiada. A criação da praça central proporcionou a captação

de luminosidade por quase todos os ambientes que se voltam ao seu interior, uma vez que o entorno é bloqueado pela presença de outros edifícios, por vezes mais altos.

Figura 86 - Interior de uma das grandes salas de ensaio Fonte: Nelson Kon (2013)

Figura 88 - Estudo de insolação das quatro fachadas do projeto Fonte: Elaborado pelo autor

FACHADA Norte Sul Leste Oeste Figura 87 - Interior de uma das salas de música Fonte: Nelson Kon (2013)

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PERÍODO DO ANO Verão Do nascer - 12:00h 12:00h - Pôr do sol Do nascer - 12:00h 12:00h - Pôr do sol

Tabela 13 - Resumo do estudo de insolação Fonte: Elaborado pelo autor

Equinócio 06:00h - 14:40h 14:00h - 18:00h 06:00h - 10:50h 11:20h - 18:00h

Inverno 06:30h - 17:10h 15:50h - 17:30h 06:30h - 10:00h 10:50h - 17:20h


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Ao contrário do que normalmente se espera de um projeto arquitetônico, que na maioria das vezes valoriza grandes aberturas para a apreciação da paisagem externa, aqui as aberturas são reduzidas e distribuídas pelas faces de concreto de forma aleatória, resultando em um ritmo geométrico e enérgico. Os caixilhos de metal recebem placas duplamente envidraçadas e fixas, outro fator pensado para contribuir com o isolamento acústico dos espaços. Apesar de pequenas, a quantidade de janelas é numerosa, mas ainda assim faz-se necessário o desenvolvimento de um projeto luminotécnico artificial generoso principalmente nos ambientes mais amplos, como é o caso da sala de concertos do Conservatório e as demais salas de dança distribuídas pelos pavimentos.

B A

B A

N

Corte AA

Corte BB Figura 90 - Estudo de ventilação Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 89 - Composição de janelas nas fachadas do projeto Fonte: Nelson Kon (2013)

Segundo levantamento, a ventilação predominante no local da implantação acontece no sentido noroeste – sudeste, exatamente o mesmo eixo por onde se estende a grande praça, dessa forma é possível concluir que a sensação térmica ali é agradável apesar da forte presença do concreto, que naturalmente é um material que

absorve calor. Porém, devido ao gabarito de altura dos blocos que cercam a mesma, cria-se um corredor que capta o fluxo o vento ao longo deste espaço e o leva até o outro extremo do lote. O projeto da Praça das Artes, além de atender as demandas e funcionalidades para as quais foi desenvolvido, regenera o sentido do meio do meio urbano onde está inserido, trazendo um novo significado ao espaço que anos atrás era subaproveitado e sem nenhuma identidade. A obra

claramente buscou evidenciar o forte vínculo entre arquitetura e a prática cultural, uma vez que a preocupação dos arquitetos em criar um espaço de convivência, cultura e educação que dialogue com as condicionantes de um lote atípico e que ao final incorporou ao projeto a história local através do respeito às edificações ali presentes é evidente, resultando em um complexo arquitetônico de notória representatividade artística na metrópole paulista.

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ARQUITETURA E URBANISMO

4.4. Considerações finais Os estudos de caso anteriormente apresentados foram realizados com o objetivo de ampliar a visão crítica pessoal e compreender os motivos que levaram os arquitetos, autores de cada um dos projetos, a tomarem certas decisões sobre o desenvolvimento dos mesmos, afim de auxiliar o processo criativo à ser desenvolvido como parte desta pesquisa utilizando-os como referência projetual. A justificativa da escolha levou em consideração a relação de cada um deles com a temática abordada: cultura e educação. Logo, o primeiro trata-se de uma escola, o segundo de um centro de apoio social voltado ao desenvolvimento infanto-juvenil e o terceiro de um centro cultural. Além disso, outros foram os critérios que auxiliaram na seleção, como a aproximação com a escala de projeto desejada (nos dois primeiros casos), a adoção de materiais construtivos de interesse e o estilo arquitetônico de cada uma das obras. O projeto da Lairdsland Primary School evidencia a ruptura com o método tradicional de ensino através da integração das salas de aula, todas abertas para um grande espaço central voltado também à prática educacional. Dessa forma a disposição dos ambientes em planta otimiza a conectividade e o fluxo de crianças na escola, onde as arquitetas adotaram soluções simples e eficientes afim de garantir o conforto térmico dadas as condicionantes climáticas típicas do país, além da utilização de materiais construtivos locais que complementaram o resultado estético final. O Espaço Alana lidou com as limitações

90

impostas pelo local de implantação do projeto de forma inteligente, levando em consideração os aspectos urbanos da paisagem ao redor para criar espacialidades agradáveis e funcionais. O método construtivo adotado viabilizou a utilização de materiais comuns para compor as vedações e permitiu ao arquiteto maior liberdade de criação. Por fim, a Praça das Artes demonstra a importância da relação entre a necessidade de desenvolver um projeto de larga escala e o respeito pelo contexto histórico e a vida urbana ao redor. Os vários acessos, totalmente abertos, convidam o público que transita pelo local a adentrar a praça central e conhecer o restante das instalações, setorizadas de acordo com as atividades artísticas a serem realizadas. A proposta exacerba a ideia de trazer um sentido à vazios urbanos subutilizados.


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estudos urbanos

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ARQUITETURA E URBANISMO


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Figura 91 - Mapa ilustrativo da localização de Vargem Grande do Sul Fonte: Elaborado pelo autor

A cidade de Vargem Grande do Sul localiza-se na região leste do estado de São Paulo, a cerca de 240km de distância da capital, e seu território faz parte da Microrregião de Planejamento de São João da Boa Vista, que por sua vez está contida na Mesorregião de Campinas, de acordo com o IBGE. Sua divisa territorial faz fronteira ao norte com os municípios de Itobi e São Sebastião da Grama, ao sul com São João da Boa Vista e Aguaí, e a oeste com Casa Branca, interligadas por vias federais/estaduais e estradas municipais apresentadas a seguir (vide figura 92). A área total do município é de 266,530km² divididos entre perímetro rural e urbano, este que

compreende um raio de aproximadamente 2,5km de distância entre o centro e o maior extremo da área edificada, representando uma pequena porcentagem comparada à extensão do limite municipal (Plano Diretor Participativo de VGS, 2018). Segundo o IBGE (2008), no que diz respeito às Regiões de Influência das Cidades, Vargem Grande do Sul classifica-se como um centro local, caracterizado por “cidades cuja centralidade e atuação não extrapolam os limites de seu município, servindo apenas aos seus habitantes”. Está diretamente vinculada a São João da Boa Vista (Centro Sub-Regional), que por sua vez

vincula-se a Campinas (Capital Regional) e que, por conseguinte, vincula-se à capital do estado, São Paulo, que corresponde a uma Grande Metrópole Nacional (Plano Diretor Participativo de VGS, 2018). Seus principais acessos constituem-se pelas rodovias SP-344 (Lourival Lindório de Faria) e BR-267 (Dep. Vicente Botta). A primeira, traçada no sentido norte-sul conecta o município a São Sebastião da Grama (19,5km de distância) e São João da Boa Vista (20km); já a segunda, traçada no sentido leste-oeste, leva a Poços de Caldas (60km) e Casa Branca (24km).

95


ARQUITETURA E URBANISMO

5.1. ASPECTOS POPULACIONAIS De acordo com o último censo demográfico realizado em 2010, a população vargengrandense somava um total de 39.266 habitantes, que distribuídos entre os 266,530km² de área resultam no índice de densidade demográfica equivalente a 147,32 habitantes/km². A tabela à seguir (tabela 14, pág. 97) permite compreender o crescimento populacional ao longo dos anos de 1991 a 2010, bem como a divisão dos habitantes entre área rural e urbana.

Geral

Limite municipal

Vias

Estrada federal/estadual

Perímetro urbano

Estrada municipal

Área edificada

Via local

Corpos d’água Cursos d’água Curvas de nível (10m) Linha de transmissão cantareira Figura 92 - Sistema viário do município Fonte: Plano Diretor Participativo de VG (2018). Adaptado pelo autor.

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É possível observar que a taxa de crescimento médio da população é baixa e vem diminuindo com o passar dos anos. Entre a década de 90 e o ano 2000, houve um aumento no número de habitantes de 17,2% (totalizando 5.350 pessoas), já no período que corresponde ao intervalo entre 2000 e 2010 esse número diminui para 8,16% (totalizando 2.964 pessoas). Tal informação é consequência da queda na taxa de natalidade, que no ano de 2000 demonstra que nasceram 17 crianças para cada 1000 habitantes, enquanto em 2010 esse número cai para 14 (IBGE, 2010). Também faz-se necessário evidenciar o aumento na taxa de urbanização, ou seja, o deslocamento daqueles que viviam no campo para a cidade, uma vez que o número absoluto de residentes na área rural diminuiu consideravelmente, passando de 3.135 pessoas no ano de 1991 para 2.590 no ano 2000 e 1.992 no ano de 2010 (Plano Diretor Participativo de VGS, 2018). No que diz respeito à faixa etária, o censo demonstra que a idade média da população é de 33,6 anos de idade, ou seja, a grande maioria encontra-se na faixa considerada economicamente ativa. Ainda assim, a base da pirâmide (que representa crianças de 0 a 9 anos) é sólida, e o extremo oposto demonstra que a população idosa mostra-se menos presente no município (IBGE, 2010).


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

POPULAÇÃO

ANOS 1991

Urbana Rural TOTAL

Nº absoluto 27.817 3.135 30.952

2010

2000 % 89,9% 10,1% 100%

Nº absoluto 33.712 2.590 36.302

% 92,87% 7,13% 100%

Nº absoluto 37.274 1.992 30.952

% 94,93% 5,07% 100%

Tabela 14 - Crescimento populacional em Vargem Grande do Sul e situação de domicílio Fonte: Plano Diretor Participativo de VGS (2018). Adaptado pelo autor.

Figura 93 - Pirâmide etária da cidade de Vargem Grande do Sul Fonte: IBGE (2010)

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ARQUITETURA E URBANISMO

ANO Acima de 100 anos 95 a 99 anos 90 a 94 anos 85 a 89 anos 80 a 84 anos 75 a 79 anos 70 a 74 anos 65 a 59 anos 60 a 64 anos 55 a 59 anos 50 a 54 anos 45 a 49 anos 40 a 44 anos 35 a 39 anos 30 a 34 anos 25 a 29 anos 20 a 24 anos 15 a 19 anos 10 a 14 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos TOTAL

HOMENS

MULHERES

TOTAL

TOTAL (%)

1 6 14 87 194 279 434 539 764 952 1202 1283 1410 1439 1566 1675 1672 1581 1647 1393 1350 19488

1 11 36 118 269 371 489 603 815 994 1201 1401 1459 1394 1524 1654 1645 1593 1535 1360 1305 19778

2 17 50 205 453 650 923 1142 1579 1946 2403 2684 2869 2833 3090 3329 3317 3174 3182 2753 2655 39266

0,005% 0,04% 0,15% 0,55% 1,18% 1,68% 2,38% 3,93% 4,03% 4,98% 7,14% 7,86% 8,33% 7,24% 8,89% 8,50% 8,47% 8,11%

5.2. ASPECTOS ECONÔMICOS Conhecida como a “terra da batata”, a economia da cidade de Vargem Grande do Sul gira também em torno do cultivo do tubérculo, seja por meio de pequenos ou grandes produtores amparados pelos serviços da Cooperbatata (Cooperativa dos Bataticultores da Região de Vargem Grande do Sul) e da ABVGS (Associação dos Bataticultores de Vargem Grande do Sul). O plantio originou-se por volta da década de 60 como iniciativa de um grupo de japoneses que passou a instruir pequenos produtores locais, responsáveis por fazer com a que produção responda hoje por 88% do plantio de inverno produzido no estado de São Paulo e 60%, no mesmo período, no Brasil todo (Plano Diretor Participativo de VGS, 2018).

3,13% 7,04% 6,79% 100%

Tabela 15 - Faixa etária e somatória da população vargengrandense Fonte: IBGE (2010). Adaptado pelo autor.

Do número total de habitantes, 61,9% nasceram e residem até então na cidade, já os outros 38,10% são provenientes de localidades da região, sendo elas do estado de São Paulo ou Minas Gerais, como é o caso de Poços de Caldas. O saldo migratório, calculado pela razão entre pessoas que passaram a residir em Vargem Grande do Sul (imigrantes) e aquelas que saíram da cidade

98

(emigrantes) resulta no montante de 856 no ano de 2010, indicando que o município atraiu menos moradores com o passar dos anos, uma vez que o resultado obtido na década anterior foi de 1.081 (IBGE, 2010). Figura 94 - Plantação de batatas no extremo oeste da cidade Fonte: cooperbatata.com.br (2019)


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Outra atividade que marcou o setor econômico desde o início do século XX e que perdura até os dias de hoje é a produção de tijolos e telhas de barro pelas cerâmicas (olarias) locais. Totalizando 6 no município, são responsáveis por gerar empregos tanto em suas instalações quanto aqueles derivados da produção, como o transporte de carga e o setor de construção civil propriamente dito. Apesar das produções mencionadas acima serem consagradas no cenário econômico municipal, a pesquisa realizada pelo IBGE demonstra que são as atividades que originam-se a partir destes serviços que movimentam as finanças locais, pois ao analisar-se o PIB per capita da cidade (calculado em R$21.192,62) entre os anos de 2010 e 2015 é possível constatar que o setor de prestação de serviços é o maior responsável pelo giro de capital, seguido pelo setor administrativo, industrial, e por último, o agropecuário (IBGE, 2010). O comércio varejista também entra em destaque, e concentra-se em um determinado ponto da cidade denominado “Rua do Comércio”, que se estende entre as duas principais ruas que conectam o centro ao restante dos bairros e permeiam a Praça da Matriz.

Tabela 95 - Cerâmica São Paulo, localizada em Vargem Grande do Sul Fonte: Angelino Júnior (2012)

Como é possível observar no gráfico à seguir (figura 96, pág 100), a pesquisa também demonstra que houve diminuição da taxa de desemprego ao longo da última década, colocando como parâmetro a faixa da população com idade equivalente a 18 anos ou mais, pois conforme constatado anteriormente esta parcela já corresponde ao grupo populacional dominante e economicamente ativo, uma vez que no ano de 2000 cerca de 65% da população trabalhava com carteira assinada, e no de 2010 a taxa passou para 69% (IBGE, 2010).

99


ARQUITETURA E URBANISMO

(máxima) e 10ºC durante a noite (mínima). A partir do segundo semestre, a média volta a equiparar-se com o início do ano, e a zona de conforto ao longo do mesmo compreende uma média entre 20-27ºC (WEATHERSPARK.COM, 2019).

R$ 500.000 R$ 450.000 R$ 400.000 R$ 350.000 R$ 300.000 R$ 250.000 R$ 200.000 R$ 150.000 R$ 100.000

Zona de conforto (ºC) Temp. bulbo seco méd. mensal (ºC)

R$ 50.000

Temp. bulbo úmido méd. mensal (ºC)

0 2010

2011

2012

2013

Agropecuária

Indústria

2014 Administração

2015 Serviços

Figura 96 - Evolução do PIB por setor em Vargem Grande do Sul Fonte: Plano Diretor Participativo de Vargem Grande do Sul (2018)

5.3. aspectos climáticos Baseando-se nas informações a respeito do zoneamento bioclimático brasileiro disposto pela norma7, constata-se que a cidade de Vargem Grande do Sul está contida na Zona 4, que indica algumas estratégias construtivas como o uso de aquecimento solar passivo e paredes internas

100

pesadas no inverno, e a ventilação seletiva no verão. A temperatura sofre oscilações ao longo do ano, onde nos primeiros meses (de 1 de janeiro a 7 de abril) prevalece a estação mais quente, cuja média diária chega aos 29ºC, podendo atingir 31ºC em dias de extremo calor.Em contrapartida, o período mais ameno compreende o intervalo entre os dias 15 de maio e 27 de julho, quando a temperatura chega aos 25ºC durante o dia 7

Figura 97 - Temperatura anual em Vargem Grande do Sul Fonte: projetee.mma.gov.br (2019). Adaptado pelo autor.

A cidade apresenta variações sazonais extremas na precipitação mensal de chuva, onde o período mais intenso é composto pelos meses entre outubro e abril, cuja probabilidade diária é de 39%, conforme demonstra o gráfico logo a seguir (figura 98, pág 101). Chove ao longo de todo o ano, com exceção do mês de julho, onde a acumulação total média é irrelevante (11 milímetros), já em contrapartida a época mais abundante soma uma média de 273 milímetros, sendo o mês de janeiro o mais significativo (WEATHERSPARK.COM, 2019).

NBR 15.220 – Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Disponível em: http://www.labeee.ufsc.br/sites/default/files/projetos/normalizacao/Termica_parte3_SET2004.pdf


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ao contrário das chuvas, as variações sazonais são menores ao longo ano, porém distintas durante o dia e a noite. É possível observar na rosa dos ventos a seguir (vide figura 99) que a direção de propagação predominante durante aproximadamente 90% do ano é a nordeste, e nos outros 10%, o fluxo de ventos vem da direção norte, tanto no período diurno quanto noturno, atingindo uma velocidade média entre 2 e 4m/s, equivalente a 7,2 e 14,4km/h (WEATHERSPARK.COM, 2019).

Prec. de chuva mensal (mm) Figura 98 - Períodos de chuva em Vargem Grande do Sul Fonte: projetee.mma.gov.br (2019). Adaptado pelo autor.

A duração de luz solar durante o dia também varia ao longo do ano. Em 2019, por exemplo, constatou-se mediante levantamento que o dia mais longo, 22 de dezembro, contará com 13 horas e 28 minutos de luz solar, enquanto o mais curto, 21 de junho, com 10 horas e 48 minutos. O nascer do sol oscila entre as 05:32h e 06:57 da manhã, já o pôr-do-sol acontece entre 17:31h e 19:56h, estes horários constatados nos casos mais extremos (WEATHERSPARK.COM, 2019).

Figura 100 - Rosa dos ventos nos períodos diurno e noturno Fonte: projetee.mma.gov.br (2019). Adaptado pelo autor.

As condições climáticas quanto a velocidade e direção predominante do vento demonstram que,

A observação da carta solar é primordial e auxiliará a determinar medidas necessárias para a proteção e garantia do conforto térmico do projeto a ser desenvolvido como parte desta pesquisa.

A época onde a presença dos ventos é mais forte é durante o início dos meses de julho a novembro (dia 2 ao dia 14), contrastando com as temperaturas mais baixas predominantes na cidade conforme apresentado anteriormente (onde julho mostra-se como o mês mais frio), sendo o dia 13 de setembro o mais extremo conforme levantamento realizado (WEATHERSPARK.COM, 2019).

0-2 m/s 2-4 m/s 4-6 m/s

Figura 99 - Horas de luz solar e crepúsculo ao longo do ano na cidade Fonte: pt.weatherspark.com (2019)

terrestre medida pela unidade W/m² (watts/metro quadrado). As maiores incidências na cidade ocorrem as 7h da manhã e 16h da tarde, mas os verdadeiros picos concentram-se entre as 11h e 13h, atingindo uma média entre 850 e 1300W/m².

Dada a latitude de -21º 49’ 55”, a obtenção da carta solar do município permite observar o comportamento da trajetória solar nos diferentes períodos (verão, equinócio e inverno), bem como a quantidade de luz solar que incide na superfície

I <= 250W/m² 250 < I <= 500W/m² 500 < I <= 850W/m² 850 < I <= 1000W/m² 1000 < I <= 1300W/m² Figura 101 - Carta solar de Vargem Grande do Sul Fonte: projetee.mma.gov.br (2019). Adaptado pelo autor.

101


ARQUITETURA E URBANISMO

5.4. topografia Devido a sua localização nas proximidades da Serra da Mantiqueira paulista, o índice de declividade do município demonstra uma variação em 5 escalas que diferem suas características quanto ao relevo, classificado em: a) Plano (0-3%, onde a menor altimetria é de 570 metros acima do nível do mar); b) Suave ondulado (3-8%, altimetria igual a 672m); c) Ondulado (8-20%, altimetria igual a 774m); d) Forte ondulado (20-45%, altimetria igual a 876m) e e) Montanhoso (45-75%, altimetria igual a 978m). A área correspondente ao perímetro urbano encontra-se na porção central do limite municipal, onde a declividade varia entre os índices classificados como plano, suave ondulado e ondulado, ou seja, de pequena variação altimétrica, fator este que ofertou condições favoráveis para o desenvolvimento da agricultura nas regiões mais planas e cultivo de café e criação de gado nos extremos mais íngremes.

Geral

Limite municipal

Perímetro urbano Corpos d’água Cursos d’água

Figura 102 - Mapa de declividade de Vargem Grande do Sul Fonte: Plano Diretor Participativo de VG (2018). Adaptado pelo autor.

102

Declividade

Plano (0-3%) Suave ondulado (3-8%) Ondulado (8-20%) Forte ondulado (20-45%) Montanhoso (45-75%)


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5.5. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO A análise quanto ao uso e ocupação do solo tem como objetivo principal compreender os padrões de composição do território através da setorização das atividades/serviços, características ambientais e tipos de uso do espaço em Vargem Grande do Sul, aqui dividida de forma a descrever primeiramente a área municipal total, e posteriormente a que corresponde ao perímetro urbano. No município como um todo (não considerando a área edificada) são dois os principais padrões de ocupação. O primeiro deles caracteriza-se, a grosso modo, pelas áreas destinadas à atividade agrícola concentradas majoritariamente na porção sul do território, limitadas pela presença da rodovia BR-267 e separadas da porção norte pela malha urbana. A área equivale a aproximadamente 55% do território municipal e espraia-se ao longo de todo o espaço deixando de ocupar somente as APPs ao redor dos corpos e cursos d’água. Destinam-se ao cultivo mecanizado da batata e da cana-de-açúcar (Plano Diretor Participativo de VGS, 2018).

Geral

Limite municipal

Vias

Estrada federal/estadual

Perímetro urbano

Estrada municipal

Área edificada

Via local

Corpos d’água Cursos d’água Curvas de nível (10m) Linha de transmissão cantareira Figura 103 - Uso e ocupação do solo no limite municipal Fonte: Plano Diretor Participativo de VG (2018). Adaptado pelo autor.

Figura 104 - Cultivo da batata na porção sul do município Fonte: UNIFEOB/Divulgação (2018)

103


ARQUITETURA E URBANISMO

O segundo padrão ocupa o espaço logo ao norte/nordeste da área edificada, estendendo-se até os limites do município com as cidades de Itobi, São Sebastião da Grama e São João da Boa Vista, representando 39% da cobertura do território vargengrandense. É composto principalmente por remanescentes florestais, e embora também abranja a atividade agropecuária, aqui destacam-se o cultivo do café e a pastagem de animais, favorecidos pela topografia mais elevada conforme a proximidade com a Serra da Mantiqueira (Plano Diretor Participativo de VGS, 2018).

Figura 105 - Serra da Mantiqueira paulista, ao norte do município Fonte: Divulgação (2018)

No que diz respeito ao perímetro urbano, localizado na porção central do município e que representa os 6% restantes de sua área total, a classificação buscou assimilar a organização dos espaços (divididos de acordo com seus usos) afim de compreender o funcionamento da cidade. O mapa a seguir evidencia essa organização. Primeiramente é possível observar que o crescimento da mesma deu-se de forma espontânea, sem nenhum planejamento aparente, uma vez que o desenho da malha urbana não

104

Geral Limite municipal Perímetro urbano

Uso e Ocupação do solo

Hierarquia viária

Corpos d’água

Industrial

Residencial

Via arterial

Cursos d’água

Comércio e serviços

Indústrias

Via coletora

Curvas de nível

Uso misto

Equip. de lazer

Via local

Reserv. abastec. de água

Lotes vagos

Uso institucional

Figura 106 - Uso e ocupação do solo no perímetro urbano Fonte: Plano Diretor Participativo de VGS (2018). Adaptado pelo autor.


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apresenta nenhum padrão quanto ao tamanho das quadras, retangulares em sua maioria e cuja distribuição nitidamente baseia-se na topografia. A presença de determinadas barreiras, como é o caso das rodovias e dos cursos d’água que transpassam o município também são outro fator limitante para determinar a forma da expansão orgânica, resultado da ocupação gradativa do território que iniciou-se a partir da Praça da Matriz, elemento central da cidade conforme a história anteriormente descrita. Embora o perímetro estabelecido ainda não tenha sido ocupado em sua totalidade, nota-se que esta ocupação ocorre principalmente nos sentidos norte e sul, enquanto a região oeste mantém-se majoritariamente ociosa (Plano Diretor Participativo de VGS, 2018). A maioria absoluta das edificações corresponde a residências unifamiliares de baixo e médio padrão compostas por um ou dois pavimentos, resultando nas áreas mais adensadas da cidade como o centro e os bairros adjacentes. O gabarito de altura neste caso raramente ultrapassa os 7 metros, salvo exceções como é o caso de alguns edifícios também residenciais que acabam destacando-se na paisagem por serem poucos na cidade (vide figura 107).

Figura 107 - Contraste entre um dos edifícios residenciais da cidade e a paisagem do entorno l Fonte: Autoria própria (2019)

Logo em seguida (quanto à quantidade numérica) destacam-se as localidades destinadas ao uso comercial, de prestação de serviços ou uso misto (que mesclam essas duas funções). Representadas no mapa anterior pelas cores rosa , distribuem-se pela cidade seguindo alguns eixos arteriais de circulação, como é o caso das ruas Batista Figueiredo, Capitão Belarmino Rodrigues Peres, Quinzinho Otávio e a própria Rua do Comércio, no centro (vide figura 108). Essas quatro vias estabelecem um eixo de conexão entre a porção norte e sul da cidade, circundando a

Figura 108 - Rua do Comércio, no centro da cidade Fonte: Autoria própria (2019)

105


ARQUITETURA E URBANISMO

quadra principal onde está localizada a Praça da Matriz. Nelas há presença de estabelecimentos comerciais (supermercados, drogarias, comércio varejista, postos de gasolina, restaurantes) e de prestação de serviço (agências bancárias, clínicas médicas e veterinárias, escritórios) dos mais variados tipos e que atendem à todos os bairros, uma vez que comércios menores são encontrados em todas as vizinhanças, como mini mercados de bairro, padarias, lojas de utilidades domésticas, farmácias de pequeno porte, etc. As instituições municipais como o Hospital de Caridade, asilo, Prefeitura e Câmara Municipal encontram-se neste mesmo eixo. Já a maioria das indústrias encontra-se em uma grande área localizada na porção sudoeste da cidade delimitada pela presença da rodovia BR-267, denominada Parque Industrial. Além das olarias mencionadas anteriormente, destacam-se três indústrias de grande porte que contribuem para o movimento da economia local: a Grampac Industrial (grampeadores, pregos, parafusadeiras, arames, etc), a Morandin (ferragens e acessórios para construção civil) e a Thebe (bombas hidráulicas).

Figura 109 - Mercadinho de bairro na zona leste Fonte: Google streetview (2015)

Figura 110 - Distrito Industial às margens da rodovia BR - 267 Fonte: Site da Prefeitura de Vargem Grande do Sul (2002)

106


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5.6. área de intervenção N

A determinação do melhor local para a implantação do projeto a ser desenvolvido como parte deste trabalho tem como critério primordial para a escolha do lote a centralidade, levando em consideração a localização das instituições educacionais da cidade mapeadas anteriormente, pois como a proposta trata-se de um centro educacional que tem como objetivo complementar a jornada acadêmica dessas escolas, é de suma importância que o acesso ao mesmo seja facilitado e praticamente equidistante, por isso os vazios urbanos localizados nos extremos do município foram descartados.

1 Av. Antônio Bolonha, s/nº, Jd. Paraíso II

2 Rua João Ramão, s/nº, Jd. São Gabriel

3 2 1

4 3

5

Rua Prudente de Moraes, s/nº, Centro

Figura 111 - Vazios e urbanos e seleção de lotes para estudo Fonte: Elaborado pelo autor.

4 Rua Ivo Rodrigues,, s/nº, Jd. Paraíso I

5 Av. Antônio Bolonha, s/nº, Jd. Paraíso II

Figura 112 - Seleção dos possíveis lotes para a implantação do projeto Fonte: Autoria própria (2019). Elaborado pelo autor.

107


ARQUITETURA E URBANISMO

Dos 5 lotes pré-selecionados a partir deste critério, seguiu-se um processo de atribuição de notas (de 0 a 5) para cada um deles a partir de categoriais distintas, afim de auxiliar na tomada de decisão. Estas categorias envolvem o tamanho do mesmo, uma vez a área total deve abranger o programa de necessidades (a ser apresentado no próximo capítulo); a localização na cidade, a topografia e a infraestrutura urbana existente ao redor. Os resultados seguem na tabela ao lado:

CRITÉRIOS

NOTA

Localização Tamanho Topografia Infraestrutura urbana ao redor MÉDIA

Lote 01 1 5 5 3

Lote 02 1 5 4 2

Lote 03 5 1 5 5

Lote 04 1 4 4 5

Lote 05 4 4 4 5

3,5

3

4

3,5

4,5

Tabela 16 - Critérios de avaliação para os lotes pré-selecionados Fonte: Elaborado pelo autor

Quanto à localização, o lote número 3 apresenta a maior nota por encontrar-se inserido no centro da cidade, em uma área muito próxima aos dois equipamentos culturais existentes (Biblioteca Municipal e Casa da Cultura) e a Praça da Matriz, porém é o menor de todos eles, resultando na inviabilidade de sua escolha uma vez que para abrigar o programa de necessidades seria necessário verticalizar demasiadamente a edificação.

minimizando a necessidade de movimentação de terra e a infraestrutura urbana ao redor está completamente desenvolvida, tanto no que diz respeito a pavimentação das ruas, quanto a estrutura de energia elétrica, água e esgoto, uma vez que o lote está interligado com um bairro residencial logo atrás. Frente à Av. Antônio Bolonha, um dos eixos arteriais da cidade, as características físicas do lote

Enquanto isso, os lotes 1, 2 e 4, apesar de apresentarem um tamanho extremamente relevante, localizam-se em uma área alagável às margens do Rio Verde (vide figura 113, ao lado), inviabilizando também sua escolha uma vez que os gastos com a infraestrutura necessária para mitigar o problema (aterros) seriam elevados. Além disso, o lote 2 localiza-se em uma área desprovida de infraestrutura urbana, onde a pavimentação das ruas que o circundam e a rede elétrica para iluminação pública são inexistentes. Logo, o lote número 5 mostrou-se o mais viável em todos os aspectos analisados. A localização corresponde ao critério de centralidade, uma vez que se encontra no centro do perímetro urbano; o tamanho é significativo, o desnível é suave,

108

Área alagável

Rio Verde

Figura 113 - Mapa ilustrativo da área alegável ao redor do Rio Verde Fonte: Plano Diretor Participativo de VGS (2018). Adaptado pelo autor.

e de seu entorno serão apresentadas nos estudos a seguir, considerando um raio de 500 metros a partir do centro do mesmo.


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N

O lote é composto por 5 faces de tamanhos distintos, onde a maior delas é voltada para a avenida principal. totalizando uma área equivalente a 14.535m². Seu desnível é tênue, passando de 0 a 3m em aclive no sentido norte-sul, como demonstra a figura 114.

3,00m

125

,78

m

2,00m

7m

5,6

1,00m

83m

12

0,00m

A=14.535m²

53,

Quanto às suas condições geográficas, o levantamento demonstra que os ventos predominantes se propagam na direção nordeste, e o nascer e pôr do sol são consequência de seu posicionamento no território, fatore estes que devem ser observados para a tomada de decisões projetuais que garantam o conforto térmico da edificação (vide figura 115).

61 ,37 m

5.6.1. aspectos geográficos

231,18m Figura 114 - Cotas gerais, de nível e área total do lote (sem escala) Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 115 - Ilustração demonstrativa das condicionantes geográficas Fonte: Elaborado pelo autor.

109


ARQUITETURA E URBANISMO

Figura 116 - Seleção de fotos do lote Fonte: Autoria própria (2019)

110


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5.6.2. uso e ocupação do solo Conforme demonstrado anteriormente, os maiores vazios dentro do perímetro urbano localizam-se nas proximidades do local escolhido para a implantação do projeto. O entorno é majoritariamente composto por residências unifamiliares, e em determinados trechos é possível notar a presença de pequenos comércios e edificações de uso misto além de alguns poucos galpões industriais de pequeno porte e uma pequena praça pública, a única da região. À sudoeste do lote, à duas e três quadras de distância respectivamente encontram-se uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), cuja obra está embargada, e o Terminal Rodoviário Municipal.

Local do projeto

Vazios urbanos

APP

Equipamentos urb.

Residencial

Uso Misto

Industrial

Praça Pública

Uso institucional

Comércio e serviços

Figura 117 - Uso e ocupação do solo no entorno do local de projeto Fonte: Elaborado pelo autor.

N

0

50

100

150

111


ARQUITETURA E URBANISMO

5.6.3. cheios e vazios e gabarito de altura O adensamento construtivo no raio analisado demonstra que a região que é relativamente bem ocupada, com exceção das áreas ociosas ao norte. Embora os recuos entre as edificações sejam pequenos (1 ou 2 metros no máximo) devido às normas aplicadas pelo código de obras quanto a construção de residências, nota-se que a grande maioria ocupa imediatamente a porção frontal do lote, resultando nos miolos de quadra vazios observados no mapa.

N

Quanto ao gabarito de altura, são poucas aquelas que excedem o pavimento térreo, logo a observação da paisagem é marcada por um ou outro elemento vertical.

Local do projeto

Edif. de 01 pavimento

Quadras e ruas

Edif. de 02 ou mais pavimentos

Figura 118 - Cheios e vazios e gabarito das edificações no entorno do local de projeto Fonte: Elaborado pelo autor.

112

0

50

100

150


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

5.6.4. SISTEMA VIÁRIO E DESLOCAMENTOS Centro da cidade

O lote em questão localiza-se logo em frente a um dos eixos arteriais da cidade, a Av. Antônio Bolonha, que interliga o centro às rodovias que levam aos municípios vizinhos (Casa Branca, São Sebastião da Grama e São João da Boa Vista, imediatamente). A via é de mão dupla, porém fragmentada pela presença de um canteiro central, e capta o fluxo de pessoas que deslocam-se de um extremo ao outro da cidade principalmente por questões de trabalho, logo, o tráfego é intenso durante todo o dia, ainda mais em horários de pico (entre 11-13h e 17-19h da tarde), fator este que garante também a visibilidade do local pela população vargengrandense. As vias secundárias, representadas em amarelo no mapa, são aquelas responsáveis por captar o fluxo proveniente da avenida e distribuí-lo pelos bairros da cidade, dessa forma o fluxo de veículos é considerado intermediário, principalmente pelo fato de algumas delas também darem acesso a pontos importantes, como é o caso da Rua dos Paulistas e Rua São José que, além da avenida, também levam ao Terminal Rodoviário. Em terceiro plano, as vias locais compõem o trânsito interno dos bairros, onde o tráfego de veículos é relativamente menor.

N R. Antônio Dias Duque R. Ivo Rodrigues

R. Felipe Moisés Felipe

Av. Antônio Bolonha

R. Luís Milan R. dos Paulistas

Terminal Rodoviário

Local do projeto Via arterial (tráfego alto) Via local (tráfego baixo)

Rodovias R. São José

Via coletora (tráfego médio) Figura 119 - Classificação do sistema viário no entorno do local de projeto Fonte: Elaborado pelo autor.

0

50

100

150

113


ARQUITETURA E URBANISMO

Como uma das principais preocupações consistia em situar o projeto em um local de fácil acesso pelos estudantes das escolas da cidade, o mapa ao lado demonstra o tempo de deslocamento entre a regiões onde estas estão situadas. Obviamente o menor tempo de deslocamento é dado via carro, seja ele a partir do centro ou dos extremos da cidade, seguido pelo deslocamento via bicicleta, transporte público, e em último caso, a pé.

N 10min. 15min. 30min.

As escolas situadas na região sul são as mais distantes, uma vez que a margem de tempo sofre um acrécimo de 10 minutos quando o percurso é caminhado, e é importante evidenciar que o tempo percorrido via transporte público (ônibus) assemelha-se com este no panorama geral, uma vez que a rota compreende alguns pontos ao longo dos bairros antes de aproximar-se do local em questão.

5min. 10min. 15min.

10min. 15min. 30min.

Escolas/Equipamentos

Deslocamento

Escolas municipais

De carro

Escolas estaduais

De bicicleta

Escolas particulares

A pé

Equipamentos culturais Figura 120 - Tempo de deslocamento das escolas ao projeto Fonte: Elaborado pelo autor.

114

15min. 20min. 40min.


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO



parâmetros de projeto

6


ARQUITETURA E URBANISMO


6.1. PÚBLICO ALVO Para a definição do público alvo é preciso relembrar o objetivo substancial da proposta: oferecer um espaço que complemente a infraestrutura do sistema educacional da cidade, estendendo a jornada das escolas e promovendo a construção do saber através da oferta de atividades que auxiliem na evolução dos valores culturais da população, consequentemente promovendo a convivência. Logo, o foco de atendimento é voltado aos estudantes que frequentam estas escolas. Dessa forma, retomar o levantamento quanto ao número absoluto de matrículas nas instituições de ensino na cidade (disponível no subcapítulo 3.2, “Cenário Educacional“, figura 26, página 51) mostra-se necessário, uma vez que este número funciona como parâmetro para levantar a estimativa de usuários a frequentar o local diariamente. A razão para obter esta estimativa levará em consideração apenas os alunos matriculados no ensino fundamental e médio (dos 6 aos 17 anos de idade), uma vez que as 966 matrículas correspondentes à pré-escola englobam crianças

00 50

40

00

00 30

00 20

10

0

Levando em consideração os estudos levantados até este ponto da pesquisa e a tomada de decisão em propor a implantação de um complexo educacional em Vargem Grande do Sul, é necessário ponderar sobre alguns parâmetros que auxiliem na concepção do projeto arquitetônico, sejam eles edilícios ou afim de definir o público alvo a ser atendido, para que dessa forma um programa de necessidades condizente possa ser desenvolvido.

00

ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

2017 Pré-escola = 966 matrículas

Ensino fundamental = 4.991 matrículas

Ensino médio = 1.364 matrículas Figura 121 - Número de matrículas nas escolas vargengrandenses em 2017 Fonte: Elaborado pelo autor.

de 0 a 5 anos que frequentam creches e berçários majoritariamente em período integral, conforme pesquisa realizada em todas as escolas da cidade que atendem essa faixa etária (vide tabela 4, página 50, quanto ao horário de atendimento). Logo, as atividades propostas no Centro serão focadas nos dois primeiros grupos, somando um total de 6.355 alunos. Considerou-se primeiramente o montante de alunos matriculados nas duas etapas, cujo total foi dividido em dois períodos, matutino e vespertino, visto que aqueles que frequentam a escola no período da manhã utilizam o espaço no período da tarde, e vice-versa. A partir daí, considerou-se também a fração de 2/5 do subtotal, uma vez que a proposta consiste em oferecer atividades extras 2 vezes por semana em dias úteis, onde o aluno realizaria as oficinas de seu interesse sequencialmente durante todo o dia, e em

contrapartida usufruiria da infraestrutura para estudar e fazer tarefas da escola ou como opção de lazer nos dias restantes e finais de semana. Dessa forma, o projeto necessariamente deve atender o fluxo de aproximadamente 2.540 estudantes por dia. O diagrama disposto a seguir (figura 122, página 120) demonstra o processo lógico para a obtenção deste resultado.

119


ARQUITETURA E URBANISMO

6.2. condicionantes legais Constatou-se que o local determinado para a implantação do projeto não apresenta nenhuma diretriz ou parâmetro construtivo aplicado, seja pelo código de obras do município ou pelo Plano Diretor atualmente em desenvolvimento. Apesar de situar-se diretamente conectado a uma área de uso misto (majoritariamente residencial), o zoneamento do lote foi desconsiderado pelo setor de planejamento, e o mapeamento da cidade considera-o, de fato, como um grande vazio urbano.

4.991 alunos ENSINO FUND.

6.355 alunos TOTAL

Portanto, algumas diretrizes básicas para nortear a concepção do projeto serão estabelecidas por autoria própria, tais como:

1.364 alunos ENSINO MÉDIO

Recuo lateral mínimo de de 2m;

Taxa de ocupação (TO) mínima de 30%;

• Coeficiente de aproveitamento (CA) mínimo de 40%; • 20%;

Taxa de permeabilidade (TA) mínima de

• Gabarito de altura (GA) estipulado em, no máximo, 18 metros; 3.177 alunos MANHÃ

3.177 alunos TARDE

• Acessos segmentados para veículos e pedestres visando maior segurança; • Cumprimento quanto às normas de projeto estipuladas pelo código sanitário do Estado de São Paulo;

1.270 alunos POR PERÍODO

Figura 122 - Diagrama de quantificação de usuários Fonte: Elaborado pelo autor.

120

Considerando 2/5 do 1.271 alunos total por período. MANHÃ

• Cumprimento quanto às sugestões de manuais técnicos de projeto para ambientes de ensino, estipulando a metragem dos ambientes de acordo com a área mínima ocupada por pessoa em de decorrência da atividade a ser realizada (vide explicações do programa de necessidades).


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

6.3. PROGRAMA DE NECESSIDADES O programa de necessidades buscou associar as análises realizadas durante os estudos de caso quanto a composição de cada um dos projetos e a reflexão pessoal acerca dos usos e funções almejados para este em questão, afim de propor um planejamento que atenda ao número de usuários anteriormente estabelecido e ofereça aos mesmos espaços adequados para a realização destas funções. O primeiro passo para a concepção consistiu em listar as diferentes atividades/oficinas a serem oferecidas e a partir daí estabelecer uma relação entre a quantidade mínima de vagas disponíveis por período e o número de alunos a serem atendidos (considerando o total aproximado de 1.270, onde metade participa das oficinas em horários alternados enquanto a segunda parte utilizada dos espaços comuns). A partir da listagem ao lado, que coloca em evidência o propósito principal do projeto, moldou-se o restante do programa levando em consideração os ambientes secundários que apoiam as funções primordiais, e demais espaços de cunho educacional e cultural que, para fins de melhor compreensão, foram divididos 3 grupos distintos, sendo eles: a) grupo administrativo, responsável por abrigar ambientes de atendimento e gestão do complexo; b) grupo educacional, predominantemente maior e do qual derivam os ambientes voltados à prática de atividades complementares; e c) grupo de apoio, que abrange ambientes de suporte técnico e serviço. Para o dimensionamento de cada um dos ambientes utilizaram-se parâmetros devidamente

embasados por manuais técnicos de projeto, sendo eles os catálogos disponibilizados pela FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) e o conteúdo do NEUFERT sobre projetos educacionais e de espaços de lazer, ambos com informações quanto à metragem mínima e possíveis disposição de layout de acordo com a

função de cada espaço. A área sugerida das salas e ateliês, por exemplo, baseou-se na metragem mínima estipulada de ocupação por pessoa, que varia entre 1,5 e 4m², pois entende-se que determinadas atividades demandam mais espaço de movimentação. O resultado consta na tabela 18 (pág. 122).

635 alunos

NAS DEMAIS DEPENDÊNCIAS

MÚSICA DANÇA DESENHO

1.270 alunos POR PERÍODO

PINTURA FOTOGRAFIA CERÂMICA 635 alunos

NAS OFICINAS

CORTE E COSTURA JARDINAGEM DESIGN E CRIAÇÃO PRODUÇÃO VIRTUAL ARTES MARCIAIS TEATRO CULINÁRIA ESPORTES

Figura 123 - Relação de atividades e vagas disponíveis Fonte: Elaborado pelo autor.

CADA VAGAS CADA

121


ARQUITETURA E URBANISMO

AMBIENTE

FINALIDADE

ÁREA MÍNIMA

QUANTIDADE

GRUPO ADMINISTRATIVO Recepção

Atendimento ao público

200m²

01

Diretoria

Gestão geral do Centro

15m²

01

Secretaria/ADM

Gestão administrativa

30m²

01

Registros e Documentação

6m²

01

Reuniões gerais

10m²

03

Sala dos funcionários

Convivência e descanso

35m²

01

Copa

Alimentação e convívio

50m²

01

Controle técnico

6m²

01

Arquivo Sala de reuniões

Database

GRUPO EDUCACIONAL Sala de música

Aulas instrumentais/canto

60m²

04

Sala de dança

Aulas de dança

90m²

02

Aulas de desenho

35m²

02

Aulas de pintura

35m²

02

Ateliê de fotografia

Aulas de fotografia

35m²

02

Câmara escura

Revelação de fotos

10m²

01

Ateliê de cerâmica

Oficina de artesanato

50m²

03

Ateliê de moda

Ateliê de desenho Ateliê de pintura

Oficina de artesanato

50m²

03

Ateliê de jardinagem

Trabalhos manuais

60m²

02

Ateliê de design/criação

Trabalhos manuais

90m²

01

Maquetaria

Produção de peças

90m²

01

Produção virtual e informática

160m²

01

Sala multimídia Sala de artes marciais Auditório Ateliê de culinária Quadra poliesportiva Sala multifunção Sala de teoria Hall de exposições Biblioteca

122

Prática de artes marciais

70m²

02

Apresentações/aulas de teatro

600m²

01

Aulas de culinária

130m²

03

Prática de esportes

430m²

01

Apoio para atividades em grupo

70m²

02

Aulas teóricas

75m²

02

Exposições artísticas

400m²

01

Leitura/estudo

1000m²

01


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

AMBIENTE

FINALIDADE

ÁREA MÍNIMA

QUANTIDADE

GRUPO DE APOIO Apoio

Sanitários Vestiário

01 peça sanitária para cada 20 usuários

Apoio

55m²

02

Apoio e local de estar

200m²

02

Depósito de instrumentos

Armazenagem

25m²

02

Depósito de materiais

Armazenagem

10m²

07

Armazenagem/produção

30m²

01

Foyer

Depósito de cenografia/figurinos Depósito de equipamentos esportivos

Armazenagem

15m²

01

Despensa

Armazenagem de alimentos

6m²

01

Camarim

Preparação

25m²

03

Bilheteria

Venda de ingressos

6m²

01

Controle de luz e som do audit.

20m²

01

Alimentação

200m²

01

Apoio

10m²

01

Armazenagem e serviço

20m²

01

Cabine técnica Cafeteria/Lanchonete Enfermaria Almoxarifado

Bicicletário Estacionamento

Acesso de bicicletas

100 vagas

Acesso de veículos

30 vagas SUBTOTAL: 6.014m² +30% de circulação TOTAL: 7.853m²*

Tabela 17 - Programa de necessidades Fonte: Elaborado pelo autor.

Após a definição das áreas mínimas necessárias para cada funcionalidade, a somatória ainda agregou uma porcentagem referente a 30% do valor total que consiste no espaço destinado à circulação dos usuários, e afim de compreender o

*metragem mínima necessária, variável de acordo com as decisões de projeto

funcionamento do complexo bem como o fluxo de transeuntes durante o dia a dia, desenvolveram-se diagramas que evidenciam as conexões pré-estabelecidas e que auxiliarão no momento de desenvolvimento do projeto arquitetônico.

Os tipos de uso seguem a divisão apresentada na tabela do programa, e as circulação sugerida buscou fragmentar os locais totalmente público e aqueles onde somente funcionários e alunos do complexo têm acesso.

123


ARQUITETURA E URBANISMO

Uso Administração Educação

DEP. DE MATERIAIS

AT. DE DESIGN

Restrita (func. e alunos)

DEP. DE INSTRUMENTOS

SALAS DE MÚSICA

MAQUETARIA

PRAÇA PÚB

Pública

LICA

Apoio

Circulação

SALAS DE DANÇA

SALA MULTIF.

DEP. DE MATERIAIS

CIRCULAÇÃO INTERNA

AT. DE MODA DEP. DE MATERIAIS

AT. DE CERÂMICA AT. DE JARDINAGEM

DEP. DE MATERIAIS DEP. DE MATERIAIS

DEP. DE EQUIPAMENTOS

AT. DE PINTURA

AT. DE FOTOGRAFIA

ENFERMARIA

DEP. DE MATERIAIS

QUADRA

AT. DE CULINÁRIA

CÂMARA ESCURA

DESPENSA VESTIÁRIOS

ARTES MARCIAIS Figura 124 - Fluxograma de projeto Fonte: Elaborado pelo autor.

124

ESTACIONAMENTO

RESERVATÓRIO

BICICLETÁRIO


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

SALAS DE TEORIA

SALA EXPOSIÇÕES

SALA MULTIMÍDIA

BIBLIOTECA CAFETERIA /LANCH.

FOYER

CIRCULAÇÃO INTERNA BILHETERIA

COPA

DATABASE ARQUIVO

SALA FUNC. SECRETARIA

RECEPÇÃO REUNIÕES

AUDITÓRIO

DIRETORIA

DEPÓSITO CENOG. CABINE TÉC. CAMARINS

125



projeto arquitetĂ´nico

7


ARQUITETURA E URBANISMO


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

Tendo em vista os levantamentos necessários demonstrados nos capítulos anteriores para comprovar a necessidade de implantação do projeto arquitetônico a ser desenvolvido como seguimento deste trabalho, iniciou-se o processo de concepção do mesmo. A proposta tem como objetivo projetar um complexo denominado “Escola Parque”, que pretende abrigar o programa de necessidades pré-estabelecido e voltado à prática de atividades de cunho educacional oferecidas à população jovem (estudantes das escolas do município) de forma a complementar sua formação.

7.1. Conceito e partido arquitetônico Como premissa, muito se pensou a respeito do conceito atribuido ao projeto, que expressaria as ideias subjacentes ao mesmo orientando a tomada de decisões para traduzi-las em espaços. Considerando o cenário de Vargem Grande do Sul, é sabido que a cidade não possui nenhum marco arquitetônico de relevância, seja ele um edifício histórico ou não. Dessa forma, atribuiu-se a ideia de criação da Escola Parque a possibilidade de inserir o município interiorano no panorama arquitetônico pela presença de uma obra que beneficia sua população. O projeto deveria, então, expressar de forma não direta a essência vargengrandense, conferindo ao espaço produzido a identidade local, beneficiando não só seus usuários pré-estabelecidos mas também os moradores como um todo através da permeabilidade do espaço, transformando o meio urbano onde está inserido. Logo, entendeu-se que o tijolinho maciço tem a

Figura 125 - Parede de tijolinhos cerâmicos maciços Fonte: Mabel Amber (2017)

potencialidade de exprimir essa essência, uma vez que o método construtivo empregado empiricamente em mais de 90% das obras locais ainda segue o sistema de paredes de alvenaria, mas principalmente pelo fato da atividade ceramista representar uma das potências econômicas da cidade desde o início do século XX até os dias de hoje (vide subcapítulo 5.2, “Aspectos econômicos“, pág.98). Coube ao partido arquitetônico determinar os parâmetros gerais do projeto à partir do conceito previamente definido, buscando garantir: a) a expressão da identidade local através da utilização desse material em sua forma mais pura, exposto

como elemento estético e não só estrutural; e b) a permeabilidade através da organização do programa de necessidades em planta, privilegiando os eixos de alcance visual e de circulação.

7.2. evolução da proposta Alguns eram os princípios condutores que nortearam a organização da implantação e dos ambientes internos, uma vez vigente a necessidade de criar grandes espaços de circulação e estar

129


ARQUITETURA E URBANISMO

devido ao grande número de usuários esperado. Logo, estes princípios defendiam a existência de uma praça central que possibilitasse o trânsito contínuo e adensado de jovens ao longo do dia de forma à não comprometer seu deslocamento até o espaço de realização da atividade desejada; e a criação de amplos corredores ao redor do perímetro interno de cada bloco, criando um eixo de circulação igualmente suficiente. Norteado pelos fundamentos do conceito e do partido arquitetônico, aliando seus ideais aos princípios condutores pré-estabelecidos, iniciou-se o processo de concepção formal demonstrado nos croquis e no diagrama a seguir.

blocos separados

passarelas suspensas

praça interna

Figura 126 - Croquis de evolução da proposta Fonte: Elaborado pelo autor.

130


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

eixo de circulação ao redor do perímetro interno

esquadrias amplas

caixa de concreto e portas de vidro

parede vazada de tijolinhos

Figura 127 - Croquis de evolução da proposta Fonte: Elaborado pelo autor.

131


ARQUITETURA E URBANISMO

1

2

1.

A concepção da forma deu-se, como primeiro passo, a partir de um único volume maciço criado com a finalidade de entender a relação da metragem estabelecida pelo programa de necessidades e a metragem/forma do lote para sua implantação. Contudo, esse volume passou por um processo de divisão, visando criar eixos de circulação e estadia (praças) entre os novos blocos, conferindo maior permeabilidade ao complexo educacional.

2.

Os três blocos então obtidos a partir desse processo alcançaram o objetivo de setorizar as atividades propostas no complexo de acordo com sua finalidade: administrativa, educacional e artística. Dessa forma, consagrou-se a ideia de manter os blocos fragmentados, onde o primeiro deles foi novamente dividido enquanto os outros dois foram rotacionados no eixo de uma de suas extremidades, um deles em sentido horário e o outro no sentido anti-horário.

132

3.

O novo posicionamento dos blocos, alongados pela extensão do lote, acabou extravazando seu limite territorial com o bairro residencial ao fundo, porém a grande praça central criada a partir dessa movimentação resultou em uma espacialidade interessante para a articulação do projeto como um todo. Sendo assim, a decisão aqui tomada consistiu na torção dos blocos que tomaram a forma de grandes “L’s”, e aqueles então separados na etapa anterior foram afastados em direções opostas.

4.

Criou-se um jogo de volumes a partir da configuração de cada um dos quatro blocos, onde o primeiro deles passou a ser térreo enquanto os demais contam com dois pavimentos. Uma porção considerável foi retirada do térreo do bloco central de forma a criar um grande vão livre, garantindo a visão de toda a praça para os transeuntes ao redor, e a porção remanescente foi empurrada de forma a adentrar o volume em relação à face do segundo pavimento, este parte suspenso por pilotis.

5.

3

A disposição dos blocos no terreno passou a ocupar majoritariamente sua extremidade sul e o centro, uma vez que a extremidade norte alocaria o estacionamento. Dessa forma, o bloco destinado às atividades educacionais encontra-se à sudeste do lote, o bloco artístico à sudoeste, o bloco administrativo na porção central e o último deles, por sua vez, na porção norte, destinado aos espaços de prática de esportes. Grandes eixos de circulação foram estabelecidos a partir da implantação, sendo o principal deles conectado à rua então sem saída do bairro ao fundo, que passou a desaguar no coração da praça interna. Além disso, afim de criar um grande espaço de estar sombreado e confortável, grandes coberturas foram adicionadas à forma, também em “L” mas dispostas no sentido oposto dos blocos em que se apoiam; e para garantir o trânsito facilitado entre o segundo pavimento de cada um deles, passarelas foram adicionadas para interligá-los, maximizando o fluxo dos usuários.


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

4

5

Figura 128 - Diagrama de evolução da forma Fonte: Elaborado pelo autor.

133


ARQUITETURA E URBANISMO

7.3. SISTEMA ESTRUTURAL E detalhes construtivos Para elaborar o sistema estrutural do complexo, levou-se em consideração dois dos “cinco pontos da nova arquitetura” de Le Corbusier: planta e fachada ambas livres da estrutura, ou seja, a desvinculação entre a estrutura que sustenta a edificação e as paredes de fechamento, bem como seu afastamento da fachada, permitindo maior liberdade de criação.

4 3

O posicionamento dos pilares de concreto segue uma grelha de 10x10m, e sob os mesmos se apoia a laje nervurada pré-fabricada (escolhida dada sua capacidade de viabilizar a execução de vãos mais amplos além da montagem facilitada e da redução do peso próprio quando comparado ao de uma laje maciça) sustentada por vigas-faixa, comumente utilizadas quando aliadas a este tipo de laje em questão.

8 9

134

2 3

10

4 5 6 7

No interior do edifício, a divisão dos espaços fica por conta do steel frame, aplicado em todo o projeto possibilitando a livre disposição do programa de necessidades por entre a malha de pilares. Tal método construtivo garante maior agilidade de execução, alta durabilidade e resistência além da diminuição do peso de estruturas atuando sobre a laje, e o diagrama ao lado exemplifica sua estruturação. No que diz respeito à materialidade, utilizaram-se elementos que cumprem sua função estrutural mas também garantem ao projeto um aspecto estético popularmente conhecido como industrial, uma vez que todos os materiais aparecem em sua forma bruta, sem acabamentos (com exceção de determinados ambientes). Internamente, os perfil metálicos do steel frame

1

8 9 10

7 2 6 5

1 Figura 129 - Sistema construtivo e materiais internos Fonte: Elaborado pelo autor.

Piso de cimento queimado Pilar cilíndrico de concreto (Ø=0,60m) Viga-faixa de concreto (L=2,10m) Laje nervurada pré-moldada (0,80x0,80m) Guia metálica inferior e superior (0,09x0,03m) Montante metálico (0,09x0,035m) Montante de travamento (0,09x0,035m) Lã de PET Placa OSB (1,20x2,40x0,0183m) Placa cimentícia (1,20x2,40x0,01m)


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

receberam preenchimento de lã de PET visando o conforto acústico entre os ambientes, sobreposta por uma placa OSB para que em seguida fosse aplicada a placa cimentícia, medida tomada para melhorar o travamento da estrutura, sua rigidez e resistência à impactos mecânicos. A paginação de tijolos criada para estruturar as paredes externas consiste na junção de quatro deles configurando um cobogó vazado no centro. Ao ser agrupado com outros, resulta em uma “parede permeável” que promove a entrada de luz natural filtrada e a troca de ventilação entre o interior e o exterior do edifício, além de ser um material propício a ser utilizado na zona climática onde se situa o projeto devido à sua alta capacidade de absorção do calor. Por ser assentado em duas lâminas uma atrás da outra, criou-se a possibilidade de vedar o vão do cobogó em áreas desejadas, como nas platibandas que escondem a estruturação metálica do telhado de forma à não comprometer o ritmo da fachada.

Figura 130 - Paginação de tijolos desenvolvida Fonte: Elaborado pelo autor.

135


ARQUITETURA E URBANISMO

7.4. o projeto 4

A divisão do programa de necessidades acontece em quatro blocos principais, aqui identificados por A, B, C e D; e seu posicionamento no lote procurou atender as condicionantes legais edilícias vigentes no município que exigem o recuo mínimo de 2m, seja ele frontal ou lateral.

2

Dessa forma, o vértice superior esquerdo do bloco C posiciona-se a exatos 2m de distância da divisa, distância essa que aumenta gradativamente devido à angulação do lote. Já o recuo posterior dos blocos C e D consiste em 4m de distância entre a edificação e o limite territorial. Visto que o tráfego na avenida é constante e por vezes intenso, criou-se um acesso de veículos (1) para carga e descarga rápida de estudantes, separado da mesma por um canteiro central. Já o estacionamento (2) foi dividido entre as porções norte e sudoeste totalizando 30 vagas, suficientes para atender a demanda de funcionários e possíveis visitantes, uma vez que a idade média dos usuários não permite o porte de habilitação, favorecendo o uso de modais de transporte alternativo como vans, ônibus e bicicletas à serem alocadas no bicicletário (3). O ponto chave do posicionamento dos blocos é a grande rampa de acesso (4) que conecta a rua até então sem saída do bairro residencial ao fundo com a praça central (5), convidando o transeunte a utilizar do espaço.

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B

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Figura 131 - Implantação do projeto Fonte: Elaborado pelo autor.

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ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

BLOCO A

É responsável por abrigar a parte do programa de necessidades que se destina à prática de esportes.

2

Localizado na porção norte do lote, conta apenas com o pavimento térreo e seu posicionamento atende à necessidade de conexão direta com a quadra poliesportiva (1) e a arquibancada (2), logo ao lado. Por estar situado frente à avenida, configura-se como uma barreira de segurança entre esta e a quadra, que será utilizada por grandes grupos de adolescentes ao longo do dia.

1

Ao adentrar o bloco por uma das duas caixas de concreto que configuram os acessos, dispostas uma frente à fachada principal para o acesso direto dos usuários e outra voltada à quadra para facilitar o fluxo para os vestiários após o treino, o usuário encontra à seu dispor duas salas para aulas de artes marciais (3), uma enfermaria (4), o depósito para equipamentos esportivos (5) e os vestiários (6).

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6

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N 0

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Figura 132 - Planta de pavimento (Térreo bloco A) Fonte: Elaborado pelo autor.

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ARQUITETURA E URBANISMO

BLOCO B

Abrigando a porção administrativa do complexo, o bloco B localiza-se no centro do lote, visando a facilidade de acesso do usuário e também dos funcionários aos espaços administrativos e à recepção, para obtenção de informações. É composto por dois pavimentos, sendo que parte do térreo é configurada por um grande vão livre (1) obtido a partir da suspensão do primeiro pavimento sob pilotis, afim de estabelecer ali uma área que funciona como extensão da praça interna e que possa ser utilizada para o convívio e eventualmente para alguma exposição/apresentação organizada pelos alunos; além de proporcionar a visão direta do transeunte para a praça, decisão tomada afim de estabelecer uma conexão entre o projeto e o meio urbano ao redor, convidando aqueles que caminham por ali a transitarem pelo espaço.

3

2

1

Sendo assim a estrutura do térreo, 90% envidraçada e recuada à 1,20m da face do primeiro pavimento para criar a ilusão de leveza do mesmo, recebe uma cafeteria (2) conectada ao vão livre e também a recepção (3), cuja escada e o elevador central dão acesso ao mezanino e ao primeiro pavimento. Neste, encontram-se um espaço de espera, (4) a secretaria (5) conectada à sala de arquivos (6), sala de monitoramento de câmeras do complexo (7), sala dos funcionários (8), diretoria (9), copa (10), banheiro (11) e área de serviço (12) bem como três salas para pequenas reuniões (13). Aqui, o eixo de circulação que foi implantado em todo o projeto dá acesso a passarelas (14) que se conectam ao segundo pavimento dos blocos C e D.

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N 0

Figura 133 - Planta de pavimento (Térreo bloco B) Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 134 - Planta de pavimento (Primeiro pav. bloco B) Fonte: Elaborado pelo autor.

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ARQUITETURA E URBANISMO

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Localizado na porção sudeste do lote, este bloco articula-se em 3 pavimentos dispostos em uma planta em “L”. A entrada principal dá acesso ao foyer (1) que, se observado para cima, abriga um grande vão vertical devido a presença dos mezaninos dos pavimentos superiores e a escadaria principal e o elevador de acesso. Logo à esquerda da entrada encontram-se as salas de dança (2), projetadas para compartilharem uma parede divisória no seu eixo central, elaborada através de um sistema de módulos pivotantes que deslizam sobre um trilho caso haja a necessidade de integrar os dois espaços para um ensaio de grupos maiores.

7

É também no térreo onde encontram-se os ateliês de pintura (3), de design e criação (4) e a maquetaria (5), bem como seus devidos depósitos (6), as salas multifunção (7) destinadas à prática de quaisquer atividades que necessitem de um espaço temporário para sua realização, e as salas de música (8) e os depósitos de instrumentos (9). Todos estes espaços dispostos de maneira a respeitar o eixo de circulação desejado, e cujo fechamento é feito por grandes esquadrias projetadas para aumentar a sensação de permeabilidade; com exceção das salas de música que são fechadas e revestidas por placas de espuma acústica. Outra escada e elevador encontram-se nas proximidades. É importante salientar aqui a presença do

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Figura 135 - Planta de pavimento (Térreo bloco C) Fonte: Elaborado pelo autor.

banheiro coletivo (10), elaborado de forma a não segregar o uso do espaço por gênero (masculino e feminino). Adotou-se neles a solução de isolar as peças sanitárias em cabines individuais e tornar coletiva a circulação interna, tornando o espaço

mais inclusivo e confortável para possíveis adolescentes não-cisgêneros (que não se identificam com seu gênero de nascença) que frequentam o complexo. Esta solução se repete por todo o projeto.

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O bloco C é considerado o coração do projeto, uma vez que nele encontram-se os ateliês destinados ao ensino de diferentes modalidades aos alunos, traduzindo em espaços a proposta de criação do complexo.

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BLOCO c


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No segundo pavimento, encontram-se os ateliês de desenho (11) , fotografia (12) e a câmara escura (13), de cerâmica (14), moda/costura (15), depósitos (16) e os ateliês de cozinha (17), maiores para abrigar pequenas equipes em cada bancada

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Figura 136 - Planta de pavimento (Primeiro pav. bloco C) Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 137 - Planta de pavimento (Segundo pav. bloco C) Fonte: Elaborado pelo autor.

de trabalho e equipado com os demais utensílios necessários para as aulas de culinária. O banheiro (18) foi posicionado no mesmo local e também neste pavimento é possível ter acesso as passarelas (19) que o interligam aos blocos B e D.

O terceiro pavimento é basicamente composto por um terraço jardim (20), e é nele onde encontram-se os ateliês de jardinagem (21), seu depósito (22), e o mezanino (23) onde chegam os usuários pela escada principal ou pelo elevador.

141


ARQUITETURA E URBANISMO

BLOCO D

O bloco D, por fim, abriga os espaços destinados a exposições e apresentações artísticas bem como aqueles voltados ao apoio dos estudos. Localizado na porção sudoeste do lote, o programa de necessidades do bloco também se dispõe em uma planta em “L” e suas funções estão segregadas por pavimento. No térreo encontra-se um amplo espaço livre denominado “hall de exposições” (1), destinado as exposições criadas pelos alunos com peças desenvolvidas nos ateliês (de fotografias, moda, pinturas e desenhos, peças cerâmicas ou mesmo mostras gastronômicas). As únicas estruturas presentes são duas lâminas pivotantes que se movimentam de forma a criar espacialidades conforme a necessidade da exposição em vigor, e também lâminas de vidro corrediças ao redor de todo o seu perímetro uma vez que o hall faz contato direto com a “casca” de tijolos vazados entre o interior e o exterior do edifício, havendo a necessidade de isolar o espaço vez ou outra de acordo com as intempéries. Mais ao fundo o foyer (2) que dá acesso ao auditório (3), a bilheteria (4) e o banheiro coletivo (5). O auditório possui capacidade para 438 pessoas sentadas além dos espaços destinados à cadeirantes e conta com a cabine de controle técnico (6), o almoxarifado geral (7), e ao fundo do palco um depósito para materiais específicos (8), três camarins (9) e seus banheiros (10). As saídas de emergência, posicionadas nos extremos laterais, dão acesso à praça principal pelo lado esquerdo e à uma rampa e uma escada que leva ao nível da rua pelo lado direito. O segundo pavimento começa com a recepção da biblioteca/working space (11), um espaço destinado

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N Figura 138 - Planta de pavimento (Térreo bloco D) Fonte: Elaborado pelo autor.

aos estudos com estações de trabalhos individuais e salas de reunião (12) para grupos. Aqui encontram-se também o espaço destinado ao acervo (13), e mais uma vez o perímetro é fechado pelas mesmas lâminas do hall de exposições, com a

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5

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15

mesma finalidade. Além disso, os usuários contam com a presença de uma pequena lanchonete (14), o banheiro coletivo (15), duas salas de aula teórica (16) e uma sala multimídia (17) no mesmo pavimento, além das passarelas (18) que o interligam aos blocos A e C.


ESCOLA PARQUE 3.0: ARQUITETURA COMO ALIADA DA EDUCAÇÃO

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N Figura 139 - Planta de pavimento (Segundo pav. bloco D) Fonte: Elaborado pelo autor.

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COBERTURA

A cobertura do projeto consiste em dois elementos distintos: o telhado dos blocos (1) e a as lâminas de concreto (2) que recobrem partes da área externa.

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O primeiro deles foi elaborado através de um sistema convencional de estrutura metálica treliçada que recebe placas de telha galvanizada termoacústica tipo sanduíche à uma inclinação de 10%, onde a captação da água pluvial acontece por calhas e tubos condutores, também galvanizados..

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Já a cobertura, estruturada em concreto protendido para vencer os grandes vãos desejados, se apoia sob pilares tipo cogumelo pairando sobre os blocos à uma pequena distância das platibandas, conferindo a sensação de leveza apesar de sua monumentalidade. Cabe ressaltar que a distância mínima entre o piso da praça e seu pé direito é de 10m, não comprometendo a sensação de amplitude do espaço. Seu posicionamento estratégico foi feito de maneira a compreender pontos de conexão entre o entorno e o interior do projeto. Na fachada principal sua função consiste em captar o olhar do indivíduo que passa pela avenida, já ao fundo funciona como um convite ao morador da vizinhança, trazendo-o para o interior da praça.

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Figura 140 - Planta de cobertura Fonte: Elaborado pelo autor.

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circulação

Para otimizar o deslocamento dos estudantes no interior do complexo, criou-se um eixo de circulação ao redor de todo o perímetro interno dos blocos (salvo algumas exceções), que consiste em um espaçamento de 2,5m entre a trama de tijolos que compõe as fachadas e os ambientes de ensino. Tal característica foi elaborada a partir da necessidade de garantir com que o grande número de usuários consiga se deslocar de uma sala a outra sem congestionar os espaços em determinados horários de pico, como a troca de turnos (matutino e vespertino) ou a troca de salas ao térmico de cada oficina. Dessa forma, além de cumprir sua função primordial, os amplos corredores também funcionam como locais de encontro ou mesmo de espera, cumprindo o papel de garantir maior permeabilidade visual e de circulação conforme definido pelo conceito do projeto.

Figura 141 - Eixo de circulação Fonte: Elaborado pelo autor.

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ARQUITETURA E URBANISMO

esquadrias

Dois tipos de esquadria foram desenvolvidos para serem aplicados ao longo do projeto, um deles nos acessos ao interior dos blocos e o outro como fechamendo dos ateliês. As esquadrias internas foram pensadas de forma a maximizar a entrada de luz natural no ambiente e a troca de ventilação, uma vez que os espaços encontram-se afastados da fachada pelo eixo de circulação perimetral. Também foi necessário usufruir da presença do vidro para acentuar a sensação de permeabilidade e estender o alcance de visão daqueles que estariam dentro dos ateliês para fora e vice-versa. Logo, o design obtido consta com o módulo dividido em três partes: embaixo um pano fixo, no centro duas lâminas de correr, e em cima pequenas venezianas para a exaustão do ar quente resultante da troca de ventilação. A medida dos módulos é constante em sua altura (3,5m de acordo com o pé direito do edifício), mas a largura se adapta ao vão de cada ambiente, que recebe vez ou outra uma porta de correr embutida entre as janelas. Já o acesso consiste em uma caixa de concreto com profundidades variáveis, que se sobressai do plano das paredes externas (cobogó de tijolinhos). Nessa caixa se apoiam portas pivontantes estruturadas por um pequeno perfil metálico e um grande pano de vidro. Cada folha mede 2,00x3,50m, e em determinados acessos a caixa recebe duas, três ou quatro delas.

Figura 142 - Esquadrias internas e portas de acesso Fonte: Elaborado pelo autor.

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paisagismo

O paisagismo foi elaborado de maneira à complementar a singularidade estética do complexo como um elemento escultural diposto em determinados pontos do projeto. Uma vez que a cobertura garante sombra à praça interna, as espécies escolhidas para compor os canteiros poderiam ser mais esbeltas. Foram elas a palmeira washingtonia e o guaimbê, que se adaptam às condições cimáticas do local. Essa espécie de palmeira, também conhecida como palmeira-de-saia é característica por possuir grandes folhas em formato de leque que, como diz o nome popular, se acumulam ao redor do tronco quando secam sem se desprender, tornando necessária a manutenção para o corte das folhas mortas. Este fator determinou sua escolha, uma vez que como o fluxo de jovens na praça é constante, outra espécie cujas folhas caem naturalmente possibilitaria o risco de algum acidente. Pode atingir até 10m de altura e 0,80m de diâmetro.

Palmeira Washingtonia (Washingtonia filifera)

Guaimbê (Philodendron bipinnatifidum)

Já o guaimbê, popularmente conhecido como banana-de-macaco ou banana-do-mato, compõe um maciço de folhas verde-escuras profundamente recortadas. De fácil manutentção, se adapta ao local de implantação seja ele muito ensolarado ou à meia-sombra, e sua rápida multiplicação favorece o preenchimento dos canteiros. Cabe ressaltar que é uma planta com capacidade de crescer escalando o tronco da palmeira, conferindo ao conjunto um caráter ainda mais escultural. Ambas as espécies são comumente utilizadas em jardins tropicais, e sua estética dialoga com a paleta de cores do projeto, onde predomina o cinza do concreto no piso da praça externa e o tom terroso dos tijolinhos à vista.

Piso drenante intertravado (0,50x0,50x0,075m)

Figura 143 - Paisagismo do projeto Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 144 - Fachada norte e estacionamento Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 145 - Parede de tijolinhos Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 146 - Acesso principal, meio à Av. Antônio Bolonha Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 147 - Esquina da Av. com a Rua Delta Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 148 - Fachada lateral direita Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 149 - “Blocos de estar” e rampa de acesso ao platô principal Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 150 - Bloco A e quadra poliesportiva Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 151 - Bloco B Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 152 - Recepção Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 153 - Cafeteria Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 154 - Cafeteria Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 155 - Bloco C Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 156 - Praรงa interna Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 157 - Praça interna Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 158 - Portal de acesso ao interior dos blocos Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 159 - Praça interna e bloco D ao fundo Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 160 - Palco de apresentações e bloco B ao fundo Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 161 - Praça interna e vão livre ao fundo Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 162 - Praรงa interna Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 163 - Rampa de conexão com o bairro residencial Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 164 - Eixo de conexรฃo entre o bairro e a praรงa Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 165 - Passarela de conexão entre os blocos C e D Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 166 - Passarela de conexĂŁo entre os blocos B e C Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 167 - Passarela de conexão entre os blocos B e D Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 168 - Terraço jardim e ateliês de jardinagem Fonte: Elaborado pelo autor.

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Figura 169 - Terraço jardim Fonte: Elaborado pelo autor.

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Acesso aos desenhos tĂŠcnicos e demais materiais para consulta: https://drive.google.com/drive/folders/1VA51Q9uPkra-Dx1BVuDU97puI6w-9TQO

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Após o processo de análise do contexto histórico do que se entende por sistema educacional e da constatação de que o campo da arquitetura e urbanismo oferece soluções para mitigar este problema, tomou-se um caminho afim de embasar a possibilidade de implementação de um projeto arquitetônico na cidade que fosse regido primordialmente por este viés educador. Todos os parâmetros necessários para iniciar o processo de concepção foram abordados, tais como as ponderações sobre projetos já existentes através dos estudos de caso realizados, a análise geral do município para determinar o melhor local de implantação, a composição do programa de necessidades elaborado com o intuito de oferecer espaços condizentes com a proposta, bem como a definição de diretrizes e parâmetros projetuais à serem respeitados. Baseado no conceito desenvolvido pelo educador Anísio Teixeira para as as Escolas Parque, o complexo projetado cumpre o propósito de estabelecer através da arquitetura uma solução viável como resposta à problemática levantada, traduzindo em espaços a ideia de complementar o ensino ofertado à população pelas escolas locais e mostrando-se necessário dada a realidade do município que não conta com nenhum equipamento urbano de finalidade semelhante.

Conclusão

A análise desenvolvida ao longo do trabalho objetivou evidenciar a importância da inserção de práticas de ensino não tradicionais no cotidiano do jovem estudante, estas dificilmente encontradas em escolas públicas brasileiras. Os resultados obtidos sobre o município quanto a esta questão evidenciaram a problemática abordada: a carência de espaços que fomentem o aprendizado na cidade de Vargem Grande do Sul e como isso implica para a melhor formação dos cidadãos, uma vez que o sistema educacional tradicional por si só não consegue responsabilizar-se por fazê-lo.

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