ENS - Carta Mensal 271 - Março 1991

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RESUMO Um Momento com a Equipe da Carta Mensal Uma nova missão para a Carta Mensal Discernimento Colegiado: Resultados A ECIR conversa com vocês, dando o retorno das grandes consultas feitas a respeito dos objetivos e das prioridades atuais do Movimento no Brasil .. . .... . . ......... .... . .................... . Encontro Nacional Relato do que foi o Encontro de ltalcl, em novembro 90 As Prioridades Apresentação sucinta das seis prioridades que os casais do Movimento escolheram para o momento atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Milagre de Canã Maria nos propõe que façamos tudo o que seu Filho nos disser . . . . . . Solidários na Dignidade do Trabalho Síntese da Campanha da Fraternidade 1991 . . .... ... . .... .. .. .. .... , EACRE: Apenas um Momento? Qual é o verdadeiro sentido dos EACRES? Em que perspectiva devemos olhar para os deste ano? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Editorial A Felicidade é para os que são felizes - Pe. Olivler . . . . . . . . . . . . . . . . . Fôlego Carta do casal Touzard, da Equipe Responsável Internacional :. . . . . . . . . . .

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Despertar As lições que o Senhor nos dá, ao Irmos de encontro das novas reali· dades ....... .. ........... . . . .............. . ...... .. . . . . .... . .. 24 Duração Alguns pontos. de reflexão sobre os conceitos de tempo e de duração, no contexto da realidade atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2? A respeito de nossa Formação Humana e Cristã Um casal se Interroga: o que temos feito para nos formarmos como cristãos? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 O Ser de Maria O papel de Maria na nossa formação . . . . . . . . 31 A Igreja e o Capitalismo - 1.a parte Uma visão sobre alguns aspectos da Doutrina Social da Igreja 33 Testemunhos Diversos relatos sobre Pilotagem, Dever de Sentar-se, Retiros, etc. . . . . 35 "De Areclbo ai Cristo Rey" Um casal brasileiro leva a mensagem das ENS a diversos cantos das Américas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Correio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Noticias e Informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Oração da CF·91 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Meditação e Oração - Sugestlio para março 91 '. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49


UM MOMENTO COM A EQUIPE DA CARTA MENSAL Até hoje, a Carta Mensal vinha se propondo, em relação à sua missão, dois grandes objetivos: informar e ajudar a formar. Como instrumento de Informação, pretendia funcionar na transmissão de dados, de acontecimentos, de orientações aos seus leitores, os casais das Equipes de Nossa Senhora. Ao mesmo tempo, ao levar a esses mesmos leitores matérias de natureza catequética ou doutrinai, sob forma de artigos ou testemunhos, voltadas diretamente para o Movimento ou à fé de maneira geral, a Carta Mensal vinha buscando contribuir para a sua formação permanente. A partir das prioridades fixadas no final do ano passado (v. págs. 3, 6, 9), além de uma certa transformação na formulação desses dois objetivos, a Carta Mensal passa a ter um objetivo adicional importante. Em primeiro lugar, de melo de Informação, ela passa a ser melo de comunicação. Ela não pode mais se contentar em ser simples transmissora: ela precisa dar e receber, ela tem necessidade de obter o retorno dos seus leitores. Em função disso, vocês vão passar a encontrar cada vez mais matérias que procuram questionar, que buscam despertar. Respondam aos questionamentos, discutam os novos pontos de vista em equipe, mas não deixem de nos comunicar suas idéias, suas opiniões, seus achados, para que possamos levá-los aos outros. . Segundo, o papel da Carta Mensal na formação é reforçado pelo enunciado das prioridades. Ao longo dos próximos meses, vocês verão surgir matérias voltadas à formação catequética, doutrinai, espiritual, pastoral, mas também aos métodos e à mística própria do Movimento. A nossa intenção será sempre de fornecer material para as trocas de idéias dos casais e também a este respeito, precisamos conhecer a reação dos nossos leitores. Somando-se a estes objetivos, a Carta Mensal adquire uma nova dimensão. Ela quer se colocar ao serviço dos equipistas para "ir ao encontro da realidade". Se todos nós somos chamados a sermos sinal e instrumento do reino de Deus pelo sacramento do matrimônio, temos a necessidade de saber em que contexto, em que realidade esse chamado deve ser respondido. Assim, já a partir deste número, passaremos a abordar, à luz da realidade que nos cerca, alguns assuntos relativos à vivência do matrimônio no Brasil dos anos 90 e na perspectiva do que serão o casal e a família em nosso paíz, no ano 2000. -1-


De que tipos de assuntos vamos tratar? De nossa parte, temos uma listinha. Esperamos que as idéias de vocês venham completá-la: - O conceito de "duração do matrimônio": - a infidelidade: - a contracepção: - o aborto: - o casamento nas diversas camadas soc1a1s; - · visão de genitalidade x sexualidade: - o "ser-casal": - a educação para o amor e para o casamento: - o consumismo: - · a influência dos meios de comunicação, etc. A Carta Mensal somente poderá cumprir esta nova faceta de sua missão com a participação dos casais das equipes. De vocês, que estão nos lendo agora! O testemunho de vocês, o relato da maneira como todos estes assuntos estão sendo vistos, 'encarados', vividos em torno de vocês é que vai dar corpo a esta missão. 1: claro que a Carta Mensal precisa de "consum idores ", de gente que leia o que se escreveu . Mas todos nós somos chamados a passar, vez ou outra, para o outro lado ·do balcão, e a sermos realmente "participantes", a enviarmos nossa contribuição para que os outros leiam. Não temos o direito de segurar nosso testemunho só para nós! . Continuamos contando, e muito, com· vocês! Com nossa amizade fraterna em Cristo Jesus , A Equipe da Carta Mensal

As matérias para a Carta Mensal devem ser enviadas a: EQUIPES DE NOSSA SENHORA Carta Mensal Rua João Adolfo, 118 - cj. 901 01050 - São Paulo, SP. Obrigado!

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A EC/R CONVERSA COM VOCES

DISCERNIMENTO COLEGIADO: RESULTADOS O ano de 1991 inicia-se conturbado : guerra, recessão, desemprego, fome, violência. Uns contagiam os outros e uma onda de t>essimismo vai solapando os projetos, os ideais e nosso barco vai navegando à deriva - "salve-se quem puder". ·

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Pegue o leme. Segure-o fortemente . Você é portador da Boa Nova Você é o continuador do carisma que o Espírito Santo fez surgir na Igreja para anunciar ao mundo que o sacramento do matrimênio está a serviço do amor, da felicidade e da santidade.

"Não fostes vós quem me escolhestes, mas eu vos escolhi a vós e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permanecerá". (João 15, 16). Você não é servo. Você é amigo

" lá não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu Senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos ensinei tudo quanto ouvi de meu Pai. Vós sois · meus amigos se fizerdes tudo o que vos mando". (João 15-14, 15). Foi procurando "fazer tudo o que o Cristo nos manda", descobrindo sua vontade para as equipes do Brasil, que o movimento, desde o anúncio da Segunda Inspiração em 1988, tem vivido um discerni· mento colegiado. . A Segunda Inspiração é um sopro de renovação que atinge movimento como um todo. E o movimento todo que caminha e não um grupo isolado. Caminha procurando perceber o projeto de Deus a respeito daqueles que ele vocacionou através das E.N.S. - discernimento. E tem procurado fazer isto de forma colegiada, reunindo o pensamento de cada equipista que de alguma forma se manifestou, abrindo-se ao "Espírito que sopra onde quer" e pode portanto fazer de cada pessoa, uma mediação da vontade de Deus. Cerca de mil equipes, reunidas em

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94 setores e coordenações e 16 regtoes, procuram desinstalar-se, caminhar com as próprias pernas, ser criativos, encontrar respostas para a angustiante situação das famílias que os rodeiam. Como movimento eclesial, as ENS do Brasil, deixaram-se penetrar pelas propostas de nossos pastores, integrantes e participantes que somos da mesma Igreja. Imerso no mundo, o movimento deixou que a realidade deste nosso Brasil o atingisse, desafiasse e mobilizasse. E eis que agora podemos anunciar o resultado deste discernimento cole,2iado, que vem assim balizar, dar a força da unidade às ENS do Brasil: ele atualiza o carisma da espiritualidade conjugal e revigora a mística do auxílio mútuo.

Objetivo Geral para os Próximos Anos Convocarmos uns aos outros para participarmos da construção do Reino de Deus através da viviência do Sacramento do Matrimênio e da vida comunitária.

Objetivos Específicos' 1.

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Desafiarmo-nos a ir ao encontro da realidade. A realidade é que convoca à santidade e à ação. Motivanrto-nos à viver a comunhão com a Igreja (Diocese, CNBB, aticano). Não como consumidores, mas como participantes. Desencadearmos um processo de participação e co-responsabilidade dentro do movimento. Somos "continuadores" e não apenas seguidores. Convocarmo-nos mutuamente para a vivência verdadeira dos métodos oferecidos pelas E.N.S. (vida comunitária e Pontos Concretos de Esforço), como meios (e não fins) para a plena realização do nosso sacramento do matrimônio e conseqüente testemunho e ação, permitindo a formação cristã das consciências a fim de permear, com espírito evangélico, os vários ambientes da sociedade.

Prioridades de Atuação Para que o movimento, como Igreja que é, possa dar os frutos esperados. foram escolhidas seis prioridades que vão merecer a atenção especial de todos (pois foram por todos escolhidas) e constituem os passos decisivos para continuar transformando a realidade conjugal e familiar. Essas prioridades expressam também as alternativas selecionadas tendo em vista responder às mais diversas realidades e permitir que todos os casais, conforme suas características , se insiram de um modo

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mais efetivo e dinâmico, para que todos possam ser realmente fermento de renovação na Igreja e no mundo. São elas: 1. Ir ao encontro da realidade 2. Atividades pastorais Jovens: Edueação para o amor Casais: "Os casos difíceis" 3. Fonnação 4. Comunicação 5. A experiência comunitária das Equipes de Nossa Senhora 6. A reunião de Equipe Todos os meios de que dispomos vão priorizar estes seis aspectos, sem deixar de lado outros também relevantes: os EACRES serão momento de aprofundar estas prioridades, assim como a Carta Mensal, as Sessões de Formação, os boletins dos setores e os vários pontos de suas programações. 1!. preciso que continuemos trabalhando de forma colegiada partilhando nossas descobertas, comunicando nosso entusiasmo, pondo em comum nossos talentos, "proclamando as grandes obras de Deus que nos converteram para o Senhor" (Evangelii Nuntiandi). O ano de 1991 inicia-se assim vigoroso, pleno de esperança porque confiante na presença do Espírito Santo capaz de renovar todas as coisas. Beth e Romolo

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ENCONTRO NACIONAL Nos dias 16, 17 e 18 de novembro de 1990 realizou-se em Itaici o Encontro Nacional das E. N .S. Como se sabe, este Encontro congrega atualmente os Responsáveis de Setor e de Coordenação, os Responsá: veis Regionais e a ECIR, assim como os respectivos Conselheiros Espirituais. Desta vez, estiveram presentes mais de 300 pessoas, - entre os quais 45 sacerdotes, - que representaram o grande colegiado das Equipes de Nossa Senhora.

Não haveria lugar, evidentemente, no âmbito de uma Carta Mensal, para descrever tudo o que aconteceu neste Encontro. Mas cremos que, ao transmitir alguns dos seus principais tópicos, poderemos dar aos equipistas uma noção da riqueza que ele representou para o Movimento .

• • • O enfoque central do Encontro, como não poderia deixar de ser, voltou-se para a palavra de Jesus Cristo. E mais especificamente para a frase: "Dai-lhes vós mesmos de comer", que ele pronunciou pouco antes da multiplicação dos pães. Ao longo dos três dias, os participantes puderam aos poucos perceber a densidade dessa pequena frase, a riqueza de seu conteúdo em termos de fé, de responsabilidade, de apostolado. de evangeliação. A evangelização - A Nova Evangelização na América Latina foi outro ponto central do Encontro, numa visão de profunda inserção do Movimento nas ações e preocupações da Igreja.

• • • Em termos de vtsao do Movimento como um todo, o Encontro esteve voltado para o contexto da Segunda Inspiração. As colocações feitas oelo Pe. José Carlos Di Mambro, C.E. da ECIR, a respeito de "discernimento, colegialidade e co-responsabilidade" vieram esclarecer sobremaneira esses pontos básicos para a vivência da Segunda Inspiração. "Na situação atual, - disse ele - seria impossível e prejudicial uma só pessoa, um só casal ou apenas algumas pessoas tentarem conduzir o Movimento. Ao nível de cada uma das partes que o constituem (equioe. setor, região, etc.), é toda a realidade do Movimento que acontece. Assim, cada uma dessas pequenas unidades é um todo indivisível, parte integrante da grande Unidade do Movimento. A ECIR representa

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essa Unidade, mas a sua função se exerce essencialmente no seio de um colegiado, formado pelos responsáveis de todas as unidades (Responsáveis de Região, de Setor, de Equipe)". ~ através desse colegiado que se exerce o discernimento, para descobrir a vontade de Deus sobre o Movimento. através desse colegiado que se exerce a co-responsabilidade, a nossa transformação de consumidores em participantes. Outro aspecto da Segunda Inspil'ação foi enfocado por Igar e Cidinha, representando a Equipe Responsável Internacional no Encontro. Expuseram a evolução do "Projeto Evangelizar a Sexualidade", envolvendo um aspecto da espiritualidade conjugal que "ainda não foi bem comPreendido nem aprofundado pelo Movimento" nas palavras do Pe. Caffarel. O Projeto é uma reflexão à luz da fé e a partir da própria vida dos casais, buscando descobrir todas as maravilhas do plano de Deus sobre a sexualidade humana e vivê-la em plenidade segundo os valores evangélicos. O Projeto pretende provocar uma ampla reflexão cristã sobre a sexualidade do homem, da mulher e do casal, buscando ajudar no diálogo e no questionamento sobre seus diversos aspectos. Igar e Cidinha esclareceram que não se trata de um Tema de Estudos no sentido clássico, mas de um material que será proposto às Equipes aue o desejarem, como base para a sua participação nessa reflexão, a partir de suas próprias vidas, num desejo de discernimento da vontade de Deus e num esforço de colaboração para o desenvolvimento da espiritualidade do matrimônio. Informaram que após um trabalho em profundidade que já dura um ano, e que envolveu a ERI, os Super-Regionais. os Responsáveis Regionais e algumas equipes que o utilizaram de forma experimental, o material do Projeto deverá estar pronto para o uso do Movimento a partir de 1991.

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• • • Ao nível específico das ENS do Brasil, após uma apresentação do histórico da caminhada do Movimento por Ieda e Darci, passou-se a trabalhar no discernimento das prioridades de atuação para o momento atual. A partir de um documento preliminar discutido pelos Responsáveis Regionais em seu encontro de Setembro, os participantes passaram a debater as orientações que, diante da vocação e da atual missão das Equipes de Nossa Senhora no Brasil, vão merecer, nos próximos anos, a atenção especial de todos os casais equipistas, buscando a transformação da realidade conjugal e familiar. Foi eleito um total de seis grandes prioridades, três das quais mais voltadas para o próprio Movimento e três outras para o mundo que nos cerca. E bom lembrar que tais prioridades decorrem da reflexão que vem sendo feita, nos dois últimos anos, por todo o ·Movimento no

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Brasil. O artigo seguinte desta Carta procura detalhar um pouco mais em que consistem essas seis prioridades: Reunião de Equipe, Formação, Comunicação; Encontro da Realidade, Participação na Pastoral Familiar e Experiência Comunitária das ENS.

• • • Um painel, no sábado, enfocou a caminhada do Movimento em termos de participação na Pastoral Familiar, na vivência da Experiência Comunitária e na realização da Contribuição Mensal. No domingo, o Pe. João Bosco Dubot falou sobre "A Reunião de Equipe, como momento de formação permanente". Depois de expor o que não entende como formação, o Pe. João Bosco disse: "Podemos entender a formação cristã como crescimento espiritual contínuo. A formação cristã é a formação de Jesus nas almas. Se o homem é imagem de Deus, agora, pela fé cristã, temos o Cristo presente em nós. . . A formação cristã consiste em adquirir as motivações de Jesus para que a nossa vida seja pautada pelas perfeições de Jesus." Em seguida, Pe. João Bosco passou a analisar cada momento da Reunião de Equipe à luz de seu conteúdo de formação e a questionar se todos percebiam naqueles momentos o processo de formação cristã permanente, conforme ele a definira anteriormente. A respeito da colocação das intenções na reunião, disse, por exemplo: "é um exercício de formação permanente que se exige de você, quando você vai se perguntar, antes de ir à reunião: quais as grandes intenções de minha vida que vou partilhar? Quais as grandes preocupações que vou partilhar com a minha equip.e.?" Ao final, esclareceu que a palavra "momento" no título da palestra não tinha apenas o significado de "tempo", mas o sentido de "kairos" no Evangelho: o tempo oportuno para uma realidade acontecer. Assim, na vida da equipe, quando ela funciona plenamente, realiza-se como Igreja, com a presença de Cristo. "Neste momento, disse, a equipe é o 'sacramento' da Igreja" .

• •• Ao sair da barca, Jesus viu uma grande multidão, da qual teve grande compaixão e curou seus enfermos. Ao cair da tarde, aproximaram-se dele os discípulos dizendo: Este lugar é deserto e a hora é já adiantada; deixa ir essa gente para que, indo às aldeias, compre de comer. Mas Jesus disse-lhes: "Não têm necessidade de ir: dai-lhe.s vós mesmos de comer" (Mt. 14, 14-16)

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AS PRIORIDADES Dentro da Igreja, os casais das Equipes de Nossa Senhora são chamados a serem sinal e instrumento do Reino de Deus, na e pela vivência do sacramento do matrimônio. Para cumprir esta missão fundamental, é indispensável que, de tempos em tempos, se analise o que se vem fazendo e que, em toda a humildade, se reconheça os pontos fracos em que se deve atuar com mais energia e perseverança. Assim como, na vida de cada um de nós, é a partir deste tipo de análise que escolhemos nossa regra de vida. Mas é importante que a essa análise se acrescente uma visão clara do mundo que nos cerca e no qual a missão deve ser desempenhada. Essa dupla visão, para dentro e para fora, permite que se calibre melhor o esforço a ser feito e as prioridades a serem escolhidas. No Brasil, os casais das Equipes de Nossa Senhora escolheram seis prioridades às quais vão se dedicar de uma forma toda especial nos próximos anos, para continuar transformando a realidade conjugal e familiar. Trata-se das seguintes:

REUNIÃO DE EQUIPE A conscientização do papel da Reunião na vida da equipe é uma prioridade central para todos os casais. A Reunião de Equipe, com uma freqüência no mínimo mensal, é o ponto alto da vida da equipe de base, o momento mais importante do encontro daqueles que decidiram viver numa pequena comunidade eclesial, a exemplo dos primeiros cristãos. Para viver plenamente a Reunião, é essencial que cada membro da equipe, além de uma preparação adequada, participe ativamente de todas as suas partes: oração, meditação, partilha, tema de estudos, coparticioação, refeição. Também é de suma importância a atitude com que se comparece à Rel:lnião: alegria do reencontro; aprofundamento da vida comunitária; busca de Cristo para viver mais intensamente as exigências do Evangelho; abertura ao diálogo que enriquece o outro; desejo de participação mais ativa e responsável na Igreja; aprofundamento da formação catequética. doutrinai e pastoral. A mística das ENS nos propõe o Cristo comunitário como força que fundamenta e torna a comunidade de casais criativa, participativa, solidária e atuante no âmbito pastoral.

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Portanto, a Reunião de equipe é, repetimos, uma prioridade central no coniunto de prioridades do Movimento. Ela compromete o casal em todos os sentidos a viver uma comunidade eclesial; a se tornar um agente qualificado de pastoral; a se impregnar de toda a experiência da vida dos irmãos; a ir ao encontro dos desafios colocados pela realidade circundante; a testemunhar a sua ação e vivência dos valores evangélicos: a assumir responsabilidades pastorais, principalmente no campo do matrimônio e da família; a santificar a própria vida conjugal e familiar.

FORMACÃO A Reunião de Equipe representa um dos meios, dos mais importantes, relativos a outro ponto prioritário, que é a Formação do indivíduo, do casal e do conjunto dos membros da equipe. A razão da formação é uma só, segundo o próprio Cristo: dar cada vez mais frutos, ser cada vez mais qualificado para o apostolado e ser um instrumento de realização do Seu projeto de amor no meio dos homens. Portanto, a formação não visa unicamente o saber intelectual ou o conhecimento científico, mas é um ato existencial, ou seja, ela visa o viver e o estar no meio dos homens, o saber escutar o apelo dos mais necessitados e com eles construir um mundo novo, o Reino de Deus. O casal cristão, através do processo de formação busca transformar-se, tomar consciência da transcendência do sacramento do matrimônio que recebeu. Assim torna-se disponível para o cumprimento de sua vocação e missão. A prioridade visa intensificar e aprofundar todas as formas de formação: uma sistemática ação de catequese; a formação doutrinai; a formação pastoral e a formação espiritual devem ocupar um lugar privilegiado na vida de cada um e representar precisamente este chamado a crescer incessantemente na intimidade com Jesus Cristo, na conformidade com a vontade do Pai, na dedicação aos irmãos, na caridade. As Equipes de Nossa Senhora oferecem a seus membros todos os meios de formação, a partir de seus próprios métodos e sua pedagogia. Mas está claro que a formação somente se torna eficaz e verdadeira, quando cada qual assume e passa a desenvolver a sua própria auto-formação. As possibilidades e os limites da formação dependem de cada um.

COMUNICAÇÃO Percebeu-se que um grande esforço deverá ser feito para o aprimoramento, em todos os níveis do Movimento, da nossa comunicação. A comunicação não deve ser confundida com informação. A comunicação envolve diálogo, emissão e recepção, abertura e acolhimento, esforco de identificação. A verdadeira comunicação não é 'linear'

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e sim 'circular': exige retorno da mensagem recebida, resposta concreta e reação por parte do receptor. As diversas formas de comunicação existentes no Movimento precisam se tornar cada vez mais eficientes e eficazes. Entre os nossos meios de comunicação, alguns são escritos, outros são orais. Os primeiros são, por exemplo, a Carta Mensal, os diversos boletins de Setor, a correspondência trocada entre os responsáveis de equipe e os casais ·de ligação ou entre os diversos níveis de responsáveis do Movimento, Já em termos de comunicação oral, temos os grandes encontros como os da ECIR com os Responsáveis Regionais, ou do grande colegiado formado por ECIR/Responsáveis Regionais/Responsáveis de Setor e de Coordenação e os respectivos Conselheiros Espirituais. ou ainda os EACRES; os dlas de estudo ou de reflexão, as sessões de formação e outros. A própria reunião de cada equipe é um momento . importante de comunicação. Ao conferir esta prioridade à comunicação, as ENS do Brasil querem se fortalecer para melhor cumprirem a missão de Igreja que lhes foi confiada.

IR AO ENCONTRO DA REALIDADE Ainda para cumprirem essa mesma missão, as Equipes são chamadas a agir no contexto de uma realidade específica, a do Brasil de hoje, e mais particularmente, a vivência do casamento e da família neste Brasil. Verifica-se que nem sempre esta realidade é bem conhecida e comoreendida pelos casais das Equipes. Assim, num primeiro momento, para cumprir seus objetivos, os casais querem fazer um reconhecimento dessa realidade, para em seguida estarem melhor capacitados para agir sobre ela. Assim, ir ao encontro da realidade é uma prioridade nos dois sentidos: Trata-se não somente de melhor conhecer e compreender o que se passa no mundo que nos cerca, mas também de adequar a nossa ação e as nossas atitudes para que produzam efeito nesse mesmo contexto. Uma vez mais, a Reunião de Equipe é, nesta perspectiva, uma das melhoreos oportunidades para se conhecer a realidade a partir da experiência e do testemunho dos casais irmãos, empenhados na missão de lgreia. Estamos sendo desafiados, na vivência da Segunda Inspiração, a irmos ao encontro da realidade, especialmente da realidade conjugal e familiar. . . e a evangelizá-la.

PARTICIPAÇÃO NA PASTORAL FAMILIAR Em função do seu carisma fundador, as ENS têm, na Pastoral Familiar. um campo de atuação privilegiado, uma vez que se dedicam à evangelização do matrimônio e da família, através do próprio casal. Na visão da Igreja universal e, por conseqüência, da própria hierarquia da Igreja no Brasil, a Pastoral Familiar tem sido colocada como -

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uma pastoral prioritária. E nessa perspectiva, a Igreja tem se esforçado a despertar para es~a tarefa os agentes pastorais mais adequados. E os casais das Equipes de Nossa Senhora se apresentam, neste quadro, como agentes naturais da Pastoral Familiar. No vasto campo desta Pastoral, os casais das Equipes quiseram escolher duas áreas específicas, nas quais querem assumir uma participação prioritária: a educação dos jovens para o amor e a pastoral relativa aos assim chamados "casos difíceis". A ação referent~ aos jovens depende, no âmbito dos casais, de um esforco de aprofundamento e de uma ação consciente e eficaz para a preparação remota e próxima para o casamento e para a formação de famílias no seu verdadeiro sentido evangélico. Quanto aos "casos difíceis" - aos quais se refere em detalhe a Exortação Apostólica Familiaris Consortio em seus números 77 a 85 exige de todos os casais das Equipes uma profunda reflexão sobre a natureza dessas diversas situações em nosso mundo e uma ação urgente para anunciar com alegria e convicção a boa-nova acerca do matrimônio

e a família. ·-

A EXPERI~NCIA COMUNITÁRIA DAS E.N.S. O caminho de evangelização, representado pelo projeto das ENS denominado Experiência Comunitária, já fez as suas provas. um trabalho desenvolvido especificamente para levar a boa-nova sobre o casamento e a família a casais que carecem de maiores fundamentos e conhecimentos da religião. Ao !iarem prioridade para a multiplicação e para um esforço de aplicação dessas Experiências, os casais das Equipes querem fazer delas um dos meios de praticar a evangelização, ao mesmo tempo em que desejam divulgar e expandir o próprio Movimento. Pois se reconhecemos que recebemos muito, não temos o direito de guardá-lo somente para nós. Ao longo dos próximos meses, através da Carta Mensal, dos diversos encontros, de documentos específicos, as Equipes de Nossa Senhora querem se debruçar sobre estas prioridades, sem por isso, abandonar ou deixar de lado a sua caminhada e os seus métodos. Mas é importante que essas prioridades não fiquem só na •teoria: o que todos querem é responder efetivamente ao chamado que a Igreja e o Movimento nos fazem:

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Proclamar, pelas nossas palavras e os nossos atos, que o casamento é um lugar de felicidade e de amor e um caminho de santidade.

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O MILAGRE DE CANA Na primeira manifestação pública de Jesus, quando ele realiza este sinal de transformação da água em vinho para que os homens pudessem crer em sua missão divina e para que essas obras testemunhassem que Deus o enviou, Maria estava presente. Além de presente, Maria estava atenta às necessidades dos noivos e de todos os que comemoravam alegremente estas núpcias. Então Nossa Senhora percebe, de repente, que a alegria estava desaparecendo, que estava faltando alguma coisa na festa, que a comemoração diminuia sua Intensidade, que os convidados estavam perdendo a razão de estar presentes naquele lugar. Dirige-se a seu Filho, como fonte de vida e amor, para que ele restitua ao e.asamento e às famílias pressntes sua verdadeira dimensão de encontro e comunhão, justamente para a celebração intensa da vida e do amor, que ali se manifestava para todos. Maria conhece toda a grandeza e todo o alcance de uma celebração nupcial, e diz aos serventes, justamente àqueles que estão proporcionando as condições para que a festa do casamento seja plena de alegria e felicidade: u Fazei tudo o que ele vos disser." E ali estavam seis talhas que, depois de enchidas de água, continham o melhor vinho. Qual é a semelhança que esse acontecimento nos traz em relação ao momento atual vivido pelas ENS? Depois de algum tempo de reflexão e discernimento ao nível das equipes de base, são propostas exatamente seis prioridades(*) para os próximos anos, e que expressam a ênfase da atuação presente e futura do Movimento, para que possa continuamente e de modo mais efetivo e dinâmico, ser fermento de renovação na Igreja e no mundo. Coincidência ou não, são seis prioridades as escolhidas, e isso acontece quando todos os casais procuram as razões para um novo fôlego, para uma nova inspiração neste seu peregrinar como Povo de Deus. Depois de 40 anos de existência, esse peregrinar costuma ficar mais difícil , perder sua intensidade, diminufr de alegria. E Maria, a Virgem que sabe ver e ouvir, porque acolheu com fé a santa palavra de Deus, propõe que nós, casais da sua equipe, do seu time, também nesta hora, façamos. tudo o que seu Filho nos disser. -

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E o que é que ele nos diz? Simplesmente o seguinte: como meus discfpulos, encham-se de entusiasmo com estas seis prioridades, porque elas representam um desafio para o movimento presente e em relação aos valores predominantes, e dentro desta realidade (social , econômica, política, cultural e relrgiosa) trabalhem pastoralmente para que vossa fé se torne histórica e criadora da História, isto é, da caminhada deste Povo de Deus. Dêem ênfase, continua Jesus, ao trabalho apostólico e missioná·rio no campo do matrimônio e da família. Aí está um campo de atuação privileg iado, porque a evangel ização da sociedade no futuro depende em grande parte da família, porque ela, como tgreja doméstica, é formadora de pessoas para o amor, para o conhecimento de Deus e para o respeito e valorização da vida. O milagre de Caná pode se repetir a todo momento. Depende também de nós, casais das Equipes de Nossa Senhora, se tivermos a convicção no valor único e insubstituível da família para o progresso da sociedade e da própria Igreja. (Christifideles Laici , 40) Mariola e Elizeu Calsing Equipe 19 · Brasília, DF.

( •) Sobre estas prioridades se estará falando continuamente na Carta Mensal. São elas: reunião de equipe, formação dos casais, comunicação Intensa entre todos, Ir ao encontro da realidade, pastoral familiar e experiência comunitária das ENS.

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CAMPANHA DA FRATERNIDADE 1991

SOLIDÁRIOS NA DIGNIDADE DO TRABALHO Introdução

A Campanha da Fraternidade de 1991 tem por título "Solidariedade na Dignidade do Trabalho", tema presente em quase todas as OF desde 1964. e mais explicitamente nas de 1978 "Trabalho e Justiça para Todos", e de 1985 • Pão para quem tem Fome". I. Primeira Parte. -

Elementos para compreender a situação

Numa primeira parte, o texto base da presente C.F. apresenta um resumo da situação atual do Brasil no campo do trabalho: altíssima taxa de desemprego, proliferação dos sub-empregos, salários de miséria para a imensa maioria dos trabalhadores, participação crescente da mulher e do menor no campo de trabalho em condições salariais inferiores ainda às dos homens. O salário mfnimo, foi criado em 1940. Deve atender às necessidades básicas de uma família de quatro pessoas. Este princípio foi reafirmado na Constituição de 1988. De fato seriam atualmente necessários cinco salários mínimos para atender a essa exigência. Ao mesmo tempo, os 10% mais ricos da população captam a metade da renda total do pais. Além disso, a violência tanto urbana como rural torna sempre mais difícil a vida diária do trabalhador. Ao mesm'd tempo, a luta pela terra continua obstinadamente praticada pelos c·gm\)õneses e os sindicatos operários aos poucos se orgaRl·zam, numa luta conjunta pela justiça . Historicamente a Igreja Católica no Brasil demorou para se engajar nessa luta, por causa de suas ligações com as classes dirigentes, por não ter também encontrado uma linguagem comum com as classes trabalhadoras, e por outras razões ainda. Não obstante, vários movimentos da Igreja Catól.k:a procuraram e procuram se empenhar nessa luta. cada um à sua maneira: os Círculos Operários, a Juventude Operária Católica, a Ação Católica Operária, os Dirigentes Cristãos de Empresa. e alguns outros ligados às diversas pastorais sociais: do negro, do fndlo, do menor, da mulher marginalizada (prostituída), dos semterra, dos sem-teto, etc .. . A finalidade de todos· estes movimentos é de reconstruir juntos a dl~nidade do trabalhador na ajuda mútua, no companheirismo e na soll· dariedade, acabando com a exploração e a dominação de uns sobre os outros.

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11. Segunda Parte. -

Análise dessa situação

Numa segunda parte, o texto base da CF 1991 procura analisar estes dados à luz da Palavra de Deus, do Magistério da Igreja, e dos pronunciamentos dos bisP.OS no Brasil. 1) Conforme o texto da Gênese, capítulo 1.0 , Deus Criador deu tudo a toda a família humana. O trabalho é pois a vocação de todas as pessoas humanas. Mas tanto o Antigo Testamento como o Novo repetem que a acumulação das riquezas deve ser controlada através da prática da fraternidade, por exigência da própria justiça. 2) ~ aquilo mesmo que lembram sem parar os últimos papas : Leão XIII, Pio X. Pio XI, Pio XII , João XXIII, Paulo VI, João Paulo 11. Todos delineam os caminhos daqueles que pretendem se engajar nessa luta pela justiça, formulando as perspectivas principais do ensinamento social da Igreja, cuia finalidade é o estabelecimento da Justiça Social. Tanto o socialismo totalitário como o capitalismo liberal são vistos como Intrínseca· mente oerversos e nefastos. Os direitos essenciais de toda pessoa humana são reafirmados : direito ao trabalho, direito a um salário justo, à moradia. à instrução, à saúde, à liberdade de associação e de acesso à propriedade, inclusive a do próprio instrumento de trabalho. 3) Os bispos do Brasil , através de vários documentos, já exprimiram seu oensamento a respeito da aplicação no Brasil do ensinamento social da IQrefa. Insistiram várias vezes sobre alguns pontos que julgam essenciais: - toda pessoa tem o direito de contribuir para o bem comum através de seu trabalho (direito ao trabalho). - seu trabalho deve garantir ao trabalhador uma remuneração suficiente para ele e sua família. - a remuneração do trabalho tem prioridade sobre a remuneração do capital. - os aposentados devem receber a média dos salários recebidos no decorrer de suas atividades, nunca chegando a ser menos de um salário mínimo. Insistem também sobre : - a liberdade e a autonomia sindical e intersindical. - o direito de greve para os trabalhadores. - o direito a um aperfeiçoamento profissional. - a proteção de sua saúde. - o direito de participar de alguma forma da elaboração da legislação trabalhista. Os bispos lembram também que : - o direito à propriedade particu lar é submetido ao prmc1p1o da destinação universal dos bens para todos os membros da família humana (limitação do exercício do direito de propriedade). - devem ser respeitadas e até Incentivadas as formas comunitárias e sociais de propriedade, produção e trabalho. - a Igreja Insiste na necessidade de medidas que garantam a função social da empresa. Estas medidas incluem formas de participação

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nos lucros e na gestão das empresas, e excluem as demissões em massa e as demissões sem justa causa. a realização da justiça social exige a Implantação de reforma a11rárla e de reforma do uso do solo urbano para favorecer o acesso à posse e uso de terra rural ou urbana.

111. Terceira Parte. -

Propostas de açio

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Numa terceira parte, texto-base da CF 1991 apresenta algumas propostas de ação. Entre elas se encontram as seguintes: __ estimular a criação de pastorais sociais, e reforçar seu trabalho; - promover e ajudar os esforços das organizações de trabalhadores dedicadas à luta pela justiça; - aiudar as mulheres trabalhadoras nas suas lutas, especialmente as trabalhadoras rurais e as domésticas, e desenvolver junto a elas um trabalho de conscientização; - levar multo a sério a ação pastoral no mundo dos jovens trabalhadores ou marginalizados; - comprometer as comunidades ecleslals na solidariedade aos trabalhadores sem terra que ocupam terrenos ociosos, estimular e apoiar as organizações autônomas de assalariados rurais e as dos sem terra. Em relação à divina externa, os bispos do Brasil lembram o segui-nte: - não é llclto pagar a divida externa às custas da fome, da miséria e do subdesenvolvimento do povo. - na base de uma auditoria pública, pode-se questionar a legitlml· dade dessa divida. (Condensado do texto-base da CF 1991 "Solidariedade na Dignidade do Trabalho)

fr . J . P. Barruel de Lagenest, O.P.

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EACRE: APENAS UM MOMENTO? Estamos todos, neste momento, envolvidos com o Encontro Anual dos casais responsáveis das equipes de base de nosso Movimento. O que é um encontro? Por que se realiza um encontro? Como se participa de um encontro? Com quem se faz o encontro? Quando se torna necessário o encontro? São todas perguntas absolutamente pertinentes, porque um encontro, qualquer que seja e em qualquer circunstância em que aconteça, reflete uma necessidade, uma reação, uma manifestação, uma resposta de um ser que busca um novo modo de participar, de agir, de transformar (a si próprio e aos outros). Um encontro é sempre um momento, uma circunstância, um acontecimento. Seu tempo de duração é imprevisível. Dura o tempo que se deseia. Mas, qual é a finalidade do encontro? Para que haja um encontro é fundamental que ocorra, entre outras coisas: um desejo ardente de quem for se encontrar; uma data marcada para ele acontecer; uma preparação adequada; um objetivo a alcançar; uma ansiedade a satisfazer: uma energia a recuperar; uma ação a concretizar; um compromisso a assumir. Neste sentido, o encontro abre perspectivas. e possibilidades, não só para se repensar o momento, mas tendo em vista o vir-a-ser do homem. o seu encontro final com o seu Criador. A vida é, pois, marcada de muitos encontros, mais ou menos intensos, importantes, esperados. O encontro mais desejado, contudo, é aquele que se realiza quando o ser humano for questionado sobre a qualidade dos encontros anteriores. E nesta perspectiva que devemos olhar este EACRE. Ele não tem o obietivo de, num piscar de olhos, tomar as pessoas altamente qualificadas. acabadas, perfeitas. Este EACRE quer refletir a ansiedade do Movimento das Equipes de Nossa Senhora num momento particularmente importante e vital para toda a Igreja, quando o desejo é que todos os seus integrantes sejam movidos e impulsionados para a ação apostólica e missionária. Os resultados deste EACRE não podem ser medidos pela melhor ou pior apresentação dos casais palestristas, pela melhor ou pior participacão do Conselheiro Espiritual, pela melhor ou pior preparação dos trabalhos conjuntos, pela melhor ou pior apresentação das prioridades que se colocam para todos os equipistas. -18-


Os resultados deste EACRE podem e devem ser medidos pela capacidade que todos .teremos de construir, já neste mundo, o Reino de Deus, um Reino de fraternidade, justiça, amor, misericórdia, igualdade, paz. E, finalmente, é importante que se lembre: nenhum Movimento, e o mesmo se diga das organizações em geral, é melhor ou superior do que a qualidade dos seus integrantes. Que Nossa Senhora das Famílias seja nossa intercessora junto ao seu Filho Jesus, para que o Espírito de Deus nos faça disponíveis, a partir deste EAC~E, para uma ação missionária e apostólica junto aos casais e famílias, · especialmente junto àqueles mais marginalizados, empobrecidos, esquecidos. Quem tem esta percepção, tem energia para produzir as respostas necessárias e esperadas. Mariola e Elizeu Calsing Eauipe 19 -Brasília, DF

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EDITORIAL

A FELICIDADE É PARA OS QUE SÃO FELIZES :1! difícil falar da felicidade. Os romancistas e muitas vezes os poetas são inspirados pela ·infelicidade, pelas. provações, pelas lutas, pelos conflitos. Lembrem-se de todos os grandes autores da literatura universal, a começar por Shakespeare. Aliás, há um dito popular que traduz bem esta verdade: as pessoas felizes não têm história! Logo, fala-se pouco nelas. · Vejam o que acontece no campo da informação. Os jornais, a televisão ficam nos bombardeando com as más notícias: catástrofes, rumores de guerras, escândalos. . . Logo que as coisas se acalmam, não se fala mais no assunto. Seria quase o caso de dizer: quais são as pessoas felizes? Quais são os povos felizes? Aqueles de quem não se fala. Porque eles não criam fatos, acontecimentos. E a literatura popular se utiliza de uma fórmula bem simples na conclusão das histórias de amor cheias de peripécias: "foram felizes e tiveram muitos filhos". Pronto: quando a felicidade está presente, não há mais nada a dizer!

Neste bilhete, eu queria enfatizar que existe uma disposição para a felicidade e que é preciso cultivá-la. Diz-se muito que vivemos uma época sombria. Mesmo os jovens que aspiram - geralmente mais do que os outros - à felicidade, têm muitas vezes a impressão de se ver diante de um muro, sem perspectivas nara o futuro. Além do que, persistem ainda nos espíritos alguns traços de uma espiritualidade do tipo "dolorista". Muitos cristãos de boa ·vontade têm a tentação de acreditar que a virtude só pode ser triste e chata. verdade que muitas pessoas virtuosas têm caras de pouca alegria. Muitos cristãos pensam que os· momentos de felicidade que se consegue arrancar da vida vão ter que ser pagos, mais cedo ou mais tarde. Pensam que não se pode ser feliz "impunemente". . . Como se nosso Deus tivesse ciumes da felicidade dos homens. Como se nosso Deus não tivesse criado os homens justamente para ter com quem partilhar a sua felicidade na eternidade!

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Precisamos nos livrar desses pesos que nos prejudicam. Temos que aprender a acolher a felicidade, a reconhecê-la. Temos que aprender a nos abrirmos para a felicidade. Pois trata-se de algo que se aprende. Gosto muito de outro dito popular que diz: "A felicidade é para os que sào felizes". Ou seja: é preciso estar aberto à felicidade para poder acolhê-la; não se deve fechar-lhe a porta por antecipação. Existem pessoas que nunca serão felizes, porque tornaram-se surdos e cegos. Conheci algumas das quai~ cheguei a pensar: mesnio se a felicidade lhes fosse levada numa bandeja de prata, recusariam. Para que pudessem continuar infelizes. . . Estranho, mas é assim! E bom estar atento a todas as pequenas felicidades que pontilham a vida, quando se sabe reconhecê-las. No tema AFS (Amor - Felicidade - Santidade) que preparei para as Equipes na perspectiva do 'envio' de Lourdes e da Segunda Inspiração, proponho uma prática muito simples para os casais. Durante um mês, cada um anota suas pequenas felicidades cotidianas, e no fim do mês, faz-se uma troca das listas ... Tudo isto, "enquanto esperamos a Felicidade que Tu nos prometes e o advento de nossa grande esperança". Pois bem sabemos que só Deus pode preencher o nosso coração. Não podemos conhecer a felicidade perfeita enquanto não o contemplamos. . . Paciência! Nesta espera e nesta esperança caminhamos em sua direção. Neste mundo e para este mundo, nossa vida é - ou pelo menos deveria ser - um grito de fé mas tambéni um canto de esperança. Não tenhamos medo . de dizê-lo e repetí-lo em tomo de nós, pois somos portadores de uma ' Boa Nova. E acima de tudo, demonstremo-lo! Que seja visível nos nossos rostos e em nossa vida. Porque a felicidade é como a gripe: contagiosa. Se acreditamos verdadeiramente que a graça de Deus está em nós, podemos, apesar de nossas fraquezas e nossas dificuldades, ser portadores desse virus chamado felicidade. Fr. Bernard OLIVIER, o.p.

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CARTA DA EQUIPE RESPONSAVEL INTERNACIONAL

FôLEGO Reter o fôlego, ter fôlego curto, estar sem fôlego, perder o fôlego, retomar fôlego, ter fôlego. . . quantas expressões da vida cotidiana que se referem a essa palavra "Fôlego" I E não há nada demais nisto, pois fôlego e sopro são sinônimos e são expressões, sinais da "Vida" . .. E quando os pulmões vão se esvaziando, é preciso enchê-los novamente de ar: é a nova, a segunda inspiração. Segunda inspiração. . . Para esse casal de Douala, na África, é tomar a decisão de "instalar um lugar de oração na casa" onde agora "toda a família passa a maior parte do tempo consagrado à oraÇão".

Segunda inspiração. . . Para as equipes do Brasil, é deflagrar este longo e paciente . trabalho para reencontrar a mística dos pontos concretos de esforço, voltar a dar seu sentido à partilha para que se torne, para cada um, um meio de unificação do corpo com o Espírito, do eu com o Tu, da criatura com o Criador. Segunda inspiração, . . ~ convidar ·um número sempre maior de casais, qualquer que seja sua cultura, a viver a proposta das Equipes de Nossa Senhora: na Inglaterra, onde a meta de cem equipes acaba de ser ultrapassada, ou no Togo, onde há cinco anos, não havia equipes, e onde aJ.'(ora existem cinco. Segunda inspiração. . . Para as equipes da Ilha Maurício, é a elaboração. em conjunto com o seu bispo, de um programa de catequese adulta, a respeito do diálogo pais e· filhos. Segunda inspiração. . . Para os equipistas da França e da Bélgica, é constituírem-se em pequenos grupos de pesquisa sobre a atitude pastoral para com os divorciados recasados. Segunda inspiração. . . Para as ENS italianas, é reunirem-se, em grande número, duas vezes por ano, em sessões nacionais, para uma reflexão em profundidade sobre o casal, na sua tríplice dimensão social , sacramental e eclesial. Segunda inspiração. . . Para todos nós, é inventar, criar, romper a rotina, entrar numa dinâmica, é questionarmo-nos regularmente sobre ·o ponto fundamental proposto na conclusão da Peregrinação de Lourdes por Jean-Claude e Jeanine Malroux: " Temos nós o desejo, a vontade de buscar a santidade para a qual nosso batismo nos chama, no e pelo sacramento do matrimônio que nos une?" -22-


Questionemo-nos, pois: "Como vai nossa Segunda inspiração? A nossa. a de nosso casal, a de nossa equipe? Qual das expressões que aparecem no primeiro parágrafo desta carta utilizaríamos nós para qualificar nosso fôlego?" Para qualquer um de nós, e qualquer que seja nossa resposta a essas questões, uma certeza nos possui, que é ao mesmo tempo fonte de esoerança: não somos os únicos donos de nosso fôlego . Envias o teu Sopro e eles são criados (Sl. 103). O Sopro de Deus nos é dado, é ele que nos cria cada dia, a cada momento do dia. Cabe a nós tornarmo-nos disponíveis ])ara acolhê-lo, para pormo-nos à escuta: não seria a Meditação o meio e o momento privilegiado deste 'Sopro a sopro'? Temos a certeza de que, se nos deixarmos "animar" e "habitar", poderemos, "por Ele, com Ele e nEle", renovar todas as coisas. Que nosso coração esteja, pois, bem aberto ao Sopro de Deus ... e o fôlego não nos faltará!

Com toda a nossa amizade, Marie·Odile e Benoit TOUZARD

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DESPERTAR A primeira vez que fui despertado pelo Senhor para uma nova realidade foi em fevereiro de 1945. Tinha pouco mais de 9 anos. Desde dezembro de 44 estávamos todos trancados num porão, em Budapest. Lembro-me que relutei muito para descer, quis até bancar o herói, mas o deslocamento de ar de uma das primeiras bombas que caiu me fez voar uns cinco metros e eu saí correndo para o abrigo. E a imagem que levava comigo da cidade, era do último passeio que tinha feito com minha mãe: as pontes, o Danúbio, as árvores perdendo as folhas que amarelavam pelo chão, as pessoas agasalhadas contra o frio que vinha no vento, os prédios todos alinhadinhos, naquela estética que dera a. Budapest o apelido de Paris do Danúbio ... Ficamos no abrigo quase três meses. Numa outra ocasião eu conto o Que ví nesse período. Foram cenas muito fortes, que me marcaram para sempre e que voltam quando ouço falar em guerra, como agora. Quero falar do dia em que saí do abrigo. O primeiro quarteirão que andei, até que não me impressionou muito:- as casas estavam aí, mais ou menos do jeito que eu as conhecia. Mas quando virei a esquina ... Deparei-me com uma espécie de planície. Literalmente, não sobrava pedra sobre pedra; a avenida parecia ter a largura do mundo. A neve e o gelo cobriam tudo, o frio era intenso, cortante: nada mais impedia a passagem do vento. Três meses de bombardeio tinham acabado com tudo. transformado a cidade que todos conhecíamos naquela paisagem lunar. A vontade era correr de volta para o abrigo, para aquela realidade coilfortadora que nos era tão familiar e continuarmos dissociados daquele mundo frio, cruel e real que a esquina nos mostrava! Foi quando ví nosso vizinho que se aproximava. Fitando-me, sorriu e disse: "Precisamos de todas as mãos disponíveis. Fui encarregado de recrutar ~ente para limpar os escombros, precisamos construir tudo novo! Você, garoto, quer trabalhar?"

Muitos anos depois, recebi nova lição. Tinha perto de 35 anos e já havia uns dez anos que eu tinha deixado de trabalhar com o Movi-

mento Escoteiro. Tinha começado, como "lobinho", na Hungria, depois da guerra; continuando como escoteiro na França e aqui, no Brasil, cheguei a ser Comissário Regional, que, como os iniciados sabem, é real-24-


mente um chefão importante. Mas aí já tínhamos três filhos · e fazíamos parte das Equipes de Nossa Senhora; era preciso escolher. Acabei optando pelo Movimento que nos envolvia aos dois e deixei os escoteiros. Assim. durante uns dez anos, não tive mais contato com jovens. Aí, passei a ter filhos em idade de participarem, eles próprios, do escotismo. Percebendo que o ideal era mais importante do que o eventual ridículo de andar de calça curta, alguns deles optaram por este caminho. E, como pai de escoteiro, acabei sendo envolvido em algumas atividades. Um dia, fui chamado a participar de um curso durante o qual havia um jogo, o que é muito próprio do método escoteiro. Junto com outros pais, me vi trancado num barracão de uns 10 metros por 5, cuias paredes estavam cobertas de fotografias e desenhos. Devíamos identificar o que represen_tavam. A equipe de pais que reconhecesse o maior número de desenhos e fotos seria vencedorat De umas oitenta a cem imagens, conseguimos reconhecer dez! Para preservar a honra do grupo, devo declarar que não terminamos em último: houve uma equipe que só reconheceu oito. E o que representavam aquelas imagens? Tudo aquilo que de uma forma ou de outra tinha interesse para nossos filhos e para os jovens em geral naquela época. Cantores, astros do momento, instrumentos musicais, objetos e roupas, locais e monumentos que para eles eram históricos, mas que para nós ou nada representavam ou faziam parte de um mundo que queríamos ignorar. Foi. para mim, mais uma surpreendente revelação de uma realidade que passara a existir enquanto eu não estav:a olhando. E da qual eu ficara alheio com evidente prejuízo para o meu diálogo com meus filhos e com outros jovens. Percebi, novamente, que era necessário conhecer e admitir esta realidade, para poder trabalhá-la, para construir algo de positivo.

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A terceira experiência, nessa mesma linha, foi recente. Ocorreu uns dois anos atrás. E está me incomodando todos os dias, até agora. Juntamente com alguns casais das ENS e de outros movimentos tínhamos sido convidados para participar no Rio de Janeiro de um encontro. Esse encontro vinha inserido num projeto maior de pesquisa sobre Pastoral Familiar. E eis que as palestras que ouvimos, quase até o final do encontro, defendiam todas aquelas teses que faziam nosso pelo ouriçar-se no corpo todo: divórcio, aborto, união livre, etc. Quando já íamos reclamar, revoltados, querendo saber o que tinhamos vindo fazer aí e murmurando que não estavamos mais díspostos a ouvir este tipo de coisas, a organizadora da pesquisa nos disse: "Não é esta a linguagem que ouvimos em todo lugar aí fora? Não é este o

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discurso do mundo em torno de nós? Não é esta a realidade que nos cerca? E qual é a nossa resposta? Qual é o discurso dos Movimentos Familiares para responder a essa realidade?" E era isso mesmo. Enquanto nós estávamos olhando para dentro das nossas equipes, no nosso abrigo anti-bombas particular, não percebemos que as imagens em volta de nós tinham mudado. Que o normal e o anormal tinham trocado de lugar. Que coisas do tipo divórcio, aborto, união-livre, que eram antes exceções no nosso mundinho organizado, de repente se tornaraiJl a regra e que as exceções agora somos nós! Nas pesquisas, nos trabalhos, na vida que temos vivido desde então, tudo isto foi se confirmando, aos poucos. Mas junto com as "novas realidades", veio uma certeza: o Senhor nos espera na esquina e tem uma pergunta: "Como é, garoto, você não quer trabalhar na construção de um mundo novo? Preciso de todas as mãos disponíveis . .. " Peter

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REFLEXÃO

DURAÇÃO Uma das novas realidades de que nos fala o artigo anterior refere-se ao conceito de "duração". No Encontro Internacional de Lourdes, em 1988, este assunto foi. o tema das três primeiras palestras, das quais extraímos aqui alguns pontos para reflexão.

I. IntroduçãO'.

Não há dúvida de que os avanços da tecnologia, principalmente nos últimos cinquenta anos, levaram a uma mudança radical no que diz respeito ao conceito que temos .do tempo. A televisão nos mostra cenas de guerra onde mísseis super-sofisticados se enfrentam nos céus, a milhares de quilômetros de nós. A mesma cena é vista no mundo inteiro e se reflete, de imediato, no preço do petróleo. O pr~o do petróleo repercute no instame' seguinte, sobre o custo do pão que comemos (mesmo que não entendamos bem por que ... ) . Como dizem os peritos da informática, tudo parece acontecer "on line", ou seja, tomamos conhecimento das coisas no momento mesmo em que acontecem. Se iá era difícil, quando as coisas aconteciam mais devagar, entrar na nossa cabeça humana o conceito de eternidade, agora então, quando tudo nos chega em fragmentos acondicionados entre comerciais ·de televisão, parece até que esse conceito deixou de ter qualquer utilidade para nós ... E como, de um momento para o outro 'o céu (atómicol) pode cair sobre no$sas cabeças', queremos que tudo aconteça logo, principalmente as coisas boas. O prazo que damos a nós mesmos para sermos bem sucedidos na vida ou, se quiserem, para sermos felizes, se mede em horas ou dias, quando não em minutos ou segundos. De repente, com as possibilidades que a tecnologia cria, acopladas às ameaças que repr~senta, queremos tudo "aqui e agora"! Ou não é assim? Alguma vez, no dever de sentar-se, vocês já se perguntaram se o tempo tinha o mesmo significado para vocês dois? E já per~ntaram para seus filhos? Quanto tempo estão eles dispostos a esperar para satisfazer as suas necessidades, os seus desejos? As coisas que levam anos para acontecer, que demoram uma vida inteira, que transbordam para o lado da vida eterna ainda fazem sentido? Com que esperança pós, nossos filhos, somos capazes de olhar para o futuro? E as instituições do passado, aquelas que eram baseadas no con-

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ceito antigo de tempo? Ainda fazem sentido? "As técnicas antigas estão superadas, não precisamos mais delas, devem ser substituídas". Assim também os comportamentos: o que se fazia cinquenta anos atrás, cinco anos atrás, cinco meses atrás está superado, depreciado, morto. "Com as condições tecnológicas de que dispomos hoje, nada temos a aprender do passado". Será que o passado ainda tem algum valor? Ou deve ser enterrado iunto com um f\tturo incerto, ameaçador? 11. Aspectos psicológicos.

, Vocês se perguntam: o que toda essa história de tempo tem a ver com as novas realidades dd matrimônio, da família? Está claro que é nesta realidade, onde a duração, as coisas que duram, que vêm do passado, atravessam o presente e adentram o futuro onde tudo isso parece tão superado, que o casamento é chamado a st desenvolver. · E se o casamento é uma instituição do passado, que exige um com promisso, um engajamento a longo prazo, ·será que ainda interessa a uma geração que não quer mais saber de passado nem de futuro e cujo lema é "tudo e já" ? Por outro lado, se o casamento tal como o conhecemos não faz mais sentido, o que se vai pôr no seu lugar? François Guy, em sua palestra de Lourdes, citava o psicólogo Muldworf, um não-cristão: "E a união estável. de longa duração, que até hoje tem o papel que melhor responde às necessidades psicológicas e afetivas da pessoa, que dá as melhores possibilidades para o desenvolvimento individual." 111. Aspectos espirituais. ,.

Na visão, portanto, que se tem hoje do tempo, da duração, certos conceitos acabam, naturalmente, mudando de sentido. Se eu quero "tudo e já", se aquilo que chamo de felicidade (e que antes se chamava apenas 'prazer'') não pode esperar, se o amor (que se distingue mal de 'sexo') passou a ser de curto prazo, é natural, por exemplo, que "fidelidade" signifique: 'amar uma pessoa de cada vez'; Esta visão pode ser válida, para nós, cristãos? Afinal, que significado deu o Senhor, através de toda a Escritura, à fidelidade? O conceito de fidelidade e o sentido que Deus lhe dá é fundamental para a duração. do verdadeiro amor: é a sua existência que dá vida ao casal. Mas muitos, hoje, a confundem com uma forma passiva de aguentar, de ultrapassar o momento presente. E se for só isso, talvez realmente não valha a pena . . . e por isso muitos jovens não a querem. O que será então, que Deus quer de nós através do casamento? Que possibilidades sua graça nos oferece através do sacramento do matrimônio? O que nós, equipistas queremos dizer, quando defendemos 28-


ferrenhamente o casamento como "um caminho para Deus"? Como imaginamos, concretamente, que este caminho vai ser trilhado? Será que, através do casamento, através do outro no casamento, não é Deus que se dá a conhecer? Que, com toda a ternura de um pai nos indica o c~minho para descobri-Lo, para descobrir todo o amor que, através do nosso cônjuge, Ele quer nos dar? Quem pode dizer quanto tempo é necessário para esta descoberta? Quinze minutos? Quinze anos? Uma vida? ... A duração do casamento será hntal ao tempo que estivermos dispostos a dar a Deus para "lhe

permitir, a partir do amor humano dos esposos que somos, de cumprir a sua obra, o seu projeto sobre nós". (Pierre e Jeanine Roland, Lourdes, 1988). Que projeto? "Que sejamos tudo o que Ele é, que tenhamos tudo o aue Ele tem!" Que tal perguntarmos, um ao outro, no próximo dever de sentar-se, se vale a pena e até quando? IV. A dimensão divina. Como já foi dito, o amor de Deus se manifesta a nós pela fidelidade. O amor do Pai, que · não desanima com nossas faii{as humanas, que não se desquita nem se divorcia de nós apesar de nossas constantes infidelidades, o amor do Pai é eterno. ~ por isso que a esperança existe, é por isso que o futuro tem sentido, é por isso que 'ousar, hoje, comprometer o amanhã que não se conhece' é um ·ato de valor divino. "Viver como Jesus viveu", diria o Pe. Zezinho . .. E para que possamos viver a sua vida, Deus se dá a nós em alimento. Será que já refletimos em profundidade no significado da Eucaristia para a duração do nosso amor? V. Testemunho. Resta perguntarmo-nos: - Será que sem um conceito de " duração" modelado na fideli- . dade de Deus, o casamento tem chances? - O que temos feito, o que poderíamos fazer mais, junto aos que nos cercam, para transmitir esse conceito de "duração"?

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FORMACÃO

A RESPEITO DE NOSSA FORMAÇAO HUMANA E CRISTA Gostaríamos de Início Indagar: como temos procurado nos formar como cristãos? E em que esta nossa "formação" de baseia? Quais seus critérios? Partindo da lição de nossa Doce Mãe - Maria - que foi a Serva de Deus, a justa por excelência, que aceitou a si própria e aos outros, que respeitou o ser de cada apóstolo, que aceitou os acontecimentos e perscrutou e descobriu tudo de positivo e bem que há na criação e nas criaturas, valorizamos e vivemos o nosso "SER" cristãos? · Temos usado os "meios" que as ENS nos oferecem para to- . marmos consciência de nós mesmos e aceitarmos, acolhermos e assumirmos o nosso SER e o SER de cada pesosa? Como desenvolvemos as nossas aptidões, talentos é carismas, potencialidades e possibilidades de SER, DE SERVIÇO? Somos um DOM, uma GRATUIDADE do PAI. Reconhecemos n'ELE esse amor de criação? Cremos que somente quando tomarmos consciência - pela nossa formação - da nossa própria existência, do projeto de vida, do viver para Deus e para os outros, do amor e do bem querer, estaremos LIBERTOS. E a libertação pessoal leva à acolihda. Sentir a alegria no acolhimento do outro deve ser nossa meta. Acolher é interessar-se, ocupar-se com o outro. Acolher é SER o outro, é ser compasivo, estar por dentro das necessidades do outro e assumi-lo. Da mesma forma que MARIA devemos estar . à disposição, comprometendo-nos, engajando-nos, porque JESUS procura pessoas generosas e disponíveis, capazes de dar tudo, mesmo a si próprio a favor dos irmãos. Margarida e Agostinho Equipe 2 - J. Fora ....:.. MG

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O SER DE MARIA A fortaleza - A fortaleza como virtude é a sltuaçAo da pessoa energlzada. firme, que aceita e enfrenta consciente e livremente, alegre e dinamicamente as dificuldades, os problemas do dia a dia do seu viver. Ser forte é um caminhar firme nas dificuldades, nas provações e provo· cações da vida. A fortaleza consiste numa energia, numa força Interna que oarante à pessoa permanecer firme, confiante e segura em sua caminhada, perseverante em seu processo de crescimento no ser, no meio das tribulações da vida, através das tentações próprias do viver humano. As dificuldades existem e muitas. Os problemas, os conflitos existem, talvez muitos e sérios. Pela virtude da fortaleza a pessoa em questão ultraoassa tudo isso, aproveitando a própria dificuldade, o próprio sofri· mento para crescer, para consolidar-se ainda mais no conteúdo do seu ser. Pelas dificuldades, se forem bem aproveitadas, aumenta a consis· tência do s~r da pessoa em questão. 1: o caso da pessoa que mantêm-se fiel à sua programação de vida, a seus propósitos de conversão e de penitência, apesar das tentações e dos obstáculos. A pessoa forte permanece fiel ao processo de conversão de sua penitência. A fortale:z;a é a atitude da pessoa que sabe morrer para poder criar espaço para a sua ressurreição. 1:, enfim, a atitude da pessoa que em cada circunstância do seu cotidiano sabe dar uma resposta amorosa. Maria é uma mulher forte. Ela também teve suas dificuldades, as suas provações, as suas tentações. Sua vida foi muito sofrida. Em todas estas situações dlffcels ela sabe ser forte. Maria permanece fiel à sua caminhada e perseverante na busca do essencial da vida. Ela é forte no sofrimento. Maria tem uma estrutura interior, uma solidez, um equl· lfbrio emocional, decorrência do Deus vivo que existe nela experimentalmente, que lhe permite permanecer forte quando é rejeitada, quando é lniustlcada. Ela é forte quando é chamada a aceitar e a perdoar aos apóstolos, aos farlseus, a Pllatos. Maria é forte ao pé da cruz. Seu vigor pessoal é realmente digno de admiração, de estima e de Imitação. A fé cristã - Por fé cristã nós entendemos uma Iluminação, uma lnspi· ração Interior pela qual uma pessoa aceita Jesus Cristo, acredita nos valores permanentes, na vida eterna, no Deus vivo. A fé cristã não é um simples conhecer, um simples ato Intelectual, mas é um fenômeno, uma realidade complexa que abrange todo o ser da pessoa que aceita, que adere a Jesus Cristo, a Deus e, ao mesmo tempo, uma intervenção divina pela qual uma aptidão cognitiva tal que lhe permite tomar consciência das verdades relativas a Deus, ao Espírito Santo, 'e acreditar nelas mesmo que estas permaneçam ·misteriosas na sua total compreensão. A pessoa de fé cristã, aceita Jesus Cristo no pensar, no sentir e no aRir. Ela pensa como Jesus Cristo, age como Jesus Cristo. Pela fé cristão uma pessoa descobre o reino do Espírito com seus valores

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permanentes. Ela lntul a realidade divina, enquanto Isso seja possível ao ser humano. Pela fé cristã uma pessoa penetra no Reino de Deus. Ela participa dos conhecimentos, das verdades misteriosas de Deus. t: Deus que pela força cristã se deixa conhecer. Conhecer pela fé cristã é algo que ultrapassa nossas aptidões cognitivas humanas. Deus é espírito e por Isso não é algo de palpávfl cujo conteúdo possa ser descoberto e experimentado unicamente pela nossa inteliQêncla e sensibilidade. A descoberta e a experiência com Deus só é possível por uma intervelção especial e gratuita de Deus que chamamos de graça santiflcante, que chamamos de Jesus Cristo. O conhecimento pela fé cristã se dá a partir de uma atitude humana d(l busca e de silêncio interior de escuta e de uma intervenção divina. Não é a pessoa humana quem descobre Deus, mas é Deus quem se revela e possibilita ser experimentado pela pessoa humana que opta positivamente por Ele, buscando-O no íntimo de seu ser, permanecendo em atitude de escuta. Deus se descobre e se deixa experimentar pela pessoa contemplativa e profética religiosa. Ser uma pessoa de fé cristã é Ir a Deus Qratuitamente. t: acreditar gratuitamente no Deus vivo, no Espírito de Deus que habita em nós e que nos fala, que nos ilumina a partir do profúndo do nosso ser. t: ver e ouvir o Deus vivo em nós. t: optar gratuitamente pela vontade de Deus que se manifesta pelas Inspirações, que o Espírito Santo de Deus nos proporciona a partir da situação, aqui e aQora. na qual nós nos encontramos. Maria é uma mulher de fé cristã adulta. Num profundo silêncio Interior de escuta ela vê e ouve o Deus vivo que lhe fala. Ela adere ao Espírito. Ela aceita os valores eternos, a vida eterna. Maria acredita na palavra do Anjo Gabriel. Ela acredita no Espírito Santo de Deus que lhe fala de dentro, sem vê-LO e sem tocá-LO fis icamente e Intelectualmente. Não faltaram a Maria ao longo de sua vida provações e tentações a respeito disso. Sua fé no Deus vivo protetor, Deus Pai, no Deus amor foi duramente posta à prova. t: dif ícil para a nossa natureza humana, e é difícil à natureza humana de Maria, acreditar que Deus é um Pai amoroso, -diante das Injustiças humanas em relação a ela e ao seu Filho. No entanto em cada circunstância Maria acredita e confia em Deus. Ela adere e entrega-se ao Espírito de Deus sem ter provas humanas disso. A fé adulta de Maria consiste em acreditar gratuitamente na bondade divina . (Da revista: " Cavaleiro da Imaculada ")

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ATUALIDADE

A IGREJA E O CAPITALISMO (1.a Parte) Extrafdo da Orientação pastoral para os fiéis da Diocese de Novo Hamburgo/AS de autoria do Revmo Bispo Diocesano Frei Boaventura Kloppen-· burg. O.F.M.

1. Não faz parte .do magistério da Igreja propor modelos de economia, mas ele é competente para pronunclar-se sobre as implicações éticas dos diversos regimes econômicos com os quais seus fiéis convivem ou são forçados a tolerar. Assim houve, por exemplo, pronunciamentos oficiais da tgreja sobre o sistema socialista e sobre o assim chamado liberalismo manchesteriano. O veredito sobre o socialismo foi até extremamente forte na encíclica Quadragésimo Anno (1931) de Pio XI, ao declarar, categoricamente, acerca da forma mitigada do socialismo que Mninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista". Jamais houve sobre o capitalismo um pronunciamento parecido. Para avaliar, criticamente o sistema capitalista é necessário avaliar os seus elementos componentes, quais sejam, a propriedade privada dos meios de produção, o dinamismo ·da Iniciativa economica particular, o lucro, o assalariamento e o mecanismo de mercado como agente econômico. 2. A propriedade privada dos meios de produção é certamente o elemento constitutivo mais marcante do sistema capitalista e o distingue formalmente do socialismo. Desde o início da formulação de sua doutrina social (Rerum Novarum Leão XIII, 1891) a Igreja ensina a legitimidade da propriedade particular. Na Gaudium et Spes, o concflio Vaticano 11 nos ensina que propriedade ou alguma espécie de domínio sobre bens materiais contribuem para a afirmação da pessoa, conferem espaço para sua autonomia pessoal e familiar, devem ser considerados como prolongamento da liberdade humana, aumentam a motivação para o trabalho e as responsabilidade se constituem uma das condições das liberdades civis. Conforme observava João XXIII na Mater et Magistra Monde falta a Iniciativa particular surge tirania política e aparece uma estagnação geral nos setores econômicos com a consequente carência de bens e serviços ".

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Defensora intransigente da propriedade particular dos meios de produção, a Igreja, no entanto, não se cansa também de enunciar que sobre toda a propriedade particular grava uma hipoteca social. O princípio de que todos os bens são para uso de todos os homens é de direito natural primário e a propriedade particular é de direito secundário ou derivado. A propriedade deve pois cumpprir um objetivo individual (proporcionar utilidade ao proprietário) e o social (fazer chegar a todos os frutos da terra). Um sistema de propr.iedade puramente individualista (que apenas beneficia o dono) é contrário ao direito natural primário e, por conseguinte, essencialmente injusto; um sistema que não permite a propriedade privada é contrário ao direito natural secundário e, como tal, injusto e incompatível com as exigências evangélicas. 3. O dinamismo da iniciativa econômica foi reafirmado com vigor por João Paulo ll na Encíclica Sollicitudo Rei Socialis (1987) como um direito importante para a pessoa humana individual e para o bem comum. Pois a negação deste direito reduz ou até extiQgue o espírito de iniciativa e a capacidade criadora do indivíduo e a sonhada igualdade dos socialistas num nivelamento para baixo induzindo a passividade, a dependência e a submissão ao aparato burocrático dos que determinam ou planejam globalmente a produção. Fala-se freqüentemente de igualdade social. ~ um discurso ambíguo. A justiça social exige certamente oportunidades iguais. Mas não pode supor que todos tenham também aptidões iguais para aproveitar as oportunidades . Numa sociedade livre, embora todos tenham eportunidades iguais, nem todos serão igualmente bem sucedidos, já que há incrível variedade nos indivíduos que, ademais, por serem livres, fazem opções diferentes e seguem por caminhos variados. Em outras palavras, as mesmas oportunidades não conduzem aos mesmos efeitos. E asim haverá inevitavelmente e sempre diversidade de classes sociais. Só quem desconhece a variedade na capacidade física e nas facu ldades intelectuais e morais dos homens pode sonhar com uma sociedade composta de uma só classe social. (Continua na próxima Carta Mensal)

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TESTEMUNHOS

OBRIGADO POR NOS TEREM DITO SIM! Os casais de uma equipe em fim de pilotagem, nos

mandam esta cartinha.

Em breve, seremos mais uma Equipe de Nossa Senhora a atingir a maturidade. Deixaremos de ser pilotados e elegeremos, dentre nós, um casal responsável pela equipe. O corte iminente do laço que nos trás unidos ao casal piloto terá as marcas de tristeza e saudade mitigados pela inexprimível gratidão por tudo quanto nos foi ofertado tão sutil e timidamente, às vezes, tão natural e inesperadamente, noutras. O exercício de pilotagem trouxe o exemplo perseverante e humilde, a cobrança leve e zelosa, a torcida vibrante e tranquila de quem tem, no íntimo do ser, a convicção serena de que o sucesso dos pilotandos, em unir-se na busca do mesmo ideal de santidade conjugal, devia-se, antes, à confiança na pilotagem divina sobre suas próprias vidas, do que ao seu desprendimento ao dizer SIM! Ou ao desvelo com que conduziam a jovem equipe. Nosso Casal Piloto terá sempre a presença viva de · sua lembrança a pulsar em cada palavra lida ou proferida, em cada texto meditado ou oração oartUhada e em todas as intenções de cada um de nós, continuadores dessa trajetória juntos iniciada. E. se como reflexo de nosso crescimento, atingirmos os corações de outros casais, graças renderemos, antes a Deus e, em seguida, ao quanto e como, no quase silêncio de suas presenças, eles, nossos pilotos, souberam fazer pela concretização desse objetivo, que somente do amor em Cristo e por Cristo emana. Ainda, se por vontade de Deus, afastaram-se alguns, certos estamos, mesmo assim, de que a semente de amor, fraternalmente tão bem plantada e cuidada, não conhecerá o fenecimento. Dos corações daqueles que continuam (através da oração), emanará sempre ·o necessário amor a comunicar-lhes o divino sopro de vida, pois neles Cristo habita. Irmãos mãis carinhosos e amigos do que vocês souberam ser para conosco, não saberíamos sê-lo! Daí, através da intercessão de Nossa Senhora de Nazaré, pedimos a Deus - como forma de expressar nossa gratidão e nosso amor por vocês - , que despeje sobre seus corações toda a grandeza do santo amor conjugal, a cuja certeza do pronto atendimento, já o sabemos, só bençãos e mais bençãos recairão sobre nós mesmos. Dos seus irmãos em Cristo desta nova equipe

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PONTOS CONCRETOS: A CURA Como casais equipistas, temos um grande, um riquíssimo tesouro em nossas mãos: o Dever de Sentar-se e a Oração Conjugal. E é sobre como nos enriquecemos com este tesouro que queremos partilhar. Entramos para as Equipes há cinco anos, e não tivemos muita dificuldade com a Oração Conjugal, já que era realmente um anseio nosso desde antes de nos casarmos. Já o Dever de Sentar-se foi mai "novidade", assim com ele tivemos um pouco mais de dificuldade para engrenar. Mas a riqueza destes dois Pontos Concretos de Esforço é sem fim, e quando achávamos que já tínhamos pego o "espírito da coisa", ouvimos um comentário de nosso casal responsável de Setor, que mudou a nossa percepção. Sempre achamos . que o Dever de Sentar-se e a Oração Conjugal são importantíssimos, que por eles é que se forma a "alma comum" do casal, que é nesses momentos que nos conhecemos mais Profundamente, etc. Mas o que eles disseram que calou no nosso coracão foi o seguinte: O dever de Sentar-se e a Oração Conjugal são verdadeiros momentos de curas para nós. Curas do nosso relacionamento, curas de ressentimentos, curas de preconceitos, curas integrais de nossos seres integrais. Quando ouvimos isso, percebemos que até então tínhamos negligenciado um importante aspecto destes Pontos Concretos de Esforço. E ficamos de antenas ligadas. E foi muito gostoso ir experimentando isso. Foi especial e marcante um fim de semana que foi quase todo um Dever de Sentar-se entremeado de Oração Conjugal, quando sentimos bastante a realidade deste aspecto. Estávamos muito cansados, pesados, e especialmente Maria Teresa estava abatída e enfraquecida devido a problemas de saúde. Mas ao final de tanta oração e tanta partilha, naquele bendito fim de semana, nos sentimos revigorados. Impressionantemente renovados, física e emocionalmente. A mudança foi incrível, é difícil contar! E essa tem sido uma riqueza tão grande, que esperamos que possa ser para outros mais. E que todos nós possamos aproveitar ao máximo este imenso tesouro que Deus, pelas mãos de Nossa Senhora, nos oferece! Que assim seja! Maria Teresa e Valdison Equipe 12 - S. J. Campos

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Três testemunhos - bem diferentes a respeito de "Retiros":

nos chegam

RETIROS- I Na preparação de um Retiro, mobilizamos uma dezena de pessoas, convidamos um pregador, escolhemos um tema bem atual, preparamos um local simpático, fazemos tudo para que o ·preço seja bastante acessível, distribuímos convites e fazemos a liturgia bem caprichada. E, aí, na véspera da data marcada, precisamos cancelar .tudo porque vergonhoso. E, para nós, profundamente frustrante. não há partiCipantes. Nós, que sempre esperamos ansiosos este momento onde poderemos reencontrar os casais, trocar idéias, impressões, sentir a vibração das equipes ... Sem falar na oportunidade de, através de uma pessoa iluminada, conhecer uma nova faceta do Plano de Deus que nos diz respeito diretamente ... Mas, cão sabemos bem porque, são bem poucos os casais que compartilham conosco dessa expectativa e, eles o sabem, não é -a eles que dirigimos estas 'Palavras, eles que estão sempre prestigiando os eventos do Movimento e, quando realmente têm um impedimento, abdicam deles com pesar. Mas a maioria, cremos, vê no Retiro um pesado fardo, uma custosa obrigação à qual se procura dar as mais ridículas justificativas para se ausentar. Todos os outros PCE são de conotação intima, e podemos vivê-los em profundidade ou não e, se quisermos, ninguém ficará sabendo. Mas o Retiro é participativo, e comunicativo, exige um verdadeiro SIM ao próprio crescimento espiritual. O Retiro reflete aqui fora a desacomodação que devemos viver no íntimo; reflete a nossa constante busca de Deus; reflete o sentido fraterno da impossibilidade de caminharmos sozinhos. Tristemente, . em consequência disso, percebemos que os casais de nosso Setor estão dando um sonoro contra-testemunho aos seus irmãos equipistas e à sociedade.

:a

Brigitte e Wagner

RETIROS- 11 O convite para coordenar o Retiro de outubro, caiu sobre nossa equipe como um .raio. Nos assustou e preocupou muito. Nós, cristãos com tantos defeitos, coordenar um Retiro onde o que mais se espera é espiritualidade? E por onde começar? Quem providencia o Padre? E o tema? E as orações da manhã e da noite? Sendo uma equipe onde todos são muito ocupados

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e com o Casal Responsável envolvido com o casamento do filho, marcado para as vésperas do Retiro, achávamos que não daríamos conta do recado. Entretanto fomos tranquilizados pelos c~i's mais experientes. Flicaimos sabendo que o Padre já havia sido convidado pelo Casal Responsável dos Retiros de quem recebemos, por escrito, .toda a orientação para o desenvolvimento desse trabalho. Nos forneceram também a parte litúrgica, com o número ne~essário de livros de orações, de cantos, além dos crachás, fichas de avaliação, listagem dos casais participantes, com relação detalhada dos valores já recebidos e a receber. Sfguindo a orientação, distribuimos as tarefas entre os casais de nossa e'luipe, com a promessa de nos ajudarmos mutuamente em caso de necessidade. A reunião com o Pe. Airton foi realizada na manhã do feriado (para definição do tema e do roteiro), e foi, além de proveitosa, extremamente agradável. O trabalho de preparação de mensagens e crachás, acabou se constituindo num alegre programa de fim de semana. Toda a equipe participou do Retiro trabalhando e usufruindo dos benefícios das pregações, das orações, reflexões, missas e conversas a dois. Falhas? claro que cometemos. Mas contamos com a compreensão de todos os participantes e o mais importante, recebemos a graça imensa de crescer mais ..como cristãos através da ajuda do Pe. Airton, da atenção das Irmãs, do carinho dos irmãos equipistas e muito especialmente de uma mais intensa e estreita união com Deus. "Foi realmente uma experiência nova e muito gratificante!" Obrigado por nos terem escolhido!

e.

Equipe 15-A São Paulo

RETIROS -

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Nos dias 23-24 e 25 de novembro, fizemos .nosso Retiro anual. Pregador: Pe. Dé. Tema central: Obras de Misericórdia Materiais e Espirituais, vivenciadas pelos equipistas na família, nas ENS e na comunidade. Riqueza incalculável! .. . Toques de conversão! .. . Minha descoberta: Tenho tomado banho de chuveiro nas ENS. (Vital) Meu propósito: Vou mergulhar de cabeça na piscina das ENS. (Vital) Isto foi uma OPÇÃO muito sig.niciativa para mim. Que os irmãos me ajudem nesse mergulho, nessa cami-nhada apostólica! Rezem por nós, Dorinha e Vital

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INTERNACIONAL

"DE ARECIBO AL CRISTO REY" Não é a primeira vez. Sempre que devemos viajar a serviço das Equipes topamos com mil e uma dificuldades. Até parece que o Demo se mete no meio para atrapalhar tudo. O ano passado, por exemplo, a mãe de Esther faleceu três dias antes da partida. Este ano, apesar de solicitarmos reserva uns dias antes, não havia jeito de conseguir lugar nos aviões. Todos estavam lotados. Vejam o nosso desespero: d.evíamos estar em Porto Rico, o mais tarde, no dia 23 de julho para, 3 dias depois, iniciarmos a Sessão de Formação, a segunda que ali realizávamos. Mas a Varig só nos garantia lugar para o dia 27! A preocupação era, assim, grande e justificada. Decidimos apelar para a ajuda de toda a corte celeste, o que deu certo, como não podia deixar de ser: a agência de viagem nos chamou para anunciar que, se estivessemos de acordo, podíamos seguir para Bogotá no dia 13 e, cinco dias depois, de lá para San Juan. Claro que aceitamos. Isso ocorreu, entretanto, no dia 10, exatamente 3 dias antes do embarque. Só então retiramos os ·passaportes da gaveta. Aí a surpresa: eles estavam vencidos! Não havia outro jeito senão tirar novos. Entre os documentos exigidos para tanto figura a comprovação de que se votou nas últimas eleições. Lá fomos procurar a "tirinha" que serve de prova. Mas onde estava o malfadado papelucho? · Procuramo-lo por toda a noite em vão. NoY:a e angustiada convocação da corte celeste resolveu o impasse: milagrosamente uma funcionária do cartório eleitoral, que só abre ao meio-dia, resolveu colocar seu serviço em dia justamente às 8:30 da manhã, quando ali chegamos. Entendendo nossa situação deu-nos um novo "papelucho" que nos habilitou correr .para a Polícia Federal. Pouco depois do ·almoço já estávamos de posse do .novo passaporte, ainda atordoados com o problema. A "agonia" não terminou aí: ao sairmos para o aeroporto, em eima da hora, a Polícia parou o nosso carro em uma dessas "batidas" gerais para examinar desde os freios até o último documento. E não houve meio de fazer o guarda comover-se com a nossa aflição e o medo de perder o avião ... A sorte é que pudemos pàssar 5 dias em Bogotá recuperando-nos da correria desgastante. E assim conseguimos chegar a Porto Rico com tempo suficiente para acabar a preparação das "jornadas" e nos entrosarmos com a eficiente e dedicada "equipe de servido".

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A sessão, ao contrário do que ocorreu no ano anterior, realizou-se em uma casa de retiros muito boa, pertencente à diocese de Arecibo. Todas as vagas foram tomadas pelos 23 casais participantes e os 8 da equipe de serviço. Lamentavelmente 2 casais da República Dominicana não puderam comparecer porque não. obtiveram o visto de saída. De lá veio apenas o P. Victor, jovem e simpaticissimo sacerdote que a todos encantou com a sua admirável simplicidade. Acabou sendo o único padre presente pois, no último momento, o "conciliário" da ' sessão, por graves motivos, ocorridos pouco antes, não .pode comparecer. Dos participllilltes a grande maioria era constituída de casais jovens, com o máximo de 5 anos de matrimônio. Basta dizer que quatro deles eram filhos de equipistas. Quanto às "jomadas" foram elas, em seus quatro dias, inspiradas pelo "segundo aliento" e marcadas pela idéia de espiritualidade conjugal. Dentro desta ótka é que olhou-se a história das Equipes, ressaltando-se o seu carisma funcional, o que nos levou a examinar o método e a disciplina do Movimento como meios a serviço da vida do casal dentro e pelo sacramento do Matrimônio. Após cada palestra seguia..se uma longa meditação conjugal, tal como procuramos demonstrar na Carta Mensal de rnaio/90 (pág. 13). Por este motivo as ·palestras nunca ul.trapassaram os 45 mí,nutos previstos, justamente para deixar um largo tempo para a reflexão sob o influxo do Espírito Santo: cerca de 1O minutos dedicados à meditação pessoal seguidos de 30 a 45 minuto~ de reflexão a dois. Chamou-nos a atenção, de modo particular, o impressionante silêncio observado pelos casais durante a reflexão individual como também depois, onde só se via o casal dialogando entre sí, sem nunca ter-se formado grupinhos de "bate-papo" entre dois ou mais casais. Como consequência os dois grupos de "puesta-en...comum" - um depois do almoço, outro à noite - foram de grande riqueza .e impressionante abertura. Não podemos, entre outros testemunhos, deixar de recordar o rapaz contando sua ingente luta para livrar-se da droga. Ou do outro que, apoiado pela esposa, confessou que bacia cometido adultério e como foi perdoado por sua mulher. Na cerimônia de encerramento, boa parte dos presentes fez questão, na capela, de dizer as coisas boas que ouviu do Senhor ou o que pretendia fazer, dali para a frente, para o crescimento de uma espiritualidade a dois. A nós, .como "prêmio" foi.,nos oferecido um carro para que, junto com nosso filho João Luis, pudéssemos percorrer boa parte da ilha, aproveitando sempre as belas praias do Cal'libe. Depois do merecido passeio voltamos a Bogotá. ~ preciso, porém, confessar que <.:hegamos de volta à capital colombiana cheios de receio e temor. Não da guerrilha ou das bombas do nar<.:o·<tráfico. O medo era mesmo da sessão, a décima que realizávamos alí. Esta, todavia, era dist~nta das anteriores ·porque se tratava da primeira de 2. 0 grau, destinada a animar àqueles que há anos trabalham no movimento.

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Aí ·também o enfoque foi .tomado do segundo alento visando um apro· fundamento de ·nossa espiritualidade. Partindo da visão bíblica do casal e da sexualidade, apresentada nos dois primeiros ~apitulos do livro do Gênesis, buscou-se em primeiro lugar, desenvolver a ''teologia do corpo", como gosta João Paulo 11 de designar o ass~to. Depois de examinar sucintamente, de uma forma existencial, a noção de sa~ramento e graça, entramos na análise do que S. João Cris6stomo chama de "sa~ramento do amor", de onde brota toda a espiritualidade do cr:istão casado. Para levar mais adiante o tema, procuramos esmiuçar, de maneira prática, em que se constitui o amor conjugal. Especial relevo foi dado ao aspecto da amizade íntima que se constrói, acima de tudo, através do diálogo cujo "momento de mámna densidade sacramental" no dizer de Paulo VI às ENS, é o encontro sexual. A Sessão, realizada nas magníficas instalações da "Casa de Ejercicios de Cristo Rey", foi feita com a ~a lotada. Afora os 50 casais que compareceram, vários outros ficaram na "fila de espera", torcendo por alguma desistência de última hora. Eram casais de todas as cidades onde o Movimento atua, sendo que a grande maioria pertencia a Bogotá, pois ali é que as equipes mais se difundiram. Destaque especial merece a presença dos 3 conselheiros espirituais que, além de participarem da SessãQ, encarregaramse da liturgia e de 3 palestras sobre a necessidade da oração e da leitura da Palavra. Mais ainda que em Porto Rico, por tratar-5e de uma Sessão de 2. 0 grau, a meditação ~onjugal preencheu a maior parte do tempo. Para ajudar o trabalho dos ~asais, ao final de cada ~~tlestra, era distribuído um resumo escrito ~om a indicação dos textos bíblkos pertinentes ao assunto tratado, bem como algumas .perguntas concretas que serviam de pista para reflexão pessoal e a dois. Estas, por sua vez, serviam de guia para a troca de idéias nos grupos de coparticipação. O .tema sobre o amor conjugal, com seus desdobramentos, orientou um largo dever-de-sentar-se que se prolongou por quase todo o último dia. A missa de encerramento compareceu o Bispo auxiliar eru::arregado, na arquidiocese de Bogotá, da pastoral familiar e antigo e dedicado conselheiro de uma das equipes bogotanas. As palavras que proferiu durante a homilia estavam verdadeiramente inspiradas, fechando as "jornadas" com chave de ouro: .inspiradas porque foi um fecundo e aprofundado apanhado de tudo o que se disse e se fez nos 4 dias. Para finalizar não podemos dhlxar de contar o presente que a equipe 14 de Bogotá nos ofereceu, em uma demonstração de carinho e amizade. Corno sabiam que, em nenhuma das 12 vezes que visitamos a Colômbia, nos foi impossível conhecer Cartagena de tndia, bela cidade colonial hoje declarada pela Unesco patrimônio da humanidade, tal como a nossa Ouro Preto, os membros daquela equipe decidiram nos propiciar uma excursão àquele que foi o mais rico e importante porto da América espanhola. Foi assim que, na agradável e fraterna companhia de 2 casais daquela equipe, passamos cinco inesquecíveis dias em um hotel 5 estrelas, com ,praia par-

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ficular onde pudezos gozar as deliciosas e tépidas águas ·'caribeíias". Em um dos dias nos levaram de barca ao "achipelago dei Rosario", distante umas duas horas de Caragena, onde nos foi dada a ventura de dormir, numa enfeitiçada noite de lua cheia, em uma ilhota de corais de apenas 60 m 2, jogada em um mar absolutamente transparente, de uma inebl'iante cor verde esmeralda. Como é fácil perceber, a muita pouca gente é dado usufruir um espetáculo igual. Moral da história: quem ,trabalha pelo Reino de Deus, com dedicação e amor, já começa a receber a sua paga aqui na terra mesmo. Esther e Luiz Marcelo Azevedo Equipe 4 - S. Paulo - A

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CORREIO

Parece que nestas férias o pessoal se ·animau e resolveu mandar-nos umas <:ar·tinhas. Como seu conteúdo nos. animou bastante, achamos interessante dar-lhes resposta por aqui mesmo.

redação da Carta Mensal: Com enorme proveito temos incluído, em nossas reumoes, espaço suficiente para um resumo e comentários sobre- a Carta Mensal. E impressionante como a iniciativa acentua a importância e profundidade de todos os artigos e testemunhos publicados. Pelo muito que temos recebido, cumpre-nos no mínimo transmitir-lhes o fato. ( .. . ) . Equipe N. S. das Famílias - N. 0 8, Setor D São Paulo, S.P. "A Carta Mensal de Setembro que contém belíssimas informações e auja leitura. inclusive o Editorial, é recomendada pelo Movimento ( ... ) destaca-se por vários assuntos: primeiro pelo seu Editorial - cuja leitura é obrigatória - que nos fala sobre a sexualidade no matrimônio, ainda não bem compreendida pela maioria dos casais; depois,. pelo belíssimo artigo de Peter, que lamentavelmente não sabemos se é leigo equipista ou religioso, sobre "sapos e outros bichos", que; lembra uma fábula" . Recorte do jornal "A Voz de Nazaré", de Belém, PA na coluna 'Atividades das Equipes de Nossa Senhora', coordenada por Terezinha e Calandrini, da Equipe 2/B. À

Caros amigos, o Peter e a Helene são equipistas de São Paulo, da equipe 3/ D. Estão no ; Movimento há 32 anos, são coordenadores da Equipe da Carta Mensal e agradecem a gentil referência.

Aos participantes da Equipe da Carta Mensal: ( ... ) Entendemos profundamente o artigo "Pegou Fogo no Circo"; onde há um pouco de tristeza, por sabermos que um trabalho de qualidade. muitas vezes, é desperdiçado pelos próprios equipistas que ape. nas recebem a Carta Mensal, mas não dão a importância devida. Lucia e Luiz Antonio Morais Equipe 38 - Rio de Janeiro (Ilha do Governador) Caros Lucia e Luiz, se é verdade que neste campo também seria interessante se todos passassem de "consumidores" a "participantes", não era nossa inten:ção queixar-nos. Como vocês, continuamos trab".aahando pelo reino de ·Deus . . .

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CORREIO

Com relação à matéria .publicada sob o título "Um Caso a Pensar", na C.M. n. 0 269 Nov./90 recebemos dull§_cartas: Na primeira, remetida por Nádia e Orlando do Rio de Janeiro e assinada por vários outros equipistas, dizem eles não poderem calar-se perante o "risco do circo pegar fogo". Acreditam eles que "se ·os articulistas tivessem lido Jo 4.16-18 não estariam tão preocupados com a caridade fraterna e com a segunda inspiração relativamente .;aos casais não casados e rec!'Sados". Não querendo "repetir o que Nosso Senhor disse à Samaritana", dão simplesmente ":a fonte para que, se alguém estiver interessado, possa cotejá-lo com as sucessivas repetições de frases dos articulistas tais corno: Rupert e sua esposa; ele e sua nova esposa; o casal; segundo matrimônio; terminando com uma supérflua invoca~ão ao Espírito Santo para que possa ajudar efetivamente ao casar'. O título da matéria também pareceu-lhes impróprio pois segundo eles "na realidade não há nenhum caso a pensar quando os próprios articulistas reconhecem a impossibilidade de solução na doutrina da Igreja e nos Estatutos do Movimento. "Terminam, citando S. Tomaz: "Quem, em pouco, afasta-se da verdade no princípio, indo além, distancia-se dela dez mil vezes mais". A outra carta foi-nos enviada por Zélia e José Maria Duprat da Equipe OI A. de São Paulo, Capital: . . . "Julgamos, preliminarmente, que todo ser humano tem di·reito à felicidade e ao convívio natural e vivificante com seus semelhantes desde que esse direito não acarrete a infelicidade nem o cerceamento do convívio de ninguém" . .. . . . "Colocada essa premissa caberia indagar duas coisas: a atitude de Rupert .provocou, de alguma forma, a infelicidade de alguém? E mais, a Equipe de que ele fazia parte recebe-lo-á sem qualquer constrangimento, dentro do maior espírito de acolhimento cristão? . . . "O que nos parece contrário ao próprio espírito do nosso Movimento - e de qualquer movimento de espiritualidade leiga - é fechar as portas a alguém que durante tantos anos deu o melhor de seus esforço e dedkação às equipes" . . . . . . "Não vamos apressar o julgamento de ninguém; cada um de nós · terá o seu dia". . . Nota dos Articulistas: Lamentamos se, em qualquer momento, demos a entender aos nossos irmãos do Rio- de Janeiro e talvez a outros leitores que -44-


os casais da antiga equipe de Rupert desejariam que ele reingressasse na equipe vivendo uma união fora do Sacramento do Matrimônio. Isto seria . até uma leviandade partindo de casais com mais de 30 anos de casados e outros tantos de Movimento. Quisemos apenas chamar a atenção para uma realidade que nos cerca e que não podemos ignorar simplesmente excluindo da evangeliza,ção os assim chamados "casais em situação irregular". Não pretendemos formar "Equipes de Nossa Senhora para casais não casados" o que seria um absurdo, mas como cristãos não podemos simplesmente repudiá-los. "Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus". (M.t. 7, 21). Que o Espírito Santo ilumine a todos os equipistas para que possamos ajudar efetivamente a tallltos que não tem a felicidade de viverem as graças do Sacramento do Matrimônio e nem o privilégio de pertencerem às ENS.

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NOTICIAS E INFORMAÇOES

Novas Equipes -

- José Rafael Alves, • Zequinha " (da lvanilde, Equipe 19, Jaú/SP, em 28-10-90. - Ernesto Contato, responsável pelo Setor de Americana 1 SP, em 15·10-90. .

Parelhas/RN

Eq. 03 C. E. : Pe. Raimundo C. P. : Maria e Honorato Eq. 04 . C. E.: Dlác. Tonlnho C .·P. : Antonla Zélia/Moacir -

Mudança nos Quadros

Porto Alegre/AS

. Eq. 57 /C - N. S. Aparecida C . E. : Frei Romeu Rigel C.P. : Graça e Roberto -

Reclfe/PE

Eq. 12 - N. S. Auxlliadora C . E. : Frei José Maria C. P. : Maria José e Alonso (Eq. 09)

Volta ao Pai - Manoel Orval da Rosa, no dia 23-10-90. Equlplsta de Curltlba/PR, voltou ao Pai aos 82 anos. A coluna "VIvência Cristã", da "Gazeta do Povo", com a qual colaboram muitos equlplstas trouxe em sua edição de 11-11-90, matéria de autoria de João Batista Gnoato sobre as Inúmeras atividades religiosas e apostólicas de nosso Irmão Orval. - Edgar Silva (da Malvlna). Equipe 01/A- Alo de Janelro/RJ. - Mltsuro Matsumoto (da Martha), Equipe 04/A - Araçatuba/SP em 25-11-90. - Dulllo D'Angelo (da Marlazlnha), Equipe 01 - Araçatuba/SP em 17-10-90. - · Jair Joslas Basso (da Elisete), Equipe 12 - Jundlaf/SP em 15-10-90, em acidente automobilístico juntamente com suas filhas Raquel e Renata. - Pe. Gerson Galvino, C . E. da Equipe 03/A de Londrina I PR em 29-10-90 . . - Tonlnho (da Magali), Equipe 12, de São Caetano do Sui/SP em 11-09-90.

Novos casais responsáveis de setores : - Setor A de Londrlr.a/PR Maria Lúcia e Pedro substituem M. Cecrlia e Gaspar. - Setor B de Londrlna/PR Lelia e Rilo substituem Salete e Itamar. - Coordenação Norte Parani Suely e Aristides substituem lris e José Carlos. - Setor de Marflla/SP Marilene e Sílvio substituem Vímera e Dirceu. - Setor de Ribeirão Preto/SP Maria Cecília e Luiz Gonzaga substituem Moema e Nelson Augusto. Pe. Tito Marega substitui Pe. José Carlos Tóffoli éomo Conselheiro do Setor. - Coordenação de Santa Rosa do VI· terbo/SP

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Márcia e Antonio substituem Norma e Geraldo. Setor A - Rio 111 Suely e Luiz Carlos substituem Zlna e Eduardo. Setor 18 - Rio 111 Patricia e Paulo Renato substituem Lucíola e Wilson. Setor de Assls/SP Clarlce e Gilberto substituem Lourdes e Mario.

S.O.S. Vestibulandos Casais equlplstas de Sio José do Rio Preto/SP oferecem suas residências e seu apolo a filhos de equlplstas de outras localidades que venham a

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prestar vestibulares naquela cidade. Contatar Roslnha e Anéslo, telefone (0172) 21-2552 ou Sonlnha e Vicente, telefone 10172) 32-8525.

Jovens -

Reclfe/PE

Foram lançadas em 07-10-90 duas EJNS a saber: .. Eq. 1 tendo como "piloto" Antonio Henrique (filho de Zélia e Justlno da Eq. 5) e C. E. o seminarista José Carlos. .. Eq. 2 tendo como "piloto" Cristina (filha de Inês e Adauto da Eq. 2) e C E o seminarista Jaime. - Setor do ABCD, São .Paulo Sul-i Em setembro último realizou-se o 2.0 Encontro de Jovens com Cristo, em São Bernardo do Campo/SP sob a repsonsabllldade da Eq . .05 de Santo André, coordenada por Ver!l e Clóvis (Eq. 12 de São Caetano do Sul) e assistência espiritual do Pe. Ellslo de Oliveira. Colaboraram também o grupo EFTA e as duas Equipes Jovens de Nossa Senhora que nasceram do · 1.0 Encontro realizado em 1989. Participaram do evento 53 jovens que formaram mais quatro equipes que vem se somar às duas já existentes.

Eventos -

Plabet6/RJ Recebemos de Zen1ti e Altemiro uma "carta-balanco • das realizações de 1990 dos equipistas agrupados na Paróquia de São Sebastião. Dentre os eventos realizados destacam-se um encontro de jovens que fez renascer o movimento de jovens naq!l~ra comunidade; um encontro com todos os casais afastados da Igreja; orações; missas campais e casamento. Encerram dizendo que "o tempo passou rápido e

algumas colsas ficaram pendentes • e agradecem a Deus por tudo. TramandafiRS O Setor Leste do Alo Grande do Sul realizou dois retiros espirituais em setembro e outubro de 1990 com a presença de 80% dos casais do Setor; conforme nos relata o C.A.S. Terezlnha e Luiz. O pregador foi Frei Eduardo Aeglnato que abordou os temas: "A Nova Evangelização • I "A Caridade • I "A Eucaristia" I "A Consciência •. - Setor do ABCD, Região São Paulo Sul-i Todo os meses é realizada uma noite de oração para todos os equlpistas do Setor, sendo que a cada mês uma equipe organiza o evento na Igreja do seu Conselheiro Espiritual, o que tem contribufdo muito para o fortalecimento espiritual dos equiplstas. No evento de setembro passado destacou: se a presença marcante do Bispo Dlocesáoo D. Cláudio Hummes que falou sobre o Plano de Pastoral da Diocese de Santo André, conclamando os equipistas a uma participação efetiva. -

FlorlanópollsiSC Nos dias 19, 20 e 21-10-90 realizouse a Sessão de Formação da Região de Santa Catarina, reunindo 25 casais, dois dos quais de Campo GrandeiMS. Os temas abordados foram: "Seguir a Cristo"; "A Vocação"; "A Igreja"; "A Mfstlca das ENS"; "A Missão"; "A Oração·; ·A Esplritualldade Conjugal", procurando transmitir aos participantes os seguintes objetivos: Retomar pontos importantes do Movimento; aprofundar o conhecimento catequético; motivar os calsais e conhecerem melhor o Movimento; Conscientizar o ser Igreja e a participação no mundo; aprofundar o método e o espfrito do Movimento; levar os calsals a vivenciar uma experiência de Deus. O pregador foi Frei Nolvi, C. E. do Setor de LagesiSC. -

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úLTIMA PAGINA

ORAÇÃO DA CF-91 ó Pai, nós vos louvamos parque vos revelastes como trabalhador, criando, conservando a criação, e chamando-nos para aperfeiçoá-la. Vosso Filho e nosso Irmão Jesus também trabalhou com suas mãos, sentiu a resistência da matéria, o cansaço do corpo e o suor do rosto. Nós vos agradecemos pelo trabalho que podemos fazer no campo e na cidade. Por ele ganhamos o pão oara nós e para nossas famflias. Olhai, ó Pai, para todos que querem trabalhar e não podem: Olhai para os desempregados, os doentes, os idosos e os marginalizados. Nós vos pedimos por todos aqueles que criam possibilidades de trabalho. Não os deixeis cair na tentação do lucro Injusto e da exploração. Reforçai a solidariedade entre os trabalhadores e fazei que sejamos solidários com eles. Que nossos instrumentos de luta pela dignidade do trabalho ajudem a construir o bem de todos. Dai-nos compreender que nossos irmãos trabalhadores mais sofridos formam o corpo crucificado do Senhor Jesus, que grita e quer ressuscitar na fraternidade e na liberdade. Nunca nos deixeis esquecer que, pelo trabalho, ajudamos a construção do vosso Reino, que já começa aqui na terra e se completará com a vinda gloriosa do Senhor. Tudo isso vos pedimos ó Pai, que trabalhais desde toda a eternidade, oor Vosso Filho e nosso Irmão Trabalhador, na força do Espfrito Santo. Amém.

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MEDITAÇÃO E ORAÇÃO Sugestão para o mês de março

Texto de Meditação: Marcos 8-34, 38 Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: "Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, per· dê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida? Ou que dará o homem em troca da sua vida? Porque, se nesta geração· adúltera e pecadora alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os seus santos anjos. Oracão Liturgica

Agradecemos a Deus Pai, que pela descida e atuação do Espírito Santo purifica nossos corações e os confirma na caridade. E lhe supliquemos: R. Dai-nos, Senhor o vosso Espírito Santo. Ajudai-nos a receber de vossas mãos todos os bens, sempre de coração agradecido, e aceitar com paciência os sofrimentos; R. Dai-nos, Senhor o vosso Espírito Santo. Concedei-nos ter caridade não só nas grandes ocasiões, mas principalmente no cotidiano de nossa vida; R. Dai-nos, Senhor o vosso Espírito Santo. Que com vosso auxílio saibamos renunciar ao supérfluo, para podermos ir em axílio de nossos irmãos necessitados; R. Dai-nos, Senhor o vosso Espírito Santo. Dai-nos trazer em nosso corpo a mortificação de vosso Filho, vós que nos destes a vida em seu corpo; R. Dai-nos, Senhor o vosso Espírito Santo. Oremos: O Deus, que para remédio e salvação nossa nos ordenais a prática da mortificação, concedei que possamos evitar todo pecado e cumprir de coração os mandamentos de vosso amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.


ORAÇÃO DAS EQUIPES AO ESPíRITO SANTO Espírito Santo. Vós sois o alento do Pai e do Filho na plenitude da eternidade. Vós nos fostes enviado por Jesus para nos fazer compreender o que ele nos disse e nos conduzir à verdade completa. Vós sois para nós sôpro de vida, sôpro criador, sôpro santificador. Vós sois quem renova todas as coisas. Vos pedimos humildemente que nos deis vida e que habiteis em cada ur:n de nós, em cada um de nossos lares, e em cada uma de nossas equipes, Para que possamos viver o sacramento do matrimônio cómo um lugar de amor, um projeto de felicidade, e um caminho para a santidade. Amém.

EQUIPES DE NOSSA SENHORA 01050 Rua João Adolfo. ll 8- 9' - cj. 901-Tel. 34·8833 São Paulo - SP


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