ENS - Carta Mensal 256 - Junho 1989

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A SEGUNDA INSPIRAÇÃO


UM MOMENTO COM A EQUIPE DA CARTA MENSAL Este número da Carta Mensal tem uma fisionomia um pouco diferente. Vocês poderão constatá-lo na última contra-capa, se examinarem o índice. Dentro da linha da Segunda Inspiração, consagramos 19 páginas - da 14 à 32 - a uma visão panorâmica da proposta das Equipes de Nossa Senhora, tal qual é apresentada hoje. ~ claro que como toda visão panorâmica, não é uma visão completa. Nem seria possível, em 19 páginas, dizer tudo o que é o Movimento. Mas o essencial está aí, com o objetivo de evitar dúvidas e ambiguidades a respeito das Equipes e a respeito da renovação interior proposta por seus responsáveis no grande encontro de Lourdes, em setembro de 1988. Essas páginas procuram recordar os objetivos e os métodos das Equipes, assim como os serviços que se propõem prestar, e que nem sempre são bem conhecidos por todos. Procuramos ser breves, enfatizando apenas os pontos que - ao menos em nossa opinião - têm mais necessidade de serem lembrados. Gostaríamos que vocês nos dessem sua opinião a respeito. As demais seções da Carta Mensal também estão presentes. Refundimos e rebatizamos as que nos traziam, todo mês, a palavra de nossos pastores e os documentos da Igreja: chama-se, agora, "Caminhando com a Igreja" (pág. 10) e faz, este mês, uma síntese do documento n.0 40 da CNBB.

--o Oo~ grande a nossa alegria de saudar o novo casal responsável da ERI, que se apresenta à página 4. Cremos estar traduzindo o pensamento de todos os equipistas do Brasil, ao respondermos de todo o coração a seu pedido de orações: contem conosco, Alvaro e Mercedes!

--o OoUnidos a todos, e pela mediação de Maria, nossa Mãe, pedimos sem cessar ao Pai que nos envie a Segunda Inspiração. Somos responsáveis uns pelos outros. Somos todos responsáveis pelas Equipes, por seu dinamismo, pela sua missão na Igreja. Fraternalmente, A Equipe da Carta Mensal -1-


EDITORIAL

ENGAJAR-SE! ENGAJAR-SE! Num dos meus primeiros Editoriais (C.M. dezembro 86, pág. 17), lembrava que uma das queixas que se tem, por vezes, das Equipes de Nossa Senhora, vistas do lado de fora, é que são muito estreitamente voltadas para os problemas do casal e que não se engajam bastante nos grandes programas de Igreja. Recentemente, um bispo europeu convocou para uma reunião os principais responsáveis da pastoral familiar e da catequese em sua diocese. E ele, que não gostava muito das Equipes, percebeu então com surpresa que todos os casais presentes (todos, sem exceção), faziam parte das Equipes de Nossa Senhora. Nem é preciso dizer que se tornou fã incondicional do Movimento. Eu não teria a coragem, porém, de afirmar que tal unanimidade existe em todo lugar! Mas é este engajamento, a nível pessoal, em casal, que desde sempre temos recomendado. Será que é necessário ir mais além? Dar um passo a mais? Engajar o Movimento como tal? A pergunta deve ser colocada, já que as pressões que vimos recebendo para caminharmos nesta direção são atualmente muito sérias: - Há bispos que desejam engajar o Movimento como tal, como uma força de ação em sua pastoral. - Há responsáveis de associações católicas que querem mobilizar as Equipes de Nossa Senhora, como tais, em suas campanhas que, de resto, visam objetivos muito católicos. - Há mesmo alguns que querem utilizar as Equipes de Nossa Senhora como suporte acima de qualquer suspeita para ações muito próximas da política. - Por fim, aqui e ali, parece que se espera que as Equipes de Nossa Senhora assumam uma posição oficial nos conflitos que abalam hoje a Igreja, principalmente a respeito dos problemas de contracepção e dos problemas bio-éticos. Evidentemente, todos têm a tentação de 'anexar-nos' e de utilizarnos: constituiríamos um reforço considerável! -oOo--

E preciso, portanto, fazer o balanço de nossa posição sobre a maneira como concebemos nosso engajamento na vida da Igreja. Porque queremos engajar-nos plenamente, e estamos plenamente engajados na linha de nossa missão específica. -2-


- Não somos um exército marchando sob o comando dos SuperRegionais ou da E.R.I., de acordo com um programa estabelecido por algum Estado Maior. - Não somos uma massa de manobra para ser engajada em determinadas campanhas. - Não somos um grupo de pressão para contribuir nas tomadas de decisão na luta pelo poder. - Não somos sequer um Movimento cheio de certezas a serem usadas para dar cacetadas de um lado ou de outro ... Somos um movimento de espiritualidade que caminha e que procura, aberto tanto quanto possível ao sopro do Espírito, que se defronta ~o.m situações concretas, nas quais as soluções nem sempre são muito evidentes. Não é nosso papel desfilar nas ruas atrás de faixas e bandeiras, nem de tomar posições barulhentas nos confrontos. Temos que viver e testemunhar os valores do matrimônio cristãp, num mundo que já não acredita muito neles. E temos que fazer isto como adultos responsáveis, capazes de determinar-se. · Mas para tanto, duas coisas são indispensáveis. 1. Esclarecer a nossa consciência. Não podemos nos contentar com alguns slogans simplistas. Firmes quanto aos princípios, devemos compreender também a formulação atual dos problemas e o valor das soluções propostas. Esta é uma das razões que nos levou a projetar a Segunda Inspiração: existem problemas que não se colocavam da mesma forma quarenta anos atrás; é preciso confrontá-los hoje. E por isso que, na implementação da Segunda Inspiração, deveremos refletir em profundidade sobre "o casamento hoje", sobre as realidades da sexualidade, sobre os problemas da contracepção, da fecundação 'invitro", etc. Faremos isto juntos. 2. E depois, testemunhar. Não organizando passeatas e demonstrações públicas de grande efeito, mas vivendo, ou ao menos procurando viver o que cremos e professamos. E explicitando, em volta de nós, para aqueles que isto pode ajudar, o que vivemos, o que procuramos. Mais particularmente, mostrando, sem ostentação nem orgulho, mas com convicção, que em nossa concepção o matrimônio é realmente um caminho de amor, de felicidade e de santidade. Eis onde se situa nosso engajamento de Igreja. Eis o testemunho que se tornou necessário e urgente. Se nós, casais cristãos convictos, não o dermos, quem haverá de dá-lo? Peço vênia para dar a última palavra a um Cardeal: terá mais peso! O Cardeal Danneels dizia recentemente: "Devemos poder mostrar em algum lugar, não digo santos (e por que não, Eminência?), mas pelo menos casais que estejam vivendo numa verdadeira inspiração cristã. Estou convencido de que este é um dos grandes motivos possíveis de credibilidade para a Igreja, que nos faz falta hoje ... " Bernard Olivier, op. -3-


CARTA DA EQUIPE RESPONSAVEL INTERNACIONAL

Queridos Amigos, No primeiro dia do Encontro de Lourdes, na imensa basílica que ia se enchendo de gente, voltando a cabeça, do lugar onde estávamos, olhamos para aquela multidão de casais. Alguns rostos conhecidos, muitos desconhecidos porém próximos, a promessa de muitos outros rostos; um Magnificat vivo e misterioso. Nosso coração se encheu de uma profunda alegria, de uma intensa emoção. O Senhor tinha voltado a nos chamar, puxando o fio que une a trama de nossas vidas , pelo nome que tinha escolhido para nós e que demoramos para reconhecer; o nome do serviço aos casais das Equipes. Por intermédio de nossos companheiros da Equipe Responsável Internacional, fomos chamados a aceitar de ser o casal responsável da ERI , para continuar a tarefa de nossos queridos amigos Jeanine e Jean-Claude Malroux. Já tínhamos aceitado, mas naquela tarde, em Lourdes, a qualidade de nosso "sim" mudou. O que tinha sido uma aceitação na fidelidade se transformou num canto de alegria no Senhor, aquele " que é poderoso para realizar por nós em tudo infinitamente além do que pedimos ou pensamos" (Ef. 3,20) . Nossos 23, quase 24 anos de casados, que transformaram nosso casamento numa aventura apaixonante. Nossa equipe de base, que é a medida da realidade e da verdade. Nossos filhos (Mercedes, Natalia, Álvaro e Guilherme) que são o melhor dom que possamos oferecer aos outros, que nos ajudaram e nos ajudam a viver e a construir um projeto cristão, e de quem temos muito orgulho. Nosso trabalho profissional: o de Álvaro (arquiteto-urbanista, especializado em restaurações), tão absorvente e culturalmente interessante, e o meu (professora de inglês) , que venho substituindo ultimamente por uma dedicação maior aos assuntos das Equipes e ao trabalho de Álvaro. Nossa luminosa cidade de Valência; a espontaneidade, a alegria, a criatividade desta cidade mediterrânea que não é grande demais, tão frequentada por gente de outras culturas, onde o clima é suave e as conversas na calçada ainda são possíveis, onde nos encontramos constantemente com nossa família espanhola próxima e numerosa (irmãos, cunhados, tios, avós). As viagens de todos estes anos; viagens profissionais e viagens para as Equipes. Sobretudo para as Equipes. Viagens na Espanha, em visita a equipes espanholas, e fora da Espanha, a Portugal, à França, à Itália, viagens ao Brasil, à Colombia, a Porto Rico, à Argentina, como casal de ligação das equipes da América Latina. Todos os amigos, casais, conselheiros espirituais com os quais trabalhamos du-4-


rante longos anos, jovens, tantas pessoas queridas que fizeram com que este serviço não se tornasse árido mas que fosse impregnado de grande profundidade humana. Nosso gosto pelo mar, pelo cinema, pela arte, pelos livros, pelas casas antigas. Nossa facilidade para viver a "fiesta", para organizar uma celebração por qualquer motivo, desde uma oração em família até uma noite de passagem de ano ... Tudo isto desfila diante de nós, enquanto escrevemos estas linhas no pequeno escritório que montamos para as Equipes, bem em frente de nossa casa, do qual podemos enxergar o céu azul, as palmeiras de um pequeno jardim, alguns casais jovens que passam e que fazem parte de nossa esperança. O Senhor nos chamou a partir de nossa história pessoal e de casal, tão cheia de vai-e-vem, de crises, de ilusões, para permitir que compreendamos melhor os outros. Ele voltou a nos fazer aquela mesma pergunta: Mercedes, você me ama? Alvaro, você me ama? Vocês me amam? Vocês me amam mais ... ? E nós, conscientes de nossas limitações (de tempo, de saúde, de caráter), mas certos deste amor, voltamos a responder: "Senhor, Tu sabes tudo, sabes que te amamos, sabes que nos amamos em Ti". Porque a experiência de todos estes anos em que trabalhamos nas e pelas Equipes, nos e pelos casais, nos mostra que todo chamado a uma responsabilidade maior entre os irmãos é um chamado a um amor maior. E que todo chamado para um serviço entre os irmãos é também um chamado para morrer um pouco pelos outros. Estamos dispostos a aceitar este duplo chamado, que nos impulsiona e nos estimula no nosso trabalho. O que pedimos a vocês, é que nos ajudem com suas orações a permanecermos firmes. Haverá dificuldades de ordem material. Esta é a primeira vez que um casal não-francês é responsável pela ERI. I! normal que isto ocorra num movimento internacional, mas não deixa de ser difícil. O Secretariado em Paris; nós em Valencia. Como vai funcionar? Certamente de modo diferente. Desde já, um casal francês da ERI que vocês conhecem, Jean-Jacques e Françoise Crépy, aceitou com muita generosidade a tarefa de cuidar mais diretamente do Secretariado. Organizar-nos-emas sustentados pelo mesmo sentimento de comunhão e colegialidade em que vimos trabalhando até agora. Confiamos também na ajuda dos Super-Regionais. Repartiremos as tarefas, complementar-nos-emas uns aos outros, apoiando-nos nos talentos de todos; escrever-nos-emas mais, encontrando-nos pessoalmente sempre que possível. Partilhamos todos de uma mesma responsabilidade, que é o objetivo das Equipes: a maior glória de Deus e o bem dos casais. -5-


Contamos também com todos vocês, regionais, responsáveis de setor, casais de ligação, pilotos, casais das equipes de base de todas as partes do mundo, onde muitas vezes encontramos tanta fidelidade, tanta criatividade. Ajudem-nos a levar avante o impulso de renovação explicitado na "Segunda Inspiração", semeado há tanto tempo e de tão longe pelo esforço de tantos casais e conselheiros espirituais, vivido por muitos casais das Equipes, esperado por tantos outros que procuram na Igreja e no mundo um caminho para a salvação de seu amor ... A Igreja precisa de nós, casais, para que tornemos crível este amor de Deus, do qual o casal é a imagem. Trata-se de um trabalho urgente e apaixonante, neste momento da história em que se vive, ao mesmo tempo, a crise e a esperança. Nosso Movimento tem uma responsabilidade na Igreja e no mundo. No plano mais próximo de nós, temos que ir ao encontro dos casais jovens, dos casais em dificuldade, dos casais que buscam, e mostrar-lhes que, com a ajuda de Deus e com o auxílio mútuo dos irmãos, decidimos continuar apaixonados um pelo outro, ser felizes no meio das dificuldades, evangelizar a sexualidade e vivê-la na plenitude, responder em casal ao apelo à santidade, atravessar a Páscoa com Jesus, ser um sinal e um lugar de encontro com Deus para os outros, ser uma parábola de comunhão num mundo dividido. Num plano mais amplo, temos que dar a nossa colaboração para que a Igreja possa oferecer ao mundo uma verdadeira antropologia e uma verdadeira teologia do casal, nas quais mística e realidade se dêem as mãos, nas quais os sinais positivos levem vantagem sobre os sinais negativos, para que a doutrina matrimonial da Igreja seja efetivamente uma Boa Nova para os casais do mundo inteiro. Toda renovação verdadeira procede do Espírito e só produzirá fruto se continuarmos abertos a Ele, ao Seu sopro imprevisível, nas nossas reuniões de equipe e na nossa vida, com a mesma atitude de fidelidade, de pobreza e de alegria que a Virgem Maria. ~ com suas palavras que nos despedimos de vocês: A nossa alma engrandece o Senhor, Exulta nosso espírito em Deus nosso Salvador. o

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Com toda a nossa amizade e carinho Alvaro e Mercedes Gomez-Ferrer Valencia, abril de 1989.

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A ECIR CONVERSA COM VOCES

Neste tempo em que vivemos a celebração do Pentecostes parece-nos de grande importância que possamos refletir esta grande e vital verdade. Sabemos que o Espírito Santo nos propicia adentrarmos no mistério de Deus, a partir do que nos tomamos participantes de sua vida divina. Inicia-se, então, um processo de amadurecimento da experiência do Espírito em nossa vida, que nos faz compreender que a partir do momento em que o Espírito age no íntimo de nosso coração e o transforma, é exatamente porque nele habita. E para que isso seja possível, é importante uma vida de oração que nos fortaleça a essa abertura e disponibilidade ao Espírito. Lembramo-nos aqui que a vivência dos Pontos Concretos de Esforço, criando em nós as atitudes de busca da vontade e amor de Deus, de busca da verdade e de encontro e comunhão, é um caminho fertil para este acontecimento. Assim, o Espírito Santo estará em nós como princípio de vida e, ao mesmo tempo, como princípio de um grande dinamismo missionário, princípio de ação. Esse Espírito está sempre a nos comunicar vida, agindo como impulso vital, como calor que tudo anima e dinamiza. Ele encontra-se ativamente e efetivamente presente nos acontecimentos e, sendo assim, é continuador da obra do Cristo, atualizando-a ao longo dos tempos. Neste momento, importante para todos nós do Movimento das Equipes de Nossa Senhora, em que nos é proposta a Segunda Inspiração, é preciso lembrarmos que este Movimento é obra do Espírito Santo, que o permitiu surgir na Igreja, no tempo em que E.le quis, para que nela pudesse desempenhar uma missão particular. No entanto, ele não subsistirá, se não for fiel a esta missão, vivenciando-a no quotidiano do Povo de Deus. Aqui então, toma-se importante estarmos atentos aos sinais dos nossos tempos, para que perduremos nessa fidelidade à nossa missão. Um dos dons comuns do Espírito é a interpretação, dom este que edifica ainda mais a Igreja. E preciso, pois, que nos coloquemos abertos ao Espírito, às necessidades do nosso tempo, e ao carisma que nos é próprio, sabendo discernir e interpretar tudo isto, a fim de que possamos ser construtores do Reino naquilo que nos é próprio: a santificação do matrimônio. Diante da tarefa de proclamarmos a boa nova proposta pela Segunda Inspiração, sintamos que, com fé no Espírito Santo saberemos enfrentar essa nova missão, no mundo que ora estamos vivendo, com sua realidade e necessidade, envolvendo uma triste problemática pertinente à família. -7-


Tudo isso precisa ser retomado, a sexualidade tem urgência de evangelização e tantos outros valores precisam ser resgatados. Lembremo-nos que "o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e temperança (Gal. 5,22)", tudo o que a nossa hora, o nosso mundo está necessitando tanto. Paulo VI, em um de seus discursos, disse que "O sopro de oxigênio do Espírito Santo veio despertar na Igreja forças que estavam entorpecidas, suscitar carismas que dormiam, trazer uma alegria e uma vida que em cada época da História tornam a Igreja jovem e atual, feliz por anunciar aos novos tempos sua mensagem eterna. Assim é que devemos nos dispor ao Espírito Santo, neste Pentecostes, como Igreja, dispostos a fazer acontecer a boa nova proposta pela Segunda Inspiração, propiciando um novo Pentecostes. Caros casais, peçamos luzes ao Espírito Santo pela eficácia e unidade de nossa missão. Olguinha e Toninha

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A PALAVRA DO PAPA

A doutrina social da Igreja não é uma "terceira via" entre capitalismo liberalista e coletivismo marxista, nem sequer uma possível opção entre outras soluções menos radicalmente contrapostas: ela constitui por si mesma uma categoria. Não é tampouco uma ideologia, mas a formulação acurada dos resultados de uma reflexão atenta sobre as complexas realidades da existência do homem, na sociedade e no contexto internacional, à luz da fé e da tradição eclesial. A sua finalidade principal é interpretar estas realidades, examinando a sua conformidade ou desconformidade com as linhas do ensinamento do Evangelho sobre o homem e sobre a sua vocação terrena e ao mesmo tempo transcendente; visa, pois, orientar o comportamento cristão. Ela pertence, por conseguinte, não ao domínio da ideologia, mas da teologia e especialmente da teologia moral. O ensino e a difusão da doutrina social fazem parte da missão evangelizadora da Igreja. E, tratando-se de uma doutrina destinada a orientar o comportamento das pessoas, tem de levar cada uma delas, como conseqüência, ao "empenho pela justiça" segundo o papel, a vocação e as circunstâncias pessoais. O exercício do ministério da evangelização em campo social, que é um aspecto do múnus profético da Igreja, compreende também a denúncia dos males e das injustiças. Mas convém esclarecer que o anúncio é sempre mais importante do que a denúncia; e esta não pode prescindir daquele, pois é isso que lhe dá a verdadeira solidez e a força da motivação mais alta. João Paulo 11: Carta encíclica 'Solicitude social", n. 0 41.

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CAMINHANDO COM A IGREJA

As páginas seguintes são o resumo do texto da 26. a Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, de 1988. Trata-se de uma aplicação ao Brasil de grandes textos do Concílio Vaticano H (1961-1964), assim como das assembléias latino-americanas de Medellin (1968) e de Puebla (1979). Situa-se em continuidade aos documentos da CNBB, "Por uma nova ordem constitucional" de 1986, e "Diretrizes gerais da ação pastoral da Igreja no Brasil" de 1987.

IGREJA: COMUNHÃO E MISSÃO

na evangelização dos povos, .no mundo do trabalho, da política e da cultura INTRODUÇÃO (N. 0 1-26) A tarefa da Igreja é anunciar a salvação em Jesus-Cristo a todos os povos, e nos diversos planos dos mundos do trabalho, da política e da cultura.

I. COMUNHÃO E MISSÃO (N. 0 27-106) Na história da Missão, que coincide com a história da Igreja, pode se identificar três grandes atitudes: 1) de diálogo; 2) de crítica profética; 3) de vida até o martírio. · A missão é compromisso essencial e permanente da Igreja, concretizado em nossos dias por seu compromisso com a promoção da paz e da justiça. Nisso, a Igreja é germe e início do Reino de Deus, embora não seja ela mesma o reino definitivo de Deus: por essa razão, ela mesma tem sempre necessidade de ser evangelizada. Todo batizado é chamado a assumir este compromisso evangelizador. Cristo é o vínculo de todas as comunidades eclesiais. Os bispos com a cooperação dos sacerdotes e dos diáconos e em união com o papa são o sinal visível deste vínculo. Num ambiente não evangelizado, a atuação pedagógica cristã pode começar pela simples presença, crescendo num empenho ativo pela justiça e libertação, e culminando no anúncio explícito e pleno da riqueza da mensagem evangelica: estes três momentos são evangelização. Tais atitudes são para o cristão uma maneira de responder à sua vocação de santidade pelo caminho de seguimento de Jesus. -

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II.

URG~NCIA

DA MISSÃO (N. 0 107-112)

São quatro os aspectos fundamentais e urgentes da missão da Igreja: 1 o. Evangelização dos povos (n.o 113-131) A Igreja que está no Brasil é solidária com as outras Igrejas. A elas ela deve dar de sua pobreza. A sua dimensão missionária é uma conseqüência de sua maturidade. Supõe um esforço de inculturação da fé, visando a formação de comunidades cristãs, utilizando meios pobres, enfrentando conflitos e perseguições. Em conseqüência, deve-se incentivar o projeto "Igrejas-irmãs", tratar adequadamente a pastoral indígena, enfrentar os problemas das migrações internas, dos ciganos, da população negra, com sua cultura e seu sincretismo religioso; aprofundar a reflexão sobre o envio missionário de cristãos leigos, e enfrentar os problemas do mundo relacionados com a justiça e a paz. 2.0 : No mundo do trabalho (n.o 132-183) No mundo do trabalho há enraizadas e complexas formas de injustiça, exploração e opressão. As pessoas são valorizadas pelo seu poder de compra e de consumo, e a desigualdade social no Brasil continua crescendo. O mundo do trabalho é um mundo em conflito, tanto na área industrial-urbana como na área agrícola. A violência no campo é um dos sinais do agravamento do conflito capital-trabalho. A renda real dos trabalhadores cai sem parar. Aumenta a recessão e se acentua o desemprego, levando ao desespero milhares de farru1ias. Dois terços da população vivem em condições infra-humanas, amontoados em cortiços e favelas, enquanto uma minoria privilegiada percebe altíssimos salários. As migrações internas atingem dezenas de milhares de pessoas. Deve-se reconhecer que existem setores da Igreja que encontram dificuldades em reconhecer e aceitar que as relações de trabalho, na atual organização de nossa sociedade, são de fato conflitivas, esquecendo que o Evangelho deve atingir as raizes do conflito para chegar a uma verdadeira reconciliação. Os sindicatos são um elemento indispensável de uma sociedade participativa e solidária. A Igreja recusa a interpretação marxixsta da luta de classe como estratégia essencial de conquista do poder, mas reconhece o direito de greve como meio de defesa dos direitos dos trabalhadores. Por sua vez, o pagamento da dívida externa levanta graves problemas éticos. Diretrizes: a evangélica opção preferencial pelos pobres deve se concretizar em efetiva solidariedade com a imensa massa dos trabalhadores: ela constitue a maioria da população; -

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devemos assumir e afirmar com firmeza a primazia do trabalho sobre o capital; - devemos animar vivamente os trabalhadores a se empenharem na luta pela justiça; - devemos incentivar os trabalhadores a participar de seus sindicatos e se empenhar para ter uma participação ativa na gestão das empresas; - os trabalhadores devem encontrar na Igreja um espaço de aprofundamento de fé e meios para sua formação; - devemos insistir sobre a necessidade de medidas que garantam a função social da empresa através de salários justos, liberdade sindical, condições dignas de trabalho, negociação permanente, participação nos lucros, subordinação de toda propriedade à destinação universal dos bens da terra; devemos afirmar sempre o direito de todos ao trabalho, ao saláriodesemprego suficiente, a uma aposentadoria proporcional; impõe-se uma política agrária que garanta a permanência do pequenc:, agricultor no campo; · deve-se exigir a execução imediata de uma Reforma Agrária justa e eficaz; I! fundamental que nossa atuação seja uma defesa clara dos mais fracos, daqueles que são vítimas de um processo produtivo injusto, especialmente dos menores, das mulheres, dos negros. I! também necessário procurar e aprofundar uma espiritualidade adequada à realidade operária.

3.0 : No mundo da política (n.o 184-227) . A política é uma procura do bem comum internacional, nacional, ou de grupos humanos menores. Traduz-se concretamente no exercício do poder e na luta para conquistá-lo. Por incluir opções relativas ao destino dos povos e à concepção do homem, a Igreja não pode ignorá-la. Daí a necessidade de refletir sobre o binômio fé e política. Atualmente no Brasil o tratamento que a " res publica" vem recebendo das classes dirigentes atenta contra o bem comum. Ao mesmo tempo, cresce a consciência popular. Dai um ceticismo generalizado configurando uma situação ameaçadora. A atuação pastoral da Igreja na evangelização libertadora integra por conseguinte uma dimensão política, pois o poder legítitmo se caracteriza pelo serviço e não pela dominação, como disse Jesus. Daí documentos, organismos de solidariedade, denúncias das violações dos direitos humanos, reafirmação da opção evangélica pelos pobres, educação política do povo, assessoria a cristãos engajados na política partidária. I! responsabilidade do corpo episcopal zelar para que nunca a religião seja utilizada como ópio do povo, nem instrumentalizada para fins ideológicos espúrios . -12-


4.0 : No mundo da cultura (n.0 228-273) A mensagem evangélica deve ser transmitida sempre no contexto de um "diálogo de culturas", exigindo ao mesmo tempo fidelidade ao Evangelho, à autentica tradição da Igreja, e um profundo conhecimento e respeito pela cultura das pessoas ou grupos sociais com os quais se dialoga. O problema entre nós é agudo em relação à cultura indígena, à chamada cultura popular, assim como à cultura urbana contemporânea. Estes problemas se situam num país tecnologicamente e economicamente periférico. A tentação é pois grande de reproduzir a cultura materialista do capitalismo avançado, privando a maioria da população mais pobre dos bens e serviços essenciais. A evangelização é essencialmente um convite à conversão e à adesão a Jesus Cristo. Daí a necessidade de distinguir o que é meramente cultural daquilo que é realmente evangélico, nos diversos domínios da expressão da fé, do culto, dos comportamentos sociais e da pesquisa científica. Conclusão Oração: "0 Deus, que destes a este povo uma única origem e quereis reuní-lo numa só família, fazei com que os brasileiros se reconheçam irmãos e promovam na solidariedade o desenvolvimento de todos, para que sejam reconhecidos os direitos de cada pessoa e a sociedade brasileira conheça uma era de igualdade e de paz. Amém". -oOo-

Num próximo mês será apresentado o documento da CNBB de 1989 (n. 0 42), "Exigências éticas da ordem democrática".

f r. J. P. Barruel de Lagenest O .P.

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ENTREVISTA

A SEGUNDA INSPIRAÇÃO Desde o Encontro Internacional em Lourdes em setembro último, quando foi apresentada, a Segunda Inspiração tem sido um assunto constante entre os quadros do movimento. E passou a merecer a atenção de todos os equipistas a partir dos últimos EACREs quando foi finalmente apresentada a todas as equipes através de seus C.R. Diante de alguns questionamentos havidos, a Carta Mensal fez uma entrevista com o C.R. da ECIR, Cidinha e lgar, para acrescentar algo ao que já foi escrito anteriormente. CM: Como deverão ser os temas para reflexão do casal e posterior troca de idéias na equipe?

Cidinha e Igar: Em princípio, não foram elaborados temas para a Segunda Inspiração. O documento "A Segunda Inspiração" é de referência, isto é, a partir dele - das pistas que abre - cada equipe poderá "escolher" seus próprios temas, tendo como "matéria prima" a própria vivência dos casais, suas necessidades e anseios, suas lutas, quedas e sucessos, suas tristezas e alegrias. Quantas vezes não tivemos nós, casais das equipes, necessidade de aprofundar e discutir um assunto, dentro do leque da Segunda Inspiração que é bem amplo, e não encontramos oportunidade, orientação ou mesmo coragem para isso. Um exemplo: a questão da sexualidade. Assunto hoje muito banalizado e distorcido, mas ainda não aprofundado o suficiente de uma forma a ajudar e conduzir os casais para a perfeição humana e cristã da relação sexual. Acreditamos que uma boa maneira de começar é conhecer bem o documento "A Segunda Inspiração" e fazer um estudo refletido, inclusive em equipe, do material já publicado a respeito. Somente após esse estudo, começar a refletir sobre um assunto escolhido pela própria equipe. Poderá acontecer e é desejável que, a partir daí surjam, nas próprias equipes, temas a serem oferecidos às demais num espírito de ajuda mútua. CM Foi dito que todos se beneficiarão da reflexão de cada casal, de cada equipe. Como se dará isto?

C/ I As trocas de idéias feitas em equipe serão relatadas ao Casal Responsável de Setor que, juntamente com sua equipe de setor, fará um trabalho de condensação, com destaque para o que for mais significativo, -14-


incluve as dificuldades encontradas, e encaminhará à ECIR, que irá trabalhar sobre todo o material recebido e dar um retorno às bases também através dos CRS ou, conforme o caso, através da Carta Mensal. Pensamos que haveria maior enriquecimento do material proveniente das equipes se o CRS, antes de enviar à ECIR, procurasse formas para fazer as demais equipes do Setor trabalharem sobre o mesmo. Entre as Super-Regiões as experiências serão trocadas através da Equipe Responsável Internacional. Não se pode esperar um benefício "instantâneo", como uma resposta de computador a um toque de botão, pois trata-se de algo que demanda muita reflexão e troca de idéias. Por outro lado, embora não havendo datas ou prazos definidos para que se obtenham respostas, não devemos permanecer tranquilos, deixando o tempo passar. ~ preciso constante atenção de todos nós para que o fluxo de comunicação seja contínuo - não se interrompa nem apresente intervalos prolongados. Esperamos que os resultados dessas reflexões sejam úteis, não apenas ao Movimento e seus casais, mas também à Igreja, a todo o Povo de Deus. CM Qual é o tempo previsto para esta Segunda Inspiração? C/ 1 Quando as primeiras equipes se formaram, não possuíam uma v1sao clara do caminho que tinham pela frente. Foram dando os passos. Quarenta anos depois, nós equipistas de hoje temos idéia da caminhada feita . Pensamos que marcar prazos não é o que mais importa, mas sim caminhar, buscando respostas às necessidades dos casais para que possam se santificar, através do casamento, na realidade deste mundo em que vivemos hoje. Uma busca contínua, perseverante e incansável, apesar das dificuldades que possamos encontrar. O "tempo de amadurecimento" vai depender da intensidade com que cada pessoa, cada casal, cada equipe se entregue a essa busca. Mas é predso buscar.

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CM Qual deve ser a participação de cada um nesta Segunda Inspiração, seja casal de base, Conselheiro Espiritual, Responsável de Equipe, de Setor, de Região, ECIR? C/1 Cada um em sua função continua com a mesma participação. Com mais responsabilidade? Não diríamos assim porque a responsabilidade de cada um sempre foi grande, afinal estamos todos num mesmo barco e a remada de cada remador é imprescindível. O que é preciso é que cada equipista, cada casal esteja plenamente consciente dessa responsabilidade e a assuma para valer. Aos que tem uma "responsabilidade", melhor dito "estão ao serviço dos demais", é pedida uma dedicação ainda maior. A todos e a cada casal em particular é pedido, mais explicitamente, um maior empenho, uma participação mais ativa, nessa caminhada. -

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Os casais não vão receber um tema pronto para estudar e responder às perguntas propostas; vão sim dar mais de si, trazendo para a reunião, dentro das pistas que o documento abre, os assuntos que mais os tocam a partir de sua vivência e participação no mundo de hoje como casais cristãos. Dirigimo-nos aqui, em especial, aos nosws queridos Conselheiros espirituais pedindo-lhes que dêem o melhor de si, para que, a partir daí numa visão mais ampla, possam nessa busca, ajudar os casais a discernirem as necessidades mais urgentes, relativas ao casal, à família, a serem trabalhadas. CM Além do temário, ao qual já se referiram, o que muda em outros aspectos da vida da equipe? C/ I Bem, a resposta pode até parecer um tanto paradoxal. Diremos que não muda nada e ao mesmo tempo tudo deve ir mudando. Não muda nada em relação ao carisma fundador do movimento, como nada muda em relação ao seu método e à sua estrutura. A reunião da equipe continua a ter as suas partes como também os pontos concretos de esforços e as regras da vida em equipe continuam os mesmos. Estamos considerando que a vivência dos pontos concretos de esforço e a partilha já estejam sendo encarados dentro do novo enfoque, qual seja, voltados para a procura das atitudes de vida:

e Busca assídua da Vontade de Deus e Busca da Verdade e Busca de Encontro e Comunhão A proposta contida no documento sobre a partilha, editado em 1988, no nosso entender foi uma inspiração que preparou para esta Segunda Inspiração. - Então o que muda? O que deve mudar é o nosso espírito, o nosso interior. A Segunda Inspiração deve provocar em nós uma inquietação, uma busca do espírito que existe por trás de cada proposta, um desejo intenso de viver conforme a Vontade de Deus toda a nossa vida, uma atenção às necessidades dos irmãos, uma disposição muito forte em encontrar respostas às necessidades de hoje, enfim, uma verdadeira conversão. A Segunda Inspiração pretende ser como que um "Pentecostes" para as equipes. Quais as mudanças que o Espírito Santo trouxe para os apóstolos? Nenhuma, poderíamos dizer. E no entanto sabemos que tudo mudou e a própria Igreja está aí para confirmar isso e tudo mudar porque eles se converteram. :!! principalmente uma tal conversão que objetiva a Segunda Inspiração e a partir dessa conversão tudo s~rá diferente: nossa vida conjugal, nossa vivência dos pontos concretos de esforços, nossa reunião de equipe, nossa vida de Igreja, nossa missão no mundo. -16-


A renovação que as Equipes de Nossa Senhora estão buscando não consiste em mudar as regras do jogo, mas vivê-Ias com um novo espírito. Ouvimos uma pergunta mais ou menos nestes têrmos: - Então agora com esta "abertura" acabou a "cobrança" por pontos concretos de esforços? Podemos dizer que a "cobrança estatística" ou "contábil" do simples sim, não, mais ou menos, fiz 60%, 100%, sem a preocupação mais profunda do que isso representar ém sua vida cristã, não tem sentido dizer que acabou porque nunca existiu no espírito da partilha. Se estava havendo tal cobrança era uma deturpação deste espírito. A partilha em reunião sempre existiu para ser um partilhar dos esforços, sucessos, fracassos e crescimentos através da vivência dos pontos concretos de esforço, visando a ajuda mútua quanto ao crescimento cristão, à conversão. Agora, para se poder ajudar uma pessoa, ou um casal, eles precisam revelar as suas dificuldades. Um casal pode também ajudar outro indiretamente, partilhando a forma encontrada para superar uma dificuldade, um sucesso. Uma outra dúvida surgida e que esclarecemos é que partilha e coparticipação continuam sendo momentos distintos e com finalidades específicas dentro da reunião da equipe. Finalizando. Imaginamos que possivelmente há ou ainda podem surgir outras dúvidas a esclarecer. Pela importância do assunto não convém que elas fiquem sem esclarecimento. Por isso pedimos que não hesitem em perguntar seja a nível de Setor, Região ou ECIR, que estaremos, com alegria, dentro dos nossos limites, à disposição de todos. -oOoComo auxílio para o início das reflexões a partir do doc. da Segunda Inspiração é sugerida a leitura refletida pelo casal e pela equipe, além do documento em si, de: Editoriais das C.M. de Maio e Setembro de 87, dez. 88, março a junho 89. Carta da Eq. Resp. Internacional marca qbril e maio 89. Documento discutido pelos C.R. nos EACRES. Conferência do Cônego Caffarel aos RR da Europa em 87. "Documentos Fundadores" (a ser publicado em breve).

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Para um esclarecimento ainda mais amplo, damos, nas páginas seguintes (18 a 26) uma visão panorâmica dos elementos de mística e métodos, que são hoje o acervo das Equipes de Nossa Senhora. Trata-se, através dessas breves sínteses, de tentar eliminar dúvidas e ambigüidades. Mas continua válida a recomendação dada por Cidinha e lgar no final de sua entrevistas: não hesitem em perguntar ... -17-


SEGUNDA INSPIRAÇÃO

UM CAMINHO PARA DEUS Em 1967, o Pe. Caffarel publicava, na revista • L'Anneau d'Or", uma coletânea de conferências sob o título: casamento, caminho para Deus". Este título resume bem a intuição inicial que o animava ao fundar as Equipes de Nossa Senhora: levar os casais cristãos a descobrir o caminho que, pelo sacramento do matrimônio, se abre diante deles, e convidá-los a trilhar este caminho. Esta continua sendo a convicção do Movimento. ~ a que Inspira suas exigências iniciais para acolher novos casais: que estejam 'unidos no Senhor' e que tenham a vontade de caminhar para Ele.

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Unidos 'no Senhor'

As Equipes de Nossa Senhora, seguindo o seu fundador, têm um carisma específico: estão ao serviço dos cristãos casados para ajudá-los na sua vida conjugal cristã. Elas creem que a santidade que é pedida aos casais cristãos se realiza aos poucos no e pelo matrimônio. Quando os cônjuges se comprometem um com o outro diante da Igreja, o Cristo também se compromete com eles. Ele dá, um ao outro, estes dois batizados, que são Seus membros. Ao integrá-la na Sua aliança, Ele ratifica a aliança dos dois. E caminha doravante com eles, para que seu • sim" inicial - que é, ao mesmo tempo, um • sim" dado ao outro e um • sim" dado em conjunto a Deus - preencha todo o seu ser e toda a sua vida a dois. ~ isto que o Movimento procura levar seus membros a entender e a viver. "Sequiosos de Deus"

Mas é preciso que os membros tenham a vontade de trilhar este caminho. ~ a segunda condição para fazer parte das Equipes. Não tenhamos medo da palavra: estes casais devem querer a santidade (ver os Editoriais do Pe. Olivier nos últimos números da Carta Mensal). ~ natural que este desejo seja meio confuso no início. Irá se tornando mais nítido com o tempo. Mas é necessário que exista pelo menos em embrião. As Equipes de Nossa Senhora se dirigem àqueles que são "sequiosos de Deus", conforme a bela expressão dos Salmos. ~ o que significa o nome • movimento de espiritual idade conjugal", pelo qual as ENS são tradicionalmente designadas. A espiritualidade nos abre ao sopro do Espírito Santo; a espiritualidade conjugal entrega a Ele o nosso casal. A equipe - e o Movimento - está ar apenas para servir a este projeto, que é resposta ao apelo de Deus.

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O QUE VEM A SER A SANTIDADE A palavra é bastante abstrata e nos diz pouco. t: melhor nos mirarmos nos santos, como São Paulo, por exemplo. Logo compreenderemos que um santo é um apaixonado de Cristo. Em cada página das cartas do Apóstolo, vemos arder seu candente amor por aquele que o conquistou, numa luta árdua. Um dia, com efeito, o Cristo lhe aparece (2 Cor. 15,8). ele o vê (1 Cor. 9,1). Doravante, sua vida se transforma radicalmente: "O que era para mim lucro, eu considero, por amor de Cristo, como esterco, para ganhar a Cristo. Não que eu já o tenha alcançado ou já seja perfeito. Mas vou prosseguindo para ver se o alcanço, pois que também já fui alcançado por Cristo Jesus· (cf. Flp. 3,7-12). O amor de seu Senhor o persegue (2 Cor. 5,14) e tem a certeza de que nada o poderá separar dele: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? ... Mas em tudo isto somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!· (Rom. 8,35-37) . Não receia sequer a própria fraqueza ; nem esta conseguirá separá-lo de seu Mestre : ·Prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo . . . Pois, quando sou fraco, então é que sou forte" (2 Cor. 12,9-1 O). Sua união com Cristo vai até a identificação: · Fui crucificado junto com Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim" (Gal. 2,19). Assim é a santidade cristã: um amor, como este amor pelo Cristo que devora o coração de Paulo . .. As Equipes dizem e repetem : o amor humano santificado pelo sacramento é, para os casados,. um caminho para este amor apaixonado por Cristo. A santidade é a perfeição do amor.

MEIOS CONCRETOS O objetivo é claro: apaixonar-se, em casal, por Cristo; fazer do Evangelho os estatutos do lar. Como aproximar-se deste objetivo? As Equipes propõem ·pontos concretos de esforço·, para a encarnação de&te desejo na vida real. Estes pontos são conhecidos . Mas será que são bem compreendidos? Será que são bem vividos? Palavra de Deus e meditação

Como amar alguém sem um contato íntimo e cotidiano? Não há como avançar no amor de Cristo se não se tem uma grande fome de sua Palavra e se não se lhe dá um tempo , que seja só dEle. Eis porque as

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Equipes nos pedem que leiamos regularmente a Palavra de Deus e que reservemos cada dia um mornento para ficar a sós com Deus: a meditação. Ao menos dez minutos, que é realmente um mínimo; meia-hora seria melhor. A meditação é pessoal, mesmo que o casal venha a fazê-la no mesmo momento e lugar. Em contrapartida, a leitura a dois da Palavra de Deus é bastante recomendável. É o casal que as Equipes desejam formar, tanto humana como cristãmente, e é por isso que convidam a . fazer a dois tudo o que for possível. A oração conjugal A meditação sendo pessoal, o casal tem a necessidade de encontrar-se diante de Deus numa oração conjugal. É o louvor do casal a Deus. É a abertura do casal à vontade de Deus. Partindo da leitura conjunta da Palavra de Deus, é desejável que tenha a sua expressão espontânea numa oração de cada um em voz alta ('ressonância') na presença do cônjuge . Esta oração poderá alimentar a meditação pessoal de cada um dos dois. Diante das eventuais dificuldades, pode-se começar modestamente, dizendo juntos uma oração já formulada : Pai Nosso, Ave Maria, um salmo, a Oração do Tempo Presente, etc., ou ainda, naturalmente, o Magnificat ... A oração conjugal abrange toda a vida do casal. Ela se expandirá em oração familiar quando os filhos aparecerem no lar, e pelo tempo que alí permanecerem (e enquanto a aceitarem . .. ). O dever de sentar-se A vida do casal cristão é uma caminhada com Cristo. Pressupõe opções constantes em todos os campos da vida, iluminadas pela luz de Cristo, Sua Palavra, Seu Evangelho. O dever de sentar-se aparece, pois, como um exercício de discernimento a dois. O discernimento é indispensável em toda vida espiritual, seja do indivíduo, seja do casal. Qual é, numa determinada circunstância de nossa vida, a vontade de Deus sobre nosso casal? O que Ele espera de nós? Percebe-se logo que o dever de sentar-se só pode ser feito em clima de oração e sob o olhar do Senhor. Não podemos rebaixar o dever de sentar-se a um acerto de contas, nem mesmo a um simples diálogo humano visando um melhor entendimento. Seu objetivo é bem mais alto: descobrir o perfil evangélico de nosso casal, saber o que o Cristo espera dele. A regra de vida Se formos lúcidos e honestos conosco mesmos - e entre cônjuges - logo perceberemos, na oração e no dever de sentar-se, que muitas coisas em nós, muitas atitudes, comportamentos, se constituem em obstáculos ao desejo de Cristo sobre nós e sobre nossa família. Pedimos, então, que Ele nos liberte : • Senhor, se quiseres, podes me curar ... Faze que eu veja . . . " E Ele nos responderá: "Vá lavar-te na piscina .. . " Ou

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seja: você, de seu lado, deve fazer um esforço para afastar estes obstáculos ao amor. Este esforço é designado pela tradição como • ascese" (pensem em exercícios, aeróbica, jogging, para manter a forma ... espiritual), e as Equipes pedem que os tornemos concretos através de uma regra de vida específica, seja pessoal (o que não impede de informar o cônjuge ou a equipe a respeito, para que o auxílio mútuo possa funcionar), seja conjugal (apoiando-se mutuamente para melhor cumpri-la).

O retiro espiritual Uma vez por ano, o retiro espiritual permite que se use com maior intensidade todos os outros pontos concretos de esforço: a leitura da Palavra de Deus (por vezes à luz de uma nova angulação dada pelo padre que anima o retiro), meditação mais prolongada (na capela ou caminhando), oração conjugal (numa clima espiritual particularmente propício), dever de sentar-se (no qual o discernimento se beneficiará de luzes especiais, depois que cada um tiver mergulhado na meditação) - tudo isto resultando numa revisão da regra de vida . . . Nunca será demais enfatizar a importância primordial do retiro espiritual para o casal. Usando uma imagem de São Paulo, podemos dizer que estes meios concretos formam como que um escudÓ'· pe proteção. ·Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contrà ·a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os· Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal. .. " (Ef. 6,12).

A EQUIPE E SUA REUNIÃO ·Porque conhecem a própria fraqueza ... e porque depositam uma fé indefectível no poder do auxílio mútuo fraternal, decidiram unir-se em equipe". Este preâmbulo dos Estatutos, retomado em termos equivalentes no infcio do documento "O que é uma Equipe de Nossa Senhora", define o papel da equipe, que é, juntamente com os pontos concretos de esforço, uma das vigas mestres da pedagogia do Movimento. A equipe existe para o auxílio mútuo entre casais. O auxílio mútuo sob todas as formas, tanto humana como espiritual. Para cumprir este papel, a equipe precisa construir-se aos poucos, na amizade recíproca de seus membros e no amor de Cristo. A amizade humana é muito importante na equipe. Não é necessariamente espontânea entre esses casais reunidos, como diriam alguns, pelo acaso. Nós acreditamos mais que foram reunidos pela Providência. Nem todos têm afinidade entre si. Mas esta amizade vai nascer e fortalecer-se ao longo dos anos vividos juntos, na partilha e no próprio auxílio mútuo. O fato de ser cimentada por uma força maior do que a simples força humana tornará esta amizade mais sólida, e fruto da caridade fraterna que é o vínculo essencial da equipe. -

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De fato, a equipe • se reúne em nome de Cristo". Não só a primeira vez, mas sempre. ~ este o motivo principal, que dá consistência aos outros. Se este motivo fraquejar, a equipe definha. Daí decorre que o auxílio mútuo essencial que cada um pede à equipe, e que a equipe propicia a cada um , é o auxílio mútuo espiritual. A equipe está ao serviço dos casais para ajudá-los a caminhar para Deus, a caminhar com Cristo, a tornar-se testemunhas de Cristo . ~ nesta perspectiva que as diversas partes da reunião adquirem seu verdadeiro sentido. A refeição (simples!) é- o momento da amizade humana. Encontramo-nos na alegria, partil hamos os alimentos, trocamos notícias, estreitamos os vínculos. Esta base humana, que não está isolada dos momentos subsequentes da reunião , confere veracidade e solidez ao auxílio mútuo espiritual.

Na oração, toda a equipe é levada a voltar-se, com Cristo, para o Pai, para louvá-lo, para conhecer Sua vontade, para comungar com Ele e para lhe fazer seus pedidos. Pede-se, sobretudo, ao Espírito Santo, que venha encher os corações com o amor de caridade , o mesmo amor que une as três Pessoas divinas. Acolhendo e vivendo este dom, a equipe se transformará, aos poucos, numa "vitória da caridade" . O exercício desta caridade se faz na co-participação e na partilha. Estes dois momentos da reunião, que o Movimento quis que fossem distintos, são, na verdade, mal diferenciados por muitos equipistas. A co-participação permite que se tenha uma visão geral da vida dos casais, sempre sob o ângulo do objetivo que se busca: a caminhada para Deus. Não se trata simplesmente de notícias, que já terão sido dadas durante a refeição, mas de tudo aquilo que tenha marcado a vida cristã dos casais durante o mês que passou. Uma vez ou outra, um dos casais pode ter um problema específico a expor, a fim de receber as luzes dos irmãos: problema de família, de profissão ou de apostolado, por exemplo. Desde o Encontro de 1976, as Equipes pedem que a co-participação tenha por assunto principal o testemunho dado pelos casais, por sua vida ou seus engajamentos. A partilha visa o auxílio mútuo espiritual, partindo dos pontos concretos de esforço. Desenvolve-se tendo por base esses pontos concretos que, ao entrare~ nas Equipes, os casais se comprometem a inserir progressivamente na sua vida . Na partilha, começamos , portanto, por examinar como esses pontos foram vividos. Mas não nos limitamos a isto. Numa visão mais elevada, questionamo-nos sobre os apelos que o Senhor dirige a cada um de nós e sobre a maneira pela qual cada um se esforça por responder aos mesmos. ~ uma espécie de dever de sentar-se em equipe, no qual procuramos discernir juntos a vontade de Deus sobre cada um de nossos casais. Este discernimento é verdadeiramente uma função comunitária, mas pressupõe que a equipe se tenha feito dócil ao Espírito Santo pela oração; que ela seja como uma comunidade de Pentecostes, reunida na • saia do alto· com Maria, à espera do Espírito.

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~

O tema de estudos não é um elemento estranho nesta reunião profundamente espiritual. Com a condição de que seja entendida tal como o Movimento o quis, ou seja, como um aprofundamento da fé. Não se trata, portanto, de pura reflexão intelectual, mesmo que esta também tenha a sua parte. Trata-se de confrontar a vida dos casais com a Palavra de Deus, para que se deixem transformar por ela. Daí decorre a importância da sua preparação em casal antes da reunião. E durante esta última, uma confrontação das luzes que cada um traz permitirá que se caminhe na claridade e na vida de fé, que é vida em Cristo e no Espírito. Por vezes, a Eucaristia vem coroar a reunião. Não parece desejável que isto ocorra em todas as reuniões, pois o programa já é bastante carregado . Mas quando é celebrada, a Eucaristia modela de forma privilegiada na caridade a pequena comunidade cristã, ao mergulhá-la no ato de amor de Cristo, presente no sacramento.

O CONSELHEIRO ESPIRITUAL O Movimento sempre quis ter sacerdotes como conselheiros espirituais das equipes. Esta é sua tradição bem estabelecida e esta é sua firme vontade . O que espera do conselheiro espiritual é, antes de mais nada, que seja sacerdote e que cumpra na equipe, que é uma comunidade cristã, sua função sacerdotal, " tornando o Cristo presente, como Cabeça do Corpo" (Sínodo dos Bispos, 1971). O que durante muito tempo foi rica experiência, se transformou em convicção teológica. A equipe de casais, "reunida em nome de Cristo" e constituindo uma pequena célula de Seu Corpo, tem necessidade do sacerdote que representa Cristo Cabeça e que faz da equipe uma verdadeira "ecclesiota•. Este é, sem dúvida, o aspecto mais difícil para a compreensão dos casais: é um mistério da fé. Mas é também o mais fundamental. Qualquer que seja a forma (e as circunstâncias poderão levar a adaptações), cada equipe deve ser assistida por um padre. Esta presença sacerdotal aparece em toda a sua amplitude na celebração da Eucaristia, no seio da equipe. O padre, que ajuda os casais a transformarem em eucaristia toda a sua vida, toma em suas mãos naquele momento a equipe, para uní-la à oferenda do Cristo ao Pai. A Eucaristia não está prevista .no desenrolar habitual da reunião de equipe. Mas onde a • Eucaristia doméstica· é autorizada, muitas equipes gostam de marcar um acontecimento importante ou terminar o ano equipista pela celebração da missa. E o conselheiro espiritual desempenha então plenamente a sua função sacerdotal na equipe. O conselheiro espiritual é escolhido pela equipe, após consulta ao Casal Responsável de Setor. !:: a equipe que o convida para pedir que a ajude na sua caminhada, com a mesma liberdade que se tem para escolher um conselheiro pessoal. Cabe ao sacerdote, se for o caso, levar o assunto ao seu bispo ou superior religioso. Na prática, ser conselheiro espiritual de uma equipe faz parte das diversas tarefas pastorais

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para as quais o padre foi ordenado, e dentre as quais lhe cabe estabelecer as prioridades. O conselheiro espiritual não é o responsável da equipe: no Movimento, todas as responsabilidades são assumidas por casais. Mas sua contribuição não é menos importante. O sacerdote é chamado a exercer na equipe seu ministério (ou seja, seu serviço) pastoral e espiritual junto aos casais. O Concílio Vaticano 11 faz referência a esta parte da missão sacerdotal: "Cabe aos sacerdotes, devidamente informados sobre assuntos relativos à família, sustentar a vocação dos esposos na sua vida conjugal e familiar pelos diversos meios da pastoral, pela pregação da palavra divina, pelo culto litúrgico ou por outros auxílios espirituais, fortalecê-los com bondade e paciência em meio a suas dificuldades e confortá-los com caridade para que formem famílias de verdadeira irradiação" (Gaudium et Spes, n.o 52). O Movimento fornece aos sacerdotes um terreno muito fértil para o exercício desta missão. Pode-se assinalar algumas das diretrizes desta missão do sacerdote junto à equipe. Ele é o homem da lgrej~. aquele que torna visível o vínculo da pequena comunidade com os sucessores dos Apóstolos. Ele é o homem da Palavra de Deus, que ajuda os equipistas a se abrirem a ela, a acolhê-la, e se deixarem transformar por ela. Ele é o homem da Eucaristia: não apenas aquele que a celebra na pequena comunidade, mas também aque le que, recolhendo toda a vida desta comunidade, a une à ação de graças do Cristo. 1: o homem do discernimento: aquele que traz, ao mesmo tempo, uma visão independente e uma experiência espiritual para a equipe, para que esta descubra melhor os apelos que o Senhor lhe dirige. A maneira de exercer esta missão depende de cada sacerdote. A rigor, o conselheiro espiritual não participa da equipe ao mesmo título que os demais, já que a equipe é de casais. Logo, ele tem a liberdade de se comprometer em grau maior ou menor com a equipe, de participar com maior ou menor intensidade nas diversas partes da reunião. Cada padre conselheiro espiritual encontra seu estilo próprio de relacionamento com a equipe, no espírito do movimento e conforme a solicitação da própria equipe. O que os equipistas esperam dele, é que, segundo a fórmula de Santo Agostinho, seja "cristão com eles, sacerdote para eles" (cf. L.G. 32). Que ele seja um irmão na fé e um sacerdote de Jesus Cristo. Que caminhe com eles e que exerça, junto a eles, a função para a qual foi ordenado pela Igreja. Que os ajude a progredir nos caminhos do Evangelho.

AS "REGRAS DO CLUBE" Para uma maior clareza, o documento de base intitulado "O que é uma Equipe de Nossa Senhora" fez uma nítida separação entre os meios espirituais (pontos concretos de esforço), objetos de partilha, e as de-24-


mais • obrigações· inerentes ao fato de pertencer ao Movimento, que poderiam ser designadas como as • regras do clube". A enfática importância dada aos primeiros não deve levar a perder de vista estas últimas, das quais depende a vida do Movimento (e que cabe ao Responsável da Equipe lembrar). - Preparar a reunião mensal e participar da mesma, não requer maiores explicações. - Ler a Carta Mensal também deveria ser automático. Ao receber uma carta da família, não a lemos com avidez? Não queremos saber das novidades, conhecer as reflexões, as orientações? Será que na prática, fazemos isto com a Carta Mensal? - Dar ao Movimento uma contribuição mensal, " calculada lealmente na base de um dia de receitas • do casal , por ano. O Movimento precisa desta contribuição, não somente para viver, mas também para se desenvolver, para cumprir a sua missão na Igreja. Primeira pergunta : fazemos esta contribuição? Segunda pergunta: O nosso cálculo é leal? (é surpreendente o número de casais que não ganham sequer o salário mínimo!). - Participar das reuniões organizadas pelo Setor, pela Região, pela Super-Região, pelo Movimento internacional. Será que ficamos felizes por poder encontrar, nessas ocasiões, nossos irmãos e irmãs das equipes? !: uma forma de medir nossa adesão ao Movimento. - Ter em conta, nas orações, as intenções de todos os membros do Movimento, no mundo. Eis a dimensão deste Magnificat, que somos convidados a proclamar, cada dia, em casal. Em que pé estamos, em relação às "regras do clube"?

GENTE ATIVA ·Embora as Equipes de Nossa Senhora não sejam um movimento de ação, desejam ser um movimento de gente ativa· (Do documento 'O que é uma Equipe de Nossa Senhora'). Ou seja, o Movimento em si não programa nenhuma atividade comum para seus membros, mas impele-os a atuar na Igreja e no mundo, segundo seus carismas .* Uma autêntica espiritualidade é ativa e missionária. No entanto, o Movimento tem uma missão na Igreja. Isto o leva a orientar seus membros para engajamentos relacionados com sua finalidade, ou seja, tudo o que diz respeito ao matrimônio cristão. Para tanto, pode assumir determinadas iniciativas em conjunto com outros movimentos, também preocupados com o casal e a famflla. Assim, ele é levado a estabelecer alguns relacionamentos com o meio exterior. Dentro de que limites? !: o que define, para os Responsáveis de Setor, uma nota da Equipe Responsável Internacional:

*

V. Editorial , pág. 2.

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·o

Responsável de Setor é o representante do Movimento a nível

local: - na vida da Igreja local (Bispo ... Comissão de Pastoral da Família ... paróquias), seja diretamente, seja por intermédio de um casal designado por ele para este fim; - junto aos demais movimentos ... e particularmente os que têm por objetivo a espiritualidade, o casal ou a família . . . - junto aos meios de comunicação locais. Neste campo específico, será necessário ponderar com cuidado - e pedir a ajuda de outros nesta ponderação - , quais as conseqüências previsíveis deste tipo de ação, para a Igreja, o Movimento, os casais .. . 1: preciso lembrar que uma das regras elementares do relacionamento com a Imprensa é de exigir a leitura prévia -também pelo Responsável Regional - , de qualquer artigo (inclusive seu título). a ser publicado sob a assinatura do Responsável de Setor, em nome das E.N.S.

1: de se lembrar, também, que quando na mesma diocese existem vários Setores, uma coordenação entre estes é indispensável para muitas atividades, mas principalmente no que diz respento à representação. 1: preferível, nestes casos, que um só Responsável de Setor represente o Movimento perante a diocese, ou então, conforme as possibilidades, que esta função seja desempenhada pelo Responsável Regional."

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Constituem, também, parte Integrante do acervo das Equipes de Nossa Senhora algumas atividades, que poderíamos classificar como "serviços prestados à Igreja", que vêm sendo exercidas pelo Movimento nos últimos anos. De todos estes serviços, destacamos a seguir três, que funcionam com grande firmeza no Brasil.

EXPERI~NCIA

COMUNITÁRIA DAS E.N.S.

A Experiência Comunitária das E.N.S. surgiu como uma resposta àqueles Setores ou Coordenações que ao buscarem expandir o movimento, levando a outros casais as riquezas que encontram na vivência cristã, conjugal e comunitária, deparam com homens de boa vontade, de coração aberto à conversão ao Cristo, porém homens que desconhecem esse mesmo Cristo, sua Igreja e os meios de santificação por ela propostos. Sentem por isso, dificuldade em fazerem uma opção consciente pelas E.N.S. e mesmo que o façam, não conseguem vivê-la plenamente, por falta de experiências anteriores. Assim, todo o trabalho consiste em despertar os casais para a reflexão, para o conhecimento de si mesmos, de sua realidade conjugal, familiar e social, oferecendo-lhes um lugar para um verdadeiro encontro com o Cristo, através da vivência comunitária, da catequese e da oração. Convictos de que não é possível impor-se valores, mas apenas criarse oportunidades que levem à descoberta desses valores, desenvolveu-se a idéia de que o melhor método é àjudar os casais a descobrirem que "o Senhor fez em mim maravilhas", agindo como João Batista, aterrando os vales e nivelando os montes, para preparar os caminhos do Senhor. E isto é feito através de oito unidades temáticas que abrangem cerca de um ano de encontros mensais ou quinzenais, coordenados por um casal das E.N .S. Somente ao final de toda essa caminhada, é colocada aos casais a necessidade de optarem por alguma forma de continuidade da vivência que vieram desenvolvendo, quando então apresenta-se o Movimento das E.N.S., seus objetivos, sua mística e seus métodos. A opção que é então feita, é realmente consciente. Os casais optam por integrarem o movimento ou buscam outros caminhos, permanecendo às vezes, como uma equipe paroquial. Desta forma, a Experiência Comunitária tornou-se, além de um instrumento válido e útil para o desenvolvimento dos casais dentro das E.N .S., um instrumento de evangelização do casamento, apto a levar a Boa Nova do Amor Conjugal a muitos casais que nunca virão a pertencer ao movimento . -27 -


Muitos já têm sido os frutos da Experiência Comunitária que têm dado origem a equipes de muita garra e convicção, e que inclusive contagiaram a todos nos EACRES deste ano, quando enviaram seus primeiros casais responsáveis de equipe . Todos são unânimes em afirmar que esta catequese iniciai é rica e realmente abre os caminhos. Há por outro lado, várias dificuldades que os casais coordenadores enfrentam para aplicar o método sugerido, como também, novas idéias e sugestões surgindo da experiência feita em muitas regiões do Brasil. Assim, embora já esteja até traduzido para o francês e à disposição das equipes européias, o texto das Experiências Comunitárias permanece em estado de brochura, porque antes da sua publicação final, ele deverá absorver todas as contribuições provenientes daqueles que as viveram, para que realmente se torne um instrumento eficaz para a evangelização do Brasil dos nossos dias. Finalmente é interessante e gostoso contar-lhes .que os casais que prepararam a Experiência Comunitária tiveram uma oportunidade fmpar de voltarem às raízes do seu matrimônio, de sua fé e reverem toda a caminhada que fizeram , sentindo multo fortemente a presença do Cristo marcando suas histórias. Mas o melhor mesmo é contar-lhes que existem equipes, já antigas, vivendo a Experiência para prepararem-se para virem a ser coordenadores de novos grupos, respondendo assim à missão · a que fomos todos chamados: transformar a face da família .

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OS INTERCESSORES Em 1960, o Pe. Caffarel lançou um apelo aos equipistas: • Precisase de voluntários· para responder à indagação de Jesus Cristo: • Não podeis vigiar uma hora comigo?". Convidava assim os casais do Movimento a consagrar uma hora de oração noturna por mês, nas intenções dos casais e pelas grandes intenções da Igreja e do mundo. Um número crescente de pessoas, vinculadas ou não às ENS respondeu ao desafio e hoje, temos uma corrente ininterrupta de orações, em todo o mundo. No Brasil, o número dos intercessores ultrapassa a casa dos 500! Sem dúvida alguma, é mais um serviço, mais uma missão prestada pelas Equipes de Nossa Senhora. Desde seu nascedouro, ficou muito evidente que um dos objetivos das reuniões de equipe era o de uma entreajuda fraterna expressa, entre outras formas, através da oração. Assume-se, na oração, as intenções apresentadas pelos outros. Com o passar dos anos, essa índole do equlpista ultrapassou os limites do Movimento e adquiriu uma amplitude eclesial concretizada na Grande Família dos lntercessores. Praticamente: -

da intercessão de uns pelos outros, em união com Cristo, "que intercede por nós sem cessar", no mistério da Comunhão dos Santos. -

Qual o compromisso?

Os • orantes": uma hora de oração por mês, a escolha do lntercessor; Os • jejuadores ": um dia de jejum por mês; Os • ofertantes ": oferecimento de sua provação. -

Como inscrever-se?

Enviar pedido de adesão à Secretaria das Equipes de Nossa Senhora, Rua João Adolfo, 118 - 9.0 andar- conj. 901 -São Paulo- CEP 01050- informando o meio de intercessão que escolheu, assim como o horário.

- E depois?

Quem pode fazer parte dos "lntercessores?"

Toda pessoa, casada ou não, sacerdotes e religiosos, sob uma única condição: Crer no valor

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Receberão um comprovante de Inscrição e, trimestralmente, um folheto: "O Boletim dos lntercessores ", que tem a finalidade de ajudar a manter o compromisso assumido, através de textos sobre a oração, o jejum, o oferecimento e testemunhos. 1: um meio de comunicação entre todos os membros. Anexo seguem algumas intenções particulares que lhe são especialmente confiadas.


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A experiência brasileira

Com a fisionomia atual, os intecessores existem no Brasil desde 1981. Através desses anos vimos atestando que se trata de uma obra de Deus. O intercessor é alguém permanentemente vinculado àqueles que, sem o conhecer, solicitaram suas orações por algum problema que os aflige. Os pedidos deixam vislumbrar todo o sofrimento, a angústia mas também a grande esperança no poder da oração. É uma doença, um filho desajustado, viciado, problemas conjugais, casamentos desfeitos, pessoa desempregada e assim por diante. A partir daí, estabelece-se um forte vínculo entre aquele que solicitou a oração e o intercessor, o que motiva fortemente

este último a manter-se fiél ao compromisso assumido. Nós recebemos inúmeros testemunhos relatando graças alcançadas, novas descobertas na vida cristã, provocadas por essa atitude de vida comprometida pelo sofrimento, não de uma forma alienada, mas muito concreta e à qual respondemos no que de mais precioso podemos oferecer a um irmão: rezar por ele, oferecer-lhe algo de nós próprios. Inegavelmente é algo de libertador na medida em que nos coloca na perspectiva do próprio Cristo que se ofereceu por Inteiro por nós. Caríssimo amigo, se sentir que Deus o chama para esse caminho, não hesite, pois o mundo, o nosso País, nossos irmãos precisam muito da oração dos intercessores. O resto é com Deus .

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NóS DOIS AGORA Quanto a este serviço, pareceu-nos mais proveitoso e esclarecedor transcrever, tal qual, o testemunho abaixo, que recebemos de Altamira e Paulo Saraiva, de São Paulo. Casados há mais de trinta anos! Estávamos em um EACRE quando encontramos Maria e José Aquino muito entusiasmados convidando os casais, que ali se encontravam , para um retiro ou dias de estudo, não entendi bem . .. Curiosa, comecei a mexer nos panfletos de propaganda e vi que o assunto me interessava- "VOCI:S JA FIZERAM BODAS DE PRATA? SEUS FILHOS JA SE CASARAM?- OS NETOS JA ESTÃO CHEGANDO? - TI:M PAIS MUITO IDOSOS QUE DEPENDEM DE VOCI:S? - SE RESPONDEREM SIM A UMA DESSAS PERGUNTAS VENHAM CONVERSAR CONOSCO." Como eu e o Paulo respondíamos • SIM" a todas as perguntas é evidente que fomos desconfiados - fazer o encontro NóS DOIS

AGORA. Acreditamos que as pessoas casadas têm quatro momentos ou etapas na vida: o primeiro e mais importante é o casamento, o segundo a chegada dos filhos, o terceiro seu casamento ou sua partida da casa paterna e o último e mais doloroso, sem dúvida é a viuvez. Atualmente, há os cursos de preparação ao casamento, que no nosso tempo não havia, porém líamos muito, tínhamos facilidade de sacerdotes que nos aconselhavam e de algum modo, sistemática ou asslstematicamente nos preparávamos para o casamento . Quando os filhos chegaram, quantos recursos tivemos: palestras, cursos, Associações de Pais e Mestres, Escola de Pais, aulas sobre a adolescência e adolescentes, encontros com amigos que tinham filhos da mesma idade, férias , viagens, etc. Agora os filhos partem e ficamos a sós! O que vamos fazer? Temos saúde, trabalhamos muito, embora possamos nos aposentar. Surgem as dúvidas: devemos ou não nos aposentar? E os netos? Qual a medida ideal para auxiliar nossos filhos, sem interferir em suas vidas? E os pais, agora já muito idosos, devem ficar morando onde estão ou será melhor encaminhá-los para uma clínica de repouso?

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Todas essas questões fazem parte de nossa vida atualmente. Nunca imaginamos que esta terceira etapa fosse tão importante e rica de emoções. As emoções, no entanto, precisam ser bem trabalhadas, pois do contrário poderemos, como muitas pessoas, nos sentir velhos, acabados ou solitários e pensar que estamos sendo escravos daqueles que dependeram de nós. Refletir sobre todos esses assuntos é a proposta de NúS DOIS AGORA. Assistidos por um sacerdote, vários casais compartilham suas experiências, passam um fim de semana refletindo tais experiências à luz do Espírito de Deus, rezam, conversam trocando idéias, ouvem palestras, brincam e se divertem repartindo o que têm em comum. Descobrir as riquezas desta terceira fase da vida, foi para nós um sucesso. Foi bom derrubar alguns tabus, poder falar e descobrir que várias pessoas passam pelas mesmas experiências que nós vivemos. Evangelizar é transmitir a Boa Nova. Esta Boa Nova não é só a Palavra de Deus, mas também levar aos outros a vivência de Deus em nossas vidas, é fazer com que o irmão possa partilhar das nossas alegrias e dificuldades, dos nossos sofrimentos e dores. Com esse espírito é que frequentamos o NúS DOIS AGORA . Engajamo-nos porque acreditamos dever estar bem todas as etapas de nossas vidas e não pode de nos prepararmos do que participando com um ciente e que se propõe a repartir as experiências

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preparados para viver haver melhor maneira grupo alegre e conscomuns .


A PALAVRA DOS CONSELHEIROS ESPIRITUAIS Conforme noticiamos em números anteriores, o Pe. Valter Carrijo, carinhosamente chamado de "Padre Vital" pelos equipistas de Jundiaí, é agora Dom Valter Carrijo. Por uto do Santo Padre, de 18/01/89, foi nomeado· Bispo Coadjutor e Administrador Apostólico "Sede Plena" de Brejo dos Anapurus, no Maranhão. Com 55 anos de idade, 28 de padre, foi sagrado bispo na catedral de Jundiaí no dia 15 de abril de 1989, tendo adotado o lema: "Vim para que todos tenham vida". Na ocasião, dirigiu a seguinte mensagem aos presentes.

"QUE TODOS TENHAM A VIDA" Perante o novo aspecto da missão cristã, que hoje Deus me confia - mais do que nunca - creio estar me adentrando na grandiosidade paradoxal da vida. Deste paradoxo disse Gilbert K. Chesterton: "A VIDA NÃO~ ANTILOGICA, MAS UMA ARMADILHA PARA OS LOGICOS!" O grande desafio que me espera (e a todo cristão) -hoje e sempre - é o choque de valores, o atrito de mentalidades, a diferença no uso de meios para o êxito da vida. Nosso grande valor é Jesus, o Cristo. Na nossa fé, Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, único Salvador dos homens, único Caminho, Verdade, Vida. Viver e anunciar Cristo é entrar - viver o aspecto paradoxal da vida, é entrar em seu mistério pascal. Este mistério eu o vejo claro na imagem do pastor. Pois viver e anunciar Cristo é aceitá-lo e apresentá-lo, com clareza, como CORDEIRO! Foi assim que João Batista iniciou sua Evangelização (Jo 1,29). Foi assim também que Cristo se tornou Pastor (Jo 10,15); fez-se cordeiro! Eis o paradoxo da vida e da salvação, que vai além da lógica. Nós, cristãos, não podemos aceitar as propostas da lógica da força: força do poder, da cultura, da técnica, da eficiência, do dinheiro, da violência, da situação ... Para viver e anunciar Cristo, entramos em seu mistério pascal. ~ dentro deste mistério pascal que descobrimos os cordeiros, que, todos os dias, são levados ao matadouro . . . O mundo se constrói sobre seus sofrimentos, suas dores, suas lágrimas, suas humilhações, sua ignomínia, seu anonimato, seus trabalhos. . . sobre sua mansidão, sobre seu -33-


silêncio, sua humildade, sua fraqueza, seu despojamento, sua pobreza, sua não-violência ... Assim o mundo é purificado de seus falsos valores e abre-se ao Bem. Ser pastor, pois, é fazer-se cordeiro: é ser fraco, sem aparência, sem credencial; é doar-se, é amar. Isso é o que Deus espera de mim: entrar neste mistério pascal, no país misterioso da redenção. Perante esse mistério não tenho dúvida alguma. Mas tenho medo. Sua fé, a coerência de sua vida, sua prece me ajudam. Mas é o Senhor o meu Pastor. "A IGREJA NÃO CESSAVA DE ORAR A DEUS POR ELE" (At 12,5). Dom Valter Carrijo, SDS.

Dom Valter Carrijo acompanha as equipes em Jundiaí desde 1964, e nesses 25 anos colaborou com dedicação e simplicidade com a ECIR, participando e preparando liturgias nos grandes encontros e nas sessões de formação do Movimento. Ficou sensibilizado com a soladariedade que sentiu nas Equipes, através das manifestações recebidas de muitos setores.

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EACRES

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Realizadas em 17 cidades brasileiras, entre fevereiro e abril passados, os Encontros Anuais de Casais Responsáveis de Equipe (EACREs) constituiram-se numa excelente oportunidade para os casais que assumiram essa tão importante missão refletirem, à luz da "Segunda Inspiração", sobre o atual estágio e os rumos do nosso Movimento no Brasil. Damos a seguir um noticiário resumido sobre alguns desses Encontros, enviados por nossos "casais correspondentes".

Região São Paulo-Leste 18/19 de março, em Guaratinguetá/ SP. 61 casais e 14 conselheiros espirituais participaram, vindos de Aparecida, Pindamonhangaba, Taubaté, Caçapava, São José dos Campos, Jacareí e Guaratinguetá. O Encontro contou com a presença de D. Geraldo Maria de Morais Penido, Arcebispo de Aparecida e assistente de equipe.

Região Centro-Norte Devido às imensas distâncias envolvidas, foram realizados 3 EACREs nesta Região. Nos dias 11 e 12 de março, reuniram-se em Belém/PA, 22 casais responsáveis de equipe e 13 conselheiros espirituais, provenientes também de Santarém, S. Miguel do Guamá e Castanha!. O encontro de Manaus contou com 22 CRE e 1 conselheiro espiritual, de Manaus e Santarém, nos dias 18 e 19 de março. Não temos notícias do encontro de Brasília, no fechamento desta edição.

Região Minas Gerais O EACRE das Alterosas foi em Juiz de Fora, nos dias 4 e 5 de março, com 42 responsáveis de equipe e 8 C.E.s, de Belo Horizonte, Varginha,

Pouso Alegre, Pirapora, Borda da Mata, além da cidade hospedeira.

Região Santa Catarina Foi nos dias 11 e 12 de março, reunindo em Criciúma 71 C.R. de equipe e 4 sacerdotes conselheiros espirituais. Região São Paulo Sul-H Os casais responsáveis de Louveira, Campo Grande, Bragança Paulista, Salto, ltú, Jundiaí, Araçoiaba de Serra e Sorocaba se reuniram nesta última cidade, nos dias 4 e 5 de março, em número de 45, contando com a presença de 3 conselheiros espirituais. Região 'Equipes Distantes' Aqui também foram realizados dois EACREs. Os CRE de Fortaleza, em número de 9, com 2 conselheiros espirituais se reuniram em sua cidade, nos dias 11 e 12 de março. Os de Recife e de Parelhas/RN, na Vila Medalha Milagrosa em Recife, nos dias 4 e 5 de março, com a presença de 16 casais e 4 assistentes. Região São Paulo-Oeste Este ano, o Encontro foi em Garça, com 69 casais responsáveis partici-

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pantes e 7 conselheiros espirituais, vindos de Baurú, Pederneiras, Ribeirão Preto, Araçatuba, Penápolis, Vaiparaíso, Marília, Lins, Dracena e Garça.

Região São Paulo-Centro Os casais responsáveis de Campinas, Jaú, Piracicaba, Valinhos, Vinhedo, São Carlos, Limeira, Dois Corregos e Araraquara foram recebidos em 25 e 26 de fevereiro pelos de Americana. 95 casais e 18 sacerdotes participaram do Encontro, que contou também com a presença de Dom Fernando Legal, na celebração da Eucaristia. Região Rio Grande do Sul Na Vila Betânia, em Porto Alegre, além dos casais responsáveis da capital gaúcha, reuniram-se os de Caxias do Sul, Carlos Barbosa, Terra de Aréia, Osório, Tramandaí, Santo Antonio e Gravataí. Eram 55 casais

e 22 sacerdotes, no EACRE realizado nos dias 1 e 2 de abril.

Região Paraná 4 conselheiros espirituais e 55 casais responsáveis compareceram ao EACRE realizado em Londrina nos dias 4 e 5 de março. Além dos da cidade hospedeira, vieram os responsáveis das equipes de Curitiba, Mafra, Astorga, Grandes Rios, Assaí e Pitangueiras. Região Rio de Janeiro I Entre os que nos mandaram notícias, o EACRE da Ilha do Governador foi o que reuniu o maior número de casais: 99, com a presença de 6 conselheiros espirituais. Realizado nos dias 11 e 12 de março, o Encontro contou, na missa de encerramento, com a presença de D. Nardal, bispo responsável pela Pastoral Familiar na Arquidiocese do Rio.

-oOoInfelizmente, o material referente aos 4 EAÇREs faltantes não chegou às nossas mãos em tempo hábil para publicação. Lamentamos também não poder publicar, por absoluta falta de espaço, todas as fotos recebidas. E agradecemos o esforço de nossos dedicados "correspondentes".

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Aspectos de alguns dos EACREs de 1989.

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NOTICIAS E INFORMAÇ(JES

Mudanças nos Quadros

Volta ao Pai

e No Setor B de PetrópollsfRJ, a missão de Casal Responsável de Setor passa a ser exercida por Helô e lvair, que sucedem a Regina e Job.

Pe. Daniel Humberto Jansen, C.E. da equipe 1 de Araçoiaba da Serra; SP, em 15-02-89.

e Zina e Eduardo foram escolhidos para suceder a Yolanda e Yutaka na função de Casal Responsável pelo Setor G do Rio de JaneirojRJ.

Expansão Frutos da Experiência Comunitária das ENS, acabam de ser lançadas mais duas equipes no distrito de Venda Branca, Setor de Casa BrancafSP.

Retiros programados • Florianópolis: 9, 10 e 11 de junho e 19 e 20 de agosto de 1989. • Manaus: 29 e 30 de setembro e 1 de outubro de 1989. • Sorocaba: 20, 21 e 22 de outubro de 1989. Mais informações com os respectivos Setores.

••• I ENCONTRO NACIONAL DE MOVIMENTOS E INSTITUTOS FAMILIARES Conforme noticiamos na Carta Mensal de maio/89 (pág. 22), reall· zou-se em Belo Horizonte, nos dias 21, 22 e 23 de abril passados, o I Encontro Nacional de Movimentos e Institutos Familiares. Dirigido por D. Marcelo Pinto Carvalheira, responsável, na CNBB, pela Linha de Pastoral 1, Setor Família, o Encontro teve a coodenação de Mons. Pierre Prlmeau, Assessor de Pastoral Familiar da CNBB, o eficiente suporte do casal Mariola e Eliseu Calslng (Resp. do Setor B das E.N.S. em Brasília) e a presença de representantes de perto de 20 Movimentos e Institutos Familiares do Brasil Inteiro. Era objetivo principal do Encontro o melhor conhecimento mútuo entre os participantes assim como entre Movimentos e Institutos de um lado e a hierarquia da Igreja no Brasil, de outro. De· correu num ambiente de grande fraternidade, com várias palestras e muito trabalho em grupo, tendo sido produzidas várias propostas para a atuação orgânica e harmônica de todos os envolvidos no campo da Pastoral Familiar. As Equipes de Nossa Senhora estiveram representadas no Encontro pelo Casal Responsável da ECIR, Cidlnha e lgar. -38-


CARTAS DE NOSSOS LEITORES

"Itú, março de 1989. Prezados Senhores Redatores, Estive lendo o Editorial do duocentésimo quinquages1mo terceiro. Bonito, sério e realista como sempre. Corresponde ao que gosto de pensar, com a vantagem do equilíbrio e do otimismo do Pe. Olivier. De vez em quando comento com meus amigos equipistas o problema que acho mais grave nas ENS: a falta do que chamo de VONTADE EQU/PISTA. Entendo por "vontade equipista" a decisão de, em tudo, dar a prioridade devida à inspiração, à mística e às obrigações assumidas no Movimento. Entendo também que sem a "vontade equipista" será muito difícil haver progresso qualitativo (e até quantitativo) no cristianismo vivido nas ENS. A impressão que se tem é que, freqüentemente, as reuniões informais, os encontros sociais (aniversários e festinhas) e os compromissos extra-equipe estabelecem o real teor da vida de boa parte dos equipistas. Os argumentos de justificação são aparentemente legítimos: a dificuldade da vida moderna, o cansaço deixado por um trabalho nem sempre compensador, a preocupação de enfrentar a crítica ou o afastamento dos parentes, as oportunidades únicas de uma bela tarde no clube ou de uma cervejinha com os amigos (afinal, ninguém é de ferro) . .. No fim, a causa equipista fica sempre em segundo plano. Alguns amigos equipistas já me disseram que sou duro demais e tiro a esperança alegre de progredir . . . Pode ser. Sou obrigado a pensar maduramente em observações semelhantes, pois a própria Vida Religiosa Consàgrada nem sempre é exemplo de assumir de fato a vivênvia radical do Evangelho, o seguimento de Cristo. Além do mais, o "VAMOS CONSEGUIR!" do Pe. Olivier cresceu diante de mim como uma palavra de ordem. Embora sem muitas razões para pensar diferente - uma razão bem que pode ser o otimismo que gera alegria e esperança. Para frente, portanto! Obrigado pela oportunidade. Que a Segunda Inspiração nos anime na caminhada para a redescoberta do Carisma Fundador, tal como ocorreu em uma ou outra Congregação/Ordem. Sem mais, despeço-me. Desejo-lhes tudo de bom, aquilo que corresponde ao SHALOM dos hebreus, Frei Martinho." -39 -


úLTIMA PAGINA

SEMEAR SEMPRE No campo do mundo, tu és um semeador. Não podemos fugir à responsabilidade de semear. Não digas que o solo é áspero, que chove demais, que o sol queima ou que a semente não serve. Não é tua missão julgar a terra e o tempo. Tua missão é semear. A semente é abundante. Um pensamento, um sorriso, uma promessa de alento, um aperto de mão, um conselho, um pouco de água são sementes que germinam facilmente. Não semeia, porém, descuidadamente, como quem cumpre mis.são desagradável; semeia como quem encontra nisso o motivo central de sua felicidade. Recorda que não semeias para enriquecer, aguardando o ganho multiplicado. Semeias, porque não podes estar inativo, porque não podes viver sem dar, porque não podes servir a Deus sem servir aos demais. Es dono de ti mesmo, da vida e do universo. Tua semente, pois, não cairá no vazio: sem esperar recompensa, receberás recompensa; sem esperar riquezas, enriquecerás; sem pensar em colheitas, teus bens se multiplicarão. E tudo porque semeias num Reino onde dar é receber, onde perder a vida é encontrá-la, onde gastar servindo é aumentar. Semeia sempre em todo terreno, em todo o tempo a boa semente, com amor, com interesse, como se estivesse semeando o próprio coração. Sê, pois, um semeador.

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MEDITANDO EM EQUIPE TEXTO DE MEDITAÇÃO (Mt. 16,13-20) Chegando Jesus ao território de Cesaréia de Filipe, perguntou aos discípulos : "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?" Disseram: "Uns afirmam que é João Batista, outros que é Elias, outros, ainda, que é Jeremias ou um dos profetas." Então lhes perguntou: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Simão Pedro, respondendo, disse: "Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo." Jesus respondeu-lhe : "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi ·carne ou sangue que te revelaram isto, e sim o meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus ." Em seguida proibiu severamente aos discípulos de falarem a alguém que era o Messias . ORAÇÃO LITúRGICA Roguemos confiantes a Cristo, que edificou sua Igreja sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas: R. Favorecei, Senhor, a vossa Igreja! - Vós rogastes por Pedro, a fim de que sua fé não sucumbisse; confirmai a fé da vossa Igreja. R. Favorecei, Senhor, a vossa Igreja! - Depois da vossa ressurreição, aparecestes a Simão Pedro e vos revelastes a Paulo; iluminai nossas inteligências, para confessarmos que agora estais vivo. R. Favorecei, Senhor, a vossa Igreja! - Elegestes o apóstolo Paulo para anunciar vosso nome aos gentios; tornai-nos verdadeiros pregadores de vosso Evangelho. R. Favorecei, Senhor, a vossa Igreja! - Misericordioso, perdoastes as negações de Pedro; perdoai todas as nossas ofensas. Oremos: O Deus, que hoje nos concedeis a alegria de festejar são Pedro e são Paulo, concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes · Apóstolos que nos deram as primícias da fé . Por nosso Senhor Jesus Cristo .. . (Liturgia das Horas -

Festa de São Pedro e São Paulo)


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Um momento com a equipe da Carta Mensal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Pe. Olivier ............ ·. ·. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Carta da Equipe Responsável Internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Editorial -

A ECIR conversa com vocês . . .. . . . .. . . . . . . . . .. . . .... ... . . . . . .

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A Palavra do Papa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Caminhando com a Igreja . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Caderno Especial -

As ENS hoje e a Segunda Inspiração

Entrevista com Cidinha e lgar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Um caminho para Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O que vem a ser a santidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Meios concretos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A equipe e sua reunião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O Conselheiro espiritual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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As "Regras do clube" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Gente ativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Serviços: -

Experiência comunitária das [NS . . . . . . . . . . . . . .

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Os intercessores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Nós dois agora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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"Que todos tenham vida" -

Dom Valter Carrijo . . . . . . . . . . . . . . . .

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EACRES 89 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Noticias e Informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Cartas de nossos leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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l.Jitima página -

Semear sempre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Meditando em equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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EQUIPES DE NOSSA SENHORA 01050 Rua João Adolfo. 11 8 · 9' · cj. 901 · Te!. 34 8833 São Paulo - SP


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