Revista Notícias da Construção - Edição 151

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OPINIÃO: Flavio Amary, José Carlos Martins, Paulo Skaf, Rubens Menin, Walter Cover Nº 151 ano 13 jan/fev 2016

2016 UM ANO À ESPERA DE AJUSTES

Lideranças da cadeia produtiva da construção civil aguardam medidas de ajuste fiscal baseadas em redução de gastos públicos, sem aumento da carga tributária. Essas são tidas como o ponto central para o início do fim da crise

ENTREVISTA DO MÊS José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP

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AMANCO QUICKSTREAM. É PRECISO MUITA TECNOLOGIA PARA DAR VAZÃO A TANTAS VANTAGENS.

O mais moderno sistema de captação de água pluvial para grandes coberturas, com know-how europeu. • Elimina a entrada de ar e aumenta a velocidade de escoamento; • Fluxo de passagem plena: redução nas dimensões do tubo; • Menor custo de instalação e de materiais; • Montagem simples, com menos perfurações e captadores; • Condução horizontal: liberdade arquitetônica.


EDITORIAL

O QUE FALTA PARA O RESGATE DA CONFIANÇA JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO Presidente do SindusCon-SP

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utros importantes instrumentos de captação do crédito imobiliário sofreram desaceleração em seu crescimento em 2015, mesmo beneficiados por isenção do Imposto de Renda e com remuneração até 70% maior que a Poupança. O ritmo de crescimento das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e dos Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) caiu de 2014 para 2015. Neste cenário agravado pela forte retração na demanda por imóveis e pelo expressivo aumento dos distratos, as obras de infraestrutura e habitação popular também sofreram atrasos e paralisações, e as concessões não andaram. Na reunião do Conselhão em janeiro, o governo anunciou a criação de linhas de crédito: R$ 22 bilhões para a infraestrutura por meio de recursos do FI-FGTS, R$ 10 bilhões para habitação com recursos do FGTS e R$ 5 bilhões do BNDES para capital de giro de pequenas empresas. Esses recursos poderão aliviar a indústria da construção. Mas sem reformas efetivas que conduzam ao equilíbrio fiscal e à reconquista da confiança, dificilmente teremos a retomada dos investimentos que impulsionam o setor.

Entretanto, em fevereiro, está marcada a votação do projeto de lei de conversão da Medida Provisória (MP) nº 694/2015, na comissão mista do Congresso responsável pela matéria. O primeiro relatório apresentado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) em dezembro criava alíquotas de tributação, que va-

SEM REFORMAS EFETIVAS, DIFICILMENTE TEREMOS A RETOMADA DOS INVESTIMENTOS QUE IMPULSIONAM O SETOR riam de 17,5% a 12,5%, quanto maior fosse o tempo de aplicação, para os rendimentos hoje isentos das LCIs, CRIs e LIGs (Letras Imobiliárias Garantidas). A tributação, se aprovada, dificultaria a captação de crédito para a indústria imobiliária, em vez de facilitá-la, porque as letras imobiliárias perderiam a pouca atratividade

que lhes resta. Felizmente, no início de fevereiro, o senador reformulou seu relatório, retirando a taxação que havia proposto. Com isso, permanecia na MP apenas outro dispositivo prejudicial: a elevação de 15% para 18% da tributação dos juros sobre o capital próprio (JSCP), por titulares, sócios ou acionistas que financiam a empresa com seus recursos. Sua aprovação será prejudicial porque, diante das restrições ao crédito bancário, as empresas têm como alternativa os financiamentos com recursos próprios dos donos ou acionistas. Outras providências necessárias ao estímulo que o governo pretende dar à construção precisam ser a quitação dos atrasos de pagamentos em obras de infraestrutura, da ordem de R$ 6,7 bilhões; a agilização dos procedimentos da Caixa, de repasse aos Estados dos recursos da União e do FGTS para obras do PAC; e a elevação das taxas de retorno das concessões e das Parcerias Público-Privadas. Todas estas medidas serão fundamentais à retomada da confiança na política econômica, pavimentando a via necessária à volta do crescimento perdido no último biênio. www.sindusconsp.com.br

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JORGE ROSENBERG

SUMÁRIO // JANEIRO / FEVEREIRO 2016

10 ESPECIAL SINDUSCON-SP EM AÇÃO TRAZ AS EXPECTATIVAS E OS PLANOS DE AÇÃO

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PARA O INÍCIO DO FIM

SINDUSCON-SP EM AÇÃO

QUE PERDURA E CASTIGA

NOVIDADES NO COMITÊ DE TECNOLOGIA E QUALIDADE (CTQ) E CONVERSA COM O PREFEITO FERNANDO HADDAD

DA CRISE ECONÔMICA O PAÍS. DESDE QUE O GOVERNO FAÇA A SUA PARTE, INVESTIMENTOS DO

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SETOR PRIVADO PODEM

FOTO DO MÊS

ROTA DO CRESCIMENTO

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CAPA

REGIONAL

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AJUSTE PÚBLICO,

DIRIGENTES DE REGIONAIS DO

SOLUÇÕES PRIVADAS.

SINDUSCON-SP E GESTORES

ENTREVISTA DO MÊS

AJUSTE FISCAL É TIDO

PÚBLICOS ANALISAM AS

JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO

COMO O PONTO CENTRAL

PERSPECTIVAS PARA O ANO

DAS VICE-PRESIDÊNCIAS

03 EDITORIAL PALAVRA DO PRESIDENTE

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notícias da construção // jan/fev 2016

RECOLOCAR O BRASIL NA


PRESIDENTE

José Romeu Ferraz Neto

VICE-PRESIDENTES

Eduardo Carlos Rodrigues Nogueira, Eduardo May Zaidan, Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, Haruo Ishikawa, Jorge Batlouni, Luiz Antônio Messias, Luiz Claudio Minnitti Amoroso, Maristela Alves Lima Honda, Maurício Linn Bianchi, Odair Garcia Senra, Paulo Rogério Luongo Sanchez, Roberto José Falcão Bauer, Ronaldo Cury de Capua

DIRETORES DAS REGIONAIS

Elias Stefan Junior (Sorocaba), Fernando Paoliello Junqueira (Ribeirão Preto), Germano Hernandes Filho (São José do Rio Preto), Márcio Benvenutti (Campinas), Mario Cézar de Barros (São José dos Campos), Mauro Rossi (Mogi das Cruzes), Paulo Edmundo Perego (Presidente Prudente), Ricardo Aragão Rocha Faria (Bauru), Ricardo Beschizza (Santos), Sergio Ferreira dos Santos (Santo André)

REPRESENTANTES JUNTO À FIESP

Eduardo Ribeiro Capobianco, Sérgio Porto, Cristiano Goldstein, João Cláudio Robusti

38 INDICADORES OS NÚMEROS DO SETOR E A ANÁLISE DA FGV

40 OPINIÃO FULVIO VITTORINO ANALISA AS PERSPECTIVAS TECNOLÓGICAS PARA 2016

41 NOVIDADES DO MERCADO NOVOS PRODUTOS E SERVIÇOS PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL

46 OPINIÃO CELSO BRAGA DEFENDE A ADOÇÃO DE PRÁTICAS INOVADORAS EM TEMPO DE CRISE

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Enzo Bertolini (11) 3334.5659, Fabiana Holtz (11) 3334.5701 e Aline Hovarth (11) 3334.5688

CONSELHO EDITORIAL

Delfino Teixeira de Freitas, Eduardo May Zaidan, José Romeu Ferraz Neto, Maurício Linn Biachi, Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, Odair Senra, Salvador Benevides, Sergio Porto, Ana Eliza Gaido e Rafael Marko.

DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDO

Néctar Comunicação Corporativa (11) 5053.5110 EDITOR RESPONSÁVEL

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REDAÇÃO

Renata Justi (editora assistente), Glauco Figueiredo, Aline Hovarth, Enzo Bertolini, Fabiana Holtz e Rafael Marko, com colaboração das Regionais: Bruna Dias (Bauru); Ester Mendonça (São José do Rio Preto); Giselda Braz (Santos); Geraldo Gomes e Maycon Morano (Presidente Prudente); Camila Garcêz (São José dos Campos e Mogi das Cruzes); Marcio Javaroni (Ribeirão Preto); Lívia Lopes e Simone Marquetto (Sorocaba); Sueli Osório (Santo André) e Vilma Gasques (Campinas).

ARTE E DIAGRAMAÇÃO

Edison Diniz

REVISÃO

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ENTREVISTA // JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO

RETOMADA

SOMENTE VIRÁ COM

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA Presidente do SindusCon-SP defende que Poderes Executivo e Legislativo cheguem logo a um acordo político, para que economia possa voltar a andar

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presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, recebeu a reportagem de Notícias da Construção para uma conversa sobre a conjuntura político-econômica e as perspectivas para o novo ano. O cenário traçado pelo empresário não é dos mais otimistas. Romeu Ferraz acredita que a saída da crise depende de um entendimento entre os Poderes Executivo e Legislativo que leve a uma “pacificação política”, além de um ajuste fiscal que atinja igualmente a todos, sem privilégios ou prejuízos setoriais, e que inclua o corte de despesas governamentais. Para 2016, o SindusCon-SP, segundo seu presidente, aposta no desenvolvimento de projetos de investimento em infraestrutura por meio de concessões e PPPs.

to entre os poderes poderá criar um ambiente propício para a saída desta crise que a cada dia toma proporções sem precedentes. O SindusCon-SP aguarda uma sinalização efetiva do governo em relação ao corte de despesas, não somente nos investimentos futuros e no aumento de impostos, mas na redução do tamanho do Estado. Temos que avançar nas reformas tributária, trabalhista e da Previdência. O setor produtivo precisa adquirir novamente a confiança para investir no País.

Notícias da Construção // Como o senhor avalia esse ano que passou? José Romeu Ferraz Neto // O ano de 2015 foi digamos um ano atípico. A expectativa é que teríamos um ano difícil, mas no final do ano começaríamos a ter uma retomada. O fato é que terminamos pior do que 2014. O embate político entre os Poderes Executivo e Legislativo está afetando o País

como um todo, especialmente o setor da construção civil. É desanimador. Os juros elevados e a inflação em alta geraram retração do setor causando desemprego em grande escala e nos prejudicando de forma desproporcional.

NC // Podemos esperar um ano melhor em 2016? JR // Nosso setor é historicamente otimista. Porém, neste momento entendemos que sem um ajuste fiscal sério não chegaremos a lugar algum.

NC // Como o SindusCon-SP se posiciona diante desse cenário? JR // Somente um entendimen-

NC // Se o processo de crescimento econômico tardar a voltar, como o setor irá sobreviver nos próximos anos?

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JORGE ROSENBERG

www.sindusconsp.com.br

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ENTREVISTA // JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO JR // Será uma perda enorme para o setor e para o Brasil. Absorvemos e produzimos muita tecnologia durante os últimos anos. Uma crise prolongada poderá levar a perdermos esse investimento. As empresas devem investir em gestão e capacitação, para aumentar a produtividade. Esse momento de baixa é o propício para que as empresas possam reavaliar seus processos para mitigar as perdas e saírem mais fortalecidas quando houver uma retomada.

NC // O setor tem elevado impacto social, tanto pelo lado da contratação de pessoal quanto por aquilo que entrega à sociedade [habitação]. Por isso, é objeto de política pública e fortemente influenciável pela ação do Estado. A pergunta que se faz é: existe como pensar no setor sem falar tanto no Estado? JR // O setor precisa do Estado e o Estado precisa do setor. As empresas brasileiras são altamente criativas, realizadoras e empreendedoras. O Estado deveria estar presente

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JORGE ROSENBERG

NC // Não corre o risco de o setor andar para trás? JR // Não. Nossos investimentos e avanços foram sólidos em tecnologia, qualidade, sistemas construtivos, saúde, segurança e capacitação para uma indústria moderna e competitiva. Isto fica absorvido na cultura de cada empresa, dificilmente retroagiremos. Nossa grande preocupação está na alta do desemprego, principalmente na mão de obra de baixa qualificação. Quase 500 mil profissionais perderam o emprego na construção civil em 2015 e nossa previsão é de que cerca de 200 mil trabalhadores serão demitidos neste ano.

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na economia como um facilitador. O que queremos são regras claras, transparência e coerência. Perenidade das ações. Devemos isso ao povo brasileiro. Nosso País tem muito para ser construído, tem um déficit habitacional enorme. Precisamos encontrar soluções juntos. Para a área de habitação de baixa renda é preciso encontrar alternativas à faixa 1 do MCMV e dar continuidade as demais faixas, integrando os programas federais, estaduais e municipais. Para o setor imobiliário é importante que novas formas de funding sejam implementadas, uma vez que a caderneta de poupança deverá sofrer saques em grandes proporções, tendo em vista rentabilidades maiores em outros tipos de aplicações. Além do fato da necessidade de complementação de renda por parte dos poupadores, causado pelo desemprego. Para os setores de infraestrutura e obras públicas, em função da falta de recursos públicos, as concessões e PPPs podem ser opções interessantes, desde que as expectativas em relação a taxa de atratividade estejam em linha com o custo do capital. NC // Existe um modelo? JR // Existem vários modelos. Há exemplos no exterior que podemos trazer e adaptar à nossa realidade. Mas, o mais importante é ter vontade política de realizar, sabendo que mudanças estruturais são necessárias para que o País retome sua rota de crescimento. É preciso desburocratizar os processos, deixar o empreendedor produzir e o mercado regular. NC // Existe certo consenso de que o investimento em infraestrutura é um caminho

para a retomada do crescimento. As experiências anteriores em concessão e PPPs tiveram modelagens diversas e apresentaram resultados positivos em alguns casos e nem tão bons em outros. Qual é o melhor modelo para concessão e PPP? JR // O governo deve aproveitar os pontos positivos e aprimorar os que não funcionaram adequadamente. Um dos pontos que tem que evoluir é como criar mecanismos para ampliar a participação de empresas médias e pequenas nas concorrências públicas, concessões e PPPs. NC // O senhor acha que a Operação Lava Jato é um fator de risco para a indústria da construção? O que muda? JR // A Operação Lava Jato e a

“O GOVERNO TEM QUE ABRIR OPORTUNIDADES PARA AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS”

Lei Anticorrupção estão fazendo com que as empresas implantem as regras de compliance e códigos de ética com agilidade. Devemos separar pessoas de empresas. Nossas empresas desenvolvem um trabalho de engenharia de notável capacidade técnica. Várias delas estão presentes em diversos países desenvolvidos. NC // E deixa mais danos ou mais benefícios? JR // Benefícios, pois tudo fica mais transparente, tanto na contratação de obras quanto na cultura das empresas. Hoje, as empresas estão muito mais cuidado-

sas, definindo códigos de ética, compliance, entre outros. Este é um movimento importante. NC // A chegada de players estrangeiros neste momento é bem vinda? JR // Desde que hajam regras claras, as empresas estrangeiras são bem vindas. Mas devem gerar empregos para o trabalhador brasileiro. Hoje vivemos um momento de desemprego em proporções como nunca antes visto. NC // Qual será o principal papel do SindusCon-SP em 2016? JR // Temos que acompanhar o cenário político-econômico e defender os interesses dos nossos associados e do setor. Iremos sempre contestar o governo em medidas que sejam prejudiciais às nossas empresas e apoiar. E, por outro lado, vamos incentivar ações positivas, como as concessões e as parcerias público-privadas. Seguiremos tudo isso muito de perto e lutaremos também pelas nossas bandeiras de sempre, em favor da produtividade, da competitividade e da qualidade, defendendo a utilização de instrumentos como o BIM. NC // Voltando à questão política, o senhor é a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff? JR // Não somos nem a favor, nem contra. Nós queremos é que a questão política seja resolvida o mais rapidamente possível, para que a economia volte a caminhar e para que o nosso setor possa ir pra frente. O sindicato não tem afiliação política, então não é nosso papel defender um lado ou outro dessa batalha. Que a pacificação política ocorra o quanto antes, para o bem do País. www.sindusconsp.com.br

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SINDUSCON-SP EM AÇÃO // ESPECIAL

2016.

UM ANO DE MUITO TRABALHO

JORGE ROSENBERG

O novo ano se iniciou da mesma forma que 2015 se encerrou: com o País mergulhado numa grave crise política que gerou efeitos perversos na economia. Extremamente exposto aos efeitos do cenário econômico, o setor da construção civil terá muitos desafios a superar em 2016. Nas páginas a seguir, mostramos o que cada área do SindusCon-SP planeja realizar para ajudar as empresas do setor a atravessar mais um ano, presumivelmente, de crise.

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FERRAMENTAS PARA O AUMENTO DA PRODUTIVIDADE, COM SUSTENTABILIDADE

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rancisco Vasconcellos, vice-presidente do SindusCon-SP, analisa que o Brasil voltou a viver tempos de escassez. “Escassez de recursos naturais, de recursos financeiros, de políticas de longo prazo”, enumera. “Estamos passando por situações que já tínhamos vivido no passado e, num primeiro momento, a sensação é de que todo esse período de bonança que vivemos nos últimos oito anos de alguma forma foi perdido”, afirma. “Mas não compartilhamos dessa visão. Esses oito anos serviram para mostrar que a construção é viável e está preparada para cumprir o seu papel de motor da economia do País, desde que alguns ajustes de rota, face às novas demandas, possam ser feitos.” O empresário cita a incorporação de conceitos ligados à sustentabilidade e ao aumento da produtividade na construção como os ajustes mais claramente necessários. “Estudo recente encomendado pelo SindusCon-SP à Fundação Getúlio Vargas demonstra que a produtividade do setor apresentou crescimento nesse período, mas relativamente às outras áreas da indústria cresceu menos”, observa Vasconcellos. “E se compararmos esse crescimento com a elevação da produtividade em outros países, a produtividade da construção civil brasileira também ficou atrás. Isso significa que a indústria da construção brasileira é hoje menos competitiva do que era há oito anos”, alerta. Para Vasconcellos, é obrigação do setor enfrentar essa realidade. “As empresas têm que passar por um choque de gestão”, defende. “A produtividade é influenciada por fatores externos à empresa – aspectos ligados à burocracia, à insegurança jurídica, à política e à conjuntura econômica influenciam –, mas também internamente as empresas precisam se aperfeiçoar”, afirma. Em 2016, o SindusCon-SP continuará o trabalho de “trazer para o ambiente da construção civil uma série de inovações, de técnicas de gestão e de conhecimento que são amplamente aplicados em outros setores da indústria, como a naval e a automobilística, para ser utilizado também pelas empresas da construção”. Vasconcellos explica que essa ação do sindicato se dá por meio de palestras, cursos e seminários, “para que essas técnicas sejam largamente difundidas”. Com relação à sustentabilidade, o empresário de-

Vasconcellos: construção viável e preparada para seu papel

fende que já não é mais uma coisa à parte do mercado da construção civil. “Apesar de não ser um conceito uniformemente espalhado por todo o Brasil, a sustentabilidade é hoje uma realidade. Não dá mais para falar em tecnologia e inovação na construção civil sem levar em conta os aspectos de sustentabilidade”, afirma. Neste ano, o SindusCon-SP irá “prosseguir no desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as construtoras para um melhor entendimento das necessidades e a incorporação do viés de sustentabilidade em suas obras”, informa Vasconcellos. “Numa direção, continuaremos trabalhando na melhoria na gestão de resíduos nas cidades”, afirma, em referência ao desenvolvimento do Sistema Estadual de Gerenciamento Online de Resíduos Sólidos (Sigor). Outra linha de trabalho importante é o desenvolvimento de ferramentas que possibilitem às empresas fazer os seus cálculos de emissão de CO2. “Esse cálculo deve ser previamente realizado na elaboração do projeto. E será fator de rescisão nas premissas adotadas”, explica Vasconcellos. A valorização da eficiência energética também estará em evidência em 2016. “Estamos atuando para que a incorporação da eficiência energética nos edifícios seja também uma coisa natural, seja uma prática difundida”, afirma. “Cabe ao SindusCon-SP dar ferramentas para que as empresas possam fazer suas análises e escolhas para incorporar a eficiência energética na definição de projetos.” www.sindusconsp.com.br

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SINDUSCON-SP EM AÇÃO // ESPECIAL

Estudos econômicos para decifrar um ano difícil Área de Economia irá publicar ao menos quatro grandes estudos

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a área de Economia, o SindusCon-SP deverá produzir, diretamente ou em parceria com outras instituições, ao menos quatro estudos de grande relevância. Esta já é uma tradição do sindicato. “Acabamos de divulgar um extenso estudo sobre produtividade, que ainda vai gerar desdobramentos ao longo deste ano”, afirma o vice -presidente da área, Eduardo May Zaidan. “Durante 2016, vamos acompanhar a conjuntura, fazendo as reuniões mensais, e, eventualmente, desenvolver outros trabalhos que se mostrem necessários”, prevê. Zaidan ressalta que o principal papel de sua vice-presidência é interpretar a conjuntura e suas influências sobre o setor, dando embasamento ao discurso econômico do sindicato. A área também dissemina conhecimento e informação de qualidade para auxiliar as empresas do setor na tomada de decisões. Por meio do www.sindusconsp.com.br, os principais indicadores econômicos e medidas do governo são acompanhados e é feito o monitoramento do que acontece no cenário internacional. O site reúne o maior banco de dados da construção civil do País e possui filtros que permitem que a busca de informações seja customizada pelo usuário. O empresário demonstra preocupação ao projetar 2016. “Será um ano diferente de 2015. Há muita cobrança para uma política de inflexão à esquerda. Só que o governo não pode fazer isso, pois custará muito caro lá na frente”, afirma. “Será preciso ter uma política muito clara, bem sinalizada, para reconquistar a confiança dos agentes privados.” Diante disso, 2016 será um ano ruim para o setor, prevê Zaidan. “A construção civil precisa de um ambiente econômico estável, controlado e previsível para que as decisões de investimento, que têm um longo tempo de maturação, sejam tomadas. Será um ano re-

Zaidan, sobre o emprego: “Ainda temos gordura para queimar”

sidual, as empresas continuarão a fazer o que já estão fazendo e a lançar apenas o estritamente necessário.” O setor público não tem espaço para investimento e o privado não tem ânimo para investir. Por sua vez, o investidor estrangeiro, enquanto estiver essa indefinição, virá para cá apenas marginalmente. “O Brasil é um país arriscado. Até oferece boas opções para investimentos, mas há outros países com oportunidades tão competitivas e menos risco”, ressalta. Em que pesem as quase 800 mil demissões de 2015, o País ainda não atingiu o limite do desemprego. “Infelizmente, ainda temos um cenário desalentador no futuro”, afirma Zaidan, pontuando que em 2005 o setor contabilizava 1,6 milhão de postos de trabalho e hoje, a despeito da crise, ainda emprega 2,9 milhões de profissionais. O empresário relembra os ganhos de produtividade, o surgimento de novas indústrias fornecendo produtos diversificados, o aumento da concorrência, a introdução de novas tecnologias e todo o aprendizado conquistado nos últimos anos para lamentar o retrocesso a que o setor está submetido. “É um desperdício, um desalento”, afirma.


SINDUSCON-SP

MARCOS SANTOS USP IMAGENS

Alunos de Engenharia da Escola Politécnica da USP participam de feira: SindusCon-SP prestará auxílio

UM ANO DE ABSOLUTO APRENDIZADO Sindicato intensificará trabalho de aproximação com as universidades

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o longo de 2016, o SindusCon-SP deverá focar em relações que rendam resultados de médio e longo prazos. É o que ressalta Maurício Bianchi, vice-presidente Institucional do sindicato. “Será um ano de absoluto aprendizado, em que as pessoas devem se aprimorar, estudar, evoluir, e nunca sentar para esperar a crise passar”, afirma. Entre as ações previstas para o ano, Bianchi destaca o trabalho, que já vem sendo realizado, de aproximação com as universidades. “Vamos levar o SindusCon-SP até elas e trazê-las para dentro do sindicato”, explica. Isso significa acompanhar a evolução dos alunos e facilitar o acesso às informações geradas e aos eventos realizados pelo sindicato. A ideia é colocar o SindusCon-SP à disposição dos estudantes e também dos professores, fazendo com que a parte prática da engenharia esteja a serviço da parte acadêmica. Ao mesmo tempo, o sindi-

Bianchi: “As pessoas devem se aprimorar, estudar e evoluir”

cato pretende fazer com que a produção acadêmica esteja a serviço da indústria da construção, para auxiliar no seu desenvolvimento, com inovação e qualidade. “É um ciclo virtuoso, no qual a indústria alimenta a academia e vice-versa”, explica. “Nosso desafio é consolidar o Grupo de Jovens Líderes do SindusCon-SP. Estamos formando lideranças para a indústria do amanhã, com conceitos, conhecimento, transparência e ética”, afirma. Por meio desse grupo, o sindicato tem o objetivo de servir como elo entre empresários, universidades e governo, atuando propositivamente na formatação de um novo modelo de construção, focado na produtividade a partir de três pilares: educação, sustentabilidade e tecnologia. Ações em favor do crescimento qualitativo do mercado da construção civil também estão na pauta. “Continuaremos a investir na melhoria da qualidade dos projetos”, acrescenta Bianchi. www.sindusconsp.com.br

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À ESPERA DO LANÇAMENTO DO MCMV3 Programa de habitação popular do governo federal é a grande esperança para a retomada da atividade do setor

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s maiores expectativas do segmento de habitação popular para 2016 estão concentradas no lançamento da fase 3 do Minha Casa, Minha Vida (MCMV3), no que se refere às faixas 1 e 1,5 do programa. “As faixas 2 e 3 do programa já estão operando desde janeiro, embora com reajustes muito baixos dos valores”, destaca o vice-presidente de Habitação Popular do SindusCon-SP, Ronaldo Cury. “Estamos ansiosos para o lançamento das faixas 1 e 1,5, que foi prometido pelo governo para ocorrer em março. Mas temos a informação de que alguns pontos importantes ainda não foram definidos”, afirma Cury. Entre esses pontos se incluem a definição quanto às condições de comercialização e ao orçamento global do programa, do que dependem aspectos como a quantidade de unidades a serem contratadas e seus preços de comercialização. Cury pondera que, para as empresas, 2016 “tem tudo para ser melhor que 2015, ano durante o qual não houve novas contratações”. Para isso, serão decisivas as condições finais do MCMV3. “O governo apresentou uma proposta ao setor e apontamos os pontos positivos e negativos. Agora, vamos ver o que virá de volta”, explica o empresário. A evolução dos debates é acompanhada pelo Gru-

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Cury: “O SindusCon-SP apoia, incentiva e auxilia o desenvolvimento das PPPs”

po de Trabalho de Habitação Popular do SindusCon-SP, que reúne todas as empresas interessadas em desenvolver empreendimentos no âmbito do MCMV. “Este ano, faremos 11 reuniões mensais e, em cada uma delas, traremos representantes de entidades do setor. Na reunião de fevereiro, contamos com a participação do vice-presidente de Habitação da Caixa Econômica Federal, Nelson Antonio de Souza”, ressalta. Os próximos encontros contarão com a presença de executivos de instituições como Banco do Brasil, Conselho Gestor do FGTS, CBIC e das secretarias de Habitação das esferas municipal, estadual e federal. Em 2016, a grande meta da área de Habitação Popular é avançar na solução de problemas operacionais. “O principal é nossa briga de sempre contra a burocracia. Tentaremos encontrar caminhos para simplificar as regras, para dessa forma reduzir custos e melhorar a eficiência”, afirma o empresário. “Do ponto de vista técnico, seguiremos com o desenvolvimento e o debate sobre normas e procedimentos que aprimorem e deem agilidade para a execução de novos empreendimentos e retrofits”, revela.

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SINDUSCON-SP EM AÇÃO // ESPECIAL


SETOR IMOBILIÁRIO DEVE ENFRENTAR DIFICULDADES EM 2016 Incertezas sobre o futuro acabam afetando a decisão de compra dos interessados por imóvel

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setor imobiliário deve continuar a sentir os fortes efeitos negativos da crise econômica que afeta o País no decorrer de 2016. As incertezas que pairam sobre o mercado e a instabilidade política são consideradas como os elementos principais para esse cenário de baixa expectativa, na avaliação do vice-presidente de Imobiliário do SindusCon-SP, Odair Senra. “Ninguém sabe o que vai acontecer no Brasil na semana que vem, quanto mais durante o ano com todo o nó político e econômico”, avalia. Senra considera que os esto-

ques elevados de imóveis poderiam representar uma ótima oportunidade para os potenciais compradores, mas observa que, embora a demanda reprimida seja enorme, as incertezas sobre o futuro acabam afetando a decisão de compra. “A disposição de fazer negócios está diretamente ligada à credibilidade e confiança da continuidade de emprego porque o comprador precisa assumir uma responsabilidade de longo prazo. Vai ser, sem dúvida, mais um ano de sacrifícios”. Ainda de acordo com o empresário, na cidade de São Paulo, a recente aprovação em primeira vo-

Senra: “Ninguém sabe o que vai acontecer no Brasil com todo o nó político e econômico”

tação do projeto de Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (LPUOS), mais conhecida como Lei de Zoneamento, também deve afetar o setor. Ele observa que a alteração no perfil do aproveitamento dos terrenos deve interferir diretamente no custo final dos imóveis. “Todos os estudos feitos pelo SindusCon-SP mostram que os imóveis enquadrados na nova legislação terão os preços dos terrenos e os custos de outorga para o aproveitamento máximo dos terrenos elevados, tendo em vista o critério definido para as diferentes zonas criadas, em especial dos eixos de transformação urbana.” Além desse aspecto, o Plano Diretor Estratégico, já aprovado, e Lei de Zoneamento – esta em fase final de aprovação – criam novas regras sobre vagas para estacionamento, fachada ativa, incentivo ao uso misto com acessos comuns, ampliação de calçadas por meio de doação, fruição pública, cálculo da outorga onerosa do direito de construir, cota máxima de terreno por unidade habitacional e cota de solidariedade, que contribuem para o encarecimento das futuras unidades. Para Senra, as obras em andamento terão continuidade em 2016 e a calmaria do mercado imobiliário gera oportunidades de melhorias na produtividade e na qualidade da execução nas construções. “O momento é de afinar os conceitos de produção e de produtividade, porque teremos um mercado mais calmo. As obras normalmente duram mais do que as crises, o que minimiza um pouco mais vantajoso para o construtor do que para o incorporador. O SindusCon-SP vai estar atento ao mercado imobiliário, não ocorrendo o mesmo com a atividade de incorporar.” www.sindusconsp.com.br

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SINDUSCON-SP EM AÇÃO // ESPECIAL

TECNOLOGIA PARA A REDUÇÃO DOS DESPERDÍCIOS Com a atividade econômica em baixa, empresas devem tentar obter ganhos de produtividade usando conceitos de sustentabilidade

Batlouni: “Temos que aproveitar este momento para implantar coisas novas”

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FOTOS: JORGE ROSENBERG

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redução de custos e o desenvolvimento de projetos mais eficazes e sustentáveis deverão ganhar mais ênfase no setor da construção civil em 2016. A adoção de novas metodologias que ajudem na redução do desperdício e a implantação de tecnologias que promovam o reaproveitamento de materiais também serão intensificadas nos canteiros de obras como forma de ajudar as empresas do setor a produzirem de forma mais inteligente e eficaz. “Temos que aproveitar este momento para implantar coisas novas. Como a atividade econômica tem estado em baixa, vamos aproveitar para tentar obter ganhos de produtividade, com o uso da tecnologia e dos conceitos de sustentabilidade”, afirma o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, Jorge Batlouni. “Vai ser um ano para colocar em prática tudo aquilo que aprendemos nos anos anteriores”, avalia Paulo Sanchez, também vice-presidente de Tecnologia e Qualidade. Segundo ele, muita incorporadoras e construtoras não devem lançar empreendimentos no decorrer de 2016. “Antes, a preocupação era lançar e vender. Agora, as empresas precisarão investir em preparação dos profissionais atuais, realizar cursos de reciclagem e desenvolver de novas tecnologias. Tudo isso


Seminário Internacional BIM é evento de destaque no calendário do CTQ

deve ser feito com foco na retomada do setor”, avalia. “O investimento em BIM já é um bom exemplo do que deve ser feito.” Batlouni ressalta que o sindicato tem dado orientações aos associados sobre os processos de melhoria da produtividade e de industrialização da cadeia produtiva. “Toda a parte de industrialização vai envolver a questão da sustentabilidade, com foco na redução do desperdício e da geração de resíduos e entulhos nas obras”, afirma. “Nós temos ainda um desafio, que é a norma de desempenho, que entrou em vigor no ano passado e já completou um ano”, declara. “O sindicato tem a obrigação de melhorar o nível técnico dos profissionais do setor da construção civil”, afirma Sanchez. “Continuaremos a desenvolver a Academia BIM e, em parceria com o CBIC, levaremos cursos para outros oito Estados”, ressalta. “O SindusCon-SP dará destaque aos seminários já tradicionais no nosso calendário, para colocar em debate os aspectos mais importantes de temas como instalações elétricas, normas técnicas, estrutura e BIM.”

Paulo Sanchez: “Empresas precisam desenvolver novas tecnologias”

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SINDUSCON-SP EM AÇÃO // ESPECIAL

Foco no combate aos efeitos do DESEMPREGO Programa de acolhimento aos trabalhadores que perderam emprego em 2015 será uma das principais ações do SindusCon-SP neste ano

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GABRIEL PEVIDE

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s áreas de Capital e Trabalho e de Responsabilidade Social do SindusCon-SP têm investido na capacitação e na orientação dos trabalhadores que perderam as suas posições de trabalho em consequência da crise econômica que aflige a economia brasileira. A medida foi adotada como forma de indicar novas possibilidades de reposicionamento no mercado e também para manter os profissionais do setor atualizados, conforme mostrado em reportagem publicada na edição nº 150 de Notícias da Construção. A mitigação dos efeitos da crise econômica será o grande objetivo desta área do sindicato ao longo deste ano. No âmbito do programa de acolhimento aos trabalhadores desempregados, as orientações têm sido passadas em forma de palestras e contam com o suporte do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil (Sintracon-SP), que é parceiro da iniciativa. “A expectativa é de que os trabalhadores possam se reinventar”, afirma o vice-presidente de Relações Capital e Trabalho do SindusCon-SP, Haruo Ishikawa.

Haruo: “Parceria para tentar passar para os trabalhadores dicas de como atravessar este período de turbulência”

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essa batalha. Precisamos fazer a nossa parte, promovendo a conscientização. É uma questão de mudança de cultura”, afirma Haruo.

JORGE ROSENBURG

INCLUSÃO DE PCDs

Falcão Bauer: é preciso cumprir a legislação com a inclusão de PCDs

“Fizemos essa parceria para tentar passar para os trabalhadores dicas de como atravessar este período de turbulência. Por exemplo: o trabalhador foi demitido e recebeu uma indenização relativa aos anos trabalhados. Tratamos sobre como ele pode direcionar esse capital recebido”, explica Haruo. “Além disso, estamos procurando capacitá-los para que possam se tornar empreendedores”, acrescenta. “O SindusCon-SP não pensa apenas no capital. Pensamos também no trabalho e no trabalhador”. O Programa SindusCon-SP de Segurança (PSS) continua entre as prioridades do sindicato em 2016. O PSS visa mostrar a importância da segurança e saúde do trabalho para o aumento da qualidade e produtividade, tendo como suporte legal às atividades previstas nas Normas Regulamentadoras sobre Segurança e Saúde do Trabalho vigentes no Brasil.

Uma das primeiras ações do ano é a campanha para mobilizar profissionais de saúde, com a organização de palestras de orientação para os trabalhadores, divulgação de vídeos educativos e cartazes com dicas de medidas de prevenção contra o Aedes aegypti, lançada em fevereiro. O material da campanha, que será distribuído nos canteiros de obra, está disponível no site www.sidusconsp.com.br para download. Os técnicos de segurança do trabalho do PSS estão sendo capacitados para orientar os trabalhadores dos canteiros das associadas para o combate ao mosquito. Ao final do treinamento será realizada a verificação e a avaliação prática de possíveis focos. O conhecimento também será replicado em eventos realizados pelo sindicato, como o ConstruSer e a Megasipat. “Com pequenas ações podemos vencer

A continuidade do trabalho de inclusão de Pessoas com Deficiência (PDCs) no setor da construção civil é outra prioridade do sindicato para o ano. “Temos agido no sentido de cumprir com cotas estabelecidas pela legislação atual com relação à inclusão de PCDs e ao programa Jovem Aprendiz”, ressalta Roberto José Falcão Bauer, vice-presidente de Trabalho e Responsabilidade Social do SindusCon-SP. “Temos dialogado com representantes dos órgãos de fiscalização para obter esclarecimentos sobre as características do nosso setor”, afirma. “Paralelamente, temos conversado com várias construtoras a respeito do assunto e realizado campanhas informativas e de sensibilização. Trata-se de uma questão de cidadania”, acrescenta. O empresário demonstra otimismo ao avaliar o futuro da construção civil. “Estamos vivendo tempos difíceis, mas isso vai mudar. Não será no curto ou médio prazos, mas precisamos estar preparados para quando isso ocorrer”, afirma. “Nós contamos com uma mão de obra que já está formada e precisamos investir em treinamento e capacitação dos estudantes que hoje estão cursando a cadeira de Engenharia nas universidades e que, em função do cenário econômico adverso, se sentem desmotivados”, avalia. “Estamos investindo na geração e na disseminação de conhecimento técnico para que eles estejam preparados para a atender as demandas do mercado”, finaliza Bauer. www.sindusconsp.com.br

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SINDUSCON-SP EM AÇÃO // ESPECIAL

APOSTA NAS PARCERIAS JORGE ROSENBERG

SindusCon-SP defende maior flexibilização da legislação para viabilizar participação de pequenas e médias empresas

Messias: “Pequenas e médias construtoras têm conhecimento tecnológico e de engenharia”

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PÚBLICO-PRIVADAS

DIVULGAÇÃO

Obras como as do monotrilho paulistano abrem boas oportunidades para a efetivação de PPPs

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incentivo ao desenvolvimento de parcerias público-privadas (PPPs) é visto pelo SindusCon-SP como uma das boas apostas para fazer deslanchar os projetos de infraestrutura no brasil. o sindicato tem procurado debater o assunto com outras entidades da área de construção civil em todo o País e defende uma flexibilização maior da legislação que viabilize a participação das pequenas e médias empresas em projetos estruturantes e de concessões. No último mês de novembro, o SindusCon-sP realizou um seminário para reunir especialistas e

debater o tema. A baixa capacidade de investimentos das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) para 2016 abre caminho para que a formação das parcerias se estabeleça como uma alternativa a ser priorizada pelo poder público. “Nós estamos trabalhando muito para que ocorra uma mudança forte na legislação e na mentalidade dos contratantes, para que as pequenas e médias empresas possam ocupar um espaço. Elas têm conhecimento tecnológico e de engenharia para fazer os projetos”, afirma o vice-presidente de Obras Públicas do SindusCon-SP, Luiz Antônio Messias, enfatizando que esta será a princi-

pal batalha em 2016 da área sob sua responsabilidade. O acesso ao financiamento ainda é um gargalo para as empresas de menor porte. Messias avalia que o modelo de concessões atual, que se baseia na oferta de garantias reais que envolvem o patrimônio das empresas, torna o processo muito restritivo para empresas menores. “O que a gente pretende é que esse financiamento possa ser feito por meio de project finance, tendo o próprio empreendimento como garantia. Para isso é preciso que o estado entre com o suporte de um fundo garantidor.” Messias defende ainda o respeito às regras estabelecidas durante os processos de formação das PPPs e concessões, como forma de manter a segurança jurídica dos contratos. “Para que a PPP funcione para as médias empresas, é preciso que o financiamento seja garantido pelo próprio projeto, que haja segurança jurídica e também que os projetos sejam divididos em fatias menores entre várias concessionárias. Esse fatiamento, desde que a capacidade técnica das participantes esteja comprovada, é eficaz, eficiente e aumenta a competitividade entre as empresas”, enumera. Outro grave problema para o setor é o atraso de pagamentos superiores a seis meses nos contratos do PAC. “As obras estão paralisadas e não existe obra mais cara do que aquela que não é concluída, pois além de deterioração, não cumpre as funções para que foram projetadas”, afirma Messias. www.sindusconsp.com.br

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SINDUSCON-SP EM AÇÃO // ESPECIAL

Trabalhar para manter as CONQUISTAS Atual momento de declínio econômico não pode comprometer o crescimento técnico já conquistado pelo setor da construção

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s empresas de construção civil do interior do Estado estão maduras tecnicamente e com suas funções administrativas estabilizadas. A avaliação é do vice-presidente de Interior do SindusCon-SP, Eduardo Carlos Rodrigues Nogueira. “Não podemos permitir que esse momento de declínio econômico, que já está no fim, comprometa o crescimento técnico já conquistado pelo setor”, aponta o empresário como o grande desafio a ser encarado em 2016. Segundo Nogueira, a região norte do Estado, mais especificamente o entorno de Ribeirão Preto, vive um bom momento com o reequilíbrio do setor sucroalcooleiro, fortíssimo para a economia regional. “Com isso, a indústria está voltando a apresentar bons resultados, impulsionando o comércio e a economia como um todo. Isso acrescenta força ao setor de construção civil”, analisa. “O trabalho do SindusCon-SP neste ano será no sentido de manter e ampliar as conquistas das empresas da região”, projeta. Luiz Claudio Amoroso, também vice-presidente de Interior, projeta que em 2016 o foco do trabalho do SindusCon-SP estará na continuidade do processo de melhoria das empresas de todo o Estado de São Paulo. “Em todos os encontros que temos no interior, vemos que é grande o interesse dos empresários em absorver o conhecimento disponível”, afirma. “Como sindicato, o nos-

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Amoroso: “Aproximação da diretoria do SindusCon-SP com o empresário do interior do Estado é fundamental para o desenvolvimento do setor”


RUBENS OKAMOTO

Nogueira: “Trabalho neste ano será no sentido de manter e ampliar as conquistas das empresas da região”

so desafio é diminuir as distâncias entre a capital e os diversos municípios.” Amoroso ressalta que o SindusCon-SP realiza, mensalmente, uma reunião plenária entre seus vice-presidentes e os diretores das Regionais, além de promover videoconferências para tratar de temas específicos, efetuando, dessa forma, o alinhamento das políticas institucionais com empresários de todo o Estado. A exemplo do que ocorreu em 2015, neste ano também serão promovidas reuniões plenárias adicionais no interior. Amoroso revela que em 2016 haverá encontro em cidades como Bauru e Presidente Prudente. “Essa aproximação da diretoria com o empresário do interior é fundamental”, aponta Amoroso. Com relação às perspectivas para o ano, Nogueira se queixa da insegurança política que tem causado a instabilidade econômica, porém se revela otimista. “Imagino que enquanto o nó político não for resolvido o setor de construção tende a manter-se instável. Mas, ao que tudo indica, neste primeiro semestre a situação política irá se resolver tornando o horizonte um pouco mais claro para o setor”, afirma. “Sendo assim, o segundo semestre, caso isso realmente aconteça, deverá ser um período de retomada nos lançamentos e de um cenário de estabilidade e normalidade para as empresas do interior.” Amoroso se mostra mais comedido. “Todos os indicadores apontam para um ano de difi-

culdades na economia, e o nosso setor é muito sensível à conjuntura do País”, analisa. Para ele, o SindusCon-SP terá o importante papel de auxiliar as empresas a atravessar este período com as menores perdas possíveis.

SINDUSCON-SP DÁ BOAS-VINDAS A SEUS NOVOS ASSOCIADOS Camila Construções Ltda. Enoch Construtora e Incorporadora Ltda. San Marino Negócios Imobiliários Ltda. Smart Mão de Obra e Equipamentos Ltda. Habitaz Serviços de Crédito Ltda. Com a participação de vocês, vamos fortalecer ainda mais o nosso setor. Contem sempre conosco!

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FOTOS: JORGE ROSENBERG

SINDUSCON-SP EM AÇÃO // ESPECIAL

Tadeu Navarro: “Vamos realizar a formalização interna do Código de Ética e Comportamento do SindusCon-SP”

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA PAUTA DO CONSELHO JURÍDICO Centro de Mediação deverá estar instalado já em março para auxiliar os associados na busca de soluções sem o envolvimento do Judiciário

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m 2016, o Conselho Jurídico do SindusCon-SP tem a expectativa de ampliar ainda mais a interação com as demais áreas do sindicato e aprofundar a discussão dos temas de alto interesse dos associados, propiciando mais seminários e informações atualizadas através dos diversos meios de comunicação da entidade. O coordenador do conselho, Alexandre Tadeu Navarro, destaca a instalação do Centro de Mediação, disponibilizando aos associados esse importantíssimo meio de solução de conflitos e disputas. A previsão é de que os serviços passem a estar disponíveis no próximo mês de abril. A mediação é tida como uma relação que proporciona a conversação entre as partes envolvidas num conflito, facilitando o surgimento de uma solução para o problema apresentado. Isso é mais eficaz, pois

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evita a judicialização do conflito. A solução surge sem que o Judiciário, que está sobrecarregado de processos e por isso é lento nas respostas, seja demandado. “Além disso, vamos realizar a formalização interna do Código de Ética e Comportamento do SindusCon-SP, incluindo as práticas anticorrupção, bem como a amplificação da divulgação da importância da criação desses mecanismos de compliance pelas empresas associadas”, relata Navarro. O advogado prevê que esse trabalho esteja concluído ainda em março. Outro ponto de destaque na agenda do Conselho Jurídico é a realização do seminário sobre as novas regras do Código de Processo Civil. “Iremos debater sua importância cotidiana para as empresas do setor”, afirma Navarro. “Além disso, vamos realizar diversos seminários na sede e nas regionais para divulgação e esclarecimentos sobre os procedimentos de mediação”, adianta.


CTQ nomeia Yorki Estefan para coordenação

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engenheiro civil Yorki Estefan, diretor da Conx Construtora e Incorporadora, foi eleito coordenador do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ) do SindusCon-SP, a partir de janeiro de 2016. Estefan já era membro do comitê e representante da entidade no Consórcio Setorial para Inovação em Tecnologia de Revestimentos de Argamassa (Consitra). O engenheiro civil Renato Genioli Jr., diretor da R. Yazbek Desenvolvimento Imobiliário, agora é o coordenador adjunto do CTQ. “Temos um trabalho enorme para ser desenvolvido. Vamos iniciar com a criação de um conselho formado pelos ex-coordenadores (Francisco Vasconcellos, Jorge Batlouni, Maurício Bianchi e Paulo Sanchez) para estabelecer os rumos estratégicos do CTQ”, afirma Estefan. Segundo ele, o esforço do CTQ será dedicado ao aumento da competitividade setorial buscando angariar recursos que seriam destinados a outras atividades produtivas. “A construção tem que ser capaz de competir com outros mercados e atrair recursos”, explica.


ENZO BERTOLINI

SINDUSCON-SP EM AÇÃO

Romeu Ferraz e Fernando Haddad no encontro realizado no gabinete do prefeito paulistano em janeiro último

Justiça acata tese do SindusCon-SP e suspende vinculação do Habite-se ao ISS Juiz profere sentença definitiva no Mandado de Segurança Coletivo

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SindusCon-SP obteve mais uma importante decisão positiva na Justiça, a primeira em uma ação coletiva. Foi suspensa a exigência de comprovação de quitação de Imposto sobre Serviços (ISS) para a emissão do Habite-se. O juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, Marcelo Sergio, proferiu sentença definitiva no Mandado de Segurança Coletivo no dia 12 de fevereiro, reconhecendo a demanda do setor. “A decisão ratifica e reforça o reconhecimento da nossa posição pelo Judiciário”, afirma o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto. “Nossa expectativa é que a prefeitura se mova no sentido de pacificar o assunto.” No fim de janeiro, Romeu Ferraz se encontrou com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para tratar do assunto. O SindusCon-SP propôs ao prefeito a formação de um Grupo de Trabalho (GT) com in-

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tegrantes das duas instituições para a resolução do tema, que traz prejuízos para as construtoras e, em caso de judicialização, para o município. “Ao longo de muitos anos, alertamos a Prefeitura de São Paulo sobre o quanto essa vinculação do ISS ao Habite-se estava prejudicando a construção civil, e quanto isto era pernicioso para o setor”, destacou o presidente do SindusCon-SP à época. A sentença é válida para as 23 empresas que participaram da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) do sindicato ocorrida em 8 de dezembro de 2014. O sindicato vai tomar as providências para que a decisão abranja todos os seus associados. “Nós não queremos aumentar o litígio, mas resolver de maneira definitiva”, afirma o coordenador do Conselho Jurídico do SindusCon-SP, Alexandre Tadeu Navarro. A prefeitura ainda pode recorrer.


JORGE ROSENBERG

Em reunião na sede do SindusCon-SP, em fevereiro, membros do CTQ discutem nova plataforma tecnológica

Competitividade da construção em pauta

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m um momento de estagnação econômica e de ausência de novos projetos, o SindusCon-SP, por meio do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ), está em fase final de desenvolvimento de uma ferramenta exclusiva para os seus associados que vai auxiliar no aumento da produtividade das empresas. Segundo o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, Jorge Batlouni, “esta plataforma vai suprir demandas existentes no setor”.

“Não temos nada igual no Brasil e terá um impacto significativo nos negócios de nossos associados.” A novidade vai proporcionar redução de custos em novos projetos e racionalização do tempo em suas ações. “As empresas do setor terão acesso a informações exclusivas e privilegiadas que darão a elas mais assertividade em projetos, aumentando sua competitividade”, acrescenta o também vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, Paulo Sanchez.


FOTO DO MÊS // JANEIRO/FEVEREIRO 2016

ÚNICO GUARULHOS Em um terreno de 117 mil metros quadrados à beira da Rodovia Ayrton Senna, dando de frente para uma importante avenida de Guarulhos, na Grande São Paulo, o condomínio Único Guarulhos foi viabilizado com recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). São 3.080 unidades de 44 ou 45 metros quadrados, distribuídas em 21 torres. A construção e incorporação esteve a cargo da Cury Construtora e Incorporadora Ltda., que concluiu o projeto em 2013. O Único Guarulhos se diferencia dos demais empreendimentos do MCMV por oferecer a seus moradores uma ampla área de lazer com mais de 100 itens, entre eles cinco playgrounds, 20 churrasqueiras, seis salões de jogos, biblioteca, pista de caminhada, três piscinas, brinquedoteca e oito praças de convivência. Foi vencedor do Prêmio Master Imobiliário de 2010, na categoria Comercialização, e de 2012, na categoria Empreendimento.

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ALEXANDRE JAFO

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CAPA

CRISE PÚBLICA, SOLUCÕES PRIVADAS Lideranças da cadeia produtiva da construção civil aguardam reação do governo federal, cuja falta de credibilidade impede o investimento privado e freia o crescimento da economia. Ajuste fiscal é tido como o ponto central para o início do fim da crise, que virá essencialmente pelo investimento do setor privado

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diagnóstico é claro e consensual: para as lideranças do setor da construção, a crise econômica na qual o País está mergulhado decorre da fragilidade do governo federal, tanto do ponto de vista administrativo – o que aponta para a incapacidade de gestão da máquina pública e de programas governamentais – quanto do ponto de vista político – o que se traduz pelos conflitos com o Legislativo e os desdobramentos de escândalos de corrupção na mira do Judiciário. Acuado, o governo sofre de falta de credibilidade. A pouca clareza com relação aos rumos a tomar na condução da política econômica, somada à má gestão dos recursos públicos, é a causa

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de mazelas que os agentes econômicos e a população sofrem, como inflação, desemprego em alta e negócios em baixa. “O problema político entre Executivo e Legislativo está afetando o País. Esse problema, aliado à crise de confiança na capacidade do governo em equilibrar as contas públicas, provocou a recessão. Para o nosso setor, é devastador. Estamos sendo muito afetados”, resume o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto [veja mais na Entrevista do Mês, às páginas 6 a 9]. “O governo perdeu a credibilidade, os empresários não têm confiança para investir e as pessoas não têm confiança para consumir. É uma pirâmide que desaba”,

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completa o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. “A crise está afetando a demanda da indústria, eliminando empregos, desestimulando a geração de negócios e, consequentemente, novos empregos”, afirma. Há consenso sobre a saída da crise. Os empresários apontam o ajuste fiscal como medida primeira para mudar o panorama de deterioração da economia. QUAL AJUSTE? O problema, avaliam as lideranças, é que o governo aponta um caminho que vai na contramão dos reais interesses do País. “O ajuste em curso está baseado no aumento e na criação de impostos, numa


“AS AÇÕES PARA REVERSÃO DO QUADRO DEVEM SE BASEAR NO INCENTIVO À INDUSTRIALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES” PAULO SKAF

JUNIOR RUIZ/FIESP

Presidente da Fiesp

lógica invertida, que não corrige as distorções nos gastos públicos”, afirma o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins. “É preciso enxugar o tamanho da máquina e rever os gastos obrigatórios do governo. Sem uma reforma efetiva nessa direção, não será possível resgatar a capacidade de investimento do Estado. E é disso que o Brasil precisa”, acredita. “Os investimentos na área da construção civil somente retornarão quando o governo tiver um plano coerente com o crescimento e uma boa gestão dos recursos públicos. É isso que lhe trará credibilidade. Enquanto não houver clareza dos caminhos a seguir, os

investimentos não irão acontecer”, pondera Miriam Addor, presidente da Associação Brasileira de Engenheiros e Arquitetos (Asbea). “As propostas de ajuste fiscal têm de ser sérias e efetivas. Em sentido amplo, o Brasil precisa ser passado a limpo, ser repensado, reestruturado. Vivemos em constante insegurança jurídica, e isso atrapalha não só os negócios imobiliários, mas todos os setores produtivos”, analisa Flavio Amary, presidente do Secovi-SP (Sindicato da Habitação). Sufocados pela alta carga tributária, os empresários clamam pela diminuição do tamanho do Estado. “O redimensionamento do Estado é fundamental para

o nosso setor. É preciso reduzir o custeio, eliminar as amarras de despesas obrigatórias nos orçamentos e dispor dos ativos que só representam ônus para o setor público”, enumera o presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), Luciano Amadio Filho. “Tais medidas representariam, de fato, um importante sinal para o mercado, trazendo de volta o interesse e a segurança para os investidores privados”, afirma. Mas para chegar à redução do Estado, conforme ressalta Amary, “não basta extinguir um ou outro ministério”. Ele defende a ideia de que o atual cenário “pede seriedade para promover as reformas tributária, administrativa, política e previdenciária”. Por sua vez, Amadio considera esta última inadiável, por ser “um verdadeiro ralo de recursos que poderiam estar voltados ao investimento”. Miriam chama a atenção para as outras esferas de governo. “Os planos de desenvolvimento e gestão dos Estados e municípios devem ser totalmente independentes para que os investimentos www.sindusconsp.com.br

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NITRO IMAGENS

DIVULGAÇÃO SECOVI-SP/CALÃO JORGE

CAPA

“AS PROPOSTAS DE AJUSTE FISCAL TÊM DE SER SÉRIAS E EFETIVAS. O PAÍS PRECISA SER PASSADO A LIMPO”

“RESOLVER O PROBLEMA DO FUNDING TRABALHANDO NO DESENVOLVIMENTO DAS LETRAS IMOBILIÁRIAS GARANTIDAS”

FLAVIO AMARY

RUBENS MENIN

Presidente do Secovi-SP

em infraestrutura e crescimento das cidades possam ser contínuos e não interrompidos a cada mudança de gestão política. Este tipo de atitude deverá transformar o Estado no menor possível e, desta forma, facilitar sua operação e gestão”, afirma. OS DESAFIOS DO SETOR EM 2016 Para Rubens Menin, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), as empresas do setor têm dois problemas estratégicos a resolver em 2016. “O primeiro problema é o funding. Precisamos trabalhar, por exemplo, no desenvolvimento das Letras Imobiliárias Garantidas”, propõe. O outro problema são os distratos. “Ainda não existe, no País, uma legislação própria para isso.

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Presidente da Abrainc

Vamos trabalhar com todos os segmentos para chegar a uma norma que deixe claras as relações de consumo na aquisição de imóveis”, diz. “É preciso resolver essa questão para incorporadoras e adquirentes de forma equânime e justa”, aponta Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). A retomada dos negócios depende, em maior ou menor grau, do que o governo vier a fazer ao longo do ano. “É preciso adotar medidas que melhorem o ambiente de negócios, abram mais mercado para as empresas e recuperem a capacidade de investimento”, defende Martins. “Temos dialogado com o governo na direção de ações que reduzam a burocracia, deem mais previsibilidade às regras. E apontamos o programa

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de concessões como um vetor importante nesse processo. Levamos propostas de aperfeiçoamento da modelagem dos projetos de forma que mais empresas possam entrar”, revela. “O governo deve criar mecanismos de incentivo à exportação de serviços de engenharia e construção, especialmente para os países do Mercosul”, sugere Cover. A quitação do passivo também é citada pelos empresários entre as providências que o governo precisa tomar. “O setor da construção civil demitiu, em 2015, 483 mil trabalhadores e, para evitar novas demissões, o governo federal tem de pagar os quase R$ 7 bilhões que deve às empresas que apostaram no programa Minha Casa, Minha Vida”, defende Amary. O mesmo vale para a área de obras públicas, na qual a retoma-


DIVULGAÇÃO/ABRAMAT

DIVULGAÇÃO CBIC/PAULO NEGREIROS

“O AJUSTE ESTÁ BASEADO NUMA LÓGICA INVERTIDA, QUE NÃO CORRIGE AS DISTORÇÕES NOS GASTOS PÚBLICOS”

“O GOVERNO DEVE CRIAR MECANISMOS DE INCENTIVO À EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO”

JOSÉ CARLOS MARTINS

WALTER COVER

Presidente da CBIC

da do crescimento depende fundamentalmente de ações estruturantes que, a médio prazo, resultem na melhoria das condições de investimentos públicos e privados. Porém, “no curto prazo lutamos para priorizar os pagamentos em atraso, que hoje, na esfera federal, totalizam quase R$ 7 bilhões”, cobra Amadio. Segundo ele, neste ano a Apeop está engajada em outra importante batalha. “Lutaremos para que os editais permitam a participação de mais empresas e queremos que, além da União, os Estados e municípios viabilizem programas consistentes de concessões e PPPs”, explica. “São medidas possíveis e que já darão algum alento ao setor.” O presidente da Fiesp vai além. “As ações para reversão do quadro deverão ser baseadas no incentivo à industrialização das

Presidente da Abramat

atividades da construção, na redução de ineficiências produtivas, na qualificação profissional, no investimento em novos métodos construtivos e na correção de distorções tributárias”, afirma Skaf. Para isso, segundo ele, “o investimento em inovação é essencial”. Menin, que cobra do governo a definição das regras da terceira fase do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV3) o quanto antes, diz que o setor produtivo deve se unir e fazer uso da criatividade. “Estamos negociando com o governo um novo modelo de negócios para o setor imobiliário, no qual o comprador de um imóvel vendido na planta possa se tornar proprietário desde o momento zero. Essa é uma das formas de melhorar o financiamento do setor.” O presidente da Abrainc é um

dos menos pessimistas ao avaliar as perspectivas para 2016. “Vai ser um ano muito difícil para o Brasil como um todo, mas o setor da construção vai se recuperar mais rápido – na crise de 2008 foi o primeiro a voltar”, afirma. “Os fundamentos do setor são fortes”, acredita. No entanto, para a retomada se concretizar, ressalta Romeu Ferraz, é fundamental uma mudança de postura. “O governo tem de parar de atrapalhar. É preciso ter segurança para se planejar e realizar o investimento”. As possibilidades de uma surpresa positiva vêm de fora da gestão federal. “O setor privado brasileiro é altamente criativo, altamente realizador e empreendedor”, afirma o presidente do SindusCon-SP. PAULO LIMA


REGIONAL

POLÍTICA CONTURBADA E ECONOMIA FRACA AFETAM

A CONFIANCA DO INTERIOR

EDSON LOPES JR/A2 IMAGEM

Dirigentes das Regionais do SindusCon-SP e gestores públicos das áreas de habitação e desenvolvimento urbano põem em dúvida as possibilidades de 2016 ser um bom ano

Governador Geraldo Alckmin visita obras do Trevo de Amarais, na Rodovia D. Pedro I, região de Campinas

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DIVULGAÇÃO/PMS

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panorama econômico brasileiro, abalado pela baixa perspectiva de recuperação aliada ao ambiente político conturbado, gera dúvidas sobre a capacidade de o País retomar o rumo do crescimento ainda em 2016. Para o setor da construção civil, um dos primeiros a ser afetado pela forte desaceleração, o momento requer a adoção de medidas governamentais que estimulem a cadeia produtiva e facilitem o acesso ao crédito ao empreendedor e ao consumidor final. No interior, essa esperança de retomada encontra uma sinalização positiva numa avaliação feita pelo Boston Consulting Group. De acordo com a consultoria americana, em 2015, as cidades do interior seriam responsáveis por 45% do aumento do consumo brasileiro ainda nesta década. A pedido de Notícias da Construção, essa luz no fim do túnel foi analisada pelos diretores das Regionais do SindusCon-SP e por representantes do poder público, que elencaram as medidas a serem tomadas no curto, médio e longo prazos para reaquecer o setor da construção. Em Campinas, a palavra cautela vem sendo empregada quando o assunto envolve novos lançamentos. De acordo com o diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP, Márcio Benvenutti, o maior problema a enfrentar é o momento político, que gerou uma crise institucional no País e afetou fortemente o setor da construção civil. “Mesmo assim, estamos confiantes de que tudo pode melhorar e o mercado reagir. Em Campinas há ações da administração municipal, como a nova legislação ambiental, que foi simplificada para a aprovação de empreendimentos imobiliários, uma demanda antiga do SindusCon-SP”, diz Benvenutti.

Santos tem projeto para desafogar o trânsito na entrada da cidade

A lei foi sancionada no início do ano e garante que os alvarás de aprovação dos empreendimentos, a primeira etapa da autorização de uma obra, sejam emitidos sem licença ambiental prévia. A secretária municipal de Habitação e diretora-presidente da Cohab-Campinas, Ana Maria Minniti Amoroso, também avalia que o setor da construção civil está diante de um cenário estagnado, que só poderá voltar aos patamares anteriores a partir do aumento dos investimentos em obras no País, com maior participação das parcerias público-privadas, para suprir a grande demanda por moradias populares. Na cidade de Santo André, na região do Grande ABC, o diretor da Regional, Sergio Ferreira Santos, e o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação do município, Paulo Piagentini, estão em sintonia no que se refere à necessidade de gerar um maior acesso ao crédito e de promover a redução dos juros. “Precisamos de uma maior participação do governo na liberação dos pagamentos que não estão ocorrendo, numa maior oferta de finan-

ciamentos, com facilidade de crédito e diminuição da taxa de juros, propiciando, inicialmente, a manutenção dos empregos, e, posteriormente, com o setor readquirindo confiança, o início de novas obras, retomando o desenvolvimento pretendido”, avalia Ferreira. “Uma questão específica seria a redução de juros. O Brasil continua com uma taxa de juros alta, que inibe o setor empresarial para novos investimentos e inibe o consumidor ao consumo. Tivemos o exemplo da redução de impostos na área automobilística e da facilidade de crédito para aquisição de automóveis, o que levou a um grande consumo de veículos. Isso poderia ser aplicado ao nosso setor”, diz o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Santo André. PLANO DIRETOR ATRAVANCA O SETOR EM BAURU; RIBEIRÃO PRETO APONTA O ENTRAVE DO CUSTO BRASIL Na cidade de Bauru, um dos principais pleitos da Regional nas soluções de curto prazo envolve o Plano Diretor, ainda pendente em alguns www.sindusconsp.com.br

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REGIONAL

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MCMV em Santo André: importante para a manutenção de empregos

DIVULGAÇÃO/PAC

pontos. Para o diretor da Regional do SindusCon-SP, Ricardo Aragão, a questão precisa ser tratada com agilidade. “No caso específico de Bauru, é emergencial a regulamentação dos dispositivos previstos no Plano Diretor, aprovado em 2009, e até hoje não regulamentados, além da desburocratização do processo de aprovação de empreendimentos no município. O SindusCon -SP está dedicado a analisar, por exemplo, a Lei de Uso e Ocupação do Solo em conjunto com outras entidades, associados, empresários e a Seplan”, afirma. Segundo o secretário municipal de Planejamento, Antônio Grillo Neto, as medidas mais imediatas foram tomadas pela prefeitura de Bauru com a aprovação do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) e do Termo de Referência Técnico (TRT), que o regulamenta, “os quais mostram os impactos negativos ou positivos que os novos empreendimentos vão gerar, podendo ser mitigados de forma mais contundente pelo poder público”. Grillo afirma que a nova Lei de Uso e Ocupação do Solo vai transformar a cidade numa grande zona mista. “A aprovação da nova lei para ordenar o crescimento urbano, a Lei da Expansão do Perímetro Urbano de novos empreendimentos e o Pano de Mobilidade Urbana convergem na área da construção civil para a retomada do crescimento econômico da cidade”, explica. Em Ribeirão Preto, o diretor da Regional do SindusCon-SP, Fernando Paoliello Junqueira, avalia que a questão da falta de confiança tem sido determinante no comportamento da população. Segundo ele, o País precisa realizar uma grande reforma, sem interferência política, que inclua as questões fiscais, “a

diminuição de ministérios e cortes nos custos do setor público”. Para ele, “é preciso fazer um combate eficaz à inflação, que está muito alta e trouxe de volta os juros hoje praticados a patamares elevadíssimos. Temos que iniciar, também, algumas reformas constitucionais, como nas áreas tributária, previdenciária e trabalhista, que aumentam a cada dia o Custo Brasil.” CENÁRIO POLÍTICO AFETA A CREDIBILIDADE Na avaliação do diretor da Regional de Santos, Ricardo Beschizza, a descrença no setor político, a Operação Lava Jato e os reflexos da baixa atividade econômica mundial também são componentes de peso e não geram expectativas positivas. “Enquanto o cenário atual não for modificado, não vejo o que pode ser feito para a retomada do desenvolvimento do setor. Por exemplo, não adianta pedir mais crédito. Mesmo com crédito disponível, não há quem o tome. Com o desemprego se aproximando dos 10%,

notícias da construção // jan/fev 2016

as pessoas evitam o endividamento”, afirma. “O crédito deve, sim, ser liberado para a infraestrutura, o que cria novos postos de trabalho. Isso não soluciona as dificuldades enfrentadas pelo setor, mas ameniza”, sentencia Beschizza. Apesar desse cenário pouco favorável, o secretário municipal de Infraestrutura e Edificações da prefeitura de Santos, Ângelo José da Costa Filho, afirma que a cidade vai investir para estimular o setor da construção com obras de valor estimado em R$ 215 milhões, voltadas para resolver problemas de mobilidade urbana. “As obras incluem pontes e viadutos, pavimentação, drenagem, iluminação, passeios acessíveis, nova sinalização semafórica e mobiliário urbano. A primeira etapa, com duas licitações em andamento, soma R$ 39,2 milhões e tem previsão de início para este semestre”, informa Costa Filho. Em Presidente Prudente, o secretário de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Habitação, Laércio Batista de Alcântara, co-


REPÓRTER UNESP

Em Bauru, o Plano Diretor precisa ser regulamentado

memora o fato de a indústria da construção não ter deixado de se desenvolver. “Ano passado, por exemplo, aprovamos quatro novos loteamentos. Temos outros 12 em análise e pré-análise, o que totaliza aproximadamente mais 5 mil novos lotes em Presidente Prudente, desde loteamentos fechados até os mais simples”, enumera. No entanto, como toda cidade,

Prudente também enfrentou problemas de repasse de verbas federais. “Na habitação popular não tivemos esse problema, porque conseguimos finalizar as obras antes do bloqueio. Mas tivemos o Centro Olímpico, que está orçado em mais de R$ 30 milhões, que começou as obras e está parado, além de unidades de saúde e de escolas”, revela. O governo municipal do norte

paulista ajuda a dinamizar a economia realizando um expressivo investimento em mobilidade urbana. “São R$ 35 milhões de financiamento, que já estão disponibilizados e representam um grande investimento que irá mudar a cara da cidade no que tange aos acessos e novas vias”, afirma Alcântara. GLAUCO FIGUEIREDO

GLAUCO FIGUEIREDO

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INDICADORES // ANÁLISE

O pessimismo da construção

N

o primeiro mês do ano, as sondagens empresariais da FGV apontaram que a percepção dominante continua sendo bastante negativa tanto em relação à situação corrente dos negócios quando às expectativas para os próximos meses. Esse quadro é generalizado, ou seja, o pessimismo une todos. No entanto, na comparação entre as atividades, a construção se destaca por apresentar em janeiro o pior indicador de confiança. Além de mais pessimistas, os empresários da construção foram os que acusaram a maior deterioração da confiança nos últimos dois anos. Estimativas da FGV apontam que em 2015 o PIB setorial apresentou uma retração da ordem de 8%. Vale lembrar que, em 2013, o setor ainda registrou crescimento de 4,5%, encerrando o ciclo de crescimento que levou o PIB setorial a registrar uma expansão acumulada de 62%. A guinada brusca da atividade explica a queda expressiva da confiança do empresário da construção em todos os segmentos. Há dois anos, a escassez de mão de obra qualificada ainda era o principal problema para o setor. Em janeiro de 2016, a falta de demanda é assinalada pelas empresas como a principal limitação para a retomada do crescimento, e menos de 10% dos empresários

consultados na sondagem da construção mostraram-se preocupados com a mão de obra. O mercado de trabalho refletiu essa mudança de cenário. O saldo de contratações (admissões menos demissões) tornou-se negativo desde outubro de 2014. Em 2015, pela primeira vez desde o início da série histórica, as demissões prevaleceram em todos os meses do ano. Ao final de 2015, o saldo líquido negativo alcançou 483 mil trabalhadores,

A GUINADA BRUSCA DA ATIVIDADE EXPLICA A QUEDA EXPRESSIVA DA CONFIANÇA DO EMPRESÁRIO e o total de empregos retrocedeu ao patamar do início de 2010. A sondagem mostrou também que houve redução forte na carteira de contratos das empresas, que alcançou o pior patamar da pesquisa, iniciada em julho de 2010. Como os ciclos de produção no setor são relativamente longos, isso significa que a atividade que está em queda não tem perspectivas de retomada nos próximos meses. Dessa forma, a intenção de contratar novos trabalhadores

ANA MARIA CASTELO

nos próximos meses também se mantém baixa. Esses números alimentam as projeções para o PIB da construção em 2016, que deverá ter nova retração de 5%. Portanto, o pessimismo setorial tem fortes fundamentos. No entanto ele não pode ser uma camisa de força para as empresas. O crescimento chinês do período 2007 a 2013 encontrou grandes dificuldades de sustentação em boa parte em decorrência da baixa produtividade setorial. Estudo da FGV para o SindusCon-SP mostrou que essa baixa produtividade tem causas internas, relacionadas à gestão das empresas, e causas externas. Até mesmo as empresas maiores e mais organizadas esbarraram em dificuldades relacionadas à burocracia excessiva, que continuou a permear a economia e ao aumento de custos. As enormes necessidades do País, seja na habitação ou na infraestrutura, mostram que o caminho da retomada passa pelo setor, mas para isso é fundamental que as empresas continuem o esforço iniciado de elevar a produtividade. Melhorar a gestão e caminhar para a industrialização deve ser mais do que nunca um objetivo a unir pequenas e grandes empresas. A agenda da produtividade é ampla, mas tem que ser abraçada como único meio para se conseguir nova guinada para o crescimento.

Mestre em Economia pela USP, professora no MBA da Construção e coordenadora de projetos na FGV, coeditora da revista Conjuntura da Construção e consultora especialista em construção

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notícias da construção // jan/fev 2016


INDICADORES Emprego na construção paulista por Regional SindusCon-SP Estoque de empregados, participação % e variações - dez/2015 Regionais

Estoque

Sede (capital)

346.607

Particip.

*Variação (%)

*Variação absoluta

(%)

Mês*

Ano

12 meses

Mês*

Ano

12 meses

46,06

-2,82

-7,25

-11,41

-10.055

-44.624

-44.624

Santo André

42.049

5,59

-2,50

-9,95

-9,02

-1.077

-4.169

-4.169

Campinas

79.166

10,52

-3,67

-15,99

-9,40

-3.013

-8.215

-8.215

Ribeirão Preto

47.592

6,32

-2,64

-9,31

-9,95

-1.293

-5.256

-5.256

Santos

26.825

3,56

-3,35

-8,63

-13,08

-931

-4.036

-4.036

Sorocaba

80.620

10,71

-3,08

-9,40

-8,63

-2.565

-7.613

-7.613

São José dos Campos

69.490

9,23

-3,37

-6,37

-9,31

-2.421

-7.130

-7.130

Bauru

23.119

3,07

-3,86

-9,02

-7,25

-929

-1.808

-1.808

São José do Rio Preto

28.401

3,77

-4,24

-11,41

-6,37

-1.256

-1.933

-1.933

8.608

1,14

-4,26

-13,08

-15,99

-383

-1.638

-1.638

752.477

100,00

-3,08

-10,30

-10,30

-23.923

-86.422

-86.422

Presidente Prudente Total

Emprego na construção paulista por setores Estoque de empregados, participação % e variações - dez/2015 Segmento

Estoque

Particip. (%)

Preparação de terreno

*Variação (%) Mês*

Ano

*Variação absoluta 12 meses

Mês*

Ano

12 meses

33.597

4,46

-3,58

-11,80

-11,80

-1.247

-4.493

-4.493

Imobiliário

225.641

29,99

-4,11

-13,27

-13,27

-9.676

-34.509

-34.509

Infraestrutura

101.261

13,46

-2,38

-6,51

-6,51

-2.465

-7.046

-7.046

Obras de instalação

123.620

16,43

-3,00

-10,47

-10,47

-3.829

-14.451

-14.451

68.493

9,10

-2,67

-9,01

-9,01

-1.881

-6.782

-6.782

552.612

73,44

-3,34

-10,85

-10,85

-19.098

-67.281

-67.281

Incorporação de imóveis

67.419

8,96

-2,30

-6,40

-6,40

-1.585

-4.607

-4.607

Engenharia e arquitetura

81.632

10,85

-1,81

-11,01

-11,01

-1.508

-10.101

-10.101

Outros serviços

50.814

6,75

-3,30

-8,02

-8,02

-1.732

-4.433

-4.433

Serviços

199.865

26,56

-2,36

-8,74

-8,74

-4.825

-19.141

-19.141

Total

752.477

100,00

-3,08

-10,30

-10,30

-23.923

-86.422

-86.422

Obras de acabamento Obras

* Variação: Ano - Acumulado no ano contra o mesmo período do ano anterior; 12 meses - Variação do mês contra o mesmo mês do ano anterior

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O portal do SindusCon-SP agora abriga o Construdata – maior banco de dados econômicos da construção brasileira.


OPINIÃO

Momento para a inovação tecnológica do Ministério das Cidades, as novas especificações para os programas de habitação de interesse social, baseadas na norma ABNT NBR 15.575. Este é o momento para construtoras revisarem seus projetos, processos executivos e controles para os tornarem mais racionalizados, eficientes e adequados aos níveis de desempenho lá especificados. Nesse processo de revisão, não deve ser esquecida a versão de 2015 da NBR 9.050.

“DESAFIO ESTÁ EM SOBREVIVER À CRISE ECONÔMICA SEM DEIXAR DE OLHAR PARA O FUTURO” Deve-se lembrar, também, que todas as normas técnicas da ABNT continuam em vigor. Vender materiais e produtos conformes e construir edificações que atendam aos níveis mínimos de desempenho de toda a normalização é uma obrigação. Dessa forma, programas setoriais da qualidade, programas de certificação de produtos, voluntários e, principalmente, os compulsórios, devem ter continuidade. Nessa mesma linha de raciocínio, destaca-se que, nos últimos cinco

FULVIO VITTORINO

Doutor em Engenharia Mecânica pela USP, diretor do Centro Tecnológico do Ambiente Construído, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT-USP)

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notícias da construção // jan/fev 2016

anos, vários Estados criaram ou aprimoraram suas legislações de segurança contra incêndio com base na regulamentação paulista, que tem caráter fortemente objetivo, baseada em resultados de ensaios laboratoriais. Vale ressaltar que a NBR 15.575 não se aplica apenas às habitações de interesse social, mas a todo o setor habitacional, e é voltada para o desempenho da edificação na condição em que ela será entregue ao usuário. Ela não cancela as normas específicas dos produtos. Isso faz com que se deva investir em conhecer o desempenho dos produtos em condições de final da obra. Não basta, por exemplo, olhar isoladamente o bloco de vedação, mas ter dados do desempenho potencial em uso, quando a alvenaria tiver sido executada. A carência de laboratórios de ensaio de desempenho começa a ser eliminada com investimentos feitos nos últimos anos tanto pelo setor privado quanto pela Finep/ MDIC, que está iniciando a estruturação de uma rede Sibratec sobre o tema. Sempre que se atravessa uma dificuldade, saímos dela mais maduros e isso não é diferente na questão tecnológica. O desafio está em sobreviver à crise econômica sem deixar de olhar para o futuro. DIVULGAÇÃO

A

s previsões feitas por economistas, que estão apresentadas em jornais de grande circulação diária, noticiários de TV, sítios da internet etc. retratam um ano de 2016 com comportamento semelhante ao de 2015, que, como todos sentimos, foi de forte queda na atividade econômica. Apesar desse quadro, as ações de cunho tecnológico não podem ser simplesmente canceladas ou adiadas até que a crise passe. Pelo contrário, é nos momentos de crise que mais se deve inovar. Obviamente, não se pode manter o nível de investimentos em inovação, principalmente naquelas ditas disruptivas, que se pratica durante os momentos de plena demanda. Contudo, manter atividades de inovação incremental, que geram rápidos ganhos de produtividade, é fundamental. Essa é a oportunidade de se quebrar, de forma inteligente, os paradigmas: “Quando se está construindo muito, não há tempo para se preocupar com inovação e quando há tempo disponível para as equipes, não há recursos monetários”. Apesar da crise, deve-se lembrar que ainda há um déficit habitacional expressivo no País e que há compromisso e empenho governamentais para a sua redução. Já estão disponíveis, no sítio


NOVIDADES DO MERCADO

Experiência interativa na busca por soluções em drywall

FOTOS: DIVULGAÇÃO

A Placo, indústria de drywall, comemora o sucesso do lançamento do seu aplicativo para celular, o Placoteca. O aplicativo permite o acesso a uma biblioteca completa de vídeos institucionais e de instalação do sistema construtivo drywall, além de manuais, portfólio de produtos e a carta de serviços da Placo. Tudo isso em um ambiente dinâmico e interativo. Lançado há pouco mais de nove meses, registrou, no último trimestre de 2015, um aumento de 60% no número de downloads e está disponível tanto para a plataforma Android como para iOS.

ANDAIME MULTIDIRECIONAL DE ENCAIXE RÁPIDO

Planex substitui o compensado O Sistema Planex para laje plana é uma inovação que a Atex oferece para as construtoras. O produto elimina problemas de descarte de madeira durante e no final da construção. Fabricadas em plástico de alto desempenho, as fôrmas podem ser ligadas umas às outras por meio de travas, formando módulos múltiplos de 60 cm. O conceito é substituir a utilização do compensado de madeira na concretagem das lajes maciças por fôrmas em plástico. Uma paginação do projeto estrutural é elaborada de modo a eliminar ao máximo a utilização de fôrma de madeira em cada vão. O Planex é apoiado diretamente sobre barrotes da mesma maneira que o compensado.

A Altura Andaimes oferece às construtoras um modelo de andaime com sistema de encaixe rápido e seguro que dispensa a utilização de parafusos. O produto permite a escolha de conexões em qualquer ângulo necessário, com travamento de segurança, além de montagens em diversos formatos, níveis e direções. A versatilidade e a praticidade do sistema permitem que a instalação seja realizada em locais onde a tecnologia convencional não pode ser usada, oferecendo maior rapidez, economia, simplicidade e segurança. O equipamento é galvanizado e composto por um menor número de peças, o que garante maior vida útil, reduz a área de armazenagem e facilita o frete.

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CLASSIFICADOS

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CLASSIFICADOS



OPINIÃO

A inovação do bem

1

Saber que inovação depende de uma abertura das lideranças – Não há um ambiente inovativo sem que os líderes aceitem

experimentar o novo e permitam que as pessoas acrescentem as ações inovadoras no cotidiano.

traz muitos ganhos imediatos de competitividade, torna processos e produtos mais rentáveis.

2

4

Utilizar o potencial das pessoas as torna mais importantes e humaniza o ambiente, por isso inovação afeta positivamente o clima organizacional – Quando cada um dá mais de suas habilidades para solucionar obstáculos, acrescentar ganhos

“EM MEIO À CRISE, ENCONTRAMOS A INOVAÇÃO FAZENDO O BEM, JÁ QUE VEM DAS PESSOAS E DAS SUAS CAPACIDADES MAIS BEM-EMPREGADAS” de performance ou melhorar algum processo ou produto, está sendo empoderado como pessoa e, quando reconhecido, se sente mais importante, promovendo bem-estar imediato.

3

A inovação ultrapassa uma área e não pode ficar confinada a ela, como em PD&I (pesquisa, desenvolvimento e inovação) – A cultura de inovação

CELSO BRAGA

Empresário, idealizador do prêmio “O Melhor da Inovação”, autor do livro Inovação: diálogos sobre a prática

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notícias da construção // jan/fev 2016

Inovação depende de uma dedicação e um conhecimento específico, por isso é muito mais fácil para quem está diretamente envolvido no dia a dia de um processo ser o provocador da inovação – As pessoas têm de ser consideradas como a fonte das inovações no cotidiano por estarem próximas aos elementos essenciais para inovar.

5

Todos podem inovar – É preciso que a inovação seja valorizada como comportamento organizacional para que todos sejam incentivados a utilizar o máximo de suas potencialidades no momento de perceber possibilidades de aumento de performance e competitividade.

Afinal, em meio à crise, encontramos a inovação fazendo o bem, já que vem das pessoas e das suas capacidades mais bem-empregadas. Em minhas discussões com empresários, CEOs, presidentes, diretores e outras pessoas, ninguém nega que a ideia pode ser viral e nos trazer tempos melhores nos quais o bem maior é produzido com as pessoas. DIVULGAÇÃO

E

m meio a uma grave crise econômica e política, ainda há tempo para discutir o que pode nos fazer bem como país e como pessoas. Somos um país de gente que inova, se reinventa e não há o que aconteça que não possamos superar. As empresas procuram neste momento um modo de se reinventar para enfrentar o cenário que estamos vivendo e que pode durar alguns anos. Há mesmo um consenso de que teremos tempos difíceis pela frente e que precisamos nos apegar a algo. A verdade é que a inovação como tema vem ganhando notoriedade nos países desde a crise de 2008, e países e empresas a assumiram. Não se trata de um caso isolado; depois que o World Economic Forum identifica inovação como elemento-chave para a competitividade, todos a aceitam incontestavelmente. E o Brasil está cada vez mais neste contexto. Já que estamos animados com a inovação, temos que ter em mente chaves para o sucesso inovativo, e elas são cinco:




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