ENS - Carta Mensal 267 - Setembro 1990

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RESUMO O Editorial deste mês reúne alguns trechos de uma palestra do Pe. Caffarel, referentes ao que as Equipes são chamadas a aprofundar, para melhor cumprir com sua vocação e missão na Igreja .... . . . . ............ . .. . . . Beth e Romolo, Casal Responsável da ECIR, nos falam de sua participação na reunião do colegiado ERI/ Super-Regionais, em Sintra, Portugal . . . . . . . .

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Por que agir solidariamente? ~ o questionamento que a segunda parte de um artigo de D. Raimundo Damaceno Assis, sobre Igreja: Comunhão e Missão nos traz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Através de participação em pesquisas, presença e atuação concreta em encontros da CNBB, colaboração com o Pontifício Conselho da Família, as ENS se inserem cada vez mais na Igreja . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A seção "Questões atuais", após questionar-nos sobre a missão e a vocação do casal cristão hoje, nos apresenta uma síntese das respostas recebidas pela CNBB a uma consulta feita sobre Pastoral Famíliar e nos traz uma mensagem do Cardeal Danneels a respeito dos casais separados . . . .

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Será que somos como os sapos, que não reagem quando são cozinhados em fogo brando? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O amor conjugal sustenta um leproso no seu sofrimento . . . . . . . . . . . . . . . .

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Testemunhos sobre diversos aspectos da vida de Igreja e da vida de equipe, por casais, sacerdotes; trechos de uma carta recebida, a partir da página 21 Indicações de alguns livros para nossa leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Notícias e informações sobre Setores e Regiões . . ..................... .

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Sugestões para nossas meditações e orações em Equipe

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Na última capa, a ORAÇÃO DAS EQUIPES AO ESPIRITO SANTO

SEGUNDA INSPIRACAO "'

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MULHER E HOMEM: IMAGEM DE DEUS


EDITORIAL

O QUE NÃO FOI BEM APROFUNDADO. .. Em maio de 1987, numa reunião de Responsáveis Regionais da Europa, o Pe. Caffarel expôs uma série de reflexões sobre a caminhada do Movimento, desde a sua fundação. Esta conferência já foi amplamente divulgada entre nós, mas não nos parece excessivo publicar aqui, como lembrete e a título de Editorial, alguns trechos da mesma. Após deter-se sobre a história do Movimento e falar do que, a seu ver, tinha sido bem assimilado do carisma fundador, Pe. Caffarel aborda alguns aspectos do que ainda precisa ser aprofundado:

Em primeiro lugar, entusiasmado com [os primeiros] jovens casais, tão ricos de amor, eu tinha pensado que o amor seria o grande fator de perfeição e que bastaria dizer-lhes: "Sede fiéis ao amor!" Não me tinha lembrado dos meios que Cristo dá aos que querem tender à perfeição : o amor e a abnegação. Deus quer a perfeição do cristão, quer a perfeição do casal, quer que o ser humano se torne perfeito e essa perfeição só poderá ser obtida pela fidelidade ao amor e à abnegação, ou seja, ao dom de si e ao esquecimneto de si. O amor e a abnegação são as duas faces de uma mesma moeda. Não há amor sem abnegação, e uma abnegação que não seja uma abnegação de amor, é uma abnegação impossível de se praticar. Refletindo sobre isso, compreendi que o Senhor inventou o matrimônio com grande meio de desenvolver o amor e como grande meio de favorecer a abnegação. Compreendi que a abnegação não deve estar ao lado do amor, que a verdadeira abnegação é precisamente impormo-nos um nunca cessar de amar, um viver incessantemente em atitude de "para ti" e nunca em atitude de "para mim". Para caminharmos nas estradas da terra, o Senhor deu-nos duas pernas. Para caminharmos nas estradas da santidade, o Senhor deu-nos dois meios: o amor e a abne-

gação. ( .. . ). Segundo ponto que não foi visto de maneira suficientemente clara: a sexualidade no matrimônio. ( ... ) Não aprofundamos o problema, não aprofundamos o sentido humano e o sentido cristão da sexualidade. Não ajudamos suficientemente os membros das E.N.S. a alcançar a perfeição da sexualidade, a perfeição cristã da sexualidade. 1-


[Em 1970, lançamos] um grande inquérito, que comportava umas cem ou cento e cinqüenta perguntas sobre a vida sexual de cada um dos membros das Equipes, com a minha garantia expressa de que o anonimato seria rigorosamente respeitado, mas pedindo-lhes que respondessem com toda a franqueza. E recebemos mais .de meio-milhar de respostas a essa pesquisa. Eu não sou nenhum 'coroinha', já recebi confidências de muitos casais, mas não tinha uma visão de conjunto da vida sexual dos casais, desta categoria de "casais das Equipes". Fiquei abalado e continuo muito impressionado. A primeira coisa que me impressionou fortemente é o mutismo dos pais a respeito do assunto. Uma negligência de 95%. Vocês me dirão: "Essas respostas são de 1970, não são de casais de 1987". Duvido, porém, que haja atualmente um progresso muito grande nesse campo. Portanto, mutismo dos pais, o que quer dizer dificuldade da maior parte dos filhos, rapazes e moças, o que quer dizer dificuldades de que eles não ousam falar, o que quer dizer culpabilização, o que quer dizer muitas vezes culpabilização neurótica. Impressionam-me essas perturbações da infância, essas consciências perturbadas durante anos , o que quer dizer namoros e noivados mal vividos, porque os pais não dizem nada e os padres não dizem muito mais. Um grande número de noivados são mal vividos, porque os noivos não sabem exatamente, como eles dizem, "o que é permitido e o que é proibido" . Começo do casamento muitas vezes catastrófico, a um ponto que eu não supunha, porque não se fala do assunto. A harmonia sexual raramente alcançada no começo. Muitas vezes, é preciso esperar dois ou três anos, por vezes dez, quinze, e, em muitos casos, jamais se realiza. Desse inquérito também verifiquei que o sentido cristão da sexualidade é quase totalmente ignorado dos casais das Equipes. A maioria dos casais que responderam - agora isso já mudou tinham uma grande preocupação de respeitar o que eles chamavam "a lei da Igreja" . Conseguiam-no dificilmente, frequentes vezes com muita importância e talvez revolta, mas não se preocupavam com a qualidade humana da relação sexual. E compreendi ( ... ) que não pode haver uma verdadeira moralidade da sexualidade, se não houver uma qualidade da sexualidade. ( . .. ) [O que quero dizer-lhes], é que é absolutamente necessário guiar os casais para a perfeição humana da relação sexual e para a perfeição cristã da relação sexual.

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LIGANDO O BRASIL E O MUNDO Estivemos em Sintra, Portugal, para levar um pouco da v1vencia das equipes brasileiras e partilhá-la com espanhóis, colombianos, ingleses, americanos, franceses, belgas, alemães, portugueses, poloneses e australianos no encontro que reuniu o colégio ERI-Supra-Regionais e responsáveis por regiões isoladas. Este encontro foi marcado pela vivência da unidade na pluralidade: entre pessoas de tantas línguas, culturas e costumes havia um denominador comum - a mesma convicção de que somos chamados a viver e testemunhar nossa fé no amor conjugal habitado pelo Cristo. . Versamos sobre vários assuntos estruturais como a ligação e a comunicação, sempre tão difíceis, uma vez que queremos comunicar fé e vida e isto exige mais do que palavras, uma espécie de contágio que advém da convivência, do estar perto. "Comunicar é tomar a iniciativa de me aproximar do outro e ouví-lo; é mais do que falar" nos dizia Padre Victor. Assim todo serviço, toda missão que se assume no movimento tem um sentido horizontal de ligação entre pessoas e não apenas de ligação entre funções. Outro assunto que nos envolveu muito foi a análise do Projeto "Evangelizar a Sexualidade" que já se encontra em sua elaboração final e que estará entre nós no próximo ano, nos desafiando para uma vivência profunda da sexualidade humana, nos levando a compreendê-la sob as luzes dos valores evangélicos. Embasando os trabalhos desses quatro dias estiveram as palavras e liturgias dirigidas por Padre Olivier que nos conduziram à melhor compreensão da Corporeidade. Ele nos fez questionarmos antigos esquemas mentais arraigados em nós e que nos fazem suspeitar do nosso corpo, desvalorizando-o em relação ao espírito, uma vez que somos tentados a dividir o homem em corpo e alma. Na visão da Bíblia, a palavra "carne" refere-se ao homem inteiro porém considerado em sua fragilidade e a palavra "espírito" se reporta ao homem inteiro habitado por Deus. Assim o homem na sua totalidade pode ser carnal ou espiritual e isto apenas depende dele se deixar habitar ou não pelo Espírito Santo. E padre Olivier nos exortou: "Habite seu corpo. Esteja em casa em seu corpo. Quanto mais estranhos formos ao nosso corpo, mais estranhos seremos à vida. Façamos dele um aliado; afinal nosso corpo é Templo do Espírito Santo e membro do Corpo de Cristo". Beth e Romolo -

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IGREJA: COMUNHÃO E MISSÃO 11 Esta é a segunda parte do artigo de Dom Raimundo Damaceno Assis, que começamos a publicar no último número da Carta Mensal.

Por que agir solidariamente? Quais são as razões para os cristãos agirem solidariamente ou em conjunto? A Exortação Apostólica Christifideles Laici enumera algumas. A primeira, seria a própria natureza social do homem. O homem é um ser social, e como tal tem esta tendência de se agregar, de formar comunidades, de se juntar aos outros, de se solidarizar com os outros, de se unir, de se agrupar. Isto , portanto, é da natureza das pessoas, que não são seres solitários. Dependemos dos outros para sobreviver, para nos desenvolver. E por esta razão que nascemos no seio de uma família, de uma comunidade. Dependemos dos pais para nos desenvolver. Por seu turno, a própria família vai precisar de outras pessoas, de outras comunidades maiores, de outras famílias. Neste sentido, ela vai se unir para formar uma comunidade mais ampla. A segunda razão, diz respeito à eficácia da ação solidária, do conjunto. Esta ação é mais efetiva quando agimos comunitariamente, através de movimentos, por exemplo. Uma ação isolada é menos efetiva e eficaz. Os casais das ENS têm esta experiência de atuar de forma associada, em equipes. O Movimento demonstra a sua eficácia pela atuação de vários casais conjuntamente. O agir associado favorece o viver como cristãos; favorece no empeporque vivemos num mundo secularizado, menos sensível à religião, aos valores religiosos, menos sensível à Deus. O agir associado favorece o viver como cristãos; favorece no empenho apostólico e missionário. Isto porque podemos nos sentir ajudados, apoiados num mundo por vezes indiferente aos valores cristãos e religiosos, quando nos reunimos em grupos, em equipes. Junto com outros casais e famílias cristãs podemos ser mais apostólicos, mais atuantes na Igreja de Deus. Nas ENS podemos sentir isto com bastante facilidade, especialmente neste mundo tão avesso a Deus, tão indiferente aos valores do Evan· -

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gelho, onde Deus está menos sensível, onde os homens não praticam tão claramente sua religião. Nos associamos, portanto, para ter mais coragem para enfrentar as dificuldades, porque assim não nos sentimos sozinhos, e assim também temos menos chances de desanimar. A quarta razão é de ordem teológica. Este agir solidário dos cristãos é sinal de comunhão e de unidade com Cristo e dos cristãos entre si. Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles. Portanto, na medida em que agimos em conjunto, temos a certeza de que Cristo está conosco, de que estamos em comunhão com Cristo. Aprouve a Deus reunir os cristãos num só povo, num só corpo, numa só Igreja. Deus, no seu plano, quis reunir os cristãos num só povo (Povo de Deus) e num só corpo (Corpo de Cristo). Deus não quis salvar os homens individualmente. Quis salvar os homens como um povo, reunido e congregado. Este nosso agir solidário tem a sua razão de ser em termos teológicos. Deve ser interior, porque estamos ligados uns aos outros pela graça (pelo Espírito Santo), mas também deve se manifestar exteriormente, no nosso agir, em ações concretas na nossa comunidade, na Igreja, de forma solidária com e como Povo de Deus. Cristo nos congregou como povo. Não quis salvar as pessoas individualmente .

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CAMINHANDO COM A IGREJA

A CNBB chama-nos à participação! Recebemos um questionário que visa a preparação das novas Diretrizes de Ação Pastoral da Igreja no Brasil para o próximo quadriênio. E com alegria que respondemos pois por mais este meio os leigos participam de forma sistemática na elaboração das diretrizes. Este primeiro questionário apenas procurou verificar até onde as diretrizes do quadriênio anterior foram eficazes e levantar algumas preocupações mais amplas. A ECIR respondeu o questionário à CNBB tendo por base o esforço desenvolvido pelo movimento para que as diretrizes e os documentos eclesiais alcancem a todos os equipistas. Agora coloca-se a oportunidade, com o questionário reproduzido em frente, para cada casal observar se foi efetivamente informado sobre essas diretrizes e documentos, e ainda, se deu junto com sua equipe a importância às diretrizes, afim de viver como um Povo, Povo de Deus.

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DIRETRIZES PASTORAIS DA IGREJA NO BRASIL {1991-1994) AVALIAÇÂO DO PER10DO 1987-1990 Questionário para Conferências, Organismos e outras Entidades Eclesiais 1. As DIRETRIZES da Ação Pastoral da Iqreia no Brasil foram estudadas pela sua entidade?

O

D

Em parte Não [~ ] Sim 2. Se afirmativa, tiveram influênc~a na elaboração dos seus projetos, na orienxação da entidade?

programas,

O Não O Sim Como se manifesta: 3. Quais das 6 linhas ou dimensões da Ação Pastoral da Igreja do Brasil {dimensão comunitária e participativa, missionária, catequética, litúr gica. ecumênica e de diálogo religioso. profética e 'transformadora) me receram maior enfoque da sua entidade? Cite 2: 1.

2. 4. Os Documentos elaborados nas Assembléias da CNBB no quadriênio ~87-1990 foram estudados pela sua entidade? Para cada Documento abaixo assinalar sim ou não. Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil {1987) Não

O

Igreja:· Comunhão e Missão {1988)

Sim

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Exigências éticas da Ordem Democrática {1989)

D

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Não

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Não

Animação da Vida Útúrgica {1989) Sim Não Que outros Documentos eclesiais foram estudados pela sua entidade neste período? Cite 2: 1. 2.

Qual a metodologia u s a d a ? - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 5. Na realidade em que você vive que situações devem merecer mais preocupação ou atenção da Igreja do Brasil nos próximos anos?

Merecem mais preocupação:

Novas Situações Merecem também atenção

6. Que propostasfazem para enfrentar estas situações? Cite 3: l.

2. 3. 7. Nome da Entidade ou Organismo: 8. Quem 8 .1. 8. 2. 8.3. 8. 4.

respondeu ao Questionário: Diretoria ou Presidência O Equipe executiva Conselho da entidade Outros .•.

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CAMINHANDO COM A IGREJA

Reuniu-se a Coordenação Nacional de Pastoral Familiar em um Encontro Nacional de Movimentos e Institutos Familiares, em Brasília. Lá estiveram presentes muitos casais das ENS levados por diversas funções, que assumem nas pastorais diocesanas ou em outros movimentos, nesse esforço de inserção na caminhada da Igreja, além de Maria Regina e Carlos Eduardo, da ECIR, que representaram especificamente as Equipes . E interessante destacar as palavras de D. Marcelo Carvalheira (Bispo da CEP, responsável pelo Setor Família) abordando a necessidade de situar-se a Pastoral Familiar no contexto concreto do Brasil, referindo-se à Nova Evangelização: "O que é evangelização? E o anúncio da Boa Nova do Reino de Deus. No início, foi apenas anúncio; mais tarde viveu-se uma como que re-evangelização ou seja, procurou-se suscitar um compromisso com a fé . Atualmente a evangelização é muito mais abrangente; é a fé penetrando todos os ambientes de vida (social, política, etc.) . Libertação é uma dimensão necessária da evangelização." Os participantes analisaram um texto intitulado " Pastoral Familiar - Reflexões e Propostas - Setor Família - 1990", para o qual nós contribuímos respondendo um questionário que nos foi endereçado pela CNBB, no ano passado. Este texto, depois de receber colaborações de várias pessoas, será publicado na série Estudos da CNBB. Será de grande utilidade para todos que se preocupam e trabalham com famílias porque coloca os problemas atuais em dimensões realistas oferecendo caminhos concretos .

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O Pontifício Conselho da Família que se reune uma vez por ano junto ao Papa para assessorá-lo em assuntos familiares, versou este ano sobre a "Formação do sacerdote com vistas à Pastoral Familiar" já em preparação ao Sínodo de 1991 que se preocupará com a formação sacerdotal. Cidinha e lgar, que junto com outros casais lá estiveram representando a América Latina, sentem a dificuldade que há na compreensão da vida familiar e dos valores que vivemos neste lado do mundo.

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QUESTOES ATUAIS

VOCAÇÃO E MISSÃO DO CASAL CRISTÃO, HOJE A maioria dos leigos adultos que compõem a Igreja são casados. Não estaria na hora de fazermos uma reflexão específica sobre a vocação e a missão dos leigos casados? Ou, melhor ainda, sobre a vocação e a missão do casal, na Igreja e no mundo? De forma geral, os pastores e os teólogos se preocupam apenas com os indivíduos que formam o casal. Pouco ou nada se tem falado do próprio casal como criatura de Deus, como realidade integrante do plano de Deus. "Homem e Mulher Ele os criou .. , e Ele viu que era muito bom". Num artigo publicado na revista Alliance, o equipista francês Jean Allemand diz: [A reflexão sobre a vocação e a missão dos leigos casados] não pode ser feita sem relacioná-la com a sexualidade. O Criador quis o ser humano homem e mulher. E colocou entre eles uma forte atração que os impele a constituir um casal". A condição física, o fato de ser do sexo masculino ou feminino marca profundamente a condição psíquica e a condição espiritual do ser humano. B impossível desvincular estas condições cujo conjunto acaba formando a realidade de cada um de nós. Logo, parece bastante importante que antes de falar do amor humano, ou mesmo antes de falarmos de casal, antes de qualquer pronunciamento de grandes certezas absolutas, nós, como Igreja, nos questionemos sobre certos aspectos da sexualidade. E de como, através do matrimônio, o plano de Deus contempla a santificação do casal através, exatamente, de sua sexualidade. Até para que sejamos mais coerentes. Algumas perguntas com as quais a gente se defronta em pesquisas recentes poderiam, talvez, ser melhor respondidas, se dedicássemos um tempo maior à meditação e à reflexão sobre a sexualidade, sobre o plano de Deus para o casal humano. Por exemplo: "Como a Igreja entende o sexo: como meio de procriação ou como expressão do amor do casal?" "A Igreja condena as relações sexuais pré-matrimoniais, mas aceita tranquilamente o casamento de grávidas". "Não estaríamos criando uma oposição muito radical entre métodos naturais e não-naturais, para evitar nascimentos? Os primeiros, na-

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turais, quando sistemáticos, sem abertura ao cônjuge e ao filho possível, são iguais aos contraceptivos. . . Estes, por sua vez, quando usados com conteúdo de verdadeiro amor e de bom senso, podem permitir que se mantenha a abertura ao cônjuge e ao filho possível ... " "I?. possível existir uma amizade pura e verdadeira, sem risco de adultério, entre um homem e uma mulher? E se surgir, deve ser sacrificada tal amizade, para salvaguardar o equilíbrio de cada um face à sua vocação própria? Ou seria o caso d~ fortalecer sem receios e de encorajar essa amizade, para completar aquilo que o cônjuge não pode dar? E com que riscos?" O mundo, em torno de nós, nos questiona. A realidade que vemos e a fé que professamos não combinam. Por um lado, somos chamados a testemunhar por meio de atitudes mais firmes do que nunca. Mas por outro, nossas respostas devem ser cada vez mais convincentes. Respostas semi-decoradas de catequese não servem mais. Talvez seja essa a nossa vocação atual e nossa missão mais premente: questionar-nos, refletir em conjunto, para dizer ao mundo, pela palavra e pela ação, o que significa ser casal cristão; como a sexualidade pode ser caminho de santidade .

-oOoNas próximas páginas, ainda dentro do tema "Questões atuais", apresentamos uma síntese das respostas à consulta da CNBB sobre Pastoral Familiar, à qual muitos casais das Equipes responderam . Alguns pontos devem ser esclarecidos a respeito desta síntese. a) E impossível traduzir, num curto resumo como este, toda a riqueza de testemunhos, de contribuições e de opiniões que foram encontrados nas respostas. Trata-se realmente de uma síntese, que procura reproduzir apenas os pontos que pareceram mais relevantes, nas respostas. b) Estão reproduzidas aqui as sínteses das respostas às 1.a, 2.a, s.a e 6.a perguntas. As demais serão publicadas em próximo número da Carta Mensal. c) Para cada pergunta, são apresentadas duas colunas: à esquerda, os principais pontos citados em resposta às perguntas formuladas na consulta; à direita, alguns comentários, pinçados no meio das respostas, que vêm, de certa, forma, corroborar e completar os pontos citados. d) B importante lembrar que as respostas não representam necessariamente a opinião dos equipistas e sim a percepção que têm da opinião dos casais e das famílias de seu conhecimento ou de sua convivência. Sugere-se a leitura atentei e a meditação, individual, em casal e em equipe dos fatos apontados pela consulta. -

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RESPOSTAS À CONSULTA DA CNBB

sobre PASTORAL FAMILIAR t.• Pergunta: - Quais são os ensinamentos da Igreja que são difíceis de aceitar, entender e viver pelos casais e familias em geral? Explique cada um.

PONTOS CITADOS

COMENTÁRIOS

I. GERAL - Desconhecimento da Igreja e dos seus ensinamentos. - Desconhecimento do que é um Sacramento. - Superficialidade cada vez mais generalizada levando à falta de compreensão e à rejeição a priori dos ensinamentos. - Falta de clareza - ou mesmo ambigüidade - nO/seio da própria Igreja, em relação à moral conjugal.

li. INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMONIO - Não-aceitação de uma segunda união. - Não-admissão dos divorciados 'recasados' à Eucaristia. - Marginalização dos divorciados, 'descasados', separados. - Desconhecimento / dificuldade para se obter a declaração de nulidade. (" III. FIDELIDADE - Condenação das 'experiências extra-conjugais' e da liberdade sexual. IV. ANTI-CONCEPÇÃO/ REGULAÇÃO/ SEXUALIDADE Proibição do uso de meios artificiais e da esterilização/ dificulda-

- A Igreja é vista como 'ditadora de normas' e como 'repressora da moral'. - Os Sacramentos são vistos como rituais ou atos sociais. - A informação religiosa é mal transmitida, deturpada, cheia de interpretações pessoais e de natureza 'sentimental' (" achismo "). - Papel nocivo dos meios de comunicação. - Necessidades de buscar critérios mais conformes à misericórdia de Deus. - A rigidez das posições da Igreja leva os casais a se afastarem dela, a procurar outras religiões, a casar somente no 'civil', a cohabitar. - H á.uma falsa idéia generalizada de amor, de liberdade. O prazer imediato e individual tudo justifica. - O sexo é entendido pela Igreja como meio de procriação e não como expressão do amor do casal.

- Existem 'casos graves', 'especiais'. - Os filhos se afastam da Igreja, por discordar de seus ensinamentos quanto à sexualidade. 11-


de do uso dos meios naturais. - Proibição do aborto. Rigidez/ conservadorismo/ irrealismo da Igreja em relação à sexualidade humana e conjugal. - Condenação das relações sexuais pré-matrimoniais.

- A Igreja aceita o casamento de 'grávidas'.

-o O o2.a Pergunta: - Quais são os pontos de estrangulamento para a evangelização da vida de família? Explique cada um.

Relativos à realidade social, econômica, política, cultural, religiosa, etc. Analfabetismo e subeducação; migrações , subnutrição e fome; falta de moradias ; saúde deficiente, mortalidade infantil. - Instabilidade econômica; concentração da renda, pobreza e miséria; subemprego e desemprego; consumismo exagerado. - Sistema político autocrático e paternalista; falta de responsabilidade na administração, desinteresse pelo bem comum. - Incentivo ao prazer, hedonismo; utilitarismo e egoísmo ; uso nocivo dos meios de comunicação social; violência de todo tipo; deterioração dos costumes. - A situação social e econômica limita o tempo necessário à evangelização; falta de compreensão dos ensinamentos da Igreja; insatisfação religiosa e crescimento das seitas; falta de oração, dissociação entre fé e vida. 2.2 - Relativos à teologia - Ignora-se o casamento como sacramento, a vivência do matrimônio 2.1 -

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- E necessário tomar posição para combater o egoísmo que corrói as estruturas sócio-econômicas. - A economia deve ser dirigida para o bem-estar das famílias. Isto exige uma mudança radical das políticas governamentais. - As famílias, unidas, devem lutar no campo político pelos princípios elementares da comunidade cristã, baseada na fraternidade. - Os meios de comunicação visam apenas o consumismo e, através de suas programações, afrontam a dignidade humana. - Continuamos sendo um povo machista. - As seitas crescem e atraem em função das conveniências momentâneas das pessoas. - Muitos setores da Igreja vivem na perspectiva de um mundo de celibatários; a reflexão teológica sobre o sacramento do matrimônio é decepcionante. Tem-se uma visão do " indivíduo casado" e não da relação conjugal. - Para que as reflexões teológicas 12 -


sobre o matrimônio renovem o casamento cristão, seminaristas e padres devem receber uma sólida formação neste campo. - Em nome da "m~dernidade" os comportamentos á:fundidos pelos meios de comunicação desqualifi2.3 - Relativos à moral cam escalas de valores e desarticu- Escala de valores indefinida; lam os ideais cristãos. dominância de uma moral relativizada, permissiva e pagã, perda da - Ficamos apenas em discussões noção de pecado; a moral cristã é teóricas, mas na prática não distinguimos o essencial do acessório e tida como ultrapassada. levamos aos outros valores nem 2.4 - Relativos ao campo pastoral sempre cristãos. - Desorganização ou inexistência - O silêncio das pregações sobre de pastoral familiar na maioria das o assunto leva os casais à convicdioceses/paróquias; falta de motição de que casamento e vida famivação e preparo, marginalização dos leigos na ação pas.toral; descom- liar nada têm a ver com religião. passo entre documentos da Igreja - Na sua forma atual, os 'cursos e ação da hierarquia; deficiência na de noivos' em nada contribuem para preparação de novas famílias; falta diminuir os pontos de estrangulamento. de oração .

não é tida como caminho para a santidade; falta um aprofundamento teológico da realidade conjugal; desconhece-se o Evangelho e os documentos da Igreja; a religião é vivida de forma primária e infantil.

-o O o5.a Pergunta: -Quais deveriam ser as principais linhas de ação pastoral da Igreja no Brasil, na área da família? Explique cada uma.

I. CATEQUESE

- Revisão da sistemática de preparação para os sacramentos, especialmente do matrimônio. - Organicidade da catequese, visão de formação permanente. 11. INFRAESTRUTURA - Falta material adequado para a evangelização (simplicidade, custo, etc.).

- Uso mais intenso dos meios de comunicação.

- Elaboração de propostas descaracterizando a mera obrigatoriedade, que acompanhem a evolução das diversas situações de vida, como formação permanente de todos os grupos etários. -Necessidade de mudança radical na preparação para o casamento, para maior valorização do matrimônio como sacramento. - A vida de família deve ser referencial para toda a formação. 13-


- Campanha da Fraternidade sobre o casal e sua condição específica. 111. LITURGIA - Simplificação das cerimônias de casamento; fortalecimento de seu caráter religioso (não " cinematográfico") . - Valorização das famílias nas liturgias das festas da Igreja. IV. AÇÃO PASTORAL EM GERAL Nas paróquias :

- Cuidar da formação do clero no que se refere ao casamento, ainda considerado "sacramento menor" mais destinado a combater a concupiscência do que a levar para a santidade. - A celebração do casamento deveria ser igual para todos, bonita, marcante, mas sem ostentações.

- E preciso ter em vista as situações específicas vividas pelas famílias.

Grupos de reflexão/encontros periódicos para casais;

- Os pais devem ser permanentemente evangelizados, para serem evangelizadores dos filhos.

Formação permanente agentes de pastoral;

de

- Pais e filhos devem pãrticipar juntos das celebrações religiosas.

Encontros/ celebrações conjuntas para pais e filhos.

- As celebrações devem aproveitar as datas litúrgicas, sempre culminando com a Eucaristia.

Na comunidade: Celebrações em aglomerações específicas (bairros, edifícios ,etc.);

- Todas as pastorais devem ser orientadas para a valorização da vida familiar.

Formação de agentes para ensino religioso em todos os níveis;

- E preciso estimular o planejamento familiar; desenvolver uma ação pastoral nos meios onde se faz aborto.

Promoção de eventos para "famílias nas áreas mais carentes. Geral:

- E importante evangelizar os que têm dificuldade em aceitar a opção preferencial pelos pobres.

Reformulação da pastoral familiar para atingir os jovens; · implantar uma linha específica de pastoral do matrimônio; apoiar os movi· mentos familiares; pesquisa e aprofundamento da realidade conjugal hoje; melhor inserção na pastoral de conjunto. -

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6." Pergunta: - Como deve se manifestar a misericórdia da Igreja para todos aqueles cristãos que "não vivem ou não têm condições de viver numa família bem constituída ou bem estruturada" que representa aquele ideal de família normalmente apresentado pela Igreja?

('

- Criar um tipo de pastoral espe- - Os casais divorciados ou em situação irregular perante a Igreja cífica. - Oferecer subsídios pastorais não possuem a maldade ou a malíclaros; orientação, aconselhamento; cia que a Igreja supõe. formação baseada nos ensinamentos - Os filhos devem sentir que seus oficiais da Igreja. pais não são menosprezados ou mar- Conhecer, estudar e analisar ginalizados na Igreja, por estarem cada situação. separados ou recasados. - Organizar grupos de reflexão e de conscientização; encontros espe- - Existe hoje, por parte da Igreja, muito formalismo que não leva a cíficos. soluções. - Mostrai o ideal mas acolher o real sem medos e tabús. - Vendo claramente o ideal e sen- Acolhimento, tolerância, carida- tindo-se acolhidos na sua realidade, de, porém sem licenciosidade e sem cada qual saberá encontrar seu caminho. provocar escândalo. - Estímulo para regularização da - A Igreja deve levar em consisituação. deração que muitos casais, conside- Convite para trabalho na comu- rados em "situação irregular", são melhor constituídos do que os nidade. "bem-casados", - Não discriminar, mas manter reserva. - As pessoas devem poder viver a - Não abandoná-los, nem levá-los sua vida e a sua religião, nos limites que a realidade lhes impõe. a abandonar a comunidade.

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QUESTOES ATUAIS

Ao final de uma palestra no encontro de responsáveis das Equipes de Nossa Senhora em Saint'Ouen, o Cardeal Danneels, Arcebispo de Malines-Bruxelas, deixou a seguinte mensagem :

Eu queria dizer-lhes uma última palavra sobre um problema difícil na Igreja: é o problema daqueles ou daquelas que perderam seu cônjuge; que se separaram, que procuraram refazer as suas vidas. Eu queria pedir seu amor para tantas pessoas, homens e mulheres, abandonados por seu cônjuge, que são em nossa época verdadeiros mártires anônimos, de quem ninguém fala. Uma mulher abandonada por seu marido aos quarenta anos , encontrando-se só perante a vida, não recebendo senão algumas palavras de compaixão em sua presença, e na sua ausência, muitas vezes de ironia é uma verdadeira mártir que precisa de ajuda. Quando estamos diante de divorciados casados novamente, é fácil para nós, padres e leigos de fazer uma dessas duas coisas: dizer "Isto não é nada, eu te absolvo, façamos de conta que nada aconteceu", ou dizer: "E uma falta irremediável, não posso ajudá-lo". Tanto num caso como no outro, não respeitamos o drama profundo, os ferimentos profundos desses irmãos e irmãs. Nessa matéria não temos necessidade nem de Caifáz que diz: "Ele é culpado do mal" , nem de Pilatos que diz: " Não encontro nada nele, façam como vocês quiserem". Necessitamos é de irmãos e irmãs que tenham coragem e paciência comprovadas, como Simão Cirineu, para ajudá-los a carregar a cruz a seu lado. Precisamos de Verônicas que a cada acesso de febre , desencorajamento e revolta contra Deus e a Igreja, estejam prontos a enxugar o rosto doente e em pranto de nossos irmãos divorciados. Precisamos amar aqueles e aquelas que falharam. Não faremos nada por eles dizendo: muito bem! "Isto é um erro" ou "Isto não é nada". Precisamos acompanhá-los pacientemene, sustentá-los, estar ao lado. Sobretudo, é necessário crer que a graça é poderosa, que Jesus trabalha no coração de muitos destes pobres que estão às portas das Igrejas e que não ousam ou não querem mais entrar. Nosso mundo - e dia-a-dia isso se torna quase epidêmico - nosso mundo é uma espécie de pátio dos milagres. Precisamos ser Cirineus e Verônicas para amá-los e ajudá-los. Eles estão em seu Sábado Santo. Estão na noite e esperam. Mas para todos aqueles e aquelas que, mesmo

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nas situações difíceis, inextricáveis, perseveram na fé e são também sustentados por um irmão, amados por uma irmã, esses que permanecem, homens e mulheres de oração e de longa paciência, todos os que ficam, que jejuam sinceramente, é certo que a manhã de Páscoa chegará. Seguramente Deus não deixará ninguém sofrer para sempre, se ele é um homem ou uma mulher de coração contrito. Eles têm atrás de si a Sexta-Feira Santa da ruptura. Rezemos por eles e por elas, porque isto só Deus pode curar. Não falemos muito. Não façamos teoria. Tenhamos coragem de estar ao lado deles e de retomar com eles este difícil problema respeitando seu revés. Possa o coração de Jesus, através de nós, tocar o coração daqueles e daquelas que conhecemos e que estão nesta situação. Cristo nos diz, como a Santa Margarida Maria: "Se tu creres, tu verás o poder de meu coração".

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É interessante notar que a Igreja antiga, depois do fim dos tempos

apostólicos, desenvolveu uma atividade missionária relativamente reduzida e não tinha nenhuma estratégia própria para anunciar a fé aos pagãos. Apesar disso, foi o tempo de maior sucesso missionário. A conversão do mundo antigo não foi resultado de uma atividade eclesial planejada, mas fruto da verificação da fé, que se tornou visível na vida dos cristãos e da comunidade da Igreja. O convite concreto de experiência a experiência, e nada mais, foi, humanamente falando, a força missionária da Igreja antiga ( ...). A nova evangelização, da qual temos tanta necessidade, não será realizada com teorias bem concebidas: o catastrófico fracasso da catequese moderna é por demais evidente. Cardeal Ratzinger

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I

DE SAPOS E OUTROS BICHOS Entre as tant as coisas que faz com amor na- vida , - ser mãe de sete filhos , esposa de um sujeito por vezes bastante chato, irmã de pessoas nem sempre fáce is, nora , sogra, avó, - minha querida Hélene t em uma que lhe é pecu liar: coleciona sapos. Não aqueles de engulir, como se faz na política , nem daqueles que quando são de fora não devem ch iar, mas do famoso peçonhento anfíbio anuro mesmo . Quando morávamos no interior, chegou a ter o " Geraldo", que vinha postar-se na porta da cozinha, nas noi· tes de luar, para conversar com ela. Aqui na cidade grande, ela teve que contentar-se com reproduções de toda espécie , desde os de madeira , borracha e gesso até os de vidro ou de cristal. Tem até um pequen ininho, de ouro . Antes de mudarmos para um apartamento e do espaço disponíve l passar a ser medi do em cen· tímetros cúbicos, tinha mais de trezentos, nas mais diferentes posturas que se possa imaginar. E Hélene já se queixava de que, cada vez que alguém queria dar-lhe um presente , lá vinha mais um sapo . Agora , a coleção está bem menor, mas em devida evi· dência na nossa sala, numa vitrine que os amigos sempre param para admirar. Mas do que as pessoas se admiram mesmo é que se possa ter a idéia de colecionar um bicho tão feio . Afinal, há tantos bichos mais bonitos, juntar gatos , pavões, até elefantes, vá lá , mas sapos? Por que? Um peçonhento! Cheio de rugas, verrugas e tubérculos. Também demore i para entender, mas por fim a razão f icou clara: não são as aparências que importam; elas quase sempre nos enganam. Dentro de cada um daqueles bichos feios, pode estar escondido um príncipe encantado! É como diz a raposa ao Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, numa frase que curtimos juntos desde o tempo do nosso noivado: "Só se vê bem com o coração: o essencial é invisível aos olhos" . A coleção nos leva a interessar-nos também por histórias de sapos. E algumas são verdadeiras parábolas que nos levam a meditar sobre a vida. Outro dia, lemos uma que nos tocou bastante e todo este intróito serve para contá-la a vocês. Dizem que se você tenta jogar um sapo - dos vivos, é claro - numa panela de água fervendo, ele na mesma hora pula para fora. Mas se você coloca o sapo na água fria e vai esquentando a panela aos poucos, ele não se incomoda, e quando a água ferve , ele morre sem mesmo perceber o que acontece com ele .

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É muito parecido com o que ocorre com todos nós, nestes fins de século vinte. Estamos sendo cozinhados em fogo brando por idéias que, se nos fossem colocadas de forma núa e crúa, nos fariam pular para fora da panela. Principalmente no que diz respeito ao casamento e à família. Enquanto a água estava fria, tínhamos certezas sobre algumas coisas: o casamento é indissolúvel, o sexo antes do matrimônio, a infidelidade, o homossexualismo e umas tantas outras atitudes são imorais. O pecado, como tal, existia. Depois, a água foi ficando morna, e começamos a nos questionar: se todo o mundo faz por que não eu? Aí, vieram os meios de comunicação e nos com(enceram de que nossos valores anteriores estão ultrapassados. Afinal, dizem elas, não resta dúvida, a ciência prova que 'o amor acaba' e que o caminho para a felicidade passa pelo divórcio! E passamos a ter vergonha de pensar que era pelo casamento. O aborto, por exemplo. Estamos na fase da água morna, onde nos dizem que "é preciso descriminalizar o aborto" porque as más condições em que se pratica às escondidas causam a morte de tantas mães inocentes. E já começamos a abanar a cabeça, concordando. Quem disse que feto é gente? E daqui a pouco vamos esquecer as crianças inocentes e aprovar entusiasticamente a legalização de sua matança. Será que o cristão, o batisado, não deveria ser um tipo de .. sapo" diferente? ~ claro que não se trata de bancar a avestruz, de nos fecharmos às realidades que nos cercam. Mas, pelo contrário, ver bem o que se passa à nossa volta e nos perguntar: "Será que com toda a graça de Deus que recebemos temos o direito de aceitar passivamente tudo isso?" Não se trata, também, como diz o Pe. Olivier, de sair por aí, desfilando com cartazes e faixas, berrando que o mundo está todo errado. Não. Na verdade, o mundo precisa é de ajuda. Prercisa do testemunho e da ação daqueles que acreditam no amor de Deus, dos que sabem que Ele sacrificou o próprio Filho para salvar todos os homens. Daqueles que, porque amam a Deus, querem ajudar seus irmãos, os homens, a serem verdadeiramente felizes. Mesmo que esses irmãos pareçam tão feios quanto os sapos. A água está começando a ferver. Vamos ser cozinhados na fervura? Vamos simplesmente pular fora da panela? Ou vamos ajudar a apagar o fogo que está cozinhando nossos irmãos?

Peter

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POR ELA QUE SEI QUE AINDA ESTOU VIVO

Um leprosário ... no sentido mais triste, mais odioso da palavra. Homens que nada fazem, com os quais nada se faz, que ficam rodando em círculos no pátio, no seu cativeiro ... Homens que estão só. Pior: abandonados. Para eles, tudo já é silêncio e noite. Um deles, porém - um só - ainda tem luz nos olhos. Sabe sorrir e, quando se lhe oferece algo, dizer obrigado. Um deles - um só - ainda é um homem. A religiosa quis conhec.er a causa desse milagre. O que ainda ligava este homem à vida. E começou a vigiá-lo. E viu que cada dia, por cima do muro tão alto, tão duro, um rosto aparecia. Um rostinho de mulher, do tamanho de um punho, e que sorria. O homem lá estava, esperando esse sorriso, alimento de sua força e de sua esperança. Por sua vez, sorria, e o rosto desaparecia. E ele, então, recomeçava sua espera, até o dia seguinte. Ao ser surpreendido pela religiosa, ele só disse: "É minha mulher". E após um tempo: "Antes que eu viesse para cá, ela cuidou de mim, às escondidas. Com o que ela encontrava. Um feiticei ro lhe deu uma pomada. Todo dia, ela a passava no meu rosto ... só deixava um cantinho, o bas· tante para seus lábios. Mas foi em vão. Então me levaram. Mas ela me seguiu. E quando a vejo, cada dia, é por ela que sei que ainda estou vivo. R. Folloreau (citado em Alliance, n.o 69-70)

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NUMA MISSA DO CURSO DE NOIVOS Domingo. Manhã. Calor. Igreja cheia . Nos bancos centrais a criançada do catec ismo se contém da sua balbúrdia diante dos olhares atentos das catequistas . Pela porta lateral, os jovens noivos que fazem sua preparação ao matrimônio entram aos pares e tomam seus lugares. Bancos ajuntados para recebe-los. Mesmo assim, um casal ficou separado pelo estreito corredor, sentados nas pontas dos bancos paralelos. De vez em quando se olham . Talvez sorriam. A lguém, solícito , tenta oferecer o lugar para que fiquem juntos. O rapaz agradece mas não aceita. Enquanto não começa a celebração, observo a atenção e o cuidado da Equipe que preparou o Cursos. Conheço quase todos e sei que estão ali dando testemunho da vivência de seus próprios casamentos. Casamentos de dezenas de anos. Testemunhos para mostrar que o "até que a morte nos separe , na alegria e na tristeza, na saúde e na doença" é possível. Se conversarmos com eles saberemos que caminhar até ali não foi fácil. Houve muito que ceder, muito que doar, muito que amar. Que o matrimônio vivido dia a dia é uma escola de serviço e santidade. Aqueles homens e mulheres que deixaram sua comodidade no f inal de semana para preparar aqueles jovens não têm muito tempo. Há um bocado de assuntos a ser abordados. Dúvidas a tirar. Orientações. Ideal seria uma preparação mais longa que viesse desde o nascimento. Não! Desde antes de nascer. Um contínuo processo de cristianização. Um sonho quase impossível. Porisso, lá estão os meus amigos fazendo a sua parte. Confiando na graça de Deus. Sei do caso de jovens que após passarem por Cursos de Noivos desistiram de se casar porque perceberam que não daria certo. Às vezes acontece . E há, graças a Deus, um casamento descartável a menos. Outros, encontram nesses breves cursos, um sentido maior para a vida que vão iniciar, têm uma abertura maior para a vivência do sacramento do matrimônio. Também acontece . E há, graças a Deus, um casamento de verdade a mais. Mas a missa começou . Desvio meus pensasmentos e tento concentrar-me na celebração deste domingo da Quaresma. O Evangelho de Lucas leva-nos ao Monte Tabor e é, para cada um de nós que Deus diz: "Este é o meu Filho muito amado , ouçam-no ". Para os jovens casais também. Ouvir Jesus em tudo que fazemos na rotina diária de nossos casamentos. Um programa de vida . t o Pai que manda ouvir o Filho que em outro momento vai nos dizer: " Sede santos como vosso

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Pai é santo" . Também no casamento, penso eu, e pela graça e pela força da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: não estamos sós! Após a comunhão, todos já nos seus lugares para a ação de graças, algo me chamou a atenção. Não deixo de olhar e sorrir. O jovem casal separado pelo corredor dava-se as mãos. Naquele momento de agradecer sentiram necessidade de se dar as mãos. Um gesto concreto e o símbolo mais terno de um casal. Não olhavam um para o outro mas sim na direção do sacrário. De mãos dadas. (Da revista "O Discípulo" Diocese de S. José dos Campos, SP)

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CARTAS DOS LEITORES

O ESCANDALO DA EUCARISTIA Recebemos de Mons . Geraldo Menezes, C. E. das equipes 2 e 5 de Belém/ PA, uma simpática carta a respeito do artigo sob o título acima publicado na C. M. de junho/ 90. Sem duvidar da reta intenção do autor, que no entender de Mons. Geraldo, quis salvar a verdadeira manducação da carne de Cristo assumindo, a expressão "canibalismo" e atribuindo-a ao próprio Cristo, o querido sacerdote solicita-nos que publiquemos uma retificação dos conceitos emitidos no artigo em questão que no seu entender é necessária para evitar que nossos leitores incorram em confusão: "B verdade que Jesus disse expressamente: "Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue não tereis a vida em vós" (Jo 6, 27). E quando, dentre os próprios discípulos de Jesus, surge a incompreensão: "dura é esta palavra, quem pode escutar?" Jesus tem o cuidado - não de retificar em nada o que dissera, mas explicar: "O espírito é que vivifica, a carne para nada serve. As palavras que vos disse são espírito e vida" - , queria Ele dizer exatamente isto: que a Eucaristia não era um ato de canibalismo, mas devia ser entendida espiritualmente (o que não quer dizer simbolicamente). Aí é que está o nó da questão: é verdadeira a manducação e a bebida do Corpo e do Sangue de Cristo, mas isto não é um rito de canibalismo." -22-


CONSELHEIROS ESPIRITUAIS

AS ENS: UMA PROPOSTA E UMA RESPOSTA DE FÉ Depois de participar por dois anos, na condição de Conselheiro Espiritual de uma Equipe de Nossa Senhora, cheguei à conclusão de que ela é um verdadeiro fenômeno, pois é uma realidade que transparece de maneira encantadora. Além de ser um fenômeno, é ao mesmo tempo um tesouro, infelizmente, escondido, apesar de ser fenômeno. Escondido para muitos, que as ignoram e para outros que as olham com medo. B. natural que tenham medo, pois que trata-se de algo ainda desconhecido, como uma fruta que nunca vimos. Não temos a menor idéia de seu gosto, mas quando vemos alguém comer e demonstrar uma fisionomia feliz, queremos experimentá-la, porque é através da experiência que ficaremos sabendo como ela é, na verdade. A partir da experiência e da degustação, acabamos comprando, comendo, dando de presente e fazendo sua propaganda. Assim são as ENS, para aquele que tem o coração reto, elas se transformam em verdadeiras paixões. E como é bom se apaixonar pelas maravilhas que Deus opera nas pessoas e através delas. Na vida de cada dia os nossos encontros muitas vezes se transformam em desencontros, mas quando nos encontramos em Deus, na sua Família Trinitária, Pai, Filho e Espírito Santo, ficamos marcados, dignificados e nos colocamos no caminho da glória. Cada um terá a experiência de sua Equipe. A experiência que não tiver sido marcada até o momento presente por momentos gratificantes, deve ser posta em profunda reflexão pela própria Equipe à luz do Espírito Santo. Sempre uma oração se impõe para orientar e dinamizar nossos critérios. Ao meu ver, uma oração que me marca e me enche de entusiasmo é esta: "Deus não fez nada sem pensar em ti, agradece ao Senhor, hoje e sempre, por tudo o que tens, por tudo o que podes, por tudo o que és." (Cantamos esta oração no início de nossas reuniões.) A amizade que nasce informada pela fé e pela busca amorosa de Deus, não fica só no ambito da amizade, o que já é muito bom, ao nível do social, muitas vezes vazio, falso e decepcionante, como os desencontros, mas ela adquire uma nova dimensão, passa a ser amor forte e sábio. Pois é sumamente importante saber amar, viver o amor, sem a pretensão descabida de fazer amor. Ninguém faz amor,,amor se vive, amor se celebra e pelo amor se morre. Ninguém faz amor, como ninguém faz água, nem ar e nem vida. Toma-se a água, respira-se o ar, vive-se a vida. -23-


Uma verdadeira Equipe transmite amizade, irradia amor, e torna a vida cada vez mais apaixonante. Não foi sem razão que o salmista, inspirado por Deus, depois de uma visão profunda do homem, de seus impulsos e de seus anseios, no salmo 133 cantou um verdadeiro hino à vida fraterna dizendo: "Vede como é bom, como é agradável habitar todos juntos como irmãos, é como o óleo fino sobre a cabeça, descendo pela barba, a barba de Aarão, descendo sobre a gola de suas vestes. B como o orvalho do Hermon, descendo sobre o monte de Sião; porque aí manda o Senhor a bênção, a vida para sempre." B muito significativo o Monte Hermon. Pois ele se eleva a uma altitude de três mil metros. Seu cume está perpetuamente coberto de neve, o que lhe dá uma visão majestosa, quase teofânica, pois que o branco da neve se mistura com o branco das nuvens do céu, às vezes constitui um verdadeiro degradê transformando-se no azul do céu. Nas suas encostas, isto é no antilíbano nasce o Rio Jordão, como uma dádiva de Deus na formação do mar da Galiléia e na revitalização das planícies férteis banhadas pelas águas do mesmo rio. Em sua caminhada eterna ele transforma também Jericó em um verdadeiro oasis e depois desemboca no mar Morto. Assim o Salmo se reveste de um sentido verdadeiramente poético para nós. Como o Jordão, também as ENS transformam a vida de muitos casais, que por vezes eram desérticas, mas que ao contato com outros se transformam em oasis de alegria e fraternidade. Vivamos a fraternidade nas ENS e não tenhamos medo de difundí-las em todos os ambientes e oportunidades. Pe. Vicente Pinto Ribeiro Religioso de Sion São Paulo/ SP

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ANTES BUDISTA, AGORA PADRE CATóLICO Eu era um budista praticante, mas em conseqüência da derrota japonesa na Segunda Guerra, perdi tudo: meu pai, comandante de exército, pereceu na China; a bonita casa em Kagoshima foi arrasada pelos últimos bombardeios americanos; um amigo íntimo morreu em Hiroshima, desaparecido na explosão da primeira bomba atômica e finalmente, meu ideal por uma carreira militar foi embora derrubado pela derrota. Devia começar tudo de novo, a partir da casa. Assim sendo, certo dia fui a uma igreja católica, construida em Miyakonoio, para furtar pregos. Tinha já me apossado de uma porção deles, quando o missionário me apanhou. Na verdade quem naquele momento me apanhou foi Cristo. Aquele missionário estrangeiro, em vez de me dar uma surra, como eu esperava, deu-me mais pregos, o tanto que ainda precisasse e quanto pudesse carregar, e me despediu, sem me dizer nada sobre cristianismo. Logo no dia seguinte, voltei à Igreja de Miyakonoio à procura do missionário. Encontrei-o e lhe disse que eu desistia de me tornar general do exército imperial, mas que ele me ensinasse a tornar-me como ele . Nessa época eu jamais pediria que ele me ensinasse a tornar-me um cristão;. queria apenas tornar-me como ele. Nele vi o "mestre" da vida . "Eu sou a vida", disse Jesus. Após algum tempo fui batizado . Mas aquele missionário, ao qual devo a vida de graça ofereceu sua própria vida, sem se lamentar, para provar o amor que tinha pelos japoneses. Num grande incêndio, para salvar um amigo meu que não conseguiu se safar sozinho, ele se atirou bravamente às labaredas de fogo, e morreu entre as chamas, abraçando o jovem. Foi reduzido a apenas um punhado de cinzas. Muitas vezes ele me dissera: "Massayuki (meu nome japonês, que significa Justo), tenho apenas um desejo: Tornar-me terra do Japão". Isso ele se tornou. Pegando, então, aquele punhado de cinzas, pela primeira vez compreendi o que é a saudade missionária do Senhor Crucificado. Decidi ocupar o lugar daquele missionário, padre Adino Roncato, Italiano, e tornei-me, como ele, salesiano e padre. Pe. João Bosco Shirieda (De Espero Katolika 2-3/85 , pág. 27)

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TESTEMUNHO

SEGURE NÁ MAO DE DEUS Com problemas de saúde, Eliane passa de médico em médico, de hospital em hospital. Muitos exames. Muitas radiografias. Em São Paulo, a descoberta : pedras na vesícula. Dr. José do Hospital Leão XIII operou. Durante a intervenção cirúrgica, radiografaram todos os órgãos do baixo ventre e da área que circunda a vesícula. Um mês depois , novo exame revelou gravidez de mais de trinta dias. Em vista da grande quantidade de raios aplicados no organismo durante a operação através das radiografias efetuadas, o médico concl uiu: - "Esta gestação deve ser interrompida, pois, qualquer raio destes, incidindo num órgão do feto , o atrofia ou inutiliza. Há grande probabilidade de nascer um monstro. Seria até egoísmo conservar uma criança que nasceria só para sofrer. E mesmo quando, por uma casualidade , nascesse perfe ita , na passagem de idade da meninice para a adolescência , há gr~nde risco de apresentar problemas irreversíveis. " Augusto e Eliane pedem tempo para se reaverem do terrível impacto, para poderem pensar e decidir. Familiares, parentes e amigos foram unânimes : - "Deve prevalescer a opinião do médico! Ninguém se arrisca diante da probabilidade de vir um filho monstro!" Desnorteado, aturdido, o casal procura o pároco. Viajou. Tomam o carro e vão a Campinas a um sacerdote amigo. Estava de férias, longe. Vão a Jaboticabal para se orientarem com o senhor bispo. Achava-se numa reunião do episcopado em ltaici. O casal viu-se só. Completamente só .... se não houvesse Deus! Contra tudo e contra todos, resolveram assumir a solução do problema como filhos de Deus: - "Vamos aceitar o filho! Não o eliminaremos!" Sem perder aquela angústia natural, passaram a orar, orar, orar incessantemente. Sete meses com o espectro daquele prognóstico sinistro: - "Nascer só para sofrer!. . . Um filho monstro! ... " O casal lembrou-se de um médico de formação cristã, muito amigo. Diante dele refizeram toda a história desta angustiante gestação. E repetiram :

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- ·Pondo tudo nas mãos de Deus, resolvemos acolher o filho que vier!" - "Vocês estão certos", rematqu o Dr. Alcides. Terão todo o meu apoio. Contém comigo e vão em frente!" A voz do médico soou como a de um profeta de Deus no coração dos pais. Um instrumento da graça. Uma força do alto. Injeção de ânimo . Luz de uma esperança nova durante o tempo todo que restou de gestação. O parto foi normal. Mas . . . a mãe não quis ainda ver a criança ... Fora da sala de parto, ao ouvir lá de dentro o primeiro vagido do nenê, o pai não se conteve. Levado por impulso como não seu, forçou a porta e, com a alma na garganta, invadiu a sala. E o médico lhe mostrou o que segurava nas mãos: - "Um menino perfeitamente normal!" O pai caiu em copioso pranto e só conseguiu dizer: - "Meu filho perfeito!!! t: obra de Deus!"

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1985. Aquele garoto, hoje adolescente, estuda, trabalha, namora, diverte-se como os colegas de idade. 1990. Ele está se formando . Tudo isto, porque é bem verdade o que alguém escreveu: - "Quando sentirem que todas as portas estão fechadas para vocês, cercados de dificuldades e angústias por todos os lados, lembrem-se que há sempre uma saída que nenhum poder humano pode fechar!" Equivale dizer: quando mais nada resta a esperar dos recursos humanos e o homem se lança confiante nos braços de Deus , a última palavra é do Pai! Pe. Mário css Equipe 4 - Campinas SP

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NOSSA BIBLIOTECA

Jean Vanier

"Ele os criou homem e mulher". Para uma vida de amor autêntica. A partir de uma reflexão sobre o sentido profundo da afetividade e da sexualidade humanas, o autor expõe as exigências do amor autêntico. Ed. Paulinas, 1987, 238 págs.

Alberto Nolan -

"Jesus antes do Cristianismo". Como deixar falar Jesus, como encontrar o homem Jesus no seu contexto histórico, social, cultural, afim de entender suas convicções, suas escolhas, sua mensagem. Ed Paulinas, 1989.

RETALHOS

do COTIDIANO

Carlos e Aparecida Martendal, de Florianópolis, nos enviaram um exemplar de seu recente livro: "Retalhos do cotidiano", publicado pela Editora Santuário. Dom Murilo Krieger apresenta o livro e termina dizendo : " Retalhos do cotidiano" quer nos lembrar, muito simplesmente, que o Reino de Deus já está no meio de nós. O importante (e difícil!) é saber vê-lo .. .

SORRIA

"Um sorriso nada custa, mas vale muito. Enriquece quem o ganha e quem o dá não fica mais pobre. Dura apenas um instante, mas pode, na lembrança, durar eternamente,. Ninguém o compra, nem empresta, nem rouba, pois vale no instante que o damos livremente. N inguém é rico assim, que o possa desprezar, nem é tão miserável que o possa recusar".

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NOTICIAS E JNFORMAÇDES

Mudança nos Quadros

Eventos

- Em missa celebrada em 21/6/ 90 Beth e Toninha passaram a missão de CR da Região São Paulo Sul I a Maria Alice e lvahy que até então vinham exercendo a função de CR do Setor B. Na mesma ocasião Dinah e Pestana assumiram a responsabilidade pelo Setor B. · - No dia 9 de junho último, em em missa solene celebrada por Dom Paulo Mascarenhas Roxo, Regina e Osvaldo Crespo de Abreu , foram empossados como novo Casa l Responsável pelo Setor de Mogi das Cruzes/ SP, recebendo o cargo das mãos de seus antecessores Anna e João Pires .

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Volta ao Pai - Frei Celso Brancher, Eq. 49 N. S. do Escapulário Verde do Setor C de Porto Alegre/ AS, em 02/ 03/ 90. - João Henrique Auler (da Nair), Eq. 03 de Jaú/ SP em 01 / 05/ 90.

Novas Equipes Piracicaba/ SP

• Eq. 08 - N. S. do Carmo C.E.: Frei Wilson C.P.: Bernadete e Obaldo Mogi das Cruzes/SP Coordenados por Gis lene e Afonso (Eq. 10) e assistidos espiritualmente por D. Paulo Mascarenhas Roxo, cinco casais iniciaram sua experiência comunitária nas E.N.S., sob invocação de N. S. de Lourdes . -

São Paulo/ SP (Setor B) Seis casais, reunidos em nome de Cristo, e contando com a assistência espiritual do Pe. Pedro América Maia, SJ , iniciaram, em agosto último, a sua " caminhada" na experiência comunitária nas E.N.S., coordenados por Maria Thereza e Carlos Heitor Seabra.

Encontro da Região São Paulo Sul 11

Realizado em 02 de junho último em Sorocaba, envolvendo o Setor dessa cidade e também os de Jundiaí e ltú. Além dos casais responsáveis pelos Setores e do Casal Regional compareceram 17 casais de ligação. O objetivo principal do encontro foi uma reflexão sobre as equipes de base e como trabalhar com cada casal para que eles compreendam melhor o espírito da Segunda Inspiração e também para que os casais de ligação tomem melhor consciência da importância de sua missão no Movimento. -

1.0 Encontro Inter-Regional Nordeste

Destinado, 'basicamente, aos casais de ligação, foi realizado em 19 de maio último em Natai/ RN com a participação de 11 casais de ligação do Recife, Fortaleza , Salvador, João Pessoa e Parelhas, contando com a presença dos CR de Setores e a assistência espiritual de Frei Gilberto, CE do Setor de Recife. Acolhida e abertura pelo CR Zélia e Justino que enfatizaram o fato de termos sido escolhidos para ser PROFETAS (conhecer a realidade de hoje), DISCIPULOS (viver em plenitude e unidade) e APóSTOLOS (chamar outros casais a se transformarem) e destacaram a missão do Casal de Ligação comparando-a ao do apóstolo Paulo, formador de igrejas (equipes) . Formados os grupos para reflexão foram analisados os temas propostos pelo Movimento versando sobre "vestir a camisa· , valorização do Matrimônio, realidade das E.N .S. em relação à comun idade e sua comunhão com a Igreja local e o desempenho do Casal de Ligação e a responsabilidade de sua missão. O encontro foi encerrado à noite com a Celebração Eucarística.

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Retiro

1.0

O Retiro das ENS de ltumbiara/ GO foi realizado em 31/03 e 01/04/90 tendo como pregador o Pe. Mario Zucheto (de Campinas/SPJ e o entusiástico apoio do Pe. Euclides Bebiano, CE das equipes daquela cidade.

Jovens -

Dia de Reflexão -

M~naus/ AM

Segundo nos relatam Maria das Graças e Gilmar (Eq . 02). amadurecendo uma idéia que já germinava na equipe, foi realizado um DIA DE REFLEXÃO PARA JOVENS no Auditório do Patronato Santa Therezinha, com pleno · sucesso, pois participaram nada menos que 167 jovens com idade·s entre 14 e 27 anos . O encontro consistiu basicamente de duas palestras: A VERDADE (Pe. Juliano) e SE VOCt NÃO TEM UM SENTIDO NA VIDA, SUA VIDA NÃO TEM SENTIDO (Irmã Nilde) e encerrou-se com a celebração da Santa Missa por Pe. Pier Paolo com intensa participação dos jovens. Os comentários após o encontro foram animadores e mesmo alguns jovens que compareceram por insistência dos pais declararam-se satisfeitos e dispostos a participar de novos encontros . -

Ribeirão Preto/SP

Com a participação de 82 jovens com idade usperior a 13 anos aconteceu o V Encontro das Equipes Jovens de Nossa Senhora , na Casa Dom Luiz em Brodosqui em 26 e 27/ 05 / 90. A temática desenvolvida por Frei Jânio Savoldi baseou-se na valorização de aspectos positivos dos potenciais da juventude hoje. Sem proferir palestras convencionais, mas promovendo reflexões em grupos e em plenário, Frei Jânio abordou o jovem enquanto pessoa e a importância de estar bem consigo mesmo. Num segundo momento tratou da situação do jovem na família e na sociedade, seus valores e conflitos. Finalmente foi feita a abordagem do tema do jovem na Igreja, sua atuação, sua participação e seus questionamentos encerrando-se o encontro

com uma missa partlclpatlva, comunicativa e muito alegre. -

1.0 ENAM (Encontro de Namorados)

Idealizado por Marisa e Edmundo, Eq . 07 de Baurú/ SP foi realizado em 02 e 03/06/90 com a participação de 19 casais de namorados, com o intuito de formar grupos de namorados acompanhados por um casal com boa vivência matrimonial a fim de ajudá-los a refletir sobre suas dificuldades, êxitos, projetos, com partilha em grupo, sobre assuntos surgidos das próprias necessidades da caminhada do namoro. No início do encontro, no sábado, os jovens foram levados a refletir sobre o conhecimento um do outro. Terezinha e Agostinho (Eq. 07) deram um testemunho alegre e informal de como transcorreu o seu próprio namoro e Maria e Odir (Eq. 03 e CRSJ levaram os jovens a meditar sobre o namoro através de uma dinâmica do tipo recreativo. No sábado à tarde houve uma belíssima meditação na Capela, seguindo-se um romântico jantar à luz de velas ao som da música ·Ser teu companheiro, estar sempre contigo". No domingo os jovens orientados pelo Prof. Rafael (USC) foram levados a meditar sobre o namoro como preparativo para o noivado e o casamento com seus problemas: ciume, sexualidade, relacionamento com os pais e com os futuros sogros. A seguir, em grupos, os namorados colocaram suas experiências em testemunhos descontraídos e sinceros e foram convidados a participar de reuniões periódicas. No fina l do encontro foi celebrada missa de encerramento por D. Aloysio, Bispo-coadjutor da Diocese. Conforme relatam Neusa e Orlando (Eq. 12): "Isto é a 2.a Inspiração : criar oportunidades para que, com nosso trabalho e esforço procuremos influir nos ambientes e, no caso, ajudar jovens namorados a melhorar o ambiente do seu namoro."

"Encontr.o da Família Equipista" Realizou-se no dia 26/05/90, no Seminário Palotino de Curitiba/PR, o Encontro da Família Equipista, promovido pela região que se propôs reunir os

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casais e seus filhos dos setores A, B e C.

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Neste encontro ouviram-se palestras que abordaram : 1 -

Sintomas de imaturidade e pontos básicos para evitá-la, vivendo a maturidade consciente. (Cieusa Martins, professora e integrante da equipe 28, Setor B).

Sexualidade Humana Um diálogo aberto sobre o assunto, sem medo de tabús ou preconceitos, com abordagens não do ato sexual, mas sim da relação Homem e Mulher na convivência familiar de comunicação, expressão, partilha e afeto resultando na entrega mútua que pode ou não gerar a vida. (Dr. Agostinho Giraldi, CEMPLAFAN).

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ORAÇÃO DA EQUIPE Senhor, compreendi que sozinho jamais chegaria até Vós. . . Então me concedestes viver em equipe. Fazei que os outros compreendam a lentidão do seu caminhar e também, eu aceite pacientemente o progresso dos outros. Dai-me ser bastante humilde para permitir que os outros me ajudem, e bastante aberto para que em mim todos encontrem o auxílio necessário. Enchei-nos do Vosso Espírito, a fim de que no cotidiano de nossas vidas descubramos Vossos apelos a um engajamento que liberta o homem. Fazei-nos dóceis a Vossa Palavra, que interroga, que questiona, mas uma Palavra que conduz à verdadeira liberdade. Ajudai-nos a nos amarmos mutuamente até o fim , sem que sejamos indulgentes demais uns para com os outros. E quando a equipe estiver atravessando alguma dificuldade, possa eu - antes de tudo - me interrogar e lucidamente analisar qual a minha participação. Enfim, Senhor, ajudai-nos a encontrar o motivo único, forte e duradouro, que nos impulsiona sempre para a frente e nos congrega: a Vossa presença no meio de nós. (Da Carta francesa n. 0 87)

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MEDITANDO EM EQUIPE TEXTO DE MEDITAÇÃO (Mat. 25 , 31-46) "Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com Ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante Dele, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita, e os cabritos à sua esquerda. Então, o Rei dirá aos que estão à direita: "Vinde, benditos de meu Pai, tornai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu, e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim." Perguntar-lhe-ão os justos: "Senhor, quando que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino, e te acolhemos; nu, e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão, e te fomos visitar?" Responderá o Rei : "Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes." "Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: "Retiraivos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não me acolhestes; nu, e não me vestistes; enfermo, ou na prisão, e não me visitastes". Também estes lhe perguntarão: "Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te socorremos?" E ele responderá: "Em verdade eu vos declaro: todas · as vezes que deixastes de fazer isto a um destes pequenonos, foi a mim que o deixastes de fazer." "E estes irão para o castigo eterno, e os justos para a vida eterna" .

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ORAÇÃO LITúRGICA 6 Deus, dai proteção e auxílio ao povo que escolheste como vossa herança, para que seja feliz. Conscientes de vossa bondade, agradeçamos dizendo: R. Confiamos em vós Senhor! Pai clemente, pedimos pelo nosso Papa João Paulo 11, e nosso bispo N.; por vossa força protegei-os e santificai-os. R. Confiamos em vós Senhor! Que os enfermos se unam aos sofrimentos de Cristo, e participem sempre de sua consolação. R. Confiamos em vós Senhor! Olhai com piedade os que não têm onde morar, para que possam encontrar uma habitação digna. R. Confiamos em vós Senhor! Que a terra produza frutos para que todos encontrem o alimento de cada dia. R. Confiamos em vós Senhor! Envolvei com vossa misericordia os falecidos; concedei-lhes um lugar no céu; R. Confiamos em vós Senhor! Oremos. Senhor nosso Deus, Rei do Céu e da terra, dirigi e santificai nossos corações e nossos corpos, nossos sentimentos, palavras e ações, na fidelidade à vossa lei e na obediência à vossa vontade, para que, hoje e sempre, por vós auxiliados, alcancemos a liberdade e a salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade do Espírito Santo. Amém. (Liturgia das Horas)


ORAÇÃO DAS EQUIPES AO ESPIRITQ SANTO Espírito Santo. Vós sois o alento do Pai e do Filho na plenitude da eternidade. Vós nos fostes enviado por Jesus para nos fazer compreender o que ele nos disse e nos conduzir à verdade completa. Vós sois para nós sôpro de vida, sôpro criador, sôpro santificador. Vós sois quem renova todas as coisas. Vos pedimos humildemente que nos deis vida e que habiteis em cada um de nós, em cada um de nossos lares, e em cada · uma de nossas equipes, Para que possamos viver o sacramento do matrimônio como um lugar de amor, um projeto de felicidade, e um caminho para a santidade. Amém.

EQUIPES DE NOSSA SEN HORA 01050 Rua João Adolfo.ll8 · q· · cj. 901 ·Tel. 34·8833 São Paulo · SP

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