ENS - Carta Mensal 288 - Dezembro 1992

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RESUMO Abrindo a Conferência de Santo Domingo, João Paulo 11 fala de Evangelização Continuamos a refletir sobre a Reunião de Equipe, como Comunidade que Celebra: Parte V Ainda a Reunião: a grande ocasião para a nossa formação Os gestos concretos traduzem a fé na vida Testemunho de um casal sobre a Meditação Evangelizar e ser evangelizado: uma opção Ainda como Karol Wojtyla, o Papa escreveu uma peça de teatro. Um Conselheiro Espiritual a resume para nós Só Deus se basta a si mesmo. Mas Ele preferiu contar com você Como transmitimos a consciência ética aos nossos filhos? E que imagem damos aos nossos filhos do nosso trabalho?

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Editorial: Ide dizer.. . - Pe. Olivier Carta da ERI - Antoine e Marie Magdeleine Berger

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A grandeza de Maria está na fé e na obediência No Magnificat, o cumprimento da promessa Jovens Casais I: Conhecer o dom de Deus Jovens Casais 11: O verdadeiro amor Natal e Ano Novo: três artigos para nossa reflexão Quais são os católicos que vão para as seitas? Os que são jovens há mais tempo viram caracol? Notícias Internacionais O Movimento: quantos somos? Notícias e Informações Última página: Eu vou tomar o tempo Sugestões para Meditação e Oração

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c~rt,& Meri;~, é IJmâ pÚblicaçáo ~;r1~aféf~~ Eq~ip;s de Nos~i.S~nhora. ~9rl'l~lista RespC)n~i;.;el: catlt&rin; Énsab~th túdas (MTb 19835).

~áí~a~: ~q4ipk~~ ca~als dâ Carta M~tnsal. Fon~: (011) ~4-8833. · · •. ê9ri't~~rÇ~~/Diagramâçio/ FC)tolito~;cÉN Composição El;trôniclÍNew$work..•• •

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REUNIÃO DA GELAM

PAPA FAZ DISCURSO NA ABERTURA A nova evangelização não consiste em um novo evangelho, que surgirá sempre de nós mesmos, de nossa cultura, de nossa análise das necessidades do homem. Por isso, não seria "Evangelho" mas sim mera invenção humana, e não haveria salvação. Tampouco consiste em recortar do Evangelho tudo aquilo que parece dificilmente assimilável para a cultura de hoje. Não é a cultura a medida do Evangelho e sim Jesus Cristo, a medida de toda cultura e de toda obra humana. A nova evangelização não nasce do desejo de "agradar os homens" ou de "buscar seus favores", mas sim da responsabilidade para com o dom que Deus nos fez em Cristo, no qual tomamos contato com a verdade sobre Deus e sobre o homem e a responsabilidade da vida verdadeira. A nova evangelização tem, como ponto de partida, a certeza de que em Cristo uma inescrutável riqueza que não esgota nenhuma cultura nem época. Evangelizar é anunciar uma pessoa, que é Cristo. Ao evangelizar, a unidade da fé na Igreja tem de resplandecer não somente no magistério autêntico dos bispos mas também no serviço à verdade por parte dos pastores de almas, dos teólogos, dos catequistas e de todos os que estão comprometidos na proclamação da fé. A Igreja estimula, admira e tem respeito pela vocação do teólogo, cuja função é conseguir uma compreensão cada vez mais profunda da palavra de Deus contida na Escritura Sagrada e transmitida pela tradição viva da Igreja. Certamente é a verdade que nos faz livres. Mas devemos constatar que existem posições inaceitáveis sobre o que é a verdade, a liberdade, a consciência. Todos os evangelizadores devem prestar uma atenção especial à catequese. O catecismo da Igreja Católica é um valioso instrumento para a nova evangelização, onde se reúne toda a doutrina que a Igreja ensina". "Também o movimento litúrgico dá renovado impulso à vivência íntima dos mistérios de nossa fé, levando ao encontro com o Cristo ressuscitado na liturgia da Igreja. É na celebração da palavra e dos sacramentos, mas sobretudo na eucaristia, fonte de vida da Igreja e toda a evangelização, onde se realiza o nosso encontro salvífico com Cristo, ao que nos unimos misticamente formando sua Igreja. Por isso os exorto a dar um novo impulso à celebração digna, viva e participada das assembléias litúrgicas. CM Dezembro/92 - 1


Uma evangelização nova em seu ardor supõe uma fé sólida, uma caridade pastoral intensa e uma fidelidade que, pela ação do Espírito, gerem uma mística, um grande entusiasmo na tarefa de anunciar o Evangelho. Na linguagem do Novo Testamento, é a ousadia que inflama o coração do apóstolo. Por outro lado, os novos tempos exigem que a mensagem cristã chegue ao homem de hoje mediante novos métodos de apostolado, que seja expresso em linguagem e formas acessíveis ao homem latino-americano, necessitado de Cristo e sedento do Evangelho. Como fazer acessível, penetrante, válida e profunda a resposta ao homem de hoje sem alterar ou modificar o conteúdo da mensagem evangélica? Como chegar ao coração da cultura que queremos evangelizar? Como falar de Deus em um mundo em que está presente um processo crescente de secularização? Nos ambientes urbanos cresce uma forma cultural que, confiando somente na ciência e nos avanços da técnica, se apresenta como hostil à fé. Transmitem-se modelos de vida que contrastam com os valores do evangelho. Sob a pressão do secularismo, se chega a apresentar a fé como se fosse uma ameaça à liberdade e autonomia do homem. Não podemos esquecer que a história recente mostra que quando, amparado por certas ideologias, se nega a verdade sobre Deus e a verdade sobre o homem, torna-se impossível construir uma sociedade de rosto humano. A nova evangelização dará uma resposta integral, pronta, ágil que fortaleça a fé católica em suas verdades fundamentais e em suas dimensões individuais, familiares e sociais. O avanço das seitas revela um vazio pastoral que freqüentemente tem sua causa na falta de formação, que destrói a identidade cristã e faz com que grandes massas de católicos sem uma atenção religiosa adequada (entre outras razões por falta de sacerdotes) fiquem à mercê de campanhas de proselitismo sectário. A arraigada religiosidade popular, com seus extraordinários valores de fé e de piedade, de sacrifício e de solidariedade convenientemente evangelizada e gozosamente celebrada, pode ser um antídoto contra as seitas. A preocupação com o social forma parte da missão evangelizadora da Igreja. Contrapor a promoção autenticamente humana e o projeto de Deus sobre a humanidade é uma grande distorção, fruto de uma mentalidade de inspiração secularista. O mundo não pode sentir-se tranqüilo e satisfeito diante da situação caótica e desconcertante que apresenta: nações, setores da população, famílias e indivíduos cada vez mais ricos e privilegiados frente a povos, famílias e multidões submersas na pobreza, vítimas da fome e das doenças, carentes de moradia digna, de serviços, sanitárias, de acesso à cultura. Tudo isso é um testemunho de uma desordem real e de uma injustiça institucionalizada, à qual se somam o atraso em medidas necessárias, a 2 - CM Dezembro/92


passividade e a imprudência, quando não a transgressão dos princípios éticos no exercício das funções administrativas, como é o caso da corrupção. Deve-se buscar soluções em âmbito mundial, instaurando uma verdadeira economia de comunhão e participação de bens. A este respeito, um fator que pode contribuir é a integração latino-americana. A Igreja reafirma sua opção preferencial pelos pobres. Uma opção não exclusiva nem excludente, uma opção baseada principalmente na palavra de Deus e não em critérios apontados por ciências humanas ou ideologias contrapostas. Não existe autêntica promoção humana, verdadeira libertação nem opção preferencial pelos pobres se não partir dos mesmos fundamentos da dignidade da pessoa e do ambiente em que tem de se desenvolver, segundo o projeto do Criador. Todos são chamados a construir a civilização do amor neste continente de esperança. A América Latina, que foi a receptora de fé transmitida pelas Igrejas do velho mundo, deve se preparar para difundir a mensagem no mundo inteiro.

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PRIORIDADES A REUNIÃO DE EQUIPE: COMUNIDADE QUE CELEBRA (V) - a dimensão do compromisso 1 INTRODUÇÃO I

A reunião de equipe, no Movimento das Equipes de Nossa Senhora, é um meio e não um fim. É um meio para o crescimento e fortalecimento da comunidade eclesial, formada por 5 a 8 casais e por um conselheiro espiritual. É um meio, pelo caráter celebrativo que possuí, para infundir nos equipistas mudanças de atitudes, espírito d~ comunidade, sentido de Igreja, comunhão com a realidade salvífica de Deus. E um meio que serve de consciência crítica aos equipistas na procura de uma maior coerência e integração dos valores cristãos à prqpria vida, pela busca incessante da capacidade de viver a verdade de Deus. E um meio que fortalece o sentido da co-responsabilidade, da colaboração mútua, da ação em conjunto, de aum~nto de nossa capacidade de encontro e comunhão com todo o povo de Deus. E um meio que, pela pedagogia que lhe é própria, conduz a maturidade cristã, que é justamente este abrir-se e esta vivência da vontade e do amor de Deus. A reunião de equipe não pode ser traduzida por um papo informal, nem por uma conversa de roda de cafezinho. Também não é uma aula, onde vamos aprender o que o outro ensina. A reunião de equipe também não segue a dinâmica de um grupo de trabalho, ao qual se pede a solução de alguns problemas ou a programação de algumas atividades. A reunião de equipe, como encontro de uma comunidade eclesial, tem finalidades diferentes. Ela se refere à vida de cada um dos membros da equipe e às relações desenvolvidas entre eles, a fim de conseguir um crescimento pessoal, conjugal e grupal, que permita torná-los cada vez mais aptos para o serviço à Igreja e à Sociedade nas quais se encontram imersos. Pelo batismo, todos somos chamados a desenvolver uma experiência profunda e radical em comunidade. Aí reside, vamos dizer assim, a vocação do cristão. Cada equipe, em sua reunião e encontro, experimenta aquilo que foi objeto de testemunho perante aos outros, e se fortalece no amor de Cristo, assumindo o compromisso de levar aos outros este amor, ser címbalo que anuncia a Boa Nova, ser luz que ilumina caminhos, ser sal que dá sabor à vida, ser testemunha do Cristo libertador, ser realidade do Cristo encarnado no mundo atual para salvação dos homens. A reunião de equipe, por isto mesmo, é esta experiência concreta de unidade e convergência no amor e na ação, qual sacramento de Cristo, realidade da graça de Cristo, realidade viva do seguimento de Cristo. 2. A DIMENSÃO DO COMPROMISSO A dimensão do compromisso, decorrente da celebração litúrgica de Igreja, 4 - CM Dezembro/92


vem determinada por aquilo que é específico da assembléia/comunidade que a realiza. A Igreja de Cristo se reconhece, em essência, como a realização messiânica do povo de Deus, como comunidade compromissada com a Aliança definitiva. Por isto, a liturgia da Igreja tem como função não somente render a Deus o culto que lhe é devido, mas tornar presente e atuante entre os homens este mistério de salvação. Estes traços da Igreja determinam a natureza da sua liturgia. Toda celebração litúrgica tem o seu fundamento na aliança definitiva selada entre Deus e os homens através de Jesus Cristo. Conserva na sua estrutura o significado desta Aliança e renova para o cristão e a comunidade os compromissos nela contidos. Isto faz, da celebração litúrgica, o lugar de expressão e renovação do compromisso de ser cristão, de ser membro da Igreja de Cristo. Em todas as alianças estabelecidas por Deus com o povo de Israel são indicadas obrigações e compromissos bilaterais. Deus escolhe Israel e através da Aliança faz dele seu povo, sua propriedade. Deus, antes de tudo, compromete-se a cuidar dele, levá-lo para a Terra Prometida, fazê-lo propriedade sua. Mas, Deus exige de Israel ouvir a sua voz, cumprir a sua lei, guardar a sua aliança, não ter outros deuses. Assim falou Deus a Israel depois da saída do Egito: "Se, portanto, ouvirdes a minha voz, e observardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida, propriedade exclusiva, dentre todos os povos; porque toda a terra é minha. Sereis para mim um reino sacerdotal e uma nação santa". (Ex. 19,5-6) A nova e definitiva aliança nos é dada por Deus Pai através do seu próprio Filho, Jesus Cristo. Na eucaristia, por exemplo, celebra-se a Nova Aliança, isto é, o surgimento de uma nova humanidade, de um novo homem, de uma nova propriedade, de um novo sacerdócio, a partir de Jesus Cristo. Todos os relatos da instituição da eucaristia destacam estas palavras de Jesus: "Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da nova e eterna Aliança". (Mt. 26,26-28) Sobre a cruz, com o sangue da vítima perfeita, Jesus, iria ser selada a nova aliança entre Deus e os homens. Este era o compromisso redentor assumido por Deus, ao prometer o Salvador. A idéia da nova aliança também está presente em Paulo, especialmente no contexto eucarístico. Exorta os cristãos de Corinto a afastarem-se da idolatria, inveja e egoísmo para se aproximarem da ceia do Senhor. Escreve textualmente: "Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios". (1 Cor 10,2021) Mais adiante continua a advertência sobre a forma como os coríntios celebram, em assembléia, a eucaristia. Verificando que há divisões, discriminações, e não um sentido de comunidade, de fraternidade, de justiça, diz: Não estão demonstrando que são cristãos. (1 Cor 11,17-22) Pelo caráter comunitário da liturgia, portanto, não só é possível como necessário viver intensamente o mistério da comunhão e da unidade eclesial e, através dele, o próprio mistério do Reino de Deus. O maior compromisso do cristão, por isto mesmo, é com a utopia do Reino, Reino do qual a comunidade eclesial é sacramento e sinal, Reino que se realiza quando os homens se relacionam com a justiça e fraternidade, Reino presente no meio dos homens quando praticam o bem. CM Dezembro/92 - 5


Resulta fácil para todos nós então compreendermos que, para celebrar liturgicamente, para celebrar o culto da Igreja, para nos aproximarmos da mesa eucarística, é necessária uma preparação remota e próxima, pois que, ao recebermos um sacramento, dele deriva o compromisso da busca intensa da felicidade e da santidade. O mesmo Jesus pede que, antes de subir ao altar para apresentarmos nossas ofertas, deve haver a reconciliação com o irmão. Esta dimensão pessoal, exigida pela liturgia, deve ser salientada a todo o momento, pois sua função é alimentar a fé constantemente, encaminhar a pessoa para uma fé viva, viver o mistério da salvação, comprometer toda a vida e a vida toda. A liturgia, como ação de Cristo e qa Igreja, é um encontro com Deus e os irmãos, é festa de comunhão eclesial. E esta, pois, a dimensão de compromisso litúrgico que desejamos aqui salientar. Os bispos da América Latina, em Puebla, já afirmaram que a celebração litúrgica, como celebração da fé, deve ser uma festa da comunidade eclesial, para fortalecer o seu peregrinar e o seu compromisso de vida cristã. (Puebla 939) Verificam, no entanto, que "a participação na liturgia não repercute de forma adequada no compromisso social dos cristãos". (Puebla 902) Trata-se da constatação de um problema, que tem a ver com a pastoral litúrgica, mas trata-se principalmente de uma afirmação que sublinha a necessidade do compromisso social do cristão, para que possa participar de modo adequado da liturgia. Por que acontece isto? Entre outras razões: - pela perda do sentido de festa da celebração litúrgica, como aliança de Deus com a comunidade eclesial; - pelo acentuado caráter da salvação individual, que domina a consciência cristã; - pela separação entre a celebração litúrgica e a vida. 3. QUAIS COMPROMISSOS ASSUMIR NA REUNlÃO DE EQUIPE? Participar dignamente de uma reunião de equipe é, para nós equipistas, um compromisso importante, necessário , ansiosamente esperado, intensamente vivido antes, durante e depois. A reunião de equipe faz ou concretiza esta comunidade eclesial formada por casais e um conselheiro espiritual. A reunião de equipe é um dos meios por excelência de oração, de formação, de ajuda mútua, de comunhão fraterna, em torno do Cristo presente e a partir dele. Na reunião de equipe propriamente dita, ou nas suas várias partes, o que pode e deve ser motivo de compromisso para nós cristãos das Equipes de Nossa Senhora? Na partilha, por exemplo, temos de manifestar nosso compromisso para com as três atitudes de vida cristã, que formam nossa consciência humana e cristã. Nunca é demais repetí-las: - cultivar a assiduidade em nos abrir à vontade e ao amor de Deus; - desenvolver nossa capacidade para a verdade; - aumentar nossa capacidade de viver o encontro e a comunhão. Estas atitudes não podem ser buscadas ou vividas isoladamente. Assim 6 - CM Dezembro/92


perdem seu sentido. Elas formam um todo orgânico e indivisível, e têm por objetivo transformar nossas vidas e facilitar o verdadeiro encontro com o Senhor e com os irmãos. Os pontos concretos de esforço são meios que nos permitem cultivar e viver estas atitudes. Daí que, na partilha, deveremos manifestar a nossos irmãos a relação que existe entre os pontos concretos e as atitudes, tendo presente que é isto que dá sentido evangélico à vida do cristão. Nem as atitudes, nem os pontos concretos de esforço são privilégios dos equipistas. São deveres/compromissos de qualquer cristão, mas o Movimento, de acordo com sua pedagogia e mística, ajuda a vivencia-los, num contexto de espiritualidade conjugal e familiar. Enfim, na partilha assumimos compromissos que nos levam à conversão constante e à transformação do nosso ser comunitário e eclesial. A partilha não é o momento de prestação de contas, de fazer uma contabilidade com base em números, fez ou não fez, etc. É um momento de apresentar, em termos concretos, os nossos sucessos e dificuldades na vivência das atitudes e dos pontos concretos de esfqrço. É um momento de apresentar aquilo que somos e que procuramos ser. E um momento de nos comprometermos publicamente, perante os nossos irmãos, com a nossa transformação individual, conjugal, familiar, comunitária, eclesial, social, etc. A partir desse exame de consciência e ato penitenciai deveria se basear a partilha da próxima reunião, por exemplo, uma vez que se constituíram: - em pontos para "avaliar" o esforço de crescimento de cada um dos irmãos equipistas; - em compromisso de fé e de vida cristã para balizar a caminhada de cada um; - em necessidades e esperanças para o fiel seguimento de Cristo. E quando rezamos o Magnificat, como nos comprometemos? Muitas equipes rezam-no de mãos dadas, dando o sentido de que estão unidas, todos juntos no mesmo barco, comprometidos com o mesmo sentimento de serviço e doação de Nossa Senhora, fortalecendo a unidade do nosso Movimento. Faz-se não uma oração à Maria, mas a oração que ela mesma fez para exaltar as grandes maravilhas que Deus vem operando em sua humilde servidora, e que opera em nós, quando dizemos SIM ao seu chamado, quando somos generosos ao apelo e às suas graças, quando nos comprometemos com os mais necessitados, mais humildes, mais esquecidos, mais desamparados. Quando rezamos "o Senhor fez em mim maravilhas", estamos nos comprometendo, por exemplo, a acreditar no seu imenso amor de Pai, a confiar nele de forma irrestrita. Estamos reconhecendo que ele opera em nós maravilhas através do sacramento do matrimônio que recebemos, ou que nos ministramos. Estamos dizendo que é bom estarmos casados, que é assim que nos santificaremos. Quando rezamos "a minha alma engrandece o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador", comprometemos-nos a louvar constantemente o Senhor, agradecer-lhe por tudo aquilo que somos, que Ele nos faz e nos dá a todo o instante, como seus filhos diletos. No Magnificat, comprometemo-nos com as mesmas atitudes que Maria teve durante toda a sua vida: atitudes de entrega, de recolhimento, de oração, de CM Dezembro/92 - 7


luta como mãe e esposa, de amiga dos apóstolos; atitudes de disponibilidade e reconhecimento da vontade de Deus. A oração do Magnificat é a expressão de quem experimenta e vive as graças de Deus, como Maria o fez. E a contribuição, que ponto concreto difícil! Mas, qual é o compromisso que assumimos quando pagamos corretamente a nossa contribuição? (Contribuir não é somente tirar algum dinheirinho do bolso na hora apropriada durante a reunião de equipe.) Através da contribuição estamos nos comprometendo com a manutenção do Movimento, com a sua expansão por todos os cantos, para que ele seja, efetivamente, um instrumento da Igreja no Brasil, e não simplesmente um privilégio de uns poucos casais. Estamos nos comprometendo a favorecer inúmeros serviços (como a Carta Mensal, cursos/encontros/seções de formação, etc.) necessários à melhoria qualitativa do nosso Movimento. Estamos nos comprometendo a levar a mística e a pedagogia do nosso Movimento a inúmeros casais que, igual a nós, desejam ser ajudados em sua vivência eclesial e social. Tantos outros compromissos ainda podem ser assumidos, cabendo a cada equipe, em suas reuniões, estruturá-los adequadamente, para serem motivo de celebração e festa, como: - renovação do amor do casal e das esperanças de um amor sempre renovado, de uma união sempre mais duradoura, até que a morte os separe; - rejeição dos valores do mundo, que privilegiam atitudes de morte, de desestabilização e destruição da família; -evangelização da família como célula vital para a Igreja e para a Sociedade; - anúncio da Boa Nova do casamento e da famRia, como lugar de amor, felicidade e santidade; - renovação da aliança sacramental do casal, da mesma forma que Cristo e sua Igreja (através da liturgia) ; - promoção dos valores do Reino de Deus, por meio do testemunho e de ações concretas. 4. CONCLUSÃO Faz-se necessário e urgente insistir que na reunião de equipe, enquanto celebração litúrgica, celebra-se a "nova aliança", isto é, o surgimento de uma nova equipe, de uma nova comunidade eclesial, recriada a cada dia, a partir da ~ida de Jesus Cristo, do seu surgimento. E esta nova comunidade a garantia do nascimento de uma nova humanidade, na perspectiva do Reino de Deus. Na reunião de equipe, ao celebrar este dom, o cristão/equipista compromete-se com o projeto de Deus, compromete-se com a construção da nova Igreja, sacramento e sinal do Reino, fundamento da nova humanidade. O compromisso cristão não se refere apenas aos aspectos éticos e morais. Estende-se ao seu ser eclesial. Ou melhor, o compromisso do cristão é determinado por aquilo que é específico da Igreja: comunidade compromissada com a aliança definitiva, sinal e garantia do compromisso de Deus para com a humanidade. O compromisso é a expressão dinâmica de um projeto de vida conjugal, 8 - CM Dezembro/92


familiar, equipista e eclesial, desenhado a partir do Evangelho, assumido comunitariamente, tendo em vista a promoção e concretização de um mundo mais justo, fraterno e humano, na perspectiva concreta do Reino de Deus já entre os homens. Só celebra, comemora, festeja quem tem motivos, porque se compromete. O casal que não assume compromissos, especialmente em função da razão própria do sacramento do matrimônio, não vive o sacramento em sua plenitude e não vive a condição de ser casal como proposto pelo projeto de Deus. Desse modo, o casal necessita renovar constantemente sua aliança matrimonial, e a reunião de equipe é um excelente meio para isto. Caso contrário, está perdendo seu tempo, e deixando de se preparar para evangelizar. O preparar-se bem para a reunião de equipe sempre foi uma necessidade e vem adquirindo crescente importância, em face, justamente, do compromisso comunitário assumindo enquanto casal e equipe. Para ser uma testemunha privilegiada, um discípulo de Jesus, o casal assume também o compromisso de favorecer a concretização do projeto de vida dos filhos e de outras famílias. Este ponto é essencial para a fé cristã, porque é decorrente de sua aliança sacramental. Mariola e Elizeu Calsing Pe. Augusto Garcia Equipe 19-A (Brasília)

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PRIORIDADES

A FORMAÇÃO A formação dos casais equipistas é uma das prioridades do movimento visando ao crescimento espiritual de seus membros. A meta do cristão é torna-se adulto na fé, e o cristão tornar-se adulto quando se aproxima tanto de Jesus que passa a ser um novo Cristo. Quais as oportunidades de formação que o movimento - nos oferece? Precisamos destacar a Carta Mensal como meio importante de formação, como nos boletins de Setor. Estamos nós dando-lhes o devido valor? As sessões de formação têm sido momentos riquíssimos para todos, no entanto, são poucos ainda aqueles que dizem "sim" quando convidados. Nossas noites de oração e de formação, nossas missas mensais, nossos encontros sociais são meios importantes para nossa formação porque temos oportunidade de crescer espiritualmente através da comunhão que se realiza nesses momentos. Os pontos concretos de esforço são também meios de formação porque levam a pessoa a encontrar-se consigo mesma, com o cônjuge e com Deus, numa perspectiva de crescimento e de satisfação. O melhor meio de formação das ENS é a Reunião de Equipe. Precisamos estar atentos para usar a criatividade e melhorar nossa reunião de equipe para que ela seja sempre, e cada vez mais, oportunidade de formação. Cada grupo de casais é uma comunidade e a reunião é o momento privilegiado de celebração. É nosso lugar de santificação, de realização comunitária. A preparação da reunião deve levar-nos a questionarmo-nos: "que Cristo levaremos para a reunião de equipe?" Conseqüentemente, sobre o roteiro devemos fazer uma reflexão e uma preparação para nos abastecermos, a fim de levarmos a nossa encarnação do Cristo para os demais. E revestidos de amor, transformamo-nos, chegamos a tempo e alegres , porque demonstramos respeito pelos outros e vontade de demonstrar esse amor através de pequenos gestos. A co-participação é um momento de formação se vivido na dimensão de amor para o qual somos motivados: o ato de abrir-se aos irmãos, falando sobre nossas tristezas e alegrias, progressos e preocupações, nossa experiência de vida a dois, e em família. Demonstramos nossa confiança em nossos irmãos e os que nos ouvem demonstram entre-ajuda, correção fraterna. É momento de formação na fratern idade. O momento de oração - escuta da palavra e meditação - em que a ação divina vai plasmando a cada um de nós como pessoas e pessoas cristãs.

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Nossa formação é impulsionada por este valioso momento que nos transforma sempre. O estudo do tema é meio de atualização intelectual e religiosa e deve levar-nos a trocar idéias e aplicá-las à nossa vida. É um meio de crescimento espiritual. Toda reunião de equipe é um compromisso. A partilha ajuda-nos a crescer no amor, porque nela pomos em comum os esforços que realizamos no sentido de nosso crescimento na vivência de nossa fé. A entre-ajuda que é possível nesse momento é o exercício da caridade, do perdão e da esperança. Enfim, a reunião de equipe tem sua finalidade no serviço que presta aos casais como instrumento de formação, o mais rico e, por isso, mais importante meio de crescimento que as ENS nos oferecem na caminhada que nos leva ao Pai. Lenice e Luiz CRS Araraquara/S P

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FÉE VIDA

UM GESTO CONCRETO Sempre que nos reunimos não é raro falarmos da importância do fortalecimento da nossa fé, para melhorar nossa aproximação do Criador. Esta virtude, às vezes, nos parece mais fortalecida quando fazemos bom uso das ferramentas que o movimento das ENS oferece e que nem sempre recebem, de nossa parte, a devida atenção. Quando voltamos de mais um Retiro, por exemplo, notamos que alguma coisa pulsa diferente dentro de nós, nem por isso podemos afirmar que a nossa fé saiu fortalecida, mas sim que estamos reabastecidos de propósitos que poderão fortalecê-la, caso nos dispusermos a transformar, pelo menos, um desses propósitos em gesto concreto. Para isso, podemos nos valer da Regra de Vida ou de qualquer outro meio que nos permita essa realização. No momento em que tanto se discute a falta de credibilidade, nós equipistas não podemos nos deixar abater por esses pensamentos negativistas, nem tão pouco perder a fé nos homens, imagem e semelhança de Deus, onde o divino Espírito Santo manifesta-se e se faz presente. O mundo que todos nós sonhamos e que a humanidade tanto necessita, certamente depende de cada gesto que tornarmos concreto (fazermos a vontade do Pai), não apenas perante o Movimentei, mas sobretudo na família , no trabalho, no lazer, ou em qualquer outro lugar que nos encontrarmos. Nos momentos mais difíceis, quando as coisas parecem mais obscuras, é que devemos mostrar a autenticidade de nossa fé cristã. Nas noites mais escuras é que percebemos com mais nitidez a presença dos vaga-lumes nos campos da vida. É procurando ser um sinal de luz através de um testemunho de vida cristã que, talvez, consista a nossa missão mais sublime. Dalvinha e Edmílson Eq. 50- N. S. do Redentor Brasília- DF

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PONTOS CONCRETOS

MEDITAÇÃO É um dom de Deus, uma dádiva gratuita para todos os seres humanos. É a capacidade de submeter-se a um exame interior, é a volta da consciência sobre si mesmo, numa auto-análise de seu próprio conteúdo. Coordenada pelo senso crítico, pode avaliar as limitações e imperfeições, bem como dimensionar as potencialidades, os dons e os talentos. A capacidade de meditar é limitada, mas exige constante revisão dos critérios de valores, muita perseverança e um esforço de todos que possuem a predisposição de arrancar pela raiz o que tem de ruim em si e colocar a casa interior em ordem. Muito praticada pelos orientais, a meditação conceituada de forma abrangente, pode ser executada por pagãos e ateus, entretanto sua eficácia fica extremamente prejudicada, já que o ser humano é limitado em si próprio como criatura e exige um elo de ligação com o criador. O ser humano necessita de uma sintonia perfeita com Deus, através de uma projeção vertical que o insere num contexto histórico através do Cristo e estabelece critérios de valores alicerçados no Amor, na Palavra, na Verdade, na Justiça, na Paz, na Solidariedade e na Fraternidade. Meditação e Reflexão são práticas semelhantes, todavia a reflexão tem como objetivo os outros, isto é, é a análise de mensagens, fatos ou idéias que nos são colocadas para assimilarmos e que depois de filtradas pelo nosso senso crítico poderão ser comunicados aos outros. Uma forma especial de meditação é a contemplação que é a atitude de procurarmos no mundo exterior, na natureza a grandiosidade, a perfeição e a bondade do criador. Nós equipistas que temos na meditação um meio de aperfeiçoamento, um ponto concreto de esforço deveríamos tanto quanto possível direcioná-la para a espiritualidade conjugal e familiar. Para tanto na prática sugerimos apoiar a meditação nas três atitudes que constituem os pilares de sustentação do nosso crescimento espiritual: a) procura assídua da vontade de Deus b) a busca da verdade c) vivência do encontro e comunhão. Como meditar? Na prática sugerimos o seguinte roteiro: 1) Preparação: ou seja, fixar de antemão o assunto da meditação que pode ser uma atitude de Cristo, um versículo do evangelho, um acontecimento pessoal ou mesmo um dom de Deus para nós. Escolher tempo e lugar, de acordo com as circunstâncias, mas sempre que possível em local calmo, silencioso, onde se possa isolar do mundo durante dez minutos ao dia. 2) Início: uma oração para romper a rotina da vida colocando-nos em CM Dezembro/92 - 13


sintonia com Deus, precedida do sinal da cruz e se estivermos numa capela genuflexão. Invocar a inspiração e a ação do Espírito Santo. 3) Meditação: "Rezar é pensar em Deus amando-o". Assim por exemplo se escolhermos a visão como um dom de Deus para meditar, podemo-nos questionar: a minha visão tem contribuído positivamente para que eu busque assiduamente a vontade de Deus? Se eu perder esse dom e me tornar cego terei mais facilidade ou dificuldade? Estou aproveitando bem está dádiva divina quando tantos outros já estão cegos? Como enxergo o meu conjunge, meus filhos, minha família, minha equipe? Tenho procurado ser coerente com o que vejo com os meus olhos no quotidiano e a busca da verdade? Tenho colocado em prática os ensinamentos da palavra? Na minha vivência e comunhão tenho enxergado meus semelhantes com os olhos de Deus, ou ainda estou sofrendo a influência de preconceitos? Será que meus olhos tem contribuído para o crescimento da minha espiritualidade conjugal? Encerra-se a meditação agradecendo a Deus pedindo perdão pelas negligências voluntárias e pedindo proteção para esse dom gratuito que "Ele" nos deu. Wanda e Joaquim Equipe 1 Votuporanga

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REFLEXÃO EVANGELIZAR OS POBRES E SER EVANGELIZADO POR ELES Faz algum tempo que recebemos um folheto de uma Congregação de missionários. Lemos nele uma coisa que chamou a nossa atenção. O lema daqueles missionários é o seguinte: "Evangelizar os pobres e ser evangelizados por eles". Achamos isso muito interessante. A evangelização, para eles, deve ter mão dupla. Não é só dar, transmitir o evangelho, mas também receber, ser evangelizado pelos evangelizandos. Estando a refletir sobre isso, nos veio em mente outro lema, já muito conhecido, o de Puebla: "Opção preferencial pelos pobres". Nós confessamos que este lema sempre nos causou um certo desconforto, nos dava a seguinte impressão: antes a gente estava mais voltado para os ricos; agora era necessário optar pelos pobres, era necessário dar meia volta e dirigir a nossa atenção a eles e dizer: "Olhem, agora estamos com vocês, queremos ajudá-los, contem com a gente, estamos aí". Mas, na realidade, só demos meia volta e continuamos no mesmo lugar. Se éramos ricos, continuamos sendo; se éramos acomodados, continuamos sendo. Será que a opção pelos pobres é só dar meia volta? Será que é só isso que Cristo quer no Evangelho? Ou será que ele quer que demos meia volta e caminhemos em direção dos pobres? Depois de muito meditar, chegamos à conclusão que não basta somente optar pelos pobres. É necessário a gente optar por ser pobre. É isto que Cristo pede bem claro no sermão da montanha. Até aí, tudo bem. Foi então que começou a nos incomodar a palavra "pobre". O que essa palavra significaria realmente na mente de Cristo quando ele condicionou a posse do Reino à condição de ser pobre? Começamos, então, a ler e pesquisar sobre isso. E vimos que já se escreveram muitas páginas e muitos livros sobre o assunto. Ficamos com a explicação dada por Georges Chevrot em seu livro "O sermão da montanha". Diz ele: "Não há dúvida de que os "pobres" de quem Cristo fala são exatamente os mesmos a quem os livros do Antigo Testamento dão o nome de "anawim" (=pobre, em hebraico). Nos três séculos que precederam a era cristã, o povo judaico, oprimido sucessivamente pelos gregos, pela dinastia de Herodes e pelos romanos, foi ao mesmo tempo mais religioso e mais desgraçado do que nunca fora ... A sua desgraça, que em uns provocava um exaspero sempre pronto para a revolta e em outros um desprezo orgulhoso pelo conquistador, foi, para uma elite, motivo de uma elevação moral surpreendente: eram os "anawim". Desprovidos de honras e de vantagens terrenas, instrumentos e muitas vezes vítimas dos caprichos dos poderosos, tinham como única esperança a misericórdia do Senhor. CM Dezembro/92 - 15


Por isso, na linguagem bíblica, o primitivo significado da palavra "anawim" ampliou-se para designar o homem pobre, humilde e confiante em Deus". A Bíblia de Jerusalém, comentando Sofonias 2,3 diz coisas semelhante: "Os anawim são os israelitas submissos à vontade divina". Portanto, pobre, na linguagem bíblica, é todo aquele que aceita a Deus pela fé, põe toda sua confiança nele e está disposto a fazer em tudo a sua vontade. Na Bíblia, as palavras pobre, oprimido, humilde, manso, pequeno, criança têm praticamente o mesmo significado. Lendo o sermão da montanha em Mateus e Lucas, achamos uma diferença. Mateus fala em "pobres em espírito". Lucas tem uma linguagem mais dura e interpela diretamente o auditório: "Bem-aventurados vós, os pobres ... " E a essa bem-aventurança ele opõe uma ameaça: "Ai de vós, ricos ... " Lucas parece estar falando de pobres de fato e Mateus, dos que têm a alma pobre. Como o evangelho é inspirado por Deus, sabemos que não pode haver contradição. É questão de interpretar o que os autores sagrados tinham em mente. Se Jesus está se referindo somente aos pobres de fato, isto é, aos que são desprovidos de bens e riquezas, haveria a seguinte conseqüência lógica: todo seguidor de Cristo deveria ser pobre de fato, os cristãos seriam um bando de pobres, e até seria anti-evangélico querer tirar os pobres da pobreza ou querer promover os pobres, pois eles seriam os felizardos, os possuidores do Reino. Isso nos pareceu um absurdo. Além disso, em nossa vivência com as pessoas, observamos que o fato de alguém ser pobre de fato, em muitos casos não o torna mais santo do que os ricos . Tem também a passagem do Evangelho sobre Zaqueu. Ele era rico. Era chefe dos arrecadadores de impostos. Mas, no momento em que ele disse: "senhor, eis que eu dou metade de meus bens aos pobres, e se defraudei a alguém, restituo-lhe o quádruplo", ele se tornou pobre de espírito. Por isso, Jesus lhe disse: "Hoje a salvação entrou nesta casa ... " Parece que Zaqueu não se tornou pobre de fato. Ele só deu a metade aos pobres e ficou com a outra metade, que certamente não era pouco. E continuou arrecadando impostos ... São Lucas parece querer acentuar uma idéia: para o pobre de fato é mais fácil ser pobre em espírito e para os ricos, é mais difícil. O Magnificat, que é o canto do "anawim" , realça claramente o sentido moral que a Bíblia atribui à palavra "pobre". As expressões: "olhou para a humildade, exaltou os humildes, aqueles que o temem, sacia de bens os famintos, Israel seu servidor", indicam o mesmo sentido: Deus abençoa e protege os "anawim", os que são submissos a sua vontade. Aos pobres de espírito, aos que têm alma de pobre se opõem os ricos em espírito, os que tem alma de rico. São aqueles a quem o dinheiro atormenta ou contenta, aqueles que põem sua confiança e esperança só nos bens materiais. A estes o Evangelho tem palavras duras: "É mais fácil a um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que a um rico entrar no reino dos céus". 16 - CM Oezembro/92


Resumindo agora a nossa meditação, podemos concluir o seguinte: - Pobre, no sentido bíblico, é todo aquele que põe a sua confiança em Deus e está disposto a fazer em tudo a vontade dele. -A pobreza evangélica não é um fim em si, mas é um meio para o cristão viver o Evangelho. - É mais fácil a um pobre de fato ser pobre em espírito, mas nem sempre. É mas difícil a um rico de fato ser pobre em espírito, mas nem sempre. - Não devemos ter apenas opção preferencial pelos pobres. Devemos também optar para sermos pobres no sentido bíblico. - Nós, equipistas, em nosso ministério de evangelização, poderemos também adotar o lema da mão dupla: Evangelizar os pobres e ser evangelizados por eles. Joseana e Augusto Equipe N. S. de Lourdes Porto Feliz - SP

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REFLEXÃO

"A LOJA DO OURIVES" de Karol Wojtyla Vem aqui um resumo de que a revista "Pergunte e Responderemos" ano XI - n11 251 trouxe sobre a peçateatrai"Aiojado ourives" que João Paulo 11, quando jovem estudante, escreveu em estilo simbolista. Trata do amor conjugal como doação mútua e aliança de dois corações, mais do que envolvimento carnal. Sem este conceito, as alianças de ouro perdem inteiramente seu sentido. Se muitos casais fracassam, é pelo despreparo dos noivos, que não têm a verdadeira noção do Amor. Os pais formam ou deformam a personalidade dos filhos, principais v~imas da dissolução de um casal. São três atos: 1) Os avisos. Teresa e André vão procurar alianças de noivado na loja do ourives. Este, lembra os jovens que as alianças são mais do que peças de metal; o seu peso não é o do ouro, mas o do ser humano dos dois nubentes juntos. Teresa e André tomam consciência de que o amor passa pelos corpos mas reside em algo maior, capaz de superar toda prova. 2) O esposo. Ana e Estêvão, casados, três filhos, não se entendem entre si. Vão separarse. Ana vai vender sua aliança. Mas o ourives lhe diz: "Esta aliança não tem peso.

O fiel da minha balança está parando em zero. Estando vivo o seu marido, nenhuma das duas alianças tem peso sozinha, têm peso só as duas juntas. A balança pesa não o metal mas o ser humano e o seu destino!"

Ana verifica que o amor não é apenas sentimento, mas a síntese de duas vidas, que resultam numa só. E o amor não é uma aventura, mas uma eternidade. No caminho aparece Adão no momento em que Ana ia entregar-se a um aventureiro que a convidava a entrar no seu carro. Adão lhe mostra cinco virgens prudentes e cinco virgens levianas (Mt. 25,1-13). Ana se reconhece entre as levianas e procura com os olhos o Esposo que aquelas virgens esperam. Ele aparece. Mas Ana vê nele o rosto de Estêvão e foge ... O Cristo em que ela crê, só vem a ela através de Estêvão ... Mas, pensa Ana, "já é tarde". 3. Os filhos. De Tereza e André nasceu Cristóvão que aos dois anos perdeu o pai na guerra. Feito rapaz, encontra Mônica, Filha do casal separado, Ana e Estêvão. 18 - CM Dezembro/92


Cristóvão, digno herdeiro das qualidades de seu pai André, propõe casamento a Mônica. Ela, ressentida da instabilidade da união de seus genitores, hesita: "Tenho medo de mim mesma e também por você.. . Meus pais vivem como duas pessoas estranhas .. . Não acabará assim o nosso amor? Não abandonarei você como fez minha mãe? Você não me abandonará como fez meu pai? " Cristóvão responde : "É preciso sepultar as lembranças sombrias e aceitar o desafio de construirmos o nosso próprio destino... " Mônica e Cristóvão casam-se. À cerimônia do enlace comparecem os pais de ~ônica, a mãe de Cristóvão, Teresa, e Adão, que diz aos noivos: "E ilusão pensar que basta como valor máximo o nosso amor humano, sem inserí-lo no único Amor que é absoluto! " Mônica e Cristóvão compreendem que, em sua união, deverão refletir o Ser do único Amor Absoluto, Deus! Estêvão pega no braço de Ana e diz: "Que pena que há tantos anos não nos tenhamos mais sentido como dois jovens!" E reconstroem o amor ferido.

* Reflexões. O amor conjugal insere os esposos no Amor de Deus, único Absoluto! O nubente deve descobrir Cristo através dos traços humanos do consorte. O fracasso de muitas uniões tem sua causa na superficialidade dos afetos com que os nubentes julgam amar-se. Uma aliança de ouro sem um coração generoso, e aberto para Deus, nada vale. O amor e os valores perduram mesmo na ausência forçada de um cônjuge que morre cumprindo o dever. Os filhos trazem a marca do amor e do desamor dos pais! A peça é o eco fiel da concepção cristã do amor do casamento. Pe. Mário Zuchetto Equipe 4 - Campinas/SP

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DEUS PREFERIU CONTAR COM VOCÊ Só Deus pode criar, Mas você pode valorizar o que Ele criou. Só Deus pode dar a vida, Mas você pode transmiti-la e respeitá-la. Só Deus pode dar a fé, Mas você pode dar o seu testemunho. Só Deus pode dar a Paz, Mas você pode semear a União. Só Deus pode dar a força, Mas você pode apoiar quem desanimou. Só Deus pode infundir esperança, Mas você pode restituir a confiança ao irmão. Só Deus pode dar o amor, Mas você pode ensinar o seu irmão amar. Só Deus pode dar a alegria, Mas você pode sorrir a todos. Só Deus é o caminho, Mas você pode indicá-lo aos outros. Só Deus é a Luz, Mas você pode fazê-la brilhar no mundo. Só Deus é a vida, Mas você pode dar aos outros a alegria de viver. Só Deus pode fazer o impossível, Mas você sempre poderá fazer o que é possível. Só Deus pode fazer milagres, Mas você pode fazer sacrifício. Só Deus pode fazer a semente do bem germinar, Mas você pode plantá-la no coração humano. Só Deus se basta a si mesmo, Mas Ele preferiu contar com você. lzaura e Francisco Equipe 2 Araraquara/SP

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PAIS E FILHOS

CONSCIÊNCIA ÉTICA E FAMÍLIA "Que todos considerem como sagrada obrigação enumerar as relações sociais entre os principais deveres do homem de hoje e observá-las. Com efeito, quanto mais se une o mundo, mais abertamente as funções humanas superam os grupos particulares e estendem-se pouco a pouco ao mundo inteiro. E isto não se pode fazer sem que os indivíduos e seus grupos cultivem em si mesmos as virtudes morais e sociais, e as difundam na sociedade. Assim aparecerão, com o necessário auxílio da graça divina, homens realmente novos e construtores de uma humanidade nova". (Vat. 11, Gaudium et Spes, 30) Nestes últimos meses, o Brasil inteiro se agitou e envolveu numa grande onda pela moralidade, pela ética e pela moralização da vida pública. O clamor, por vezes irreverente, do mais jovens se juntou aos pronunciamentos serenos dos que possuem a sabedoria dos anos. Um só objetivo, uma determinação: abaixo a corrupção conivente, a imoralidade institucionalizada, a barganha do dar para receber, enfim, do "tirar qualquer vantagem em tudo". A consciência ética do povo que parecia sedada pelos meios de comunicação com sua novelas e programas alienantes, sua superficialidade e apelo ao erotismo, de repente despertou com a força energética de quem quer estourar redutos, dinamitar estruturas condenadas. Estes sinais dos tempos nos levam a pensar um pouco mais como estamos trabalhando na formação da consciência ética na família, passando pela escola, para a vida profissional e social. Em algum momento de nossa vida, começamos a perceber o que é certo e errado, justo e injusto, verdadeiro ou mentiroso. Da prática chegamos a um conceito . Do conceito a uma filosofia de vida e comportamento. Que valores as crianças, os jovens, de hoje assimilam? Como entendem a relação entre direitos e deveres? O bem pessoal e o bem comum? Qual a concepção de responsabilidade, compromisso, verdade, dignidade? Se fossem chamados a depor numa CPI da formação ética de nossas famílias, o que teriam a dizer do comportamento dos pais, dos adultos, de colegas e deles mesmos? Como lhes é passado o sentido da solidariedade, da partilha, do diálogo? da tolerância? da afetividade? da autoridade? do abrir mão em favor daquele que no momento é o mais carente e necessitado? CM Dezembro/92 - 21


E o tráfico de influências, a manipulação dos sentimentos e das carências, as chantagens emotivas, os meios ilícitos de se classificar num concurso e obter mais pontos na provas, captar as boas graças para conseguir benesses e favores, simulação de moralismo e religiosidade, sem coerência na vida, os prêmios e gratificações, atitudes que ficaram impunes, não foram devidamente corrigidas, as mordomias. Colocamos em debate estes questionamentos com o objetivo de conseguirmos buscar um consenso sobre como a família pode contribuir para a formação da consciência ética de seus membros, tendo em vista a transformação da sociedade nos seus valores morais. P. Paulo D'Eiboux S.J.

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PAIS E FILHOS

UMA LIÇÃO DIFÍCIL - Júnior, larga esse videogame e vai fazer tua lição. - Quando eu morrer, eu vou, pai. - Não, senhor, vai agora. - Não sei pra que tanta lição. - Você quer virar carroceiro, menino? - Deve ser melhor do que esse seu serviço ... - O que está dizendo? Até que nossa vida não é tão ruim assim, é? - Não, pai. É que eu fico pensando: pra que você estudou tanto se vive reclamando do trabalho? -Só fiz o curso técnico, filho. Virei chefe de setor na base de trabalhar muito, aprender os macetes da empresa e me esforçar demais. Eu sonho com uma vida melhor para meus filhos, acho que você pode ir para a universidade. -Sei lá, pai, falta tanto tempo ... E o pai do Chico, que é engenheiro, também se queixa um bocado. - É que a empresa onde nós trabalhamos é complicada. - Não vem com essa, não. Pelo que vocês falam, parece que tudo quanto é empresa é ruim ... - Muitas são, mesmo. - Eu nunca pude visitar o lugar onde você trabalha. - Já pedi autorização, estou esperando a resposta. - Olha, pai, esse seu serviço não está com nada. Você vive nervoso e com raiva dos seus chefes. Ano passado, você me prometeu uma bicicleta para quando viesse o aumento. Até hoje, nem notícia do tal aumento. - Os tempos andam duros, filho, o pessoal lá só fala em demissão. Dê graças a Deus que seu pai continua empregado. - Sei não ... Quando eu quebrei a perna, você pediu autorização para ficar comigo no hospital e não deram. Não sei para que tanto estudo, tanta lição, tanto trabalho, se nem levar a mãe ao cinema você tem feito. É melhor eu voltar a jogar videogame, mesmo. Pelo menos me divirto enquanto sou criança. - Pára de me enrolar, menino. Se me desobedecer, você vai é para o castigo. - Essa forma de tratar os outros você também aprendeu no trabalho, pai? Rachei Regis

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EDITORIAL

IDE DIZER Ide dizer... Este é o lema e o tema propostos para este ano pela Super-Região França/Luxemburgo/Suíça. É uma palavra de ordem que conhecemos bem, já que, ao final das Missas que encerram nossas Sessões, o sacerdote, todas as vezes, envia-nos em missão. É um rito quase consagrado nas Equipes. E é bem normal que seja assim. Quando se teve a oportunidade de aprofundar-se juntos na Palavra de Deus, de juntos extrair as riquezas deste tesouro inesgotável, não se pode deixar de sair clamando a alegria e a esperança. Não se pode deixar de ir dizer a todos o que se descobriu e o que somos chamados a viver. Em suma, a missão é simplesmente a explosão da riqueza de amor que carregamos em nós. Este envio em missão traduz-se aqui por uma fórmula bem precisa: Ide dizer. É nessa palavra que quero me deter. Dizer. É isso mesmo que é preciso fazer? Temos a sensação de que já existem discursos demais em nosso mundo, discursos demais que não resultam em nada! Lembro-me ter lido, outrora, em livros de piedade, que deveremos prestar contas ao Senhor de toda palavra inútil que pronunciamos. Puxa! Bela perspectiva para os tagarelas! Ademais, vivemos numa civilização da imagem , a tal ponto que muitas crianças pequenas, fascinadas pela televisão, têm muita dificuldade para aprender a ler e escrever. Numa tal cultura, a palavra perdeu o prestígio. As homilias tiveram que ser seriamente encurtadas. Santo Agostinho pregava durante horas, sem microfone e sem s/ides. Qual é o pregador que teria a coragem de fazer isso hoje?

* E no entanto, estou convencido de que a palavra permanece essencial. Será preciso lembrar que o cristianismo é uma religião da Palavra? É até mesmo a religião do Verbo encarnado. E sabemos que a pedagogia da fé fundamenta-se na palavra: «fides ex auditu» , a fé entra pelas orelhas. E "como crerão, se ninguém lhes anunciar? ". Aliás, não temos necessidade, para nos convencermos, de recorrer às Escrituras. Mas o que eu queria contar-lhes é uma estória pessoal que deixou este ponto mais claro para mim. No verão passado, batizei meu sobrinho-neto mais novo. Uma de suas avós é uma militante socialista muito dinâmica, além de anti-clerical. Mas não foi sempre assim . Foi ela que me lembrou 24 - CM Dezembro/92


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que, trinta anos atrás, eu tinha pregado uma missão paroquial naquele lugarejo. Eu já me tinha esquecido totalmente. Mas ela não. Ela estivera presente e agora me disse, diante de todos: «Você disse uma coisa que nunca esqueci e que marcou toda a minha vida ... A respeito de uma pecadora, você disse: "Foi-lhe perdoado muito, porque amou muito."» Naturalmente, exclamei-me: «Não fui eu que disse, foi o Evangelho!»- «O Evangelho? Não conheço! Para mim, foi você que falou e estou muito agradecida.»

É uma estória que me fez refletir muito. Para nós, o Evangelho é coisa conhecida, ou pelo menos algo que está à disposição de todos. Basta lê-lo. Mas ai é que está! Há muita gente que não o lê e que não o conhece. É um tesouro que está à sua disposição, mas se nós não formos dizer-lhes, não vão ficar sabendo. Ide dizer! É indispensável.

* Aliás, a Palavra de Deus, que vocês têm a responsabilidade de difundir, como leigos participantes da missão da Igreja toda, não foi feita para ficar trancada num livro. Sem dúvida, não é sob esta forma que ela deve ser anunciada. É claro que isto não deve impedir-nos de contribuir para a difusão da Bíblia em tantos países que ainda dela carecem. Mas a Palavra de Deus foi feita para ser dita e mesmo proclamada. Não me lembro qual o exegeta, preocupado com a prática pastoral, que fez esta curiosa comparação. A Palavra de Deus deve funcionar como o leite em pó. O leite é uma bebida. Para ser conservado, deve ser transformado em pó. Mas quando se quer consumí-lo, deve voltar a ser bebida. Assim também a Palavra de Deus. Ela deve ser dita. E mesmo que, para sua conservação, precise ser registrada por escrito, é como palavra que deve ser anunciada e recebida. O que se pede a vocês, não é que se transformem em pregadores ambulantes ... Ainda que isto se faça, nas experiências de pregação pelas ruas. Não tenho certeza de que seja a melhor solução. Mas vocês podem dizer o Evangelho onde vocês estão, nas suas casas, em torno de vocês. Simplesmente, não se pensa nisto. E no entanto, a palavra de vocês, leigos bem inseridos na vida do mundo, pode ter mais impacto que a de um pregador "oficial", que se vê muitas vezes como um profissional ou, inclusive, como alguém "que ganha para isso". E para muitas pessoas, será uma verdadeira revelação, um iluminação que transformará suas vidas. Vocês têm um tesouro à sua disposição. Não o guardem para vocês, mesquinhamente. Distribuam-no, com largueza... Ide dizer. .. Fr. Bernard Olivier, o.p. CM Dezembro/92 - 25


CARTA DA EQUIPE RESPONSÁVEL INTERNACIONAL

Caríssimos Amigos,

Novos na Equipe Responsável Internacional, estamos emocionados ao escrevermos para tantos amigos em tantos países ... Foi-nos pedido que nos apresentássemos: vamos aproveitar para partilhar rapidamente com vocês a nossa descoberta da ERI. Foi em abril que entramos, ao participar pela primeira vez de uma de suas reuniões trimestrais. Oração fervorosa, trabalho intenso, amizade profunda: eis o resumo de nossas primeiras impressões. Depois, em julho, participamos da reunião anual do "colegiado SRJERI" (a ge,nte aprende logo o jargão das Equipes ... ). Foi em lspra, no Norte da Itália. Eramos uns cinquenta, membros da ERI e responsáveis ou conselheiros espirituais de Super-Regiões ou de Regiões Isoladas, vindos da Europa, das Américas do Norte e do Sul ou da Austrália. A língua principal das reuniões é o francês, com tradução simultânea para o inglês, o espanhol e o alemão (e inclusive o polonês, porque tinham sido convidados os responsáveis do movimento polonês que se inspirou na Carta das ENS). Se tivéssemos que resumir nossas impressões numa só palavra, escolheríamos "colegiado", pois traduz bem a realidade: foi num espírito de colegiado que se viveu essa semana, curta demais, de oração, de troca de idéias, de debates e de decisões sobre as orientações futuras do Movimento, num clima cheio de amizade tão cordial quanto espontânea. Além do espírito da Carta, também o Espírito Santo deve ter-se envolvido. Sentimos um "espírito de Pentecostes", como disseram Álvaro e Mercedes Gomez-Ferrer. Eles, como vocês sabem, são o casal responsável da ERI e do Movimento. São espanhóis. Nós somos franceses, assim como Benoit e Marie-Odile Touzard. Os demais casais são: Peter e Dorotea Bitterli, suíços de língua alemã; Alberto e Maria-Aimira Ramal heira, portugueses e lgar e Maria Aparecida Fehr, brasileiros. São portanto seis casais e, last but not least, o Padre Bernard Olivier, nosso conselheiro espiritual poliglota, mundialmente conhecido nas Equipes. O mandato dos membros da ERI é de seis anos. Como dissemos acima, a equipe encontra-se uma vez por trimestre: três reuniões de quatro dias e uma quarta, conjugada com a reunião anual do Colegiado. Moramos na região de Paris. Marie-Magdeleine vai cuidar do Secretariado Internacional da Rue de la Glaciere, onde irá passar vários dias por mês, junto com Marie-France Dubief, que alguns de vocês conhecem. Além das tarefas administrativas, ali se faz um importante trabalho de acolhimento e de informa26 - CM Dezembro/92


ção, do qual participa também o Pe. Olivier, quando não está em viagem, para levar a boa nova do matrimônio cristão numa ou noutra Sessão das Equipes, pelo mundo. Não se imagina o número de pessoas que passam pelo Secretariado, casais, sacerdotes, religiosos, provenientes de todos os países. Quanto a Antoine, foi-lhe solicitado, em razão de sua profissão, que cuidasse das finanças da ERI. Esta divisão das tarefas não nos impede de trabalhar, naturalmente, em casal, para o essencial: relatórios, estudos de documentos, reflexão, oração, preparação das reuniões, acolhimento das pessoas, intercâmbio entre os membros da ERI por carta, telefone ou fax, etc. Entramos nas Equipes em Bruxelas, há mais de dez anos (Saudações, amigos da nossa antiga equipe, franceses e belgas, da Walonia ou de Flandres, que talvez estejam nos lendo!). A nossa equipe de base, portanto, é a nossa segunda. Em alguns anos, quantas alegrias e dores partilhadas, quantos conselhos e testemunhos trocados, quanto auxílio mútuo e quanta amizade cultivados, quanta força espiritual tirada da meditação pessoal e da oração fraternalmente partilhada! Como responsáveis de setor, pudemos testemunhar o poder do Espírito de Amor em tantos casais; e Deus se nos revelava, através deles, sem que eles soubessem. Damos testemunho das graças do Senhor, que devemos à vida de nosso Movimento e a todos vocês com quem caminhamos longamente ou que encontramos brevemente, na nossa equipe de base ou de setor, na Região, nas sessões, nos grandes encontros, em Roma, em Lourdes... Uma import~nte etapa em nosso caminho, que devemos também às Equipes, foi a semana que, os dois, juntos, passamos na Casa de Oração de Troussures, onde o Padre Caffarel se dedica ao ensino da meditação. Guardamos, gravada na memória, suas primeiras palavras; ,citava o Deuteronômio: «Deus encontrará prazer na vossa felicidade». E bem a nossa felicidade que está em jogo. E como não estaria, se é o prazer de Deus? Tendo celebrado, este ano, o vigésimo quinto aniversário de nosso casamento - em francês diz-se "bodas de prata" - gostamos de referir-nos à maravilhosa narração das Bodas de Caná no Evangelho: como mestre de cerimônia, temos a alegria e a surpresa de constatar que o segundo vinho é ainda melhor que o primeiro! Ele não conhecia o segredo ... Nós e vocês, conhecemos .. . Estar a serviço, no Movimento, é contribuir para a divulgação deste segredo, em todo lugar, desde o setor até o mundo inteiro. Quando fomos chamados para o serviço do Movimento, fizemo-nos um monte de perguntas, de "por quês». Interrogamos os membros da nossa equipe e nossos três filhos que têm, atualmente, entre 16 e 23 anos. E interrogamos o Espírito Santo. Por que este chamado? A algumas hesitações e perguntas, Jesus responde no Evangelho: «Não vim para chamar os justos, mas os pecadores ... Isto varre um bom número de objeções ... Deixemos o Senhor agir, façamos o que Ele nos disser. Rezem por nós. Estamos rezando por vocês. Magnificat! Antoine e Marie-Magdeleine Berger

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AS GLÓRIAS DE MARIA (Segundo Santo Afonso Liguori)

Maria Obediente Quando o anjo Gabriel anunciou o plano que Deus Pai tinha reservado para Maria, na sua resposta obediente Ela usou o titulo de SERVA. São Tomé de Villanova nota que "esta serva fiel nunca contradisse o plano de Deus, nem por pensamentos, palavras, ou obras; despojada de sua própria vontade, Maria vivia sempre e em todos os momentos obediente a vontade de Deus". Desde o inicio, teólogos tem notado que a obediência de Maria recuperou o dano feito por Eva. "Como Eva, por sua desobediência, provocou sua própria morte e a da raça humana, assim a Virgem Maria, por sua obediência, ganhou sua salvação e a de todos". (Santo lrineu). Outros acham que seu GRAU de obediência foi superior ao dos santos, pois eles foram atingidos pelo pecado original, com tendências para a maldade. Maria foi totalmente isenta de tudo isso. Segundo São Bernardino, "seu objetivo principal na vida foi olhar constantemente para Deus, a fim de descobrir a vontade dELE. Logo que ela descobriu o que Ele queria, ela fez". Seu espírito de obediência foi tão grande que cumpriu as ordens do Imperador Romano, executando seu dever de cidadã; fez uma viagem de mais de 120 kilômetros a Belém, durante o inverno, como gestante, para ser cadastrada, sabendo que era pobre e acabou por dar à luz numa cova. Da mesma maneira, obedeceu a seu marido José no meio da noite, pegando suas coisas e fugindo para o Egito. E sem reclamações e queixas! Ao pé da cruz, Maria consegue oferecer seu único Filho ao Deus Pai, participando do plano da salvação. Em Lucas 11 ,27, Jesus já tinha preparado a base teológica, com sua resposta à mulher que tinha dito: «Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram>>. Jesus disse: «Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a observam>> . Em outras palavras, a grandeza de Maria não está num ato de biologia, mas, principalmente, na sua fé e obediência. Por causa disso, ganhou a graça de conseguir o perdão para os piores pecadores. Basta que o malandro peça misericórdia, com a finalidade de melhorar sua vida, para Maria entrar em ação e alcançar-lhe a salvação. Num mundo de crimes e pecados gerados por causa do orgulho e da maldade presente no coração dos homens, mais do que nunca é importante que aprendamos a lição da obediência de Maria. Ela nos orienta para 28 - CM Dezembro/92


sermos mais dóceis ao Espírito Santo. Ela nos educa nos caminhos do Senhor.

ó Maria, minha mãe, me ajude ser fiel ao Plano de Deus Pai; orientai minha vontade para procurar discernir e saber o que Ela quer de mim. Como a Senhora estava pronta para obedecer ao anjo, quero estar atento aos apelos que o mundo de hoje me faz. Pe. Luis Kirchner C.E. Setor B Manaus/AM

"Maria de Nazaré... longe de ser uma mulher passivamente submissa ou de uma religiosidade alienante, foi, sim, uma mulher que não duvidou em afirmar que Deus é vingador dos humildes e dos oprimidos e derruba de seus tronos os poderosos do mundo. Maria é a primeira entre os humildes e os pobres do Senhor, uma mulher forte, que conheceu de perto a pobreza e o sofrimento, a fuga e o exílio, situações estas que não podem escapar à atenção de quem quiser secundar, com espírito evangélico, as energias libertadoras do homem e da sociedade". (Paulo VI)

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MARIA, NOSSA MÃE

MAGNIFICAT Quando Maria, a primeira portadora da Nova Aliança, visita sua prima, grávida de João, visita a última portadora da Antiga Aliança. A jovem leva a Nova Aliança que é superior à Antiga. Maria é saudada e louvada por Isabel como superior, por causa de sua escolha e de sua fé. O afetuoso encontro de Maria com Isabel tem como conseqüência que a idosa mãe e seu filho fiquem cheios do Espírito Santo. A visita de Maria é o primeiro acontecimento eclesial. Pela primeira vez pés humanos levam Cristo aos homens. É a primeira missão que Maria deve desempenhar em sua nova tarefa. Com relação a Cristo e ela realiza isso por um puro amor ao próximo. O anjo lhe havia comunicado que Isabel já estava no sexto mês de gravidez (Lc. 1,36) e Maria permaneceu com ela durante três meses (Lc. 1,56), até o nascimento de João. A narração evangélica (Lc. 1,39-56) mostra que Maria estava consciente de seu papel histórico-salvifício. É isto o que demonstra o seu cântico de louvor, MAGNIFICAT. No Magnificat, Maria faz duas afirmações sobre si própria; a primeira: "Ele olhou para a baixeza de sua serva- fez em mim grandes coisas o Todo-Poderoso"; e a segunda: "Eis que doravante me proclamarão bemaventurada todas as gerações". O Magnificat interpreta a atitude de Maria em relação à sua escolha: é uma atitude que se situa na linha espiritual dos pobres de Javé (Lc. 1,52) e realiza os três passos característicos: a sua própria humilhação - as maravilhas de Deus - a própria bemaventurança. Maria participa da humilhação dos piedosos judeus do após-exílio, e, em sentido mais amplo, de toda a raça de Adão. Mas porque Deus a arrancou desta humilhação, ela deve ser proclamada bem-aventurada. Sua grandeza consiste na aprovação e na aceitação daquilo que Deus lhe fez, atitude essa que se enraíza numa lei universal da graça. Ao conceder a graça a Maria cumpriram-se as promessas: é este o anúncio feito à família sacerdotal da qual nascerá o último profeta da Antiga Aliança. Ele "converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus" e "preparai ao Senhor um povo bem disposto" (Lc. 1, 16s). Assim, o primeiro ato de Cristo é a primeira tarefa de sua mãe virginal são destinados, segundo o Magnificat, a seu povo, que deve ser preparado para a sua vinda. Therezinha e Jorge Equipe 03 Araraquara/SP

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JOVENS CASAIS SE CONHECESSES O DOM DE DEUS ... Na CARTA MENSAL de junho há um artigo intitulado "Ir ao ~ncontro da realidade dos jovens casais", de CHOS, que dá o que pensar. E o caso do número crescente de casais que hoje se unem e amanhã se separam "trazendo infelicidade para as famílias e desajustes para os separados". Uma infelicidade da qual ninguém tem fórmula nem garantia nenhuma para se proteger. Nem equipista. Só Deus sabe quantos homens e mulheres engajados nas ENS sentem hoje na pele o sofrimento que é ver filhos seus um dia tão felizes, depois pais e agora separados. Outra situação que não pode deixar indiferente um equipista é ver seus filhos um dia batizados, depois participantes da vida sacramental e agora desinteressados, arredios da Igreja ou de qualquer prática religiosa. Depois que passaram da puberdade, quantos deles vão ainda à missa? E muito boa gente que se diz católica acha mesmo que o velho preceito dominical não faz mais sentido nos dias de hoje. O importante, dizem, é o testemunho de vida, a justiça, o amor, a solidariedade, a liberdade, essas coisas. Nem adianta argumentar com a doutrina da Igreja lembrando, por exemplo, que o Código de Direito Canônico aponta aos fiéis como "obrigação" a participação da missa todos os domingos (cânone 1247). Muitos e bons casais, cansados de remar contra a maré, não se importam mais e deixam o barco correr. Alegam que a boa semente, por eles lançada no coração dos filhos quando eram pequenos, a seu tempo dará fruto. Se conformam também, dizendo que fizeram tudo o que estava ao seu alcance. Ou se defendem apelando para a inconveniência que seria ''forçar" o comportamento religioso dos filhos ou, ainda , se melindram até se alguém tenta lhes fazer ver que a fé não é apenas um dom. Ela vem, também, "pelo ouvido", dizia São Paulo, e por isso, é preciso não darmos uma de mudos. O argumento mais usual é que os jovens que não vão à igreja são, muitas vezes, mais corretos do que os outros que a frequentam. Uma explicação séria, em todo o caso, que deve ser ouvida com todo o respeito. Mas a gente se pergunta: se os jovens que vão à igreja não são exemplares, como seriam se lá não fossem? E será mesmo verdade que os jovens católicos praticantes não dão mostras de vida cristã tão ou mais dedicada que os outros? Os jovens que permaneceram fiéis às promessas do batismo não ignoram certamente o que o último Concílio afirma: "O divórcio entre a fé professada e a vida cotidiana de muitos deve ser enumerado entre os erros mais graves do nosso tempo" (Gaudium et spes, 43). Bem sei que as leis, a mera tradição, a vontade de agradar os velhos não é, não deve ser, argumento válido para que meus filhos vão ou deixem de ir à missa. Sei também, e compreendo, que certos padres aconselhem: "Se você vai à missa só por ir, só porque é obrigatório, melhor não ir". Mas sabendo, como sei, que a missa é um encontro com o meu Deus e os meus irmãos de fé, que ali posso robustecer o meu espírito, adorar o meu Senhor, melhor o conhecer, comungar com ele e com o mundo todo, cantar e testemunhar minha alegria de viver, também chorar minhas dores e juntá-la ao CM Dezembro/92 - 31


sofrimento de Cristo, sabendo isso, eu não posso deixar de sentir pena quando vejo meus filhos do lado de fora. Pena por ter eu um banquete tão farto, tão gostoso, e ver meus filhos privados dele, deixá-los alimentar-se só de migalhas. Pena por me ver sem a companhia daqueles por quem Deus me usou para lhes dar a vida. Pena quando penso que é preciso eu morrer para eles irem à igreja se juntar com os amigos para me lembrar e pedirem a Deus por mim na missa de sétimo dia. Porque não se juntam a mim, agora enquanto estou vivo para, juntos, pedirmos uns pelos outros, louvarmos o Senhor e juntos comungarmos da alegria da comunhão dos santos - santos e pecadores, mas comunhão? Comungar já nesta vida, todos juntos, e não apenas na vida eterna. Não, não vou me angustiar porque meus filhos não vão à igreja. Eles só não vão porque não lhes foi dado descobrir ainda o sentido da celebração eucarística, penetrar no âmago do mistério pascal que envolve o altar, saborear o miolo do fruto que brotou do madeiro tosco da cruz. O fruto da salvação. A cruz que aponta nas duas direções - para o alto e para o lado - e que simboliza mais. Mais ascese, mais vida, mais amor. Não, não vou me angustiar se meus filhos não vão à missa, mas que tenho pena, tenho. Porque eles ainda não descobriram a fonte do amor. Aquela onde quem beber não terá mais sede. Meu desejo é que também eles descubram essa fonte de água viva. Que, alguma vez, eles entendam a palavra daquele que ainda hoje se faz ouvir em cada missa, o mesmo que disse à samaritana: "Se conhecesses o dom de Deus ... " (Jo. 4,1 O). Conhecer o dom de Deus, eis a questão. Porque se você o conhecer, não vai poder deixar de amá-lo. Mas, primeiro, conhecer para depois amar. Nada é amado se antes não é conhecido, ensina a velha filosofia. São Paulo também tinha lá suas razões para rezar pelos filipenses para que "Cresça vossa caridade cada vez mais em ciência e em toda inteligência". O mistério eucarístico permanecerá sempre mistério, mas você pode conhecer-lhe a parte que mais lhe diz respeito: a comunhão que liga ao Senhor e aos irmãos. O problema é saber como tornar conhecido esse lado do mistério, de forma a não tornar a participação da missa uma simples obrigação, um alimento que se toma só para não morrer, mas um privilégio, um prazer, o momento mais importante da semana na vida de um católico. Além de outras sugestões, me ocorre a preparação da crisma. Quando os jovens, por qualquer razão, se inscrevem para ser crismados, seria a hora de lhes anunciar, com esmero e sabedoria, a água de que Jesus falou para a samaritana. E, então, é bem possível que eles mesmos sejam os primeiros a pedir: "Senhor, dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede". Manuel, da Dulce Equipe- 9-A- Rio de Janeiro

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JOVENS CASAIS

QUERIDOS FILHOS Esta carta foi escrita por um casal "atingido pelo mal dos tempos que vivemos": seu filho, casado , pai de três crianças , afastara-se de casa ... "Com a assistên ciado Espírito Santo, dizem , fomos lidos e compreendidos: o jovem casal reconciliou-se .. ."

Nesta oportunidade queremos enviar-lhes algumas palavras que nos vêm da experiência dos muitos anos de vida e de observações acumuladas. São palavras que não pretendem ser exprobração, nem mesmo exortação, mas apenas pretendem transmitir, não só a longa experiência de vida conjugal realmente vivida, como a culminância de pensamentos, elaborados passo a passo, com base na reflexão, na meditação profunda das palavras e atos, a nós legados por Jesus Cristo e seus Apóstolos. Vocês encontram-se, sem dúvida, num desses momentos de crise, dos quais podemos sair com nossa fé acrisolada e nosso futuro encaminhado para o alto ou destruídos, despedaçados, como efeito da divisão, não inscrita nos planos divinos que alicerçam a formação da família, e que não deixará de refletir-se negativamente em vocês mesmos, em seus filhos e em todos que os cercam , pois nenhum de nossos atos é sem conseqüências. Vocês casaram-se perante Cristo e prometeram-se fidelidade por toda a vida. O que os uniu? O amor, ora, o verdadeiro amor é eterno, pois está acima de nós mesmos. Vem da essência do Cristo. Não lhes falamos, está claro, do amor humano, pois este é apenas um primeiro passo na aproximação entre os seres, o laço que nos enleia e aproxima de outro ente que admiramos , que nos agrada, do qual desejamos acercar-nos. O amor humano é, sem dúvida, sentimento importante, que nos sublima e exalta mas, se não for fundamentado no amor que vem do Cristo, é fugaz, esvai-se com o tempo, com a beleza juvenil, com os embates da vida, com o simples cansaço da rotina. O amor, na concepção cristã, não, pois não é a procura do belo, do perfeito, da satisfação de achegar-se ao outro, do anelo de possuí-lo para si, como jóia inestimável que atrai , mas, sim, é o transbordar da caridade, o bem querer do outro, que nos aproxima dele para acarinhá-lo, para fazê-lo feliz, para levá-lo, conosco, à vida eterna. Ao contrário do amor humano, que se baseia, que busca o perfeito, CM Dezembro/92 - 33


o amor cristão é o transbordar, por meio do qual aquele que ama desprende-se do que tem, para dá-lo àquele que não tem. Por isto, já nos diz o apóstolo Paulo- "A caridade (o amor) é bondosa, não tem inveja, não é orgulhosa, não é arrogante, nem escandalosa, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". O amor humano é, pois, apenas a ponte que nos conduz ao amor cristão e esse, ao constituirmos família torna-se dever, dever que os filhos gerados têm o direito de exigir de nós, pois não pediram para vir ao mundo, porque somos responsáveis pela sua felicidade e pela sua caminhada para Deus, perante o próprio Criador. Se assim não o fizermos , estaremos, simplesmente, afastando-nos de Cristo, pela "dureza de nossos corações" e as sementes do mal que lançarmos, acompanhar-nos-ão eternamente, pois toda ação, boa ou má, produzirá frutos segundo sua espécie e por eles seremos responsáveis. Não desejamos mais alongar-nos, mas achamos desaconselháveis separações imotivadas, pois, ainda São Paulo alertou-nos para o fato de que "A mulher não pode dispor de seu corpo, ele pertence a seu marido. E, da mesma forma, o marido não pode dispor de seu corpo, ele pertence a sua esposa. Não vos recuseis um ao outro". Pensamos, outrossim, que todos teríamos a ganhar, e as crianças em particular, se tivéssemos mais oportunidades de convivência, os jovens precisam sentir que têm uma família que os valoriza, para que saibam construir a sua, no futuro, em bases sólidas e família é todo um contexto que não se esgota na mãe e no pai , eles mesmos herdeiros de tradições, cultura e laços, cujo abandono é um ato de desamor, seja para os mais velhos, mas também , com toda certeza, para os mais jovens, que cedo terão o peso da solidão. Com carinho, os pais que muito os amam. Blanche e Lauro

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NATAL

ESPERAR É PREPARAR-SE O Natal não pode ser improvisado. Natal é nascimento e como tal a paciência e longa espera que vai modelando o pequeno ser no grande mistério da gestação É o tempo em que a mãe precisa de paz, de atenção. de cuidados especiais para que a nova vida venha à luz sadia e perfeita como desejo de Deus. Também a Liturgia, ao se preparar para o Natal de Jesus, nos oferece com o Advento, esse tempo de paz e meditação. Em primeiro lugar a realidade de nossa história: sua fragilidade , sua temporalidade tão efêmera no dinamismo das transformações. Mas, justamente nessa inconsistência do ser humano e de seu mundo material, a voz do profeta soa bem alto: preparai os caminhos do Senhor, todo vale será cheio, toda montanha abaixada! É a proximidade da presença de um Deus encarnado que fará novas todas as coisas e na fraternidade os homens descobrirão a transcendência e o sentido de suas vidas. Para poder descobrir num presépio, que aquela criança é o sinal da libertação do homem e de sua história, é preciso que este tempo do Advento seja melhor aprofundado e vivido. Seria muito importante que as equipes como um grupo e cada família como pequena comunidade cristã, descobrissem a melhor forma de se prepararem para o Natal, através da oração e de atos concretos comunitários, inspirados nos textos dos domingos do advento. Essa reflexão e oração farão com que o Natal ganhe maior sentido do que as vulgaridades de papais-noel, árvores com muitas luzes e cores, mas vazio de Deus: sem o principal de tudo. Numa fase de dificuldades, de privações e injustiças sociais, os presentes, as ceias e festas ganharão novo significado: as crianças entenderão melhor a simplicidade do presépio. Tudo isso porém não se improvisa. Como cristão num mundo bastante materializado, nossa missão é a de lutar por devolver ao Natal o que lhe foi tirado: a paz consistente a alegria verdadeira, boa vontade de quem é irmão. P. Paulo D'Eiboux S. J.

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NATAL

A ESPERA DO NATAL Afinal, que Natal estamos nós esperando? Natal festivo de presentes belos, interessantes, caros ... Natal festivo de ceias, jantares, almoços ... Ah! o almoço de Natal. Desde já nos preocupamos com o preço dos alimentos natalínos , que com certeza irão disparar como um foguete, indo para o espaço. Natal do amigo oculto. Quem será que tirou o meu nome? O que posso comprar para o meu amigo oculto? Natal dos arranjos e enfeites. Quero em minha casa uma árvore bem grande, natural é claro, com bolas coloridas e algumas de formato diferente e novo, como eu já vi numa loja da cidade. Será que dá para eu fazer um presépio? Ah! como eu gostaria de ter em minha casa um belo presépio para completar a decoração de minha sala. Natal de cartão de Boas Festas. O tempo já está passando e eu ainda não consegui despachar os cartões a meus amigos. Depois vai ser um transtorno as filas nos correios. Quais destes Natais estou eu particularmente esperando? Ou será que são todos? Quais destes Natais poderemos dizer realmente que são válidos, que são certos? Ou será que são todos? Natal é festa. Podemos dizer que é a Festa Maior, e quando comemoramos uma festa, é preciso pensarmos em todos os detalhes. Simplesmente detalhes. E não podemos perder de vista esta idéia: detalhes. A comemoração maior está dentro do coração de cada um de nós, e se de fato nosso coração estiver em festa, ele transbordará através de nossas atitudes na direção dos outros. Esse é o nosso esforço, essa é a nossa espera e nosso desejo. Que consigamos levar para nossa família, nossa comunidade, nossa equipe, a mensagem deste Menino que humildemente quis ser um de nós, sem euforia, sem grandes apresentações, simplesmente ser alguém que veio trazer a união, a paz, o amor entre os homens. Se nós perdermos esta sensibilidade, esta direção, este significado , para que afinal esperamos o Natal? Regina o Osvaldo - Equipe 13 Petrópolis/RJ

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FELIZ ANO NOVO Uma frase que se tornou comum. Que pode dizer muito ou nada. Que pode ser um desejo utópico ou um compromisso. Fato é, que esta comemoração da passagem do ano, tornou-se famosa em todos os países, fomentando esperanças, desenvolvendo superstições as mais variadas. O ano em sí, não têm o poder de se transformar, é apenas uma fração do tempo, que os homens decidiram ser de 365 dias (tempo de uma volta da terra ao redor do sol) , como poderia ser de 500 ou de 100 dias. Isto favorece a que se tenha uma dimensão de passado e futuro. No primeiro dia do Ano Novo, o sol nascerá do mesmo modo, as plantas manterão sua evolução normal, enfim, a natureza em nada mudará. Que mudanças aguardar então para que exista esta esperança de um Novo Ano Feliz? Não poderia ser apenas uma superstição? Não! Há muito o que mudar; o coração dos homens. Como a natureza não tem a liberdade de optar, permanece sempre perfeita, embora esteja sempre sendo ofendida. Já o homem não. O homem, por ser livre e poder decidir seu próprio destino, usa de sua liberdade e inteligência não para ser feliz, mas para se tomar escravo e promover a escravidão no meio em que vive. E este SER , o homem, só muda quando se examina e se confronta com a ~ VERDADE. Uma semana antes do final de cada Ano, comemoramos um fato de maior importância. O NATAL. O dia do nascimento de Cristo. O dia do nascimento d'aquele que veio resgatar a humanidade para Deus. A comemoração do·Natal, não é apenas uma festa para promover a figura do Papai Noel e permitir uma farta distribuição de presentes. É antes de tudo, um momento forte de lembrança do sentido da vinda do Cristo. "EU VIM PARA QUE TODOS TENHAM VIDA. VIDA PLENA", portanto, para que TODOS sejam felizes. Ele veio não só para transmitir normas para que o homem seja feliz, verdadeiramente livre, mas acima de tudo, viver o que pregava. Isto incomodou a muitos ESCRAVOS, que por isto mesmo O mataram. A principal norma, o que Cristo veio implantar realmente, foi a lei do AMOR. AMA A DEUS ACIMA DE TUDO E AO PRÓXIMO COMO A T1 MESMO. Não se trata desse amor que a sociedade apregoa, como sinônimo de uma relação sexual, mas do AMOR COMO É NA VERDADE- QUERER O BEM. QUERER BEM A DEUS E O BEM DO SEU REINO. QUERER O BEM DE SI MESMO E QUERER O BEM DAS OUTRAS PESSOAS. Querer para os outros, o mesmo bem que deseja para sí mesmo. Neste amor, estão contidos valores que são decisivos para que o homem CM Dezembro/92 - 37


seja feliz. Principalmente pelo fato de que Ele foi criado para amar e ser amado. E que valores são estes? JUSTIÇA- VERDADE-HONESTIDADE-FRATERNIDADE- FI DEU DADE -RESPEITO O NATAL vem nos reavivar a lembrança do nascimento d'Aquele que veio nos propor a felicidade e que viveu todos estes valores para nos mostrar que é possível e necessário para a conquista do paraíso. Aqui sim, reside a nossa esperança de um novo ano mais feliz. Não precisamos de vestes brancas ou amarelas para rompe r o ano; as flores jogadas ao mar em nada mudarão o comportamento dos homens; tudo o que se fizer será nada se os homens continuarem com o coração duro, se não derem lugar para Deus. Os valores contidos na decisão de nos amarmos, é exatamente o que não vemos na maior parcela da nossa sociedade, em nossos dirigentes, naqueles que foram indicados para representar os anseios do povo, e no entanto, são exatamente os ingredientes que precisamos para que não apenas uns poucos privilegiados, mas o povo brasileiro, que é também o povo de Deus, recupere a dignidade e alegria de viver, seja realmente livre e feliz. ESTÁ NOS FALTANDO AMOR. Ao desejar um feliz ano Novo para outro, estamos nos comprometendo a cooperar para que este desejo se torne real idade. Se O NATAL que celebramos em 1992, nos CONVERTEU e RENOVOU em nós a DECISÃO DE AMAR proposta por Cristo, então é certo que sairemos da escravidão e termos UM FELIZ 1993, como prenúncio de uma nova época, pois teremos resgatado os principais valores, acima citados, para a sociedade humana. Que seja NATAL todos os dias para que todos os dias de todos os anos nos apresentem momentos mais felizes , com toda a sociedade se beneficiando. Déa e Joaquim Equipe 2 - Manaus

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ATUALIDADE

EVASÃO PARA AS SEITAS Nos últimos 1O anos houve uma diminuição do número de católicos. Por outro lado, aumentou a participação numérica dos católicos na ação litúrgica e social da Igreja e um crescimento nas promoções de massa. Os que deixaram a Igreja e foram para as seitas, nunca foram verdadeiros católicos mas, "pagãos batizados", que não participavam na vida da Igreja. Uma das causas da evasão é o consumismo. A falta de uma boa base religiosa, leva aos maus católicos à sedução oferecida pelas seitas. Outro ponto é a acolhida. O pastor conhece todo mundo: os velhos, os doentes, as crianças. São poucas as ovelhas. O Padre lida com uma imensa massa. Só que isso não justifica que ele não acolha bem os fiéis. Ele deve procurar um sistema de acolhimento. O Padre não deve querer fazer tudo na Paróquia sozinho. Pode e deve agir através de seus leigos. As igrejas e seitas ricas que enchem sacos e sacos de dinheiro em seus congressos e eventos religiosos alienam pelas supostas curas, mas não convertem. A evasão entretanto não é um fenômeno novo, embora preocupe. Na Reforma Protestante houve uma grandiosa evasão de fiéis católicos. Talvez a maior de todos os tempos. Antes de qualquer ação contrária às seitas, temos que continuar nosso trabalho a ser mais sensíveis aos apelos do rebanho. Da parte dos bispos e padres o grande apelo é para que todos os católicos vivam sua fé e que tenham uma preocupação de formação religiosa. Nosso grande trunfo é o acolhimen-

to, sobretudo dos fiéis. Nas seitas eles acolhem bem os seus fiéis. Nós também podemos fazer isso. Mostrar que temos comunidades vivas e que somos irmãos. Um exemplo: Um bispo católico, foi a uma missa. O padre pregou muito bem e com boa participação dos fiéis. No final da celebração, o bispo foi até o padre e cumprimentou-o sem que ninguém o houvesse notado. O mesmo bispo foi até uma igreja protestante. Ali, pelo menos cinco pessoas entraram em contato com ele. Na porta duas lhe entregaram um folheto e conversaram com ele, indicando o lugar onde poderiam sentar-se. Na saída, pediram para que voltasse e frequentasse o culto deles. Na Igreja católica não havia ninguém. O único que o notou foi o padre; porque foi por ele procurado. Isso acontece porque não estamos mais a nos relacionar com nossos irmãos no corpo-a-corpo com os fiéis. Em muitas paróquias não é nada fácil falar com o padre. A Secretária, os leigos das pastorais e serviços também não dão a devida atenção aos que chegam. Os meios de comunicação com certeza não são os responsáveis pela conversão dos cristãos. Eles começaram essa conversão pela comunhão e pelo serviço. A nossa igreja precisa aproveitar os meios que possuí e com formação de mais gente especializada e não esquecendo o nosso irmão filho do mesmo Deus. Adaptação do Jornal Opinião, de 13 a 19 jun. 92. Pelos equipistas de Baurú/SP CM Dezembro/92 - 39


JOVENS ... HÁ MAIS TEMPO

-VOCÊS VIRAM O CARACOL! Sempre que convidamos alguém para um encontro de casais da "terceira idade" a resposta mais frequente que recebemos é esta: - Obrigado! Mas ... não vamos porque não somos velhos. É justamente com esses "moços" que vamos conversar. Vivemos numa cidade dinâmica, com muitos atrativos, e cada vez mais estamos nos fechando. Daqui a pouco, vamos nos transformar num caracol, que tem tudo em casa, vive se arrastando e, de vez em quando, "espia a vida". Esta é a nossa realidade. Com a aposentadoria, permanecemos mais em casa. Devido às limitações da idade e das doenças, cada vez mais nos afastamos de nossos compromissos. Reparando um pouco, vejam vocês, o quanto é difícil fazer uma visita. As novelas nos prendem e dificultam os contatos que poderíamos ter. Em Portugal, segundo o testemunho de um equipista, é até falta de educação telefonar para alguém na hora da novela. Quando a Igreja hoje nos pede um "novo ardor missionário", assustamos. Tiramos o corpo, dizendo que isto é para os jovens. É claro que, preservados os limites da idade, dos "nossos achaques" e dos nossos compromissos domésticos, ainda podemos fazer muita coisa. Precisamos de um tempo para "curtir" o nosso lar e o nosso casamento. O diálogo do casal é tão importante! Os filhos , fonte perene de nossa alegria, de nossas preocupações, são agora o nosso conforto e apoio. É tempo de "curtir'' a nossa equipe. Com uma convivência de quase 40 anos (sempre os mesmos casais), vivendo momentos fortes de oração, de partilha de vida e troca de idéias, continuamos nossa caminhada sempre unidos e felizes. Estamos lembrando um fato que ilustra bem como é o nosso relacionamento: de vez em quando, saímos para almoçar juntos. É tanta risada na nossa mesa que uma pessoa presente veio até nós saber qual era o motivo daquela alegria. Espantado disse aos amigos: "não vi cerveja nem vinho na mesa deles ... " Para atender aos anseios da Igreja temos que sair do "nosso caracol" e ver a vida que está ao redor, onde há muito o que fazer. É no acolhimento que está a nossa possibilidade de colaboração . Um coração aberto para receber os que precisam, uma palavra amiga de ânimo para quem está desanimado e triste, são apenas algumas atitudes que pouco nos custam, mas que muito pode ajudar os outros. Precisamos cultivar a empatia, que é a "disposição interior de querer sintonizar com as dificuldades alheias". Da mensagem de Cristo, tiramos alguns exemplos: Zaqueu, Marta e Maria, o fariseu, Madalena e outros . A 40 - CM Dezembro/92


nossa presença, então, não será mais de espectadores, mas agentes da evangelização. O testemunho também é expressão dessa empatia. Ele só é eficaz quando nós assumimos de todo o coração a pessoa que está ao nosso lado. Não adiantam os "chavões", os discursos preparados. A sinceridade é a nossa marca. Nesta altura, porque não paramos um pouco para analisar com que sentimento agimos no cotidiano? O que é necessário é sair um pouco do caracol. Em lugar de "espiar a vida" devemos vivê-la plenamente, em vez de nos "arrastar" vamos caminhar procurando descobrir o outro. Não existe alegria maior que fazer o próximo feliz, este é o caminho de encontrar a paz. - É hora de mudança: vamos sair do caracol? Maria e José Aquino Equipe 1O - SP

Oração para a Ceia áe :Ã[a Ó Deus que Vos f/zestes criança para que na vossa fragilidade, melhor Vos amássemos e mais facilmente pudéssemos adorar a Vossa Onipotência, abençoa/ esta família reunida em espírito de humildade e alegria ao redor da mesa festiva desta cela natalícia, e faze/ descer sobre cada um dos que aqui se encontram e sobre o mundo Inteiro a Luz daquela Paz que nesta noite sacratíssima os Anjos prometeram aos homens de boa vontade.

Assim seja.

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NOTÍCIAS INTERNACIONAIS

Este ano, a REUNIÃO ANUAL INTERNACIONAL ERI/SR (Equipe Responsável Internacionai/Super-Regionais e Regiões Isoladas), aconteceu em lspra, na Itália, nas proximidades do Lago Maggiore, entre 20 e 25 de julho. Durante cinco dias, os casais deste Colegiado maior do Movimento, juntamente com alguns conselheiros espirituais, viveram juntos a comunhão, o aprofundamento do carisma do Movimento e o discernimento da vontade de Deus. Vindos de todos os lugares do mundo, os participantes expressam-se em línguas diferentes: italiano, português, francês, inglês, espanhol, alemão, polonês ... além de possuir culturas e mentalidades diversas: australianas, suíças, americanas, brasileiras, colombianas, etc. Apesar do inestimável esforço das tradutoras, essas diferenças poderiam representar dificuldades insuperáveis, não fossem o esforço de escuta e de respeito, a mútua valorização e o clima de confiança que estiveram presentes durante todo o encontro. O Espírito do Senhor está em obra em cada casal para criar a comunhão. Uma comunhão que é celebrada na oração de cada manhã, dirigida por um casal; nas celebrações eucarísticas, animadas, cada vez, por um grupo lingüístico diferente e marcadas por sinais próprios de cada cultura; nas conversas de cada casal da ERI com os responsáveis dos países ligados a ele; na noite de confraternização e na partilha da meditação que precede a noite de adoração. O Encontro é orientado e animado pela ERI, entretanto, o trabalho preparatório é realizado pelo conjunto dos membros do Colegiado: os assuntos da pauta decorrem de suas expectativas e de suas necessidades, os documentos de trabalho são enviados com antecedência, os Super-Regionais preparam a troca de idéias sobre tudo o que vem sendo vivienciado por suas equipes no último ano. A ERI esforça-se por levar em conta todas as sugestões ou críticas que lhe são feitas. As orientações futuras são procuradas através do discernimento feito em comum nos grupos lingüísticos ou nos plenários. Os temas deste Encontro foram: - o Projeto Sexualidade: pontos positivos e negativos, a forma de fazer confluir as sínteses e os testemunhos; - o Encontro de Fátima (julho 1994): o tema de estudo preparatório "Ser Família na Igreja e no Mundo Hoje", o desenrolar do Encontro, as orientações "pós-Fátima";

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- a busca de um espírito e de um método de 'volta às fontes', para equipes que desejam "ir mais além"; - o documento "Servir nas Equipes", sobre o sentido da responsabilidade no seio do Movimento; - a presença do sacerdote-conselheiro espiritual na vida de equipe. O desenrolar do Encontro abriu espaço, também, para ensinamentos sobres temas de atualidade: conferências doPe. Olivier sobre a posição da mulher na Igreja e a de um conferencista externo, o Pe. Legrand, sobre a "Nova Evangelização". Houve ainda uma noite de troca de idéias com as equipes da Região onde se realizava o Encontro: a Região Noroeste da Itália havia preparado uma noitada inesquecível. Após uma travessia de barco para celebrar a Eucaristia numa antiga capela escavada na rocha, à beira do Lago Maggiore, houve um jantar a bordo do barco, preparado pelos equipistas. Canções de todos os países e árias de ópera cantadas por belas vozes italianas, passeio na Ilha dos Pescadores, o lago e sua beleza, os amigos e sua amizade, tudo isto são coisas que não podem ser contabilizadas, mas que dão vida. Ao final desses cinco "dias de Pentecostes", os casais dispersaramse pelo mundo, para fazer frente ao futuro.

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VIDA DO MOVIMENTO

Equipes de Nossa Senhora - Número de Equipes por País - 1992 ~ França Brasil Espanha Portugal Bélgica Itália Estados Unidos Austrália Inglaterra Alemanha/Austria Colômbia Suíça Canadá Ilhas Maurício Irlanda Argentina Síria Porto Rico Índia Luxemburgo Martinica África do Sul · Zaire México Trinidad Camarões Mali Líbano Toga Senegal Guadalupe Rep. Dominicana Burkina Fasso Egito Peru Costa Rica 44 - CM Dezembro/92

1844 1002 799

614 424 341 274

173 103 84 60 55 48

41 33 28 25 22

17 17 15

14 11 9 7 7 7 6 5 4 4

3 3 3 2

2


Ilha Reunião Coréia do Sul Equador Nova Zelândia Panamá Gabão Guiana Francesa Indonésia Japão Nova Caledônia Chile Ruanda Guatemala Novas Hébridas Papua/Nova Guiné

2

2 2

2 2 1 1 1 1 1 1 1 1

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NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES NOVAS EQUIPES - Brusgue(SC . Equipe n 2 06 C.E. Pe. Adilson C.P. Orlete e César - Lages/SC . Equipe n2 04- N.S. dos Prazeres C.E. Pe. Luiz C.P. Lucila e Élvio EXPANSÃO A Coordenação das ENS de ltumblara-GO foi elevada a Setor no dia 13.09.92. O então casal responsável Anarosa e Donizetti, continuam a responder pelo Movimento, agora no novo Setor, bem como o seu C.E. Pe. Euclides Beblano Santos. A cerimônia de posse de Anarosa e Donizettl se deu na Missa celebrada pelo C.E. do Setor, na Paróquia de N.S. das Graças, com a presença de todos os equlplstas e a comunidade. Esteve também presente o C.R.R. Rosinha e Anésio. Para esse Importante acontecimento, o novo Setor programou um Encontro de Formação para seus equlpistas, durante todo o dia 13.09.92. VOLTA AO PAI . Odilon Rannl Taques Fonseca (da Sylvanlra), Eq. 11 - N.S. do Carmo, de Santos .se_em 21.08.92, vitimado por um acidente. Neste momento de tristeza seus Irmãos de equipe, Intensificam suas orações e fixam mais seus olhos em Jesus Cristo, transmitindo sua solidariedade a sua esposa e filhos . . Paulo Leonardl (da Ieda), Eq. 06/B - N.S. do Rosário, de porto Alegre - AS em 09.08.92. Equlpista há 23 anos, várias vezes Responsável de Equipe, desempenhou a função de C.L. com multa doação e amor. Pai e esposo exemplar, fundou, com outros casais o Serra Clube Sul Praias, movimento voltado para vocações

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sacerdotais e religiosas, do qual foi Presidente. Seus companheiros equlpistas agradecem a Deus pela convivência e pelo multo que aprenderam com ele . . Leofredo Pacheco Jordão (da Ercília), Eq. 04/0 - N.S. Imaculada Conceição, de São Paulo- SP em 18.07.92, a qual pertenceu desde sua fundação em 1960 até 1981, quando se afastou por doença. Homem de fé e muita oração, colaborou por alguns anos no Secretariado das ENS e na Sociedade São Vicente de Paulo. . Walter Sócrates Nascimento (viúvo de Yolanda), Eq. 04/D - N.S. Imaculada Conceição, de São Paulo- SP em 11.07.92, aos 99 anos. Fundador de sua equipe em 1960 nela permaneceu até 1983 quando se afastou devido a seu estado de saúde. De vasta cultura e muita fé, sua vida foi um grande testemunho. Ele e Yolanda eram considerados como o casal equipista mais idoso do mundo. . David Domingues dos Reis (da C ida), Eq. 05/B - N.S. da Salete, de Aracatuba - SP em 01.07.92. Era atuante na Paróquia Santana. Com seu jeito quieto, conquistava a todos, pelo seu modo de ser e de viver. O não para ele não existia. Sentiremos muito sua falta, mas o consolo de que junto ao Pai, trará forças à sua família e às E.N.S., nos fortalece . . Jecy Vilella dos Reis (da Judith). Eq. 9/B - N.S. da Penha, Aracatyba - Sp em 15.07.92. Atuante no Movimento e na Paróquia. Perseverante na fé, mesmo nas horas mais difíceis. Sua partida foi de paz junto ao Pai, com a certeza de ter vivido conforme o Senhor nos ensinou. EXPERIÊNCIA COMUNITÁRIA - Informam Leda e João Flávio, C.R.R. Santa Catarina, o início de seis grupos de Experiência Comunitária nas ENS, a saber:

Setor de Crlclúma - 03 grupos Setor de Blumenau - 01 grupo Setor de Brusque - 02 grupos


JUBILEU DE PRATA SACERDOTAL Monsenhor Osvaldo Ribeiro Lage Nasceu em Pará de Minas (M.G.) em 29/04/24. Estudou em Juiz de Fora no Seminário Santo Antônio e completou os estudos com os Redentoristas, no Seminário da Floresta e em 02/07/67 ordenouse sacerdote diocesano. É Importante frisar que a sua foi uma vocação tardia e por Isso mesmo bastante madura e coerente. Exerceu a advocacia como profissão, batalhou na política, elegendo-se prefeito de sua terra natal e ao sentir-se chamado foi pronto a dizer sim, renunciando à projeção humana, levando consigo uma grande bagagem para exercer seu ministério sacerdotal. Foi pároco em várias cidades de Minas e atualmente além de atender à paróquia de Santa Luzia, é Vigário Geral da Arquldlocese de Juiz de Fora. É Conselheiro Espiritual da Eq. 02/A, exercendo essa missão com multa dedicação e carinho, apesar de seus inúmeros afazeres. As ENS, felizes e gratas pelo seu apolo, lhe desejam uma vida sacerdotal plena de santidade. EVENTOS -Realizou-se em 11.09.92, no Santuário de Fátima, em Florlanóoolis(SC o 12 Encon-

tro de ex-integrantes dos quadros do Movimento sob a coordenação do C.R.R. Leda e João Flávio, reunindo os ex-responsáveis da Região e dos Setores, desde 1955, ano de fundação das ENS no Estado. O objetivo foi a reflexão e análise da caminhada das ENS, encerrando-se com alegre confraternização. - Realizaram-se em Jaú/SP dois Retiros das ENS, sendo um em junho/92 com 30 casais e outro em agosto/92 com 55 casais. Ambos foram pregados por Frei Osmar que de forma simples, mas profunda colocou os participantes diante da amizade com Deus, a qual exige fidelidade para tonar-se madura e íntima e portanto conhecimento de Deus que é coração e não entendimento. O caminho para isso é a oração, que não é pensar muito e sim amar muito. A plenitude da amizade com Deus é a vida eterna, da qual os sacramentos são antecipações e deles o encontro mais privilegiado é a Eucaristia. Falou também das radicalidades da amizade, da esplrltualidade üelto de viver na amizade com Deus e com o outro), da conversão (purificação da amizade e da missão apostólica (fruto da amizade) para expressar nossa Intimidade com Deus que nos dá esta oportunidade por ter-nos amado primeiro. Márcia e Rubens (Eq. 22) enviaram-nos um esquema muito pedagógico resumindo a linha de pregação do retiro.

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ÚLTIMA PÁGINA

EU VOU TOMAR O TEMPO ... Eu vou tomar o tempo de deixar pousar meu olhar sobre as coisas de todos os dias e de vê-las diferentemente, daquelas que cada manhã eu encontro sem vê-las. Todas estas coisas familiares que eu rodeio ao longo do dia, do mês, do ano ... Eu vou tomar o tempo de ver a estranheza das árvores, as do meu jardim, as do parque vizinho que, à chegada do crepúsculo, murmuram de mistério ... Eu vou tomar o tempo de pousar meu olhar sobre as pessoas que eu amo e olhá-las de forma diferente os meus, aquelas e aqueles que me são próximos e que às vezes eu até nem mais vejo, eu não ouço mesmo mais, tanto a preocupação de meus negócios, de meu trabalho paralisam meu coração e meu corpo ... Sim, eu vou tomar o tempo de descobri-los, de deixar-me surpreender ainda e sempre por aqueles que eu amo ... Sim, eu vou tomar o tempo de te encontrar também Tu, meu Deus, para além das palavras, das fórmulas e dos costumes. Sim, eu irei ao teu encontro no deserto, E Tu me surprenderás, meu Deus ... Sim, eu vou tomar o tempo de te reencontrar de outra forma. Robert Ribier

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MEDITANDO EM EQUIPE {Sugestões para o mês de dezembro) Texto de meditação (Jo 1, 9-14) O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo homem; ele vinha ao mundo. Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu e os seus não o receberam. Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em seu nome, ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne nem de uma vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo de fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade.

Oração litúrgica Adoremos o Filho de Deus vivo, que dignou tornar-se filho de família humana, e digamos:

- Senhor, sois nosso modelo e salvador! Cristo, pelo mistério de vossa submissão a Maria e José, ensinai-nos o respeito e a obediência para com nossos superiores.

-Senhor, sois nosso modelo e salvador! Amastes vossos pais e por eles fostes amado; estabelecei todas as famílias na paz e no amor recíproco.

- Senhor, sois nosso modelo e salvador! Sempre estivestes atento aos interesses do Pai; que Deus seja honrado em todas as famílias.

-Senhor, sois nosso modelo e salvador! Cristo, ao terceiro dia fostes encontrado na casa do Pai, por vossos pais ansiosos; ensinai-nos a procurar antes de tudo o Reino de Deus.

-Senhor, sois nosso modelo e salvador! Cristo, que associastes Maria e José à vossa glória celeste, admiti os irmãos falecidos na família dos santos.

-Senhor, sois nosso modelo e salvador! Liturgia das Horas - Festa da Sagrada Família


MAGNIFICAT Antífona: O Poderoso fez em mim maravilhas, e Santo é seu nome. -A minh'alma engrandece o Senhor exulta meu espírito em Deus, meu Salvador; - Porque olhou para a humildade de sua serva, doravante as gerações hão de chamar-me de bendita. -O Poderoso fez em mim maravilhas, e Santo é seu nome! -Seu amor para sempre se 'estende sobr~ aqueles que o temem; - Manifesta o poder de seu braço, dis rsa os soberbos·


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