ENS - Carta Mensal 260 - Novembro 1989

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A SEGUNDA INSPIRAÇÃO


UM MOMENTO COM A EQUIPE DA CARTA MENSAL Eis de volta o mês de novembro, e com ele alguns momentos fortes que marcam a vida do cristão, como pessoa, como casal, como cidadão e, no nosso caso, como equipista. Inserindo-se na atualidade , a Carta Mensal procura acompanhar estes momentos junto com seus leitores, tentando trazer-lhes pistas e elementos para reflexão e aprofundamento. Logo no primeiro domingo do mês, a Igreja celebra a festa de Todos os Santos, trazendo-nos a realidade palpável do Corpo Místico. A união de todos os cristãos a este Corpo se dá através da oração. E o casal cristão, como tal, caminhando por este mundo à busca da santidade, vincula-se a todos os que já são santos, por sua oração específica, que é a oração conjugal. Vocês encontrarão, nesta Carta, algumas palavras a este respeito, procurando ajudar a todos na prática desse Ponto Concreto de Esforço, que, segundo a pesquisa do início do ano, não vai lá muito bem das pernas ... Também em novembro celebra-se a comemoração de todos os fiéis falecidos. Um artigo a respeito da "Irmã Morte" e a última Página querem nos ajudar a melhor compreender a realidade da morte. No dia 15, além de comemorar o centenário da República, estaremos também nos dirigindo às urnas, para eleger o novo Presidente da mesma. Dois artigos encerram a série de publicações que a Carta Mensal vem fazendo sobre o assunto desde agosto passado. A vida das equipes é marcada em novembro pelas reuniões de balanço e pela eleição dos novos casais responsáveis de equipe. Estes eventos também são comentados em artigos que vocês encontrarão nesta Carta. A pessoa de Maria nossa Mãe, a Igreja dedica em novembro a festa da Apresentação, que se celebra no dia 21. ~ a festa que sugerimos que as equipes comemorem, através da Oração Litúrgica das nossas reuniões do mês. E é com o refrão desse oração que fraternalmente nos despedimos de vocês : Senhor, que a vossa Mãe interceda por nós! A Equipe da Carta Mensal. -1-


EDITORIAL

A LEI DO DISCERNIMENTO I!. provável que vocês tenham feito a mesma constatação que eu: é impressionante a quantidade de movimentos, associações e equipes de toda a espécie que estão à procura de uma segunda inspiração! Não somos só nós! Mas levamos uma grande vantagem sobre muitos: sabemos onde encontrar a nossa segunda inspiração. Sabemos que existe uma inspiração, um Sopro, que deve nos dirigir, nos habitar, acima de qualquer outro: I!. o Sopro de Deus, o Espírito Santo.

••• Sabemos que o Espírito distribui seus dons "como ele quer". As Equipes de Nossa Senhora já receberam alguns, mais ainda falta pedir outros. Gostaria de colocar em primeiro lugar o dom do discernimento. Parece-me que há cinco campos em que este dom nos seria especialmente necessário. Não é possível, num Editorial, desenvolver longamente uma idéia ... quanto mais várias. Não dispomos de uma Carta universal para as Equipes que possa atingir a todos os casais; de minha parte, só posso me comunicar com eles por meio deste Editorial que, por definição, deve ser simples e sucinto. Estou desenvolvendo esta idéia do discernimento mais amplamente no boletim SERVIÇO, que é, como vocês sabem, nosso meio de ligação com os responsáveis do Movimento, chegando até os responsáveis de Setor. Mas não é um documento reservado ou confidencial e todos podem ter acesso aos textos alí publicados. Aqui, devo me limitar a abrir as pistas para animá-los a percorrer o caminho. Discernir quer dizer: reconhecer, distinguir, ponderar .. . Trata-se, para nós, de saber reconhecer, distinguir, ponderar as realidades do matrimônio cristão: sua identidade, suas formas, suas exigências, seus limites. L Distinguir, por um lado, a essência do casamento: aquilo· que constitui o "núcleo central" e intangível, a própria essência do matrímônio e, por outro lado a família, que é uma realidade mais ampla, mais

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flexível e às vezes bastante extensível. . . ou bastante reduzida! ~ o que se constata hoje em dia. A família é uma realidade que evolui e às vezes uma realidade que explode: pensemos nas famílias 'monoparentais', de pais e mães solteiros, nos filhos divididos e dilacerados entre dois lares rivais. . . Cada vez mais, a família vem apresentando um tipo novo de sistema de relacionamento entre pais e filhos. ~ menos autoritária, mais permissiva, mas também mais preocupada com a verdade nas relações, com o respeito pelas pessoas, com a aprendizagem da responsabilidade pelos jovens. Sobre que pontos se deve procurar não ceder, sobre que pontos se deve mostrar flexibilidade? 2. Discernir entre o casamento-instituição e a realidade humana do casal. Hoje muitos jovens recusam a instituição mas querem viver uma vida de casal. Eles nos obrigam a refletir sobre noções que acreditávamos serem imutáveis. Um livro francês recente tem por título: "Os jovens reinventam o casal?". Sabe-se que o rito religioso foi introduzido bastante tarde (no século XVI). Mas desde então parece ter atraído todas as atenções e todo o interesse. Corre-se o risco de esquecer que não é o fato de "casar-se na igreja" que constitui o verdadeiro casal. Há uma realidade a ser criada e é essa realidade que o sacramento vem consagrar. 3. Discernir o lugar e o papel do casal na Igreja. Demorou, mas a mulher começa a ser reconhecida aos poucos como membro de parte integral na Igreja. Mas, e o casal, como tal? Há, sem dúvida, algum progresso: não se pratica mais a segregação dos sexos nas nossas igrejas e mesmo nossas escolas católicas são normalmente mistas. Mas o casal como tal ainda não tem realmente um lugar nas nossas estruturas (há, por exemplo, diáconos casados, mas não se aceita a idéia de casais diaconais), nem na organização da pastoral e do apostolado, salvo em casos ainda excepcionais. Não faz parte da nossa vocação levantar reivindicações. . . mas serão sem dúvida a experiência e o testemunho dos casais das Equipes que terão mais possibilidades de provocar um progresso neste campo. 4. Discernir o sentido profundo da sexualidade: seu sentido humano e seu sentido cristão. Não vou me deter no assunto, pois este é o tema de um grande trabalho de reflexão a ser feito no impulso da Segunda Inspiração; voltaremos a ele. 5. Por fim, deve-se discernir a relação que há entre o casal cristão e o "casal" Cristo-Igreja. Uma boa parte da espiritualidade conjugal se baseia nesta relação fortemente enfatizada por São Paulo (Ef. 5,31-32), e sabe-se que é um dos argumentos que sustentam a absoluta indissolubilidade do matrimônio. -3-


Porém, mesmo sendo freqüentemente invocada - é um tema que sempre volta nas homilias das missas de casamento - esta comparação ainda está longe de ter sido bem compreendida. Creio que no fundo deste "mistério que é grande" (como diz São Paulo), está o "mistério" da corporeidade. A espiritualidade cristã tem dificuldade em assumir verdadeiramente a corporeidade, e isto explica em parte o 'tabú' que caracteriza a sexualidade. Mas trata-se sem dúvida de um elemento essencial. Seria preciso estudar com mais profundidade a corporeidade de Cristo: o Verbo que se fez corpo, que dá seu corpo em alimento para comunicar a sua vida, cujo corpo é a Igreja. . . Será certamente nesta relação com o Corpo de Cristo, com, ao mesmo tempo, o corpo físico, o corpo eucarístico, o corpo místico, que o mistério da corporeidade/sexualidade do casal cristão revelará toda a sua amplitude, toda a sua verdade, toda a sua beleza. Fr. Bernard Olivier o.p.

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A EC/R CONVERSA COM VOCÊS

\..aros amigos Esta é a última vez que nos dirigimos a vocês, como casal Super Regional do Brasil. Completamos o nosso tempo. Com muito amor, estamos passando a responsabilidade ao casal Beth e Rômolo, de Ribeirão Preto e que já vem atuando conosco na ECIR desde 85. Sentimos ser este um momento forte em nossa vida e gostaríamos de partilhar com vocês, queridos companheiros de caminhada, um pouco de nossos sentimentos, de nossa vida, de nossas preocupações e esperanças. Olhando para trás, tentamos reviver os acontecimentos que marcaram e que direcionaram nossa vida conjugal, nossa vida de fé e nossa vida como cristãos.- Nosso casamento (em 59), o nascimento de nossos quatro filhos (Emil em 62, Lucas em 65, Daniel em 68 e Felipe em 69), nossa entrada para as Equipes de Nossa Senhora (em 64), nossa primeira responsabilidade no movimento (casal responsável da equipe em 65), as responsabilidades do Setor (69 a 72) e de Região (72 a 76), nossa participação como membros da ECIR (76 a 83), casal responsável pela ECIR e Super Regional do Brasil (a partir de 83), nossa vida familiar de cada dia, nossa participação em trabalhos pastorais, no Conselho Nacional de Leigos, no Pontifício Conselho para a Família, tudo isso que não constitui nenhum currículo. Temos consciência de que foram chamados, talentos que nos foram confiados, não para que os enterrássemos, mas para que os fizéssemos frutificar; talentos que não nos foram entregues por merecimento nosso, mas, acreditamos, pelo desígnio de Deus. Sentímo-nos sempre muito fracos diante de cada chamado. Se os aceitamos foi porque sempre soubemos que não estávamos sozinhos na realização do serviço, pois, além dos irmãos que estavam ao nosso iado, reconhecíamos que o motor de tudo seria sempre a Graça de Deus. A nós cabia unicamente a atitude, que sempre procuramos ter, de entrega total ao serviço e de confiança em Deus. E. possível que nossas limitações humanas tenham nos levado, por vezes, a atrapalhar a vontade de Deus. Mas Ele, certamente, já contava com isso. Deus se serve sempre dos pequenos em sua obra para que prevaleça o seu amor e não a vaidade das pessoas. Ao sermos chamados para o serviço através da responsabilidade do movimento no Brasil, tivemos um forte sentimento de que essa responsa-

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bilidade nos trazia algumas tarefas espec1a1s, como já havia acontecido com nossos antecessores: Dirce e Rubens, Esther ~ Marcello, Glória e Payão e muito especialmente Nancy e Pedro Moncau. Uma tarefa a nós reservada era buscar uma maior apr9ximação com a hierarquia e uma maior inserção dos casais na Igreja. A ela nos dedicamos, juntamente com toda a ECIR, com muito empenho e esperança, sem nos descuidarmos da fidelidade aos carismas das Equipes. · · Foi especialmente nesse sentido que procuramos participar dos encontros promovidos pelo Setor Leigos da CNBB e pelo Conselho Nacional dos Leigos. Como conseqüência dessas participações, o lgar foi eleito para a executiva do referido Conselho e nós fomos um dos casais indicados ao Papa, para participar do Pontifício Conselho para a Família. Assim, as reuniões, os trabalhos e principalmente as preocupações foram se multiplicando, o que exigiu de nós e, em certo sentido, de nossos filhos , algum sacrifício. Mas, por muitas razões, temos certeza que valeu a pena. Acreditamos que o movimento deu alguns humildes mas importantes passos, que precisavam ser dados nesse momento. Cremos ainda que esses passos, que toda a busca realizada no sentido de uma redescoberta da vocação das Equipes de Nossa Senhora e da sua missão na Igreja e no mundo, na atualidade e na fidelidade às origens, prepararam as equipes do Brasil para a Segunda Inspiração. Essa busca começou com o · empenho por uma maior inserção na Igreja, inserção entendida principalmente como o assumir a missão, que devemos realizar, como Igreja, no mundo. Missão que foi sendo clarificada a partir do que é específico das Equipes, a família e especialmente o casal, e levando em conta a realidade de hoje. Repensar a família, encontrar respostas para as necessidades atuais dos casais, a fim de que possam viver plenamente sua vida conjugal e familiar e possam ainda ser agentes de transformação, participando da construção do Reino de Deus .. - Foi um tema refletido no Encontro Nacional com os Casais Responsáveis de Setor em 87. Como concretizar tudo isso, era o objeto da busca. A esse anseio, que não era só dos equipistas do Brasil, o movimento respondeu em Lourdes, com o mesmo espírito com que Pe. Caffarel respondeu ao primeiro casal, que o procurou, numa realidade diferente da nossa, mas com um anseio semelhante: "Vamos procurar juntos". Este foi o convite que o Movimento fez a todos os casais do mundo. Pe. Caffarel e aqueles quatro primeiros casais partiram do zero. Nós hoje, somos perto de seis mil equipes e estamos apoiados numa caminhada de mais de quarenta anos. Busquemos todos com empenho e com amor.

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Nós temos a esperança, diríamos mesmo quase a certeza, de que as Equipes de Nossa Senhora vão, com a Graça de Deus, realizar essa grande tarefa, que lhes cabe na Igreja, nos dias de hoje. Queridos amigos, queremos ainda dizer-lhes que, para nós mesmos, essas responsabilidades todas, que vivemos em espírito de serviço, nos ajudaram, como vão continuar nos ajudando, estamos certos, a caminhar para a verdadeira vida. Elas nos possibilitaram também a grande riqueza de possuírmos amigos queridos por este Brasil afora. Teremos sempre presente em nosso coração o caminho manifestado por todos que, de uma forma ou de outra, nos acompanharam e também a alegria daqueles que nos conheciam apenas de nome, ao toparem conosco e constatarem que éramos um casal igual a eles, lutando com as mesmas dificuldades, remando no mesmo barco. Finalmente queremos, nós mesmos, participar-lhes que o Senhor nos chamou para uma nova missão, e mais uma vez trememos nas bases diante da responsabilidade. Fomos chamados para trabalhar para o Reino de Deus, também como membros da Equipe Responsável Internacional. Queremos pedir-lhes que continuem rezando por nós, pelo nosso trabalho e garantir-lhes que vocês estarão sempre presentes em nossa oração e nosso coração. Muito, muito carinhosamente, Cidinha e lgar

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O DEVER DA VIGILÂNCIA O cristão deve viver na espera d'Aquele que vem, para que o Senhor não o encontre adormecido. E, ao bater na porta, obtenha uma resposta. Pois, serão "felizes os servos que o senhor à sua chegada encontrar vigilantes" (Lc 12,37). Mas, ser vigilante não é colocar-se numa atitude de simples espera. !: entre~ar-se com entusiasmo à construção do Reino de Deus no íntimo de si mesmo e nas estruturas do mundo. !: dar-se ao serviço de Deus em sua Igreja e ao serviço dos outros. Ser vigilante é servir. Ser v1gilante é também estar atento à sedução do mal na sociedade em que vivemos. !: denunciar seus contra-valores e não se deixar envolver por eles. !: recusar o fascínio do pecado e as atrações de um mundo distanciado de Deus. O dever da vigilância urge particularmente para os lares cristãos. Porque há fortes correntes de opinião, as quais procuram destruir os alicerces espirituais e morais da família cristã. Assim, o valor único da vida humana está ameaçado pela contraconcepção e pelo aborto. O sentido da fidelidade matrimonial e da indissolubilidade do vínculo conjugal está sendo perdido. O relacionamento respeitoso e amoroso dos filhos para com os pais já não é tão marcante como no passado. E não se tem consciência da dimensão .sagrada da união conjugal. Ser vigilante para o lar cristão é não deixar-se manipular pelo espírito do tempo, enquanto constitui uma ameaça aos valores essenciais da família cristã. Joãp Paulo 11, na Exortação Apostólica Christifideles Laici, afirma a propósito que se deve reservar à família Numa solicitude privilegiada, sobretudo quando o egoísmo humano, as campanhas contra a natalidade, as políticas totalitárias, e também as situações de pobreza e de miséria física, cultural e moral, bem como a mentalidade edonista e consumista conseguem extinguir as fontes da vida, e onde as ideologias e os diversos sistemas, aliados a formas de desinteresse e de falta de amor, tentam contra a função educativa da própria família". Ser vigilante para o lar cristão é colocar-se na vanguarda de ação vasta, profunda e sistemática, apoiada não só na cultura,

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mas também nos meios econômicos e nos instrumentos legislativos destinada a assegurar à família a sua função de ser o lugar primordial da "humanização" da pessoa e da sociedade" (João Paulo 11, ibid.). Pois, ~como a experiência ensina, a civilização e a solidez dos povos dependem sobretudo da qualidade humana das próprias famílias .. . A Igreja, por sua parte, está profundamente convencida disso, bem sabendo que o futuro da humanidade passa através da família" (João Paulo 11, ibid.). Ser vigilante para o lar cristão é denunciar um falso feminismo que levantando a bandeira da libertação da esposa-mãe a escravisa e destrói a própria dignidade da vocação da mulher no lar. Ser vigilante para o lar cristão é pôr-se ao serviço dos outros lares. !: testemunhar-lhes os valores cristãos da família, ajudá-los a se promoverem humanamente e a crescerem espiritualmente. !: ampará-los em suas dificuldades. Daí que, prestam um grande serviço à sociedade e à Igreja os movimentos familiares, enquanto contribuem para que os lares cristãos vivam as exigências evangélicas e descubram sua vocação na comunidade humana e cristã . Sem esses movimentos dificilmente os lares poderão superar as dificuldades com que se defrontam no mundo contemporâneo e ser fiéis aos deveres conjugais. Dom José Freire Falcão Cardeal-Arcebispo de Brasília

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CAMINHANDO COM A IGREJA

VOCAÇÃO E MISSÃO DOS LEIGOS NA IGREJA E NO MUNDO A Exortação Apostólica "Christifideles Laici" do Papa João Paulo 11 sobre a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo foi promulgada um ano depois do sínodo de 1987, utilizando os resultados de seus trabalhos.

Introdução (n. 0 1-7) b texto dessa exortação apostólica do Papa João Paulo 11 é um longo comentário de dois textos evangélicos: o dos operários mandados para a vinha (Mt. 20,1 -16) e a comparação com a. vinha e os sarmentos (Jo. 15,1-10) verdadeiro motivo de todas suas reflexões. O caminho assim traçado se situa entre duas tentações: a de mostrar um exclusivo interesse pelos serviços e tarefas eclesiais, e a de legitimar utna indevida separação entre a fé e a vida. Capítulo primeiro: & dignidade dos fiéis leigos na Igreja-mistério (n.o 8-17) ~ só dentro do mistério da Igreja como Comunhão que se revela a identidade dos fiéis leigos e sua dignidade, pois são eles que devem promover o Reino de Deus tratando das coisas temporais e organizando-as. Os leigos são todos os batisados que não são nem sacerdotes nem religiosos. Todos participam da tríplice função de Jesus Cristo: acerdotal, profética e real. O mundo é o ambiente da vocação cristã dos leigos: são fermento na massa. Eles também são chamados à santidade, que é a perfeição do amor; têm de realizá-la no meio dos cuidados de suas famílias e de suas ocupações profanas. · Capítulo segundo: a participação dos fiéis leigos na vida da Igreja-comunhão (n.0 18-31) Unidos ao Filho no vínculo amoroso do Espírito, todos os batisados são unidos ao Pai: esta comunhão é o próprio mistério da Igreja, o seu conteúdo central. Trata-se de uma comunhão "orgânica", análoga a de um corpo vivo que respeita o princípio dinâmico da diversidade e da unidade da Igreja. O fiel leigo não pode nunca se fechar e isolar-se -10-


espiritualmente da comunidade, mas deve viver num permanente intercambio com os outros. Bispos, presbíteros e diáconos são ministros ordenados, pastores do povo sacerdotal. Participam do sacerdócio de Jesus Cristo, constituindo o sacerdócio ministerial, a serviço de todo o povo de Deus. Neste sentido, o que constitue o ministério não é a tarefa, mas sim a ordenação sacramental. O exercício de determinada tarefa, como exercer o ministério da palavra, presidir as orações litúrgicas, conferir o Batismo e distribuir a Sagrada Comunhão não transforma pois o fiel leigo em pastor. Daí a diferença essencial entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum a todos os batisados. Os carismas são graças do Espírito Santo que têm direta ou indiretamente uma utilidade eclesial. Devem ser recebidos com gratidão tanto por quem os recebe como por toda a Igreja. Vividos dentro da Igreja, devem sê-lo na dependência dos pastores da Igreja. Além dos ministérios e dos carismas necessários para o crescimento da Igreja, os leigos participam de sua vida de muitas outras maneiras, especialmente na vida e na missão das Igrejas particulares. Engajados numa paróquia, os leigos devem ter uma idéia clara e precisa de sua ligação com a Igreja diocesana e a Igreja nuiversal. Os conselhos pastorais com a participação dos leigos foram estabelecidos para isso. Muitas paróquias exigem uma mais decidida renovação, ora pela constituição de pequenas comunidades eclesiais de base, ora por formas institucionais de cooperação entre paróquias da mesma região. Assim elas crescerão numa autêntica comunhão eclesial e despertarão ao impulso missionário. E necessário reconhecer e garantir a liberdade de associação dos fiéis leigos na Igreja, respeitando o devido relacionamento com a autoridade eclesiástica. Os critérios de eclesialidade são: o primado dado à vocação de cada cristão à santidade; a seriedade em professar a fé católica; o testemunho e uma comunhão sólida com o Papa e o Bispo; a participação na finalidade missionária da Igreja; o empenho para uma presença ativa na sociedade humana. Certas organizações podem até receber um reconhecimento oficial, como por exemplo a Ação Católica. Capítulo terceiro: a co-responsabilidade dos fiéis leigos na Igreja-Missionária. (n.0 32-44) Vivida na Igreja, a comunhão é necessariamente missionária. Através dela, o Senhor confia aos fiéis leigos uma grande responsabilidade: a de anunciar o Evangelho. No chamado "primeiro mundo", o bem estar econômico e o consumismo, misturados a situações de pobreza e de miséria, podem fazer viver como se Deus não existisse. Em outras regiões onde há ainda tradições de piedade popular, a secularização e a difusão das seitas constituem um perigo. Daí a necessidade de reconstituir o tecido cristão das comunidades eclesiais. Uma catequese sistemática deve -

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ser desenvolvida, ao mesmo tempo que boas relações serão mantidas com adeptos de outras religiões. Ajudar a descobrir a dignidade inViolável de cada pess.o a humana é a tarefa central e unificadora da Igreja enquanto a serviço dos homens. Essa dignidade é um valor em si, ao mesmo tempo que o fundamento do igual valor de todos os homens. O respeito à dignidade da pessoa exige o respeito de sua liberdade de consciência e de sua liberdade religiosa. Exige também o respeito de seu direito de fundar uma família, que é o lugar primário de humanização. A civilização e a solidez dos povos depende principalmente da qualidade humana das próprias famílias. A Igreja toda está ao serviço do amor, manifestado tanto por obras sociais mantidas com voluntários, quanto por engajamentos políticos. O bem comum deve ser procurado através da realização da justiça. A ruptura entre o Evangelho e a cultura é um dos dramas de nossa época. Os leigos devem enfrentar essa situação, tanto através de sua própria vida e irradiação intelectual quanto através da utilização dos instrumentos de comunicação social. Capítulo quarto: bons administradores da multiforme graça de Deus (n. 0 45-56) O chamado ao apostolado se dirige a todos: jovens, crianças, adultos, idosos, doentes, cada um conforme sua índole, sem esquecer que dentro da vida leiga há lugar para várias vocações. A mulher, a quem foi por Deus confiado o homem, tem um papel todo especial no trabalho de evangelização por sua participação tanto nos diversos graus de catequese como nos diversos conselhos pastorais, sem que possa chegar à ordenação sacerdotal. Ela tem um papel especial na valorização cristã do matrimônio e da vida familiar. Capítulo quinto: a formação dos fiéis leigos (n.o 57-63) A formação dos leigos deve figurar entre as prioridades das dioceses a ser colocada nos programas de ação pastoral, insistindo sobre a unidade da vida cristã do leigo, ao mesmo tempo "espiritual" e "secular". Essa formação será espiritual e doutrinai, com realce para a doutrina social da Igreja. Será realizada tanto no seio das comunidades eclesiais como nas famílias, nas escolas, nas universidades católicas, etc . . . Conclusão (n. 0 64) A toda a Igreja e a cada um de seus membros é confiada a nova evangelização da qual o mundo tem tanta necessidade. E o Santo Padre termina por uma longa oração à Virgem Santíssima. Fr.

J.

P. Barruel de Lagenest O .P.

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SEGUNDA INSPIRAÇÃO

O ENVIO DO CASAL Jesus chamou os seus dlscipulos e os enviou dois a dois em missão. (Me 6,7) Dep81s foram e!jcolhldos e formados outros dlsci· pulos, e também enviados dois a dois para todos os lugares onde Jesus estava para Ir. (Lc 10,1)

A SEGUNDA INSPIRAÇÃO assinala um novo tempo para os casais das Equipes de Nossa Senhora, da mesma forma que o envio dos discípulos de Jesus marcou uma nova fase no apostolado e na vida da Igreja. Jesus formou os seus discípulos para que fossem parecidos com Ele, ou o mais possível iguais a Ele. Na verdade, multiplicou-se, para que pudesse revelar a presença e a vontade do Pai em todos os lugares, e ordenou que estes primeiros discípulos formassem outros discípulos, e assim sucessivamente, de modo que cada um, segundo os seus dons e ministério, pudesse ajudar na construção do Reino de Deus. Este é um fato extremamente significativo. O discípulo de Jesus adquire essa condição na medida em que é capaz de formar outros discípulos, à imagem do Mestre e Bom Pastor, e de enviá-los para o serviço do povo, com a missão de ajudar na transformação das estruturas que impedem as manifestações do amor, da fraternidade, da solidariedade, da comunhão, da justiça, da verdade, da esperança , da unidade. Os casais, pelo sacramento do matrimônio, também são enviados dois a dois, com objetivos bem definidos: viver as exigências do amor conjugal e familiar, da mesma forma que Cristo pela sua Igreja.

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Portanto, os esposos têm uma função eclesial extremamente importante no âmbito da família que formam: ser uma família-Igreja, fazer-se Igreja no meio das famílias, viver como pequena Igreja que assume seu compromisso evangélico de testemunhar a mensagem de Jesus Cristo. Viver assim é que é ser Igreja, porque, ao mesmo tempo que se alimenta e cresce numa autêntica vida de fé, dá exemplos con-13-


eretos de participar ativamente da edificação da Igreja, Corpo de Cristo. A SEGUNDA INSPIRAÇÃO está chamando a atenção para um problema que é muito comum na Igreja de hoje: as pessoas, os casais, as famílias recebem diversos tipos e níveis de preparação a partir do Evangelho e da Doutrina, mas não crescem, não se aperfeiçoam. Isto é, não adquirem a maturidade dos discípulos, dos enviados. Por isso, ano após ano, os pastores e responsáveis pelo serviço do apostolado precisam fazer e oferecer sempre a mesma coisa, porque as pessoas não crescem . ~ a evidência do eterno infantilismo da crença em Cristo e sua Igreja. ~ a evidência da ingenuidade do batizado, que acredita ser possível haver fé mesmo que não cresça. A SEGUNDA INSPIRAÇÃO nos convoca para a maturidade, para o estado de vida de quem já recebeu inúmeros sinais sensíveis e eficazes da graça de Deus, através dos sacramentos, e que se ocupa da plenit ude da Doutrina de Cristo, e não apenas dos seus princípios elementares. A SEGUNDA INSPIRAÇÃO chama a atenção para o grande tesouro que são os movimentos dos f iéis leigos, à semelhança da Exortação Apostólica Christifideles Laici , que não são simplesmente para manter a fé, mas para ser um fermento de renovação e de transformação da Igreja e da Sociedade, através da família, do casal. Esta é a missão, o serviço, a razão de ser do envio do casal. Esta é a verdade que ainda nos fa lta em plenitude, e que conseguimos quando deixamos de lado o evangelho da conveniência, e evangelho que satisfaz, montado a partir de fragmentos dos quatro Evangelhos. Se a realidade de hoje é a fragilidade do casamento e do amor conjugal, tenhamos uma certeza: é porque não somos discípulos do casamento e do amor conjugal ; não fazemos o suficiente, através de palavras e ações , para que o casamento e o amor conjugal, na perspectiva da Igreja doméstica, sejam assumidos como finalidade de vida. Jesus enviou o casal , dois discípulos portanto, em missão, porque é assim que se opera o verdadeiro sentido eclesial do nosso caminhar com o Cristo, para conquistar novos casais e famílias para Deus. E esta conquista vem da autêntica espiritualidade, que revela um novo tipo de amor e comunhão, animados pelo Espírito Santo. Mariola e Elizeu Eq. 19-A- Brasflia -14-


SEGUNDA INSPIRAÇÃO

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Aproximando-se O final deste ano, e na linha de colaboração com a reflexão de todos sobre a Segunda Inspiração que a Carta Mensal vem desenvolvendo, propomos aqui mais algumas pistas, preparadas pelo Frei Barruel de lagenest, numa visão global do documento de Lourdes.

1 . A propósito da "Introdução" a) Quais são as transformações pelas quais passa atualmente a sociedade e que têm repercutido fortemente na vida do casal e da família? b) Quais são as necessidades atuais do povo de Deus, às quais as equipes podem responder?

2 . A propósito da Parte 1: O carisma das Equipes a) O que quer dizer para as Equipes, "ser fermento de renovação" na Igreja que está no Brasil? Pensar em exemplos nos campos : - do crescimento do amor conjugal; - da aceitação do sentido cristão da sexualidade; - do relacionamento homem-mulher. b) Como concretizar a "opção preferencial pelos pobres e pelos jovens", o "amor vivido em família" e em "pequenas comunidades cristãs"? c) Que valores opor ao Individualismo, à violência, à procura da facilidade em tudo , ao medo do compromisso estável, à obsessão pelo sexo?

3. A propósito da Parte 11: A boa nova sobre o casamento a) Como pode o casal equipista assumir a sua sexualidade na sua espiritualidade? b) Como concretizar o que deveria ser um dos elementos essenciais da vida do casal: querer fazer o outro feliz? c) Como pode o casal equipista ser sinal sensível do amor de Deus, diante dos filhos, dos amigos, da sociedade?

4. A propósito da Parte 111: As ENS, movimento de espiritualidade &

a) Como fazer com que as ENS sejam uma verdadeira escola de formação para os casais, respeitando a sua privacidade, mas ao mesmo tempo procurando uma sempre maior coerência entre sua fé e sua vida diária?

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b) Quais são os esforços concretos a fazer para que o casal desenvolva cada dia mais o seu amor mútuo? c) Aceitamos plenamente as etapas da caminhada da nossa equipe na sua vida concreta? A evolução psicológica do casal tem acompanhado essas· etapas? Quais foram? Haverá possivelmente outras etapas?

5. A propósito da parte IV: Viver em comunhão A preocupação das ENS em ajudar os casais a viverem plenamente o seu sacramento do matrimônio e a anunciarem ao mundo os valores do casamento cristão está sendo concretizada por nós? Como? a) Dentro do Movimento ; b) Na Igreja; c) Na sociedade. Pensar em casos concretos - ou carências .

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REUNIAO DE BALANÇO: UM MEIO PARA NOS AJUDAR A AVANÇAR Há gestos que, de tanto serem usados sem pensar, acabam perdendo todo o sentido. Ensinaram-nos a dizer "muito prazer" quando somos apresentados a alguém . E uma questão de gentileza e boa educação. Mas, significa obrigatoriamente que estamos mesmo tendo muito prazer em conhecer essa pessoa? Assim, o problema não está em repetir muitas vezes o mesmo gesto, palavra, reunião, atitude, etc . . . Mães beijam os filhos centenas de vezes e cada beijo pode estar transbordando de significado. O problema está em desvirtuar o gesto, a palavra, a reunião, a atitude, etc . .. E, quando são desvirtuados, perdem seu significado, passam a ser coisa nenhuma. Cristo disse-nos: ·Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito", mas declarou, também: "Nem todo o que me diz Senhor, Senhor! entrará no Reino dos Céus , mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus ". Devemos permanentemente estar atentos ao ideal a realizar, para que ele nos atraia e nos dê a força de avançar, mas, por igual e permanentemente , devemos verificar se de fato estamos a caminho, se percorremos realmente todo o caminho que podemos percorrer, ou se, pelo contrário, estamos ·meio parados" na estrada. Um meio para nos ajudar a avançar é a reunião de balanço. Ela é como o " stop" na estrada, pois nos força a parar e "olhar" para ambos os lados antes de continuar a nossa caminhada. Na reunião de balanço paramos para ver se os nossos ·gestos" equipistas continuam com o seu sentido total, se o amor a nosso Pai se renova e "vivencia" a cada reunião, se o amor pelos irmãos é ·simples conversa mole" ou uma necessidade que nasce do coração de quem ama, se . .. Nesta reunião nos alegramos com aquilo que já foi alcançado, renovamos o sentido de nossa vida de equipistas e planejamos o futuro de nossa equipe. E, para que seja cem por cento, nada me· lhor que fazê-lo na presença de Deus, onde não existe engano, sombras ou algo parecido, pois tudo está iluminado pela graça do Espírito Santo. Pe. lsidro C.E. - Equipe SB - São Paulo -17-


ELEIÇÃO DO CASAL RESPONSÁVEL DE EQUIPE Conforme o calendário proposto para as ENS do Brasil, novembro é o mês em que se realiza a eleição do casal responsável de equipe que exercerá essa importante missão ao longo do próximo ano. A esse propósito julgamos oportuno remeter-nos a dois importantes documentos, quais sejam, os Estatutos das ENS e o Manual do Casal Responsável de Equipe. Uma fórmula simples define o papel do Casal Responsável e assinala a sua importância capital: é o responsável pelo amor fraterno. Dele depende que a equipe seja uma vitória da caridade evangélica e que cada casal componente encontre na equipe o auxílio de que possa necessitar. ~ também ele o "delegado" da equipe de base perante o Movimento (Setor, Região, ECIR) ~ um dos mecanismos que assegura esse vínculo é o envio regular dos relatórios das reuniões de equipe ao Casal de Ligação. O Casal Responsável deve zelar para que todos participem efetivamente da vida comuntária da equipe, de modo que a ajuda mútua seja eficaz e que cada um sinta que a comunidade reconhece-o, ama-o e toma-o, realmente, sob sua responsabilidade. Nossas equipes só tem sentido e valor, na medida em que auxiliam aqueles que delas participam, a crescer em santidade. Este é o fim que o Casal Responsável nunca deve perder de vista e que deve orientar todos os seus esforços. Trabalho, oração em comum, observância dos Estatutos, auxílio mútuo, abertura de uns para com os outros, tudo isso só se compreende na procura e para a procura de Deus. Esta disciplina e esses métodos, característicos das ENS, são apoios essenciais nessa procura. O Casal Responsável não deve sentir-se constrangido em ser exigente e aberto às dificuldades de cada mel\lbro de sua equipe e, sobretudo, ser muito humilde. Sua exigência deve ser tal que não desencoraje os seus companheiros de equipe, mas antes os estimule e deve ser totalmente fundada no amor. Quanto à eleição do novo Casal Responsável, cabe salientar que não existe qualquer critério pré-determinado. Por exemplo não é obrigatório um rodízio entre os casais, nem é proibida a reeleição. Também não é obrigatório que marido e esposa votem num mesmo casal podendo ocorrer que cada conjuge de um mesmo casal vote num casal diferente. A escolha, totalmente livre e democrática, deve recair no casal que, segundo o juizo de cada um, seja no momento, o mais apto a exercer essa importantíssima missão de serviço com amor, dedicação e disponibilidade. Nunca é demais lembrar que não devemos deixar tal decisão unicamente aos nossos critérios humanos mas orar e confiar-nos às luzes do Espírito Santo, sob a proteção de nossa Mãe Santíssima para que sejamos -inspirados em nossa escolha. -18-


A ORAÇÃO CONJUGAL Jean Michel e Marie Josée, 23 anos de casados, 4 filhos, 7 anos de Equipe, nos falam da sua oração conjugal.

Esses sete anos de equipe tem sido para nós uma grande história de amor vivida com Cristo, que tem tido muita paciência para conosco. Durante 15 anos vivemos no interior, sem saber da existência das Equipes - movimento de espiritualidade conjugal. Nossos engajamentos e nossa vida de oração eram individuais. Desde que descobrimos as Equipes e a Carta, sentimos imediatamente o apelo e a ternura do Senhor em relação a nós. O movimento nos deu os meios concretos de, juntos, progredirmos na nossa vida de fé, de oração e de reflexão, para consolidar nosso casamento e nossa vida familiar no plano espiritual e na vida cotidiana. Até então, nunca havíamos rezado juntos, num diálogo a três, isto é, nós e o Senhor.

Nossas dificuldades Dizer que foi fácil não seria verdade. Nossa vontade de rezar juntos era grande, como grande era o desejo denos saírmos bem. Mas tínhamos a "cabeça dura". Encontrávamos mil pretextos para adiar: pudor, personalidades diferentes, diferentes ritmos ... Não sabíamos como começar e qual o momento mais adequado: de manhã, quando toda a casa está em silêncio? Depois do jantar? À noite? A Palavra de Deus, através do evangelista Mateus, veio com insistência: "Quando vais rezar, retira-te para teu quarto e fecha a porta." No nosso quarto colocamos um oratório, um ícone de Cristo, uma Virgem, um cirio, flores e dois bancos fabricados por Jean-Michel. O nosso "cantinho" seria ali ... Ainda faltava ficarmos juntos. Jean-Michel continuava muito ocupado e desligado: Eu ia na frente como para convidá-lo a seguir-me. . . mas acabava dormindo antes que ele chegasse. Realmente . tínhamos a "cabeça dura". De uma reunião mensal para outra podíamos contar nos dedos as vezes que conseguíamos rezar juntos. Mas perseverávamos ... A primeira centelha se produziu no dia em que descobrimos que não se tratava de nos convidarmos indefinidamente e compreendemos -

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então que era o Senhor quem nos convidava - não para nos voltarmos para nós mesmos - mas juntos termos um encontro com Ele. Então tudo se tornou mais fácil. Com a ajuda do Espírito Santo, deixando-O agir em nós, começamos a caminhar. São Paulo nos diz: "O Espírito Santo socorre-nos na nossa fraqueza porque não sabemos rezar como convém." A segunda centelha foi o apêlo de nossos predecessores, responsáveis de Setor, antes do fim de seu mandato. Qual não foi a nossa surpresa! Dissemos "sim". Esse apelo nos tornaria servidores do movimento. Tivemos um ano para nos preparar e durante esse tempo a prece individual teve um lugar de destaque, porque esse tipo de oração é necessária para a prece conjugal. Persuadidos de que não estávamos " impregnados de oração" como alguns equipistas ou como os monges, tão próximos de Deus e dos homens, nós deveríamos rezar para fazer com que os outros rezassem também. Percebemos que o Senhor nos chamava naquele momento e que Ele queria agir em nós. " Não tenhais medo", dizia Ele. Nossa oração conjugal Nossa oração começa sempre com um momento de silêncio. Algumas vezes ouvimos uma música suave. Isso nos prepara para escutar o Senhor, deixar que Ele nos invada, sentir sua presença e de nos desvencilhar de tudo o que nos atrapalha. Então O louvamos e Lhe damos graças, por esse momento privilegiado de encontro com Ele. Rezamos o Pai-Nosso, lemos o evangelho do dia ou do dia seguinte, e para nos impregnarmos dele detemo-nos em dois ou três versículos que naquele momento nos parecem os mais importantes, ou mesmo essenciais . Freqüentemente lemos o comentário de uma revista, que nos permite ampliar ou orientar nossa reflexão. Meditamos então em voz alta, em profunda comunhão com nosso cônjuge. Em seguida, dirigimo-nos a Maria e lhe confiamos intenções, nossas tristezas e alegrias, as intenções dos outros, do movimento, do nosso setor, da Igreja e do mundo. Para terminar, rezamos o Magnificat - oração do movimento em união com todos os casais do mundo inteiro. Freqüentemente é assim que rezamos. Entretanto, algumas vezes rezamos o rosário ou então fazemos uma oração mais silenciosa. Os frutos da oração conjugal A oração conjugal tornou-se para nós uma necessidade, tal como o ar que respiramos. Empobrecemos, toda vez que deixamos de praticá-la. Ela nos deixar transparentes e nos ensina a verdadeira pobreza. Através dela descobrimos e comunicamos, um ao outro, o âmago de nossa alma, nossa relação íntima com Deus.

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I! assim que recebemos toda a graça e vitalidade do sacramento do matrimônio: a graça que nos ilumina, nos guia a graça que nos faz dom e perdão um para o outro, a graça que nos purifica. Em princípio nossa oração conjugal é feita diariamente, mas algumas vezes, por cansaço ou falta de tempo, deixamos de fazê-la. Não queremos que ela seja uma obrigação, e menos ainda que se torne uma rotina. Queremos que esse encontro seja um momento esperado e desejado. Assim caminhamos descobrindo que nosso amor não é nada sem a presença de Deus e que não podemos contar somente com nós mesmos. Nossa fidelidade e nossa força são nutridos por esses momentos privilegiados. Desta forma, respondemos ao projeto que Deus tem para nós e em nós se realiza a prece de Cristo: "Eu dei-lhes a conhecer o teu nome e dar-lho-ei a conhecer ainda, para que o amor com que me amaste esteja neles e eu esteja neles". (Jo 17,26.) Bendito seja o Senhor! (Artigo traduzido da Carta francesa)

-oOoA oração familiar tem as suas características. E uma oração feita em comum, marido e mulher juntos, pais e filhos juntos. A comunhão na oração é, ao mesmo tempo, fruto e exigência daquela comunhão que é dada pelos sacramentos do batismo e do matrimônio. Aos membros da família cristã podem aplicar-se de modo particular as palavras com que Cristo promete a sua presença: "Digo-vos ainda: se dois de vós se unirem, na terra, para pedirem qualquer coisa, obtê-la-ão de meu Pai que está nos céus. Pois onde estiverem reunidos, em meu nome, dois ou três, eu estou no meio deles". A oração familiar tem como conteúdo original a própria vida de família, que em todas as suas diversas fases é interpretada como vocação de Deus e atuada como resposta filial ao seu apelo: alegrias e dores, esperanças e tristezas, nascimento e festas de anos, aniversários de núpcias dos pais, partidas, ausências e regressos, escolhas importantes e decisivas, a morte de pessoas queridas, etc., assinalam a intervenção do amor de Deus, na história da família, assim como devem marcar o momento favorável para a ação de graças, para a impetração, para o abandono confiante da família ao Pai comum que está nos céus. A dignidade e a responsabilidade da família cristã como Igreja doméstica só podem, pois, ser vividas com a ajuda incessante de Deus, que não faltará, se implorada com humildade e confiança na oração. Familiaris Consortio - n. 0 59

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ELEIÇDES/89

EM QUEM VOTAR? Estamos a poucos dias da eleição presidencial. Para o regime democrático é indispensável a participação constante 'dos cidadãos na vida política do país. A expressão da corresponsabilidade pelo destino da Pátria se traduz, de modo privilegiado, pelo exercício do voto consciente e livre. Em quem votar? Muitos perguntam quem é o candidato da Igreja. Insistem até na conveniência de que, entre tantos presidenciáveis, seja indicado aquele que mais mereça o apoio das comunidades. Cabem aqui algumas considerações. 1) A Igreja não tem candidato, nem partido. Ela tem valores e critérios em vista do bem comum . A Assembléia do Episcopado Católico, em abril deste ano, elaborou de modo conciso as MExigências ~ticas da Ordem Democrática", como subsídio para o discernimento dos cristãos. Os critérios elencados no texto foram oferecidos pela contribuição das próprias comunidades e dioceses. À luz do Evangelho, são apresentados os princípios básicos da .dignidade, solidariedade da pessoa humana e as principais decorrências que não podem ·faltar à sociedade democrática. Neste sentido é de se esperar que sejam respeitados e assumidos por todos os presidenciáveis. Aliás, a aceitação ou rejeição desses valores ajudará como critério de escolha do candidato para o cristão e as comunidades. 2) Entre as exigências éticas, sublinhamos o respeito à vida desde a concepção, a salvaguarda das populações indígenas, a garantia da liberdade religiosa, o compromisso com a educação e saúde do povo, dando prioridade absoluta às crianças, o dever de criar condições para a livre participação política dos cidadãos, para o trabalho com salário digno, o respeito à família, a repartição mais equitativa da terra e solo urbano, com busca de soluções para · as favelas e cortiços .

3) No plano da atuação pessoal são indispensáveis ao candidato a competência e o testemunho de vida séria e honesta, comprovada no exercício das responsabilidades anteriormente assumidas. Requer-se ainda a capacidade de governar de modo participa-

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tivo, valorizando a contribuição dos demais, mesmo que pertençam a outros partidos. O bem comum merece e requer a colaboração de todos para além de ressentimentos, retaliações e diferenças na campanha política. 4) Pertence ao regime democrático o pluralismo partidário. Nenhum partido consegue responder plenamente às justas aspirações do povo. Os candidatos devem apresentar seus programas. A isto corresponde a liberdade de escolha por parte dos cidadãos. Os meses de campanha podem contribuir para a formação política do Brasil. Na hora do voto apenas um candidato será eleito mas deverá se beneficiar das propostas trazidas pelos demais presidenciáveis e o povo terá crescido na compreensão dos problemas e na busca de soluções . 5) Qualquer declaração de voto por parte de membro da Igreja tem valor meramente pessoal. Isto não impede que haja um esforço de discernimento nas comunidades para ajudar na identificação do candidato que melhor realize os critérios em vista do bem comum, desde que haja pleno respeito à escolha de outros membros da comunidade.( . .. ) O novo governo terá que se defrontar com as enormes dificuldades que conhecemos. Desde já aprendamos a nos unir, não só para sair da crise econômica mas para, com a graça divina, construirmos um Brasil no qual os milhões de empobrecidos tenham acesso à vida digna de filhos de Deus. D. Luciano Mendes de Almeida Presidente da CNBB

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ELEIÇÕES/89

O VOTO DE QUALIDADE ~A nova ordem democrática brasileira só se consolidará quando a nação empenhar-se, decididamente, numa transformação profunda que modifique as relações sociais e garanta a efetiva participação de todos os cidadãos . Formas estáveis de democracia supõem condições para os cidadãos exercerem plenamente seus direitos e responsavelmente seus deveres" (Doc. 42 · CNBB • § 1).

Poucos dias nos separam do exercício da escolha democrática, pelo voto direto, do próximo Presidente da República, cujo processo eleitoral poderá, ainda, desdobrar-se num segundo turno entre os dois candidatos mais votados. Perdida esta oportunidade, só teremos outra daqui a cinco anos. Estamos, portanto, às vésperas de vermos realizado o sonho de todo o povo brasileiro de presenciar e de participar do processo forma l da consolidação democrática do nosso país. Não nos iludamos, porém , que apenas e tão somente a eleição presidencial irá, por si mesma, reverter imediatamente a situação gravíssima em que estamos mergulhados mas, também, estejamos certos de que esta eleição poderá representar um passo importantíssimo para o início de um processo de reformas de que tanto necessitamos, ou então, uma manutenção pura e simples do estado de coisas em que vivemos, ou ainda, um agravamento maior de nossos enormes problemas, tudo isso na dependência de quem seja o próximo presidente eleito. Se você ainda não escolheu seu candidato, não se desespere pois existem mais de uma dúzia de opções no mercado. Candidatos de direita, esquerda, mais ou menos. Candidatos populistas , basistas, fisiológicos , cl ientelistas , messiânicos, a favor do capitalismo, contra a propriedade privada . Candidatos jovens, velhos, de meia idade, de meio compromisso, sem compromisso, de passado comprometedor. Candidatos com partido , sem partido , com programa , sem programa, com ideologia , com tradição, sem tradição, pelo moralismo, sem nenhuma moral. Enfim, a oportunidade de escolha é ampla e ela é um componente essencial de democracia. A nós, porém , que somos cristãos comprometidos com os valores evangélicos qye o próprio Cristo nos legou não nos é dado

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o direito de escolher qualquer um. Não podemos aceitar a velha cantilena de que nenhum candidato é sério, de que nenhum candidat.o está à altura de ser o nosso futuro Presidente e de que não vale a pena votar em nenhum deles. Isto seria uma omissão imperdoável. Não temos, pois, o direito de votar em branco nem de anular nosso voto. Não nos deixemos tampouêo seduzir por slogans ", por frases feitas, por candidatos produzidos" para a mídia eletrônica, sem compromissos com doutrinas, idéias ou programas. Não vamos também entregar nosso voto a candidatos que tenham sido protagonistas ou beneficiários das estruturas opressoras de poder que até há pouco nos dominaram ou dos sistemas incompetentes e corruptos que, infelizmente, ainda nos dominam. O nosso voto não pode ser um voto fútil nem um voto êonivente. Não nos é dado o direito de entregar o nosso voto àqueles que pregam ideologias materialistas e coletivistas as quais subjugam o homem ao estado e que se contrapõem à filosofia cristã da primazia da dignidade e da individualidade do homem, imagem e semelhança de Deus. O nosso voto não pode ser anti-cristão. H

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Não nos deixemos levar por promessas mirabolantes e demagógicas, de cunho nftidamente populista e retrógrado, de resolver de uma só vez e num passe de mágica todos os enormes problemas do pafs apenas com discursos. Nosso voto não pode ser leviano. Não podemos votar num candidato simplesmente por achar que ele representa Ho contrário do que está aí" sem nos determos em. analisar a densidade de suas propostas , sua seriedade e competência. Nosso voto não pode ser simplesmente um Nvoto de protesto". Não podemos deixar de votar no candidato que, a nosso ver, reune as melhores qualificações simplesmente porque ele está mal colocado nas pesquisas e não teria condições de ganhar. Não podemos, tampouco, votar num candidato simplesmente porque ele é o menos pior" dentre os que estão cotados nas pesquisas. Não podemos, ainda, votar num candidato que, a nosso ver não é o melhor mas que, segundo as pesquisas, seria o único capaz de derrotar um outro candidato ao qual somos contrário. Nosso voto não pode ser um voto útil" nem uma aposta no vencedor". H

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~ dever de todos nós, cristãos brasileiros, participar, com esperança, nas próximas eleições. A Igreja não tem partido, nem indica candidato". Ela afirma, no entanto, os requisitos necessários a uma escolha correta. Reunidos em fins de agosto passado na 22.• reunião ordinárid do Conselho Permanente da CNBB, nossos bispos enunciaram as qualidades pessoais de coerência no testeH

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munho de vida, competência, honestidade e garantia, à luz de vida passada de prudência, firmeza e compromisso com as justas causas populares. O candidato Çeve ser capaz de promover, sem violência, sem disturbio, mas com coragem, a transformação profunda da inaceitável situação social do Brasil. A ampla maioria dos candidatos que se apresentam possui um passado de militância polftica e de exercício de cargos públicos. Não será, pois, tarefa difícil reunir informações sobre o seu desempenho anterior em termos de honestidade, seriedade e competência. Também não será difícil analisar suas idéias e programas e muito menos difícil constatar a sua falta de idéias ou de programas. Votemos em quem tenha uma proposta de governo compatível com os nossos valores cristãos de solidariedade humana, um programa para implementá-la, experiência e competência para administrar esse programa e firmeza para conduzir a reforma de que nossas instituições necessitam. Nosso voto, além de ser um voto consciente, solidário e responsável deve ser um voto de qualidade. Temos certeza de que o Espírito Santo nos Iluminará a todos neste 15 de Novembro de 1989! Maria Thereza e Carlos Heitor Seabra Equipe 04/B São Paulo, Capital

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A IRMA MORTE "Cristo ressuscitou, com sua morte destruiu a morte e concedeu-nos a vida para que, filhos do Pai, clamemos no Esplrito: Abba, Pai".

O segredo de uma existência sábia é ser ela uma contínua preparação para o inevitável encontro com a morte: as etapas do sofrimento pelas quais inevitalmente passa o ser racional são propícias para uma conscientização maior com relação à passagem para a eternidade. Ante as ressonâncias que a realidade da morte desperta no homem, observa Pierre Gre1ot que "é Impossível reduzi-la a um mero fenômeno natural cuja observação objetiva esgotasse todo o seu conteúdo. Contrariando violentamente o nosso desejo de viver, ela pesa sobre nós como· um castigo; por isso, instintivamente, vemos nela a sanção do pecado" . . Eis por que é tão importante a vitória de Cristo sobre a morte. Sua ressurreição , prova definitiva de sua divindade, fundamenta essa sua assertiva: • Eu sou a ressurreição e a vida. O que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá ; e todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente" (Jo 11 ,25-27) . Por outra ele advertiu sobre a constante vigilância: "Vós, pois, estai preparados , porque na hora em que não cuidais, virá o Filho do Homem" (Lc 12 ,14). O pensamento da morte deve ser familiar ao cristão. Belíssima esta reflexão de Leonardo Boff: "A morte é sim o fim da vida. Mas fim entendido ~orno meta alcançada , plenitude almejada e lugar do verdadeiro nascimento. A união interrompida pelo desenlace não faz mais que preludiar uma comunhão mais íntima e mais total. A morte como fim-fim é verdadeira. Ela marca uma ruptura de um processo. Cria uma cisão entre o tempo e a eternidade. Mas ela cobre um aspecto apenas do homem e da morte : o biólogo e o temporal. O homem é mais do que o Bios, porque é mais que um animal. t mais do que o tempo porque ele suspira pela eternidade do amor e da vida . O homem é pessoa e_interioridade. Para esse a morte não é um fim-fim mas um fim-plenitude de um fim-meta alcançada ". Se assim é de fato , e se é certo o princípio - em tudo olha o objetivo final - não pode ser estranho ao homem, ainda que jovem, o conviver sempre com a morte, cuja imprevisibilidade aconselha também a esta postura sapiente. Aliás, os grandes santos no instante de morrer se regozijavam ante a perspectiva da vida feliz que os ·esperava. A cena da morte

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de São Francisco de Assis é comovente. Ele morreu cantando, aguardando ansioso a irmã morte. ~ que, como mostra o Pe. Penido, a morte, ·longe de ser uma caída dentro do nada, é o trânsito para a glória, a passagem do deserto para a Terra da Promissão, o último desfiladeiro que leva às pastagens sempre verdejantes do Reino de Deus". São Paulo é taxativo: ·Para mim o vive·r é Cristo, e morrer é um lucro" (Filp 1,21 ). Em seguida ele explica magistralmente por que o discípulo de Cristo, não obstante desejar ir para junto do Mestre, ama a existência: ·Mas, se o viver na carne é útil por causa do trabalho, não sei o que escolher. Estou em aperto por duas partes: Tenho desejo de ser desatado e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor; e o permanecer na carne, necessário por amor de vós" (id. 32 ,24) . ~ que este é o tempo de se fazer o bem, justamente para que o transe da morte seja tranqü ilo.

~ o amor ao divino Redentor a morte da morte. Esta é a tese de Balduíno, bispo de Cantuária: · Forte é a morte, que tem poder para privar-nos do dom da vida. Forte é o amor que tem poder para restituir-nos o gozo de uma vida melhor. Forte é a morte, poderosa para despojar-nos do revestimento deste corpo . Forte é o amor, poderoso para roubar os despojos da morte e no-los entregar de novo. Forte é a morte, a ela o homem não pode resistir. Forte é o amor que pode vencê-la, embotar-l he o aguilhão, travar-lhe o ímpeto, quebrantar-lhe a vitória. Assim será quando for insultada e ouvir: ·onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, ó morte, tua vitória?" Razão tem o ilustre epíscopo. Aliás, a Constituição pastoral Gaudium et Spes declara: "Por Cristo e em Cristo, portanto, ilumina-se o en igma da dor e da morte que fora de seu Evangelho nos esmaga. Cristo ressuscitou, com Sua morte destruiu a morte e concedeu-nos a vida para que, f ilhos do Pai , clamemos no Espírito : Abba , Pai ".

Tais consoladoras verdades são um aviso para quem sofre ou quando vem à tona o pensamento da morte. Nada melhor para terminar estas considerações que o trecho de São João no Apocalipse : · Eu ouvi uma voz do céu que dizia: felizes os mortos que morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que descansem de seus trabalhos , pois as suas obras os seguem" (Apoc 14,13). José Geraldo Vidigal de Carvalho (Reproduzido da revista Ave Maria)

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TESTEMUNHO:

AS FORMIGUINHAS E A CIGARRA Estávamos diante de um sério problema: fazer algo mais, ou continuarmos nossa rotina de Equipistas bem comportados, cumprindo nossos Pontos Concretos de Esforço, comparecendo às reuniões, batendo papo, etc. Resolvemos então adotar uma família muito pobre, com oito filhos passando fome e todo o sofrimento que podemos imaginar. Planos não faltavam nunca. Vamos fazer isso, aquilo, mas na prática nada acontecia. A ajuda se resumi& em um ou outro casal levar algum alimento, algumas roupas e nada mais. A todo momento a cigarra cantava em nossos ouvidos: "deixem isso pra lá, fiquem tranqüilos, não se preocupem que eles se arrumam . .. " E esse canto nos dominou por muito tempo, até que um dos casais de nossa Equipe resolveu "buzinar" essa cantora desafinada. - " Vamos à luta, vamos construir uma casinha para eles terem pelo menos um lugar digno para morar". Bastou este grito de guerra, este desafio, para a nossa Equipe se movimentar e se transformar em formiguinhas . Fizemos rifas, bingo, pedimos material de construção e transformamos nosso pensamento em doação. ELE lá em cima, junto com Nossa Senhora do Bom Conselho, também estão participando de nossa luta, abrindo os corações de nossos amigos, de outros equipistas, de todos aqueles que procuramos. Já estamos cobrindo a casinha e quando este testemunho for publicado, já teremos alojado "a nossa família" e estaremos gritando bem alto: "Vá cigarra, vá cantar bem longe, pois mais uma vez a lenda se repetiu". Equipe 13- Marília -

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SP


NOTICIAS E INFORMAÇÕES

sais dos vários setores das ENS no Rio de Janeiro.

Novas Equipes -

Taubaté/SP

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Eq. 09 C.P.: Cldlnha e Nelson C.E.: Pe. Pedro Lopes (um dos lntrodutores das ENS naquela cidade e que após muitos anos retorna ao Movimento)

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Caçapava/SP (Setor de Taubaté)

e

Celina e Nelson C.E.: Frei Paulo Bettonl Oblak

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Florlanópolis/SC

e

Eq. 33/ A N. S. dos Milagres C.P.: lranl e Nereu

e

Eq. 34/B N. S. Mãe das Vocações C.E.: Frei Celso

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Taguatlnga (Brasflla/DF)

Equipe 54 C.P.: Helena e _Rudes C.E.: Pe. Antonio de Moura

Equipe 55 C.P.: Helena e Chico C.E.: Pe. Antonio de Moura

Boletim Com alegria noticiamos a reativação, desde agosto passado, do Boletim-ENS dos três setores (A-B-C) de Florianópolis/SC.

Mudanças nos Quadros ~ Curitiba/PR

Sonla Maria e Antonio Carlos Ruy sucedem a Lenlze e Nilson após seu dedicado e profícuo trabalho na responsabilidade pelo Setor C. -

Florlanópolis/SC

Llliane e Edemar Antoni (Eq. 13-A) assumiram, em setembro último, o serviço como casal responsável pelo Setor A, em lugar de Leda e João Flávio (Eq. 15-A) que por três anos exerceram aquela missão.

Curso de Verão

Pastoral Familiar Thereza Chrlstlna e Ronaldo (Eq. 9/ A - Rio de Janelro/RJ), na qualidade de representantes das ENS na CAPF Comissão Arquidiocesana da Pastoral Familiar no Rio de Janeiro participaram, em 26 de agosto p.p., de um Encontro Arquidiocesano sobre a Famflla no Brasil, consistindo de um dia de aprofundamento para casais engaJados nos vários movimentos familiares daquela Arquldlocese. Além daquele· casal, estiveram presentes mais oito ca-

Um Curso de Verão, destinado à formação de agentes de pastoral e dirigentes de comunidade, será realizado no próximo ano, de 8 a 20 de janeiro, na cidade de Goiânia, e de 29 de janeiro a 10 de fevereiro, na cidade de São Paulo. Nas duas cidades, o curso será Igual, devendo o Interessado manifestar o local de sua preferência na ficha de Inscrição que terá de enviar até o dia 15 de novembro/89. O curso será promovido pela CESEP - Centro Ecumênico de Serviços à Evanqelização Popular, Rua Martiniano de Carvalho, 114 - São Paulo - CEP 01321 - Fone 289-6660, ao qual podem ser solicitadas fichas de lnscrlçAo.

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O objetivo do Curso de Verão é a formação, concebida como um momento de partilha da própria experiência, de reflexão em comum, de estudo e de celebração. O Curso é concebido como um grande mutirão, onde todos podem dar sua colaboração : as comunidades acolhendo os participantes que vêm de fora, Bispos e Pastores prestando seu incentivo e apoio, as equipes de serviço assumindo toda a organização e Infra-estrutura, teólogos e pastoralistas aprendendo com as experiências dos participantes e oferecendo elementos de reflexão e aprofundamento.

Cursos de Noivos AVALIAÇÃO DOS CURSOS DE NOIVOS, para elaborar diretrizes básicas para o Brasil, foi o objetivo de Encontro Nacional, promovido pelo Setor de Pastoral Familiar da CNBB , em Brasllia, de 5 a 7 de maio de 1989, com participação de 15 peritos do pais , além

de Dom Eusébio Scheid, de São José dos Campos (SP); Pe. Jaime Enoek de Juiz de Fora ; Pe. Gilberto Gomez: de Bogotá, Diretor do CEMPAFAL (Centro de Pastoral Familiar para a América Latina) ; e Mons. Plerre Prlmeau, Assessor da Conferência dos Bispos. A partir de experiências e dificuldades, avaliaram a 'eficácia dos cursos, definiram objetivos, propuseram conteúdo didática e metodologia. Refletiram so: sobre a clientela, acompanhamento dos casais novos e preparação de agentes. Concluiram, enter outras coisas: (1) Intensificar no Brasil a Pastoral da Preparação Próxima ao Matrimônio; (2) Rever o conteúdo e dinâmica dos Cursos de Noivos no país; (3) - Aumentar os dias de curso para preparação próxima ao casamento; (4) - Fortalecer os Fundamentos da fé no catecumenato pré-matrimonial; (5) - Organizar o acompanhamento dos casais nos primeiros anos de vida matrimonial ; (6) - Reformar a liturgia de celebração do casamento .

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úLTIMA PAGINA

NÁQ, CHORE POR MIM . .. Se você me ama, não chore . .. Se você conhecesse o mistério insondável do céu onde me encontro . .. Se você pudesse ver e sentir o que eu sinto e vejo nesses horizontes sem fim e nesta luz que tudo alcança e penetra, você jamais choraria por mim ... Estou agora absorvido pelo encanto de Deus, pelas suas expressões de infinita beleza. Em confronto com esta nova vida, as coisas do tempo passado são pequenas e insignificantes. Conservo ainda todo meu afeto por você e uma ternura que jamais lhe pude, em verdade, revelar. Amamo-nos ternamente em vida, mas tudo era então muito fugaz e limitado . . . Vivo na serena expectativa de sua chegada . . . Um dia . .. entre nós . . . Pense em mim assim: nas suas lutas pense nesta maravilhosa morada onde não existe a morte e onde, juntos, viveremos no enlevo mais puro e mais intenso junto à fonte inesgotável da alegria e do amor . .. Se você verdadeiramente me ama, não chore por mim ... "EU ESTOU EM PAZ . .. "

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MEDITANDO EM EQUIPE TEXTO DE MEDITAÇÃO (Lc. 11 ,27-28) Enquanto ele assim falava , certa mulher levantou a voz em meio à multidão e disse-lhe: " Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que tem amamentaram!" Ele, porém, respondeu : "Felizes, antes, .os que ouvem a palavra de Deus e a observam." ORAÇ..\0 LITúRGICA (Liturgia das Horas · de Nossa Senhora)

Festa da Apresentação

- Celebrando nosso Salvador que se dignou nascer da Virgem Maria, peçamos: R. Senhor, que a vossa Mãe interceda por nós! - Sol de justiça, precedido pela aurora luminosa da Virgem Imaculada, concedei-nos que caminhemos sempre à luz da vossa presença; R. Senhor, que a vossa Mãe interceda por nós! - Verbo eterno, escolhestes Maria como arca incorruptível para vossa habitação, livrai-nos da corrupção do pecado; R. Senhor, que a vossa Mãe interceda por nós! - Salvador dos homens, tivestes vossa Mãe junto da cruz, concedei-nos por sua intercessão que nos alegremos pela comunhão em vossos sofrimentos; R. Senhor, que a vossa Mãe interceda por nós! ~ Jesus de bondade, pregado na cruz, destes Maria por mãe a João;

que possamos viver de tal modo que sejamos reconhecidos também nós filhos de vossa santa Mãe; R. Senhor, que a vossa Mãe interceda por nós! Oremos. ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, fazei-nos sentir sempre a sua intercessão, pois ela nos trouxe o Autor da Vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amem.


Um momento com a equipe da Carta Mensal .... . .... . . . .... . . . Editorial -

A lei do discernimento

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2

A ECIR conversa com vocês .. ....... .. ... . . .. . . ... : . . . . . . . . . .

5

O dever da vigilância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . .

8

Vocação e missão dos leigos na Igreja ·e no mundo . . . . . . . . . . . .

10

Segunda Inspiração -

O envio do casal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

13

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Pistas para reflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

15

Reunião de balanço: um melo para nos ajudar a avançar . . . . . . . .

17

Eleição do casal responsável de equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

18

A Oração Conjugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

19

Em quem votar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

22

O voto de qualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

24

A Irmã Morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

27

As formiguinhas e a cigarra ... .. . . . .... .. . ..... :. . . . . . . . . . . . .

29

Notrclas e Informações . . . ... . . . . . . . . .. . . . . . ...... ·. . . . . . . . . . . .

30

llltima página -

Não chore por mim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

32

Meditando em equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

33

EQUIPES DE NOSSA SEN HORA 01050 Rua João Adolfo . 118 · 9' · cj. 901 ·Tel. 34 8833 São Paulo - SP


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