ENS - Carta Mensal 261 - Dezembro 1989

Page 1

..


ORAÇÃO AO ESPfRITO SANTO Espírito Santo Vós sois o alento do Pai e do Filho na plenitude da eternidade. Vós nos fostes enviado por Jesus para nos fazer compreender o que ele nos disse e nos conduzir à verdade completa. Vós sois para nós sôpro de vida, sôpro criador, sôpro santificador. Vós sois quem renova todas as coisas. Vos pedimos humildemente que nos deis vida e que habiteis em cada um de nós, em cada um de nossos lares, e em cada uma de nosas equipes para que possamos viver o sacramento do matrimônio como um lugar de amor, um projeto de felicidade, e um caminho para a santidade. Amém.


UM MOMENTO COM A EQUIPE DA CARTA MENSAL Há um ano, a Carta Mensal publicava seu número especial sobre o Encontro Internacional de Lourdes/88. E, ainda sob o impacto e a emoção da peregrinação, as Equipes de Nossa Senhora, do Brasil e de todo o mundo, empreendiam a esperançosa caminhada da Segunda Inspiração. Ainda em Lourdes, as equipes redatoras de Cartas Mensais do mundo inteiro recebiam a incumbência e a missão de fazerem das Cartas os instrumentos de lançamento, de implementação e de repercussão da Segunda Inspiração. Acreditamos que no decorrer de todo este ano tivemos a oportunidade de fazer frente , pelo menos parcialmente, a essa respon- · sabilidade. Todos os números da Carta trouxeram informações, pistas, roteiros , reflexões, testemunhos sobre a Segunda Inspiração. Mas o papel da Carta Mensal não pode se limitar a divulgar apenas as matérias que, do Movimento e de seus responsáveis, se dirigem às equipes e aos equipistas . Ele precisa funcionar também no outro sentido, acolhendo e difundindo os testemunhos que as equipes enviam. Se falhamos nesta parte, é porque recebemos pouquíssimas matérias com este conteúdo . Imaginamos que , até agora, não houve tempo hábil para que as equipes realmente tivessem uma experiência vivida da Segunda Inspiração e que somente após a realização das reuniões de balanço, vocês teriam condições para nos enviar as suas reflexões e os testemunhos de sua vivência. No decorrer de 1990, haverá um espaço reservado na Carta Mensal para esses testemunhos . Não gostaríamos de deixá-lo em branco ...

-o O oDesejamos a todos um Natal alegre e feliz em Cristo e férias que libertem das preocupações materiais, abrindo mais espaço em nosso coração e em nossa vida para a presença do Senhor. A equipe da Carta Mensal -1-


EDITORIAL

O FUNDADOR E A ''ESCUTA DA PALAVRA" A história é a melhor demonstração de que a Igreja tem sempre em reserva fundadores que sabem ler o Evangelho à luz do aqui e agora da Igreja e da sociedade. Não se quer dizer com isto que a hierarquia eclesiástica tenha em reserva fundadores , para apresentá;los quando ela quer; senão que são suscitados pelo Espírito em virtude da promessa de sua assistência até o final dos tempos. Com efeito, a fundação de um instituto religioso, de um movimento, não é nunca fruto de uma determinada formação que possa dividir a Igreja no campo pastoral. É, sim, a " escuta" atenta da Palavra relacionada a um " atento" discernimento dos " sinais dos tempos" e a resposta concreta, existencial aos apelos de Deus para situa_ções e exigências concretas. O Movimento das ENS nasceu, como todo movimento, de uma forte experiência espiritual feita pelos fundadores : P. Caffarel e os primeiros casais. Foram homens que se deixaram " interpelar" e " seduzir" pela "Palavra de Deus" revelada. Interpelação e sedução estas que fizeram brotar respostas prontas e concretas. Foram homens que souberam ler o Evangelho diante das necessidades de alguns casais que buscavam a "perfeição" na vida conjugal através do sacramento do matrimônio. Foram homens que souberam escutar o que quer dizer: "Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne" (Gn 2,24). E, portanto, iniciam na Igreja um movimento de espiritualidade conjugal e de ajuda mútua onde já não se busca a "perfeição", individualmente, mas como casal; daí a "unidade na vida conjugal". Foram homens que souberam interpretar o " este mistério é grande, eu afirmo, em relação ao Cristo e à Igreja" (Ef 5,32) fazendo nascer uma espiritualidade não mais para clérigos, monges ou religiosos, mas sim para casais. Uma santidade buscada a dois com tudo o que isso comporta. Foram homens, principalmente o P. Caffarel, que souberam aplicar à vida conjugal o amor de Deus.

-2-


Para se entender o que o Movimentos está pedindo através da "Segunda Inspiração" é necessário voltar às fontes para conhecer de qual forte experiência espiritual surgiu o mesmo Movimento das ENS. Será necessária uma leitura atenta dos documentos fundadores para se entender e perceber como foi a leitura e a escuta da "Palavra" feitas pelo P. Caffarel e primeiros casais. Dessa experiência espiritual nasceu na Igreja o Movimento das ENS que tem um carisma específico. Carisma que é um dom gratuito do Espírito Santo que, na sua liberdade e liberalidade, o dá ao homem, para sustento da sua vocação, em função da utilidade comum e para a edificação dos irmãos. ~' portanto, missão das ENS no mundo de hoje, tornar vivo o seu carisma, a sua identidade: testemunhar através da própria vida e do próprio apostolado que a vida conjugal é um caminho de santidade. Não é, simplesmente, repetir o que os fundadores fizeram. Trata-se de trazer para o "hoje", com respostas de hoje, o que iniciaram no passado.

Essa foi a "escuta" da Palavra feita pelos fundadores. Que "escuta" estão, hoje, fazendo os casais equipistas? Pe. José Carlos Di Mambro, C.P.

-3-


CARTA DA EQUIPE RESPONSAVEL INTERNACIONAL

Queridos Amigos E a primeira vez, e não sem emoção, que nos dirigimos a todos vós, os que procurais viver, com seriedade e esforço, a proposta do Movimento das ENS, rumo ao Amor, à Felicidade e à Santidade. Acabamos de ser acolhidos com muita alegria, na ERI-Equipa Responsável Internacional, depois de um longo itinerário nas ENS, onde entramos já lá vão 26 anos. Durante 5 anos fomos responsáveis pela Região Sul e 3 pela SupraRegião de Portugal, onde colhemos uma excelente experiência de trabalho em equipa, com espírito de colegialidade, corresponsabilidade, transparência, participação, comunhão e criatividade, numa ligação muito estreita com as preocupações de Pastoral Familiar da Igreja em Portugal, na qual trabalha uma percentagem muito significativa de casais das ENS, merecendo, por isso, todo o apoio e simpatia da Hierarquia da Igreja. O convite que o Senhor nos fez para integrarmos a ERI foi completamente inesperado para nós, tanto mais que nos encontrávamos em pleno mandato como Supra-Regionais (terminávamos apenas o nosso 2.0 ano, e já, na Peregrinação de Lurdes, devíamos dar a nossa resposta) e tínhamos plena consciência das nossas limitações, tanto humanas, como espirituais. Mas os caminhos do Senhor são insondáveis e, perplexos, tentámos arranjar argumentos para justificar uma não aceitação, admitindo que outros casais, melhor do que nós, poderiam servir o nosso Movimento. O que estava em causa era E\ qualidade do serviço a prestar ao Movimento, a quem tanto devíamos na nossa caminhada de fé e de espiritualidade conjugal. A angústia de podermos vir a não corresponder àquilo que o Senhor esperaria de nós e da nossa missão no seio da ERI só tinha correspondência com a enorme fé no Senhor e a firme certeza de que Ele nunca nos abandona, nem nos pede nada que seja superior às nossas capacidades e de que, em última análise, é o Seu Espírito que age em nós, desde que sejamos dóceis à sua acção. Confiantes no Senhor e conscientes de que é precisamente na nossa pobreza e na nossa fraqueza que se manifesta o poder de Deus, como dizia S. Paulo, aceitámos a missão a que nos chamava, não sem auscultarmos, em primeiro lugar, os nossos filhos, que nos deram grande ânimo, em segundo lugar, a nossa equipa de base, que se prontificou a dar-nos toda a ajuda de que necessitássemos, como aliás já o vinha fazendo em relação à nossa missão de Supra-Regionais. Por fim, consultámos a ESRP-Equipa Supra-Regional

-4-


de Portugal, onde se punha a questão da nossa substituição, que, graças a Deus, não foi difícil, o que constituiu mais um sinal, e dos não menos significativos, de que o Senhor aplanava todo o caminho que conduziria à nossa adesão plena ao Seu chamamento. Como poderíamos nós recusar alguma coisa ao Senhor, que nos tem cumulado de graças ao longo de toda a nossa vida e nos tem manifestado, de forma tão palpável e visível, todo o Seu amor, a Sua misericórdia, a Sua ternura, através das pessoas que conosco fazem comunhão de vida e de amor: os nossos filhos e seus cônjuges, o nosso neto, o resto da nossa família, os casais da nossa equipa de base, os casais das várias equipas das instâncias de reflexão e animação em que participamos e os nossos amigos .. . ? Negarmos o que quer que seja ao Senhor constituiria uma tão grande ingratidão, que jamais tranquilizaríamos a nossa consciência . . . Sentimo-nos completamente apanhados pelo Senhor . . . não lhe pudemos fugir. . . E o que é mais extraordinário é que isso nos enche de alegria, duma alegria profunda, por nos sabermos amados e chamados a colaborar com Ele na edificação do Seu Reino. Temos tido imensas experiências neste trabalho de evangelização e podemos partilhar convosco o quanto nos sentimos felizes pelas oportunidades que o Senhor nos tem oferecido de testemunharmos o Seu Amor junto dos nossos irmãos. Sentimos a predilecção de Deus por nós e o quanto Ele ama todos os Seus filhos, em especial os que se encontram em · tribulação, em sofrimento, em angustia .. . Sentimos, por outro lado, que o Senhor chama o nosso Movimento a assumir na Igreja um testemunho verdadeiramente importante: o do amor conjugal e familiar, fonte do dinamismo de uma nova civilização: a civilização do amor, como dizia Paulo VI. ~ preciso que a Igreja testemunhe ao mundo que é o amor o grande impulsionador de todos os actos criativos que tornam o homem mais homem, a mulher mais mulher, o casal mais unido, fiel e fecundo, a família mais comunidade de vida e de amor e a sociedade mais justa, mais humana, mais fraterna, de modo que possamos saborear já, aqui na terra, ainda que imperfeitamente, as primícias âa grande felicidade que nos está prometida e destinada: vivermos em comunhão de irmãos na casa do Pai. Por isso, consideramos o nosso Movimento como um extraordinário dom de Deus à Sua Igreja e este esforço de renovação e de redimensionamento das suas responsabilidades na Igreja e no mundo (2. 0 fôlego) como um sinal de que o Espírito Santo actua permanentemente, conduzindo o Povo de Deus pelo caminho da Verdade, do Amor, da Felicidade e da Santidade. ~ preciso que saibamos todos corresponder a este apelo do Senhor a sermos mais santos, para podermos ser fermento na massa que o Senhor quer levedar (santificar). Para podermos testemunhar ao mundo que o compromisso que assumimos de nos amarmos e guardarmos inviolável fidelidade até à morte, e ao qual associámos

-5-


Cristo no Sacramento do matrimónio que ministrámos um ao outro e através do qual tornamos presente Cristo na nossa vida conjugal, como convidado de casamento que permanece para sempre conosco - é um caminho de liberdade, de felicidade , de santidade. Por isso, o nosso testemunho tem de ser alegre, feliz , convincente, para que o mundo acredite, se converta e seja também feliz, como é o desejo do Pai. A nossa principal preocupação deverá ser a de conseguirmos viver segundo um estilo verdadeiramente evangélico todos os aspectos da nossa vida (profissional, conjugal, familiar, social, política, apostólica). Sobretudo na vida apostólica, ensaiarmos a não utilização dos critérios do mundo, mas sim os do Reino de Deus, o que constituirá uma poderosa pedagogia para o resto da nossa vida. Este esforço de coerência entre fé e vida parece-nos absolutamente fundamental, procurando realizar a vontade de Deus, custe o que custar, num testemunho de confiança no Senhor e de abandono completo à Sua pedagogia amorosa. O nosso testemunho de coerência no amor, quer individual, quer em casal, ~ mais ainda em família e em equipa, é absolutamente necessário para dar credibilidade aos cristãos e à Igreja. E esse testemunho tem de ser dado, com toda a naturalidade, através de nossa vida, do dia a dia, desde o campo econômico até ao espiritual. No campo econômico, por exemplo, procuramos pôr tudo em comum, a começar pela conta bancária, primeiro ao nível do casal (quantos casais não mantêm contas separadas? E como pode haver comunhão espiritual profunda no casal, se até no simples campo material há separação?); depois ao nível da família nuclear (dar aos filhos acesso à conta bancária); e mesmo ao nível da equipa, nomeadamente em momentos de dificuldade por parte de algum casal. Esta pedagogia ajudará a criar um espírito de desprendimento e de partilha de bens, abrindo as mãos para dar os bens materiais e mantendo-as abertas para acolher as graças espirituais do Senhor. Este espírito de partilha de bens deverá estender-se a todos os aspectos, desde os materiais aos espirituais . Mais importante do que partilharmos aquilo que temos é partilharmos com os outros aquilo que somos: homens e mulheres de fé , de esperança e de amor. Mas tudo isto se há-de traduzir em gestos e atitudes concretas: na partilha do trabalho, não tendo um duplo emprego, que será deixado para um irmão desempregado, e optando pelo exercício de funções atendendo mais à sua utilidade social do que ao seu nível de remuneração; na partilha do dinheiro, pagando escrupulosamente os impostos, que irão financiar muitos bens públicos postos gratuitamente à disposição de todos os cidadãos e de que os mais pobres beneficiam sem para isso terem contribuído; poupando uma parte do rendimento para que possa haver investimento e assim aumentar o bem-estar das gerações futuras (os nossos filhos); a partilha dos bens de que já não temos necessidade (vestuário, calçado,

-6-


mobiliário, electro-domésticos, etc.) e que se amontoam em nossas casas, quando há tantos irmãos a quem fazem falta; na partilha da nossa casa, praticando a virtude da hospitalidade; e se nos deixarmos conduzir pelo Espírito descobrimos muitos outros gestos e atitudes de partilha, que constituirão fonte de alegria para os que dão e para os que recebem. Aceitamos, com alegria e determinação, o convite que nos é feito no 2.0 fôlego para "ajustar-a nossa vida conjugal, familiar e profissional, aos valores do Evangelho. . . e a não dissociar as exigências da moral privada das exigências da moral social". Maria Almira e Alberto Ramalheira

-7-


A ECIR CONVERSA COM VOCES

"Ninguém que, depois de ter posto a mio no arado olha para trás, é apto para o reino de Deus". Lucas 9,62

Há tanto tempo alguém - quem terá sido? - nos anunciou a proximidade de Deus. Outros nos anunciaram que era possível viver essa certeza integrada na vida diária, entre contas a pagar, crianças a rir e chorar, trabalho e lazer, encarnada na nossa realidade sexuada de homens e mulheres que buscam a unidade dentro da tão profunda e complexa pluralidade de nossos seres. Quem terá assim nos amado? Foram tantos . .. Como enumerá-los? Impossível: a gratuidade da palavra de um, da atitude de outro, da presença do Espírito em todos construiu a nossa história. Mas é possível louvar a Deus por tê-los feito pôr a mão no arado, assim encaminhando-nos a hoje decidir que queremos nos santificar e queremos fazê-lo pelo matrimônio.

r: chegada a hora de nós dois pormos a mão no arado como casal responsável pelas Equipes no Brasil. Vislumbramos o vasto campo que temos pela frente: cinco mil casais espalhados por quase todos os estados deste imenso país procuram viver o desafio de serem felizes no casamento e santos através dele, enquanto tantos outros procuram dissuadí-los; perto de mil equipes reunem-se para auxiliarem-se a vencer esse desafio, convictos de que o Espírito Santo que entre eles habita, lhes possibilitará o discernimento para iluminarem a realidade em que vivem tão diferente no campo e na cidade, no norte e no sul; um momento em que os casais, na fidelidade do carisma que os distingue, percebam a necessidade de renová-lo para torná-lo viável para esta época e vêem-se assim um tanto perplexos diante da liberdade que lhes exige a responsabilidade, a maturidade dos que se libertam da regra para viverem o espírito; um momento em que é preciso ser genuíno, verdadeiro, coerente e livre para que se possa responder ao apelo do mundo por um caminho, uma luz para os casais, que embora queiram viver o amor, estão submersos em uma mentalidade egoísta e pragmaticista, em um individualismo que, apenas acredita na concorrência e na vitória do mais esperto, ou então estão aviltados em sua dignidade humana pela fome, miséri.a e pela doença. -8-


Frente a essa complexa realidade e conhecedores de nossas limitações, sentimo-nos tentados a, depois de ter posto a mão no arado, olhar para trás e reavaliar: seremos capazes? temos a disponibilidade necessária, a criatividade, a informação? estaremos realmente percorrendo um caminho de conversão? seremos capazes de dar continuidade ao trabalho de transformação levado a efeito por Cidinha e lgar com equilíbrio, dedicação, eficazes em manter a unidade, a fidelidade, sem limitar a criatividade? Antes que o medo nos imobilize, recorremos à nosas fé nas palavras de Cristo que transformamos em mística das E.N.S.: "Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estou no meio deles." (Mt 18,19-20). Ei-lo no meio de nós, Conselheiros Espiirtuais, Casais Responsáveis de Setor, de Coordenação, Casais Regionais, Casais da ECIR, todos os casais das ENS, porque estamos reunidos corresponsavelmente em um único movimento de amor, dispostos a realizarmos a missão a que fomos chamados. ~ a este Cristo, assim tão próximo que dirigimos juntos nossa oração: Senhor, nós te louvamos porque quiseste precisar de nós para participarmos na transformação da humanidade no Teu corpo, no Teu povo; Dá-nos a sabedoria para fazê-lo com coerência, no campo que cabe a nós e para o qual nos convocaste - a vida conjugal. Não permita que viremos as costas para a história, para o nosso momento, mas que ao contrário, encontremos a imagem do novo casal passível de ser vivido nos dias de hoje. Abra-nos o coração para que anunciemos a todos, sem discriminação, a Boa Nova do amor conjugal. Dá-nos a coragem de Maria para intervir lá onde falta ·vinho", onde a dignidade humana é manipulada, desvirtuada, pisada. Permita que coloquemos nossa inteligência e criatividade a serviço de uma verdadeira teologia do matrimônio. Dá-nos o discernimento para que saibamos viver a unidade dentro da pluralidade e que a liberdade signifique para nós o reinado do Espírito, fugindo à escravidão da forma e da lei. E sobretudo, Senhor, "não olhais os nossos pecados, mas a fé que anima a tua Igreja". Beth e Romolo

-9-


SEGUNDA INSPIRAÇÃO

A VOCA,ÇÃO DO CASAL: EQUILfBRIO E INTEGRAÇAO Por vári as vezes tivemos a oportunidade de entender melhor a vocação humana através do livro "O DESTINO DO HOMEM E DO MUNDO". Ali ele apresenta um esquema muito simples e profundo. Coloca o Homem na sua relação com Deus e esta relação "é de Pai para Filho" . O Homem é colocado na dimensão do outro e para viver esta dimensão realiza serviços e convive com o outro. Numa terceira relação, vive e domina o mundo. Neste último caso, ele precisa ser Senhor das coisas , dominar a terra.

EU

IRMÃO Serviços

No livro não foi apresentada a dimensão do Homem consigo mesmo porque o objetivo é analisar o Homem nas dimensões externas. Todavia , aproveitando a idéia inicial, podemos adaptar esta quarta dimensão para o nosso objetivo que é comparar ou adaptar a SEGUNDA INSPIRAÇÃO dentro de uma visão do esquema ante-

-

10 -


rior. Pretendemos, com vocês, aprofundar um pouco a Segunda Inspiração para percebermos o quanto de equilíbrio, de integração esta primeira-nova-segunda-inspiração exige de todos nós. Convidamos você para substituir, no esquema apresentado, o HOMEM do círculo central e colocar CASAL. A partir desta substituição comece você, casal, a se perguntar o que a Segunda Inspiração quer fazer do Movimento das ENS. Quer levar o casal à santidade, através de um Movimento de Igreja que tem uma mística, uma vocação e uma missão. Indo mais a fundo na sua reflexão, você pode concluir que o CASAL e não o homem e a mulher são o centro da criação. O que o Movimento deseja é possibilitar a realização total do Homem/Mulher/Casal de sua vocação. Como CASAL então, precisamos realizar nossa vocação para Deus e como CASAL somos filhos, iguais em dignidade e diferentes para a complementação. O Casal equipista que der demasiada atenção à dimensão para Deus, correrá o sério risco de viver um espitualismo desencarnado do Mundo, do Outro e de si mesmo. Aquele casal que julga se santificar vivendo somente de Serviços aos outros, esquecendo as demais dimensões, corre o risco de buscar soluções apenas humanas. Aquele outro casal que se voltar somente ao Mundo, procurando desempenhar sua profissão da melhor maneira possível, esquecendo as demais dimensões estará correndo o risco de acumular bens e riquezas que o podem sufocar. Agora, aquele casal que se voltar para si mesmo e esquecer o resto, viverá um profundo egoísmo que não santifica. O que fazer? Como procurar o equilíbrio? Onde buscar a solu· ção? Dois modelos da prática de vida estão aí para serem seguidos: Cristo e Maria. Ambos equilibram suas vidas nas quatro dimensões. Ambos buscam, e não se trata de pensarmos que tudo foi fácil. Foi uma conquista. Ambos se esforçam para continuamente viverem três atitudes: A busca da vontade e do amor de Deus; A busca da verdade; A busca do encontro e comunhão, e viverem esta busca fazendo qualquer coisa, seja o serviço da profissão ou o serviço da casa, seja o estar com o outro, seja o viver a oração e o encontro consigo mesmo, seja o que for, tudo ajuda para realizar sua vida, sua missão. Continue sua reflexão amigo casal, e perceba o quanto a Segunda Inspiração o convida a buscar sua santidade através da vivência de pontos concretos, através da vivência de sua vocação. da realização de sua profissão e do serviço ao outro, à Igreja e ao mundo. -

11-


A maneira mais correta de viver isso tudo é parar de complicar as coisas. Parar de dividir oração e trabalho, serviço ao outro e oração, vivência da sexualidade e oração e por aí afora. Numa palavra: vamos juntar F~ e VIDA. Somente assim nossa espiritualidade é integradora, uma vez que dá o devido valor a cada uma das quatro dimensões. Veda e Darci

-oOo-

A ECLESIALIDADE DAS ENS O Papa João Paulo 11, na Exortação Apostólica Christifideles Laici, enfatiza a necessidade da agregação 'dos fiéis leigos, como uma forma de participar da Igreja e de desenvolver mais eficazmente a vocação e missão de cada um. São diversos os motivos que justificam ou exigem a agregação dos fiéis leigos. O Papa destaca uma razão de ordem teológica, quando afirma que o " apostolado associado" é fundamental como um "sinal de comunhão e de unidade da Igreja em Cristo." Portanto, aí está a razão eclesiológica das ENS: ajudar a Igreja no anúncio do Evangelho; participar do esforço de toda a Igreja para uma verdadeira renovação do mundo, a partir das exigências do Evangelho; produzir frutos de amor, de justiça, de paz e de esperança para os irmãos, principalmente para os mais necessitados; renovar a vida conjugal e familiar, ajudando a transformar as famílias em verdadeiras Igrejas domésticas; e assim por diante. A razão eclesiológica das ENS fundamenta-se no atendimento às ordens de Cristo: "Ide e pregai o Evangelho" . Neste sentido, os fiéis leigos, quando se reúnem em movimentos e formam comunidades maduras, participam da nova evangelização, como propõe a Igreja hoje. A Segunda Inspiração supõe uma nova evangelização para todo o movimento, para todos os casais e sacerdotes que fazem parte das ENS. Os casais que não derem frutos, uma vez que dar frutos é uma exigência essencial da vida cristã e eclesial, serão cortados pelo Pai, lançados fora e queimados. (Jo 15, 2) . Mariola e Elizeu CR da Região Centro-Norte -12-


CAMINHANDO COM A IGREJA

A MISSAO DA FAMfLIA NO MUNDO DE HOJE A Exortação Apostólica do Papa João Paulo 11 sobre ·A missão da famflia no mundo de hoje" (" Familiaris Consortio ") foi promulgada um ano depois do srnodo de 1980 sobre a famrlia, utilizando os resultados de seus trabalhos.

Introdução (n.o 1-3)

Por ser a família cristã a primeira comunidade chamada a viver e anunciar o Evangelho, a Igreja se considera a serviço dela. Somente com o acolhimento do Evangelho, o matrimônio e a família podem realizar-se em plenitude. Primeira parte: luzes e sombras da família de hoje (n.o 4-10)

Luzes: consciência mais viva da liberdade individual; maior atenção ao relacionamento interpessoal no matrimônio; promoção da dignidade da mulher; procriação responsável e maior atenção à educação dos filhos; maior abertura entre famílias e descoberta da missão ecleslal própria da família. Sombras: falsa independência dos esposos entre si; crescimento do número dos divórcios; praga do aborto; esterilização sempre mais freqüente; generalização de uma mentalidade contraceptiva; miséria material no chamado "Terceiro Mundo". Daí a necessidade de uma recuperação da consciência do primado dos valores morais através de uma educação da consciência moral. Segunda parte: · o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a famflla (n.o 11-16)

Deus fez o homem e a mulher por amor e chamados ao amor. A sexualidade é parte integrante deste amor, assim como a paternidade responsável. A instituição matrimonial é a expressão de um pacto de amor conjugal único e exclusivo: o amor conjugal é a imagem do amor com o qual Cristo nos amou.

-13-


Os esposos devem ser testemunhas da salvação da qual participam pelo sacramento do matrimônio e mais ainda, quando cooperam com Deus no dom da vida, diretamente ou adotando crianças sem pais. O matrimônio cristão é assim um ponto de inserção da pessoa humana na grande família que constitui .a Igreja. Terceira parte: os deveres da família cris~ã (n.o 17-64)

A família é confiada a missão de guardar, revelar e comunicar o amor. 1. Os pais, filhos, parentes formam uma comunidade. Os esposos são chamados a crescer continuamente através da fidelidade cotidiana a sua promessa matrimonial. A indissolubilidade do matrimônio é fruto, sinal e exigência do amor conjugal. A comunhão conjugal é o fundamento da comunhão da família. Ela só pode ser conservada e aperfeiçoada com um grande espírito de sacrifício. O homem e a mulher possuem a mesma dignidade e responsabilidade, embora tenham na família funções diferentes. A criança, por sua vez, tem direito a um profundo respeito da parte de seus pais e de toda a sociedade. ~ de desejar que o ancião permaneça inserido na vida da família, da sociedade e da Igreja. 2. A tarefa fundamental da fam flla é o serviço à vida. A fecundidade é o fruto e o sinal do amor conjugal. Lutando contra uma mentalidade ·anti-vida", só os esposos são habilitados a decidir sobre o número de seus filhos: toda campanha de autoridades públicas em favor da contracepção, da esterilização e do aborto é uma violência inaceitável. Pior ainda, quando ligada a programas de ajuda econômica. Os esposos devem preparar seus filhos a viver mente humana. A base deve ser uma educação para o as exigências da educação sexual. Aos pais deve ser reito de escolher uma educação em acordo com a sua

uma vida plenaamor, integrando assegurado o difé religiosa.

3. Longe de se fechar sobre si mesma, a família cristã deve assumir sua tarefa na construção da sociedade, tanto local como internacional. Deve, pois, lutar contra toda pressão desumanizante, despersonalizante, massificante, mantendo viva a consciência da dignidade da pessoa humana. Daí as exigências de uma política familiar, destinada a sustentar e defender os direitos e deveres da família na sociedade. O Estado deve favorecer e até solicitar o mais possível, a Iniciativa responsável das famílias. 4. A família cristã é chamada a transmitir sua fé e seu amor a Cristo tanto aos seus membros quanto à sociedade global. Participando

-14-


da missão de salvação, que é missão da Igreja: a igreja doméstica é chamada a ser um sinal luminoso da presença e do amor de Cristo para os ·afastados", assim como em terras de missão, quando chamada a essa vocação. O valor do sacramento do matrimônio acompanha os esposos no decorrer de toda a sua vida. A. espiritualidade conjugal e familial deve se alimentar dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, assim como da oração conjugal e familial. Vivendo em plenitude o mandamento do amor, a família cristã, em continuidade ao batismo na água e no espírito, ensina a ver em todo homem o irmão. Quarta parte: a pastoral da família (n.o 65-85)

1. As etapas da pastoral da família são as da própria vida: preparação remota pela educação, preparação próxima através de uma catequese específica, preparação imediata pelo chamado exame pré-matrimonial. 2. Nenhum plano de pastoral orgânica pode prescindir da pastoral da família, insistindo sobre o seu aspecto de auxílio mútuo e incluindo os mais pobres, os doentes, os idosos, os deficientes, os órgãos, as viúvas, os separados, as mães solteiras. A essa responsabilidade devem estar atentos todos os movimentos e associações de casais e famílias. 3. O primeiro responsável pela pastoral da família na diocese é o bispo; será auxiliado pelos sacerdotes e diáconos, pelos teólogos e pelos peritos especializados, assim como pelos institutos de vida consagrada que se dedicam ao serviço das famílias. 4. Certas categorias de problemas de pastoral da família exigem não somente assistência mas também uma ação incisiva sobre a opinião pública e sobretudo sobre determinadas estruturas culturais, econômicas e jurídicas: é o caso das famílias de emigrantes, das famílias ideologi· camente divididas, das famílias afetivamente separadas. Os matrimônios mistos, as uniões irregulares ou de experiência não devem ser esquecidas, nem os divorciados recasados, nem os • sem-família". Conclusão.

O futuro da humanidade passa pela família. ~. pois, indispensável que cada pessoa de boa vontade se empenhe em salvar e promover os valores e as exigências da família, colocando seus esforços debaixo da proteção da Família de Nazaré. Fr. J. P. Barruel de Lagenest, O.P.

-15

~


PASTORAL DA FAMILIA

AÇÃO DA IGREJA COM A FAMlLIA E AÇÃO DAS FAMlLIAS COM·A IGREJA 1. INTRGDUÇÃO O grande desafio que se coloca no momento é responder ao chamado de ser presença redentora junto dos homens, nossos irmãos, e resgatá-los da menos vida, da morte até, e apresentar-lhes o caminho de volta ao Paraíso, o que não é tarefa fácil. Até onde os cristãos, e especificamente nós católicos, perdemos o crédito? Não sabemos, mas sentimos que a força da Redenção está mais fraca, talvez porque perdemos a certeza da resposta que a Boa Nova traz para as expectativas do homem de agora; ou, talvez, porque perdemos o senso da oportunidade da Revelação; ou, talvez, porque enquanto filhos da Igreja, perdemos a marcha da história que, como ci.dadãos do mundo, acompanhamos ou somos levados a acompanhar; ou, talvez, porque perdemos a sintonia com esta história, que não é, de pronto, aceitar e concordar com tudo. As coisas passam ou acontecem diante de nossos olhos de crentes e não as vemos, não as escutamos, embora a nossa razão e o nosso coração de homens e mulheres se preocupe e se angustie. , A necessidade de sermos agentes da plena redenção nos coloca diante de nós mesmos, diante de nossa vida, de nossa coerência e da nossa fé. t, sem dúvida, mais fácil falar da verdade do que ser testemunha da verdade, pelo que se é e pelo que se faz. Somos contaminados pelo que acontece, mais do que somos capazes de ser fermento. Como é a "massa" necessitada de fermento? De qual fermento ela precisa? Como ser fermento e massa ao mesmo tempo? Esta introdução nos questiona não sobre o que vamos fazer como agentes de pastoral, mas, e fundamentalmente, sobre o que somos enquanto pessoas que querem ser agentes de pastoral e sobre o que somos enquanto família. ,. A vivência concreta do dia-a-dia mostra-nos que não somos nem melhores nem piores do que outros, mas iguais. Não somos imunes às quedas e aos desvios, e talvez para os outros apareça o nosso testemunho quando nos esforçamos para nos manter de pé. Casamento, para nós cristãos, significa casar-se a cada dia, como cristianismo significa cristianizar-se a cada dia pela Luz e pela Vida com todos os homens.

-16-


Nesse sentido vale perguntar: qual é o testemunho - de amor e de justiça, de solidariedade e de fraternidade - que dá o nosso casamento e a nossa família? 2. O QUE É PASTORAL FAMILIAR?

A família é uma realidade complexa e abrangente, que vai da pessoa à sociedade, tocando em praticamente tudo o que diz respeito à vida humana e ao relacionamento entre os homens. Esta realidade, por isso mesmo, nunca pode ser reduzida a um ou outro de seus aspectos, sob pena de um enorme empobrecimento do seu significado e importância. O desafio, pois, é este: a PASTORAL FAMILIAR é uma pastoral abrangente, que precisa ser servidora e solidária. Quem quer ser agente desta pastoral deve estar convencido desta abrangência. :e. da preocupação da PASTORAL FAMILIAR a família na sua dimensão de pequena comunidade de pessoas, e é igualmente dela a preocupação por todas as questões sociais que hoje, mais do que nunca, interferem e determinam a própria maneira de ser desta pequena comunidade. A PASTORAL FAMILIAR que se contentasse apenas com o primeiro aspecto seria uma pastoral extremamente pobre e até ineficaz. Todo o esforço de construção da família, dissociado da construção de novas estruturas, na direção do Amor e da Justiça, será sempre mais uma ingenuidade, porque toda a mudança no sentido do bem acaba sendo engulida pela voracidade de um mundo cada vez mais insano. As estruturas de opressão e de exploração atingem muito a sociedade como um todo, mas de modo particular a família. Por isso, mais do que rebuscar grandes teorias, às vezes compondo grandes doutrinas, é preciso refletir sobre a escravidão e a desumanização que estão na vida social, e que muitas vezes, inconscientemente, a própria família reproduz. O gérmen da libertação desabrochará através da família e por sua ação consciente também na sociedade como um todo. Nesse sentido, é preciso mudar as estruturas, como é preciso mudar a família. Uma PASTORAL FAMILIAR libertadora pensará a família como pequena comunidade que se insere numa caminhada solidária com outras famílias, por meio de uma vivência eclesial de caráter comunitário. O processo de libertação e vivência acontecerá na pequena comunidade que alimentar uma vida familiar autêntica e, ao mesmo tempo, o processo de transformação das estruturas. Quando falamos de PASTORAL FAMILIAR não estamos reduzindo o seu sentido aos movimentos familiares, nem à sua coordenação. PASTORAL FAMILIAR não é uma "fusão" de movimentos familiares, nem a tentativa de coordenação dos mesmos. Não significa isso que não devamos respeitar os autênticos movimentos familiares e a sua história de muitas e importantes contribuições à esta pastoral. Importa realmente descobrir qual é o "lugar" dos movimentos numa PASTORAL FAMILIAR e um questionamento sincero da visão de homem, de sociedade e de Igreja que eles têm e que alimenta a sua vida e ação.

-17-


Precisamos estar atentos para não incorrermos no erro de um planejamento, de uma organização e de uma técnica eficiente que assume um caráter velador dos conflitos. Isto acontece, freqüentemente, numa ação pastoral "de cima para baixo", que, por detrás de um "buscar fazer as coisas", mesmo que bem planejadas, esconde o temor de encarar os problemas, de entrar a fundo nos conflitos e de buscar uma ação a partir deles, e que se constitua em resposta efetiva. A experiência no trabalho junto às famílias pode nos mostrar claramente que a PASTORAL FAMILIAR se faz a partir dos conflitos, dos problemas, das contradições da sociedade. E assim vamos sentindo que não existem modelos de PASTORAL FAMILIAR prontos, que possam ser sempre eficientes e aplicáveis em todos os lugares e em todas as situações. A tão cantada e decantada participação dos leigos na Pastoral precisa perder o clássico sentido de que somos chamados a fazer alguma coisa e quase sempre executar um plano elaborado por religiosos - , para assim assumir a realidade de batizados, do verdadeiro sentido do ''fazer-se Igreja", do "ser família-Igreja". Estamos pouco a pouco verificando o surgimento na Igreja de uma nova vitalidade para além de tudo o que se tinha planejado. Isto é, uma vitalidade eclesial dada "a partir das necessidades, sofrimentos, fé e esperança do povo", que se assume e se organiza numa caminhada mais articulada, coordenada, refletida e colegiada na vida da Igreja, em função da força do seu compromisso evangélico e da pertinência do seu testemunho. Planejar é "articular", "por em prática" o que se auscultou da vida dos homens e das famílias, como seus anseios de realização, que encontram na mensagem de Jesus Cristo a esperança, a força e a resposta. A mensagem de Jesus Cristo, da qual a Igreja é portadora, é resposta vivencial, não enquanto texto de livros ou motivos de discussões teologais, mas justamente por fazer parte da busca, das realizações e da caminhada de uma comunidade e de um povo. E, na dinâmica da vida dos homens pode-sé' descobrir a atualidade, a eternidade, a oportunidade da mensagem de Deus. A PASTORAL FAMILIAR precisa justamente estar a serviço desta busca com todas as famílias, preferencialmente com as mais carentes, e não com grupos privilegiados e fechados em si mesmos. A cada modelo de Igreja corresponde um modelo de pastoral, assim como a cada concepção de fé corresponde um enfoque teológico. Neste sentido, qual é a concepção de Igreja que temos, e em qual modelo vivemos? Somos uma Igreja toda bem programada e hierarquizada, que nos coloca na posição de espera para o que nos mandarem fazer, rezar, viver. . . Somos uma Igreja de pequenos grupos privilegiados, escolhidos, simpáticos a Deus, que se destacam de uma massa de esquecidos, marginalizados, explorados, incapacitados para o amor e para o diálogo? Sentimo-nos bem entre os "bem-

-

18 -


casados", entre os "bem aquinhoados espiritual e materialmente", entre os "irmãos na fé"? E diante dos casais separados, indiferentes, ajuntados? E diante dos prostituídos e marginalizados, e das famílias pobres, desagregadas, partidas ao meio? 3 . COM QUEM PENSAMOS FAZER PASTORAL FAMILIAR?

O Concílio Vaticano 11 apresentou a Igreja num contexto de COMUNHÃO, sublinhando ser ela uma comunidade de Fé, de Esperança e de Amor, chamada, através de seus diferentes ministérios, a cumprir sua missão proclamadora da Boa Nova do Reino de Deus. Ela tem sempre como meta (pelo menos deveria ter) a causa de Jesus Cristo, isto é, "a causa de Deus e a causa do homem, a vontade de Deus e o completo bem do homem." Nesse contexto, a grande tarefa da comunidade de crentes é manifestar Jesus Cristo como critério e norma, com tudo o que Ele significa para o presente e o futuro . Por isso que Puebla salienta que o modelo da Igreja· é o modelo do Cristo que se fez servidor e solidário, para que o seu compro.misso evangélico seja como o de Criso: um compromisso com os mais necessitados. Uma Igreja que se queira localmente eficaz, servidora e solidária terá, pois, que se perguntar: qual é a realidade dos homens e das famílias neste lugar? Quais são as suas necessidades? Quais são as respostas mais adequadas? Quais são as estratégias para viabilizar as ações? Um PASTORAL FAMILIAR nesta mesma Igreja deverá se perguntar: Como está a família? Como vivem as pessoas nas famílias? Quais são os seus conflitos? Como é o contexto onde vivem as famílias? Como as famílias cristãs se assumem como Igreja hoje? Uma Igreja que se queira fraterna e acolhedora, compromete-se a encontrar formas pastorais que, desde o momento da opção de ações até a execução, traduzam fraternidade, acolhimento, colegialidade, participação de todos os seus membros. Quando todos se sentem participantes de uma responsabilidade comum, torna-se operativo o organizar, o executar, o rever, o avaliar, o redimensionar o trabalho pastoral. Em síntese, a PASTORAL FAMILIAR é fruto de um viver eclesial com a participação efetiva de todos os que com ela se comprometem. Não há lugar para simples planejadores e executores, dicotomicamente funcionais. O funcionalismo não convive com a fraternidade e a comunhão que se pretendem através desta pastoral. ~ preciso que se insista na pastoral como um processo contínuo, que seja lugar de comprometidos com a evangelização. Evangelização de uma Igreja servidora e solidária no mundo dos homens, que serão capazes de se perguntar sempre: A quem servimos? Como servimos? De quem somos solidários? Como se concretiza a nossa solidariedade?

-

19-


Assim, surpreendentemente, descobrimos que a missão da família cristã é hoje, como sempre e talvez mais do que nunca, a própria missão da Igreja. Por isso é que tem sentido cchamar a família de "família-Igreja", "pequena Igreja, "o lar que é Igreja", e a pastoral das famílias como a pastoral de toda a Igreja. f: por isso também que a PASTORAL FAMILIAR é abrangente, pois toca em todos os aspectos da vida pessoal e comunitária. Mais do que nunca, faz-se necessária uma perfeita integração da PASTORAL FAMILIAR com todas as outras pastorais que atuam em campos específicos, como a pastoral do mundo do trabalho, a pastoral social, a pastoral catequética, a pastoral dos meios de comunicção, a pastoral da juventude, e todas as demais. Ao assumir conscientemente a sua missão específica, a família pode determinar para a Igreja os critérios para a sua ação pastoral, e determinar os critérios das ações na sociedade, na linha da humanização e do respeito à dignidade da pessoa, como criatura de Deus. Assim é que se entende a família como a "presença da consciência e do sentido dos valores cristãos", na Igreja e na sociedade. Reforçando toda essa importância do trabalho pastoral com a família, queremos dizer que ele não se fecha, não se concretiza em si mesmo, mas se ·completa quando leva a família a viver comunitariamente a sua fé. A PASTORAL FAMILIAR se realiza quando, através de todos os seus instrumentos de ação-resposta aos anseios do homem por mais vida, motiva as pessoas da família para uma real integração na vivência eclesial comunitária. A PASTORAL FAMILIAR se concretiza, realimenta, cresce, cria raízes e · dá frutos na vida das pequens comunidades eclesiais onde o processo de evangelização é contínuo e transforma a Igreja e a sociedade. Em suma, é boa uma PASTORAL FAMILIAR onde surgem e vivem muitas pequenas comunidades eclesiais. f: através dessa vivência eclesial comunitária - que dá atenção à pessoa que aí está, à vida conjugal e familiar e à vida comunitária - que acreditamos ser possível a transformação da sociedade. Por esse caminho redescobriremos a direção tão necessária para o amadurecimento da fé e do compromisso social do crente, como também o surgimento de uma sociedade nova, construída sob o lema do amor com justiça. Apenas esta sociedade será mais a favor do homem e da família, e a família poderá então responder mais qualitativamente como fonte do novo, do cristão e do eterno. Agostinho e Elisabete

-20-


A IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA Maria Santíssima - a Imaculada - idealizada no projeto de Deus desde a eternidade, concretizou o projeto dívino com uma perfeição inigualável. A Imaculada é toda de Deus. Absolutamente toda e absolutamente de Deus. Sua vontade é sempre tão unida à vontade de Deus que nunca existiu a mínima dissonância entre estas duas vontades distintas. Maria essencialmente é sempre "a serva do Senhor". Não existe uma outra criatura mais perfeitamente unida com Deus do que Maria, a Imaculada. O outro extremo constitui o demônio: ele sempre é radicalmente contrário ao projeto de Deus e à vontade dívina. Seu lema é: "Não servirei I" o manifesto da revolta radical, insanável. a essência do pecado. Nós, criaturas humana na situação atual, experimentamos um turbilhão: de um lado sentimos uma maravilhosa atração da graça de Deus; de outro lado, uma terrível atração do pecado. O projeto de Deus é maravilhoso : "Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo ( . .. ) nos escolheu em Cristo, antes da constituição do mundo para sermos santos e irrepreensíveis aos seus olhos, predestinando-nos à adoção de filhos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito de sua vontade" (Ef. 1,3-5).

:e

'··

:e

Seria realmente maravilhoso, se não houvesse o abismo infernal do pecado! "Não entendo absolutamente o que eu faço: pois não faço aquilo que quero mas aquilo que mais detesto ( .. . ) No íntimo do meu ser amo a lei de Deus. Mas sinto nos membros outra lei que luta contra a lei do espírito e me prende à lei do pecado que está nos meus membros" (Rom. 15,22-23). Todos somos submetidos às provas e provações. As tentações de toda sorte exercem sobre nós uma atração bem forte. Somos frágeis e vulneráveis. Vacilamos muito. Muitas vezes caimos. Há fracassos. Não pertencemos perfeitamente a Deus. Precisamos de muita ajuda para alcançarmos a meta desejada da salvação definitiva. Deus resolveu servir-se de Criaturas humanas para conduzir a humanidade à salvação. Ele escolheu Abraão e Moisés, todos os Patriarcas

-21-


e Profetas ao serviço do s~u gigantesco projeto salvífico. Escolheu os Apóstolos e todos os seus sucessores para dar a continuação à Igreja - obra, lugar e meio de salvação. Um papel todo especial Deus reservou a Maria. Escolheu-a para a obra mais maravilhosa que já aconteceu, ou seja para a Encarnação do seu Filho Dívino na natureza humana. A vinda do "Filho do Altíssimo" a este mundo marcou a "plenitude dos tempos" . Foi o momento radical da Salvação. E este acontecimento central de toda a história se deu - pela vontade explícita de Deus - em Maria e por Maria, pela Imaculada. Maria é de confiança total de Deus. Ela não foi simplesmente um "lugar passivo" na obra de Deus; ela "colaborou" ativamente nesta obra. Isso vem aparecendo desde o Gêen. 3,15, onde aquela "Mulher", apresentada profeticamente por Deus, ia "esmagar" a cabeça da serpente, até o Apocalipse (cap. 12) onde a "Mulher" participa na luta contra o dragão, sendo que o dragão lhe manifesta seu mais determinado ódio infernal. A história da Igreja em geral, e a história dos fiéis caso por caso, testemunham as "grandes coisas" que o Senhor fez e continua fazendo por meio de Maria - a Imaculada. As aparições marianas - só para se referir àquelas mais famosas e reconhecidas pela Igreja - como as de Lourdes e as de Fátima, dão testemunho eloquente do papel de Maria na obra da salvação. Notemos bem: Maria não é usurpadora dessas prerrogativas: é o próprio Deus quem lhe reserva as "grandes coisas" e grandes vitórias finais. A profecia de Fátima, proferida pela própria Virgem: "No fim o meu Imaculado Coração triunfará! " é muito significativa e animadora. O projeto de Deus, mesmo que fracassando em alguns casos particulares, não sofrerá fracasso geral. Estar do lado de Maria significa estar do lado de Deus. E estar do lado de Deus é a garantia da vitória definitiva. Apostar em Maria é uma vantagem sem riscos. Daí: "Tatus Tuus", daí: "Per Immaculatam" . Dom Frei Agostinho, OFMConv.

-22-


O DEVER DE SENTAR-SE: UMA EUCARISTIA? Alguns trechos do Evangelho são construídos seguindo o plano de uma celebração da Eucaristia: as bodas de Caná, os peregrinos de Emaús, a Samaritana, a ressurreição de Lázaro .. . Tomemos como exemplo, a multiplicação dos pães (Mt. 14, 13-23): Introito: As multidões seguem a Jesus, se reúnem (v. 14) Perdão: Jesus tem piedade. Ele cura. (v. 14) Palavra: Jesus fala, ouve, orienta, comenta (v. 15 a 17) Ofertório: Oferta dos pães e dos peixes (v. 18) Consagração: Jesus abençoa e parte o pão (v. 19) Envio: Jesus despede a multidão. Depois, Jesus continua a sua oração (v. 23). Permanece junto aos seus amigos (v. 25) e lhes transmite a sua força (v. 27 e seguintes). São as páginas de nossas vidas que são estruturadas como uma Missa, ou será o Cristo, através dos evangelistas, que quis criar este paralelismo? O "dever de sentar-se" pode ser vivido como uma Eucaristia: Introito: sentados ou caminhando, reconhecer-se diferentes e unidos. O sinal da cruz. O Senhor está no meio de nós. Perdão: pedir, oferecer, receber. A graça do sacramento do matrimônio quer curar todas as faltas, preencher todos os vazios, aumentar todas as qualidades e todo amor. Palavra: dizer o que vai bem, o que não vai. Saber dizer: "Nisto, o Senhor estava presente!" Nossa vida de família: uma História Santa? Credo: Deus é Pai, Filho, Espírito. Ele informa nossa unidade na diversidade . .. Homem e mulher, mas a mesma fé. O que é importante, neste momento, para a nossa fé? Ofertório: amar é dar tudo, é receber tudo. O que temos para dar um ao outro, aos filhos i A irradiação de nosso casal? Consagração: Senh9r, o que temos vivido, o que queremos viver, sois Vós! Nós somos Vós! Transformai-nos em sagrado, consagrai-nos! Comunhão: um só coração, um só corpo, um só amor com o coração, a corpo e o amor de Cristo. Oração: juntos, podemos orar . .. Envio: com Cristo, mais fortes para amar, para acolher, para tornar o outro e os outros mais felizes. Eucaristia: Obrigado, Senhor! Pe. Dominique Chapotin (da Carta francesa n. 0 83) -23-


INTERNACIONAL

VOLTANDO DA POLONIA· A Polônia está na ordem do dia. No Ocidente, seguimos com interesse o aparecimento da "Solidariedade" no cenário político oficial, após anos de trabalho subterrâneo. Mas será que nós, casais das Equipes de Nossa Senhora, sabemos que o nosso Movimento conta, hoje, na Polônia, com mais de 1.600 equipes ·irmãs" - quase tantas quanto na França? São equipes que também trabalharam na sombra durante 1O anos, e que nem por isso deixaram de conhecer um extraordinário desenvolvimento; elas têm hoje uma existência quase oficial. Tivemos a alegria, em abril e maio últimos, de passar, pela segunda vez, quatro semanas com essas equipes polonesas. A seu convite, partilhamos com elas as nossas experiências e procuramos aj udá-las a melhor incorporarem-se no espírito de nossa grande família. Deste modo, com casais e padres poloneses, animamos quatro sessões de quatro dias (com 80 a 90 participantes em cada uma) e uma dezena de encontros (com 100 a 150 participantes cada) , nos quatro cantos da Polônia. Foi uma experiência maravilhosa e extremamente dinâmica para a nossa própria fé! De fato, a primeira coisa que impressiona quando se tem, assim, a oportunidade de conviver por um mês com estes casais e estes padres poloneses, é a sua fé, uma fé profunda, dinâmica, militante. Pensamos, especialmente, .nos homens e nas mulheres que não hesitam em mostrar abertamente seu engajamento cristão. . . com o freqüente prejuízo de seu desenvolvimento profissional ; ou ainda, pensamos no compromisso que se pede a todos os membros das Equipes, de não fumar nem beber álcool, para darem seu testemunho num país onde o fumo e sobretudo o álcool causam uma enorme devastação; ou então pensamos no tempo consagrado à formação: os Poloneses só têm três semanas de férias por ano, e no entanto 2.000 membros das Equipes participaram, em 1988, de sessões de formação de 4 dias ; um número igual fez retiro de duas semanas do tipo daqueles que são organizados pelos • Foyers de Charité ". A segunda coisa que nos impressionou foi sua sede de a experiência dos outros. Constantemente, interrogavam-nos: como vivem isto? Como fazem aqurfo? No seu país, vocês têm dificuldade que nós para o dever de sentar-se, para a oração

-24-

conhecer E vocês, a mesma conjugal,


para a partilha ... ? Existem E.N.S. em tal ou qual país? Especialmente em outros países do Leste?

t: verdade que são poucos os Poloneses que têm a possibilidade de sairem de seu país e que não confiam nas informações oficiais que recebem; logo, eles têm sede de sabet o que acontece no exterior. Independentemente deste fato, a sua curiosidade a respeito da experiência dos outros é mui.to maior do que a que encontramos na França ou em qualquer outro país que já visitamos. ( ... ) Fé, sede de conhecer o que se vive nas outras Igrejas, mas também humildade. Em várias ocasiões, nestas quatro semanas, ficamos emocionados com a franqueza dos testemunhos que recolhemos, seja em conversas particulares, seja nas confraternizações. Lembramos por exemplo daquele homem, por muito tempo militante do partido comunista e depois alcoólatra em grau extremo, que, passados os 50 anos, se converteu e é, hoje, um membro ativo do Movimento; ou ainda, daquela mulher, também militante do partido, que veio a casar-se na Igreja com um rapaz sensacional, com quem acabou assumindo grandes responsabilidade no Movimento. . . e haveria muitos outros exemplos a dar. Humildade no testemunho, e também humildade profunda de todos estes sacerdotes e casais, dizendo nos com toda a franqueza as suas dificuldades e pedindo explicações e conselhos para melhor viver, em casal ou em equipe, a proposta das Equipes de Nossa Senhora. . . e contentes em saber que tanto nós mesmos como as equipes de outros países têm dificuldades, muitas vezes as mesmas que na Polônia. Mas jamais disseram: "tal aspecto não nos convém; nós o deixamos de lado". Poderíamos continuar por muito tempo, pois as riquezas que trazemos desta viagem à Polônia são muitas. Mas a Carta das Equipes não seria suficiente! Gostaríamos, como conclusão, de transmitir a vocês as duas coisas que mais nos impressionaram. Por um lado, nossos amigos poloneses continuam vivendo numa situação política e econômica muito difícil. Mas, com a exceção de algumas alusões humorísticas, em nenhum momento os ouvimos queixar-se: que lição, para nós, ocidentais! Por outro lado - e é o essencial -, apesar deste contexto diffcil, a Igreja da Polônia, amadurecida por 50 anos de dolorosas provações que a marcaram profundamente, conhece hoje um período de fecundidade apostólica excepcional; está se transformando na ponta de lança de nossa Igreja católica, especialmente no seio do mundo comunista. t: um extraordinário paradoxo, quando se percebe que foi no próprio seio deste mesmo mundo comunista que tal maturação se produziu,

-25-


uma maturação cujas conseqüências para o futuro da Igreja e do mundo nós, do Ocidente, não conseguimos avaliar, cegados que somos por nosso materialismo e pelos nossos próprios conflitos. Quanto a nós, casais das Equipes de Nossa Senhora, será que temos consciência da graça e ao mesmo tempo da responsabilidade que representam para o nosso Movimento essas 1.600 equipes polonesas? Uma graça, ~ois, vivendo as provações, elas as oferecem diariamente, enquanto esperam poderem participar mais ativamente de vida do Movimento. Uma responsabilidade, pois elas têm uma necessidade imperiosa do sustento das nossas orações, por elas e pela sua missão no seio do mundo comunista, que já começam a desempenhar. ~ por intermédio delas que outras equipes irmãs estão nascendo em países onde, há apenas dois anos, isto teria sido impensável. Por tudo isto, pelo testemunho que nos dão, um muito obrigado aos nossos amigos poloneses. Com eles, demos graça ao Senhor. E rezemos sem cessar por eles e por essas novas equipes que eles estão lançando. Magnificat! Louis e Marie D'Amonville. (da Carta francesa n.0 83, set.jout. 89)

-26-


NATAL DE NOVO Já? Como passa depressa o tempo! Chavão de sempre ... E vamos deixando o tempo passar, e cada Natal que chega é igualzinho ao Natal passado, e ao outro, e ao outro. Por que será? Porque somos um "povo de dura cerviz", como o povo judeu do tempo de Moisés. Será que estou sendo pessimista nesta consideração? Não sei. Parece-me são tantas as graças que recebemos, no dia a dia, de Deus Pai, através dos amigos, através dos acontecimentos, através de tudo, que se correspondêssemos generosamente a todas elas, tornar-nos-íamos santos à força. E santos não somos. E quando olhamos para o ponto de referência obrigatório, o Cristo, escondemos a face de vergonha, pela distância que dele nos separa ainda. :!! o Natal que me faz pensar em tudo isso. Porque na vida do cristão, é um ponto de referência obrigatório, como 01 Cristo. Não é por nada que a liturgia - escola de vida cristã - coloca tal realce na celebração, relembrando um acontecimento da história. Mas já sabemos que não se trata da história passada, e já sabemos que não se trata de relembrar mas de reviver. :!! a História humana, em bloco, que toma nova feição, novo rumo-, quáhdo- nela mergulha o próprio Deus, que no Seu presente eterno não tem ontem nem amanhã. :!! a nossa História, não outra, que para nós vai distilando as gotas do tempo, para Deus não. Então, se eu sei e creio que Deus está presente, como o Outro por excelência no âmago da minha própria existência, e se eu sei que o único relacionamento possível com êsse Outro é um relacionamento de amor, por que sou tão difícil em aprender essa lição e tão rebelde em amar, e tão apegado ao meu egoísmo, negação pura e simples do espírito de Natal - presença de Cristo-Deus-Amor? Por isso é que não somos ainda santos. "Paz na terra aos homens de boa vontade", cantaram os anjos. A paz que nós talvez não temos ainda, completa, envolvente, porque apesar de sermos eternamente objetos da boa vontade de Deus, não correspondemos com a nossa medida que o Amor exige. Por que celebrarmos o Natal, se não fôr para uma revivescência intensa do compromisso de Amor? Se não fôr para nos jogarmos de novo no braseiro divino, como ferro que vai se esfriando se ficar longe -27-


do fogo, mas que tem como "destino" tornar-se fogo sem deixar de ser ferro? O que nos estraga é querermos aplicar a Deus também, e ao Deus que se encarna, a perspectiva do tempo, e projetar lá para trás o que é bem de hoje. Repito: êsse Deus encarnado por amor, o Cristo de nossa fé, está bem presente no âmago de nossa própria existência, e não nos deixa nunca se nós não o deixarmos. De concreto o que se pode fazer? Você é quem sabe. E para você - pessoalmente - o terno convite do Amor, a resposta sua é só você quem dá, o compromisso é seu. O que mais eu poderia dizer? Se para você o Natal não tiver mais sentido do que no ano passado, e um sentido mais profundo, o que você está fazendo? A própria presença do Cristo depende de você .. . Fr. Estevão A. Nunes (reproduzido da C.M. de dezembro 1971)

-28-


BOAS nRIAS COM O SENHOR! A Carta de dezembro irá alcançá-los no momento em que vocês estão preparando suas férias. A todos desejamos um ótimo descanso. Mas, atenção! Essa pausa indispensável e tão esperada na nossa vida cheia de atividades e trabalho não pode ser também uma pausa na nossa vida espiritual. Quantas vezes temos escutado - e até dito para nós mesmos quando nos preparamos para a nossa reunião mensal: "Nada de positivo durante as férias ... " ~ importante que esse tempo privilegiado para a família, os amigos, também o seja para o Senhor. Gostaríamos de convidá-los a aproveitar os meses de férias para viver uma vida espiritual tão rica como durante o ano, só que talvez diferente.

No momento de arrumar as malas não se esqueçam de colocar junto pelo menos o Novo Testamento. Haverá um lugarzinho para ele junto com os livros que pretendemos ler durante as férias. Desde a nossa chegada, arranjemos um lugar especial para ele, onde, com calma, possamos ler a Palavra de Deus e dela nos alimentar. Estando a família reunida, e mais à vontade, poderemos propor aos filhos que partilhem conosco da escuta da Palavra. Se fazemos turismo, certamente visitaremos igrejas e teremos tempo suficiente para nos sentar e fazer uma oração. Se tivermos a chance de estarmos nas proximidades de uma igreja, procuremos participar das suas celebrações. Iremos passar as férias na praia? Aproveitemos os momentos em que - deitados na areia - olhos fechados ninguém ousa nos importunar - para conversarmos com o Senhor e nos abandonarmos à sua presença. Na montanha, existe algo melhor do que o espetáculo dos altos cumes para nos aproximarmos d'Ele? Se nossas férias se passam num vilarejo, aproveitemos a tranquilidade das noites para sair e olhar o céu estrelado. . . "Senhor, tu estás no âmago de nossas vidas ... " A oração familiar? Nem sempre é possível congregar todos os membros da família durante o período das férias. Mas que ela seja alegre, dinâmica, intercalada de cantos se nossos filhos gostam de cantar. As guitarras, os violões serão benvindos! Aproveitemos as longas -29-


e doces noites do verão para, em nossos serões, cantar ao Senhor a nossa prece de louvor. Os · passeios nos campos, na montanha ou na praia, ao longo da costa, são maravilhosos lugares para um bom diálogo conjugal. O Senhor nos parece muito mais próximo quando estamos em contato com a natureza e é muito mais fácil nos abrir ·quando andamos lentamente àu sentamos lado a lado na calma apaziguante de uma bela paisagem. As férias são, freqüentemente, uma mudança. E, talvez, o momento certo de escolher uma nova regra de vida para esse tempo especial, uma regra de vida mais compatível com o modo de vida estiva!. Enfim, durante as ·férias temos a oportunidade de praticar o acolhimento: acolher os amigos, os companheiros dos filhos, a família que mora distante, aquele que é diferente de nós e que encontramos no hotel, no camping, na cidadezinha das férias . Experimentemos ver sempre o Cristo presente no outro; também naquele que atrapalha, naquele que incomoda. Experimentemos durante nosso tempo de descanso não deixar nossa alma "apagada", mas, ao contrário, aproveitar todas as ocasiões para nos aproximarmos do Senhor para louvá-Lo, para Lhe render graças. Durante todo o ano nos queixamos da falta de tempo. Que nessas férias tenhamos o tempo necessário para Deus. Nossa maneira de viver na presença dEle será diferente da que vivem'os em tempo normal, porém não será menos rica nem menos intensa. A todos desejamos umas excelentes férias! Annick e Jacques Mariet (da Carta Francesa n.o 82)

-30-


SE TU CONHECESSES O DOM DE DEUS Deus é Amor! Amor é a mais profunda exigência humana. Nossa vida conjugal é um reflexo nítido evidente, desse maravilhoso dom de Deus. Ao recebermos a Vida e o amor de Deus, estamos convictos dessa maravilhosa dádiva? Somos capazes e temos doação necessária para retribuirmos e acolhermos nossos filhos, nossos irmãos? Praticamos com sinceridade autêntica o "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei"? Saímos à luta do dia a dia munidos da fibra e da coragem dos verdadeiros apóstolos? A realidade de nossos dias é chocante e, muitas vezes, desapontadora. Os tempos atuais valorizam a tecnologia e a tendência é afastar - ou mesmo "matar" - Deus no coração dos homens, e entregar ao progresso material a razão direta dessas vidas. Luxo, prazer, sexo,- tóxicos, violências, guerras, crimes, corrupção do dia a dia, no mundo e em nosso meio também. Essa violência que já se institucionaliza e que contraria basicamente esse maravilhoso Dom de Deus. Violência que fere, esmaga, âestroi a dignidade humana de qualquer um! Violência que viola o corpo, a consciência e a vida! Violência contra as mulheres (estupros, prostituição, abôrto criminoso)! Violência contra homens, mulheres e crianças que "vivem" em . mocambos e barracos miseráveis, mantidos em condições animalescas, e sem perspectivas de uma vida como a que desejamos para nós e nossos filhos. Uma vida plena! Violência do trânsito, dos horrores a que são submetidos os detentos nos presídios, dos viciados em drogas, dos traficantes, dos idosos -31-


ou anciãos abandonados, vítimas da violência da sociedade, carentes de afeto, de saúde, de proteção! Violência onde certamente, Deus não está presente. Ah! Se conhecermos e nos aprofundarmos nesse maravilhoso Dom de Deus, somente poderemos, de joelhos, agradecer junto ao coração de Deus em singela oração: Perdoai, Senhor, pelos que assim agem, pois não conhecem o maravilhoso Dom de Deus! Obrigado, Senhor, por nos haver dado a vida e o poder de Amar! Amém! Diva e Dantas Equipe 1 -

Limeira/ SP

-32-


ATUALIDADE

PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS DE TRABALHO

UM ESQUEMA

A matéria que publicamos a seguir baseia-se num "esquema básico" que nos foi encaminhado por Rodrigo Junqueira da Equipe 061 D - N. S. da Santíssima Trindade, de São Paulo/Capital. Delegado de Polícia aposentado, após trinta e dois anos de serviço, nosso irmão Rodrigo é um grande especialista no assunto. Foi, durante seis anos titular da então Delegacia de Lenocínio e Entorpecentes posteriormente modificada, por sua solicitação, para Delegacia de Polícia de Entorpecentes, depois Divisão Especializada de Entorpecentes e, agora, Diretoria de Narcóticos. Durante esse período, Rodrigo participou de treinamentos nessa especialidade na Bolívia, Estados Unidos, Canadá, Portugal, Holanda e Japão. Proferiu inúmeras palestras sobre esse tema e criou um setor de informação preventiva, hoje institucionalizado e funcionando à Rua Brigadeiro Tobias, 527, 7. 0 andar, São Paulo, Capital. Continua participando ativamente dessa luta e, inclusive, vem dando sua contribuição sobre o assunto no plano governamental e legislativo.

-o O o-Uma primeira e inquestionável informação é que o uso de drogas (entorpecentes) causa alteração de conduta e, conseqüentemente, deve-se manter atenção ao jovem a fim de verificar se "está acontecendo alguma coisa" e de que isso seja feito, preventivamente e em tempo. Estando os jovens, normalmente sob a atenção de pais e de professores é, portanto, a metodologia correta, trabalhar com os pais e professores, logo e antes de trabalharmos com os jovens. Os jovens tem muita inteligência, muita vivência e convivência e muitíssima informação. Estão sempre, contudo, indagando-se para se certificarem e tomarem atitudes, supondo-se, pois que irão ter com os pais e os professores e daí a importância de terem da parte desses uma unidade de respostas às suas indagações donde é essencial que pais e professores unam-se para melhor conhecerem o assunto . Dentre os aspectos fundamentais sobre drogas cabe citar: Legislação Penal; aspectos científicos (médico, psiquiátrico, psicológico); aspecto educacional e pedagógico, incluindo aí orientações sobre o relacionamento entre pais e filhos, ou seja estudarem e debaterem sobre o assunto

-33-


e, o que é muito importante, o diálogo. Há uma pergunta a ser feita: Quais são os valores reais, verdadeiros de nossa existência? Uma resposta completa pressupõe o aspecto espiritual e religioso. Isto posto, pode-se propor um esquema de trabalho ficando mais fácil e mais produtivo encontrar-se na própria comunidade aqueles que darão o seu testemunho, sendo isto preferível a usar-se a terminologia de "aula dada por professor", "orador" ou "palestrista" e buscando-se no seu próprio meio pais ou professores para darem esses testemunhos. Alguns detalhes e cuidados são necessários ao adotar-se tal pedagogia tendo em vista que entre os jovens e em sua intercomunicação existe orgulho em terem ouvido seus próprios pais ou professores. Aqueles que vão falar não podem e não devem extrapolar e ingressar no campo de conhecimento específico de outrem, mas remeter o ouvinte (jovem) para que venha a conhecer o seu complemento com o outru. Exemplo: Dá o seu testemunho o Senhor Doutor Advogado. Naturalmente, vai dizer, lá pelas tantas, que a droga opera seus efeitos de ação e reação no sistema nervoso central, mas que isto nós ouviremos a seguir na segura, correta e ampla informação do Médico. Conseguiu-se algo notável: CY jovem vem ouvir para acreditar! Mas, só irá acreditar se perceber que aquele que fala tem autoridade. Não uma autoridade institucional ou pessoal que lhe -é imposta, mas uma autoridade de conhecimento. A forma de implantar o projeto poderia iniciar-se com uma reunião prévia, em conjunto, das lideranças de pais e professores, obtendo-se, também, um maior congraçamento entre eles. Efetuar uma ou duas palestras pela manhã, seguindo-se um almoço para o qual cada um leva um prato e uma bebida não alcoólica e que tenham os participantes disponibilidade para colaborar na arrumação e limpeza do local, talvez a própria escola. No almoço criar-se-ia um momento de congraçamento e união, seguindo-se mais duas palestras e no término uma conclusão ou "apresentação do relator". A etapa seguinte e mais importante seria então a de promover-se o encontro com os jovens que poderia ser realizado numa programação semelhante à do encontro pais-professores. As sugestões para essa etapa seriam a de reunir-se um número máximo de 30 a 40 jovens e que os testemunhos fossem apresentados pelas mesmas pessoas que falaram aos pais e professores. Dar-se a mais ampla possibilidade para que os jovens formulem suas perguntas e esclareçam suas dúvidas e de que juntos concluam sobre os malefícios da droga. Como testemunho, nosso companheiro Rodrigo nos coloca que esta é a metodologia mais eficaz e que fora dela não acredita em bons resultados como prevenção ao uso da droga. Ela é a resultante de um árduo trabalho,

-34-


ao longo de muitos anos, de um grupo multidisciplinar de pessoas de alto nível de formação técnico-científica cujos resultados foram levados e adotados por autoridades oficiais e legislativas. Os professores tornam-se capazes na matéria e fatores multiplicadores. Apesar dele preferir o anonimato, na humildqde sincera de querer o bem do próximo, não poderíamos deixar de citar o nome do nosso irmão Rodrigo e de agradecer-lhe por toda uma vida dedicada a tão importante tema e por ma'is esta colaboração.

-35-


ATUALIDADE Eis mais um texto, trazido pelos Meios de Comunicação, que reproduzimos para a reflexão dos nossos leitores. Não representa, necessariamente, nossa opinião. E vocês, o que pensam a respeito?

NOSSO SUBDESENVOLVIMENTO SEXUAL Nosso subdesenvolvimento sexual está novamente em questão e mais uma vez o planejamento familiar se transforma no epicentro da tormenta. Há aqueles que acreditam que o sexo é o "novo ópio do povo", pois anestesia suas· carências, engana sua fome, apaga suas desilusões. Há também aqueles que pensam que o sexo é uma compensação para todas as frustrações ou dificuldades da vida, uma válvula de escape, e criam sua própria Disneylândía sexual, brincando de montanha russa, trem fantasma, centopéia ... Há ainda os que temem o sexo principalmente agora com o surgimento da AIDS, por verem nela uma força maligna, perigosa, destrutiva, que precisa ser contida a qualquer preço. Mas na verdade sexo é uma força criadora de energia, de vida, e recriadora de prazer, de intimidade e de amor. Com a revolução sexual que começou nos anos 60 e se prolongou até o início dos anos 80, muita coisa aconteceu, o movimento de libertação feminina fez com que a mulher entrasse em contato com a sua sexualidade e passasse a expressá-la de forma mais consciente e mais livre. Simultaneamente houve o aparecimento da pílula anticoncepcional, o que levou a uma troca muito grande de parceiros, uma verdadeira epidemia de "transas coloridas". Se você piscasse o príncipe encantado aparecia, mas também se piscasse de novo ele desaparecia, tão rápido quanto tinha surgido. Só valia o momento, o aqui e o agora. Era o sexo "sem o amanhã". Acontece que aos poucos, os jovens foram se dando conta que esta alta rotatividade machuva e estão começando outra vez a sair em busca de amor íntimo, de compromisso. Com tudo isto, o que está além da minha compreensão é como se pode discutir planejamento familiar, métodos anticoncepcionais, se esquecendo por completo destes vinte anos da revolução sexual, de como ela afetou os jovens, e mais, deixando de lado totalmente a questão da educação sexual? A educação sexual que ainda hoje as nossas crianças e os nossos adolescentes estão recebendo é extremamente dissociada, negativista:

-36-


"Não tqque", "não veja", "não entenda", "não pense", o que leva a uma compreensão do corpo, da identidade sexual e dos sentimentos sexuais totalmente fragmentada. Esta fragmentação é a meu ver devida a duas circunstâncias básicas de nossa sociedade, o analfabetismo sexual e o subdesenvolvimento sexual. O analfabetismo sexual significa o quanto os jovens ignoram a respeito da sua sexualidade e a imensa repressão que é exercida contra ela. Esta repressão os leva a acumular uma série de tabus, preconceitos ou idéias errôneas, acreditando que o sexo se aprende atrás das portas, através dos buracos das fechaduras ou nos banheiros públicos. Acontece que sentir curiosidade sexual é perfeitamene normal, entretanto se esta curiosidade não é preenchida de forma espontânea, natural, ela se transforma em malícia. Então tudo o que estiver ligado ao sexo passa a ser coisa feia, suja ou proibida e, as crianças crescem acreditando que "tudo o que é bom é proibido ou senão tudo o que é proibido é bom". Daí a enorme atração pelo proibido. O analfabetismo sexual reforça também a noção de fatalismo (que nada pode ser mudado) tão comum no Terceiro Mundo, por exemplo, "que o homem é assim mesmo: pode fazer tudo o que ele quiser, quando quiser, como quiser e que a mulher nasceu para sofrer". Conseqüentemente os papéis sociais sexuais, o machismo e o marianismo, os conceitos de superioridade e de inferioridade, de dominação e de submissão se fixam e se auto perpetuam. Na verdade os sexos não são opostos mais sim complementares e este "script" pode ser mudado. Além do analfabetismo sexual, as nossas crianças e adolescentes vivem num estado de subdesenvolvimento sexual, quase como se sua sexualidade emergisse sufocada a meio da desnutrição e da promiscuidade. Isto significa uma enorme privação, tanto física, como afetiva. Privação muitas vezes gera voracidade, sentimento de insaciabilidade, ou seja, uma fome psíquica latente, uma sensação de vazio. Faltou o "leite do coração", ficou a dor fantasma. Faltou colo, embalo, aconchego, acalanto, ficou um estado de carência. Esse estado de subalimentação afetiva faz com que na idade adulta, muitas pessoas se tornem "viciadas em amor" e andem pela vida buscando matar sua fome desesperadamente, obsessivamente. Desespero não significa capacidade de dar amor, mas mostra apenas a necessidade enorme de ser amado. Desespero é portanto uma fome silenciosa. Estas são as ·principais características do subdesenvolvimento sexual e um dos nossos grandes desafios é encontrar caminhos para superá-lo. Há uma necessidade básica em todo o Terceiro Mundo de se investir em educação para sair do subdesenvolvimento.

-37-


Nestes últimos dois anos, a UNESCO reuniu em seu Escritório Regional de Educação, em Caracas, um grupo de especialistas da América Latina, com o objetivo de executar um projeto integrado que abrangesse educação sexual, preparação para a vida familiar e educação populacional. Este projeto está traduzido em espanhol, português, inglês, francês e árabe, e já está sendo adotado em dez países. O Brasil precisa tentar. Todos nós sabemos que a educação tanto pode conformar, como deformar, como transformar. Se não formos capazes de educar nossos filhos agora, como eles vão ser capazes de amar , ou de exercer a paternidade de forma responsável dentro de dez ou vinte anos? Como? Maria Helena Matarazzo (Publicado na "Folha de S. Paulo", fevereiro/ 87)

-38-


NOT/C{AS E INFORMAÇOES

a coordenação da ·tia • lvone e dos "tios" Vilma/Julio, Lurdes/Ramão, Emília/Edgar e Maisa/Moca. O temário versou sobre a "Ecologia Cristã·, com palestras do Dr. Dilton Araujo, o ecólogo Juarez e Frei Maurilio.

Novas Equipes -

Rio de Janeiro/RJ Equipe 96-E, N. S. de Lourdes C.P. Lourdes e Paulo (Eq . 64)

-

Brasília/DF Cidade Satélite de Samambaia

Volta ao Pai

Equipe 56-B

- João Braga de Oliveira (da Célia), da Equipe 42/E do Rio de Janeiro/RJ, em 26/08/89.

C.P. Da Paz e Arnaldo (Eq . 44) C.E. Mons. José Inácio de Melo

- José Cruz (da Odete), da Equipe 8/ A de Belém/PA, em 02/0689.

Jovens Foi realizado nos dias 16 e 17 de setembro passado, na Casa de Formação N. S. Medianeira em Porto Alegre/AS o 11 EAFE - Encontro Anual de Filhos de Equipistas, com a participação de 51 jovens de 12 a 25 anos, sob

- Frei Dionisio Pastor Bueno, C.E. da Equipe 11 I A, N. S .do Rosário, de Belém/PA, em 05/06/89. - Silvério Virgílio Marchesoni (o ·Baiano") da Equipe 01, N. S. Mãe da Igreja, de Catanduva/SP, em 04/09/89.

-oOo-

Recebemos de nosso irmão aquipista, José Maria Munhoz da Rocha, acompanhado de calorosa dedicatória, o livro "Maria de Nazaré • (Vida da Virgem Maria)·, de sua autoria. Com nossos agradecimentos e cumprimentos pelo excepcional trabalho unimo-nos a Dom Albano Cavallin, que ao final da apresentação do livro, diz: "Este livro merece ser lido, pois fará muito bem a todos que amam Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus."

-39-


úLTIMA PAGINA

NA.T AL SEM DISTINÇÕES Feliz Natal para você, criança que tem Deus como gente de

famíli~.

-

Feliz Natal também para você, criança que só conhece Natal pelo Papai Noel.

-

Feliz Natal para você, jovem que tem no Natal uma chance a mais para renascer.

-

Feliz Natal também para você, jovem que vai fazer deste Natal mais uma noitada alegre.

-

Feliz Natal para você, adulto que acredita na ação de Deus neste mundo.

-

Feliz Natal também para você, que machucado pela vida desacredita de tudo. Feliz Natal para você, que passa suas horas à beira da cama do

-

doente. -

Feliz Natal também para você, que maldiz os seus sofrimentos e vê em todos um inimigo.

-

Feliz Natal para você, homem de indústria e comércio, que faz do seu trabalho um serviço para o bem da sociedade.

-

Feliz Natal também para você, que se esconde atrás do muro dos seus lucros e vive no cárcere da avareza.

-

Feliz Natal para você, homem da imprensa, do rádio e da televisão, na difícil missão de informar, orientar e esclarecer.

-...: Feliz Natal também para você, que faz da pena e da arte um instrumento apenas de ganho.

-

Feliz Natal para você, velhinho que ao fim da vida sente que valeul a pena viver.

-

Feliz Natal também para você, velhinho solitário, que não terá mão amiga para estreitar.

-

Feliz Natal para você, que perdeu um ente querido, mas o guardou. em Deus até o dia do reencontro.

-

Feliz Natal para você, que ergue o punho contra os céus pelo vazio de alguém que se foi.

-

Feliz Natal para vocês que amam. Para vocês todo o dia é Natal. Paulo Gollarte, O. Carm. 40-


MEDITANDO EM EQUIPE TEXTO DE MEDITAÇÃO (Lc. 2, 1-19)

Naqueles dias apareceu um edito de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado. Este recenseamento foi o primeiro enquanto Quirino era governador da Siria. E todos iam se alistar, cada um na própria cidade. Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada · Belém, por ser da casa e da família de Davi, para se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida. Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala. Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias da noite montavam guarda ao seu rebanho. O Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, disse-lhes: "Não tenhais medo! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos· hoje ~um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recémnascido envolto em faixas e deitado numa manjedoura. E de repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar a Deus, dizendo:

" Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que ele ama!" Quando os anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre si: "Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer." Foram então às pressas e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado numa manjedoura. Vendo-o, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino; e todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as palavras dos pastores. Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração. ORAÇÃO LITúRGICA

(Sugere-se cantar um cântico de Natal. Ao final, o Conselheiro Espiritual pode dizer:) Oremos. ó Deus, que admiravelmente criastes o homem e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade de vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade. Por N. S. J. C .. . Amém.


Um momento com a equipe da Carta Mensal . . . . . . . . . . . . . . . . . . Editorial -

Pe. José Carlos Di Mambro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

2

Carta da Equipe Responsável Internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

4

A ECIR conversa com vocês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

8

A vocação do casal : equilíbrio e Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

10

A eclesialidade das E.N.S. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

12

A Missão da Família no Mundo de Hoje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

13

Ação da Igreja com a familla e ação das famílias com a Igreja . .

16

A Imaculada Conceição de Maria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

21

O Dever de Sentar-se: uma Eucaristia? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

23

Voltando da Polônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

24

Natal de novo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

27

Boas férias com o Senhor! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

29

Se tu conhecesses o dom de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

31

Prevenção ao uso de drogas: um esquema de trabalho . . . . . . . . . .

33

Nosso subdesenvolvimento sexual .. ... .. ...... . . . ..... . . . .. . . . .

36

Noticias e Informações . . .·. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

39

Natal sem distinções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

40

Meditando em equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

41

EQU IPES DE NOSSA SEN HORA 01050 Ru a João Adolfo. 11 8 · 9' · cj. 901 - Tel. 34 8833 São Paulo - SP


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.