ENS - Equipes Novas 1977-8

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EQUIPES NOVAS

CARTA No

EQUIPES

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DE NOSSA SENHORA

SÃO PAULO -

1977


A palavra doce multiplica os amigos, e a lĂ­ngua afĂĄvel produz abundantes frutos. Vive na amizade com muitos, mas seja teu conselheiro um entre mil. Nada se pode comparar a um amigo fiel, quem o encontrou, encontrou um Tesouro. Livro do ECLESIASTICO


EDITORIAL

GRUPOS DE COMBATE

Há meses, um padre meu amigo comunicava-me, com toda a simplicidade e franqueza, as suas objeções contra as Equipes de Nossa Senhora. "Por que não deixam às equipes toda a iniciativa? Por que lhes impõem temas de estudo, uma disciplina, métodos?" Discutimos sobre isso durante muito tempo. E por fim .. . cada um ficou nas suas posições. Jogo nulo. Depois a nossa conversa tomou outros rumos. Revelou-me que acabava de entrar para uma associação sacerdotal. Abro um parêntesis, porque desconhecem sem dúvida o que quer dizer "associação sacerdotal". Padres diocesanoo que ficam nos seus lugares de párocos, vigários, capelães ... que estão à disposição do seu bispo, como todos os seus confrades, unem-se num agrupamento para aí encontrarem os socorros espirituais de que têm necessidade. Não vivem juntos mas estão ligados por um ideal comum de santidade sacerdotal, por uma mesma regra de vida, por uma amizade fraterna. Alguns entram logo que saem do seminário. Mais numerosos são aqueles que pensam nisso passados alguns anos de ministério. Tendo já dura experiência da solidão e da liberdade, tendo sentido a sua fraqueza , tendo visto à sua volta confrades que se instalam na mediocridade, descobrem a importância de não estarem sós ao travar o combate pela santidade sacerdotal. Aspiram a uma disciplina desejam um controle fraterno, compreendem a segurança de uma união feita de solidariedade. l!: nesse momento que estão prontos a entrar para uma família sacerdotal. -3-


Mn.s a lei da solidariedade não é apenas ser ajudado; é também sustentar os outros. É este duplo fim que o padre procura quando se liga a uma fam!lia sacerdotal. Fecho o parêntesis e volto ao meu interlocutor. Sem dar por isso, acabava de me dar o melhor argumento para justificar as Equipes de Nossa Senhora. "As no.ssas equipes, fiz-lhe notar, são para os casais, de certa maneira, o que a a.ssociação sacerdotal é para o padre. Quando um casal, derejando viver integralmente o seu cristianismo, sofre com a sua solidão . verifica que as boas resoluções ficam, a maior parte das vezes sem continuidade e sem efeito; quando teme, como tantos outros, deixar-se envolver pela rotina, pelo materialismo, pela sensualidade, então volta-se para as Equipes de Nossa Senhora e está apto a compreender a sua razão de ser e a tirar proveito das suas exigências". I rá queixar-se da sua disciplina? Mas é dela que tem maior necessidade. Um enquadramento, uma regra, uma entreajuda e um controle fraterno, é o que lhe fazia falta, é o que procurava, é o que encontra nas Equipes. Descobre nelas também - o que não é a menor alegria - a maneira de dar apoio a casais que, com ele pedem à amizade cristã a força para caminhar para a perfeição cristã. Quis voltar a estas noções fundamentais. Porque importa que estejamos perfeitamente de acordo acerca do que pensamos, queremos e procuramos. Ainda com mais convicção que no dia em que o escrevia pela primeira vez, pen.so que "as Equipes não devem ser refúgio para adultos bem intencionados mas sim, grupos de combate compostos unicamente por voluntários", cujos membros procuram com pertinácia aprofundar o seu cristianismo, a fim de o viverem sem restrição na familia, na profissão, na sociedade. HENRI CAFFAREL

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PARA QUE O VOSSO AMOR VIVA ...

"Quem não avança, recua!" "Quem não prospera, arruina-se!". Também as5im será no vosso amor, se... Deus não o permita! A vida de equipe, onde cada casal recebe apoio para evitar o desfalecimento (ver as páginas do Dever de Sentar-se, carta 3. e sobre o qual voltamos a falar agora, nas páginas 13 a 17 tem, entre outros objetivos, o de servir o amor de cada um dos casais) . Eis a seguir dois textos que são um convite para superarem a si mesmos e assim viverem melhor o seu amor. O SEGUNDO AMOR O matrimônio não é apenas a realização do amor imediato que une o homem e a mulher, mas a lenta. transformação de ambos ao contacto da experiência comum. No seu desabrochar o amor não vê ainda esta realidade. o entusiasmo dos sentidos e do coração impede que se tome consciência. dela, cobre-a de um véu e envolve-a numa atmosfera de sonho e de eternidade. 11: pouco a pouco que ela vai atravessando esta bruma, quando cada um vê os hábitos diários, as deficiências as faltas do outro. Se aceita então o seu companheiro tal como é, numa aceitação sempre renovada e através de todas as decepções; se são dois a levar tanto as alegrias e penas da vida quotidiana como os grandes acontecimentos da vida, diante de Deus e com a força de Deus, desenvolve-se então pouco a pouco o segundo amor, o verdadeiro mistério do matrimônio. Assim como a maturidade supera a juventude e o coração que sabe renunciar supera o -li-


coração que só sabe abrir-se e expandir, assim também este segundo amor sobrepuja o primeiro. Surge então algo de grande que é fruto de muitos sacrifícios e renúncias . No matrimônio é preciso muita energia profunda fidelidade, coração corajow, para não se tornar joguete das paixões ilusórias, da covardia, do egoísmo e do espírito de domlnio . ROMANO GUARDINI UMA RELAÇAO QUE DEUS QUER

Conservar na medida do possível toda a grandeza e pureza do amor, a sua vivacidade e profundidade mantê-lo sempre desperto é um dever que começa para os dois esposos logo que o casamento se realiza. 1!: diflcil conservar a imagem do outro com aquela claridade e brilho maravilhoso com que se revelou no amor, porque a nossa preguiça. o nosso embotamento, a nossa continua tendência para ficar à superfície das coisas perturbam o olhar. Temos obrigação de lutar contra isto. Peca-se contra o templo que edificámos no matrimônio e, em certo sentido, já se ofende a fidelidade devida ao cônjuge quando se deixa de o ver à verdadeira luz do significado profundo do seu ser, para o olhar como às outras pessoas, por fora . Aos que só concebem o amor conjugal como a embriaguez dos sentidos, parece natural que o amor desapareça com o tempo deixando apenas a amizade entre os esposos . Nós, porém ao pensarmos que este amor conjugal Implica a posse profunda do outro. e ao considerá-lo como a relação querida por Deus no matrimônio, compreendemos facilmente que é preciso lutar contra o seu enfraquecimento, com o mesmo empenho com que, num sentido incomparavelmente mais alto é verdade, precisamos nos esforçar por manter sempre desperto, preservando-o de qualquer tibieza, o nosso amor por Jesus Cristo. DIETRICH VON HILDEBRAND

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VIDA DE EQUIPE

LEIS DA VIDA DE EQUIPE

"Porque conhecem a própria fraqueza e a limitação das próprias forças, como também da boa vontade que os anima. . . decidiram unir-se em equipe", está escrito nos Estatutos. Mas quais são as grandes leis da vida em equipe? Vamos encontrá-las a seguir, expostas pelo Rvmo. Padre Caffarel.

Hoje é minha intenção vir lembrar-vos algumas das leis da vida de equipe. Regulam o bom andamento da vossa equipe e, por isso, o vosso progresso cristão. Não me venham, entretanto, dizer: "Que importância tem a maior ou menor coesão, a maior ou menor perfeição da nossa equipe? O essencial é o benefício que tiramos das nossas reuniões" . Se só importam as aquisições intelectuais, para que se hão de formar equipes? Um circulo de estudos, uma palestra por alguma "competência." fariam o mesmo efeito, senão melhor. O essencial, é precisamente jogar o jogo de equipe, da equipe cristã porque é Isso que combate o nosso velho individualismo e o elimina pouco a pouco, porque é lEso que nos faz ascender a maior amor fraterno, a mais perfeita entreajuda espiritual. porque é isso que realiza esta "ecclesia", esta. "assembléia de Deus" à qual Cristo prometeu a Sua presença: "Quando dois ou três estiverem reunidos em Meu Nome, Eu estarei no melo de vós". Também penso que, de todas as obrigações dos Estatutos, a mais importante é exatamente essa

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de formar equipes e de jogar francamente o jogo. Acabo de dizer "jogar francamente o jogo". Será necessário entretanto conhecer bem este jogo de equipe. Eis as suas leis fundamentais.

CONHECER E DAR-SE A CONHECER - Importa conhecer os outros: sem isso é impossível amá-los com amor verdadeiro e ajudá-los eficazmente. Conhecer o seu contexto, se assim posso dizer, contexto familiar. profissional e social. Apoios e dificuldades que encontram, responsabilidades que assumem ou deveriam assumir . Conhecer o que forma a sua personalidade: as grandes orientações de seu pensar, seus gostos, aptidões, caráter. Pressentir (não digo conhecer) o seu mistério pessoal. Realmente, cada um de nós é filho de Deus único, em que está encerrado um tesouro, ou seja o gérmem de uma santidade única, cujo desenvolvimento ou aniquilamento decidirá a sua vida. Não é fácil conhecer assim os outros. ll: preciso atenção extrema, perspicaz, "clarividente", que é uma qualidade, direi quase uma faculdade do amor . Qualidade que exige, na parte negativa, estar livre de si mesmo e na parte positiva esta graça prometida por Ezequiel em nome de Deus: "Porei o Meu olhar no Teu Coração" . Esta atenção, que provém do amor leva ao amor. a um amor maior. Permitindo descobrir as riquezas de um ser, suscita a admiração que desperta o amor. Provoca a piedade ao revelar-nos as suas penas, as suas imperfeições, os seus defeitos. Não aquela condescendência altiva e desdenhosa a que alguns pretendem reduzir a piedade, mas uma piedade que desperta a afeição e a dedicação. -8-


Esta atenção faz milagres, faz nascer fontes, amadurecer colheitas, faz surgir a personalidade humana e cristã de um ser. - Seria inútil convidar os membros de uma equipe a conhecerem os outros, se, em contrapartida, não forem convidados a dar-se a conhecer. ll: uma coisa totalmente diferente do falar de si, de se exibir, formas habituais de egoísmo pretensioso. J!: o dom de si. Como para qualquer dom de si, é preciso vencer a preguiça e a avareza do coração, falso pudor e individualismo ciumento. E isto é uma grande virtude. Dar-se a conhecer poderá ser confessar uma indigência, uma nec~sidade, dar a perceber que uma ajuda seria bem-vinda.

Um amigo meu trouxe-me certo dia triunfante, aquilo a que chamava de definição do Lionês (realmente o meu segundo pecado original é ser natural de Lion) : "Fica-se reduzido a imaginá-lo cheio de perfume, mas renuncia-se a abri-lo". Jogar o jogo da equipe, é dar aos outros o seu perfume (ou pelo menos um saca-rolhas). TOMAR A CARGO E DEIXAR-SE TOMAR A CARGO

- Amar não é sentir uma emoção mais ou menos agradável na presença de um ser, mas prometer a si mesmo não poupar nada - não se poupar - a fim de lhe permitir o seu desenvolvimento humano e cristão. Será preciso ajudá-lo a realizar os seus talentos - que se soube descobrir. E para esta realização ele tem necessidade da nossa fé nele, dos nossos encorajamentos, das nossas experiências e que o ajudemos também a tomar consciência do que deve retificar, transformar, corrigir, do que tem de adquirir. Cumprir a lei de Cristo é levar os fardos uns dos outros, escrevia S. Paulo aos Gálatas. Os fardos materiais e os -9-


fardos espirituais, a preocupação deste homem que perdeu o seu emprego, o esforço daquele para aprender a rezar, o desencorajamento deste casal que não consegue a sua união, esta dor sem nome de pais que tem um filho anormal . .. Uma só palavra diz isto tudo mas usa-se tanto que fica vazia do seu magn!fico significado: devotar-te, votar-se aos seus irmãos como se se vota a Deus. - Devotar-se aos outros é sinal de verdadeiro amor fraterno, permitir a dedicação dos outros é sinal de amor fraterno ainda maior. Como todas as coisas grandes pode degenerar em indolência: há mendingos profissionais e nem todos são andrajosos. A esses é preciso chamá-los a um são orgulho. Mais numerosos são aqueles a quem é preciso chamar a uma sã humildade: saber pedir à equipe a sua ajuda. Seis de uma equipe que é das mais unidas na caridade de Cristo desde que um dos casais, não sem dificuldades, resolveu confiar aos outros a confusa situação profissional que o levava à falência financeira e conjugal. Ao "não quero ficar a dever-lhe nada" dos individualistas do mundo, o cristão opõe a sua alegria de reconhecer: "devo-lhe tanto". DAR E PEDIR

Tornastes a cargo os membros de vossa equipe e vos sentis responsáveis (em parte) pela sua realização humana e cristã. Precisais agora trabalhar neste sentido, dando-lhe, dando-vos. Mesmo que fosseis os mais pobres, o que tendes para dar é infinito. porquanto aquilo de que mais necessitam aqueles que nos rodeiam não são os nossos bens mas nós próprios. E este dom é também o mais diffcil de realizar. "O meu coração está preso com um elástico; sempre que o dou, volta outra vez": exprimia-se desta maneira, na confissão, um -lO-


homem que queria fazer-me compreender o seu egoi&mo. l!: difícil, é fatigante doar-se, estar sempre disponível aos outros. Disponível, sem dúvida, para lhes prestar um serviço material, mas acima de tudo esse serviço de preço bem superior que con::.iste em lhes oferecer um coração atento, compreensiv.o, encorajador que inspira confiança, que sabe dizer a verdade, que ousa .exigir. Há outro dom ainda mais precioso. São raros os que vão até lá . Refiro-me a essa vida de Deus em nós que é a nossa principal riqueza e de que somos tão avaros. Quer se trate de avareza ou de pudor, ou de respeito humano, o fato é que essa vida fica aprisionada em cada um de nós. "Sairão deles rios de água viva", dizia Cristo falando dos discípulos que haviam de vir. Mas os dlsclpulos fecham as comportas! Há. uma perfeição cristã da dádiva: é o sacrifício. "Não há maior amor do que dar a vida por aqueles a quem amamos". A vida de equipe exige muitas vezes que se sacrifiquem gostos, vontades, preferências pessoais. Recuar perante a exigência é enfraquecer o amor. l!: recusar o maior beneficio que podemos esperar da equipe: que nos faça morrer para nós mesmos - Cristo surge no homem que morre. Uma equipe periga quando falta nos seus membros o espírito de sacrifício. - Recusar pedir, se não é orgulho, é desprezo pelos outros: não lhes damos a honra de acreditar que têm riquezas, ou pelo menos que têm amor suficiente para as partilhar. E nada esperar dos seres é destrui-los . As nossas dádivas acabarão por oprimi-los se não apelarmos para suas riquezas. Sabeis pedir na equipe uma opinião um conselho, um serviço material ou espiritual? Solicitar eventualmente deste casal da equipe aquilo a que se chamou no Movimento, à falta de melhor termo, "a correção fraterna": para que ele vos diga o que pode notar em vós que lhe parece não estar na melhor forma: que talvez escapa aos vossos olhos, em que talvez os outros tenham reparado e de que falam na vossa -11-


ausência? Com esta correção fraterna atingimos um dos pontos máximos da amizade cristã. E é grande a minha alegria quando posso verüicar que esta prática contribuiu prodigiosamente para o desenvolvimento cristão de um casal.

QUERER O BEM COMUM - Fazer passar o bem de outro à frente do seu é a lei do amor fraterno. Fazer passar o bem da equipe à frente de tudo é a lei do bem comum. é o grande critério ao qual cada um se deve reportar . Aquilo que possa prejudicar o equilfbrio, a wlidez, o fervor, a alegria da equipe, eu o rejeito; pelo contrário, procuro tudo o que pode contribuir para o progress·o desta equipe de que me sinto responsável. ~ preciso que ela se torne um triunfo de caridade; logo. quero procurar ativamente tudo o que possa contribuir para uma oração mais intensa para uma "partilha" mais leal e educativa, para um pôr em comum mais rico, para uma entreajuda material e espiritual mais generosa, para uma troca de idéias que seja procura mais ativa do pensamento de Deus. "Conservai a paz entre vós . Nós vo-lo recomendamos, irmãos, repreende! os ociosos, animal os tímidos, amparai os fracos, tende paciência com todos. Procurai fazer sempre o bem, seja entre vós, seja com todos" . (1

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T es. 5 13-15)


OS MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO

O DEVER DE SENTAR-SE

Já se tratou do Dever de Sentar-se na Carta nQ 3. Esperamos que já tenham comunicado as próprias experiências à equipe, evidentemente com aquela reserva que devem ter pela intimidade do casal. Os testemunhos que se seguem podem ajudá-los a melhor estruturação e ser fonte de progresso em profundidade. UM ESQUEMA

"Eis como se desenrola habitualmente o nosso dever de sentar-se. Rápida preparação da próxima reunião mensal: da partilha, das intenções para a oração, da co-participação. Exame dos problemas familiares e sociais: vida escolar dos filhos, dificuldades de um dos filhos cuja adolescência se aproxima, a nossa paciência para com ele , etc.; a oração familiar, a vida de fé dos filhos; os assunto.s apostólicos (deveremos tomar este compromisso, renunciar àquele outro? Quem nos deverá substituir?), profissionais; as férias, etc .. . Em que ponto está no nosso amor conjugal (plano psicológico, físico , espiritual. . . ?) Com mais ou menos facilidade, cada um reconhece os seus erros e tenta compreender o ponto de vista do outro . Temos tendência para nos acharmos mais culpados nós próprios do que o outro, o que não é, sem dúvida, um dos benefícios de menos importância do dever de sen-13-


tar-se feito na presença de Deus. Desde o principio, aliás, que temos o costume de vir para o dever de sentar-se em estado de espírito mais penitente do que reivindicativo; vemos nisso um fruto das graças do matrimônio. Exame das resoluções anotadas no final do dever de sentar-se anterior. Foram de fato cumpridas? Será necessário retomá-las ou mudá-las? Tomamos nota, em suma, apenas de uma ou duas resoluções (não devem ser muitas; a multiplicação acabaria por as anular) sobre pontos precisos, resoluções comuns aos dois ou pessoais, segundo os casos . Exemplos: esforço de paciência para com um dos filhos, não falhar a meditação diária, trocar as nossas opiniões sobre as leituras pessoais".

O MOMENTO IMPORTANTE DUMA SÉRIE DE "MICRO-D.D . S."

"Antes mesmo de pertencermos às Equipes de Nossa Senhora, tínhamos o hábito de trocar impressões com freqüência, por exemplo enquanto lavávamos em conjunto a louça (momento privilegiado!) ou antes de adormecer, ou durante as refeições antes de as crianças tomarem parte nelas. . . E a prova disso é que quando nos falaram pela primeira vez no dever de sentar-se, exclamamos os dois: "Mas nós já o fazemos muitas vezes ao dia!" Na verdade, ainda não tínhamos compreendido bem que é sob o olhar de Deus que se faz o dever de sentar-se. No entanto es't;Jl obrigação mensal foi sempre para nós o momento principal, a recapitulação de uma série de pequenos deveres de sentar-se feitos ao longo dos dias. Não é para nós um momento particular, especial, especificamente diferente do resto do míls. Diluído ao longo das semanas, o dever de sentar-se cristaliza-se uma vez por mês.

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Finalmente queremos dizer-lhes que, na maioria das vezes, o dever de sentar-se que fazemos durante o retiro anual, constitui o balanço, o centro dos deveres de sentar-se feitos ao longo do ano. Esta é uma prova suplementar de que as obrigações não se justapõem nem são estranhas umas às outras, mas pelo contrário estão ligadas formando como que uma rede, uma armadura, que confere à nossa vida espiritual coerência e firmeza - se esta repousar bem em Cristo". AMANDO-NOS COMO CRISTO NOS AMA

"0 dever de sentar-se é uma das obrigações que defendemos sempre com ardor porque pudemos apreciar freqüentemente como a sua prática nos aproxima ao mesmo tempo um do outro e os dois juntos de Deus. Não quer dizer que ignoremos as suas dificuldades ou mesmo o perigo de petrificar algumas de nossas divergências. Mas acreditamos que estes inconvenientes só aparecem quando não nos chegamos a pôr profundamente e com a maior lealdade na presença de Deus. O dever de sentar-se não é como qualquer outra obrigação que se pode cumprir validamente mesmo se o nosso "eu" profundo não adere totalmente. Aqui isso não pode acontecer. Trata-se de dom total, de abertura inteiramente sincera. Para conseguirmos isto o meio mais seguro que encontramos foi o de começar o dever de sentar-se por uma oração pessoal de cada um em voz alta, como na reunião de equipe. Lsto provoca já a abertura de um para com o outro e cria o clima espiritual de humildade e de caridade indispensáveis para o bom êxito do nosso dever de sentar-se. Por vezes não coru:eguimos atingir este estado de alma (abertura e acolhimento) como, noutras, nos é inacess!vel a meditação . Não vale a pena nessa altura insistirmos. A solução será, sem dúvida, adiar para outro dia o dever de sentar-se ou. se isso for imposs!vel, fazê-lo apenas sob forma mais fácil, à base duma troca de idéias ou do estudo de al-15-


guns assuntos de ordem mais prática. Sempre que insistimos em criar o "clima favorável", o nosso dever de sentar-se foi um fracasso. Pelo contrário, nas ocasiões em que, através da oração e duma certa calma interior, conseguimos atingir uma espécie de "estado de graça" do nosso amor, encontramo-nos verdadeiramente como filhos de Deus, que se amam como Cristo nos ama, quer dizer, desejosos de nos ajudarmos na nossa procura do Pai e prontos a acolher com alegria e humildade todos os conselhos e ajudas". DESCOBRIR CRISTO ATUANDO NO LAR

"Temos cinco anos de ·equipe. 1!: certo que a princípio andamos a tatear. Tivemos também deveres de s-entar-se bastante agitados. Mas desde há três anos adotamos um esquema que nos tem dado ótimos resultados. o que permitiu que tivéssemos deveres de sentar-se ricos e profundos. Ao mesmo tempo que estabelecemos este esquema, tomamos a seguinte resolução: o dever de sentar-se tendo sido criado para nos fazer descobrir a Cristo atuando e falando ao casal teríamos que ouvir o outro sem tentarmos nos justificar. O outro é Cristo que nos fala. Por exemplo: tenho um caráter fogoso e irritadiço. A minha mulher tem-me dito muitas vezes que sofre com as minhas reações demasiado espontâneas; saber que fazemos o outro sofrer leva-nos a um esforço para tornarmos o nosso amor mais concreto, para o manifestarmos. Voltemos ao nosso dever de sentar-se. A primeira pergunta que fazemos, todos os meses é esta: "Como vai a nossa vida espiritual?" Esta pergunta coloca-nos em atitude de doação e de acolhimento, de estar atento ao Senhor que atua no outro. Podemos dizer que a mediação alimenta esta parte do dever de -16-


sentar-se, que nos obriga a fazer em primeiro lugar, um exame da nossa própria vida espiritual e a exprimi-la, o que tem a vantagem de nos fazer tomar consciência do esforço realizado. Temos um e outro - como, certamente, muitos casais duas espiritualldades düerentes. Através do dever de sentar-se, tomam contacto, interpenetram-se, ·enriquecem-se mutuamente em vez de se oporem. Temos então consciência de que procuramos o Senhor em conjunto, e de que construimos o nosso lar segundo o plano que Ele quer. Podemos citar dois exemplos em que a nossa troca de Impressões acerca do ponto acima mencionado permitiu progresso. Tendo tido um de nós uma baixa espiritual, esta pôde ser vencida. O diálogo permitiu-lhe compreender em espírito de fé o sentido do sofrimento que o atormentava . O amor conjugal exigia que um desse apoio ao outro durante meses e a expressão "espirltualidade conjugal" tomou para nós todo o seu sentido. Segundo exemplo: um de nós tem dificuldade em manter o ritmo mensal da confissão. Reconhecê-lo perante o outro, ouvir o outro falar nos beneficios que ela lhe traz, consentir em ser controlado, ajudado pelo outro, permitiu-nos colocar este sacramento no seu verdadeiro lugar" .

* "1!: necessário que amemos mais e mais os nossos filh0s de uma maneira sobrenatural, ou melhor, que seja a caridade de Deus a moldar o nosso amor paternal e maternal. Seria preciso que f&:semos outro Cristo para eles amando-os em Deus, levando-os Nele; procurando. antes de tudo o mais, o seu bem espiritual; sendo para eles os redentores, e, se necessário, carregando a cruz para que eles vivam. Amar segundo Deus, é amar melhor". A. CIDSTIAN -

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VALE COMO ...

"No domingo passado faltei à missa. Como sabia que de manhã, por razões sérias, não seria possivel ir, pensei fazê-lo à tarde, depois de passear com os pequenos. A volta eis que ficamos presos num "engarrafamento" imprevisto ... Duras horas de atraso! Fiz meia hora de oração. Essa oração "vale como missa dominical?" Se um dos vossos amigos lhes falar assim, não hesitais em lhe dizer que a oração não "vale como" missa mas que não é culpado em faltar à missa por ter sido impedido contra vontade. . . Certamente que ele fez bem em consagrar esse tempo da noite de Domingo à oração e até nos podemos admirar por ainda fazer essa pergunta: "Vale como . . . " Se o engarrafamento era imprevisto. se as razões para não ir à missa da manhã eram sérias, porque não havia de reconhecer, com toda a simplicidade que fora impossível ir à missa? Então faria a oração por amor a Deus e não para ficar com a consciência tranqüila! Transporto isto para o estilo "Equipes", vamos citar-lhes algumas cartas recebidas recentemente no Secretariado: "Durante todo o ano não foi possível a um casal da nossa equipe fazer o retiro . Tiveram várias dificuldades : doenças, deslocamentos profissionais imprevistos, um nascimento . . . Por sorte, conseguiram ir ao Encontro Regional das E .N.S . e escapar algumas horas para um breve recolhimento. Poderão contar isto como retiro?"

Mas não! devem alegrar-se por terem assistido ao Encontro Regional ; devem lamentar não terem ido ao retiro e fazer todo o possível para o fazer dentro em breve, pois comprometeram-se a isso e sabem o bem que dele podem tirar . Mas -18 -


por que há de "valer como ... "? Não modifica nada, a não ser no "anexo ao relatório" da equipe? Por favor, que esse anexo ao relatório, aliás tão útil, não nos torne legalistas nem fariseus! "No próximo verão, queríamos assistir a uma sessão de formação; estas sessões contam pelo retiro?" "Os Encontros de Responsáveis, os Encontros de Casais de Ligação ou Responsáveis do Setor, podem contar por um recolhimento?" · "No mês passado, ao sair do cinema, tivemos um grande debate sobre o filme. Poderá contar como dever de sentar-se?" Uma Jornada regional não é um recolhimento. Um Encontro não é um retiro. Os Dias dos Responsáveis não são um recolhimento. Uma discussão sobre um filme não é um dever de sentar-se. "Mas se não pudermos fazer os dois?" Então escolham como seres livres, que conhecem as suas possibilidades e os seus compromissos. Deve praticar-se a regra das Equipes por amor, cada vez melhor, e não por formalismo ou legalismo. Um casal que, antes da reunião, está à procura do que, durante o mês, poderia servir como dever de sentar-se, não fez todo o possível para reservar uma hora para esse fim. Não se pode ignorar que algun.s, mesmo muitos, estão divididos entre vários "deveres"; serão julgados pelo grau do seu amor e não pela assistência a maior ou menor número de sessões, encontros ou retiros ... "Dizem que os Encontros de Responsáveis são obrigatórios e que o retiro anual é também obrigatório... Se não pudermos fazer os dois, qual devemos escolher?" -19-


Em primeiro lugar, verifiquem se realmente é impossível fazer os dois. Suponhamos que os Encontros de Responsáveis são em março. . . não terão outra possibilidade durante o ano de conseguir 48 horas livres? Pensaram nas férias? Se for verdadeiramente impossível, digam-no à equipe... ou ela os ajudará ou escolherá este ano, outro casal para o Encontro a fim de que vocês possam fazer o retiro! Se se quisesse dar uma ordem prioritária não se poderia dizer que aqui que é ordem da regra (as obrigações dos Estatutos) têm prioridade sobre todo o resto, porque o resto. são as obrigações da "função". Não poderão ser Responsável de equipe, casal de Ligação ou Responsável de setor, se as obrigações suplementares que essas funções implicam não puderem ser integradas na vossa vida. Pode ler-se num dos temas sobre S. Paulo que a vida cristã é precisamente o contrário da escravatura, que a lei existe para nos "exercitar", para nos fazer avançar na vida da caridade. Cita-se Santa Teresinha do Menino Jesus que pôde afirmar: "Fiz sempre a minha vontade", tal a sua vontade se tinha identificado à de Deus; cita-se a diretriz de Santo Agostinho: "Ama e faz o que quiseres " . 1!: nesta perspectiva que precisamos encarar e amar a nossa regra, porque ela é feita unicamente para nos conduzir a uma caridade maior, a uma vida com Cristo. 1!: Ele que nos arranca à servidão de que fala tantas vezes S. Paulo: "Nenhuma condenação, portanto existe agora para os que estão em Jesus Cristo . 1!: que a lei do Espírito, vivificante em Cristo Jesus, libertou-te da lei do pecado e da morte " . <Rom. 8, 1-3) .

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A CARTA MENSAL E O EDITORIAL

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Porque nos esforçamos o mais e melhor possível na organização destas Cartas que vocês recebem mensalmente, gostaríamos saber qual a relação que elas provocam. Esperamos que as leiam atentamente. Quanto a nós, ingressamos na.s Equipes quando as Cartas Mensais já existiam há muito . Estranhamos que os Estatutos estabelecessem como obrigação apenas a leitura do Ed;torial. Não é isto evidente? E por que só se considera obrigatória a leitura do Editorial? A Carta Mensal e o seu Editorial querem ser apenas um eco da Palavra de Deus (cfr. Carta n9 6) , adaptada à nossa situação de casais do Século XX. Algumas de suas páginas poderão parecer para alguns um tanto pesadas, ou suscitar em outros reações pouco agradáveis ante expressões que poderão considerar descabidas. Estamos convencidos porém, que podemos contar com a amizade tie todos e que saberão sobrepujar tais sentimentos. O que desejamos sinceramente, é acompanhar a caminhada de todos favorecer o progresso da vida espiritual pessoal e do casal cristão de quantos nos achamos empenhados em nos auxiliar mutuamente na marcha para um mesmo ideal. Para lá das palavras, contamos assim que acolham de coração aberto a mensagem que mensalmente lhes enviamos, rica de experiências vividas e reconsideradas. O QUE

É

O EDITORIAL

lt o bilhete de um padre, Inspirado pelas fraquezas descobertas, os impulsos a dar, as necessidades das Equipes, as necessidades da Igreja. -21-


Este bilhete tem como objetivo corrigir po.ssfveis desvios, assinalar um esforço a realizar em comum, acentuar o que de momento parece mais importante, dar a visão espiritual de determinado aspecto da vida de equipe ... Esta ação, muito circunstancial, não pode estar codificada pelos Estatutos; o Editorial é, em suma, uma espécie de comentário que esclarece os Estatutos e permite a sua adaptação às circunstâncias de momento. Recentemente lemos no relatório de uma reunião de equipe o seguinte: "Partilhamos" sobretudo s·obre a leitura do Editorial. Parece que até agora esta leitura era feita bastante às pressas quando a Carta chegava. Depois, não se voltava a pensar nela. Tomou-se imediatamente a resolução de fazer a leitura do Editorial depois de um momento de oração, para se estar em estado receptivo. Decidimos também falar dela em casal e na co-participação da equipe. Sabemos também, de outra equipe na qual, cada mês, na reunião mensal, um casal é encarregado de fazer um breve comentário da última Carta Mensal recebida, não só do Editorial mas destacando aquilo que lhe parece mais importante para o progresso da equipe.

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AS F!:RIAS

Cada ano traz às nossas vidas um tempo que aguardamos todos com maior ou menor impaciência: O repouso e a descontração são benvindos depois de onze meses de trabalho! Como é bom poder respirar, "entregar-se" livremente às atividades que se preferem, distrair-se, ou seja, "re-criar-se". O que não quer dizer que se faça das férias um tempo "entre-parêntesis", momentos de capricho, instantes de puro deixar-correr . Será juizo temerário dizer que é o que acontece freqüentemente? Regra de vida, dever de sentar-se, oração em famUia ... tudo fica mais ou menos posto de lado. Mesmo para alguns, durante essas semanas, a equipe é aquela velha recordação que, segundo pensam, se voltará a encontrar com alegria tanto maior quanto mais se deixou de pensar nela durante este tempo . Assim, é vantajoso refletir sobre as férias. Nelas, como noutras coisas, os casais têm de descobrir um estilo de vida que seja plenamente cristão. Para maior clareza vamos destacar algumas idéias gerais que possam servir de fios condutores nesta criação de um estilo de vida do casal cristão em férias. O primeiro poderia formular-se deste modo: Não há férias da vida espiritual. Deus não deixa de existir durante algumas semanas por ano. Espera o testemunho da nossa atenção e do nosso amor durante os 365 dias do ano. Neste campo, ou tudo ou nada. Aliás, bem o sabemos por experiência própria ; o pai ou a mãe que esquecem dos filhos só porque mudam de ocupação. Ficam mesmo tanto mais sensivels à falta do seu carinho, quanto os sabem em pleno periodo de euforia. -23-


Afirmemos, sem demora, o segundo princípio a salvaguardar: as férias são as férias. O Eclesiastes - esse livro da Bíblia tão estranho em vários sentidos - tem pelo menos uma passagem que é imediatamente compreensível. Que diz ele?: "Há tempo para todas as coisas debaixo dos céus: Tempo para nascer e tempo para morrer; Tempo para chorar e tempo para rir; Tempo para se lamentar e tempo para dançar; Tempo para os abraços e tempo de se afastar deles; Tempo para calar e tempo para falar". As férias estão dentro do plano de Deus sobre nós. São úteis, são necessárias para nós. Não há férias para a vida espiritual. As férias são as férias . Um do-s grandes benefícios das férias deve ser, entre outros, ensinar-nos a nos adaptarmos. Se as circunstâncias são as mesmas, a maneira de servir a Deus não deve exprimir-se do mesmo modo. Por conseqüência é, em primeiro lugar, excelente oportunidade para programar encontros com os parentes e os amigos; momentos de verdadeiro repouso; leituras, etc. etc. Excelente oportunidade para adaptar a regra de vida (não de a sobrecarregar) em função do meio que nós vamos encontrar. A regra de vida não é um monumento solene que se edifica de uma vez para sempre, mas determinado número de resoluções práticas que nos servem de guias em determinadas circunstâncias. Um dos benefícios das férias deve ser ensinar-nos adaptar esta regra de vida. A equipe não morre com as férias. Um, dois, três meses sem reunião .. . conforme os países, o meio, os hábitos; mas não um, dois, três meses sem vida de -24-


equipe, sem obrigações, sem partilha, sem entreajuda. A equipe não morre com as férias para renascer depois! Cada equipe tem de descobrir que vida deve conservar e a maneira de o conseguir. Certas equipes conseguem-no com as cartas circulares. Dão a volta a todos antes que regressem de férias e chegam mesmo a dar duas voltas! Não adotem este sistema se não estão dispostos a uma pontualidade perfeita. - Outras equipes decidiram escrever, numa data fixada, ao casal responsável, dando as notícias do mês, incluindo o cumprimento das obrigações. Quando o responsável é corajoso, faz o resumo das notícias, envia a cada um a sua amizade e conselhos. - Outras organizam reuniões entre membros das equipes que não tenham ainda ido para férias ou já tenham regressado tal como esta equipe: "Na nossa reunião de dezembro marcamos três datas (janeiro, fevereiro e março). A última é a da nossa reunião depois do regresso de férias em março; nas outras datas só se encontram os membros da equipe presentes na nossa cidade, mesmo que ~:ejam apenas dois . . . Os ausentes enviam ao que combinou receber em sua casa a equipe, (geralmente um homem só, porque a mulher e os filhos partiram para férias), a "partilha", as notícias e as intenções da oração".

o mínimo da vida da equipe durante as férias será: Conservar as obrigações com exceção do tema; Fazer a "partilha" mensal; Rezar uns pelos outros; Encontrarem-se na medida do possível.

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O DIALOGO

Neste lexlo, Mons. Garrone faz-nos senlir vigorosamente, que só pode haver diálogo verdadeiro onde existirem a oração e a contemplação. Isto tanto é válido para o diálogo entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre membros de equipe, como para lodos os nossos diálogos com os outros: "Ou dialogamos a vida Intima ou não dialogamos".

Esta palavra impôs-se-nos. 1!: difícil não a levar a sério quando foi reconhecida numa Encíclica pontifícia e num texto do Concílio . Infelizmente pode-se abusar dela, como de qualquer coisa boa, ou pelo menos, usá-Ia sem compreender o seu conteúdo e sem descobrir todas as suas exigências, tudo o que ela implica.

Esta palavra - diálogo - pode servir e serve hoje em dia como argumento para reivindicações mais ou menos equivocas. Pode assim prestar-se a criticas e acabar por ser depreciada, com prejuízo dos valores que contém ... O homem experimenta, por várias razões, um sentimento insuportável de isolamento de solidão e procura no diálogo e na troca de impressões um remédio para o seu mal. O instinto que nos encaminha nesta direção não é falso. mas é necessário analisar este instinto para assim o podermos dominar e não nos deixarmos enganar. Esta impressão de isolamento tem como causa - ou ao menos pode ter como causa - uma inquietação de si mesmo. Não podemos continuar a viver face a face conosco próprios.

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Já não conseguimos encontrar o caminho ou então perdemos o gosto por uma intimidade pessoal. Uns aborrecem-se insuportavelmente, outros exasperam-se. Em nós próprios há o vácuo ... Nessas condições, procurar os outros toma a forma de fuga de si próprio. Procuramos junto de outra pessoa, junto dos outros, esta experiência sem a qual não se pode viver e que não conseguimos realizar em nós mesmos. É evidente que o diálogo que assim se procura estabelecer será tudo menos uma partilha. Será para aquele de quem nos aproximamos um logro, porque nada lhe levamos. Será para quem procura o diálogo uma ilusão e dentro em breve uma decepção. Seria um grande passo em frente no caminho da verdade reconhecer, pelo contrário, que o homem que não tem intimidade pessoal não pode de modo algum estabelecer diálogo. Só pode comunicar-se com os outros quem já tiver existência pessoal o que quer dizer simplesmente, vida própria. Assim, contrariamente a uma vida fácil e comum, a capacidade para estabelecer diálogo é diretamente proporcional à capacidade de vida interior; a capacidade de participar numa capacidade de contemplação.

Quantas vezes nos tempos de hoje se procura em vão dialogar, quantas equipes são pura ficção, porque os que se procuram encontrar não têm, primeiramente, a preocupação de existirem. Procuramos fora o que seria necessário descobrir dentro de nós próprios, condição prévia e indispensável para que seja possível verdadeira comunicação fraterna. Ou partilhamos algo de muito intimo ou não partilhamos nada ... Só uma alma de oração poderá ser verdadeiramente alma de diálogo. Assim, para além das ilusões, somos postos perante simples verdades a que temos sempre a tentação de fugir. Julgamos compensar a oração e o recolhimento através do diálogo ou da conversa. Ora uma coisa é sempre contrária à outra. -27-


Os dois níveis sobem paralelos. Se um baixa o outro baixa inevitavelmente. Será supérfluo dizê-lo? ~ certo que hoje em dia Deus quer que este diálogo se estabeleça entre nós. Tudo nos leva a procurá-lo. Mas se ele se fizer com prejuizo da contemplação, se for acompanhado por uma incapacidade progressiva de silêncio, ãe adoração. de recolhimento prolongado, não tenhamos um segundo de hesitação, enganamo-nos com certeza. Ora estes perigos, estes erros, existem, então no meio de nós, dentro de nós próprios, escondem-se sob pretextos e razões, procuram enganar-nos. Voltemos ao Evangelho. ~ lá que o diálogo tem a sua origem : é outro nome que se pode dar à caridade e a esta comunhão que Cristo quer que exista entre nós. Mas será necessário recordar que é, também no Evangelho, que a oração tem a sua origem? Perderemos sobre os dois tabuleiros se quisermos jogar apenas num. Cardeal GARRONE

• Deus, para se dar a conhecer, fala-nos . Também através dessa linguagem divina que são as criaturas. Assim Tagore dizia que uma flor era "uma carta de amor do Bem-Amado" ... H.C. -28-


A BROCA DE PAPELÃO

"Meu pai era um homem de oração e de ação. Tinha grande intimidade com o Senhor. Um dia contou-me uma das suas conversas com Ele: "Dirigia-me ao Senhor e dizia-me: Há na terra um provérbio que diz que os bons operários têm boas ferramentas; no entanto, Vós meu Senhor, vos servis de mim que sou uma ferramenta bem pobre. Para se furar uma parede de concreto seria necessário uma broca de aço de alta qualidade; e vós vos servis de mim que sou apenas uma pobre broca de chumbo. Achava, continuava o meu pai, que a minha oração era toda feita de humildade; e sentia-me bastante orgulhoso . .. ! Na verdade o que é o chumbo? Um metal que se deforma rapidamente, uma coisa sem consistência. Mas o Senhor respondeu-me: Meu caro, não te falta audácia, esqueces que o chumbo é um metal; diz antes que não passas de uma broca de papelão, e é isso que te ajudará a compreender o meu poder, porque eu o teu Senhor, com essa broca de papelão furarei essa parede. " Naquele momento, essa estória pareceu-me um tanto estranha. Mas, depois de estudar melhor São Paulo ("minha força se manifesta na fraqueza ... " 2 Cor. 12, 5), comecei a compreendê-la . E eis o que aconteceu a mim mesmo. Recentemente. no decorrer de uma viagem, tinha encontro marcado com um engenheiro, numa fábrica com a qual trabalho. Como tivesse chegado adiantado, fui ao encontro dele na estação. O trem -29-


devia chegar às 12hl0. Trinta segundos antes, eis que aparece e na curva da estrada e pára na plataforma em cima da hora . Tal pontualidade deixou-me surpreso. Mal tinha tomado contato com a pessoa que esperava, confessei-lhe a minha admiração por essa pontualidade. "Se soubéssemos, disse-lhe eu, ser assim pontuais na nossa vida cotidiana, profissional, familiar e cristã, seria extraordinário!" "lt verdade, respondeu-me o meu interlocutor, que podemos tirar deste fato uma lição, mas como não sou praticante, não preciso enfrentar os problemas da vida cristã". "Desculpe a minha indiscrição, mas lamento-o e rezarei para que o Senhor o ajude a encontrá-LO".

Olhou-me com certa surpresa e subimos para o carro e nos dirigimos ao restaurante. Devíamos chegar à fábrica à 1 h e meia mas às 2 h e mela terminávamos uma discussão apaixonante: durante todo o percurso da estação para o restaurante aquela minha frase o tinha trabalhado e Jogo na altura dos aperitivos, começou a explicar-me porque deixara de praticar; falou-me dos padres que tinha encontrado, dos seus estudos de filosofia que tinham acabado por lhe abalar a fé, até que chegou à sua vida intima; divorciado, voltara a casar-se; contou-me como era a vida em sua casa, falou-me da sua mulher . Tentei compreendê-lo o melhor possível e tentei ajudá-lo . Disse-lhe porque tinha fé e em que a apoiava. Falei-lhe das E . N.S. e do que lá fazíamos. No fim do almoço, fiquei admirado ao ouvi-lo dizer-me: "Senhor H. , muito obrigado, acaba de me responder a várias perguntas que desde há anos fazia a mim próprio". E lembrei-me da "broca de papelão" .

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ORAÇÃO PARA A PRóXIMA REUNIÃO

TEXTO DE MEDITAÇAO

Recitem o PAI NOSSO. Oração dos filhos de Deus, em quem o Espírito Santo clama "Abba, Pai" (Rom. 8 15; Gal. 4, 6), mas conforme as ressonâncias pessoais de cada um.

ORAÇAO LITúRGICA

HINO: Vinde, 6 Espírito Santo, e enviai do Céu um raio da vossa luz. Vinde, 6 Pai dos pobres, Vinde, Benfeitor magnífico, Vinde, luz dos corações . O Consolador incomparável, hóspede dos corações, refrigério dulcíssimo. Sois a paz na luta, a calma na turbação, o bálsamo na dor. -31-


6 Santíssima Luz, enchei o coração, o intimo dos Vossos fiéis . Sem a Vossa proteção nada há no homem, nada, que seja puro. Lavai o que é impuro, regai o que está seco, curai o que está ferido. Dobrai o que é orgulhoso, aquecei o que é frio, endireitai o que é tortuoso . Dai aos vossos fiéis, que em Vós confiam, os sete Dons sagrados. Dai-lhes a recompensa da virtude, Dai-lhes o porto da salvação, Dai-lhes a alegria eterna. AMÉM. ORAÇAO

6 Deus que quereis a salvação de todos os homens e que todos conheçam a verdade, enviai operários para a messe e permiti-lhes que saibam proclamar com confiança a Vossa Palavra, a fim de que a Vossa doutrina se espalhe, seja estimada, e que todos os povos Vos conheçam, a Vós, verdadeiro Deus. e Aquele que nos enviastes, Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho. AMÉM.

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EQUIPES DE NOSSA SE HORA Movimento de casais por uma espiritualidade conjugal e familiar

Revisão, Publicação e Distribuição pela Secretaria das EQUIPES DE NOSSA SENHORA 04538 -

Avenida Horácio Lafer, 384 -

Tel.: 210-1340

SAO PAULO, SP

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somente para distribuição interna -


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