ENS - Carta Mensal 282 - Maio 1992

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CARTA MENSAL


RESUMO Carta da ERI aos participantes do Projeto Evangelização da Sexualidade . . . . . . . . . . . . Poesia-oração de Teodoro de Ancira em homenagem a Nossa Senhora . . . . . . . . . . . . . . . . . O egoismo nos cerca como a pela cerca o corpo. Uma reflexão com Frei Clarencio Neotti . . . . . Um casal medita sobre o sentida da vida . . . . Diante do escândalo das cerimônias nababescas, JPBL volta a propôr a "festa" no casamento civil . Desta vez, a reflexão sobre o casal cristão nos leva ao delicado campo da fecundidade . . . . . . . . . Como eram os "cursos de noivos" há 25 anos? . . . Um futuro sacerdote dá seu testemunho sobre as ENS O que trazemos para a reunião: leite ou água? . . . . Uma reflexão sobre algumas prioridades . . . . . . . Qual é a janela pela qual olhamos para as realidades? Um importante quadro apresentado nos EACREs . . . Testemunho de um equipista sobre o valor da Oração em Família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Maria: Uma reflexão, com Pe.Luis Kirchner, e uma proposta de vigília . . . . . . . . . . . . . . Carta de um pai a seu filho em sua primeira desilusão amorosa . . . . . . . . . . . . . . Alguns conselhos para caminhar neste mundo Um casal reflete sobre seu primeiro ano de equipe Como estamos administrando as riquezas do nosso Movimento? . . . . . . . . . . . . . . . . Todo mundo faz assim ... por que não eu? . De onde saíram os "meninos de rua"? . . . Como anda o aborto na América do Sul? . Correio: Testemunho sobre um tema de estudo . Intercâmbio. . . . . . . . . Notícias e informações . . . . . . . . Dia das Mães: uma oração . . . . . . Sugestões para as orações de maio .

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Çaria ... eriS.! ~ 1.1111~ pUbUêiÇiô menÚI do Moviment~das Equipes de Nossa Senhora.

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Tiragem desta Edição: 7.500 exemplares

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ACOLHIDA

':As equipes colocam-se sob o patrocínio de Nossa Senhora. Com isto, acentuam o desejo de serví-la e afirmam que não há melhor guía para levar a Deus do que a própria Mãe de Deus." Carta (Estatutos) das ENS Documentos Básicos - pg. 6

Também através da Carta Mensal, as Equipes querem, neste mês de maio, prestar sua homenagem a Maria. Virando esta página, logo depois da carta que recebemos do casal responsável da ERI, vocês encontram uma oração-poesia bastante antiga. Mais adiante, à página 28, ume matéria para reflexão sobre o modelo de esperança que é Maria. E, se vocês quiserem, na página 29 oferecemos um roteiro para, em equipe ou em família, vocês organizarem uma vigília em homenagem a Nossa Senhora.

Algumas correspondências recebidas indicam que a sequência de reflexões sobre o casal cristão - cuja sexta parte publicamos à página 9 - tem sido útil como tema de estudos em equipe. Até agosto, teremos publicado as oito partes deste material. Se sua equipe se interessa, poderemos, em seguida, fornecer uma separata sob forma de tema de estudos. Escrevam-nos.

*** Este mês, novamente, devido à defasagem entre os anos equipistas na Europa e no Brasil , a Carta Mensal sai sem Editorial. Voltamos a sugerir, como já o fizemos no passado, que cada equipe escolha um dos artigos para servir como Editorial. A título de sugestão, indicamos as reflexões das páginas 4 ou 23, ou ainda as colaborações das páginas 5 ou 19...

*** Uma estatística extremamente animadora: das 48 páginas desta edição, 35 foram escritas especialmente para a Carta Mensal ou enviadas por equipistas. Para nós, este é um motivo de imensa alegria, que queremos partilhar com vocês! Muito obrigado e ... continuem! Fraternalmente A equipe da Carta Mensal

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SEXUALIDADE PROJETO SEXUALIDADE -SÍNTESE Recebemos de Mercedes e Alvaro Gomez-Ferrer, Casal Responsável da ERI, estas linhas dirigidas especialmente à Carta Mensal brasileira.

Queridos amigos que participam do Projeto Evangelizar a Sexualidade. Somos Álvaro e Mercedes Gomez- Ferrer e queremos agradecer-lhes pela colaboração de vocês. Estamos muito contentes com a participação brasileira. Também em outros países há uma boa acolhida (na França 1000 equipes trabalham no Projeto) . Nossa equipe de base também está participando, e percebemos que nossos deveres de sentar-se são muito profundos e nos levam a amarnos mais. Só por isso, já valia a pena, não é mesmo? Sabemos que o mais difícil é fazer a Síntese. Se fossem perguntas do tipo "sim ou não", não haveria problema, mas, aqui, o que se pede é que expliquemos o porquê das coisas. Pôr no papel a riqueza da troca de idéias de uma reunião de equipe é complicadíssimo. Conhecemos bem o problema porque, este ano, somos os responsáveis de nossa equipe e encarregados da Síntese. Se, por acaso, vocês acharem que as perguntas sugeridas para ajudar a fazer aS íntese a tornam , em vez disso, mais complicada, esqueçam-nas, simplesmente. Escrevam livremente um resumo sobre uma idéia central, aquela que mais se destacou na reunião, quais as dificuldades que surgiram e as descobertas que começaram a se fazer à luz da fé. Só isso. Os testemunhos voluntários anônimos sobre um ou outro ponto são importantíssimos. pois neles está a verdadeira vida dos casais. ÂNIMO! O importante é que eles reflitam a sensibilidade brasileira. Não se acanhem para escrevê-los. Façam-no de forma simples e sincera. Queremos também agradecer aos Casais Regionais por esse trabalho extra que lhes foi pedido. Lembrem-se que vocês podem cercar-se de uma Equipe Especial para fazer a Síntese (com antigos quadros , por exemplo). Esperem estar de posse de todas as respostas, para fazer esse trabalho e enviem a Síntese de cada reunião como também as respostas de cada equipe . Sabemos através de alguns representantes muito bem qualificados da Igreja Hierárquica, em vários países , que há uma grande expectativa em torno dessa reflexão dos casais das ENS. Rogamos ao Senhor que esse 2 - CM Maio/92


trabalho seja motivo de aproximação, união e compreensão mútua. Que seja acima de tudo, uma maneira de conhecer a vontade do Pai. Com todo nosso carinho, Álvaro e Mercedes Gomez-Ferrer

ORAÇÃO A MARIA Deixemo-nos guiar pelas palavras de Gabriel, que é cidadão do céu, e digamos: Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo! Repitamos com o anjo: Salve, ó alegria por nós tão desejada! Salve, ó júbilo, da Igreja! Salve, ó nome cheio de perfume! Salve, ó rosto iluminado pela luz de Deus e que difunde tanta beleza! Salve, ó memorial todo feito de veneração! Salve, ó véu salutar e espiritual! Salve, ó mãe iluminada pela luz nascente! Salve, ó intemerata mãe da santidade! Salve, ó fonte borbulhante de água viva! Salve, ó mãe tão nova e modeladora do novo nascimento! Salve, ó mãe repleta de mistério e inexplicável! ... . Salve, ó vaso de alabastro, do unguento da santificação! Salve, ó tu que sabes valorizar a virgindade! Salve, ó modesto espaço que acolheu em si Aquele que o mundo não pode conter! Teodoro de Ancira (Reproduzido de "O Discípulo")

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REFLEXÃO

OS MUROS DA INSOLIDARIEDADE O espírito da solidariedade se mostra sobretudo na hora da necessidade. Mas isso não significa que ele hiberne em outros tempos. A solidariedade deveria ser uma atitude ·permanente, como a misericórdia. porque ambas fazem parte da pessoa cristã, que fundamenta seu comportamento nos valores evangélicos e orienta seus passos e gestos pelos de Jesus Cristo, a misericórdia divina encarnada na terra. Há atitudes que favorecem a solidariedade e a fazem crescer e há atitudes que as prejudicam e a matam. O egoísmo é um dos empecilhos da solidariedade. Não é preciso explicar o que seja o egoísmo. Todos o experimentamos, quase diria, com a mesma ir'tensidade com que experimentamos alegria e tristeza. E um acento excessivo nas coisas próprias; é uma procura exagerada de bem estar pessoal; é uma confiança demasiada nas qualidades pessoais; é uma atenção exclusiva aos próprios interesses. Empreguei vários adjetivos que, justamente eles, quando presentes, prejudicam a boa procura do bem estar, das qualidades pessoais e da realização humana de cada um: excessivo, exagerado, demasiado, exclusivo. A pessoa egoísta ou não é ou tem muita dificuldade de ser solidária. Se alguém observa a si mesmo durante 12 horas, verá que o egoísmo o cerca como a pele o corpo. O cristianismo é uma religião de solidariedade. Mas, assim como para compreender e praticar o amor gratuito - que o Cristo colocou no centro e ápice da vida dos que querem ser Seus discípulos- é preciso muito exercício, muita renúncia, muita atenção, muito ato de humildade, também a prática da solidariedade exige de nós um esforço contínuo e vigilante. Há pessoas que têm facilidade para o altruísmo, isto é, para a preocupação para com o bem estar dos outros. Mas quase sempre esse altruísmo vem manchado por interesses, ou seja, vem marcado do egoísmo. Bastaria lembrar as vezes que nos doemos porque não nos agradeceram um benefício; as vezes que deixamos de repetir um gesto altruísta, porque não esquecemos que da primeira vez, não houve reconhecimento, aplauso. A solidariedade exige ascese, isto é, esforço pessoal feito por causa de Jesus, nosso modelo, que se fez solidário com todos os homens. Aparentemente vivemos num tempo de comunicação. Na verdade, continuamos incomunicados, apesar de todos os telefones, fax e tevês. E somos incomunicados, porque não temos solidariedade. Nosso umbigo espiritual continua na barriga do nosso eu. Daí tanta agressividade. Tanto conflito. Tanto fechamento. Tanta auto-defesa. Os muros e as grades que levantamos em torno de nossa casa são expressões concretas de insolidariedade. Frei Clarêncio Neotti, O.F.M.

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REFLEXÃO

O SENTIDO DA VIDA Vida é processo dinâmico. Nascimento, crescimento, evolução, amadurecimento, reprodução, eis aí, em linhas gerais, a quase totalidade da toda vida humana. O sacerdote, que se ocupa com a "cura de almas", e o psiquiatra, que cuida de doenças nervosas e mentais (depressão, ansiedade, alcoolismo, drogas, prevenção de suicídio, etc), têm um objetivo comum: a vida humana que necessita de cuidados e orientação em sua evolução normal. Lembremo-nos de considerar a natureza humana como uma unidade biológica, psicolólogica, histórica, social, cultural, fisiológica e espiritual. O ser humano é uno e singular, não se repete. Ele é um ser consciente, livre e responsável. Ele tem sua verdadeira dimensão de ser espiritual. Desde quando o homem é atirado ao mundo, desde que nasce, ele apresenta um conflito que surge do enfrentamento das pessoas humanas com os supostos básicos da existência. Que queremos dizer com "supostos básicos"? São determinadas propriedades e preocupações essenciais que fazem parte da existência do ser humano no mundo. Cremos que é possível identificar quatro preocupações que passaremos a enumerar e estudar. A liberdade, o isolamento, a falta de um sentido para a vida e a morte. Qualquer destas preocupações faz o ser humano perceber sua fraqueza e daí nasce um conflito existencial. A liberdade- Não é uma preocupação tão intensa quanto a morte, mas é relevante. Cada pessoa é chamada a ser responsável pela sua liberdade. A liberdade só pode ser compreendida pelos limites de nossa consciência, por nossos valores éticos e pela responsabilidade pessoal. Isolamento existencial- Cada um de nós nasce e morre sozinho no mundo. Sua alegria e sua satisfação, sua dor e seu sofrimento são intransferíveis. Ninguém pode "sentir" pelo outro. No máximo pode-se intuir o que o outro sente. A falta de sentido para a vida -Isto leva ao chamado vazio existencial, que conduz o homem e a mulher à depressão, à ansiedade, à busca de soluções drásticas, como o alcoolismo, drogas, suicídio, etc. A morte- Esta é a maior preocupação. É uma verdade terrível da qual não há escapatória.

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O homem sabe que sua vida tem FIM e que ela é transitória, passageira. Ele sabe que precisa terminar seus compromissos, sua missão na vida e que tem um tempo para isto. Ele necessita ter esperança, que lhe dará animo para prosseguir em sua tarefa. O tempo urge, e um dia a morte virá, de forma inexorável e certa. É aí que entra o aspecto religioso da morte. Sabemos que é ponto comum, em praticamente todas as religiões, a existência de uma vida após a morte. Caridade e crescimento são os pontos fundamentais , cruciais, destacados, de praticamente todas as religiões . Não nos esqueçamos: a vida é crescimento, vida é evolução. É importante que possamos viver a vida em plenitude. Mas, e o que vem depois da morte? Se considerarmos - pela Fé - que a morte não é o FIM, mas o começo, o nascimento para Deus, e que isto dá todo um sentido para nossa vida, então .. . só isso é realmente importante. Diva e Fernando Dantas Equipe 1 Nossa Senhora das Dores Limeira/SP

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PASTORAL FAMILIAR

A 11 FESTA 11 SOMENTE NO CASAMENTO CIVIL? Pronto. O circo estava armado e deu no que devia dar. Já por duas vezes em nossa "Carta Mensal" (Abril e Agosto de 1990) procuramos chamar a atenção de nossos amigos sobre o verdadeiro escândalo que são, em nossa Igreja, os casamentos com muitas flores, músicas, convidados, etc ... mas com pouquíssima atenção ao sacramento, sinal visível da graça de Deus, e nenhuma possibilidade de evangelização a partir da Uturgia. Um mero teatro. Mas um teatro caríssimo. Tudo saiu de maneira evidentemente malévola numa revista de grande circulação, no fim do ano passado. Saiu com nomes, lugares, datas, discriminando taxa da Igreja, decoração, música, foto-vídeo, etc. Somente o primeiro destes itens, a "taxa da Igreja" nos interessa diretamente aqui, já que os outros itens dependem das famílias que organizam a "festa do casamento". As taxas das igrejas citadas vão de trinta a trezentos dólares, o que representa atualmente (maio 1992) entre cinquenta mil e meio milhão de cruzeiros. Claro que para essa pesquisa-denúncia foram investigadas as igrejas mais badaladas. As despesas totais dos outros itens, decoração da Igreja, música e foto-vídeo somam entre mil e mil e seiscentos dólares, isto é entre um milhão e oitocentos mil e dois milhões e oitocentos mil cruzeiros. Sem contar as despesas de toalete, maquilagem, aluguel de salão, bufê, etc ... Dai a conclusão: é muito caro casar na Igreja. Pois bem: quem ganha menos em dinheiro com estes casamentos é a própria Igreja. Conforme a própria "pesquisa" citada, a paróquia recebe entre três por cento e quinze por cento do total daquilo que é gasto graças à sua própria ajuda imediata. Mas quem é criticada é ela, e quem tem de aguentar as críticas são os coitados dos vigários que de explorados passam a ser os exploradores. Eles mesmos, aliás, se queixam amargamente dessa situação. É muito masoquismo mesmo! Então, o que fazer? Recusar firmemente este luxo todo? Teoricamente é possível. Conhecemos uma paróquia, aliás com uma belíssima igreja, que tentou. Resultado: quase não há casamentos nessa igreja. Todos os casais pedem transferência para uma paróquia "mais compreensiva". E depois criticam veementemente o vigário dessa paróquia "compreensiva". Como sair dessa situação?

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Primeiro tentando realizar uma "profilaxia" durante as reuniões de preparação ao casamento, com os noivos e os futuros sogros e sogras. Talvez seja com estes últimos o mais difícil. Mas também o mais importante. Depois, tomar medidas concretas. Trata-se afinal da honra da própria Igreja. Medidas concretas, que somente num âmbito diocesano podem pretender ser aplicáveis e eficazes ao mesmo tempo. Festa para o casamento? Sim, mas lá no bufê, no clube, na casa da família. Na igreja, fazer com que a dignidade de sacramento não seja encoberta e aviltada, mas sim realçada em toda a sua grandeza e seriedade. Na sociedade de hoje, não é o grande número de divórcios que deve nos deixar assustados - um de cada três casamentos seria fadado a fracassar - mas sim a constatação que os divórcios de casais casados "no religioso" são tão numerosos como os de casais casados somente "no civil". Isso sim constitui um problema : é a prova de que o casamento-sacramento não foi levado a sério pelos esposos. E nem pela própria Igreja, ao que parece ... Se pretendermos seriamente revalorizar o sacramento do matrimônio, base de toda a espiritualidade conjugal e familiar, temos de enfrentar de rijo o problema extremamente grave da reorganização da liturgia do casamento em nossas paróquias. Estão de acordo? J.P.B.L.

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REFLEXÃO

Continuação das reflexões iniciadas pelo artigo "Eu te amo... que maravilha!", que a Carta Mensal vem apresentando desde outubro de 1991 .

QUEREMOS TER FILHOS "Quando a mulher está para dar à luz, sofre porque veio a sua hora. Mas, depois que deu à luz a criança, já não se lembra da aflição, por causa da alegria que sente de haver nascido um homem no mundo" Jo, 16-20 Essa é a nossa sexta reflexão sobre o casal cristão e nela sugerimos abordar a maneira pela qual assumimos o desejo de ser fecundos. Trata-se da fecundidade de filhos. -segunda finalidade do casamento (a primeira é o desabrochar e o crescimento dos cônjuges) e lei da vida. Mas trata-se também de outras dimensões da fecundidade, de um lado para todos os casais e de outro para aqueles, cuja fecundidade natural parece provisoriamente recusada. Essa segunda maneira da fecundidade se revela notadamente pelo que, de diversas maneiras, se faz pelos outros . Este capítulo é destinado a nos fazer refletir sobre a fecundidade segundo a carne. Nossa reflexão de hoje é inseparável da que já vimos sobre a união carnal e espiritual. Antes de começarmos o nosso questionário, seria interessante refletir sobre dois pontos : 1) Um filho é um dom de Deus e acolher a vida é um ato de fé, de esperança e de amor. 2) Diante do ensinamento da Igreja sobre o assunto, nossa atitude deve ser de escuta, de acolhimento, mas longe do legalismo gerador de consciência acomodada ("que bom ! prá nós tudo bem: cumprimos a lei!") ou da rejeição ("isso é problema nosso, não do Papa!"). Um filho é um dom de Deus - Trazer à vida um filho revela não só o nosso amor, como também as maravilhas e o mistério divinos. Deus nos pede para ajudá-lo a povoar a terra de "novos filhos de Deus" (sob esse prisma estamos no extremo oposto daqueles que "fazem um filho" para a satisfação própria) . Dar a vida a um filho, apesar das dificuldades atuais do mundo, é um ato de fé em Deus , no nosso próprio filho... E um ato de esperança na Providência, na vida; é um ato de confiança.

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Se Deus nos pede para sermos auxiliares do Criador, devemos estar seguros da sua ajuda. Ele seria para nós como um "seguro contra todos os riscos", contra os problemas inerentes à vida. Este é um ato de amor! Pensando que a vida e o amor valem a pena ser vividos, conscientes das maravilhas que Deus faz por nós, nós queremos passar estes benefícios ao pequeno ser nascido de nossa carne. A Igreja se limita a nos ensinar que é Deus quem dá a vida por nosso intermédio. Por isso os métodos contraceptivos que visam impedir o dom da vida não são considerados como respeitadores da ordem natural da criação. Em contraposição, os métodos de regulação de nascimentos que respeitem e utilizem a ordem natural da criação são lícitos. O esforço que sua aplicação requer de nós é um meio visado pela natureza para nos lembrar a importância de nossa união carnal, que nunca deve ser banalizada nem desviada. Resumindo: O ensinamento da Igreja em matéria de fecundidade só visa nos conscientizar da eminente dignidade nossa como pessoas e de nossos corpos. É neste espírito que devemos encarar o estudo dos métodos naturais de regulação de nascimento. Texto de referência: "... O matrimônio e o amor conjugal por sua própria índole se ordenam à procriação e educação dos filhos. Aliás, os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e constituem um beneficio máximo para os próprios pais. Deus mesmo disse: "Não convém ao homem ficar sozinho" (Gn 2,18), e "criou de início o homem como varão e mulher'' (Mt 19,4), querendo conferir ao homem uma participação especial em sua obra criadora, abençoou o varão e a mulher dizendo "crescei e multiplicai-vos" (Gn 1,28). Donde se segue que o cultivo do verdadeiro amor conjugal e toda a estrutura da vida familiar que daí promana, sem desprezar os outros fins do matrimônio, tendem a dispor os cônjuges a cooperar corajosamente com o amor do Criador e do Salvador que, por intermédio dos esposos, aumenta e enriquece Sua família. Os cônjuges sabem que no ofício de transmitir a vida e de educar- o qual deve ser conside rado como missão deles própria - são cooperadores do amor de Deus Criador e como que seus intérpretes. Por isso desempenharão seu múnus com responsabilidade cristã e humana e, num respeito cheio de docilidade para com Deus, formarão um juízo reto, de comum acordo e empenho, atendendo ao bem próprio e ao bem dos filhos, seja já nascidos, seja que se prevêem nascer, discernindo as condições seja materiais seja espirituais dos tempos e do estado de vida e finalmente levando em conta o bem comum da comunidade familiar, da sociedade temporal e da própria Igreja. Os próprios esposos, em última análise, devem formar esse juízo, diante de Deus. Devem-se mencionar especial1O - CM Maio/92


mente entre os esposos que cumprem dessa maneira a missão que Deus lhes confiou aqueles que, de comum e prudente acordo, acolhem, com alma grande, uma prole mais numerosa para ser convenientemente educada. O matrimônio, porém, não foi instituído apenas para o fim da procriação. Mas a própria índole do pacto indissolúvel entre pessoas e o bem da prole exigem que também o amor recíproco se realize com reta ordem, que cresça e que amadureça. Por isso, embora os filhos muitas vezes tão desejados faltem, continua o matrimônio como íntima comunhão de toda a vida, conservando seu valor e sua indissolubilidade. Gaudium et Spes (n 2 50). Questionário: - Considerando que um filho é um dom de Deus, com quem apenas colaboramos, qual é nossa atitude como casal em relação ao dom da vida? - Somos abertos à possibilidade de um filho imprevisto? - Preocupamo-nos, ao chamarmos um filho à vida, com elementos tais como: equilíbrio do casal, saúde, recursos financeiros, profissão, acomodações, confiança na Providência ... ? - Temos, neste campo, uma vontade definida de "programação"? Um abandono completo à vontade de Deus? Ou um "regime misto", quer dizer: uma certa programação que não exclua um acolhimento geral à vida? - Quais são os métodos contraceptivos que aceitamos? - Temos o cuidado de conhecer os ensinamentos da Igreja sobre o assunto? Agora já os conhecemos? - Nossa vida está de acordo com eles? - Nossa vida espiritual ajuda na escolha do método de regulação? - Se não pudermos ter filhos por qualquer motivo, como reagiremos? - Como se coloca para nós nossa vocação à fertilidade? - Como é a ascese na vida de vocês? -A quem pedimos ajuda: à Igreja? às ENS? a outros movimentos? - Qual é a imagem do cristianismo que transmitimos ao mundo quando se discute este assunto? Texto para oração: "... O amor é essencialmente dom e o amor conjugal, enquanto conduz os esposos ao "conhecimento" recíproco que os torna "uma só carne" e não se esgota no interior do próprio casal, já que os habilita para a máxima doação possível, pela qual se tornam cooperadores com Deus no dom da vida a uma nova pessoa humana. Deste modo, os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe. Tornando-se pais, os esposos recebem CM Maio/92- 11


de Deus o dom de uma nova responsabilidade. O seu amor paternal é chamado a tornar-se para os filhos o sinal visível do próprio amor de Deus, "do qual deriva toda a paternidade no céu e na terra". Algumas flores Quando os cônjuges, mediante o recurso à contracepção, separam os dois significados - unitivo e procriativo- que Deus criador inscreveu no ser do homem e da mulher e no dinamismo da sua comunhão sexual, comportam-se como "árbitros" do plano divino e "manipulam" e aviltam a sexualidade humana, e com ela a própria pessoa e a do cônjuge , alterando desse modo o valor de doação "total". Assim, à linguagem nativa que exprime a recíproca doação total dos cônjuges, a contracepção impõe uma linguagem objetivamente contraditória, a do não doar-se ao outro: deriva daqui, não somente a recusa positiva de abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interior do amor conjugal, chamado a doar-se na totalidade pessoal. Quando pelo contrário os cônjuges, mediante o recurso a períodos de infecundidade, respeitam a conexão indivisível dos significados unitivo e procriativo da sexualidade humana, comportam -se como "ministros" do plano de Deus e "usufruem" da sexualidade segundo o dinamismo originário da doação "total" sem manipulações e alterações. João Paulo li Familiaris Consortio (2, 32) Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia de viver por si mesma. Vêm através de vós mas não são de vós. E embora vivam conosco, não vos pertencem . Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos. Porque eles têm seus próprios pensamentos. Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; Pois suas almas moram na mansão do amanhã, a que vós não podeis ir nem mesmo em sonho. Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós ; Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas. O Arqueiro mira a senda do infinito e vos estica. Com toda sua força para que as flechas se projetem rápidas para longe. Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa grande alegria: Pois assim como Ele ama a flecha que usa, Também ama o arco que permanece estável. Gibran Khalil Gibran 1 2 - CM Maio/92


PASTORAL FAMILIAR

PREPARAÇÃO PRÓXIMA AO CASAMENTO Logo que saímos do Concílio Vaticano li (11-1 0-62 a 07 -12-65), foi uma correria geral. As constituições, os Decretos e as Declarações eram motivos de estudos, reflexões, alegrias e perplexidade. À exceção das formulas da Consagração e de outros sacramentos, tudo foi traduzido para o vernáculo. Voltou-se o altar para o povo e os padres, fora das funções litúrgicas, retiraram todos os sinais clericais ... Houve revolta dentro do próprio clero contra os "excessos". Ainda possuímos um livrinho, em que um santo sacerdote, já falecido, verbera contra os "abusos". Desapareceram as Pias-Uniões, as Congregações Marianas, as Irmandades ... Parecia o fim. Era, apenas, o começo. Era o começo de uma época mais consciente, mais madura, mais definida. Foi nessa ebulição que surgiram os "Cursos de Preparação para o Casamento". Em 23 de abril de 1967, fomos convidados para participar da Equipe Dirigente da Paróquia de São Pedro, de Garça. Aí recebemos do Padre Francisco Batistela, CSSR, pároco, hoje Bispo de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, um opúsculo sobre o Curso de Preparação para o Casamento, primeiro volume da Coleção da Pastoral Familiar, do Departamento Regional de Família, da CNBB, publicado pelas Vozes, em 1966. A orientação geral do Curso era "formar e transformar, mais do que informar". E vinham as dinâmicas para se alcançar o objetivo: a) Ajudar os noivos a se tornarem casais unidos e cristãos; b) Refletir com eles sobre todas as realidades do casamento; c) Difundir os princípios fundamentais da espiritualidade conjugal; d) Dar aos noivos o ponto de vista cristão sobre cada aspecto do matrimônio; e) Procurar transmitir a convicção de que é possível ser feliz e ter êxito no casamento, apesar da fraqueza humana e da corrupção do meio que vivemos. Os cinco casais da equipe se compenetraram de que o curso não podia ser teórico, nem uma coleção de conselhos, mas testemunho vivo de casais cristãos, que acreditavam nas riquezas do sacramento do matrimônio e se propunham a divulgá-las. Embora todos devessem conhecer os sete temas, cada casal recebia um, de que trataria nos diversos cursos. Quais eram esses temas? vamos recordá-los, porque são atuais: 12- Amor e Casamento- Depois de uma introdução sobre o namoro e o noivado, partia-se para a análise do desejo insopitável de felicidade, que reside no coração humano, e chegava-se à conclusão de que o casamento era a realização definitiva de uma vocação.

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Aí se analisava o Amor, que consiste, segundo Santo Tomás de Aquino, "em querer o bem do outro". Amar é querer, de todo coração, o bem da pessoa amada. Então se criticava o amor-edonista (amor sexo), o amoregoísmo (amor infantil), etc. E vinham as propostas dos elementos que compõem o verdadeiro amor: Amar é conhecer-se, mutuamente, integralmente. Amar é escolher e ser fiel a esta escolha. Amar é esquecer-se e dedicar-se ao outro. Demonstrava-se que, se pusesse em prática o que aí estava, quantas separações, quantos divórcios se evitariam! O 2° Tema era: Psicologia Masculina e Feminina. Era o nosso tema. Não sabemos quem sonhou que eramos "psicólogos"! E tivemos que bancar. Deixávamos que o Espírito Santo falasse por nós. E falava. Após uma introdução, onde se estabeleciam algumas regras práticas de convivência, chegava-se às características gerais do homem e da mulher. Analisavam-se aspectos biopsicológicos de ambos e, após, confrontavam-se, para que se percebessem as diferenças, que eram tratadas não como elementos opostos, mas complementares. Na conclusão, solicitava-se aos noivos se empenhassem em conhecer, honestamente, os caracteres físicos , psíquicos, intelectuais, morais, religiosos e econômicos do futuro cônjuge, para que não se desapontassem com alguma surpresa desagradável. Lembrava-se a necessidade da franqueza recíproca. O 3° tema era: Casamento - Corpo e Alma. Com noivos separados das noivas, um médico falava aos primeiros, e sua esposa médica falava às segundas. Os itens abordados, com máxima clareza, seriedade e respeito, eram: O sexo na realidade humana; Determinismo e liberdade no sexo; O sexo a serviço do outro; O homem e a mulher sob o ponto de vista sexual (anatomia, fisiologia, psicologia). Os expositores envolviam tudo isto com a presença amorosa do Pai, que tudo fizera com perfeição. O 4° tema girava em torno da Harmonia Sexual. eram os mesmos conferencistas do tema anterior. Deixando os aspectos anatomo-fisiológicos, eles insistiam no matrimônio como criação genial de Deus, que transmitira aos seres humanos o poder criador, para gerarem outras criaturas. Para tranqüilidade de consciência, aconselhavam o exame pré-nupcial, que abrangeria o exame clínico geral, incluindo chapa radiográfica dos pulmões, análise de sangue, urina, fezes, determinação do fator RH. Quanto ao ato conjugal, lembravam a colaboração com Deus na obra da criação, e desciam a explicações católicas do uso do sexo. Em seguida, tratavam, pormenorizadamente, da harmonia sexual e como conseguí-la, apresentando os fatores que favoreciam, como o lugar, o tempo, os preâmbulos, o ato em si e os rituais posteriores. Apresentavam, igualmen14 - CM Maio/92


te, os fatores que poderiam dificultar a harmonia conjugal, como a educação falha sobre a vida sexual, que conduziria à inibição; fatores fisiológicos, psicológicos etc. A seguir vinham indicações providenciais sobre a gravidez, o parto e sua preparação, a esterilidade e os recursos atuais para diminuir seus efeitos. O 5° tema versava sobre o Amor Criador. Amor - casamento - felicidade - Deus. E surgia a tradicional frase: "Amar não é olhar um para o outro, mas os dois na mesma direção". Aí entrava o plano dos filhos: 1° - O que os filhos representavam para o lar; 2° - Atitudes dos pais em relação aos filhos; 3 2 - Deveres fundamentais dos pais. Quanto ao 1°, afirmava-se que os filhos eram fatores de aperfeiçoamento, a fonte de mais pura alegria, a melhor das esperanças e nova vida no lar. Quanto ao 2 2 , lembrava-se a doce espera do bebê, o nascimento, a educação. Finalmente, quanto ao 3 2 , procurava-se estimular os pais a que tivessem confiança em Deus, em seus filhos e em si próprios; a que cultivassem o amor conjugal, dessem bom exemplo, não delegassem as suas responsabilidades na educação dos filhos e respeitassem a personalidade dos mesmos, principalmente na escolha de suas vocações. O 6° teme era O Casamento no Plano de Deus, que seria desenvolvido por um sacerdote. Este caracterizava o casamento como instituição natural e divina- um Sacramento - e afirmava que o amor recíproco era a primeira vocação dos cônjuges. O amor deveria ser expresso pela caridade, pela força nas provações, pela temperança na vida sexual, por uma constante solicitude de justiça, pela prudência na orientação do lar, e por outras virtudes. Após esta caracterização, o dirigente desenvolvia o sentido procriador da vocação do amor: a fecundidade. E demonstrava que o próprio Deus, que é Amor, é fecundo, a ponto de ser Trindade: Pai- Filho- Espírito Santo. E explicava que o Homem, que é amor à imagem de Deus, é também chamado através da união conjugal à fecundidade. Lembrava que havia, também, uma trindade: Pai - Mãe - Criança, e que o fim principal do casamento era a criança. A união carnal dos cônjuges devia ser sempre fecunda: ou trazer à vida novos seres, ou para fomentar o amor mútuo necessário à conservação da família. E concluía explicando o sentido profundo e divino do matrimônio, instituído por Deus e elevado por Jesus Cristo à categoria de Sacramento- único sacramento em que os ministros são os próprios nubentes. Enfim, o 7° tema era a Vida no Lar. Este tema era desenvolvido por um casal experimentado, de vida exemplar, que podia ser modelo para os jovens casais. Depois de chamar atenção para o fato de que o casamento devia ser preparado com toda a seriedade, partia para o tema da "ruptura para a união": casar é entrar numa vida nova e diferente, sem intervenções CM Maio/92 - 15


externas, ainda que dos familiares, os conferencistas insistiam na ruptura com tudo que pudesse trazer desarmonia ao lar, e frisavam a necessidade de planejar os gastos e a de viverem bem com pouco. No atinente à Preparação próxima ao casamento, o casal aconselhava os noivos a transformarem a sala de visitas ou os lugares em que noivavam, em verdadeiras "oficinas de trabalho", aproveitando os momentos de encontro para o teste final aos assuntos essenciais do casamento, com sinceridade e objetividade, a ponto de que tivessem a coragem de romper o noivado, quando surgisse um problema insolúvel. Embora a lua-de-mel não fosse essencial, seria um acidente importante, que deveria merecer a atenção cuidadosa dos noivos. "Em tudo, porém, concluía o casal," deveriam colocar Deus como companheiro. Marido+ Mulher+ Deus." Assim era, em síntese, o Curso de Preparação para o Casamento na Paróquia de São Pedro, de Garça. O roteiro poderia ser desenvolvido hoje. O essencial não mudou. Nilza e Maurício Equipe 11-B São Paulo/ SP

Entre muitos seres que povoam a terra, que representam Deus na caminhada da vida, só eu consegui encantar teu coração ... Depois que te cativei nunca mais tive sossego, porque senti que te pertencia. E descobri ser eu incompleto em tudo até que vieste me completar com teu sorriso, tua palavra amiga, teu coração ardente, teu corpo e tua presença, mas, sobretudo, tua vida plena e madura. Entendi, então, o que Deus quis dizer quando falou de "dois numa só carne"... Frei Hugo D. Baggio: Para que o amor permaneça

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CONSELHEIROS ESPIRITUAIS

DEPOIMENTO DE UM FUTURO SACERDOTE Gostaria, inicialmente, de parabenizar a Equipe da Carta Mensal pelo excelente trabalho prestado às Equipes de Nossa Senhora. Sou seminarista, estudante de teologia e pertenço à Congregação dos Padres Rogacionistas. Em 1989 fui residir em Curitiba, com a finalidade de terminar os estudos teológicos e auxiliar na formação dos estudantes de Filosofia. Um casal equipista, Odete e José (casal ligação na ocasião), já me conhecia de anos anteriores e sabendo de minha presença na comunidade não vacilou em fazer-me o convite para trabalhar junto a uma das Equipes. Já havia participado em Criciúma e Bauru com os Padres Rogacionistas de alguns momentos das Equipes de Nossa Senhora. mas conhecia muito pouco sobre a vida e a finalidade do Movimento. Fazendo uma reflexão latino-americana em nível de teologia e caminhada da Igreja, o Movimento não era "bem visto" pelos estudantes e sofria algumas críticas, assim como tantos outros. Quando a Odete e o José me fizeram o convite, eu fiquei constrangido, sem saber o que dizer. Não fosse a insistência e bom grado teria dito um não categórico, pensando que teria feito o correto. Aceitei, porém, o desafio e comecei a participar das reuniões e a integrar-me no Movimento. O testemunho e motivação dos casais levaram-me a gostar do Movimento e a apreciá-lo. Lembro com carinho os casais com quem convivi e muito aprendi. Chamou-me a atenção o engajamento pastoral destes casais. Em sua maioria são coordenadores de pastorais, agentes comprometidos com a comunidade e suas necessidades. São ministros da Eucaristia, da Palavra, catequistas, trabalham com jovens, com casais e assim por diante. Outro destaque é a sua vida de oração. Esta Equipe reza muito. É uma Equipe sólida devido sua base estar firmada no pilar da oração. Oxalá continuem sempre assim! O contato com as ENS muito contribuiu para a minha formação. Destaco três elementos principais. O primeiro vem a ser o de ordem humana-afetiva. É no "berço" da família que nascem as vocações. E digo mais: as vocações precisam da família para se manterem! Pude encontrar nestes casais e em suas famílias muito apoio e incentivo! Pude abrir o coração e me sentir em casa. Formamos fraternidade. Nos fizemos amigos!

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Outro elemento importante é a regra de vida, os pontos concretos, enfim, as normas do Movimento. Percebi a assiduidade com que os casais procuravam viver o seu compromisso como equipistas. Este exemplo de empenho fez com que eu me inteirasse do Movimento e vivesse melhor o que ele pede. Por fim, destaco o elemento já comentado anteriormente, que é a Segunda Inspiração, ou seja, o caminhar com a Igreja em suas diretrizes e linhas pastorais. A Equipe caminha "ad extra" , é missionária, evangelizadora. Isto me ensinou a enfrentar o "novo", o "diferente", com perspicácia e procurando viver Jesus Cristo. Ontem, hoje e sempre. O meu sincero agradecimento à Equipe 40 de Curitiba por estes dois anos de convivência a aprendizado! Vocês me ensinaram a ser mais amigo de Jesus e daqueles que convivem comigo. Muito obrigado e contem com minhas orações. José Alceu Santana Albino

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PRIORIDADES

LEITE OU ÁGUA? Estávamos numa Sessão de Formação, e trocávamos idéias sobre as seis prioridades. Quando falávamos sobre a Reunião de Equipe, me lembrei de uma velha historinha. Deve ser velhinha mesmo, pois eu a ouvi da minha professora de Religião, quando estava na 7ª ou 8ª série ... Mas ela me pareceu tão encaixada, que eu resolvi partilhá-la: "Havia, num reino distante, um vilarejo. Era pequeno, mas muito próspero. lão próspero, que tinha a fama de que da fonte de sua praça principal não jorrava água, mas leite. Um belo dia, o rei decidiu fazer uma visita ao tão rico vilarejo, e mandou anunciar a data de sua visita. O administrador do lugar reuniu sem demora todo o povo para combinar a recepção ao rei, e teve uma brilhante idéia, que expôs a todos : que cada um, na noite anterior à chegada do rei , colocasse no reservatório de água da fonte da praça, um litro de leite. Todos acharam a idéia formidável, pois não pesaria a ninguém colocar um litro apenas e & efeito seria ótimo; o rei certamente se impressionaria ao ver concretizada a fama do lugar. Chegou a noite combinada. Um senhor, habitante do vilarejo, pensou consigo: "Não posso desperdiçar o leite dos meus filhos .. . Vou é levar um litro de água. Com certeza um pouco d'água no meio de tanto leite passará despercebido, e eu economizo meu leitinho!" E ele assim fez. Na manhã seguinte, em meio a pompas e festas, chegou o rei, O administrador fez um belo discurso enaltecendo a prosperidade do lugar e lembrando a fama da fonte. Nesse instante, foi ligada a bomba da fonte, e qual não foi a surpresa de todos quando, ao invés de leite, jorrou apenas água! Todos os habitantes tiveram a mesma idéia daquele tal senhor, e o rei ficou decepcionado." Creio que seja fácil tirarmos nossas conclusões .. . Nossa Reunião Mensal é uma festa muito especial em que o Rei Jesus estará presente. É necessário que realmente nos preparemos para esta festa, esforçando-nos realmente na vivência dos Pontos Concretos de Esforço, preparando seriamente nossa partilha, estudando o tema, meditando antecipadamente o Texto de Meditação, pois, do contrário, na hora que o Rei dos reis chegar, só jorrará água ... Que esta simples e velha historinha nos ajude a refletir: como temos nos preparado para nossa Reunião? Apenas na tarde do dia marcado, respondendo tudo às pressas, ou nossa Reunião mensal começa quando termina a anterior? O que apresentamos a Jesus: leite ou água? ... Que o final de nossa estória seja bem diferente do final da historinha! Maria Tereza e Valdison Equipe 12 São José do Campos/SP

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PRIORIDADES PRIORIDADES E OBEDIÊNCIA Uma equipe resolveu fazer das Prioridades seu Tema de Estudos. Eis a resposta de um casal a uma parte do Tema

No estudo das Prioridades de atuação- Formação, Comunicação e Ir ao Encontro da Realidade, algumas palavras me chamaram a atenção, como: Santidade, Ação, Presença de Cristo, Obediência, Evangelho e Vida. Na obediência, identifico-me com o chamado a evangelizar. Se o Filho de Deus se fez obediente até a morte e morte de cruz, que homem há que recuse obedecer? No mundo não há ordem nem vida senão pela obediência: ela é o laço dos homens entre si e o seu autor, o fundamento da Paz e o princípio da harmonia universal. A Família, a cidade, a Igreja não subsistem senão pela obediência; a mais alta perfeição das criaturas não é mais que uma perfeita obediência: ela só nos preserva do erro e do pecado. "Ensinai-me Senhor a fazer vossa vontade, porque vós sois o meu Deus" (SL 142, 10). O estudo destas prioridades - Formação, Comunicação. e Ir ao Encontro da Realidade - nos revela: 1 - Formação - A Formação não se faz pelo ouvido, mas sim pela obediência aos ensinamentos do Senhor. Para que serve a Formação? qual a razão? A razão é uma só, segundo o próprio Cristo: dar cada vez mais frutos, ser cada vez mais qualificado para o apostolado, ser um instrumento de realização de seu projeto de amor no meio dos homens ('evangelizador'). A formação é um ato existencial e não visa unicamente ao saber intelectual, o conhecimento científico, mas, e fundamentalmente, o viver e o estar no meio dos homens, o saber escutar os apelos dos mais necessitados, e com eles construir um mundo novo, o Reino de Deus. É preciso fazer o que Deus quer. - E para agir de acordo com a vontade de Deus, é preciso ser obediente, capaz, tornar-se cada vez mais obediente e capaz, para poder viver na plenitude da fé e do Batismo, na condição de casados. Neste sentido alcançaremos uma formação integral: catequética, doutrinai e pastoral (ver. CL. 57,63). 2- Comunicação- A verdadeira comunicação é um processo circular, que exige um retorno da mensagem recebida, que exige uma reação da parte receptor. "Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando. Não mais vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo aquilo

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que ouvi de meu Pai" (Jo 15, 14-15). Respondendo a Felipe Jesus disse: "Quem me vê, vê também ao Pai ... Não credes que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai que está em mim, esse é que faz as obras" (Jo 14,9-11). É importante dizer que só há comunicação quando a pessoa de fato comunga a vida do outro, quando a pessoa acolhe integralmente o outro e não apenas em momentos de necessidade, e juntos desejam desenvolver uma experiência de procurar a verdade e a vontade de Deus e o amor total. 3 -Ir ao encontro da realidade- O que significa? O próprio Cristo responde e ordena: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura ... Eis que Eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo" (MT 16, 15;28,20). Esta ordem de Jesus conserva a sua validade e está cheia de uma urgência que não passa, diz o Papa João Paulo li na Christifideles Laici. E acrescenta: "( ... ) a situação atual, que não é só do mundo mas também de tantas partes da Igreja, exige absolutamente que à palavra de Cristo se preste uma obediência mais pronta e generosa" (CL 33,e). Esta expressão "ir ao encontro da realidade" coloca-se na mesma dimensão do apelo do Papa, quando diz que "chegou a hora de nos lançarmos a uma nova evangelização" para que seja possível refazer o tecido cristão das comunidades eclesiais que vivem em tantos países e nações, onde a religião e a vida cristã, outrora prósperas e operosas, encontram-se hoje sujeitas a duras provas, em função do indiferentismo, secularismo e difusão de seitas. (CL 34). E ainda, em outro trecho: "A síntese vital que os fiéis leigos souberam fazer entre o Evangelho e os deveres quotidianos da vida será testemunho mais maravilhoso e convincente de que não é o medo, mas a procura e a adesão a Cristo, que são o fator determinante para que o homem viva e cresça, e para que se alcancem novas formas de viver mais conforme com a dignidade humana". (CL 24,g). E é novamente na CL que encontramos a resposta e o desafio: "O casal e a família constituem o primeiro espaço para engajamento social dos fiéis leigos. Trata-se de um esforço que só poderá ser desempenhado adequadamente na convicção do valor único e insubstituível da família para o progresso da sociedade e da própria Igreja. Berço da vida e do amor, onde o homem nasce e cresce, a família é a célula fundamental da sociedade" (CL- 40,d.e). Maria, das criaturas humanas o mais fiel exemplo de obediência, presente à celebração das Bodas de Caná (encontro e comunhão) sempre disponível e a serviço, percebe a falta de vinho (vinho é a alegria, conforto, saúde, símbolo do Amor) - "Como viesse a faltar vinho, a Mãe de Jesus disse para Este: Eles não têm mais vinho" (Jo 2,3). movida de miseriCM Maio/92 - 21


córdia, Maria vai ao encontro da realidade e intercede por todos nós (família) junto ao seu filho Jesus e nos aconselha a obediência: "Disse sua Mãe aos que serviam: Fazei tudo o que Ele vos disser (JO 2,5) . Concluímos ser na obediência que tornamos real o desejo de que as E.N.S. sejam um Movimento verdadeiramente eclesial, formado porcasais cristãos maduros, desejosos de concretizar as propostas do Evangelho. Ser sal, fermento e luz passam a ser os símbolos de uma presença ativa e afetiva no mundo, principalmente onde ele não tem sabor, onde as pessoas não conseguem crescer, onde as trevas dominam, tornando assim as pessoas sem esperança, desiludidas , marginalizadas (lembremos os casos difíceis). Neste sentido o Movimento propõe que seus integrantes tenham uma fé encarnada na vida, em todos os lugares onde se fazem presentes, pela oração, celebração da Palavra, pelo encontro e comunhão, pelo trabalho, pelo convívio social, pelo lazer, pela ajuda aos necessitados , pelo trabalho apostólico e missionário. Só assim obedientes atingiremos o objetivo primeiro do Movimento, que é a busca da santidade do casal e da família, para permear os vários ambientes da sociedade com os valores do Evangelho. Socorro e Amaral Equipe 12 B Belém/PA

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AO ENCONTRO DA REALIDADE

A SABEDORIA DOS SANTOS No mundo inteiro existem colecionadores de todos os tipos; por hobby ou mania, ajuntam selos, chaveiros, medalhas comemorativas, quadros famosos, moedas etc. Outro dia, Luís Fernando, 17 anos, mostrou-me sua estranha coleção : doze gavetas repletas de óculos velhos, uns com lente e aro inteiro, outros altamente danificados. Surpreso e sorrindo, meio com pena do garoto, perguntei: -Você acha que vale a pena acumular tanta velharia? - Claro que sim, reverendo. Por estas lentes de quatro gerações, desde meus bisavós até hoje, olho a história de toda a minha famnia ... Gosto desta definição: a vida tem a cor dos nossos óculos e o sabor dos nossos valores internos. Com lentes claras , você contempla as coisas, os fatos e a vida mais limpidamente. Otimismo é sinônimo de óculos cristalinos. Com lentes escuras - óculos de sol tudo fica mais sombrio e menos ensolarado. Richard Burton, monstro sagrado do cinema por várias décadas, fumava e bebia muito. Ao largar os vícios, confessou deslumbrado: - Incrível, antes eu via tudo através de nuvens de álcool e fumaça. Agora as paisagens clarearam, tudo ficou mais bonito e banhado de luz! Cada um de nós vê as coisas, as pessoas e a vida por sua janela. Janela é síntese da nossa personalidade, extensão dos nossos olhos, cérebro e coração. Janela é soma. Do que penso e sinto. Do que sou, fui e serei. Porque o amanhã já se antecipa, pervadindo o meu hoje, assim como o dia de ontem continua agindo no meu instante atual. Somos o que fomos e o que seremos. No multiforme edifício existencial, existem janelas alegres e janelas tristes, janelas abertas e janelas fechadas, janelas humildes e janelas orgulhosas, janelas tímidas e janelas extrovertidas, janelas emperradas, que rangem e estalam. E janelas que cantam e atraem, porque essencialmente acolhedoras, musicais. No horizonte dos ambiciosos, poder, dinheiro e prestígio se desenham em letras bem grandes. Pelas janelas do ateísmo, Deus, eternidade e valores espirituais não têm entrada. Ao passo que a janela da fé se alarga até o infinito. Há janelas realistas e janelas sonhadoras. Janelas indiscretas e janelas educadas, respeitosas. Janelas estreitas, de visual confinado. E janelas amplas, imensas como a vastidão dos oceanos. Somos todos diferentes, e cada pessoa tem seu universo particular. Por isso mesmo, as janelas-vida são inumeráveis como as areias da praia do mar. Senhor, que eu veja tudo com teus olhos, com teu coração. Que em minha pobre janela existencial, tão necessitada de sol e de libertação, floresçam os canteiros da paz, da concórdia, da bondade, da esperança e do amor. Que a exemplo dos Santos - sábios no tempo - eu tenha a coragem de mergulhar fundo e alegre nas águas da vida, no Reino do teu Evangelho, Senhor. Pe. Roque Schneider, S.J. (em Bilhetes Mensais do Apostolado da Oração)

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SOCIEDADE E CASAMENTO

IGREJA

MO \i

Sociedade Patriarcal

Antes Vaticano li

Funde

I

I

Salva tua alma

I

Casamento assimétric9 Igreja= Hierarquia

G ENS =MO\ espiritual

Sociedade da Concorrência

I

Casamento simétrico

I

I Corpo Místico de Cristg Ação do leigo que se insere na Igreja

Sociedade Solidária (Ideal)

I

Vaticano li

Casamento Comunhão'

"O que é de Nos Um perfil: Nossa Sl comunidade.

20 anos após Vaticano II Igreja - Povo de Deus em marcha

I"A Segun

Comunhão e Participação

Nota: Este quadro foi amplamente exposto e debatido nos EACRES deste ano. Conver:

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~ ENTO

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-1938

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I

CARISMA

MISSÃO

I Espiritualidade Conjugai I

Casal para o próprio Casal

O Sacramento do Matrimônio

Interior da Família Interior do Movimento

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O Casal para os outros casais

Comunidade Cristã de casais

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Atividades Pastorais Inserção na Igreja

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Sinal de Amor

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Os casais e o Movimento para o mundo Ser Igreja Proclamação, anúncio da Boa nova sobre o casamento

' com seu Casal Responsávelde Equipe para obter mais informações.

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PONTOS CONCRETOS A ORAÇÃO EM FAMÍLIA Um casal que se liga ao movimento das ENS e nele permanece assume o compromisso - doce compromisso, mas compromisso - de "encontrar-se a cada dia numa oração conjugal e, se possível, familiar". pois bem, já que a nossa CARTA MENSAL "pretende, este ano, dar um destaque todo especial às diversas etapas da Pastoral Familiar", achei oportuno trazer aqui uma historinha que aconteceu comigo quase 20 anos atrás e que talvez ajude a entender melhor por que a oração em família é tão recomendada e não é, não deve ser, um compromisso "chato". Muitas vezes, a oração pode constituir-se no melhor presente que você pode dar a quem mais ama nesta vida. Isso aconteceu comigo. Um belo dia, em novembro de 73, veio ter às minhas mãos, caída do céu, uma passagem de avião para Portugal (minha terra) e, claro, aproveitei para visitar minha mãe, a quem não via desde 66. Foi uma noite de muita emoção essa em que estive com ela e toda a minha família do lado de lá. Não faltaram castanhas e vinho, e sobretudo não faltou alegria, muita alegria, a alegria bíblica que sente quem está com os irmãos. Sem poder adivinhar, era também a última vez que estava com aquela que me gerou. No fim de tudo, quando a noite já ia bem alta e ficamos só nós dois, perguntei: - Quer rezar o terço? Como não havia de querer? Minha mãe se comoveu enternecida, como se tivesse recebido um carinho, e eu guardo até hoje a expressão de doce felicidade que transmitiam seus belos olhos azuis, certamente por ver que a boa semente que, bem cedo, ela havia lançado no coração do seu filho não fora desperdiçada. Naquela noite, sossegada e fria como era natural nessa altura do ano e na terra onde me encontrava, de frente um para o outro, juntos, rezamos o terço do rosário, sentados à lareira, onde ardiam três ou quatro cavacas de pinho - bela moldura de uma cena de fé e amor em que ambos nos destacávamos. E como nos sentíamos bem, tão perto um do outro, e nós dois do bom Deus que, sabíamos, sabemos, nos criou para o servir e amar. Na simples reza de uma oração, tão antiga e popular, nós dois - uma analfabeta e um jornalista - encontramos o prazer de conversar com Deus e meditar nas suas coisas, que são também coisas nossas. Me lembro que minha mãe e eu meditávamos nos mistérios gozosos -o último dos quais traz á tona a resposta que Jesus deu a seus pais quando o encontraram no Templo, três dias depois de o terem perdido: "Não sabíeis que devo me ocupar das coisas de meu Pai?" Certo que Jesus falava dele, mas nós que lhe seguimos as passadas, podemos acaso alhear-nos dessas mesmas coisas? E como vamos nós ocupar-nos delas se não orarmos como ele orava?

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Oração e meditação - elas são o alimento que dá prazer, inspiração e força para prosseguir, a cada instante, a caminhada rumo ao Senhor, nosso Princípio e nosso Fim. Muita gente, mesmos bons católicos, ainda pensa que meditação é coisa só para monges, padres e freiras de vida contemplativa. Quando é que nos convenceremos de que entrar na intimidade do Senhor não é, não deve ser, prerrogativa de ninguém? Tenha eu recebido ou não o sacramento da Ordem, o que sou, antes de tudo, é um filho de Deus, batizado e privilegiado com a vocação de equipista. Maria, mãe de Jesus, pode não ter alcançado todo o sentido da resposta que lhe deu seu filho, mas São Lucas, que relata o fato, teve o cuidado de observar que ela "guardava todas estas coisas no seu coração". E eu, que me comprometi com um movimento de casais que tomam Nossa Senhora por modelo, como reajo quando me falam de oração, meditação, retiro? Já descobri o gosto, a necessidade de rezar junto como meu cônjuge, quem sabe, com os meus filhos, os meus pais os outros? E rezar todo dia, toda noite. "Orai sem cessar", recomenda São Paulo. Rezar é entrar em contato com o meu Deus, não com quem cumpre um dever fastidioso e desnecessário, mas como quem precisa encontrar-se com o melhor amigo. Um amigo que, no caso, merece a maior confiança e admiração, que tem paciência para ouvir e entender tudo, que tem um coração para perdoar mais que 70 vezes sete. Um amigo a quem tudo devo e de quem tudo espero e sem o qual simplesmente eu não existiria. Um amigo a quem só tenho que recorrer sempre que dele necessito: "Pedi e vos será dado, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á", disse Jesus. Pena que o lema Família que reza unida, permanece unida, que o padre Patrick Peyton espalhou por todo o mundo na década de 60 não tenha sido assimilado em toda a sua profundidade. Nem mesmo o crente parece ter se apercebido da razão de ser e de todo o alcance dessas poucas palavras. Usadas ao acaso e ao desbarato, elas acabaram se esvaziando, perdendo muito da sua mensagem e pureza originais, quando não caíram na galhofa. Uma pena, realmente! Se você, se eu, se todo mundo acreditasse na força da oração feita entre dois ou mais membros da família, certamente ela ,não estaria sofrendo tanto os efeitos de certa espécie de meio ambiente. E só uma questão de acreditar na palavra do Senhor: "Onde dois ou mais se reunirem em meu nome, ali estou eu no meio deles". E nesse momento de convívio com o senhor, quem duvidará que ele estará com toda a sua graça, todo o seu poder de valimento, tudo o que significa para nós Providência divina? Manuel (da Dulce) Equipe 9-A Rio de Janeiro

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As Glórias de Maria segundo Santo Afonso

A ESPERANÇA VIVIDA POR MARIA A esperança nasce da fé que ilumina a bondade de Deus. Confiamos que as promessas feitas por Ele serão cumpridas. Deus cumpre o que prometeu. Pelo fato de que Maria possuiu a fé ao mais alto grau, segue-se que ela tem uma esperança da mesma forma. Com Davi, pode rezar: "Para mim só há um bem: é estar com Deus e colocar meu refúgio no Senhor" (SI 72,28) . Para nós que fazemos parte de uma sociedade de consumo, bombardeados diariamente com apelos de todos os tipos que prometem felicidade ou segurança, é bom vermos o desapego das coisas materiais que Maria praticou. Só confiou na graça de Deus. Por esta razão, andou longe no amor de Deus. Não confiou nos seus próprios méritos, mas naquele que dá as graças. Esta virtude foi colocada a uma prova de fogo, logo que sentiu que São José estava perturbado com a gravidez dela. Para José, um problema. Para Maria, um privilégio. Conforme Cornelius a Lápide, "A Virgem Maria estava sem condições de revelar seu segredo a José, para que não parecesse que se estava orgulhado deste dom ; resolveu entregar-se nas mãos de Deus, e com a máxima confiança, deixou que Ele cuidasse da sua inocência e boa reputação". Na hora do parto, Maria mostrou de novo sua confiança. Sem lugar adequado, Maria nunca reclamou , abandonou-se a Deus, confiante que Deus a protegeria. Veja a confiança e a esperança de Maria quando José a avisou que deviam fugir já para o Egito (Lembre-se que desta vez, foi José que teve a "conversa" com o anjo). Nas bodas de Caná, diante da resposta que parecia negativa, Maria não perdeu confiança e disse aos serventes: "Fazei tudo o que ele disser". Sua esperança superou a resistência do filho. Maria ensina como enfrentar os momentos difíceis de nossa vida. Deus não nos salva sem nossa participação e colaboração; também , não nos salvamos sem a graça dele. Maria nos mostra o que é ter confiança. Com São Paulo, ela reza: "Tudo posso naquele que me fortalece" (FI 4, 13). Não é por nada que pessoas como São Bernardo e São Boaventura disseram que, depois de Jesus, Maria foi a esperança deles de salvação. Vamos a Maria. Aquela que tem sido a esperança para milhões, porque ela acreditou e, por causa disto, confiou na misericórdia e na bondade de Deus. Minha Mãe, ensina-me a praticar melhor a virtude da Esperança. Pe. Luís Kirchner, CSSR C.E. do Setor Manaus/AM .

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UM MOMENTO COM MARIA Sendo o mês de maio dedicado a Maria, a Carta Mensal envia-lhes este artigo como sugestão para uma vigília (em família ou em equipe) a fim de homenagear nossa Mãe do Céu e Medianeira.

1. Acolhida: Cantemos "Maria de Nazaré" ou outro canto a Nossa Senhora. 2. Buscando na fonte: ler atentamente, passo a passo, a narração da anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria, que se encontra no Evangelho de São Lucas, capítulo 19 versículos de 26 a 38. 3. Momento de estudo: meditamos que Jesus é o Filho de Deus, verbo Eterno de Deus - "Deus de Deus, luz da Luz" - segunda pessoa da SS. Trindade. Veio do seio do Pai, e se encarnou no seio da Virgem Maria, e se fez Homem. Todo este mistério está bem definido no capítulo 19 de São Lucas, que narra para nós o anúncio do Arcanjo Gabriel: "Ave, Cheia de graça". Muda o nome de Maria, porque ela vai receber uma grande missão: a de ser a mãe de Deus. O nome que ele lhe dá é característico: "Cheia de Graça". Plena: nela não há lugar para mais nada, a não ser para a graça, a vida de Deus." O Senhor está contigo! .. . Encontraste graça junto a Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho. Ele será grande, chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o seu reinado não terá fim ... Para Deus, com efeito, nada é impossível'. Cremos que o Filho de Deus agora é "filho do homem"; assumiu uma natureza humana no seio de Maria. Ele agora é de nossa carne, pertence à nossa humanidade. O Verbo se fez carne! Começa a encarnação do Verbo, quer dizer, o Verbo que se encarna e começa esta encarnação no seio da Virgem. A carne e o sangue de Maria, da humanidade de Maria, agora são carne e sangue do Redentor. Agora o Redentor é um de nós, tem todas as características do ser humano, exceto o pecado. Maria, pelo sim que deu ao plano de Deus, possibilitou o início da redenção. A encarnação se fez primeiro nela, de um modo concreto e definitivo e, a partir daí, Jesus tem a natureza humana, e agora pode, através dos sacramentos que ele mesmo instituiu, agir em toda carne, santificá-la, continuar em toda a humanidade a sua encarnação. De igual maneira em nós acontece, e de modo bem real, a encarnação de Jesus: Jesus, Verbo de Deus feito carne, vai penetrando a nossa carne, nos santificando, nos cristificando. Importa abrir o coração e a mente à ação de Jesus que deseja nos santificar e, através de nós, colocar toda a criação a serviço do Senhor. Importa repetir com Maria, todos os dias, a cada hora: "Faça-se em mim segundo a vossa palavra". "Eu sou a serva do Senhor'. Pelo ato de obediência a Deus, à sua palavra santificadora, também você vai sujeitando toda a sua carne, todo o seu ser, à vontade bendita do Senhor. Você vai adquirindo verdadeiro prazer em fazer, em cumprir a vontade de Deus. Maria está feliz, está satisfeita, porque tem verdadeiro prazer em fazer a vontade de Deus.

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Você deve se sentir muito incomodado quando não cumprir a vontade de Deus, quando na sua vida há alguma coisa que contraria o que Deus qetermina, o que Deus quer. E preciso estar em harmonia com a vontade de Deus, que é fonte de equilíbrio para o homem. Neste sentido, a natureza humana também deve participar da "ecologia universal": quando saímos da lei de Deus, desequilibramos a própria natureza, porque a lei de Deus é a lei da natureza, mas se obedecemos à lei da natureza, obedecemos a Deus. Ter essa visão global da ecologia (essa preocupação tão presente nos nossos dias) e perceber, principalmente, que nós pertencemos a este equilíbrio do universo e que devemos condenar em nós mesmos, em primeiro lugar, o que tendemos a condenar nos outros: a destruição da natureza humana por meio de tudo o que prejudica a saúde espiritual, física e mental de nosso corpo, como as drogas, as pílulas e os excessos de bebida e comida, por exemplo. Quando agredimos assim a nossa natureza humana, contrariamos a vontade de Deus, que nos ensinou a temperança, a renúncia e o sacrifício, a fim de podermos ter uma "alma sã num corpo são". (Reflexão de Dom Geraldo do Espírito Santo A vila)

4. Troca de experiências: a) Qual é a finalidade da encarnação do Verbo, do Filho de Deus, 2ª Pessoa da Santíssima Trindade? b) Qual é o papel e a contribuição de Maria no plano da redenção de Deus? c) Podemos dizer que, de certo modo, acontece também em nós a encarnação do Jesus como se deu em Maria? Explique. d) Como podemos imitar a atitude de Maria em nossas vidas? Quando devemos nos sentir "incomodados"? e) Como posso contribuir para o equilíbrio geral do universo (ecologia) e da natureza humana e que influência têm nesta harmonia atitudes contrárias à vontade de Deus? ey. Momento de oração: E bom permanecermos alguns momentos em oração com Maria. Após a anunciação, Maria levou a Boa nova da redenção a Santa Isabel. Oremos com as palavras do cântico de Maria, que se encontra no Evangelho de São Lucas, capítulo 12 , versículo de 46 a 55. Cada membro do grupo leia um versículo, depois cada um partilhe a passagem que mais o tocou, louvando a Deus. 6. Compromisso: Como Maria anunciou a vinda do filho de Deus entre os homens, assim cad~ um de nós, pelo batismo, tem a missão de anunciar Jesus aos outros. E preciso evangelizar: esta é a tarefa de cada cristão, especialmente nos dias de hoje. Como podemos acolher Jesus e, a exemplo de Maria, levá-lo aos nossos irmãos? 7. Despedida: Canto do Magnificat.

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PAIS E FILHOS CARTA DE UM PAI A SEU FILHO EM SUA PRIMEIRA DESILUSÃO AMOROSA Outro dia, quando você me falou que havia combinado com a Lúcia "dar um tempo" , suspendendo assim o namoro, imaginei que a decisão devia ter-lhe abalado e chateado. Fiquei preocupado, pensando como poderia dar uma ajuda. Achei, então, que deveria escrever alguma coisa do que penso sobre o problema do amor. Sem dúvida o mais importante na vida de alguém.( .. .) Creio que antes de chegar à decisão de "dar um tempo", muita coisa passou por sua cabeça, muita coisa você procurou entender, muita coisa deixou você perplexo, muita coisa não saiu como você queria. É assim mesmo, meu filho , que a vida vai nos ensinando suas lições. Não há outro caminho, por mais que se queira. Pobre é quem não sabe aproveitar estes momentos, estes tropeços, estes desenganos. De tudo isso temos que aprender alguma lição para sabermos lidar melhor conosco mesmo, com os outros, com a vida. Por isso é que gostaria de apontar algumas pistas para a sua reflexão.( ... ) Estas pistas, estas idéias são o resultado de meu próprio jogo, de uma reflexão pessoal , que já atravessa muitos anos e que me levou, até mesmo a uma quase insaciável curiosidade de conhecer melhor o assunto, recorrendo, com avidez, às páginas de muitos livros. Mas - faço questão de assinalar - que o que li passou sempre pelo crivo de minha própria meditação, buscando nas idéias apresentadas pelos autores tão só uma luz para esclarecer o que eu próprio vivi, pensei e senti. Vamos, depois de tanta "filosofada" , ao que interessa, na esperança de que a experiência do pai seja de ajuda ao filho que veio ao mundo só porque, 25 anos antes , sua mãe e eu descobrimos o Amor. E aí está o nosso ponto de partida: o aparecimento, na vida de dois jovens , de uma força que os atrai. Por quê? Que coisa mais interessante e significativa: no mundo existiam , lá pelos idos de 1946, milhões e milhões de mulheres. Eu mesmo conhecia várias . Por que, então, um belo dia, vejo-me a pensar, cada vez com maior frequência, em uma única, a Esther, que eu já havia encontrado não sei quantas vezes desde pequeno. A moça com quem já brincara tantas vezes . A garota que tentara fazer-me dançar inúmeras vezes sem sucesso. Até ali, apesar de festas , bailes e piqueniques ela era uma como as outras . Talvez, até, aos meus olhos, uma que outra, mais cheia de corpo ou de cabelos mais louros, pareceume mais apetecível. Lembro-me, até hoje , de algumas delas. O certo é que, um dia - já não sei quando - a Esther começa a se destacar. Ela é o

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centro de minhas atenções. Andando ou estudando, de repente, eis que estou a me lembrar dela. cada dia com mais frequência. A sua figurinha delgada a todo instante surge diante de meus olhos. Já sou capaz de ouvir a sua voz, recordar o seu olhar, encontrar-me com o verde dos olhos dela. Quando dou fé, quero vê-la e encontra-la sempre. Já não penso em outra coisa senão nela. O que será que aconteceu? Por que a Esther já não me sai do pensamento? (... ) Por que isso ocorre entre um homem e uma mulher? Por que eu me apaixonei por ela e não por outra? É a pergunta que eu mesmo me fiz não sei quantas vezes. Como muitos outros o fazem hoje, outros antigamente e muitos mais ao longo dos séculos. Nem eu nem eles fomos capazes de encontrar uma resposta satisfatória: é um mistério! A mente humana não é capaz de decifrar o enigma que há por trás do encontro de um homem com uma mulher, encontro que vai ligá-los pelo amor. É um mistério, sem dúvida. Talvez você se assuste com a palavra. Mistério, porém, não significa alguma coisa sem nenhuma explicação, mas algo de tão profundo ou elevado que a inteligência humana não é capaz ou não está apta a captar.( ... ) Eis como, depois de muito matutar, percebi que o segredo de meu encontro com sua mãe era uma coisa tão bela e profunda que só podia ser entendida como um segredo, não dos deuses, mas do único Deus. E disso tenho a mais plena consciência, aferrado a uma experiência feliz por que não dizer divina mesma? - que já vai para mais de 40 anos. E ao bom Deus agradeço, sempre, por ter tido a oportunidade e a felicidade de viver tão encantador mistério. Ai está, Janjão, uma idéia que você deve colocar na ordem de suas cogitações: o amor que leva um homem a gostar de uma mulher, ao mesmo tempo que ela inclina-se por ele, é uma realidade tão rica e profunda, que o próprio raciocínio humano não é capaz de descobrir o seu porquê. É um segredo de Deus, um mistério. Os próprios gregos para explicar este mistério desenvolveram o mito da "cara metade'.Enquanto bem me lembro, diziam eles, em linhas gerais, que o criador fez o ser humano como um ser especial. Depois resolveu separá-lo em dois, o masculino e o feminino. Cada um, porém, ganhou vida autônoma e embrenhou-se pelo mundo, cada um para um lado. Os dois, contudo, sempre carregam a nostalgia do outro, metendo-se, ao longo da vida, na tarefa de achar a sua outra metade porque, só então, estariam realizados e felizes . Creio eu, meu filho, que o mito não está longe da verdade. É preciso encontrar, para sermos felizes e nos completarmos, a nossa outra metade, aquela que traz dentro de si o outro polo de nosso amor e que, por isso

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mesmo, só pode ser uma metade muito querida. Daí a expressão 'carametade'. Aí esta, João, o que eu queria dizer com tão longa digressão. Só se pode ser feliz quando se encontra a mulher que o próprio Deus nos reservou. Essa vai nos completar, ser o outro pedaço de nós mesmos. Quem é ela? há-de perguntar você. Não sei, ninguém sabe. Há que procurá-la no meio da selva da vida. Quando você a encontrar fique certo que os relógios de seu ser irão acusar sua presença. Para uns é tarefa fácil, para outros difícil, pouco importa. É sempre uma tarefa tão rica e fundamental que vale a pena enfrentá-la. Afinal , está-se procurando a cara-metade. Eis o que eu queria dizer para tentar ajudar você no dissabor desse pedaço de sua vida que apenas começa. Um outro dia, quem sabe, eu completo toda essa história com uma outra, mais bela e profunda que a dos gregos. É a que Deus mesmo revelou , inspirando alguém a contar o mito de Adão e Eva que, pela força do amor que os uniu , revela a imagem Dele mesmo: "e Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, macho e fêmea ele os criou" para que "eles se tornem uma só carne". (Gênesis 1, 27; 2, 24). Mas fica para outro dia. E termino dizendo, como de início afirmei , que tudo que escrevi é resultado de minha própria vida. Vida de quem, há mais de 40 anos , teve a grande graça de encontrar sua outro metade. Por isso você existe. Seja feliz, meu filho, e que o Bom Pai do Céu ajude você, no difícil peregrinar da terra, a encontrar aquela que será capaz de tornar a sua peregrinação doce e suave. Luiz Marcello Moreira de Azevedo

Tudo em mim clama por ti, tudo em ti clama por mim, fomos feitos um para o outro, somente, no encontro, os dois seremos aquele ser perfeito e completo, que superou as divergências, que encontrou o centro unificador e tornou-se tal qual Deus o pensou...

Frei Hugo D. Baggio: Para que o amor permaneça CM Maio/92- 33


REFLEXÃO

DESIDERATA "do latim DESIDERATU, aquilo que se deseja, aspiração."

Vá placidamente por entre o barulho e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio. Tanto quanto possível, sem capitular, esteja de bem com todas as pessoas. Fale a sua verdade, calma e claramente, e escute os outros; mesmo os estúpidos e ignorantes, também eles têm a sua história. Evite pessoas barulhentas e agressivas. Elas são um tormento para o espírito. Se você se comparar aos outros, pode tornar-se vaidoso e amargo, porque sempre haverá pessoas superiores e inferiores a você. Desfrute suas conquistas assim como seus planos. Mantenha-se interessado em sua própria carreira; mesmo que humilde, é o que realmente se possui na sorte incerta dos tempos. Exercite a cautela dos negócios, porque o mundo é cheio de artifícios. Mas não deixe que isto o torne cego à virtude que existe; muitas pessoas lutam por altos ideais; e por toda parte a vida é cheia de heroísmo. Seja você mesmo. Principalmente não finja afeição, nem seja cínico sobre o amor, porque, em face a toda aridez e desencanto, ele é perene como a relva. Aceite gentilmente o conselho dos anos, renunciando com benevolência às coisas da juventude. Cultive a força do espírito para proteger-se num infortúnio inesperado. Mas não se desgaste com temores imaginários. Muitos medos nascem da fadiga e da solidão. Acima de uma benéfica disciplina, seja bondoso consigo mesmo. Você éfilho do Universo, não menos que as árvores e as estrelas. Você tem o direito de estar aqui. E, quer seja claro ou não para você, o Universo, sem dúvida, se desenrola como deveria. Portanto, esteja em paz com Deus, qualquer que seja a sua forma de concebê-lo; e, seja qual for sua lida e suas aspirações, na barulhenta confusão da vida, mantenha-se em paz com a sua alma. Com todos os enganos, penas e sonhos desfeitos, este é, ainda, um mundo maravilhoso. Esteja atento! Empenhe-se em ser feliz! Colaboração Equipe 8-A São Paulo/SP

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VIDA DO MOVIMENTO

AMOR, RECEITA PERFEITA Fomos convidados a escrever para o boletim do nosso Setor e ficamos pensando sobre o que escrever e como escrever. Estamos próximos de completar um ano de Equipe. Então pensamos, primeiramente, em agradecer a nosso Deus pela oportunidade de ingressarmos num movimento tão grandioso e fraterno, onde fomos "sacudidos" para despertarmos e colocarmos em prática o que tínhamos em nossos corações - a nossa Fé. Quantos de nós a deixamos num cantinho, tão bem guardada e tão pouco mexida? ... Infelizmente nos acomodamos e esquecemos que nossa vida precisa de uma renovação, de uma vivência, para que possamos colocar em prática o Plano de Deus. Nosso crescimento é gradativo e, às vezes, até lento, mas o que nos alegra é sabermos que estamos buscando, caminhando para alcançarmos a luz da irmandade, do respeito, da espiritualidade, tão necessária em cada ser humano. Revoltamo-nos tanto com a miséria, com a fome, com o abandono, com a violência, com casamentos desfeitos e filhos sozinhos, mas o que fazemos para melhorar? Será que paramos para refletir sobre a causa de todos estes absurdos? Será que percebemos, em algum momento, que o que está faltando é a nossa determinação em buscarmos a força e a razão maior, que é DEUS? Como nos negamos a ser dignos de toda sua dedicação!. .. mas o que vale mesmo é que, de alguma forma, reconheçamos a sua vitalidade e arregacemos as mangas para entrarmos na luta. Amor é a receita perfeita, acompanhado de compreensão, respeito, carinho... dentro da nossa casa, pois assim saberemos como dividir e doar. Regina e Darlan Equipe 09 Recife/PE

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VIDA DO MOVIMENTO COISAS NOSSAS ... Recentemente, fomos solicitados a preparar um casal de noivos para receber o Sacramento do Matrimônio. A fim de reciclar-nos sobre a matéria, visitamos duas importantes livrarias católicas e pouco achamos sobre o assunto. Às tantas, descobrimos numa prateleira um livrinho que nos é mu~o familiar, já em sua 9ª edição ... (quantos livros nestes brasis chegam lá?). Era o nosso DEVER DE SENTAR-SE, das Equipes de Nossa Senhora- Edições Paulinas. Aí, como canta aquela canção popular: "o pensamento parece uma coisa à toa, mas, como é que a gente voa, quando começa a pensar... ", ocorreu-nos propor-lhes, com todo o respeito, uma reflexão de como estamos sendo bons administradores das imensas riquezas que o Senhor nos confiou, via Equipes de Nossa Senhora. A propósito do livrinho O DEVER DE SENTAR-SE, recordamo-nos de um Encontro Nacional de Casais Responsáveis de Equipe (naqueles tempos ainda era possível) , para o qual foi convidado famoso médico psiquiatra de fama nacional. Dele ouvimos a seguinte afirmativa: "se todos os casais fizessem o dever de sentar-se eu poderia fechar meu consultório .. ." Então o nosso livrinho trata de um assunto da mais alta relevância. Estaríamos nós dando-lhe a devida importância? Mas ainda precisávamos nos reciclar para preparar o casal. Lembramo-nos de um outro livrinho da nossa biblioteca: PARA QUE O AMOR PERMANEÇA, do nosso saudoso conselheiro espir~ual Frei Hugo D. Baggio. Na apresentação do mesmo, D. Geraldo M. M. Penido, Arcebispo da Arquidiocese da Aparecida, assim se expressa: "Espero que a todos seja útil, mas para os cursos de noivos da Arquidiocese de Aparecida será texto obrigatório. O assunto foi amplamente estudado em memoráveis encontros dos que dão os cursos de noivos com nossos párocos e sacerdotes, notadamente os conselheiros espirituais das Equipes de Nossa Senhora". Estamos sendo administradores fiéis? Uma Carta Mensal recente reproduziu artigo de um casal equipista dando testemunho de como conseguia fazer sua meditação diária. Aí ocorreu-nos: será que estamos sendo eficazes em transmitir às novas gerações toda a riqueza contida nos escritos do nosso fundador, Cônego Henri Caffar~l. indiscutível mestre da oração interior, com inúmeras obras em português? As vezes, em nossos encontros não se encontra um só livro dele exposto. Poderíamos continuar, mas, o que está aí já é o suficiente. Meus caros, o que podemos fazer para não estiolar essas riquezas por Deus confiadas a nós e descobrir o caminho de fazê-las chegar a toda essa multidão sedenta de uma resposta mais substancial aos seus reais problemas? Rubens (da Dirce) Equipe 3-D São Paulo/SP

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ATUALIDADE

TODO MUNDO FAZ ASSIM ... Encontro-me diariamente com jovens que justificam suas atitudes com o argumento: "todo mundo faz assim mesmo, em qualquer nível social", referindo-se, em geral, a ações ilícitas, inclusive de relevo, que causam graves prejuízos para os outros. Isso acontece também no meu ambiente de trabalho, onde os jovens usam argumentos desse tipo. Proponho-me sempre a fazer tudo o que está ao meu alcance para promover uma "recuperação moral". Mas muitas vezes me faltam os meios culturais suficientes e adequados para justificar a minha posição... Miguel Campo Grande (MS)

A sociedade como um todo e particularmente a realidade na qual vivemos nos mostram situações negativas que envolvem e muitas vezes arrastam um grande número de pessoas. A raiz do problema reside na mentalidade individualista que predomina. Essa mentalidade não é tanto o resultado de uma escolha consciente e voluntária, quanto a conseqüência do fato de ter perdido a dimensão religiosa da vida e da história, ou seja, de "matar o Pai" dentro de si. Abrir o homem para o Amor (para Deus), levá-lo a redescobrir e experimentar esse amor, com todos os seus

dons, é a base para resolver o problema ético hoje. Mas o que fazer concretamente? Fiquei tocado, há alguns dias, com as palavras de um amigo meu influente no campo político, que falava sobre a urgência de moralizar a vida pública: «Quando também eu estou cansado e desanimado, quando me sinto oprimido pela impotência de não poder mudar nada, e me vem a tentação de abandonar a luta, já que "não há mais nada a fazer", relembro um sonho que tive: via uma grande praça suja, dividida em mil setores de um metro quadrado cada uma, confiada a uma multidão de pessoas que, a tur-

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nos, deveriam limpá-la. Quando chegou o meu turno, encontrei a minha parte suja: quem me precedeu não a tinha limpado: os outros setores também estavam sujos: ninguém tinha trabalhado. Vale a pena limpar a minha parte, se tudo está sujo? E aquele que virá depois de mim, continuará limpando? Quando acordei, entendi que o meu metro quadrado representa a praça inteira e que o tempo gasto cada vez para limpálo representa, naquele momento, toda a minha vida sobre esta terra>>. Então, caro amigo, para não ceder, penso que cada um de nós (e toda pessoa de boa vontade), mais do que confiar nos "meios culturais", deve fazer uma "conversão": deve fazer ressurgir em si mesmo a consciência da própria sociedade, isto é, descobrir uma consciência social que leve a ver a humanidade inteira como uma grande família. Entre outros fatores, já a própria interdependência dos problemas humanos impõe essa tomada de consciência: basta pensar em Chernobyl, na guerra do golfo, etc. Porém a descoberta desta

consciência social parte daquele "metro quadrado" que está ao nosso redor. E para nós cristãos essa consciência se fundamenta na certeza de que Cristo está presente em cada pessoa, em quem está ao nosso lado no trabalho, na escola, na família, pelas ruas. Sendo assim não só nasce em nós uma grande aversão a qualquer ato que ofenda ou prejudique os outros: mas ocorre uma mudança no nosso modo de julgar e de agir em relação a eles: de uma atitude hostil ou indiferente, passamos a ter gestos de ação, de cuidado, de partilha. É sobretudo esse amor concreto, esse "viver o outro" que pode ajudar as pessoas ao nosso redor a sair das situações negativas nas quais caíram e a se abrirem por sua vez ao amor, podendo assim encontrar Deus e orientar-se também elas a ver Cristo em cada próximo. Domingos Mangano (Transcrito de Cidade Nova n2 2/1992)

Cada momento de nossa existência, cada respiro, cada batida do nosso pulso, se assim posso dizer, cada clarão do nosso pensamento tem consequências eternas. Essa história sem igual nos será um dia apresentada, e será apresentada a todo o universo. J.B. Bousset Bispo de Meaux 38 - CM Maio/92


ATUALIDADE

MENINOS DE RUA De onde saíram os meninos de rua? A pesquisa do IBGE revelou que eles vieram de lares onde faltou a figura do cônjuge masculino. Mas boa parte deles são mesmos órfãos de pais vivos.

A mulher pai e mãe- Pesquisa do IBGE [de 1989) informa que a análise dos tipos de família onde residem as crianças e adolescentes que vivem em estado de carência, indica que a grande maioria estava inserida em fam ílias integradas pelo casal com filhos (com ou sem a presença de outros parentes) - 83,9% do total - enquanto 12,5% residiam em famílias compostas pela mulher sem cônjuge com seus filhos (também com ou sem outros familiares). A comparação com os dados de 1981 revela que vem diminuindo a proporção de crianças e adolescentes morando em famílias constituídas por casal com filhos (de 87,2% para 83,9%), enquanto, por outro lado, vem-se elevando o percentual daqueles que residem em famílias onde falta a figura do cônjuge masculino (de 9,6% para 12,5%). Este aumento decorre de uma série de transformações que vêm ocorrendo nos padrões familiares, sendo que o aumento no número de separações conjugais é uma das tendências mais significativas ocorridas nos últimos anos.

Principalmente nas camadas médias urbanas, a participação crescente da mulher no mercado de trabalho tem lhe assegurado relativa autonomia econômica, tornando-a menos dependente do casamento indissolúvel. Assim, as uniões conjugais tornam-se mais instáveis, menos duradouras, donde a expansão deste tipo de arranjo doméstico em que a mulher reside só com seus filhos. Nas classes de renda mais baixa, por outro lado, a instabilidade conjugal, já incorporada aos padrões familiares em virtude da própria situação de pobreza, é um fenômeno há muito tempo constatado. Órfãos de pais vivos ·- A comparação entre o nível de rendimento das famílias chefiadas por mulher e o daquelas integradas pelo casal com filhos revela uma situação bem mais desvantajosa para as primeiras: em 1989, enquanto a proporção de crianças e adolescentes residindo em famílias compostas pela mulher com filhos era de 56,5% na faixa até salário mínimo de renda média familiar per capita, no caso daqueles residindo em famílias de casal com filhos este percentual

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era de 43,2%. De fato, estas famílias em que falta a figura do marido/pai encontram dificuldades particularmente grandes na luta para a subsistência. A mulher, sobretudo quando os filhos são pequenos, encontra dificuldades adicionais de inserção regular no mercado de trabalho. Além disso, a remuneração que consegue obter através do trabalho é normalmente muito inferior à do homem. A conseqüência para os filhos é que estes terão provavelmente menores chances de escapar do círculo de pobreza, na medida em que deverão mais cedo participar do mercado de trabalho para complementar o orçamento doméstico, abandonando precocemente a escola, e tendendo, desta forma, a reproduzir o padrão de miséria. Esta afirmação pode ser ainda confirmada quando se analisam os dados sobre os níveis de escolaridade dos jovens residentes nas famílias de casal com filhos e de mulher com filhos: enquanto para os primeiros na faixa de 15 a 17 anos, por exemplo, é de 22,2% a proporção daquelas com oito anos ou mais de estudo, nas famílias de mulher com filhos este percentual se reduz para 16,5%. Mais crianças. mais abandono No Nordeste, onde predominam as maiores taxas de expansão demográfica, também crescem os números que afligem a criança abandonada. Assim, na análise do nível de rendimento das famí40 - CM Maio/92

lias, a comparação entre as regiões Nordeste e Sudeste revela uma discrepância alarmante: a proporção de crianças e adolescentes residindo em famílias em situação de pobreza (até salário mínimo de rendimento mensal familiar per capita) no Nordeste é mais que o dobro no Sudeste: 74,8% e 35,9%, respectivamente. Quando se toma o percentual de crianças e adolescentes em famílias situadas abaixo da linha de pobreza absoluta (até de salário mínimo de renda mensal familiar per capita), considerada como situação de miséria, o diferencial entre as duas regiões se revela ainda maior: 49,4% no Nordeste e 15,5% no Sudeste. A comparação entre 1981 e 1989 indica para ambas as regiões uma pequena redução na proporção de jovens residindo em famílias com renda per capita de até salário mínimo, embora mais expressiva no Sudeste que no Nordeste. Enquanto na primeira região houve uma redução de 14,5% nesta proporção (de 42% para 35,9%), no Nordeste esta diminuição foi de apenas 5,3% (de 79% para 74,8%). Ou seja, a tendência tem sido de se acentuar ainda mais o diferencial entre a situação econômica das duas regiões, que historicamente já se revelava crítico. (Transcrito da Revista Conjuntura Econômica dezembro/91)


ATUALIDADE O NASCITURO E O CRUZEIRO DO SUL Esse artigo foi escrito pelo Dr. Jêrome Lejeune, responsável pelo folheto francês "Pequeno Polegar", após uma visita à América Latina. Sob a constelação astral, o Sul também carrega sua cruz: a guerrilha anti-vida que se desenvolve em duas frentes. No Brasil, a cada dia, fala-se de bandos de crianças abandonadas, sem abrigo, sem proteção e que se tornam perigosas à sociedade. Certos grupos de adultos os perseguem e matam , em vez de procurar salvar essas pobres crianças do naufrágio social que as leva à delinquência. Mas muitas consciências que protestam contra essas barbárie sustentam que seria melhor eliminá-las bem mais cedo, no ventre de suas mães! Uma deputada amazonense fez em Porto Alegre um discurso patético em defesa de todas as crianças do Brasil. Interpelando os deputados, seus colegas , que se indignavam - com razão - pela morte das crianças abandonadas, ela suplicou-os de não trocarem esse erro por um outro: permitir a exterminação das crianças através do aborto . A deputada do Amazonas tinha uma visão clara do assunto, mas em toda a América Latina tentase fazer assentar as leis sob 3 pontos:

1 - Se a criança é doente (ou ameaçado seu futuro) .. . mata-se a criança. 2 - Se a mãe é doente (ou sua saúde está ameaçada) ... mata-se a criança. 3 - Se o pai é indigno (violência ou incesto) ... mata-se a criança. Como se fazia antigamente na Europa, propõe-se sempre sacrificar o inocente. Como na Europa também , os promotores do aborto têm um domínio enorme sobre os meios de influência. Exemplo disso: houve em São Paulo um congresso de Medicina Fetal. Devido à pressão feita por alguns defensores do aborto (dentre os quais, infelizmente, alguns franceses) , os organizadores do congresso se sentiram obrigados a me "dasconvidar" (perdoem-me o termo tão pouco brasileiro, para explicar um comportamento tão pouco científico). Para corrigir esse embaraço à moral fraterna, me propuseram falar na Faculdade de Medicina de São Paulo, e nossos amigos de Brasília até arranjaram o anfiteatro da Assembléia Legislativa para uma conferência pública. Agora, finalmente, o projeto de lei sobre a Proteção à Pessoa Humana (apresentada no Senado CM Maio/92- 41


de Paris pelo senador Seiller) é agora estudado pelos legisladores brasileiros e o Decano da Faculdade de Medicina de São Paulo reafirmou publicamente o respeito pela vida fetal.( ... ) Em Santiago, uma jovem e bela senhora me enviou um pequenino presente, porém de grande significado: uma sandália minúscula, para um pézinho vinte vezes menor do que o da gata borralheira, cujo famoso sapato só servia em seu pézinho. Este sapatinho não é de vidro, mas sim de lapis-azuli - a pedra preciosa do Chile- e as presílhas em prata

trançada transformam essa jóia em um pedantife talismã, ou melhor, em um porta-vida. O charme desse objeto - como vocês todos já adivinharam- é se adaptar exatamente ao pézinho de um nascituro de dois meses. O poder dessa sandália encantada é ainda maior que no conto da "boa fada" ... A futura mamãe que traz consigo essa jóia, talvez muito antes que o bebê seja concebido, estará preparando para o filhinho um futuro garantido muito mais bonito do que nas histórias encantadas, pois trata-se de uma vida de verdade.

O grupo PRÓ-VIDA, representa em algumas cidades do Brasil um movimento anti aborto. Os pés que apresentamos neste artigo (emblema usado pela HUMAN LIFE INTERNATIONAL), são idênticos em tamanho ao de um feto de 1O semanas após ter sido concebido. O aborto é um dos oito pecados capitais que na Igreja caracterizam a excomunhão. A excomunhão não é dada pela Igreja, ela é automaticamente adquirida por aquele(a) que pratica aborto. O aborto é um crime que não tem nome.

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CORREIO

.. DEVERIA SER OBRIGATÓRIO .. "Ser otimista é dizer: Estamos caminhando um ao lado do outro, para Deus." (Pe. Charbonneau) Nosso primeiro retiro, como casal equipista, nós o fizemos com o querido e sempre lembrado Pe. Paui-Eugene Charbonneau. Foi um impacto daqueles! No falecido ano de 1961, estávamos acostumados a ouvir pregações religiosas alicerçadas em palavras melífluas, todas elas muito bem escolhidas e proferidas em tom "nem muito alto nem muito baixo". Este retiro do Pe. Charbonneau colocou-nos em nova dimensão. As palavras fluíam no tom preciso para sustentar sua conotação com o vigor da mensagem transmitida, e, vez por outra, eram acompanhados com belíssimas punhadas sobre a mesa. Éramos levados para o céu e trazidos para o "terra a terra" quando preciso fosse. Pe. Charbonneau falava, por assim dizer, o que cada um de nós imaginava e não tínhamos a capacidade para traduzir em palavras. Era como se fosse nossa consciência falando em voz alta. Agora, passados 30 anos, foi-nos sugerido utilizarmos como tema de estudo, em nossa equipe, o livro "AMOR DE OUTONO", uma espécie de doação-testamentária daquele Padre, que, ao longo de sua vida, escreveu cerca de 45 livros. Este livro não foi escrito: foi falado com o coração e traduzido de uma gravação feita por casais equipistas, poucos meses antes do" seu abraço com Deus", pois assim era quePe. Charbonneau chamava a morte. Milagre, pois nós nos reencontramos com o pregador de nosso primeiro retiro conjugal e conosco mesmos. Voltamos a sentir aquele calor e aquela alegria de casais recém- entrados nas Equipes de Nossa Senhora. Os quatro capítulos do livro: - Perigos do Amor -Inimigos do Amor - Caminhos do Amor - Perguntas e Respostas, tornaram o estudo do tema, em nossa Equipe, um momento de oração, de co-participação e de auxilio mútuo. Haja vista a sua recomendação para nós madurinhos: "Vocês não podem ficar sentados e deixar as coisas acontecerem. Vocês têm ainda que fazer as coisas acontecerem". E continuando: "Mas se vocês querem perceber bem o quão rico e poderoso

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é o momento que estão vivendo olhem, não para seus filhos, mas para os filhos de seus filhos, os seus netos". "Também estou profundamente convencido de que nada é mais significativo na vida dos pequeninos do que os seus avós, nada ". A sabedoria do autor afirma ainda: "As Equipes de Nossa Senhora têm muita coisa bonita. O golpe genial de Caffarel foi o" dever de sentar-se"; foi um verdadeiro golpe de mestre! E vale a vida de vocês na Equipe, vale! "Ampliem essa obrigação um pouquinho , sobretudo agora que vocês têm mais tempo para sentar e conversar". Vai além nosso querido Padre Charbonneau , afirmando: "Porque, meus amigos, pertencemos- e disto nos esquecemos demais- pertencemos à última geração privilegiada. Privilegiada porque foi a última que aprendeu a amar. O problema da geração de seus filhos é que eles nunca aprenderam a amar. E amar não se inventa, não se improvisa, não cai como chuva, jorra por dentro. Se a fonte está seca, nada jorra". É isso aí. Como vocês na Carta Mensal (que continue sendo mensal, pelo amor de Deus), pediram a colaboração das Equipes, a nossa decidiu-se a enviar-lhes estas " mal traçadas linhas ", sugerindo que deveria ser obrigatório o estudo, como tema para as Equipes de cinqüentões , do maravilhoso "AMOR DE OUTONO" do Padre Charbonneau, que já deu frutos extraordinários . Para nós foi extremamente benéfico e nos sentimos compelidos a divulgá-lo. Dissemos deveria, por sabermos que a palavra obrigatório dá "chilique" em cidadãos cheios de "truques". Toda vez que se diz obrigatório a "vozinha" (não a avezinha) dos do "contra" protesta, afirmando que nada deve ser imposto, nem curso de noivos, de batismo ou de crisma. Nada. Assim ficaríamos menos comprometidos quando deixássemos de cumprir. Acreditem, vale a pena ter o "AMOR DE OUTONO" como tema de estudo. Fraternalmente Equipe 6-D São Paulo/SP

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INTERCÂMBIO

Nosso irmão Moacyr Limongi, da Equipe 1 de São José dos Campos, vem se dedicando há muitos anos a um trabalho de formação e comunicação. Praticamente sozinho, vem editando a revista "O Discípulo", da qual a Carta Mensal aproveita, às vezes, algum artigo. Ele nos mandou este testemunho.

Já estou me sentindo um outro homem ... ! Todas as manhãs vou à missa na igreja da Sagrada Família. Num banco do corpo da igreja, sempre no mesmo lugar, está o sr. Gentil, 92 anos, hierático, apoiado na sua bengala. Cumprimento-o e recebo um dar de mãos sempre acolhedor. Hoje, ao voltar da capela do Santíssimo para o corpo da igreja, recebo um convite do sr. Gentil: venha cá, venha cá, seu rosto espelhando um sorriso muito especial. Eu estava com um I)Úmero do "Discípulo" nas mãos. _ "Eu li esse seu livrinho. Li e reli. E muito bom. agora já estou me sentindo um outro homem". Senti uma alegria muito intensa e louvei a Deus por ver tal maravilha: um católico de missa e comunhão diárias, 92 anos, sentindo-se tocado pelo amor de Deus de um modo muito forte, numa experiência muito especial com o Pai. A alegria no rosto do sr. Gentil ao dizer emocionado "já estou me sentindo um outro homem", nos mostra a sensibilidade de Deus ao consolar um filho querido. , Deus se utiliza dos mais diferentes meios para revelar o seu amor. DEUS E AMOR! (1 Jo 4,8)

*** Acolhimento No Domingo 12 de janeiro de 1992, 18 religiosos assuncionistas, vindos do Chile, da Argentina, da Colômbia, do México e do Brasil, reunidos num trabalho de formação em Brasília, tiveram a oportunidade de praticar um turismo diferente. Nove casais das Equipes de Nossa Senhora vieram buscá-los para uma visita à Capital Federal. Além dos pontos turísticos, os religiosos tiveram a oportunidade de conhecer e de conviver com as famílias e de almoçar na casa dos equipistas. No final da tarde, todos se reuniram para a celebração da Eucaristia. Os "turistas" querem, _pelas páginas da Carta Mensal, agradecer a dedicação destes casais, que, coordenados por Maria Luiza e Neniomar, não hesitaram em consagrar um domingo, em plena época de férias, a este acolhimento fraterno. Pe. João Bosco Setor de Campinas

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NOTICIAS E INFORMAÇÕES

Lançado em Março/92 o ENS Informativo, boletim da Região São Paulo Sul I que engl?ba os setores da Capital, Santos, Mog1 das Cruzes, Grande ABCD e Alphavllle.

dimensão do dizimo. O êxito deste EACRE deve-se às orações e presença de Deus bem como à dedicação e ao trabalho do CRS Maria Cecília e Luiz Gonzaga, e ao CE do Setor Pe. Mario, com a participação da equipe de trabalho e à acolhida fraterna por tantos casais de Ribeirão Preto.

-MUDANÇAS NOS QUADROS

- EVENTOS

Região São Paulo- Norte . Santa Rosa do Viterbo/SP O casal Adair e Wilson assume a Coordenação substituindo Márcia e Felipe. . José Bonlfaclo/SP Benedita e Hélio substituem Doroti e Armando. . ltumbiara/GO Foi Instalada a Coordenação. Seu primeiro CR é Ana rosa e Donlzetl e o CE é o Pe. Euclides Bebia no Santos. Assim o nosso Movimento estabelece mais uma base no Estado de Goiás, ainda vinculada à Região São Paulo Norte. . Batatals/SP A Coordenação é temporariamente desativada, por contar atualmente com uma só equipe. Os equlplstas da Região estão atuando no sentido de que , em breve, a Coordenação seja reativada e muitos outros casais de Batatals possam beneficiar-se do nosso Movimento.

Coordenação de Parelhas(RN Realizou-se nos dias 11 e 12 de jan/92, um encontro de casais das ENS e outros convidados, no Centro Social "Monsenhor Amâncio Ramalho ". O encontro foi coordenado pelo Casal Responsável da Coordenação Antônia Zélia e Moacir com o apolo dos Conselheiros es: plrltuals Padre Raimundo Sérvulo da Silva e o Diácono Antônio Gomes de Azevedo, contando ainda com a presença dos casais Zélia e Justlno (Regional Nordeste) e Mercês e Ismael (Expansão do Setor Recife). Foi Iniciado no sábado à noite, com a excelente palestra proferida pelo casal Mercês e Ismael, que versou sobre o tema "A missão do casal cristão", um belo testemunho de vida. O encontro foi encerrado no domingo pela manhã, com a palestra do casal Zélia e Justino, que falou sobre a "Oração" e a metodologia do Movimento das ENS, que agradou a todos, principalmente aos casais que vão Iniciar sua caminhada na equipe 04.

-NOVO BOLETIM

- EACRE/92 Região São Paulo- Norte: Foi realizado em Ribeirão Preto/SP em 15 e 16.02.92, com a participação de 85 CREs, 8 CRS/CRC e 4 CEs. As palestras estiveram a cargo de Beth e Romolo: ' Carisma e Missão '; Olgulnha e Tonlnho: ' Unidade e Criatividade '; Sílvia e Francisco: ' Reunião de Equipe ' . Roslnha e Anéslo, Casal Regional, apresentaram um painel sobre PCEs e Partilha Casal. de l~gação e com novo enfoque d~ contnbulçao ao Movimento, como uma

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- CONSELHEIROS ESPIRITUAIS . Frei Valdir Nunes Ribeiro, OFM Foi ordenado presbítero da Igreja em 14/15.12.91 na Igreja do Convento de São Francisco em São Paulo. Por dois anos atuou como CE da Eq. 01 de viúvas de Petrópolls/RJ à qual multo ajudou em seu crescimento espiritual. Em sua primeira missa, celebrada sob forte emoção ouviu-se, na homilia, as palavras de D.


Eugênio, seu amigo e conselheiro que ressaltou, entre outras qualidades do neo-sacerdote, a paciência no exercício de sua missão e seu trabalho junto aos doentes. Em suas novas atividades, Frei Valdir Irá colaborar na formação de novos sacerdotes, trabalhando no Postulantado (um ano de preparação para o noviciado) em Guaratlnguetá/SP. . Frei Gentil de Lima Branco, OFM Sua ordenação aconteceu em 04/05.01.92 na Matriz de N.S. do Patrocínio em Campo Belo, se. A cerimônia foi celebrada por D. Oneres Marchlerl e contou com 32 padres concelebrantes. Nos testemunhos, Pe. Ardulno rememorou a trajetória da vocação de Frei Gentil até aquele momento, e na hora da vestlção dos paramentos ele recebeu a estola das mãos de llka de Carvalho, responsável pela Eq. 02 de viúvas de Petrópolls/RJ, à qual atendeu por dois anos como Conselheiro Espiritual. Na primeira missa solene celebrada pelo neo-sacerdote a homilia foi pronunciada por Pe. Valdir Gaedert que deu ênfase ao diálogo que deve ser cultivado pelos sacerdotes, sobretudo com seus paroquianos, estando atento às suas necessidades e reivindicações. Prosseguindo em sua caminhada, Frei Gentil vai trabalhar no noviciado em Luzerna, Joaçaba, SC. -JOVENS A Eq. 05 - N.S. da Boa Vontade de Reei~ mais uma vez põe-se a serviço dos jovens filhos de equlplstas e de seus amigos. Desta feita, coordenado por AIclone e Grlzzl, aconteceu mais um encontro de jovens no dia 01 de dezembro/91, na Capela da Base Aérea do Recife, ambiente pitoresco e calmo,

envolvendo 39 adolescentes na faixa etária de 12 a15 anos. As palestras foram receptivas e assimiladas pelos jovens e demais ouvintes presentes. A primeira: "MARIA NOSSA MÃE E MÃE DE DEUS", Proferida por IONE PAIVA, marcou o Inicio do dia, preparando os participantes para sempre dizer SIM aos chamados de Deus. A segunda palestra, proferida por AOJAIR, cujo testemunho focalizou com precisão o sentido da oração em nossa vida e a FÉ que ele depositara em Deus por ocasião da doença de sua filhinha, que hoje está curada. Cinco jovens da faixa etária mais elevada, souberam bem conduzir os grupos de debates orientados pelo casal do Encontro, LÚCIA E ALCINO. Encerrando com a Celebração Eucarística, Pe. Robson enalteceu o valor da fé, do amor ao próximo, assim como alertou para os desafios que precisam ser superados no decorrer da caminhada do cristão. -VOLTA AO PAI José Pedro Pereira, da Lúcia, da Equipe 22-A, de Curltiba/Pr, em 21/12/91. Pertenceu às ENS por 20 anos. -VIÚVAS A primeira equipe de viúvas do Paraná realizou sua 11 reunião em Curitiba, em 23/02/92. Seus membros são provenientes dos 3 setores de Curitiba, sendo CE. o Frei Bonifácio Zellndo Trevisan, ofm.cap. e o C.L., Olga e Antonio Peres.

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ORAÇÃO DE U'A MÃE Senhor, Sou mãe. Revendo a minha caminhada, rememoro quantos problemas encontrei em minha vida, desde a chegada do primeiro filho. Os filhos, Senhor, à medida que crescem, tornam-se independentes, autônomos e nem sempre aceitam os conselhos que brotam do fundo de um coração de mãe. Eles tomam o próprio caminho ...

É duro, Senhor, às vezes, ser mãe. A vida não se comunica em um dia, mas cada instante é nova geração, é nova gestação. Apesar das minhas limitações e das dificuldades, sinto-me feliz com os filhos que me emprestaste e peço que olhes sempre por eles ... Sinto-me feliz por ter-te dado filhos para amar e por ter contribu ído para manifestar-te como Pai de Amor. Agradeço-te por teres permitido que eu pudesse participar da tua obra criadora, como mãe. Senhor, que eu possa viver dando a minha vida e gerando amor ao meu redor. Que eu saiba, sempre, dizer "sim" diante do convite do amor. Amém! Myrian Galvão Equipe 6 Valença/RJ

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MEDITANDO EM EQUIPE (sugestões para o mês de maio) Texto de meditação: (Jo 19,25-27) Estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleopas , e Maria Madalena. E Jesus, vendo a mãe e perto dela o discípulo que amava, diz à mãe: «Mulher, eis o teu filho!>> Depois, diz ao discípulo: «Eis a tua mãe!>> E a partir daquele momento, o discípulo levou-a para sua casa. Oração litúrgica: A Deus, que colocou Maria, mãe de Cristo, muito acima de todas as criaturas celestes e terrestres, imploremos com confiança: R. Pela Mãe de vosso Filho, atendei-nosl Pai de misericórdia, nós vos agradecemos porque nos destes Maria por Mãe e exemplo , por sua intercessão santificai nossos corações. R. Pela Mãe de vosso Filho, atendei-nosl Tornastes Maria atenta à vossa palavra e a fizestes serva; por sua intercessão concedei-nos os frutos do Espírito Santo. R. Pela Mãe de vosso Filho, atendei-nosl Destes força a Maria junto da Cruz e a enchestes de júbilo na ressurreição de vosso Filho; por sua intercessão aliviai nossas tribulações e confirmai nossa esperança. R. Pela Mãe de vosso Filho, atendei-nos! Oremos:

Ó Deus, que para salvar todos os homens dispusestes que o vosso Filho morresse na cruz, a nós que conhecemos na terra este mistério dai-nos colher no céu os frutos da redenção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, n~ unidade do Espírito Santo. Amém. (do Livro das Horas- Sábado da terceira semana)


PRIORIDADES A REUNIÃO DE EQUIPE

AO ENCONTRO DA REALIDADE

FORMAÇÃO

PASTORAL FAMILIAR

COMUNICAÇÃO

EXPERI"tNCIA COMUNITÁRIA


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