Revista Cidade Verde 183

Page 1


HOUS

PUBLIC


SE D1

CIDADE


Índice Capa

jeito de 40 05. Editorial 08. Páginas Verdes Carlos Said concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 14. Palavra do leitor 16. Lugar de polícia é na rua 28. Jingles ditam ritmo da política

08

Páginas Verdes Carlos Said

20 A fila não anda

Cineas Santos

É melhor não torcer o nariz para ele

36. Novos casos de hanseníase deixam o Piauí em alerta

13. Cidadeverde.com Yala Sena

60. Paraíso sob ameaça

26. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

66. Tecnologia no ar 70. Colheita generosa

40. Economia e Negócios Jordana Cury

74. Desfile de cores e fantasias

59. Tecnologia Marcos Sávio 82. Playlist Rayldo Pereira 86. Perfil Péricles Mendel

Articulistas 19

56

COLUNAS

48 60 com

55

Fonseca Neto

90

Tony Batista


foto Manuel Soares

Juventude prolongada Já faz algum tempo que os conceitos mudaram quando se pensa na imagem de alguém que acaba de chegar à terceira idade. Pela legislação brasileira, o cidadão é considerado idoso a partir dos 60 anos. Com essa idade, ele começa a ter direito a alguns privilégios, como a meia entrada no cinema e no teatro, prioridade nas filas e vaga exclusiva no estacionamento. No entanto, os sessentões de hoje em nada lembram uma pessoa idosa, que mereça cuidados ou benefícios especiais. Com o avanço da medicina e os procedimentos estéticos disponíveis, a realidade mudou e as pessoas com 60, hoje, parecem as de 40, ontem. Uma mudança significativa que pode ser facilmente percebida pelo comportamento e atitudes dos atuais brasileiros que completaram seis décadas de vida. A nova imagem dessa geração está associada a uma mudança de hábitos e de postura. Longe de entregar os pontos e vestir o pijama, essa turma está nas academias, cuidando do corpo e realizando atividades que lhe dê prazer e razão de viver. Afinal, como atestam os médicos, a idade está muito mais associada à cabeça do que ao corpo. E o resultado de quem opta por permanecer jovem por mais tempo se reflete em um corpo mais ágil e disposto, apto a realizar as mesmas atividades de antes.

Na reportagem de capa desta edição, a Revista Cidade Verde traz exemplos de quem não se dá por vencido pelo peso da idade e enfrenta essa nova etapa da vida com corpo e cabeça jovens, muito distante do que se costuma associar à velhice. A leitura da reportagem é um estímulo para que as pessoas comecem a se cuidar, desde cedo, sabendo que irão colher os frutos no futuro. Nas páginas verdes, uma entrevista engraçada e cheia de histórias curiosas de um dos ícones do jornalismo esportivo piauiense. O professor e advogado Carlos Said, que ficou conhecido como Magro de Aço na imprensa, conta episódios da sua carreira marcada por glória e também por alguns fatos pitorescos, como quando teve que fugir a nado pelas águas do Rio Parnaíba para escapar de uma surra. Com a experiência de quem já assistiu a várias Copas do Mundo, o Magro de Aço também dá seu palpite para a Copa que será realizada este ano na Rússia, sempre com uma sinceridade cortante e o bom humor de quem, aos 87 anos, ainda encontra muitos motivos para sorrir. Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 18 DE FEVEREIRO, 2018 | 5


HOUS

PUBLIC


SE D2

CIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Carlos Said

claudiabrandao@cidadeverde.com

Fôlego de Aço

Carlos Said, mais conhecido como Magro de Aço, não recebeu esse apelido por acaso. O homem parece mesmo inquebrável. E incansável!Licenciado em História e Geografia pela Universidade Federal do Piauí, é também bacharel em Direito pela mesma universidade. Foi chefe da Comunicação do INSS, professor, correspondente da Revista Placar por vinte anos e trabalhou em coberturas esportivas memoráveis nas Rádios Difusora e Pioneira. Foi também goleiro do River Atlético Clube, onde engoliu alguns frangos, mas também chegou a segurar até pênaltis, para desespero dos adversários. Atualmente, aos 87 anos, Carlos Said continua trabalhando como jornalista, comentarista na TV Cidade Verde e advogado dos clubes de futebol piauienses. É autor de dois livros e já está escrevendo o terceiro. Do sangue árabe que corre nas veias (os pais vieram para o Brasil, fugindo da I Guerra), ele guarda o temperamento explosivo, que o deixou conhecido como bom de briga. Algumas delas entraram para o anedotário dos que acompanham o esporte piauiense, como ele mesmo faz questão de contar na entrevista a seguir. 8 | 18 DE FEVEREIRO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE

foto Wilson Filho

Carlos Said é um dos jornalistas mais queridos e respeitados no meio esportivo, apesar do temperamento forte, que não o deixa fugir de uma boa briga.


RCV – Qual a origem do apelido Magro de Aço? CS – Em 1964, no dia 02 de março,

eu sofri um grave acidente, enquanto estava fazendo uma cobertura jornalística para a Rádio Pioneira. E fiquei internado no apartamento 76 do Hospital Getúlio Vargas, que vivia lotado de curiosos. Alguém passou e disse: “se voltar a trabalhar será um magro de aço”. Até hoje eu não sei quem colocou o apelido, mas pegou. Pegou de uma maneira rápida, crescente e popularizou-se no Brasil inteiro porque, como comentarista esportivo e trabalhando na Placar, eu percorri o país todo. Eu e o Dídimo de Castro. Então, por onde a gente passava, diziam: “olha, lá vai o Magro de Aço”. Quando o Dídimo me procurou, dois anos antes do meu acidente, eu estava na Difusora, e eu coloquei o apelido no Dídimo de ‘Pequeno Polegar’. Aí, ficou a dupla, Magro de Aço e Pequeno Polegar.

RCV – Essa dupla ficou famosa por grandes coberturas esportivas. Houve algum fato pitoresco que marcou a sua carreira nas andanças pelo Brasil? CS – Foram tantas, que é até difícil

dizer, porque eu já me meti em tantas enrascadas... Mas em Belém do Pará, em 1966, uma turba de torcedores raivosos partiu para cima de mim porque eu critiquei a vitória do Paissandu sobre o Flamengo daqui. E, aí, eu disse: todos de uma vez, não, mas um de cada vez, pode vir que eu brigo, porque eu sou o Magro de Aço. Aquela transmissão

E, aí, eu disse: todos de uma vez, não, mas um de cada vez, pode vir que eu brigo, porque eu sou o Magro de Aço.

do Sambão, que se tornou campeã do carnaval daquele ano. A então TV Pioneira, que hoje é a Cidade Verde, transmitiu com absoluta exclusividade para o Piauí e algumas regiões do Nordeste.

de Belém me marcou pela coragem e pela audácia. Eu sempre fui assim. Esse epíteto acabou fazendo parte do conceituado e abstrato inventário gramatical do Piauí

RCV – Por falar em inventário gramatical, algumas das suas expressões se tornaram célebres nas transmissões de rádio, como ‘apedeutas’ e ‘bilinguinguins dos infernos’. O uso dessas expressões veio acidental ou propositalmente, para tornar a cobertura mais emocionante? CS – Veio pela experiência adqui-

rida. Apedeuta é aquele ignorante que não conhece futebol, e bilinguinguins, porque eu atentei que, se há os quintos dos infernos, por que não, mais adiante, os bilinguinguins dos infernos? Aí, pegou. E a razão de tudo isso foi que, em 1987, o Sambão(Escola de Samba de Teresina) estava há dez anos sem título no carnaval de Teresina. Foi quando criaram o enredo ‘Bilinguinguins dos Infernos’ e me levaram para ser o estandarte-mor da beleza

RCV – Além de jornalista, o senhor também foi professor de história e geografia. Prefere ser lembrado como professor ou jornalista? CS – Eu gosto sempre de ser lem-

brado como o Magro de Aço do Futebol do Piauí, razão porque, quando eu fui correspondente da Revista Placar, de 1970 a 1990, sempre que a edição queria um arrazoado sobre futebol e política do Piauí, me pedia explicações. Uma vez, por ocasião da morte do ministro Petrônio Portela, o jornalista Juca Kfourime ligou para confirmar: ‘Magro de Aço, é verdade que o Petrônio Portela nasceu em Valença? ‘ E eu respondi: Valença do Piauí. E há outro detalhe curioso: o Bar Carnaúba foi arrendado por uma dupla de argentinos, Osvaldo e Carlos, da família Fassi. Certa vez, correu em São Luís a notícia da minha morte e o falecido Herbert Fontenele me telefonou de lá para saber se eu havia morrido mesmo. Aí eu respondi: não, foi o Carlos Fassi, um dos arrendatários do Bar Carnaúba.

RCV – O senhor esteve presente do lado de fora, como locutor, mas também dentro do gramado, como goleiro do River. Em campo, o senhor era tão afiado como no microfone?

REVISTA CIDADE VERDE | 18 DE FEVEREIRO, 2018 | 9


Devo confessar que eu engoli frangos memoráveis, mas eu peguei muita bola difícil.

CS – Eu era estudante do Ginásio

Leão XIII, em 1946, e o River foi fundado exatamente nesse ano. O nome era River Plate Clube, mas como havia resquícios da ditadura getulista, o presidente da Federação de então só aceitava a filiação do River se tirasse o nome Plate, por causa do time na Argentina com o mesmo nome. Aí ficou, River Atlético Clube. E em 1948, eu já fui campeão na reserva do titular, o Afonso. Devo confessar que eu engoli frangos memoráveis, mas eu peguei muita bola difícil. Houve um jogo contra a seleção de Parnaíba, em que disseram: esse é um goleiro ‘cagado’,tá pegando tudo. Em Sobral e Fortaleza, por onde eu joguei, eu também criei fama de goleiro absoluto e venturoso.

RCV – O senhor também teve uma experiência como juiz de futebol em uma partida com astros da televisão brasileira, quando teve que levantar a voz, mais uma vez. Por quê? CS – Isso foi em 1980, no Albertão.

A seleção de radialistas da Globo do Rio de Janeiro estava ganhando de 1 X 0 e o Garrincha, o Deusdeth Nunes, era ponta direita da seleção do Piauí e estava na posição de offside, em clamoroso impedimento. Ele pegou a bola e olhou para mim. Aí eu disse: vai desgraçado! Faz o gol. A partida terminou 1 X 1. Não houve briga, mas na hora das reclamações eu gritei: Olha, aqui quem manda sou eu. Vocês podem mandar na TV Globo, mas aqui é o meu pedaço.

RCV – E o que fez o senhor abandonar as quadras? O acidente? CS – Não, eu voltei a jogar futebol

como goleiro. Eu tinha uma boa colocação. Eu pouco pulava em bolas que eram endereçadas pelo alto ou por baixo. Eu era, como se diz, um binômio. Jogador e radialista e, em 1965, se não me falha a memória, eu peguei tanta bola em um jogo entre Ferroviário 2 e River 0, quando a diferença era para ser bem maior, que eu fui comparado a Plínio Salgado, que era candidato à Presidência da República e estava em campanha por Fortaleza. Na época, o jornal O Povo publicou que o goleiro do River, Carlos Said, era igual a Plínio Salgado. Sabia pegar tanta bola quanto o Plínio sabia usar orações a favor da política.

RCV – Como era a experiência de narrar futebol em uma época em que não havia televisão? CS – Muito fácil para quem jogou, como eu, como goleiro. O goleiro é um técnico dentro do campo. Ele

10 | 18 DE FEVEREIRO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE

tem a visão completa do jogo. E eu alertava, colocava meus jogadores de defesa, a fim de darem o combate e atenuarem a minha posição de goleiro. Então, eu aprendi o linguajar técnico e também o vocabulário popular. Daí porque, rapidamente, eu ganhei a titularidade como colunista esportivo do estado do Piauí e sou bastante conhecido Brasil afora. E vou dar aqui dois exemplos. Existe um livro chamado ‘Vendo o jogo, ouvindo o rádio’, no qual eu fui elogiado. Eu e o Dídimo de Castro. Quando eu recebi o livro, fiquei tão perplexo e eufórico, que eu corri para abraçar o Dídimo na Rádio Pioneira, dizendo: Olha, Pequeno Polegar! Só eu e você no livro. E também saiu outro livro abordando a crônica esportiva brasileira e, no Piauí, os principais: eu, o Dídimo, o Fernando Mendes, o Bolinha, o Galego.

RCV – Como um esportista apaixonado, de que forma o senhor vê o futebol, hoje? É um esporte no qual predomina a paixão ou o negócio? CS – Você tocou na ferida. É ne-

gócio, é negócio. Eu acompanhei muitos jogos da seleção brasileira e posso dizer, de coração aberto, que a de 1958 foi um fenômeno. A de 1962, conquistou o bicampeonato. Na de 1970, deslocaram o Tostão para fazer a ala esquerda com Rivelino, porque era tanto craque, que o Zagalo não sabia onde colocá-los. Aí ficou a linha de ataque com Jairzinho, Gérson, Pelé, Rive-


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.