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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE S. MARTINHO Escola Básica de S. Martinho do Campo

Auto da Atualidade

GIL VICENTE: À maneira de …

Trabalho desenvolvido na disciplina de Português

Ano letivo 2014/2015

9º ano Turma D



Gil Vicente: À maneira de…

Nota introdutória:

Este trabalho foi desenvolvido com os alunos do 9º ano de escolaridade da turma D da Escola Básica de S. Martinho do Campo. Inspirados pelo estudo de «O Auto da Barca do Inferno» de Gil Vicente, os alunos aceitaram o desafio e deram asas à sua imaginação. Pretendeu-se recriar um julgamento à maneira de Gil Vicente. Que destino dar às personagens que se cruzam no nosso caminho?

A máxima latina “ridendo castigat mores” continua a desempenhar um papel determinante na nossa capacidade de lidar com o humor.

Escola Básica de S. Martinho do Campo

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Gil Vicente: À maneira de…

O Árbitro Chega um árbitro ao batel infernal, com um apito na mão direita e dois cartões na mão esquerda, um amarelo e outro vermelho. Arb. Ó da barca!!! Dia. Quem chega aí? Arb. Um árbitro leal e verdadeiro. Dia. Ai meu parente, com vens tão sorrateiro! Que trazes aí, meu amigo? Arb. Um apito e dois cartões. Que mais hei de eu levar comigo?! Diz-me: Para onde é a viagem? Dia. Para a terra dos enganados, e partimos já daqui a nada. Arb. Começo já a duvidar da tua bondade. Não creio numa só das tuas palavras. Dia.

Arb.

Dia.

Arb. Dia.

Arb.

Mas esta é a tua barca o inferno é o teu destino. Não sabias? Mil erros cometeste !!! Mas foi sempre o meu trabalho é muito difícil de ajuizar e é fácil de errar. Eu nada fiz por mal! Muitos erros cometeste porque tu próprio quiseste. Porque favoreceste clubes em troca de dinheiro, meu amigo? É que este trabalho é muito mal pago, não dá p’ra viver com este pequeno salário. Há pessoas a viver com muito menos. Entrai nesta barca, meu compadre, o teu destino cá te espera! Não, satanás. Agora vejo que outra barca ali está.

Vai até à barca do Anjo e diz: Arb. Ó da santa barca abençoada, Posso entrar nela? Anj. Não podes entrar aqui !!! Não há espaço para ti. Arb. Mas porquê, marinheiro abençoado? Anj. Nesta barca não entra quem rouba , nem quem comete pecados. Aquela ali é a tua barca. Arreda já daqui. Sai!! Torna à barca do diabo e diz: Arb. Ó barqueiro danado, se é este o meu destino vamos lá entrar então que estou bem aviado... António Ribeiro Escola Básica de S. Martinho do Campo

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Gil Vicente: À maneira de…

O Médico Vem um Médico com a sua bata branca e carregado de instrumentos. Chega ao batel infernal e diz: Méd. Ó da barca! Dia. Quem me chama? Méd. Sr. Doutor ao seu serviço. Dia. Já estava à vossa espera! Méd. E para onde vai isso? (apontando para a barca) Dia. Para um posto, por sinal bem castiço! Entrai, entrai que não seja por isso… Méd. Não entrarei aí! Dia. Porquê?! Esta é a tua barca Não escapas a este lugar! Méd. Não vou! Não mereço ir aí! Dia. Tu gozaste e abusaste Viveste como quiseste e agora Achas mesmo que não vens aqui?! Méd. Mas que mal fiz eu? Irei para esta barca! Dia. Voltarás aqui! Daqui não escaparás! O Médico, confiante, dirige-se à barca do Anjo Méd. Anjo Méd. Anjo

Méd.

Anjo

Amável criatura, Posso entrar na vossa barca? Essa, de onde acabaste de sair, É muito mais apropriada. Não percebo!? De que me acusais? Não existe nada para perceber, Onde está tudo esclarecido! Em vez de ajudares quem precisava, Só pensaste no que irias receber em troca. Não realizaste a vossa profissão Com dignidade e lealdade! É verdade que não ajudei muita gente, Porque sofria muito e não havia volta a dar! Mas também salvei gente! Não fizeste esforço algum ao ajudar A gente que mais precisava. Só beneficiaste aqueles que pouco tinham, por muito.

O Médico, sem dizer nada, dirige-se à barca do Diabo e pergunta: Méd. Dia.

Há lugar para mais um? Sempre!!! Nós cá nos entenderemos. Bruna Carmo

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Gil Vicente: À maneira de…

A Modelo Vem uma modelo com seu enorme espelho e alguma substância na mão. Mod. Que faço eu assi aqui? Dia. Eu quem? Quem vem lá? Mod. Não me conheceis? Uma modelo internacional, que não tem tempo a perder! Eu tenho de voltar imediatamente ao meu trabalho! Dia. A mim me parece que chegaste em boa hora! Uh uh uh! E que bom que finalmente vieste, entra agora pera a minha barca! Mod. Esta não é a barca do Inferno? Então, com certeza não serei tua passageira… Dia. Ai serás sim, e não te deixarei escapar, minha querida! Mod. Que argumento tendes contra mim?! Nenhum! Dia. Pera além de seres a mais fermosa passageira que por aqui passou? Por todos os vícios com que viveste em Terra, assi cá vos ireis contentar. Mod. De que vícios falais vós, Arrais do Inferno? Dia. Desejais uma lista? Todas aquelas vezes que precisaste de usar drogas para substituir a comida, e assim manter essa exagerada magreza. E quando ousaste ultrapassar tudo e todos pera atingir os teus fins… Ah, e não esquecendo a excêntrica vaidade que foi a única que sempre vos acompanhou! Mod. Mas foi graças ao que fiz que consegui chegar onde quis… Dia. Pena não ter sido de uma maneira honesta! A modelo sai da beira da barca do Inferno e dirige-se à barca do anjo, dizendo: Mod. Hou da barca! Levai-me no vosso batel! Anjo Estais enganada na barca, esta tem como destino o Paraíso. Mod. Isso eu sei, por isso aqui me dirigi, ó barqueiro! Anjo Não se embarca vaidade neste batel divinal, nem aqui caberia cousa de tamanho tal… Dia. Agora embarquemos pera o Inferno, que há já muito que te espero. Mod. Contra minha vontade vou… Dia. Não é esta hora pera satisfazer tuas vontades. Sem mais demoras! Ponde aqui o pé e partiremos! Mod. Que se cumpra então esta sentença…

Mariana Matos Escola Básica de S. Martinho do Campo

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Gil Vicente: À maneira de…

O Político Vem um político com o seu fato novo, ainda com um cheque no bolso e chega ao batel infernal e diz: Político - Ó da barca? Diabo - Quem vem aí? Político - Santo político honrado. Para onde é a viagem? Diabo – P’ra a terra dos condenados! Político – À terra dos condenados? Diabo - Sim, para onde querias ir depois de tudo o que fizeste? Político - Onde é que eu errei? Eu fiz tudo correto perante as leis dos homens! Diabo - Ora pensa nas tuas ações! Político - E não fiz? Diabo - Depois de todas as pessoas que roubaste? Depois de teres dado ordens e leis inúteis? Depois de teres prometido coisas e não cumprires? Tu devias ter vergonha na cara! Politico - Realizei tantos feitos nobres, edifícios, inaugurações… Diabo - Apenas coisas que não ajudam as pessoas. E tudo o que ficou por fazer com a saúde dos portugueses, a educação? Tudo o que lhes foi tirado ao longo dos tempos. E as tuas contas bancárias? Político - Mas depois de tudo o que eu fiz continuo a pensar que deveria ir para o céu, não achas? Diabo - Não! Ao avistar a barca do Anjo, o Político dirige-se para lá e pergunta: Político - Ó barqueiro, para onde vai a vossa barca? Anjo - Para o paraíso! Político - Viagem para o céu?! É o meu destino! Anjo - Vossa excelência nunca irá entrar nesta barca! Não há aqui espaço para tanto mal. Depois desta cena o Político, desanimado e convencido do seu futuro, acaba por entrar na barca do inferno. Político – Agasalha-me, Satanás, aí nessa barca ardente! Cristiano Morais Escola Básica de S. Martinho do Campo

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Gil Vicente: À maneira de…

O Infiel Vem um homem infiel carregado com corações de papel chegando ao batel do inferno diz: Infiel - Hou da barca! Hou da barca! Diabo - Quem vem lá? Infiel - O charmoso e honrado infiel. Diabo - Hi hi hi hi hi hi hi ridículo! Porque vens tão carregado? Infiel - Para me recordar de todas as minhas mulheres, as que já foram e as outras que por mim ficaram a chorar. E pera onde é a viagem? Diabo - Para aquele lago quente! Infiel - Em tal barca eu não entro. Estoutra tem avantagem! Dirige-se à barca do Anjo e diz: Infiel - Hou da barca? Oulá, Hou… Anjo - Que quereis? Infiel - Na tua barca partir! Anjo - Pois estou eu muito fora de te deixar nela ir. Infiel - Porquê? Anjo - Todo o mal que haveis feito no outro mundo não te dá direito para tal. Infiel - Não fiz mal nenhum, dei muito amor e honrei sempre Cristo! Anjo - Só soubeste trair as mulheres. De que te serve dar amor se não dás apenas a uma? Só as magoaste e gabavas-te de tal proeza. Essa honra nunca foi verdadeira. Essoutra te levará! Torna o Infiel à barca do Diabo. Diabo - Voltaste, pecador? Infiel – Aquele barqueiro não percebe todo o bem que fiz no outro mundo. Sou um homem bom e honrado condenado ao inferno… Diabo - Entra, entra, não percamos mais maré, Irás servir Satanás que sempre te ajudou. A tua barca é aqui, convencido. Quem não é digno de uma só mulher só tem um destino. Este! Infiel - Ó triste quem me cegou? Diabo - Cal’-te que cá chorarás. Diana Martins Escola Básica de S. Martinho do Campo

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Gil Vicente: À maneira de…

O Ministro Vem um ministro com a sua pasta e os seus óculos quase na ponta do nariz e diz: Ministro - Hou da barca! Diabo - Quem vem i? Ministro - Eu sou o Ministro, para onde vai esta barca? Diabo Pera o paraíso infernal. Ministro - Paraíso infernal? Diabo Sim entrai aqui, que esta é a vossa barca. Ministro - Para aí não hei de eu entrar, em vida fui muito honesto. Diabo Honesto tu? Hi hi hi hi hi hi hi!... Embarcai prestes, segundo lá escolheste, assi cá vos contentai. Ministro - Aí não hei de eu entrar. Vai à barca do Anjo e diz: Ministro Anjo Ministro Anjo -

Podeis-me dizer para onde vai esta barca? E onde queres tu ir? Para o paraíso, é claro. Pois can´t eu mui fora estou de te levar pera lá! Essoutra te levará. Ministro - Mas porque não? Para a outra barca não vou, Em vida não cometi pecados, ia à igreja, não matei nem roubei! Anjo Sim à igreja foste, mas isso não justifica as mentiras que contaste, o dinheiro que roubaste às pessoas que necessitavam dele e tu que sempre viveste a teu prazer. Ministro - Mas tudo isso tinha uma causa. Anjo A mim tu não consegues enganar, e aqui não hás de entrar. Ministro - Mas é por causa de dinheiro? Se for isso, o problema está resolvido, Eu pago o que for preciso. Anjo Não quero dinheiro nenhum, E podes voltar para a barca de quem sempre te ajudou. Torna o Ministro à barca do inferno e diz: Ministro Diabo Ministro Diabo -

Oh barqueiro! Sempre voltaste? Não de livre vontade. Entrai, entrai, não percamos mais maré! Aqui me irás servir!...

Filipa Sousa Escola Básica de S. Martinho do Campo

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Gil Vicente: À maneira de…

O Agressor Com um ar desorientado aproxima-se do batel infernal um homem corpulento e com as mãos ensanguentadas. Agressor: Hou da barca! Diabo: Quem me chama? Ag.: Bom homem, com certeza! Diabo: E perfeito, já agora!… Ag.: Trabalhador e honesto, sim senhor. Diabo: Trabalhador? Chamais a isso trabalho? Ag.: Isso? A que se refere? Diabo: Para além de mentiroso é lento! Ag.: Já lhe disse que sou apenas um homem trabalhador e honesto. Diabo: Oh homem!! Para estas bandas bater em mulheres ainda não é trabalho… Não me diga que também é surdo? E esses cortes nas mãos … ? Ag.: Muito trabalho… algo a que não deve estar habituado! Foi um acidente… Diabo: Para a sua mulher foi um feliz acidente! Pudera… tudo o que lhe deu, foram uns valentes açoites! Ag.: E foram poucos! Diabo: Poucos? Todos os dias a pobre mulher chorava sem parar… Ag.: Vou à barca vizinha, que lá serei melhor recebido! Diabo: Ide, ide que nesta barca o seu lugar está reservado. Vai- se à barca do Anjo e diz: Ag.: Anjo: Ag.: Anjo: Ag.: Anjo:

Hou da barca? Que quereis? Um lugar nesta comarca. Receio que nesta barca não haja lugar para ti. Não há? Como assim? Está vazia… Não há lugar para pessoas com tais comportamentos agressivos

Maltrataste a tua esposa! Ag.: Mas ela mereceu! Anjo: Não tendes o direito de embarcar nesta magnífica barca! Diabo: Vinde a mim… pois não tendes outro remédio… Ag.: Ai aquela desgraçada, se eu a volto a apanhar! (enquanto é puxado pelo diabo) Diabo: Não praguejeis mais, já que gostais tanto de trabalhar, remai e sigamos viagem!

Joana Azevedo

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Gil Vicente: À maneira de…

O Médico Vem um médico, com a sua bata e o estetoscópio ao pescoço, e diz: Med.

Ó da barca! Para onde caminhais?

Dia. Med. Dia.

Para o inferno te levarei! Não caminharei contigo. É o que vamos ver... Hi! Hi! Hi! Do mal que fizeste na vida, Chegas aqui e achas que vais para o céu? Med. Eu não fiz mal nenhum na vida. Dia. Tu pertences a esta barca, como outras pessoas pertencem. Med. Irei para esta barca além. O médico determinado dirige-se para a barca do paraíso. Med.

Hou barqueiro, Poderás levar-me nesta santa caravela? Anjo A outra barca que lá está Leva quem vê gente inocente A sofrer à sua frente, sem piedade. Med. Sim, é verdade que fiz mal a algumas pessoas... Anjo A muitas, queres tu dizer! Med. Mas eu já ajudei gente. Anjo Med. Anjo

Ajudaste aquelas que menos precisavam. Foste ganancioso. Ajudei da melhor maneira. Por fazeres tanto mal não entrarás aqui, Vai embora!

O médico caminha até ao batel infernal. Med. Dia.

Oh da barca! Afinal, terei de embarcar aí. Entrai aqui, companheiro Que há lugar reservado para ti!

Catarina Araújo

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Gil Vicente: À maneira de…

O Famoso Aproxima-se um famoso, todo estiloso, com as suas roupas folclóricas, chega ao batel infernal e diz: Fam. Oh da barca! Dia. Quem és tu?! Não te conheço! Fam. Não me conheces? Bem me pareceu que és meio antiquado e que não estás a par das novidades! Dia. Fam.

Dia.

Para que tu saibas, também tenho uma novidade para ti. Tu, como um famoso esplêndido, vais para o meu Paraíso! Quem disse que eu vou para onde tu queres, para essa pocilga? Não deves estar bem da cabecinha! Eu cá sou santo, E não vou para onde tu queres que eu vá. Tu és tão santo? Que tens nesse teu saco?

Houve um momento de silêncio, entretanto o Famoso dirige-se para a barca do Anjo e chama: Fam. Oh da barca! Anj. Que quereis? Fam. Eh lá, que flor mais formosa e cheirosa! Anj. Não digais tontices, Pois eu não vou com essas tagarelices. Fam. Verdade eu estou a dizer, Isso é coisa rara de se ver. Anj. Não te canses, não vale a pena. Fam. Oh, já estou a ver que tu és difícil. Adeus! Anj. Adeus! O famoso zangado e revoltado vai para perto da barca infernal e diz: Fam. Dia.

Vamos lá então, Que eu já estou farto de levar com sermão. Entra lá para dentro Que eu depois trato de ti. O famoso entra na barca com muita e pressa e o diabo começa-se a rir. José Luís

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Gil Vicente: À maneira de…

O Presidente Chega um presidente de um clube de futebol ao batel infernal carregadinho de dinheiro e diz: Pres: Oh da barca! Dia: Quem chegou? Pres: Presidente leal e fiel. Dia: Isso logo veremos. Pres: Para onde é a viagem? Dia: Para o inferno, entra, entra! Pres: E para homens leais e fieis onde há passagem? Dia: Mas a tua barca é esta, embarca já há muito que te espero. Pres: Mas que fiz eu? Dia: Muitos árbitros compraste e por isso muitos jogos ganhaste mas agora por tudo isso vais pagar! Pres: Mas eu não comprei ninguém. Dia: Entra! Não me faças perder mais tempo. Pres: Não existe aqui outra barca? Dirige-se à barca do Anjo, e diz: Pres: Oh da barca, posso entrar nesta linda caravela? Anjo: Cá não aceitamos ladrões, a ti só te dou uma coisa, um cartão vermelho! Pres: Mas eu nada fiz. Anjo: Essa barca ao teu lado essa sim é a indicada para ti! De volta ao batel infernal. Dia:

Sempre voltaste a onde pertences entra e não demores! Luís Carlos

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Gil Vicente: À maneira de…

Polícia Vem um polícia chegando ao arrais do inferno com uma arma e um cassetete e com a sua farda e diz: Polícia: Hou da barca! Diabo: Quem vem lá? Polícia: Sou eu! Diabo: Eu quem? Polícia: um homem muito corajoso que morreu a proteger os outros. Diabo: Ah! Já sei quem és tu, és aquele polícia tanto falado pelo povo! Já estava à tua espera há muito tempo. Polícia: Esse mesmo! E esta barca vai para onde? Diabo: Para o inferno! Entra! Aqui podes vigiar as pessoas de outra maneira Polícia: Ahahah , eu não entro aí nessa barca , e de que outra maneira posso vigiar as pessoas? Diabo: Dentro da barca te digo. Entra! Polícia: Não! Eu não cometi pecados, protegi aqueles que precisavam de ajuda, resolvi casos de morte, prendi os ladrões, multei pessoas que tinham excesso de álcool, prendi agressores de violência doméstica, fui para manifestações vigiar as pessoas para ninguém cometer nenhuma loucura nem haver tiroteios entre a multidão… e vou para o inferno? você enganou-se na pessoa! Diabo: Senhor polícia pode estar calado e não me faça rir! Entre. Polícia: Aqui não há outra barca a não ser esta? Olha à sua volta, vê outra barca e dirige-se a ela. Polícia: Oh da barca! Para onde vai este batel lindíssimo? Anjo: Para o paraíso! Polícia: Posso entrar? Anjo: Sim podes, tu nunca fizeste mal a ninguém, só fizeste o teu trabalho.

Margarida Peixoto

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Gil Vicente: À maneira de …

O ciclista Vem um ciclista com o seu fato, os seus troféus, as suas medalhas e a sua bicicleta e chegando ao batel infernal diz: Ciclista: Ó da barca! Hou! Diabo: Que quereis? Como vens tão carregado? Ciclista: Mandaram-me vir assim. E para onde é a viagem? Diabo: Vai para a Ilha Perdida e há-de partir sem demora e tu embarcarás nela. Ciclista: Não me parece! Diabo: Então e porquê? Ciclista: Fiz tanta coisa boa por este mundo fora, ganhei imensas medalhas e troféus, fiz tantos dos meus fãs felizes e hei de ir para o Inferno? Para além disso deixo lá na Terra quem reze sempre por mim. Diabo: Mas tu esqueceste-te que isso tudo que tu fizeste era mentira? Que tomaste substâncias ilícitas e foste acusado de doping? Que todos esses troféus e medalhas é tudo mentira. Salta para aqui porque para além desse todo teu egoísmo ainda tens a lata de vir a este arrais com troféus e medalhas de plástico ver se enganas mais alguém? Ciclista: Eu não o fiz por mal, isto está-me no sangue, não consigo viver sem isto, apesar de ser falso. Diabo: Oh, até fiquei emocionado! Mentir é mentir e não há volta a dar! Salta para aqui que já estás a demorar muito! Ciclista: Jamais! A outra barca me vou!

Ciclista: Esse mesmo! Anjo: Sim, a barca é esta mas não pensais em embarcar! Ciclista: Ma… ma… mas porquê? Anjo: Porquê? Porque enganaste milhões de pessoas e isso não tem perdão. Para além disso nunca admitirias os teus pecados se ninguém descobrisse e morrerias santo e herói. E mesmo assim ainda vens com uma bicicleta, o teu “prestigioso” fato, as tuas medalhas e troféus falsos. Mesmo assim aqui quereis embarcar? Jamais! porque não se embarca mentira e egoísmo neste batel divinal. Não vindes vós de maneira para entrar neste navio. Aqueloutro vai mais vazio: a bicicleta entrará, as medalhas e os troféus também, assim como os vossos pecados. Vós ireis mais espaçoso e mais confortável. De volta ao batel infernal mas desta vez muito triste: Diabo: Senhor, à barca, à barca! Ciclista: Mas eu pertenço ao Inferno? Diabo: Embarque, vossa doçura, que cá nos entenderemos … Tomareis um par de remos, verei como remarás e, chegando ao nosso cais, todos bem vos serviremos. Ciclista: Tem mesmo que ser? Diabo: Tem sim. MUAHAHAHAHAH! Ciclista: Vamos lá, já chega de sofrimento!

A chegar ao batel do Paraíso diz: Ciclista: Hou da barca! Hou! Para onde is? Anjo: Que quereis? Ciclista: Que me digais se esta barca que navegais é aquela cujo destino é divino. Anjo: Referis-vos ao Paraíso?

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Miguel Leite Neto

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Ministro Vem o ministro com o seu fatinho preto, chega ao batel infernal e diz: Min.: Hou da barca! Dia.: Quem vem aí? Min.: Um grande ministro poderoso!!! Dia.: Ai sim?! E para onde vai assim nesses propósitos? Min.: Sou um grande ministro!!! Tenho de andar vestido de acordo com a minha posição. Mas para onde é a viagem ? Dia.: Para a ilha dos corruptos!!! Min.: Mas… Mas eu não sou corrupto. Exijo saber onde fica a passagem dos grandes ministros! Dia.: Grandes?! Aahahahah! Só se for em altura, porque de resto não és grande em nada!!! Min.: Sou grande sim! Fiz grandes coisas pelo país, por isso sou um grande ministro. Dia.: De verdade? Então conta-me os teus grandes feitos. Min.: Ora, ora, ora… Sempre olhei com pena para os pobres com fome que pediam na rua. Dia.: E ajudá-los? Ajudaste? Min.: Bom, sabe que uma pessoa do meu nível não pode ser visto com essa gente. Dia.: Compreendo, compreendo tamanha generosidade! (tom de ironia) Min.: Mas calma, eu também sempre contribui para a igreja Católica. Muitas vezes convidei o senhor Bispo a participar em grandes banquetes, na minha casa. Dia.: Mas alguma vez deste dinheiro para as instituições de caridade da igreja? Min.: Não, isso não. Uma pessoa do meu nível tem mais em que pensar. Dia.: E esses jantares e festas quem pagava? Min.: Os cofres do país, claro! Uma pessoa do meu nível não pode gastar o seu próprio dinheiro em favor do estado. Dia.: Pois bem. E, por último, antes, decidir a tua sentença que mais tens a dizer a teu favor? Min.: Bom, convém referir que fiz de tudo para que o hospital de Lisboa fosse criado. Assim, os médicos podem tratar-me a mim e aos meus amigos de alta sociedade sem termos de nos misturar com gente pobre! Dia.: Mas os pobres também são tratados por médicos? Min.: Não, claro que não. Eles que se tratem a eles próprios! Dia.: Estou a entender… Bem, assim sendo, penso que está decidida a tua sentença! Min.: Bom, também me parece... A passagem dos corruptos não cabe em tão boa pessoa como eu! Dia.: Concordo contigo. A tua passagem tem de ser muito, muito pior! (tom de malvadez) O excelentíssimo ministro vai tomar um par de remos e partir imediatamente para a ilha do inferno! De onde nunca mais irá sair!!!! Min.: NÃÃÃÃÃO! (desespero)

Francisco Moreira Escola Básica de S. Martinho do Campo

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O Polícia Entra em cena um polícia com algemas e a sua arma no coldre Diabo- Então colega, já cá chegaste!? Polícia- Já, até fiquei surpreendido. Para onde vai esta barca? Diabo- Para o porto de Lúcifer. Polícia- Onde? Diabo - Para o inferno! Polícia Eu!? Para aí nunca!? Não vê que sou polícia? O justiceiro do povo. Diabo -O justiceiro do povo? Esse era o teu dever. Polícia - Que quer dizer com isso? Diabo - Que não foste uma pessoa correta. Polícia - Com que então, que eu fiz para merecer entrar neste batel infernal? Diabo - Não sabes!? Prendeste pessoas injustamente, destruíste vidas e mataste inocentes. Para quê colega?! Por dinheiro?!

Polícia - Eu jamais faria isso. Vou visitar o outro batel que esse me poderá agradar.

Vai lentamente até ao batel do Anjo

Polícia - Ó da barca Para onde vais? Anjo - Para o paraíso. Polícia - Leve-me consigo. Anjo - Porquê? Polícia - Durante toda a minha vida nunca faltei a uma eucaristia Anjo - Tão grandes são os teus pecados que de pouco isso te vale. Polícia - Mas…

Anjo - (cortando a fala do polícia) Escusas de mais falar que nunca aqui vais entrar. Polícia - Julgo que mais vale aceitar o meu destino do que o tentar evitar em vão. Diabo, vamos! Não vale a pena perder mais maré!

Pedro Gomes

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O Jornalista Entra um jornalista com um microfone na mão, e a gritar “ Je suis Charlie ”. Chega ao batel infernal, e diz: Jornalista: Ó da barca! Diabo: Ora se não é o caríssimo jornalista, o que vos traz por cá? Jornalista: Parece que chegou a minha hora. Diabo: Entra, caro amigo, vieste parar ao sítio certo! Jornalista: E para onde me levais? Diabo: Para a beira dos teus colegas, para o lugar dos desrespeitadores. Jornalista: Desrespeitadores? Como será isso possível? Diabo: Possível porque abusar da liberdade de expressão, também tem custos. Jornalista: E como pode ser um custo tão drástico, para uma pessoa que simplesmente fez o seu trabalho? Diabo: Trabalho não é gozar com outra religião. Jornalista: Recuso-me a tal decisão! Dirige-se para a barca do Anjo, e diz: Jornalista: Meu caro Anjo, aceitas-me nessa tua santa caravela? Anjo: Como poderei aceitar tal coisa? Jornalista: Porque sou um bom cristão! morri como um mártir. Anjo: Mas isso não te dá o direito, de gozar com outras religiões! Podes sair, pois aqui não entrarás! Jornalista: Pensei que fosses mais compreensível. Volta para o batel infernal, e diz: Jornalista: Ó da barca, venha a prancha, pois não tenho mais nenhuma opção. Diabo: Ora serás muito bem tratado. pega num remo, pois vais remar!...

Sandro Silva

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O Médico Vem um médico de bata branca chegando ao porto onde estão as barcas ancoradas aproxima-se da primeira barca e pergunta: Médico: Oh barqueiro, para onde vai esta barca? Diabo: Para o inferno, onde pensais que irias? Médico: Eh pá, eu quero ir para o paraíso, é claro! Diabo: Muahahahah seu tolo, estais enganado, ireis para o inferno. Médico: Para o inferno não irei eu! E tolo? Sois vós e quem vos fez o rabo! E o Diabo continua a rir. Entretanto o médico vira-se para a outra barca: Médico: Oh barqueiro, para onde ides? Anjo: Para o paraíso onde não há lugar para vós. Médico: Mas eu salvei várias vidas. Anjo: E contra esse bem profanaste os corpos de pessoas já mortas. Médico: Mas foi para salvar vivas, é claro. Anjo: Para o teu próprio benefício no contrabando de órgãos. Então o médico desiludido vira-se para a barca do Diabo: Médico: Contigo seu tolo, cara de rabo, terei eu de viajar. Diabo: Sois bem-vindo remai para o inferno onde será o vosso lugar e lá vereis com que cara ides ficar!

Juliana Pimenta

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Gil Vicente: À maneira de …

O Jogador Vem um Jogador, carregado com as suas medalhas e troféus, chegando ao batel, dizendo: Jogador: Oulá da barca, oulá! Diabo: Que quereis? Jogador: Para onde vai o batel? Diabo: Ora, entra, entra aqui! Para o Inferno hás-de ir! Jogador: Porque irei eu para tal lugar? Em tal barca não vou! Diabo: Por todas as injúrias que cometeste! Jogador: Nunca prejudiquei ninguém para meu benefício! A que te referes tu? Diabo: Refiro-me ao uso de substâncias ilícitas no desporto e a toda a ganância no teu mundo profissional! Jogador: E todas as pessoas que ajudei ao doar dinheiro para instituições de caridade? Diabo: Isso não se compara ao mal que fizeste. O teu destino está traçado! Vira-se para a barca do Anjo, dizendo: Jogador: Peço clemência pelo bem que fiz à sociedade, não há possibilidade de entrar em tal barca? Anjo: Tiveste sucesso à custa da corrupção e de más práticas, o teu destino está selado! Torna-se para a barca infernal, e diz: Jogador: Não há nada que possa fazer para contrariar o meu destino? Diabo: Não, vem comigo cumprir a tua sentença!

Sara Pereira

Escola Básica de S. Martinho do Campo

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Gil Vicente: À maneira de …

O projeto apresentado resultou de uma proposta de trabalho feita aos alunos do 9º ano, da turma D, da Escola Básica de S. Martinho do Campo, no ano letivo de 2014/2015.

Os textos divulgados resultaram de uma proposta de escrita criativa, segundo um modelo, e do estudo de «O Auto da Barca do Inferno», do dramaturgo do século XVI, Gil Vicente, sob orientação da professora da disciplina de Português, Ermelinda Coroas da Silva.

Escola Básica de S. Martinho do Campo

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