ENS - Equipes Novas 1974-8

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EQUIPES NOVAS

CARTA No

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EQUIPES DE NOSSA SENHORA SÃO PAULO- 1974



A palavra doce multiplica os amigos, e a lingua afรกvel produz abundantes frutos. Vive na amizade com muitos, mas seja teu conselheiro um entre mil. Nada se pode comparar a um amigo fiel, quem o encontrou, encontrou um Tesouro. Livro do ECLESIASTICO



EDITORIAL

GRUPOS

DE

COMBATE

Há meses, um padre meu amigo comunicava-me, com toda a simplicidade e franqueza, as suás objeções contra as Equipes de No&a Senhora. "Por que n ão deixam às equipes toda a iniciativa? Por que lh es impõem temas de estudo, uma disciplina, métodos?" Discutimos sobre isso durante muito tempo. E, por fim ... cad:>. um ficou nas suas posições. Jogo nulo. Depois a nossa conversa tomou outros rumos. Revelc-u-me c1ue acabava de entrar para uma associação sacerdotal. Abro um parêntesis, porque desconhecem sem dúvida o que quer dizer "associação sacerdotal". Padres diocesanos que ficam nos seus lugares d<! párocoo, vigã rioo, capelães . . . que estão à disposição do seu bispo, como todoo os seus confrades, unem-se num agrupamento para ai encontrarem os socorroo espirituais de que têm necessidade. 'Não vivem juntos mas estão ligados por um ideal comum de santidade sacerdotal, por uma mesma regra de vida, por uma amizade fraterna. Alguns entram logo que saem do seminário . Mais numerosos são aqueles que pensam nisso passa doo alguns anos de ministério . Tendo já dura experiência da solidão e da liberdade, tendo sentido a sua fraque za , tendo visto à sua volta confrades que se instalam na mediocridade, descobrem a importânci!l, de não estarem sós ao travar o combate pela santidade sacerdotal. Aspiram a uma disciplina, desejam um controle fraterno, compreendem a segurança de uma união feita de solidariedade. f:: nesse momento que estão prontos a entrar para uma família sacerdotal. -3-


Mas a lei da solidariedade nfl.o é apenas ser ajudado; é também sustentar os outros. É este duplo fim que o padre procura quando se liga a uma família sacerdotal. Fecho o parêntesis e volto ao meu interlocutor. Sem dar por isso, acabava de me dar o melhor argumento para justificar as Equipes de Nossa Senhora. "As nossas equipes, fiz-lhe notar, são para os casais, de certa maneira, o que a associação sacerdotal é para o padre. Quando um casal, desejando viver integralmente o seu cristianismo, sofre com a sua solidão, verifica que as boas resoluções ficam, a maior parte das vezes, sem continuidade e sem efeito; quando teme, como tantos outros, deixar-se envolver pela rotina, pelo materialismo, pela sensualidade, então volta-se para as Equipes de Nossa Senhora e está apto a compreender a sua razão de ser e a tirar proveito das suas exigências". Irá queixar-se da sua disciplina? Mas é dela que tem maior necessidade. Um enquadramento, uma regra, uma entreajuda e um controle fraterno, é o que lhe fazia falta, é o que procurava, é o que encontra nas Eq:lipes . Descobre nelas também - o que não é a menor alegria - a manei!'a de dar apoio a casais que, como ele, pedem à amizade cristã a força para caminhar para a perfeição cristã . Quis voltar a estas noções fundamentais. Porque importa que estejamos perfeitamente de acordo acerca do que pensamos, queremos e procuramos. Ainda com mais convicção que no dia em que o escrevia pela primeira vez, penso que "as Equipes não devem ser refúgio para adultos bem intencionados mas sim, grupos de combate compostos unicamente por voluntários", cujos membros procuram com pertinácia aprofundar o seu cristianismo, a fim de o viverem sem restrição na família, na profissão, na sociedade . HENRI CAFFAREL

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PARA

QUE

O

VOSSO

AMOR

VIVA ...

"Quem não avança, recua!" "Quem não prospera, arruina-se! ". Também assim será no vosso amor, se . .. Deus não o permita! A vida de equipe, onde cada casal recebe apoio para evitar o desfalecimento (ver as páginas do Dever de Sentar-se, carta 3, e sobre o qual voltamos a falar agora, nas páginas 13 a 17 tem, entre outros objetivos, o de servir o amor de cada um dos casais. Eis a seguir dois textos que são um convite para superarem a si mesmos e assim viverem melhor o seu amor. O SEGUNDO AMOR

O matrimônio não é apenas a realização do amor imediato que une o homem e a mulher, mas a lenta transformação de ambos ao contacto da experiência comum. No seu desabrochar o amor não vê ainda esta realidade. O entusiasmo dos sentidos e do coração impede que se tome consciência dela, cobre-a de um véu e envolve-a numa atmosfera de sonho e de eternidade. ll: pouco a pouco que ela vai atravessando esta bruma, quando cada um vê os hábitos diários, as deficiências, as faltas do outro. Se aceita então o seu companheiro tal como é, numa aceitação sempre renovada e através de todas as decepções; se são dois a levar tanto as alegrias e penas da vida quotidiana como os grandes acontecimentos da vida, diante de Deus e com a força de Deus, desenvolve-se então pouco a pouco o segundo amor, o verdadeiro mistério do matrimônio. Assim como a maturidade supera a juventude e o coração que sabe renunciar supera o

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coração que só sabe abrir-se e expandir, assim também este segundo amor sobrepuja o primeiro. Surge então algo de ;:rande que é fruto de muitos sacrifícios e renúncias. No matrimônio é preciso muita energia, profunda fidelidade, coração corajoso, para não se tornar joguete das paixões ilusórias, da covardia, do egoísmo e do espírito de domínio. ROMANO GUARDINI UMA RELAÇAO QUE DEUS QUER

Conservar na medida do possível toda a grandeza e pureza do amor, a sua vivacidade e profundidade, mantê-lo sempre desperto é um dever que começa para os dois esposos logo que o casamento se realiza. É difícil conservar a imagem do outro com aquela claridade e brilho maravilhoso com que se revelou no amor, porque a nossa preguiça, o nosso embotamento, a nossa contínua tendência para ficar à superfície das coisas perturbam o olhar. Temos obrigação de lutar contra isto. Peca-se contra o templo que edlficámos no matrimônio e, em certo sentido, já se ofende a fidelidade devida ao cônjuge quando se deixa de o ver à verdadeira luz do significado profundo do seu ser, para o olhar como às outras pessoas, por fora. Aos que só concebem o amor conjugal como a embriaguez dos sentidos, parece natural que o amor desapareça com o tempo deixando apenas a amizade entre os esposos. Nós, porém, ao pensarmos que este amor conjugal implica a posse profunda do outro, e ao considerá-lo como a relação querida por Deus no matrimônio, compreendemos facilmente que é preciso lutar contra o seu enfraquecimento, com o mesmo empenho com que, num sentido incomparavelmente mais alto é verdade, precisamos nos esforçar por manter sempre desperto, pres~rvando-o de qualquer tibieza, o nosso amor por Jesus Cristo. DIETRICH VON HILDEBRAND

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VIDA DE EQUIPE

LEIS

DA VIDA

DE

EQUIPE

"Porque conhecem a própria fraqueza e a limitação das próprias forças, como também d~ boa vontade que os anima .. . decidiram unir-se em equipe", está escrito nos E:;tatutos. Mas quais são as grandes leis da vida em equipe? Vamos encontrá-las a seguir, expostas pelo Rvmo . Padre Caffarel.

Hoje é minha intenção vir lembrar-vos algumas das leis da vida de equipe. Regulam o bom andamento da vossa equipe e, por isso, o vosso progresso cristão. Não me venham, entretanto dizer: "Que importância tem a maior ou menor coesão, a maior ou menor perfeição da nossa equipe? O essencial é o beneficio que tiramos das nossas reuniões". Se só importam as aqui::.ições intelectuais, para que se hão de formar equipes? Um circulo de estudos, uma palestra por alguma "competência" fariam o mesmo efeito, senão melhor. O essencial, é preci8amente jogar o jogo de equipe, da equipe cristã, porque é isso que combate o nosso velho individualismo e o elimina pouco a pouco, porque é isso que nos faz ascender a maior amor fraterno, a mais perfeita entreajuda espiritual, porque é isso que realiza esta "ecciesia ", esta "assembléia de Deus" à qual Cristo prometeu a sua presença: "Quando dois ou três estiverdes reunidos em Meu Nome, Eu estarei no meio de vós". Também penso que, de todas as obrigações dos Estatutos, a mais importante é exatamente essa

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de formar equipes e de jogar francamente o jogo. Acabo de dizer "jogar francamente o jogo". Será necessário entretanto conhecer bem este jogo de equipe. Eis as suas leis fundamentais.

CONHECER E DAR-SE A CONHECER

- Importa conhecer os outros: sem isso é impossível amá-los com amor verdadeiro e ajudá-los eficazmente. Conhecer o seu contexto, se assim posso dizer, contexto familiar, profissional e social. Apoios e dificuldades que encontram, responsabilidades que assumem ou deveriam assumir. Conhecer o que forma a sua personalidade: as grandes orientações de seu pensar, seus gostos, aptidões, caráter. Pressentir (não digo conhecer) o seu mistério pessoal. Realmente, cada um de nós é filho de Deus único, em que está encerrado um tesouro, ou seja o gérmen de tuna santidade única, cujo desenvolvimento ou aniquilamento decidirá a sua vida. Não é fácil conhecer assim os outros . 1:: preciso atenção extrema, perspicaz, "clarividente", que é uma qualidade, dlrei quase uma faculdade do amor. Qualidade que exige, na parte negativa, estar livre de si mesmo e na parte positiva esta graça prometida por Ezequiel em nome de Deus: "Porei o Meu olhar no Teu coração". Esta atenção, que provém do amor leva ao amor, a um amor maior . Permitindo descobrir as riquezas de um ser, suscita a admiração que desperta o amor. Provoca a piedade ao revelar-nos as suas penas, as suas imperfeições, os seus defeitos. Não aquela condescendência altiva e desdenhosa a que alguns pretendem reduzir a piedade, mas uma piedade que desperta a afeição e a dedicação. -8-


Esta atenção faz milagres, faz nascer fontes, amadurecer colheitas, faz surgir a personalidade humana e cristã de um ser. - Seria inútil convidar os membros de uma equipe a conhecerem os outros, se, em contrapartida. não forem convidados a dar-se a conhecer. ~ uma coisa totalmente diferente do falar de si, de se exibir, formao> habituais de egoísmo pretencicso. ll: o dom de si. Como para qualquer dom de si, é preciso vencer a preguiça e a avareza do coração, falso pudor e individualismo ciumento. E isto é uma grande virtude. Dar-se a conhecer poderá ser confessar uma indigência, uma necessidade, dar a perceber que uma ajuda seria bem-vinda.

Um amigo meu trouxe-me certo dia, triunfante, aquilo a que chamava a definição do Lionês (realmente o meu segundo pecado original é ser natural de Lion) : "Fica-se reduzido a imaginá-lo cheio de perfume, mas renuncia-se a abri-lo". Jogar o jogo da equipe, é dar aos outros o seu perfume (ou pelo mer..os um saca-rolhas!). TOMAR A CARGO E DEIXAR-SE TOMAR A CARGO

- Amar não é sentir uma emoção mais ou meno1 agradável na presença de u.1n ser, mas prometer a si mesmo não poupar nada - n~.o se poupar - a fim de lhe permitir o zeu desenvolvimento humano e cristão. Será preciso ajudá-lo a realizar os seus talentos - que se wube descobrir. E para esta realização ele tem necessidade da nossa fé nele, doa nossos encorajamentos, das nossas experiências e que o ajudemos também a tomar consciência do que deve retificar, transformar, corrigir, do que tem de adquirir. Cumprir a lei de Cristo é levar os fardos uns dos outros Os farelos materiais e os escrevia S. Paulo aos Gálatas.

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fardos espirituais, a preocupação deste homem que perdeu o seu emprego, o esforço daquele para aprender a rezar, o desencorP,jamento deste casal que n ão consegue a sua união, esta dor sem nome de pais que têm um filho anormal. .. Uma só palavra diz isto tudo mas usa-se tanto que fica vazia do seu magnífico significado: devotar-se, votar-se aos seus irmãos como se se vota a Deus. - Devotar-se aos outros é sinal de verdadeiro amor fraterno, permitir a dedicação dos outros é sinal de amor fraterno ainda maior. Como todas as coisas grandes pode degenerar em indolência: há mendigo:; profissionais e nem todos são andrajosos. A esses é preciso chamá-los a um são orgulho. Mais numerosos são aqueles a quem é preciso chamar a uma sã humildade: saber pedir à equipe a sua ajuda. Sei de uma equipe que é das mais unidas na caridade de Cristo desde que um dos casais, não sem dificuldades, resolveu confiar aos outros a confusa situação profissional que o levava à falência financeira e conjugal. Ao "não quero ficar a dever-lhe nada" dos individualistas do mundo, o cristão opõe a sua alegria de reconhecer: "devo-lhe tanto".

DAR E PEDIR

Tornastes a cargo os membros de vossa equipe e vos sentis responsáveis (em parte) pela sua realização humana e cristã. Pr~clsais agora trabalhar neste sentido, dando-lhes, dando-vos . Mesmo que fosseis os mais pobres, o que tendes para dar é infinito, porquanto aquilo de que mais necessitam aqueles que nos rodeiam não são os nossos bens, mas nós próprios. E este dom é também o mais difícil de realizar. " O meu coração está preso rom um elástico; sempre que o dou, volta outra ve:;;": exprimia-se desta maneira, na confissão, um -10-


homem que queria fazer-me compreender o seu ego!smo. :1!: difícil, é fatigante doar-se, estar sempre disponível aos outros. Disponível, sem dúvida, para lhes prestar um serviço material, mas acima de tudo esse serviço de pN>ço bem superior que consiste em lhes oferecer um coração atento, compreensivo, encorajador, que inspira cm1fiança, que sabe dizer a verdade, que ousa exigir. Há outro dom ainda mais precioso. São raros os que vão até lá. Refiro-me a essa vida de Deus em nós que é a nossa principal riqueza e de que somos tão avaros. Quer se trate de avareza ou de pudor, ou de respeito humano, o fato é que essa vida fica aprisionada em cada um de nós. "Sairão deles rios de água viva", dizia Cristo falando dos discípulos que haviam de vir. Mas os discípulos fecham as comporHá uma perfeição cristã da dádiva: é o sacrifício. tas! "Não há maior amor do que dar a vida por aqueles a quem amamos". A vida de equipe exige muitas vezes que se sacrifiquem gostos, vontades, preferências pessoais. Recuar perante a exigência é enfraquecer o amor. :1!: recusar o maior beneficio que podemos esperar da equipe: que nos faça morrer para nós mesmos Cristo surge no homem que morre. Uma equipe periga quando falta nos seus membros o espírito de sacrifício. - Recusar pedir, se não é orgulho, é desprezo pelos outros : não lhes damos a honra de acreditar que têm riquezas, ou pelo menos que têm amor suficiente para as partilhar. E nada esperar dos seres é destrui-los. As nossas didivas acabarão por oprimi-los se não apelarmos para as suas riqueza.s. Babeis pedir na equipe uma opinião, um conselho, um serviço material ou espiritual? Solicitar eventualmente deste casal da equipe aquilo a que se chamou no Movimento, à falta de melhor termo, "a correção fraterna": para que ele vos diga o que pode notar em vós que lhe parece não estar na melhor forma: que talvez escapa aos vossos olhos, em que talvez os outros tenham reparado e de que falam na vossa.

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ausência? Com esta correção fraterna atingimos um dos pontos máximos da amizade cristã. E é grande a minha alegria çuando posso verificar que esta prática contribuiu prodigiosamente para o desenvolvimento cristão de um casal.

QUERER O BEM COMUM

- Fazer passar o bem de outro à frente do seu é a lei do amor fraterno. Fazer pa~sar o bem da equipe à frente de tudo é a lei do bem comum, é o grande critério ao qual cada um se de·1e reportar. Aquilo que possa prejudicar o equilíbrio, a solidez, o fervor, a alegria da equipe, eu o rejeito; pelo contrário, procuro tudo o que pode contribuir para o progresso desta equipe de que me sinto responsável. É preciw que ela ~e tome um triunfo de c ~ridade; Jogo, quero procurar ativamente tudo o que possa contribuir para uma oração mais intensa, p:tra uma "partilha" mais leal e educat iva. para nm pôr em comum mais rico, para uma entrea juda material e espiritual mais generosa, para uma troca de idéias qu e seja procura mais ativa do pensamento de Deus.

"Conservai a paz e:1tre vó:;. Nós vo-Jo recomendamos, irmãos, repreende! os ocios0s, animai os tímidos, amparai os fracos, tende paciência com todos. Procurai fazer sempre o bem, seja entre vós, seja com todos". (1

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Tes. 5, 13-15)


OS MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO

O DEVER DE

SENTAR-SE

J:í se tratou do Dever de Sentar-se na Carta N9 3. Esperamos que ji tenham comunicado as próprias experiências à equipe, evide'ltemente com aquela reserva que devem ter pela intimid:J.de do casal. Os testemunhos que se seguem podem ajudá-los a melhor estruturação e ser fonte de progresso em profundidade. UM ESQUEMA

"Eis como se desenrola habitualmente o nosso dever de sentar-se. Rápida preparaç:3.o da próxima reunião mensal: da partilha, das intenç:õP...s p:1ra a oração, da co-participação. Exame dos problemas familiares e sociais: vida escolar dos filhos, dificuldades de um dos filho:> cuja adolescência se aproxima, a n~a paciência para. com ele, etc. ; a oração familiar, a vida de fé dos filhos; os assuntos apostólicos (deveremos tomar este compromisso, renunciar àquele outro? Quem nos deverá substituir?), profissionais; as férias, etc ... Em que pon to está o no.oso amor conjugal (plano psicológico, físico, espiritual ... ) ? Com mais ou menos facilidade, cada um reconhece os seus erros e tenta compreender o ponto de vista do outro. Temos tendência para nos acharmos mais culpados nós próprios do que o outro, o que não é, sem dúvida, um dos benefícios de menos importância do dever de sen-13-


tar-se feito na presença de Deus. Desde o princípio, aliás, que temos o costume de vir para o dever de sentar~se em estado de espírito mais penitente do que reivindicat!vo; vemos nisso um fruto das graças do matrimônio. Exame das resoluções anotadas no final do dever de sentar-se anterior. Foram de fato cumpridas? Será necessário retomá-las ou mudá-las? Tomamos nota, em suma, apenas de uma ou duas resoluções (não devem ser muitas; a multiplicação acabaria por as anular) sobre pontos precisos, resoluções comuns aos dois ou pessoais, segundo os casos. Exemplos: esforço de paciência para com um dos filhos, não falhar a meditação diária, trocar as nossas opiniões sobre as leituras pessuais".

O MOMENTO IMPORTANTE DUMA S1!:RIE DE "MICRO-D.D.S."

"Antes mesmo de pertencermos às Equipes de Nossa Senhora, tínhamos o hábito de trocar impressões com freqüência, por exemplo enquanto lavávamos em conjunto a louça (momento privilegiado!), ou antes de adormecer, ou durante as refeições antes de as crianças tomarem parte nelas. . . E a prova disso é que quando nos falaram pela primeira vez no dever de sentar-se, exclamamos os dois: "Mas nós já o fazemos muitas vezes ao dia! " N3. verdade, ainda não tínhamos compreendido bem que é sob o olhar de Deus que se faz o dever de sentar-se . No entanto esta obrigação mensal foi sempre para nós o momento principal, a recapitulação de uma série de pequenos deveres de sentar-se feitos ao longo dos dias. Não é para nós um momento particular, especial, especificamente diferente do resto do mês. Diluído ao longo das semanas, o dever de sentar-se cristaliza-se uma vez por mês. -14-


Finalmente queremos dizer-lhes que, na maioria das vezes, o dever de sentar-se que fazemos durante o retiro anual, constitui o balanço, o centro dos deveres de sentar-se feitos ao longo do ano. Esta é uma prova suplementar de que as obrigações não se justapõem, nem são estranhas umas às outras, mas pelo contrário estão ligadas formando como que uma rede, uma armadura, que confere à nossa vida espiritual coerência e firmeza - se esta repousar bem em Cristo". AMANDO-NOS COMO CRISTO NOS AMA

"0 dever de sentar-se é uma das obrigações que defendemos sempre com ardor porque pudemos apreciar freqüentemente como a sua prática nos aproxima ao mesmo tempo um do outro e os dois juntos de Deus. Não quer dizer que ignoremos as suas dificuldades ou mesmo o perigo de petrificar algumas de nossas divergências. Mas acreditamos que estes inconvenientes só aparecem quando não nos chegamos a pôr profundamente e com a maior lealdade na presença de Deus. O dever de sentar-se não é como qualquer outra obrigação que se pode cum!)rir validamente mesmo se o nosso "eu" profundo não adere totalmente. Aqui isso não pode acontecer. Trata-se de dom total, de abertura inteiramente sincera. Para conseguirmos isto o melo mais seguro que encontrámos foi o de começar o dever de sentar-se por uma oração pessoal de cada um em voz alta, como na reunião de equipe. Isto provoca já a abertura de um para com o outro e cria o clima espiritual de humildade e de caridade indispensáveis para o bom êxito ao nosso dever de sentar-se. Por vezes não conseguimos atingir este estado de alma (abertura e acolhimento) como, noutras, nos é inacessível a meditação. Não vale a pena nessa altura ins!stirmos. A solução será, sem dúvida, adiar para outro dia o dever de sentar-se ou, se isso for impossível, fazê-lo apenas sob forma mais fácil, à base duma troca de idéias ou do estudo de alguns as-15-


suntos de ordem mais prática. Sempre que insistimos em criar o "clima favorável", o nosso dever de sentar-se foi um fracasso. Pelo contrário, nas ocasiões em que, através da oração e duma certa calma interior, conseguimos atingir uma espécie de "estado de graça" do nosso amor, encontramo-nos verdadeiramente como filhos de Deus, que se amam como Cristo os ama, quer dizer, desejosos de nos ajudarmos na nossa procura do Pai e prontos a acolher com alegria e humildade todos os conselhos e ajudas".

DESCOBRIR CRISTO ATUANDO NO LAR

"Temos cinco anos de equipe. ll: certo que a princípio andamos a tatear. Tivemos também de·.reres de sentar-se bastante agitados. Mas desde há três anos adotamos um e~que­ ma que nos tem dado ótimos resultados, o que permitiu que t:véssemos deveres de sentar-se ricos e profundos. Ao mesmo tempo que estabelecemos este esquema, tomamos a seguinte resolução: o dever de sentar·-se tendo sido criado para nos fazer descobrir a Cristo atuando e falando ao casal, teríamos que ouYir o outro sem tentarmos nos justificar. O outro é Cristo que nos fala. Por exemplo: tenho um caráter fogoso e irritadiço . A minha mulher tem-me dito muitas vezes que sofre com as minhas reações demasiado espontâneas; saber que fazemos o outro sofrer leva-nos a um esforço para tornarmos o nosso amor mais concreto, para o manifestarmos. Voltemos ao nosso dever de sentar-se. A primeira pergunta que fazemos, todos os meses é esta: "Como vai a no~sa vida espiritual ?" Esta pergunta coloca-nos em atitude de doação e de acolhimento, de estar atento ao Senhor que atua no outro. Podemos dizer que a meditação alimenta esta parte do dever de -16-


sentar-se, que nos obriga a fazer em primeiro lugar, um exame da nossa própria vida espiritual e a exprimi-la, o que tem a vantagem de nos fazer tomar consciência do esforço realizado. Temos um e outro - como, certamente, muitos casais duas esplritualidades diferentes. Através do dever de sentar-.!:e, tomam contacto, interpenetram-se, enriquecem-se mutuamente em vez de se oporem. Temos então consciência de que procuramos o Senhor em conjunto, e de que construímos o nosso lar segundo o plano que Ele quer. Podemos citar dois exemplos em que a nossa troca de Impressões acerca do ponto acima mencionado permitiu progresso. Tendo tido um de nós uma baixa espiritual, esta pôde ser vencida. O diálogo permitiu-lhe compreender em espírito de fé o sentido do sofrimento que o atormentava. O amor conjugal exigia que um desse apoio ao outro durante meses e a expressão "espiri tualldade conjugal" tomou para nós todo o seu sentido. Segundo exemplo: um de nó; tem dificuldade em manter o ritmo mensal da confissão. Reconhecê-lo perante o outro, ouvir o outro falar nos benefícios que ela lhe traz, consentir em ser controlado, ajudado pelo outro, jlermitiu-nos colocar este sacramento no seu verdadeiro lugar".

* ":É: neD"--Ssário que amemos mais e mais os nossos filhos de uma maneira soorenatural, ou melhor, que seja a caridade de Deus a moldar o nosso amor paternal e maternal. Seria preciso que fôssemos outro Cristo para eles, amando-os em Deus, levando-os Nele; procurando, antes de tudo o mais, o seu bem espiritual; sendo para eles os redentores, e. se necessário, carregando a cruz para que eles vivam. Amar segundo Deus, é amar melhor".

A CHRISTIAN -17-


VALE

COMO ...

"No domingo passado faltei à missa. Como sabia que de manhã, por razões sérias, não seria possível ir, pensei fazê-lo à tarde, depois de passear com os pequenos. A volta, eis que ficamos presos num "engarrafamento" il!l.previsto . . . Duas horas de atraso! Fiz meia hora de oração. Essa oração "vale como missa dominical? " Se um dos vossos amigos lhes falar assim, não hesiteis em lhe dizer que a oração não "vale como" m1ssa mas que não é culpado em faltar à missa por ter sido impedido contra vontade... Certamente que ele fez bem em consagrar esse tempo da noite de Domingo à oração e até nos podemos admirar por ainda fazer essa pergunta: "Vale como .. . " Se o engarrafamento era imprevisto, se as razões para não ir à missa da manhã eram sérias, porque não havia de reconhecer, com toda a simplicidade que fora impossível ir à missa? Então faria a oração por amor a Deus e n ão para ficar com a consciên cia tranquila! Transposto isto para o estilo "Equipe.~", vamos citar-lhes algumas cartas tecebidas recentemente r..o Secretariado: "Durante todo o ano não foi possível a um casal da nossa equipe fa zer o retiro. Tiveram várias dificUldades: doenças, deslocamentos profissionais imprevistos, um nascimento ... Por sorte, conseguiram ir ao Encontro Regional das E. N . S. e escapar algumas horas para um breve recolhimento. Poderão contar isto como retiro?" Mas não! Devem alegrar-se por terem assistido ao Encontro Regional; devem lamentar não terem ido ao l:'etiro e fazer todo o possível para o fazer dentro em breve, pois comprometeram-se a isso e sabem o bem que dele podem tirar . Mas -18-


por que há-de "valer como ... "? Não modifica nada, a não ser no "anexo ao relatório" da equipe? Por favor, que esse anexo ao relatório, aliás tão útil, não nos torne legalistas nem fariseus! "No próximo verão, queríamos assistir a uma sessão de formação; estas sessões contam pelo retiro?" "Os Encontros de Responsáveis, os Encontros de Casais de Ligação ou Responsáveis de Setor, podem contar por um recolhimento?" "No mês passado, ao sair do cinema, tivemos um grande debate sobre o filme. Poderá contar como dever de sentar-se?" Uma Jornada regional não é um recolhimento. Um Encontro não é um retiro. Os Dias dos Responsáveis não são um recolhimento. Uma discussão sobre um filme não é um dever de sentar-se. "Mas se não pudermos fazer os dois?" Então escolham como seres livres, que conhecem as suas possibilidades e os seus compromissos. Deve praticar-se a regra das Equipes por amor, cada vez melhor, e não por formalismo ou legalismo . Um casal que, antes da reunião, está à procura do que, durante o mês, poderia servir como dever de sentar-se, não fez todo o possível para reservar uma hora para esse fim. Não se pode ignorar que alguns, mesmo muitos, estão divididos entre vários "deveres"; serão julgados pelo grau do seu amor e não pela assistência a maior ou menor número de sessões, encontros ou retiros ... "Dizem que os Encontros de Responsáveis são obrigatórios e que o retiro anual é também obrigatório . . . Se não pudermos fazer os dois, qual devemos escolher?" -19-


Em primeiro lugar, verifiquem se realmente é !mposslvel fazer os doiS. Suponhamos que os Encontros de Responsáveis são em Marc.;o .. . não terão outra possibilidade durante o ano de conseguir 48 horas livres? Pensaram nas férias? Se for verdadeitamente impossível, digam-no à equipe. . . nu ela os ajudará ou escolherá, este ano, outro ca~al para o Encontro a fim de que vocês possam fazer o retiro! Se se quisesse dar uma ordem priorit:lria não se poderia dizer que aquilo que é ordem da regra (as obrigações dos Estatutos) têm prioridade sobre todo o resto, porque o resto, são as obrigações da "função". Não poderão ser Responsável de equipe, casal de Ligação ou Responsável de setor, se as obrigaçõzs suplementares que essas funç ões implicam não puderem ser Integradas na vcssa vida. Pode ler-se num dos temas sobre S. Pauio que a vida cristã é pre cimmente o contrário da escravatura, que a lei existe para nos "exercitar", para nos fazer avançar na vida da ca ridade. Cita-se S . Teresinha do Menino Jesus que pôde afirmar: "Fiz sempre a minha vontade", tal a sua vontade se tinha identificado à de Deus; cita-se a diretriz de Sant o Agostinho: "Ama e faz o que quiSeres". l1: nesta perspectiva que preci~amos encarar e amar a nossa regra, porque ela é feita unicamente para nos conduzir a uma car idade maior. a uma vida com Cristo. Ê Ele que nos arranca à servidão de que fala tantas vezes S . Paulo: "Nenhum a condena'{ão, portanto, existe agora para os que estão em Jesus Cristo . l1: que a lei do Espírito, vivificante em Cristo J esus, li!:'ertou-te da lei do pecado e da morte" . <Rom . 8, 1-3).

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A CARlA

MENSAL

E O

EDITORIAL

Porque nos esforçamos o mais e melhor possível na organização destas Cartas que vocês recebem mensalmente, goztariamos saber qual a reação que elas provocam. Esperamos que as leiam atentamente. Quanto a nós, ingressamos nas Equipes quando as Cartas Mensais já existiam há muito. Estranhamos que os Estatutos estabelecessem como obrigação apenas a leitura do Editorial. Não é isto evidente? E por que só se considera obrigatólia a leitura do Editorial? A Carta Mcr:::;al e o seu Editorial querem ser apenas um eco da Palavra de Deus (cfr. Carta n9 6), adaptada à no.ssa situação de casais do Século XX. Algumas de suas páginas poderão parecer para alguns um tanto pesadas, ou suscitar em outros reações pouco agrad&veis ante expresssões que poderão considerar descabidas. Estamos convencidos porem, que podemos contar com a amizade de todos e que saberão sobrepujar tais sentimentos. O que desejamos sinceramente, é acompanhar a caminhada de todcs, favorecer o progresso da vida espiritual pes~oal e de casal cristão de quantos nos achamos empenhados em nos aux~­ liar mutuamente na marcha para um mesmo ideal. Para li das palavras, contamw assim que acolham de coração aberto a mensagem que mensalmente l!"~es enviamo3, rica de experiências vividas e reconsideradas. O QUE 1l: O EDITORIAL :E: o bilhete de um padre, inspirado pelas fraquezas deEcobertas, os impulsos a dar, as neceEs!dades das Equipes, a~ neQeSSidades da Igreja.

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Este bilhete tem como objetivo corrigir possíveis desvios, assinalar um esforço a realizar em comum, acentuar o que de momento parece mais importante, dar a visão espiritual de determinado aspecto da vida de equipe ... Esta ação, muito circunstancial, não pode estar codificada pelos Estatutos; o Editorial é, em suma, uma espécie de comentário que esclarece os Estatutos e permite a sua adaptação às circunstâncias de momento. Recentemente lemos no relatório de uma reunião de equipe o seguinte: "Partilhamos" sobretudo sobre a leitura do Editorial. Parece que até agora esta leitura era feita bastante às pressas quando a Carta chegava. Depois, não se volt~va a pensar nela. Tomou-se imediatamente a resolução de fazer a leitura do Editorial depois de um momento de oração, para se estar em estado receptivo . Decidimos também falar dela em casal e na co-participação da equipe. Sabemos também, de outra equipe na quai., cada mês, na reunião mensal, um casal é encarregado de fazer um breve comentário da última Carta Mensal recebida, não só do Editorial, mas destacando aquilo que lhe parece mais importante para o progresso da equipe.

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AS F!::RIAS

Cada ano traz às nossas vidas um tempo que aguardamos todos com maior ou menor impaciência: O repouso e a descontração sã:> benvindos depois de onze meses de trabalho! Como é bom poder respirar, "entregar-se" livremente às atividades que se preferem, distrair-se, ou seja "re-criar-se". O que r.il.o quer dizer que se faça das férias um tempo "entre-parêntesis", momentos de capricho, instantes de puro deixar-correr. Será juizo temerário dizer que é o que acontece freqüentemente? Regra de vida, dever de sentar-se, oração em famflia ... tudo fica mais ou menos posto de lado. Mesmo para alguns, durante essas semanas, a equipe é aquela velha recordação que, segundo pensam, se voltará a encontrar com alegria tanto maior quanto mais se deixou de pensar nela durante este tempo. Assim, é vantajoso refletir sobre as férias. Nelas, como noutras coisas, os casais têm de descobrir um estilo de vida que seja plenamente cristão. Para maior clareza vamos destacar algumas idéias gerais que possam servir de fios condutores nesta cria~tão de um estilo de vida do casal cristão em férias. O primeiro poderia formular-se deste modo: Não há férias da vida espirituaL Deus não deixa de existir durante algumas semanas por ano. Espera o testemunho da nossa atenção e do nosso amor durante os 365 dias do ano. Neste campo, ou tudo ou nada. Aliás, bem o sabemos por experiência própria; o pai ou a mãe não se esquecem dos filhos só porque mudam de ocupação. Ficam mesmo tanto mais sensfveis à falta do seu carinho, quanto os sabem em pleno período de euforia. -23-


Afirmemos, sem demora, o segundo princípio a salvaguardar: as férias são as férias. O Ecle.siastes - esse livro da Bíblia tão estranho em vários sentidos - tem pelo menos uma pa<sagem que é imediatamente compre~nsfvel. Que diz ele?: "Há tempo para todas as coisas del.!aixo dos c3us: Tempo para nascer e tempo para morrer; Tempo para chorar e tempo para rir; Tempo para se lamentar e tempo para dançar; Tempo para os abraços e tempo de se afastar deles; Tempo para calar e tempo para falar". As férias estão dentro do plano de Deus sobre nós. São úteis, são necessárias para nós. Não há férias para a vida espiritual. As fét·ias são as férias. Um dcs grandes benefícios das férias deve ser, entre outros, cnsim•,r -noo a nos adaptarmos. Se as circunstâncias não :::ão as mesmas, a maneira de servir a Deus não deve exprimir-se do mesmo modo. Por conseqüência é, em primeiro lugar, excelente op:>rtunidade para programar encontros com os parentes e os amigos; momentos de verdadeiro repouso; leituras, etc. etc. Excelente o:;Jortunidade para adaptar a regra de vida Cnão de a sobrecarregar) em função do meio que nós vamoJ encontrar. A regra de vida não é um monumento solene que se ed!fica de uma vez para sempre, mas determinado número de resoluções práticas que nos servem de guias em d"!terminadas circunstâncias. Um dos benefícios das férias deve rer e!!sinar-no3 a adaptar e.:; ta regra de vida. A equipe não morre com as férias. Um, doi<;. três. meses sem reumao ... conforme os países, o ?ábltos; ;nas não um, dois, três meses sem vida de

m~J~: ~

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equipe, sem obrigações, sem partilha, sem entreajuda. A equipe não morre com as férias para renascer depois! Cada equipe tem de descobrir que vida deve conservar e a maneira de o conseguir. Certas equipes conseguem-no com as cartas circulares. Dão a volta a todos antes que regressem de férias e chegam mesmo a dar duas voltas! Não adotem este sistema se não estão dispostos a uma pontualidade perfeita. - Outras equipes decidiram escrever, numa data fixada, ao casal responsável, dando as notícias do mês, incluindo o cumprimento das obrigações. Quando o responsável é corajoso, faz o resumo das notícias e envia a cada um a sua amizade e conselhos. - Outras organizam reuniões entre membros das equipes que não tenham ainda ido para férias ou já tenham regressado, tal como esta equipe: "Na nossa reunião de dezembro marcamos três datas (janeiro, fevereiro e março). A última é a da nossa reunião depois do regresso de férias em março; na':r outras datas .só se encontram os membros da equipe presentes na nossa cidade, mesmo que sejam apenas dois... Os ausentes enviam ao que combinou receber em sua casa a equipe, (geralmente um homem só, porque a mulher e os filhos partiram para férias), a "partilha", as notícias e as intenções da oração". O mínimo da vida da equipe durante as férias será: Conservar as obrigações com exceção do tema; Fazer a "partilha" mensal; Rezar uns pelos outros; Encontrarem-se na medida do possível.

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O DIALOGO

Neste texto, Mons. Garrone faz-nos sentir vigorosamente, que só pode haver diálogo verdadeiro onde existirem a oração e a contemplação. Isto tanto é válido para o diálogo entre marido e mulher, entre pais e lilhos, entre membros de equipe, como para lodos os nossos diálogos com os outros: "Ou dialogamos a vida íntima ou não dialogamos".

"Esta palavra impôs-se-nos. É difícil não a levar a sério quando foi reconhecida numa Encíclica pontifícia e num texto do Concílio . Infelizmente pode-se abusar dela, como de qualquer coisa boa, ou pelo menos, usá-la sem compreender o seu conteúdo e sem descobrir todas as suas exigências, tudo o que ela implica. Esta palavra - diálogo - pode servir e serve hoje em dia como argumento para reivindicações mais ou menos equívocas. Pode assim prestar-se a críticas e acabar por ser depreciada, com prejuízo dos valores que contem ... O homem experimenta, por várias razões, um sentimento insuportável de !solamento e de solidão e procura no diálogo e na troca de impressões um remédio para o seu mal. O instinto que nos encaminha nesta direção não é falso, mas é necessário analisar este instinto para assim o podermos dominar e não nos deixarmos enganar. Esta impressão de isolamento tem como causa - ou ao menos pode ter como causa - uma inquietação de si mesmo. Não podemos continuar a viver face a face conosco próprios.

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Já não conseguimos encontrar o caminho ou então perdemos o gosto por uma intimidade pessoal. Uns aborrecem-se insuportavelmente, outros exasperam-se. Em nós próprios há o vácuo ... Nessas condições, procurar os outros toma a forma de fuga de si próprio. Procuramos junto de outra pessoa, junto dos outros, esta experiência sem a qual não se pode viver e que não conseguimos realizar em nós mesmos. lt evidente que o diálogo que assim se procura estabelecer Eerá tudo menos uma partilha. Será para aquele de quem nos aproximamos um logro, porque nada lhe levamos. Será para quem procura o diálogo uma ilusão e dentro em breve uma decepção.

Seria um grande passo em frente no caminho da verdade reconhecer, pelo contrário, que o homem que não tem intimidade pessoal não pode de medo algum estabelecer diálogo. Só pode comunicar-se com os outros quem já tiver existência pessoal, o que quer dizer simplesmente, vida própria. Assim, contrariamente a uma vida fácil e comum, a capacidade para estabelecer diálogo é diretamente proporcional à capacidade de vida interior; a capacidade de participar numa capacidade de contemplação. Quantas vezes nos tempos de hoje se procura em vão dialogar, quantas equipes são pura ficção, porque os que se procuram encontrar não têm, primeiramente, a preocupação de existirem. Procuramos fora o que seria necessário descobrir dentro de nós próprios, condição prévia e indispensável para que seja possfvel verdadeira comunicação fraterna. Ou partilhamos algo de muito intimo ou não partilhamos nada ... Só uma alma de oração poderá ser verdadeiramente alma de diálogo. Assim, para além das ilusões, somos postos perante simples verdades a que temos sempre a tentação de fugir. Julgamos compensar a oração e o recolhimento através do diálogo ou da conversa. Ora uma coisa é sempre contrária à outra. -27-


Os dois níveis sobem paralelos.

Se um baixa o outro baixa inevitavelmente. Será supérfluo dizê-lo? ~ certo que hoje em dia Deus quer que este diálogo se estabeleça entre nós. Tudo nos leva a procurá-lo.

Mas se ele se fizer com prejuízo da contemplação, se for acompanhado por uma incapacidade progressiva de silêncio, de adora~ão, de recolhimento prolongado, não tenhamos um segundo de hesitação, enganamo-nos com certeza. Ora estes perigo-s, estes erros, existem, estão no meio de nós, dentro de nós próprios, escondem-se sob pretextos e razões, procuram enganar-nos. Voltemos ao Evangelho. ~ lá que o diálogo tem a sua origem: é outro nome que se pode dar à caridade e a esta comunhão que Cristo quer que exista entre nós. Mas será necessário recordar que é, também no Evangelho, que a oração tem a sua origem? Perderemos sobre os dois tabuleiros se quisermos jogar apenas num. Cardeal GARRONE

• Deus, para se dar a conhecer, fala-nos. Também através dessa lingua~em divina que são as criaturas. Assim Tagore dizia que uma flor era "uma carta de amor do Bem-Amado" ... H. C.

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A

BROCA DE

PAPELÃO

"Meu pai era um homem de oração e de ação. Tinha grande intimidade com o Senhor. Um dia contou-me uma das suas conversas com Ele: "Dirigia-me ao Senhor e dizia-lhe: Há na terra um provérbio que diz que os bons operários têm boas ferramentas; no entanto, Vós meu Senhor, vos servis de mim que sou uma ferramenta bem pobre. Para se furar uma parede de concreto seria necessário uma broca de aço de alta qualidade; e vós vos servis de mim que sou apenas uma pobre broca de chumbo. Achava, continuava o meu pai, que a minha oração era toda feita de humildade; e sentia-me bastante orgulhoso ... ! Na verdade o que é o chumbo? Um metal que se deforma rapidamente, uma coisa sem consistência. Mas o Senhor respondeu-me: Meu caro, não te falta audácia, esqueces que o chumbo é um metal; diz antes que não passas de uma broca de papelão, e é isso que te ajudará a compreender o meu poder, porque eu, o teu Senhor, com essa broca de papelão furarei essa parede!" Naquele momento, essa estória pareceu-me um tanto estranha. Mas, depois de estudar melhor São Paulo ("minha força se manifesta na fraqueza ... " 2 Cor. 12,5), comecei a compreendê-la. E eis o que aconteceu a mim mesmo. Recentemente, no decorrer de uma viagem, tinha encontro marcado com um engenheiro, numa fábrica com a qual trabalho. Como tivesse chegado adiantado, fui ao encontro dele na estação. O trem -29-


devia chegar às 12h10 . Trinta segundos antes, els que aparece na curva da estrada e pára na plataforma em cima da h ora. Tal pontualidade deixou-me surpreso. Mal tinha tomado contato com a pessoa que esperava, confessei-lhe a minha admiração por es~a pontualidade . "se soubessemos, disse-lhe eu, ser assim pontuais na nossa vida cotidiana, profissional, familiar e cristã, seria extraordinário!" "É verdade, respondeu-me o meu interlocutor, que podemos tirar deste fato uma lição, mas como n ão sou praticante, não preciso enfrentar os problemas da vida cristã".

"Desculpe a minha indiscrição, mas lamento-o e rezarei para que o senhor o ajude a encontrár-LO". Olhou-me com certa surpresa e subimos para o carro e nos dirigimos ao restaurante. Deviamos chegar à fábrica à 1 h . e meia mas às 2 h. e meia terminávamos uma discussão apaixonante: durante todo o percurso da estação para o restaurante, aquela minha frase o tinha trabalhado e. logo na altura dos aperitivos, começou a explicar-me porque deixara de praticar; fa1ou -me dos padres que tinha encontrado, dos seus estudos de filosofia que tinham acabaCI.o por lhe abalar a fé, até que chegou à sua vida intima; divorciado, voltara a casar-se; contou-me como era a vida em sua casa, falou-me da sua mulher. Tentei compreendê-lo o melhor possivel e tentei ajudá-lo. Disse-lhe porque tinha fé e em que a apoiava . Falei-lhe das E. N. S. e do que lá faziamos. No fim do almoço, fiquei admirado ao ouvi-lo dizer-me: "Senhor H., muito obrigado, acaba de me responder a várias perguntas que desde há anos fazia a mim próprio" . E lembrei-me da "broca de papelão".

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ORAÇÃO PARA A PRóXIMA REUNIÃO

TEXTO DE MEDITAÇAO

Recitem o PAI NOSSO. Oração dos filhos de Deus, em quem o Espírito Santo clama "Abba, Pai" <Rom. 8, 15; Gal. 4, 6), mas conforme as ressonâncias pessoais de cada um.

ORAÇAO LITúRGICA

HINO: Vinde, 6 Espírito Santo, e enviai do Céu um raio da vossa luz. Vinde, 6 Pai dos pobres, Vinde, Benfeitor magnífico, Vinde, luz dos corações. 6 Consolador incomparável, hóspede dos corações, refrigério dulcíssimo.

Sois a paz na luta, a calma na turbação, o bálsamo na dor. -31-


6 Santíssima Luz, enchei o coração, o íntimo dos Vossos fiéis. Sem a Vossa proteção nada há no homem, nada, que seja puro. Lavai o que é impuro, regai o que está seco, curai o que está ferido. Dobrai o que é orgulhoso aquecei o que é frio, endireitai o que é tortuoso. Dai a~ vossos fiéis, que em Vós confiam, os sete Dons sagrados. Dai-lhes a recompensa da virtude, Dai-lhes o porto da salvação, Dai-lhes a alegria eterna . AMÉM. ORAÇAO

6 Deus que quereis a salvação de todos os homens e que todos conheçam a verdade, enviai operários para a roesse e permiti-lhes que saibam proclamar com confiança a Vossa Palavra, a fim de que a Vossa doutrina se espalhe, seja estimada, e que todos os :povos Vos conheçam, a Vós, verdadeiro Deus, e Aquele que nos enviastes, Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho. AMÉM. -32-



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