Revista canto

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Editorial

A revista Canto é uma publicação semestral sobre o Parque do Catalão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Embora a UFRJ mantenha uma reserva de mata atlântica na Ilha da Cidade Universitária, poucos sabem deste fato. Sendo assim, o objetivo da nossa publicação é fazer parte de um conjunto de estratégias de comunicação visual para a divulgação deste espaço, constituindo um veículo de apresentação dos diversos projetos que são realizados na Universidade. A revista é editada em parceria com o Horto Universitário, setor responsável pela administração e manutenção da reserva do Catalão, e busca o reconhecimento e valorização desta área por toda a comunidade, assim como pelas empresas implantadas no Campus, e por seus funcionários. O nome da revista “Canto”, elaborado de modo coletivo pelas turmas de projeto de Comunicação Visual, remete à questão territorial do Parque, explora a sonoridade da palavra, que se aproxima de modo sutil ao próprio nome Catalão e, ainda, apresenta a riqueza de fauna e flora presente no local, percebida pelas diversas espécies de pássaros que frequentam o Parque. Sendo assim, Canto representa o silêncio do acolhimento, da tranquilidade deste espaço, e os sons do Catalão. Bem-vindo ao nosso Canto e boa leitura! Julie Pires


Expediente

fotografia Alfredo Heleno Oliveira, Nomes de outros | ilustração Nathalia Moraes, Erica Huebra | tratamento de imagem colaboradores deste número

Erica Huebra e Ronieri Gomes | revisão

Julie Pires |

Angela Iaffe, Jofre Silva, Leticia de Luna Freire e outros |

impressão Gráfica Definir | tiragem 1.000 exemplares | contato revistacanto@ufrj.br

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Reitor | Carlos Antônio Levi da Con-

ceição Vice-Reitor | Antônio José Ledo Alves da Cunha

Decana do Centro de Letras e

Artes | Flora De Paoli Faria Vice-Decana do Centro de Letras e Artes | Cristina Tranjan Diretor da Escola de Belas Artes | Carlos Gonçalves Terra Belas Artes | Helenise Monteiro Guimarães Almeida Raphael

Vice-Diretora da Escola de

Diretor Adjunto de Graduação | Dalton

Diretor Adjunto de Pós-Graduação | Marize Malta Teixeira

Adjunto de Cultura | Antonio de Souza Pinto Guedes

Diretor


Histórico da reserva

Inventário de espécies

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Descubra a reserva dentro da Cidade Universitária.

Conheça espécies que você nunca esperava encontrar no Campus.

6 Artigo 14 Botânica Saiba mais sobre a Fulana de tal e seu campo de estudo.

18 A biodiversidade do Catalão

Saiba mais sobre o Fulano de tal e seu campo de estudo.

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Sumário

Música no Catalão

2014.1| 48 págs

Importância do Horto

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Entenda como o Horto é essencial para a reserva.

Mapa e trilha

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Programação de visitas guiadas Descubra onde fica e como chegar ao Catalão.

Veja como o projeto obtém música da natureza.

Artes 28 visuais no Catalão Ensaio Fotográfico Seleção de fotografias feitas na reserva.

O corredor ecológico Descubra mais espaços preservados.

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A Cidade Universitária da UFRJ foi formada, no fim dos anos 1940, pela união de 8 ilhas. No processo de construção da Cidade Universitária foram utilizados grandes tratores chamados “bulldozers” que cortavam o relevo e jogavam o material retirado entre as ilhas, aterrando e unindo elas. O resultado foi uma grande área plana, porém, na época, com aparência de um deserto.

Viagem ao passado

O Catalão foi unido a partir de 1953, mas preservado com seu relevo e mata. Fonte: Arquivo da Prefeitura Universitária da UFRJ.


Em 1944, por sugestão do engenheiro Alberto de Melo Flôres, diretor de Obras do Ministério da Aeronáutica, foi considerada a possibilidade de locação para a Cidade Universitária em uma área a ser constituída pela unificação de seis ilhas pertencentes à União (Bom Jesus, Sapucaia, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Pinheiro e Fundão, com exceção da sua parte alodial), situadas entre a Ponta do Caju e a Ilha do Governador, em frente a Manguinhos. Havendo necessidade, a área poderia ainda ser expandida com a inclusão das outras três ilhas circunvizinhas (Baiacu, Cabras e Catalão) que compunham o arquipélago.

Surgia, pela primeira vez, a ideia de se criar uma Ilha Universitária

O Catalão foi unido a partir de 1953, mas preservado com seu relevo e mata. Fonte: Arquivo da Prefeitura Universitária da UFRJ.

Existia, até então, a indicação de outras localidades, mas, dentre as propostas apresentadas, surgia, pela primeira vez, a ideia de se criar uma Ilha Universitária. A “felicidade da indicação” (Barbosa, 1945), em comparação às outras áreas cogitadas, foi confirmada pela opinião dos diversos especialistas, autoridades, professores, urbanistas, arquitetos e engenheiros consultados pelo ETUB (Escritório Té cnico da Universidade do Brasil), Hildebrando de Araújo Góis, Raul Leitão da Cunha (Reitor da UB), General Eurico Gaspar Dutra (Ministro da Guerra), Gustavo Capanema (Ministro da Educação), Henrique Dodsworth (Prefeito do Distrito Federal) e Ana Amélia Carneiro de Mendonça (Presidente da Casa do Estudante). Documentos produzidos pelo ETUB sobre a localização da Cidade Universitária expuseram as avaliações feitas segundo “critérios de máximo rigor e imparcialidade”, sugeridos pelo engenheiro Paulo de Assis Ribeiro, examinando fatores como distâncias, acessibilidade, custos de aquisição, despesas de preparo do terreno e de construção, custos financeiros e sociais decorrentes de desapropriações, demolições de benfeitorias, valorização do patrimônio, etc. Canto | pág. 8


Após transitar por todas as esferas envolvidas, direta e indiretamente, com a localização da Cidade Universitária, o diretor do DASP, Luiz Simões Lopes, apresentou, na Exposição de Motivos nº 936, de 14/05/45, os fundamentos que iriam embasar a escolha final pelo arquipélago. (ETUB, 1954, Barbosa, 1945, Oliveira, 2005):

A proximidade da área ao centro de gravidade da população estudantil, garantindo, ao mesmo tempo, um relativo isolamento; A construção de um hospital em área vizinha a bairros operários proporcionaria a ocorrência de uma variedade de casos típicos para estudo, devido à vasta clientela que se destinaria aos seus ambulatórios e clínicas; As condições climáticas da área favoreceriam a prática de esportes; A existência de pedra, areia e saibro na área e a possibilidade de receber, por via marítima, ferro e cimento, facilitariam as obras do aterro; A constituição geológica das ilhas de Bom Jesus, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Fundão, Pinheiro e Sapucaia (exceto uma parte) propiciariam um terreno firme de 3.720.000m²; Por fim, a possibilidade de expansão do terreno, em caso de necessidade, com a inclusão das ilhas de Baiacu, Cabras e Catalão, resultando em área superior a 5.000.000m².

Assim como as demais localidades analisadas, o arquipélago também apresentava alguns inconvenientes, porém, considerados menos graves: o ruído de aviões decorrente da proximidade da Base Aérea do Galeão e do Aeroclube de Manguinhos, e a proximidade de corporações militares, o que, em situações de rivalidades e conflitos, poderia amplificar os choques entre soldados e praças. Ao apoiarem a proposta, o Ministro da Guerra e o Ministro da Aeronáutica colocaram, respectivamente, duas restrições para a construção da Cidade Universitária no local: a conservação do Asilo dos Inválidos da Pátria, na extremidade nordeste da Ilha de Bom Jesus, e o não atraso na construção da ponte que ligaria a Ilha do Fundão ao continente. Restrições que não chegaram a se tornar obstáculos que invalidassem a proposta, uma vez que não havia interesse imediato de apropriação do prédio do Asilo pela universidade, sendo sua presença inCanto | pág. 9

clusive desejável do ponto de vista social, cultural e artístico, e que a construção da referida ponte, à época iniciada pelo Ministério da Aeronáutica, já tinha sua ampliação prevista no projeto da Cidade Universitária (Oliveira, 2005). Dessa forma, o presidente Getúlio Vargas respondeu favoravelmente à Exposição de Motivos encaminhada pelo diretor do DASP, assinando o Decreto-lei nº 7.536, dispondo sobre a localização definitiva da Cidade Universitária da Universidade do Brasil. Apesar da aprovação oficial, logo foram manifestadas algumas dúvidas, críticas e especulações em diversos jornais da época sobre o projeto, devendo aqui mencionarmos o cuidado de Luiz Hildebrando Horta Barbosa (1946) em examinar e responder a todas elas, com vistas a “formar uma opinião mais justa e exata a respeito desse problema fundamental”. Havia ainda nos jornais a opinião que qualificava


de “absurda” a construção de uma universidade em ilhas, haja vista o excesso de áreas livres na cidade. A esse respeito, ponderava-se que as maiores áreas disponíveis situavam-se em bairros como Bangu, Campo Grande e Recreio dos Bandeirantes e que, por esse motivo, não atendiam à exigência imprescindível de que a Cidade Universitária fosse “urbana”, construída em “um grande terreno em zona a mais central possível, de fácil e rápido acesso”.

A criação de um Parque na Ilha do Fundão já havia sido cogitada no programa inicial de trabalho de junção das ilhas para a Cidade Universitária, para sua arborização. Em setembro de 1996, foi liberada uma verba especial, pelo Governo Federal, para a realização de obras de melhoria da infra-estrutura da Ilha do Fundão, prevendo-se uma possível realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2004. Desta verba foi destinada uma parte para implantar o Parque no Catalão. O nome oficial de registro desta área é Parque da Mata Atlântica da UFRJ (Boletim da UFRJ portaria Nº 44, de 06 de janeiro de 2000), mas também é chamado Parque Frei Vellozo, em homenagem a Frei José Mariano da Conceição Vellozo, que foi um importante botânico brasileiro do século XVIII, ou Parque do Catalão.

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Curiosidade

CATALÃO - Corrupção de quâatã-ã. De quâ, “ponta”; atã, “têsa, ereta”, a ã, “em cima”. Lit., “ilha que tem ponta ereta, em cima”. Seu terreno é montanhoso. Situado na baía da Coroa Grande, próximo às ilhas Cabras e Fundão.

Outra crítica referia-se à “inoportunidade do início de obra de tão grande vulto numa época de inflação e de escassez de materiais de construção, de transporte e de mão de obra”, para a qual Luiz Hildebrando Barbosa sublinhava a importância do empreendimento para a nação, ressaltando os numerosos imóveis federais inutilizados que, por lei, seriam vendidos para pagar despesas com as obras e que, devido a sua complexidade, estas se estenderiam por 6 a 8 anos, prazo em que provavelmente a carência de materiais, transporte e mão de obra não se constituiria mais um problema. Além da construção da Avenida Brasil, inaugurada em 1946, consolidando a expansão industrial da cidade em direção à zona norte, toda a região da Ilha do Governador estava passando por grandes transformações, sobretudo em torno da criação da Base Aérea do Galeão, pelo Ministério da Aeronáutica. Um anúncio de venda de lotes no Jardim Guanabara, indicava, já no final dos anos 1930, a valorização do bairro insular, nos arredores da capital. Lembrando o exemplo de Copacabana, a propaganda da Companhia Santa Cruz (1936) previa: “O que hoje custa tão pouco representa uma fortuna no dia de amanhã!”.

Havia ainda nos jornais a opinião que qualificava de “absurda” a construção de uma universidade em ilhas, haja vista o excesso de áreas livres na cidade.

Mapa dos futuros transportes rápidos Canto | pág. 11


Os critérios formulados pelo ETUB dividiam-se em três grupos:

1 2 3

Fatores de ordem política e social: facilidade para obter a área; acessibilidade; custo da condução; integração ao meio; ambiente universitário. Fatores de ordem econômica: custo dos terrenos e das obras complementares; custos das construções; custo das utilidades (instalação de redes de água, esgoto, eletricidade, etc.). Fatores de ordem técnica: circunvizinhança; condições do clima; área, forma e relevo topográfico; condições favoráveis ao ensino científico, artístico, cultural; condições favoráveis à educação física e esportiva.

Tantas eram as condições favoráveis que em 20 de outubro de 1948 - três anos após o decreto-lei que havia definido o arquipélago como local a abrigar a futura Cidade Universitária - foi sancionada a Lei nº 447, dando um ponto final ao longo processo de discussões e questionamentos sobre a sua localização e permitindo ao ETUB pleitear a abertura de um crédito especial de Cr$12.860.000,00 pelo Decreto nº 25.995, de dezembro de 1948, para finalmente dar início às obras. Em 1881, o oficial de artilharia Fausto de Souza calculava haver, na Baía da Guanabara mais de oitenta ilhas, com natureza e destinos diversos (Doria, 1922). Para se ter uma visão mais geral sobre as ilhas existentes no momento em que se iniciavam as obras de aterro hidráulico, no final dos anos 1940, Gastão Cruls, no livro Aparência do Rio de Janeiro, descrevia: De todas as ilhas da Guanabara, não só pela vastidão, como pelos foros que assumiu de importante subúrbio marítimo, destaca-se a Ilha do Governador, com 28.906.250m² de superfície e mais de 30.000 habitantes. Entre ela e as outras ilhas também integrantes do Distrito Federal (…) há uma grande diferença de tamanho, pois a que se

lhe segue logo abaixo, Paquetá, já não tem mais de 1.093.075m², e vêm depois, sempre em ordem decrescente e apenas relacionadas às maiores, arredondando as cifras, Bom Jesus com 753.000, Fundão com 613.000, Sapucaia com 440.000, Boqueirão com 230.000, Catalão com 166.000, Cambembi com 162.000, Cobras com 154.000 e Brocoió com 143.000m². Ao todo, a área total das ilhas está computada em 35km². A breve reconstituição do que eram as nove ilhas localizadas na Enseada de Inhaúma anos antes de serem escolhidas para abrigar a Cidade Universitária baseou-se principalmente na série intitulada A Guanabara como natureza, publicada aos domingos, entre maio e junho de 1936, no jornal Correio da Manhã, na qual o jornalista Magalhães Corrêa relatava as suas observações e impressões sobre a região a partir das excursões realizadas por sua equipe à bordo do barco Acarioca. Tais excursões compreenderam a zona que ia da Ponta do Caju a Meriti, englobando quatorze ilhas consideradas “rurais”: Bom Jardim, Bom Jesus, Pinheiro, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Catalão, Cabras, Baiacu, Fundão, Cambembi, Sapucaia, Raimundo, Anel e Saravatá. Canto | pág. 12


Antes do aterro Canto | pág. 13

Em 1881, o oficial de artilharia Fausto de Souza calculava haver, na Baía da Guanabara mais de oitenta ilhas, com natureza e destinos diversos (Doria, 1922). Para se ter uma visão mais geral sobre as ilhas existentes no momento em que se iniciavam as obras de aterro hidráulico, no final dos anos 1940, Gastão Cruls, no livro Aparência do Rio de Janeiro, descrevia: De todas as ilhas da Guanabara, não só pela vastidão, como pelos foros que assumiu de importante subúrbio marítimo, destaca-se a Ilha do Governador, com 28.906.250m² de superfície e mais de 30.000 habitantes. Entre ela e as outras ilhas também integrantes do Distrito Federal (…) há uma grande diferença de tamanho, pois a que se lhe segue logo abaixo, Paquetá, já não tem mais de 1.093.075m², e vêm depois, sempre em ordem decrescente e apenas relacionadas às maiores, arredondando as cifras, Bom Jesus com 753.000, Fundão com 613.000, Sapucaia com 440.000, Boqueirão com 230.000, Catalão com 166.000, Cambembi com 162.000, Cobras com 154.000 e Brocoió com 143.000m². Ao todo, a área total das ilhas está computada em 35km². A breve reconstituição do que eram as nove ilhas localizadas na Enseada de Inhaúma anos antes de serem escolhidas para abrigar a Cidade Universitária baseou-se principalmente na série intitulada A Guanabara como natureza, publicada aos domingos, entre maio e junho de 1936, no jornal Correio da Manhã, na qual o jornalista Magalhães Corrêa relatava as suas observações e impressões sobre a região a partir das excursões realizadas por sua equipe à bordo do barco Acarioca. Tais excursões compreenderam a zona que ia da Ponta do Caju a Meriti, englobando quatorze ilhas consideradas “rurais”: Bom Jardim, Bom Jesus, Pinheiro, Pindaí do França, Pindaí do Ferreira, Catalão, Cabras, Baiacu, Fundão, Cambembi, Sapucaia, Raimundo, Anel e Saravatá.


Ilha do Catalão

Ao atracar na praia da Ilha do Catalão, a equipe de Magalhães Corrêa avistou cestos especiais para apanhar peixes e lagostas vivas, canoas de pescaria, uma grande plantação de mamoeiros, bananeiras e outras árvores frutíferas, além de dois pescadores da colônia Z5, junto a uma velha casa de tijolos. À esquerda, havia um alpendre coberto de zinco, sustentado por colunas de estipes de coqueiros, grandes árvores e uma enorme amendoeira. Ao sul da ilha, havia uma lavoura e, na extremidade meridional, uma enseada cuja praia era de fácil atracação com qualquer maré, havendo ali próximo um grupo de pedras, formando uma ilhota. Com 166.123m², a ilha era dividida, nos anos 1930, em duas propriedades particulares por uma linha feita de soqueira de bambu que a atravessava de praia a praia. Uma metade da ilha pertencia ao Sr. José Paz e seus irmãos e a outra ao Sr. Cândido de Araújo e irmãos, embora esta também fosse administrada pelo Sr. José Paz. Assim, como as demais ilhas do arquipélago, a Ilha do Catalão possuía uma rica flora e fauna nativa. Na propriedade da família Paz, onde outrora havia uma criação de gado, encontrava-se uma diversidade de aves (socós, garças, patos, galinhas, etc) e um grande e belo pomar, com mangueiras, pitangueiras, goiabeiras, araçazeiras, sapotizeiros, coqueiros, cajazeiros, parreiras, bananeiras, jambeiros, etc. No seu ponto mais alto, um morro ao centro, encontrava-se um verdadeiro solar colonial, com uma grande varanda, doze quartos, sala e cozinha, além de várias casas espalhadas. Da fachada deste solar, onde viviam seis irmãos com seus respectivos filhos, descortinava-se um “extraordinário panorama da Baía da Guanabara”. Por ocasião da criação da Cidade Universitária, um Parque da Mata Atlântica foi previsto no Catalão desde os planos iniciais de construção, sendo preservado até a atualidade. Foi unido por um “istmo” a partir de 1953, mas preservado com seu relevo e mata. Existia nele um dos 3 hortos com a função de arborizar o restante do Campus.

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Inventário O Parque Frei Vellozo na Península do Catalão, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, possui 17 ha e apresenta vegetação de restinga e manguezal na faixa litorânea. Em sua implantação, foram introduzidas cerca de 200 espécies típicas de floresta estacional tropical litorânea no seu território e mais de 40.000 mudas foram plantadas, com sucesso, na parte central da ilha.

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de Espécies Ernani Diaz Renato Moraes de Jesus (Escola de Engenharia, UFRJ) Janie Garcia da Silva (Instituto de Biologia, UFF, Niterói)

O Parque Frei Vellozo localiza-se na extremidade norte da Ilha do Fundão, na Baía de Guanabara, dentro do Campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A área do Parque corresponde à antiga Ilha do Catalão, que agora está unida à Ilha do Fundão por um istmo formado por aterro. O local agora é designado simplesmente por Catalão. O Parque tem uma área de 17 hectares, e é, quase que, totalmente rodeado pelo mar, tendo nas suas margens vegetação de restinga e de mangue. O seu relevo apresenta-se ainda como originalmente, caracterizado por uma pequena colina. O solo do Parque também é original, não tendo sido desbastado, nem aterrado, a menos do istmo que é constituído por um aterro sobre o mar. O nome do Parque homenageia Frei José Mariano da Conceição Vellozo, que viveu de 1742 a 1811 e foi o autor da Flora Fluminensis, concluída em 1790. Ela contém classificação de 1.640 plantas nativas. Frei Vellozo foi o mais importante botânico brasileiro do século XVIII. A criação de um Parque na Ilha do Fundão já havia sido cogitada no programa inicial de trabalho da Reitoria, pelo Reitor da UFRJ da época, Prof. Paulo Alcantara Gomes e o Vice-Reitor, atualmente Reitor, Prof. José Henrique Vilhena de Paiva. Em setembro de 1996, foi liberada uma verba especial, pelo Governo Federal, para a realização de obras de melhoria da infra-estrutura da Ilha do Fundão, prevendo-se uma possível realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2004. Desta verba foi destinada uma parte para implantar o Parque no Catalão. Canto | pág. 16


Pesquisa no Parque Antes do reflorestamento foi realizado um inventário das principais espécies arbóreas e arbustivas existentes no Catalão (Silva, 1999).

As espécies encontradas são: Espécies exóticas: Agave sisalana, Albizia lebbeck., Artocarpus altilis, Artocarpus heterophyllus, Cocos nucifera, Delonix regia, Diospyros sp., Dracaena fragrans, Hibiscus tiliaceus, Malvaviscus arboreus, Mangifera indica, Manilkara zapota, Mimusops coriacea, Persea americana, Sterculia foetida, Syzygium aqueum, Syzygium cumini, Tamarindus indica, Terminalia catappa.

Reflorestamento: implantação

1.640 plantas nativas

17 hectáres

Para executar o reflorestamento foi contratada a Comde área panhia Vale do Rio Doce, que possui larga experiência em programas de recuperação florestal. As mudas da fase inicial foram oriundas do Viveiro da Reserva Florestal de Linhares (ES). Elas foram transportadas por caminhão e estocadas no Horto da Prefeitura da UFRJ. As matrizes destas mudas são da Reserva Florestal de Linhares (ES), que é constituída por uma vegetação original de Floresta Estacional Tropical de Tabuleiro. Prescreveu-se que as mudas plantadas deveriam ser de espécies da Floresta Estacional Tropical Litorânea da costa do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. A grande maioria das espécies plantadas são da Floresta Estacional Tropical Litorânea, com algumas exceções. Nesta fase inicial foram plantadas cerca de 38.000 mudas. Para os replantios foram obtidas mudas de diversas origens: Viveiro da Reserva Florestal de Linhares (ES), Horto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ), Horto do Dep. de Biologia da UFF em Niterói (RJ) e mudas originárias das diversas coletas feitas nos trabalhos de inventário de remanescentes de matas da Ilha do Governador e cultivadas no Horto da Prefeitura da UFRJ.

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40 mil mudas plantadas

200

espécies de floresta estacional tropical litorânea


As As espécies espécies inicialmente inicialmente plantadas plantadas em em dezembro dezembro de de 1996 1996 foram foram as as seguintes: seguintes:

Espécies nativas plantadas: Acosmium lentiscifolium, Acrocomia aculeata, Anacardium occidentale, Andira fraxinifolia, Andira nitida, Andira ormosioides, Apuleia leiocarpa, Ardisia crenata, Aspidosperma aff. subincanum, Aspidosperma cylindrocarpon, Astronium graveolens, Bauhinia forficata, Bauhinia variegata var. alboflava, Bauhinia variegata var. rubra, Bixa arborea, Bombacopsis sp. (Paineira barriguda), Bombacopsis stenopetala, Bouganvillea sp. (Buganvile maravilha), Bowdichia virgilioides, Caesalpinia echinata, Caesalpinia ferrea, Cariniana legalis, Caryocar edule, Cassia ferruginea, Cedrela odorata, Centrolobium tomentosum, Chorisia glaziouii, Clarisia racemosa, Clusia spiritusanctensis, Coccoloba alnifolia, Copaifera langsdorffii, Cordia trichotoma, Dalbergia nigra, Deguelia longeracemosa, Dimorphandra jorgei, Diospyros sp. (Abricó da mata), Eriotheca macrophylla, Erythrina velutina, Eugenia involucrata, Eugenia sp1 (Praianinha), Eugenia sp2 (Araçá de balaio), Eugenia sp3 (Grumixama amarela), Eugenia sp4 (Grumixama preta), Eugenia sp5 (Jamelão da praia), Eugenia sp6 (Pitanguinha), Eugenia uniflora, Ficus clusiifolia, Gallesia integrifolia, Galphimia glauca, Goniorrhachis marginata, Guazuma crinita, Guettarda viburnoides, Inga laurina, Ixora coccinea, Joannesia princeps, Kielmeyera membranacea, Lecythis, pisonis, Licania tomentosa, Lonchocarpus cultratus, Manihot sp. (Bálsamo de horta), Manilkara bella, Melanoxylon brauna, Miconia hypoleuca, Miconia sp. (Cabeludinha), Mimusops sp. (Abricó), Myrcia multiflora, Myrciaria jaboticaba, Myrciaria sp. (Araçá vermelho), Nectandra oppositifolia, Ocotea spectabilis, Ormosia arborea, Ormosia nitida, Paratecoma peroba, Parkia pendula, Peltophorium dubium, Phyllocarpus riedelii, Plinia strigipes, Poecilanthe falcata, Posoqueria latifolia, Pseudobombax grandiflorum, Psidium aff. macrospermum, Psidium cattleianum, Psidium guajava, Psidium sp1 (Araçauna), Psidium sp2. (Goiaba do ipiranga), Pterocarpus rohrii, Pterygota brasiliensis, Rheedia brasiliensis, Rheedia gardneriana, Sapindus saponaria, Schinus terebinthifolius, Chamaecrista ensiformis, Senna multijuga, Sophora tomentosa, Sparattosperma leucanthum, Spondias sp. (Cajazão), Spondias venulosa, Sterculia elata, Syagrus romanzoffiana, Syagrus sp. (Côco da pedra), Tabebuia arianeae, Tabebuia chrysotricha, Tabebuia cristata, Tabebuia heptaphylla, Tabebuia riodocensis, Tabebuia roseo-alba, Tabebuia serratifolia, Tapirira guianensis, Terminalia cf. kuhlmann, Thrinax excelsa, Tibouchina stenocarpa, Zeyhera tuberculosa, Zizyphus platyphylla.

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Algumas espécies desenvolveram-se muito bem na área. Entre elas podem ser citadas as seguintes: Cecropia sp., Cedrela odorata, Ceiba erianthos, Chorisia sp., Deguelia longeracemosa, Erythrina sp., Ficus clusiifolia, Ficus glabra, Gallesia integrifolia, Johannesia princeps, Ormosia sp., Peltophorum dubium, Pterocarpus rohrii, Schinus terebinthifolius, Schizolobium parahyba, Senna macranthera, Tabebuia sp., Zeyhera tuberculosa etc.

Mudas das seguintes espécies nativas foram introduzidas nestes trabalhos de replantio, nos últimos dois anos:

Espécies nativas, fase nov. 1997, com aprox. 1.000 mudas: Allophylus puberulus, Bauhinia forficata, Capparis flexuosa, Cecropia glazioui, Ceiba erianthos, Chorisia sp., Cupania paniculata, Cupania sp., Eugenia uniflora, Ficus clusiifolia, Ficus enormis, Ficus tomentella, Guarea guidonia, Inga sp., Inga laurina, Jacaranda jasminoides, Luehea divaricata, Moldenhawera cf floribunda, Ocotea sp., Peschiera fuchsiaefolia, Pseudobombax grandiflorum, Pterocarpus rohrii, Rapanea sp., Schinus terebinthifolius, Senna macranthera, Senna pendula, Tibouchina sp., Xylopia sp.


O Programa de reflorestamento, ainda em desenvolvimento já foi constatada a reocupação de aves na área do Parque. Em pesquisa feita pela UFRJ, foram encontradas 80 espécies diferentes de aves na área do Catalão, mostrando que ela está O Programa de reflorestamento, em franca recuperação ecológica.ainda em desenvolvimento já foi constatada a reocupação de aves na área do Parque. Em pesquisa feita pela UFRJ, foram encontradas 80 espécies diferentes de aves na área do Catalão, mostrando que ela está em franca recuperação ecológica.

Espécies nativas, fase junho 1998, com aproximadamente 860 mudas: Acrocomia aculeata, Annona sp., Caesalpinia echinata, nativas, fasehilariana, jun- Clusia sp., Caesalpinia Espécies pluviosa, Cedrela sp., Clusia ho 1998, com Cordia sp., Cordia trichotoma, Cupania sp., Cybistax antisyphilitica, aproximadamente mudas: Erythrina verna, Erythroxylon pulchrum,860 Eugenia uniflora, Ficus arpaAcrocomia aculeata, AnnonaFicus sp., luschnathiana, Caesalpinia echinata, zusa, Ficus clusiifolia, Ficus enormis, Ficus maxima, Caesalpinia pluviosa, Cedrela sp., Clusia hilariana, Clusia sp., Ficus tomentella, Genipa americana, Hymenaea courbaril, Lafoensia Cordia sp.,Lecythis Cordia trichotoma, Cupania Cybistax glyptocarpa, pisonis, Luehea sp., sp., Miconia sp., antisyphilitica, Peltophorum duErythrina verna, Erythroxylon pulchrum, Eugenia uniflora, Ficus arpabium, Sapindus saponaria., Schinus terebinthifolius, Sophora tomentosa, zusa, Ficus Ficus enormis, Ficus luschnathiana, Ficus maxima, Swartzia sp.,clusiifolia, Syagrus romanzoffiana, Tabebuia chrysotricha, Tibouchina Ficus tomentella, Genipa americana, Lafoensia granulosa, Tibouchina sp., XylopiaHymenaea sp., Zeyeracourbaril, tuberculosa. glyptocarpa, Lecythis pisonis, Luehea sp., Miconia sp., Peltophorum dubium, Sapindus saponaria., Schinus terebinthifolius, Sophora tomentosa, Espécies nativas plantadas em diversas Swartzia sp., Syagrus romanzoffiana, Tabebuia chrysotricha, Tibouchina ocasiões, com aproximadamente 300 mudas: granulosa, Tibouchina sp., Xylopia sp., Zeyera tuberculosa. Chorisia sp., Clusia fluminensis, Cordia trichotoma, Eugenia copacabanensis, Ficus glabra, Ficus pertusa, Inga sp., Espécies nativas plantadas em diversas Lecythis pisonis, Piptadenia gonoacantha, Chloroocasiões, com aproximadamente 300 mudas: leucon tortum, Pterocarpus rohrii, Samanea Chorisia sp.,tubulosa, Clusia fluminensis, Cordia trichotoma, Eugenia Schizolobium parahyba, copacabanensis, Ficus glabra, Ficus pertusa, Inga sp., Tapirira guianensis. Lecythis pisonis, Piptadenia gonoacantha, Chloroleucon tortum, Pterocarpus rohrii, Samanea tubulosa, Schizolobium parahyba, Tapirira guianensis.

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Sapotizeiro Sapotizeiro é uma árvore da família Sapotaceae que produz o sapoti ou sapota. É originário da América Central, desenvolvendo-se em regiões de clima subtropical da Ásia, América e Oceania. Na índia existem cerca de vinte variedades.

Mangifera indica Mangifera indica é uma espécie de planta da família Anacardiaceae. Pode ser encontrada na forma nativa nas florestas do sul e sudeste da Ásia, tendo sido introduzida em várias regiões do Mundo.

Sterculia foetida O Chichá-fedorento (Sterculia foetida), oliva-de-java ou castanhada-Índia é uma árvore que chega a medir até 20 metros, da família das esterculiáceas, nativa de regiões tropicais da Índia e Malásia e introduzida no Brasil como planta ornamental.

Coco-de-espinho A Acrocomia aculeata é uma palmeira nativa brasileira e uma das duas espécies que são popularmente conhecidas pelo nome de macaúba, macaíba, boicaiuva, macaúva, cocode-catarro, coco-baboso e cocode-espinho. A outra é a Acrocomia intumescens.

Coqueiro O coqueiro, é um membro da família Arecaceae. É a única espécie classificada no gênero Cocos. É uma planta que pode crescer até 30 m de altura, com folhas pinadas de 4–6 m de comprimento, com pinas de 60–90 cm.

Algumas espécies


Aroeira-vermelha Aroeira-vermelha, aroeira-pimenteira ou poivre-rose são nomes populares da espécie Schinus terebinthifolius, árvore nativa da América do Sul da família das Anacardiaceae.

Artocarpus incisa A árvore-do-pão ou fruta-pão é uma árvore frutífera, aparentada com a jaca. Planta originária da Indomalásia ou da Malásia; seu fruto é base alimentar para povos ilhéus da Polinésia.

Sisal O sisal, família Agavaceae é uma planta utilizada para fins comerciais. O A. sisalana é cultivado em regiões semiáridas.

Artocarpus heterophyllus Artocarpus heterophyllus, vulgarmente conhecida como jaqueira, é uma árvore tropical cujo fruto é conhecido como jaca.

Mangue-branco O mangue-branco é uma árvore pioneira nativa e típica do manguezal brasileiro, encontrada no interior do mangue e na transição para a floresta de restinga.

Delonix regia A Delonix regia, também conhecida por flor-do-paraíso, pau-rosa, flamboyant, flamboiaiã, flamboaiã e acácia-rubra, é uma árvore da família das leguminosas. É nativa da ilha de Madagáscar e da África tropical.

Caesalpinia bonduc Caesalpinia bonduc é uma espécie de planta pertencente à família Fabaceae com uma distribuição pantropical. Canto | pág. 22




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