ENS - Carta Mensal 1986-7 - Outubro

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O QUE LER NESTE NúMERO A riqueza que se encontra nos boletins de Setor, através de artigos , editoriais, depoimentos e testemunhos, é enorme . Por esta razão, a Carta Mensal resolveu , este mês, dedicar espaço a uma " resenha " de alguns dos boletins que recebe e reproduzir algumas das matérias que ali se encontram. Vocês encontrarão esta resenha à página 30. O dia 12 de outubro tem um duplo significado para nós , brasileiros. f. , primeiramente , o dia dedicado a nossa Padroeira , Nossa Senhora da Conceição Aparecida . Lembramos dela nas nossas páginas centrais (22). f. também o Dia da Criança e outra poesia, à pág. 28 , nos fala deste dia com um sabor todo especial. A Escuta da Palavra continua ocupando nossos pensamentos e as páginas da Carta Mensal. f dela que nos fala o Editorial de Pe. Caffarel , à pág. 2 e a meditação de Pedro Moncau , que reproduzimos do livro de Nancy , à pág. 14. Falamos também, este mês , dos diversos aspectos da vida em equipe: a co-participação (pág. 8) , a oração do Magnificat (pág. 9), a partilha (pág. 11) , o acolhimento (pág. 35). O calendário de retiros está à página 34 e notícias sobre Lourd ~ s / 88 à página 15. Os grandes acontecimentos nacionais são abordados na conversa da ECIR com vocês (pág. 13) e no trecho da palestra do Pe. Boim que reproduzimos à página 24. Por sua vez , o tema do Sínodo é objeto de artigo do Pe. Ribolla, à página 5 e a palavra de vários Papas se encontra à página 4. Vários testemunhos de casais equipistas começam à pág. 25 e as Notícias dos Setores (poucas, em virtude das férias de julho) , estão à pág. 38 ; as cartas dos leitores, ainda poucas também, à pág. 40 . A Igreja celebra a festa de Sta. Terezinha do Menino Jesus no dia 1 de outubro e a de Santa Teresa de Á vila, no dia 15. Separadas por mais de trezentos anos na História, as " duas Teresas" se encontram nas páginas desta Carta Mental, mais precisamente à página 16. Boa leitura!


UM MOMENTO COM A EQUIPE DA CARTA MENSAL Gostaríamos de colocar para vocês que costumam ler nossa Carta Mensal um aspecto da colaboração com o Movimento que, talvez, seja um pouco diffcil de abordar sem que pareça pretensão de nossa parte. Como todos sabem, as responsabilidades no Movimento são assumidas por um conjunto de casais que se distribui em diversas equipes de trabalho. A Carta Mensal também é elaborada em função da existência de uma equipe de casais que se dedica a essa missão. Acreditamos que seria interessante que todos vocês soubessem quais os casais que compõem essa equipe. Provavelmente muitos os conhecem e, inclusive, até sabem que se dedicam a esse trabalho, porém para outros eles são desconhecidos e conhecendo-os podem se sentir motivados a também se dedicar a esse mister, uma vez que comprovarão que se trata de casais em tudo iguais a si próprios. Antes, porém de informarmos o nome desses casais, outro aspecto deverá ser abordado. O aspecto da colaboração direta e indireta com a Carta Mensal. Diretamente participam da Carta os casais dessa equipe; todavia, indiretamente, todos os equipistas são colaboradores na medida que leem seus artigos e também cada vez que nos enviam sugestões ou mesmo algum .material para ser publicado. Através da certeza de que a Carta é lida e das manifestações que recebemos a respeito de seu conteúdo, cada equipista está colaborando, pois incentiva a equipe a trabalhar cada vez mais e melhor. Por intermédio do envio de artigos a colaboração se torna duplamente efetiva, de um lado pelo próprio artigo e de outro pela linha que estes artigos ou sugestões nos induzem. Assim, nós os casais que compomos a Equipe da Carta Mensal agradecemos a participação de todos os demais casais na elaboração da Carta e nos identificamos a seguir, deixando a todos um abraço em Cristo: Dirce e Percival Edith e João Glorinha e Moacyr Hélene e Peter Maria Cecília e José Carlos Maria Célia e João Maria Luiza e Gabriel Maria Thereza e Seabra Soely e Luiz Augusto -1


EDITORIAL

ESCUTAI·O Os Evangelhos, que nos oferecem inúmeras palavras de Cristo, só nos relatam três palavras do Pai. Como deveriam ser elas preciosas para nós! Uma delas é um conselho: o único conselho do Pai a seus filhos. Com que infinita, filial reverência devemos recebê-lo, com que solicitude atendê-lo! Tal conselho, que contém o segredo de toda santidade, é simples e pode ser expresso numa só palavra: "Escutai-o" (Mat. 17 ,5), diz o Pai, ao mesmo tempo que nos aponta o seu Filho Bemamado. Meditar é, assim, o grande ato de obediência ao Pai. B, como Madalena, sentarmo-nos aos pés de Cristo para escutar a sua palavra ou, melhor ainda, para escutá-lo, a Ele que nos fala. B com efeito a Ele, mais ainda que às palavras, que devemos estar atentos. Entregar-se à meditação a partir de uma página do Evangelho é muito recomendável; sob a condição de lermos, não como professores de literatura, mas como a noiva que, para além das palavras, nas cartas que recebe, escuta o pulsar do coração de seu amado. Saber escutar é sem dúvida, uma grande arte. O própria Cristo nos adverte: "Cuidai, pois, na maneira de escutar" (Luc. 8, 18). Se somos beira do caminho, rochedo, ou terreno espinhoso, a sua Palavra não poderá crescer em nós. Trata-se de ser a terra boa onde as sementes encontram o que lhes é necessário para brotar, desenvolver-se, amadurecer. Escutar, •aliás, não é somente atribuição da inteligência. B nosso ser por inteiro, alma e corpo, inteligência e coração, imaginação, memória e vontade que devem estar atentos à palavra de Cristo, a ela abrir-se, ceder-lhe o lugar, deixar-se por ela penetrar, invadir, apossar, dar-lhe adesão sem reserva. Compreendeis agora porque emprego a palavra escutar de preferência a meditar. Tem uma ressonância mais evangélica e designa principalmente, não uma atividade solitária mas sim um encontro, um diálogo, um contato de coração a coração: é nisto que consiste essencialmente a meditação. Na verdade, sem a graça, ninguém poderia escutar o Cristo, pois somos todos surdos de nascença, filhos de uma raça de surdos. Mas, ao sermos batizados, Cristo pronunciou a palavra, que depois da cura do surdo-mudo da Decápole, abriu os ouvidos de milhões de discípulos: "Ephphethal isto é, abre-te" (Me. 7,34) .

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Quando, através da meditação, abrimos o nosso íntimo para que nele tenha acesso, a Palavra de Cristo nos converte, nos "faz passar da morte para a vida" (Jo. 5, 24), nos ressuscita; torna-se em nós, para nós, fonte impetuosa, vida eterna. Mas, escutar a Palavra não é suficiente: "Feliz, diz o Cristo, aquele que ouve a palavra de Deus e a guarda" (Luc. 11, 28), com ela se reiubila, dela se alimenta, leva-a consigo, como Maria a criança que tinha concebido - que era a Palavra substancial. Através dela, Jesus santificava aqueles com quem Maria se encontrava, fazia estremecer de alegria o Batista no seio de sua mãe. Assim quer ele fazer por nosso intermédio. Não é ainda isto o suficiente. Esta Palavra ouvida, guardada, importa que "seja posta ativamente em prática (Tiago, 1, 25). Quer dizer que é preciso, ao longo do dia, estar atento à sua presença atuante em nós, aberto às suas sugestões, aos seus impulsos. E o seu dinamismo que nos levará a multiplicar as obras boas, trabalhar, afadigar-se, viver, morrer pelo advento do Reino do Pai. E se formos fiéis, grande será a nossa alegria, pois que Jesus disse: "Aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática é que são minha mãe e meus irmãos" (Luc. 8, 31). HENRI CAFFAREL Nota da redação: Devido à atualidade do tema "Escuta da Palavra" o Editorial acima foi republicado da Carta Mensal de Agosto/1972.

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A PALAVRA DO PAPA

Em várias oportunidades, os Papas se dirigiram às Equipes de Nossa Senhora. Publicamos abaixo alguns trechos de seus discursos.

Papa João XXIII, 1959: " ... Que riqueza e que esperança para a Igreja esta mu ltidão de casais cristãos que - segundo as palavras de vossa Carta - querem que seu amor mútuo, santificado pela graça, purificado pelo sacri· fício, seja uma oferenda a Deus, um testemunho para os homens da santidade do matrimônio e uma reparação dos pecados que contra esta (santidade) se cometem." Papa Paulo VI, 1965: "Longe de se aterrorizarem como outros, ante as exigências da indissolubilidade e da fecundidade do matri· mpnio cristão, vocês souberam encontrar nele sua grandeza e sua beleza . No quadro de um Movimento de .espiritualidade conjugal vocês se esforçam para alcançar a perfeição do seu estado. Programa magnífico! .. . O Movimento de vocês pode aportar uma con· tribuição apreciável a esta renovação da Igreja, que é uma das principais finalidade do Concílio Ecumênico ... " 1970: "Como todos os cristãos vocês foram chamados à santi· dade ... Vocês devem chegar a ela de uma maneira peculiar: no cônjuge e por meio dele." Papa João Paulo 11, 1982: " Desejo que ajudem a Pastoral Familiar da Igreja com suas convicções e experiências, associando-os segundo as possibilidades aos imensos esforços que se estão realizando ou que deveriam se realizar neste campo." 1982: (No dia 24 de setembro, quando João Paulo 11 recebeu os casais das Equipes na Sala Paulo VI, no Vaticano). "Voltem quando quiserem, esta casa é de vocês. " (C. espanhola 97)

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Prosseguindo em seu trabalho de ajudar os equipistas a melhor entender e preparar o próximo Sínodo dos Bispos, o Pe. Jos~ Ribolla, CssR, Cons. Espiritual da Equipe 2 do Setor E de São Paulo, nos enviou o trabalho que segue, a respeito do documento preparatório divulgado pela Santa Sé.

LINEAMENTA O NOME - "VOCAÇÃO E MISSÃO DOS LEIGOS NA IGREJA E NO MUNDO, VINTE ANOS DEPOIS DO CONCILIO VATICANO IL LINEAMENTA = Linhas - Delineações - Traços rais fundamentais sobre a Vocação e Missão dos Leigos ...

Linhas ge-

O DOCUMENTO - Vem de Roma, da Igreja Universal, do Pontifício Conselho dos Leigos, cujo responsável, atualmente, após o Papa, é o Cardeal Pironio. - O documento consta de várias partes: INTRODUÇÃO - fala da origem do Tema: o Papa consulta os organismos eclesiais universais e a maioria propõe como tema para o próximo Sínodo dos Bispos (1987): LEIGOS. A In~rodução resume a Finalidade do documento: a) apresentar linhas gerais doutrinárias do Vaticano 11 sobre a Vocação e Missão dos Leigos; b) despertar o interesse e estudo de todos os cristãos; c) fazer uma ampla consulta e pedir colaboração de sugestões para o próximo Sínodo; d) provocar um exame de consciência do leigo e da hierarquia sobre a atuação do leigo nesses 20 anos após Vaticano 11.

PRIMEIRA PARTE- UM OLHAR À SITUAÇÃO PúS-CONCILIAR- Aqui Lineamenta vai tentar fazer a parte do "VER" do método Ver-Julgar-Agir. Faz os seguintes levantamentos de realidades: a) Há uma vasta, profunda e clara literatura doutrinária sobre o assunto: quatro documentos do Cone. Vat. 11 falam expressamente da Vocação e Missão dos Leigos: Lumen Gentium (LG), Cap. IV (os 38 números, principalmente 31 e 33); Gaudium et Spes (GS) todo ele riquíssimo: Actuositatem Apostolicam (AA) - O Apostolado dos Leigos com 33 números dedicados aos Leigos (n. 0 7); Ad Gentes (AD) - A Igreja Missionária (n. 0 21). - Além dos documentos Conciliares estão aí os pós-conciliares: Evangelii Nuntiandi (EN)- A Evangelização no Mundo Contemporâneo (n. 0 70); Puebla, n. 0 ' 777-883 de modo específico. Os cinco (5) últimos Sínodos falam do assunto. E, ainda o novo Código do Direito Canônico fala da Vocação e Missão do Leigo.

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b) Levantamento de pontos positivos: Vaticano li redescobre o Leigo e muitos deles, conscientes de sua Missão, fazem sentir sua presença cristã no mundo contemporâneo, enriquecendo a Igreja com sua vida apostólica, quer por sua vida no mundo, quer pelo exercício de ministérios intra-eclesiais. Mas Lineamenta faz também levantamento de pontos negativos ou problemas: 1) a "clericalização" do leigo ou reducionismo da atividade dos leigos para "ministérios intra-eclesiais; 2) "laicização" de atividades sacerdotais; 3) prejuízos à "identidade" do leigo quando o "secularismo" ( = cristão inserido nas realidades temporais sem a visão da Fé) toma o lugar da "secularização ou secularidade" ( = cristão inserido nas realidades temporais com a visão da Fé); 3) "fuga mundi" = fugir do mundo, por uma espiritualidade mal entendida, para se "refugiar" dentro da Igreja-templo, ao invés de viver a Espiritualidade do Leigo, tão bem descrita em Puebla, 797-799; 4) e, finalmente, como um resumo do não cumprimento da Vocação e Missão do Leigo, nota Lineamenta uma tendência a inverter os papéis: o Vaticano 11 quer o "leigo de igreja no coração do mundo" (essa a Vocação do leigo) - isso em primeiro lugar - e não a preponderância de "leigo do mundo no coração da igreja" (essa é Convocação). SEGUNDA PARTE - NA IGREJA PARA O MUNDO: A VO· CAÇÃO E A MISSÃO DOS LEIGOS- Na 2.a Parte de Lineamenta encontramos um "JULGAR" e acentua-se a fundamentação doutrinária do assunto: Vocação e Missão do Leigo. Lembra: 1.0 - o Plano de Deus e a dignidade do homem como filho de Deus; 2. 0 - aponta o Batismo como raiz e fundamento teológico da Vocação e Missão evangelizadora do Leigo cristão no mundo. Inserido no Corpo Místico de Cristo-Cabeça pelo Batismo, confirmado em sua Vocação pela Crisma, alimentado pela Eucaristia, o Leigo participa do sacerdócio comum - anterior ao ministerial. Se a razão de ser da Igreja é sua missão evangelizadora, faz parte da estrutura do cristão o ser também ele evangelizador e apóstolo. B um dado, uma realidade teológico-estrutural, não simplesmente sociológicoconjuntural - isto é: o leigo faz apostolado não pela conjuntura de faltarem padres, mas porque ele é cristão, é Igreja, é batizado, participa do sacerdócio comum de Cristo - é da estrutura do cristão. Assim, mesmo que houvesse um sacerdote para cada três cristãos, o leigo batizado não estaria dispensado de evangelizar .. . E mais: 3.0 - a eclesialidade do leigo torna inseparáveis sua condição batismal e sua condição secular - quer dizer: a inserção do leigo nas realidades temporais, terrenas (sua "secularidade") não é um dado sociológico, mas teológico: é aí, nessas realidades temporais que ele se santifica e santificará a sociedade como fermento, a partir de dentro. Aí se realiza sua conversão contínua, diáría, conversão de dimensão social - conversão integral - e não só individual, vertical, intimista. O próprio Deus santificou as realidades temporais quando nelas se encarnou; 4.0 - insiste o documento na distinção entre Vocação e Missão do Leigo e uma Convocação para ministérios intra-eclesiais. Vocação e Missão específica do Leigo é estar evangeli-

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zando as realidades temporais, onde vive; num segundo plano poderá ser convocado para ministérios a serviço da comunidade eclesial da qual ele mesmo deverá participar e aí alimentar sua vida cristã. - Talvez não fosse fora de doutrina teológica lembrar que, possivelmente, a própria presença atuante do leigo cristão nas suas realidades temporais já possa ser considerada como um ministério. . . mesmo longe do templo, da sacristia e das vestes litúrgicas . ..

TERCEIRA PARTE - TESTEMUNHA DE CRISTO NO MUNDO -Focalizando o "AGIR"- na 3.a Parte- Lineamenta chama a atenção do Leigo para um AGIR, lembrando o conteúdo da Missão do Leigo: 1) o Plano de Deus a ser assumido, vivido e proclamado ao mundo com a denúncia de tudo o que estiver contra esse Plano de Deus. A coerência do cristão face ao quádruplo relacionamento do Projeto de Deus: relacionamento com a realidade transcendental (Deus), atitude com sua própria realidade pessoal, relacionamento com a realidade cósmica: a sociedade, o mundo; relacionamento com o irmão (social). 2) O documento faz menção da Ação individual (sempre necessária) e da Ação "associada" - organizada - lembrando a responsabilidade apostólica dos Movimentos, Associações, etc. - 3) Insiste mais uma vez que a Ação do Leigo, primordial e fundamentalmente é evangelizar as realidades temporais, aí fazer História e Igreja - sem dispensar-se, é claro, de sua presença e colaboração na comunidade intra-eclesial, onde se alimentará dos Sacramentos, da Palavra, da Eucaristia. 4) Acentua, finalmente, o documento, que a Ação do Leigo cristão só poderá ser frutuosa e sólida se tiver como base: Formação e Espiritualidade. Formação integral do leigo: humana, doutrinai da Fé, espiritual, social, apostólíca. Espiritualidade autêntica, isto é, um estilo de vida ditado pelas Bemaventuranças, alimentada na Oração e Sacramentos - Espiritualidade cujas dimensões são descritas no documento de Puebla n.0 ' 796-799. Uma Carta do Cardeal Pironio encerra o documento. Coordenador do Conselho Pontifício dos Leigos, Pironio faz uma síntese de Lineamenta, acentua realidades da América Latina; lembra, com o Papa João Paulo 11 a vocação de Esperança da Igreja na América Latina; anima a Missão corajosa e líbertadora e confia numa esperançosa contribuição da Igreja Latinoamericana para o próximo Sínodo de 1987.

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O SENTIDO DA CO-PARTICIPAÇÃO Isabel Barreto, da Equipe 1·A de Belém do Pará, comparece novamente às páginas da Carta Mensal, em trecho de artigo publicado em 13 de abril de 1986 no jornal A Provincia do Pará.

Há quem fale sem pensar e quem pense sem falar. E tanto podemos ser cobrados por falar, como por não falar. Co-participar é sobretudo reciprocidade no ato de pensar; talvez seja um pouco menos do que a empatia, não apenas pensar com, mas sentir com. Louvável e gratificante é a co-participação usada pelos casais nas reuniões mensais de Movimento Equipes de Nossa Senhora. Ali, a dois, ou individualmente, os co-participantes - com a humildade e a confiança que a fé lhes transmite- põem em comum suas alegrias, tristezas , dúvidas, dificuldades, problemas, inquietações, etc. Lado a lado, e defronte uns dos outros, suscetibilidades à parte, guardadas as devidas proporções, os casais .,se abrem e se ajudam mutuamente, apoiados na palavra de Deus, e sob as vistas do sacerdote conselheiro espiritual. Comunicação, que é co-participação, que é reciprocidade no ato de pensar, e que é diálogo, é fundamentalmente partilha de vida - algo que conduz à verdadeira felicidade, nem que seja por momentos. O diálogo não é "ti-ti-ti" (Berbarry). Ti-ti-ti pode ser uma conversa fútil entre duas ou mais pessoas; conversa venenosa, maledicente; um bate-boca em pequena escala; ou um "papo furado", frustrante; ou ainda, simples falação inócua, sem conseqüências. O diálogo igualitário, livre e libertador, faz crescer os co-participantes. Liberta-se quem consegue ser o que é, dizer o que sente, sem medo de ser incompreendido. Quem dialoga assim, ama e é amado. Amar é comprometer-se com o outro espontaneamente. Amar é ser sincero e ser fiel ao amor. Quando Jesus apareceu aos apóstolos pela terceira vez após a ressurreição, chamou Pedro - "aquele a quem já escolhera para ser a pedra fundamental da sua Igreja", - apesar de o ter negado três vezes - e perguntou-lhe também por três vezes: "Pedro, tu me amas?" - "Sim, Senhor tu sabes que eu te amo, tu conheces tudo" . "Apascente as minhas ovelhas" - recomendou Jesus, três vezes, depois de obter a confirmação da fidelidade de Pedro a ele, Naquele momento Jesus e Pedro se comunicaram profundamente, co-participando do Reino de Deus. "Apascente as minhas ovelhas" ... Apazigue, leve a paz aos meus filhos muito amados. Este o verdadeiro sentido da co-participação, do diálogo autêntico, comunicar a paz.

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A REUNIÃO DE EQUIPE VIII -

MAGNIFICAT

Nos primeiros anos de existência das Equipes de Nossa Senhora, foram propostas e "experimentadas" várias orações. Posteriormente, os casais conscientizaram-se de que seria imprescindível rezar à Virgem Santíssima com toda a Igreja e passou-se a adotar, então, a antífona do tempo litúrgico à Virgem Santa, isto é: Alma Redemptoris - desde o Advento até a Purificação; Ave Regina - desde a Purificação até a Quinta-feira Santa; Regina Coeli - desde o Sábado Santo até a Santíssima Trin-

dade, e Salve Rainha - desde as primeiras vésperas da Santíssima Trindade até o Advento. Com o passar do tempo, os casais equipistas foram questionados sobre a conveniência da adoção de outra oração para substituir as Antífonas e foi feita a opção pelo "MAGNIFICAT" porque este hino de Maria traduz bem o sentido de doação, humildade e reconhecimento. Partindo do conceito de Charles Foucauld de que: "a oração é o colóquio com Deus, é o grito de nosas alma para o Senhor e deve ser alguma coisa absolutamente natural, absolutamente verdadeira, a expressão mais profunda de nosso coração, uma vez que não são os nossos lábios que devem falar, não é o espírito e sim a nossa vontade que se manifesta, que se expande, com toda a verdade, na sua nudez, na sua sinceridade, na sua simplicidade ... ", -avidamente válida a opção feita pelo "MAGNIFICAT" que é tudo isso. Bem compreendida, a oração das Equipes deve ajudar-nos e ajuda-nos de diversas maneiras: a) b) -

porque ela é uma lembrança vinculada ao mistério de Deus que se fez homem e veio habitar entre nós; porque exprime a aceitação da criatura humana, através das palavras repletas de fé de Maria;

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porque rezando o "Magnlflcat" nos somamos na mesma dispon ibilidade de Maria a todos os casais equiplstas do mundo todo, reafirmando nosso compromisso com as graças do sacramento do matrimônio. Atentos a este sentido de FIDELIDADE que ressumbre de cada palavra do "MAGNIFICAT", os casais equipistas costumam encerrar suas reuniões mensais cantando ou dizendo essa oração·, não como despedida mas como um alerta de que sob o manto de MARIA estaremos unidos à comunidade, num mesmo espírito de doação, humil· dade e esperança. M. Helena e Nicolau Zarlf

PRECE AO PAI Senhor . . . Um dia teus amigos pediram: "Ensina-nos a rezar". E Tu disseste: "Pai nosso que estás no céu ... "! Para os homens de aquele tempo chamar Deus de "Pai" era trazê-lo para perto demais, um verdadeiro escândalo! Para Ti, Senhor, era falar de Alguém e com Alguém "AMIGO". Eu sou pai, Senhor. E quero ser um pai-amigo de meus filhos . Um pai-amigo que brinca com o filho pequeno suas brincadeiras infantis. Um pai-amigo que senta ;unto do filho adolescente abrindo o mundo e a vida para ele e com ele. Um pai-amigo que dialoga com o filho ;ovem, a;udando-o a concretizar seus sonhos e esperanças. Um pai-amigo que continua amigo do filho adulto que iá constitui seu próprio lar. Obrigado, Senhor, por cada um de meus filhos. E que em meu lar, eu se;a uma presença de pai-amigo e um sinal do "Pai nosso que está no céu". -10-


A IMPOSSIBILIDADE DA PARTILHA Muitas vezes, quando me deparo com situações que exigem partilha, lembro-me de um marcante acontecimento: há pouco tempo atrás visitando uma senhora bastante pobre, ouvia a história de sua próxima refeição: "Sabe, Padre, hoje tenha apenas dois ovos para mim e meus filhos comerem ... ; depois, não sei quando a gente vai comer de novo". O "papo" continu~. enquanto chega uma vizinha, o rosto marcado por uma preocupação maior, e nas palavras um gemido: "Hoje, não tenho nada para comer; o salário do marido não saiu, a condução 'comeu' o dinheiro da comida, não sobrou nada ... " Imediatamente, para meu espantado coração, desacostumado a encontrar o ideal do Evangelho colocado em prática, a dona da casa pegou um dos ovos e o deu para a recém chegada que nada possuía; explicou em sequida à mulher como se pode aproveitar a casca do ovo para fazer farinha, e de que forma um ovo poderia servir de alimento ao máximo de pessoas. A vizinha se foi, e a dona da casa simplesmente justificou: "A fome é dura, né Padre? ... A fome é dura ... ". Apenas uma história que vem confirmar que somente os famintos sabem realmente avaliar a dor da fome. Só os desesperados compreendem o desespero dos semelhantes. Só os que já viveram a solidão são capazes de valorizar a força da comunhão gerada na vida comunitária. A sociedade e a vida, de um modo geral, privilegiaram muitos dos membros de nossas equipes. São pessoas cujas necessidades sentidas foram imediatamente satisfeitas, gente que trabalhando pode alcançar o que desejava, e depois, aos poucos, acumulou ... acumulou ... acumulou. Assim, o movimento torna-se Impossível; as pessoas, curvadas sob o peso daquilo que acumularem, perdem a agilidade necessária que permite a verdadeira partilha; a espiritualidade torna-se infrutífera, e a fé, morta pela falta de engajamento. ~ uma simples reflexão, colocada à disposição das equipes. Não somos mais capazes de partilhar? Nosso tempo hoje é mais importante que o uso que fazemos dele; a casa, os filhos, a Igreja, a comunidade, a equipe, o dinheiro, tanta coisa foi assumindo aspectos de um fim em si, e não um bem, um instrumento, um meio que permite a prática da comunhão e da partilha. -

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A dor do outro nos pesa pouco, a nossa dor de nos empenharmos na partilha pesa demais. Por isso, gritamos , como na última missa de entrega da responsabilidade aos novos casais: "Sabe, Senhor, o que temos é pouco pra dar ... ", e Deus, que conhece nossas contas bancárias, que dotou-nos de capacidades que o meio nos permitiu desenvolver, que sabe os cargos de "importância" que temos na sociedade e o bem que poderíamos produzir a partir dali, Deus se ri de nossa hipocrisia: "Nem tão pouco, priviligiados fi Ihos, nem tão pouco é o que vocês têm para dar ... ". Pe. Pedro Rubens Eq. 5 - Setor E São Paulo

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NOTICIAS BREVES • Recebemos notícias do Movimento Familiar Cristão que, após sua Assembléia Geral Nacional, de 20 a 25 de Julho, em Salvador, foi eleita sua Presidência Nacional para o triên io 1986-1989. O casal Presidente Nacional é Lúcia Maria e Sergio Lázaro Dantas, e a sede do Movimento, no Brasil, é em Juiz de Fora, MG. Nosso fraternal abraço aos novos responsáveis pelo movimento co-irmão e nossas orações para que o Espírito Saanto ilumine seu caminhar à frente do querido MFC. • Através da CNBB, fomos informados do número de catequistas em algumas dioceses brasileiras: Cone. do Araguaia, PA -

Curitiba - 8289 Guarapuava, PR - 5030 ltuiutaba, MG - 414 Dourados, MS - 1353 Assis, SP - 853 Campo Grande, MS- 1102 Amargosa, BA - 584 ltacoatiara, AM - 606 Ji-Paraná, RO - 4564

Aparecida, SP Vitória, ES -

394

4162

Ribeirão Preto, SP Maceió, AL -

1520

Baurú, SP -

810

Picos, Pl -

1146

Toledo, PR -

2359

E sua diocese, como está? Será que não precisa de você?

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A ECIR CONVERSA COM VOC2S

PROCESSO CONSTITUINTE Já se faz nítida a participação das lideranças das associações, sindicatos, representações de grupos minoritários, movimentos e partidos políticos, no processo de gestação da nova ordem constitucional, propondo suas posições ideológicas e defendendo seus interesses. Do outro lado, ainda é pequena a participação do povo em geral, quer no tomar consciência do momento político, quer no expressar seus ideais, para propor a introdução desses ideais na carta magna. Nesse momento é exigível a ação do cristão e do cristão equipista, que deve colocar sua ação no sentido de iluminar com a Boa Nova toda a reflexão nacional. Cabe ao cristão a partir da essência da Revelação, refletir sobre a vida hoje e profetizar, dizer claro e com força, quais são os critérios e as verdades que realizam o homem em nossa terra, em nossa época. Nesse sentido, no ano passado, nosso movimento já fez um primeiro momento de reflexão, quando as equipes responderam sobre Família, Vida e Religião. Cerca de 75% dos casais das E.N.S, participaram. Em todos os estados brasileiros onde está presente o movimento houve a participação. As formas de participar e de relatar foram bastante ricas e diversificadas e a partir delas procurou-se obter quais são os critérios consensuais em nosso movimento. A hierarquia de nossa Igreja também tem se pronunciado no processo constituinte. Foi publicada uma Declaração Pastoral pela Assembléia Geral da CNBB com .o título: "Por uma nova ordem constitucional". Nesse documento, os Bispos brasileiros analisam o momento histórico e explicitam os critérios e as exigências, pelos quais devemos trabalhar para que se tornem efetivamente conteúdo da Constituição, nos mais diversos campos da vida humana. Em termos práticos, sugere-se para a participação do equipista no processo constituinte, que como primeira atitude, estude com carinho e atenção a palavra de nossos Bispos. Em seguida, estarão recebendo trabalho sobre os pontos consensuais a partir da reflexão inicial realizada nas equipes. Com esses dois subsídios, podemos lançar-nos com fé e esperança no trabalho junto a todos os nossos irmãos da nação brasileira, com as formas e os locais que a Providência colocar em nosso caminho. Reflitamos nestes trechos transcritos da Declaração Pastoral "Por uma nova ordem constitucional". (N. 0 167) "Deixar de comprometer-se ativamente no processo de elaboração da Nova Carta Magna seria grave omissão, na medida em que o reordenamento institucional do País oferece rara ocasião para dar grandes passos rumo a uma sociedade mais conforme aos planos de Deus". (N. 169 ao final) ". . . afirmação de Santo Irineu: A glória de Deus é o homem pleno de vida". Beth e Rômulo 0

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A ESCUTA DA PALAVRA

A meditação que segue foi extrafda do livro "O sentido de uma vida", biografia de Pedro Moncau, fundador de nosso Movimento, escrito por sua esposa Nancy (pág. 91).

"A função do Filho foi ser o Verbo, a Palavra do Pai. Palavra que foi comunicada aos homens, como a semente que se lança no solo. Mas esta semente precisa germinar, crescer, viver. !: o Espírito Santo "que nos ensinará tudo e nos lembrará tudo o que foi dito". Não é função do Verbo fazer com que a Palavra se torne vida em nós. Esta função é do Espírito Santo unido ao Verbo. Meu Deus, fazei-me suficientemente aberto, transparente à ação da Palavra em mim. Que o meu eu, aquilo que em mim é livré de se abrir ou de se fechar, de aceitar ou de opor resistência ... de dizer sim ou não ... que o meu eu seja dócil. .. Que o meu eu faça a sua parte: preparar pela vontade reta o terreno que recebe a Semente. Que eu faça a minha parte ainda: arrancar as ervas daninhas que abafariam a semente ... retirar as pedras da inércia e da preguiça ... Que eu faça a minha parte: receber o próprio Autor da Palavra que quis se fazer Pão, para ser nosso alimento. Que eu seja aberto, transparente ao Espírito Santo que, como o sol para a semente, será calor, será luz, será energia. Senhor Jesus, a vossa presença física partiu. Mas ficou a vossa Palavra e ficou entre nós de forma mística o vosso Corpo e vosso Sangue. Li de um autor que as grandes realidades são aquelas que não vemos pelos olhos do corpo, mas sim pelos olhos da alma. Os meus olhos do corpo não vos vêem, as minhas mãos não vos tocam, os meus ouvidos não vos ouvem ... mas o que em mim é mais profundo e é capaz de ver além das realidades físicas, este eu vos ouve, vos toca. !: este eu mais profundo que, impregnado pela vossa Palavra, e vivificado pelo Espírito, traduzir-se-á pelas minhas palavras, pelos meus gestos, pela minha atuação. Não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim, diz São Paulo. !: que ele tinha em plenitude a Palavra e o Espírito.

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~ então que poder·se·á realizar a palavra de Cristo. ·E vos também testemunhareis • - é que então, a minha palavra, os meus gestos, a minha atuação serão a manifestação do Espírito vivificando em mim a Palavra. Como eu compreendo a predileção de Cristo pelas crianças ... dóceis, atentas, desprendidas, puras, transparentes. Como eu compreendo que Deus se manifeste de preferência às crianças, aos simples, porque são puros; aos humildes porque não resistem à penetração do Espírito Santo".

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LOURDES/88 Até o dia 31 de agosto de 1986, prazo para as Inscrições de Intenção para o Encontro Internacional de 1988, somente 23 Setores - do total de 70 - se tinham manifestado. Assim mesmo, os números são impressionantes: 895 inscritos! lgar e Cidinha levaram estes números à Reunião dos Super-Regionais, em Setembro, e devem trazer notícias. da ERI a respeito. Até o fechamento deste número da Carta Mensal, eles ainda não tinham chegado, de forma que somente com o número de novembro poderemos transmitir a vocês as últimas novidades sobre o assunto. Temos, no entanto, as seguintes informações: 1. Um plano de poupança, nos moldes do que foi posto em prática em 1982, está sendo preparado pelo Movimento, para facilitar a ida do maior número possível de equipistas do Brasil ao Encontro. O plano deverá ser Iniciado em janeiro de 1987 e os nossos próximos números deverão trazer as informações a respeito. 2. Peregrinação-Retiro Mariano. Promovido e organizado pela Equipe da Carta Mensal, deverá ser conjugado com o Encontro, levando os participantes que assim o desejarem aos principais Santuários Marianos europeus e da Terra Santa. Tudo organizado nos moldes de um grande retiro, com um pregador a acompanhar os retirantes-peregrinos e com o pano de fundo de um grande tema de reflexão. Também os detalhes deste evento serão publicados em nossos próximos números.

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VIDA E OBRA DOS SANTOS

"S6 há uml4 tristeza no mundo: não sermos santos". Leon Bloy "Cada vida de Santo é como um novo florescimento, a efusão de uma ingenuidade milagrosa e paradisíaca; é a liberdade, é a novidade, a eterna e insaciável novidade de Deus". Georges Bernanos

AS DUAS TERESAS SANTA TERESA DE JESUS (TERESA D'AVILA) - 1510/1582 SANTA TERESINHA DO -MENINO JESUS - 1873/1897 Sei que há muita gente equivocada com estas duas extraordinárias criaturas: uns julgando Santa Teresa "uma mulher com feição de aspereza e rigidez" e outros falando de modo pejorativo da "santinha das rosas" que contou sua vida "num livro escrito em estilo de pequena burguesia do século passado, com figuras antiquadas ... " "Após a morte de Santa Teresa, em 15 de outubro de 1582, o seu admirável carisma de Reformadora passou por vicissitudes que lhe ofuscaram o brilho, dando-lhe uma feição de aspereza e rigidez, que não lhe pertence. Passados três séculos o Espírito Santo suscitou-o renovado na alma de Santa Teresinha, em Lisieux, como estrela de primeira grandeza na Igreja. Por entre grandes provações, Santa Teresinha encontrou no no amor o Absoluto, e foi direto ao essencial teresiano: a clausura e a comunidade, isto é, o silêncio e a caridade. Buscando a Deus no centro de sua alma, "naquele aposento mais íntimo", e na caridade fraterna, sem perder oportunidades, chegou ao heroísmo do rigor na penitência para salvar as almas, segundo o Evangelho e o carisma de Santa Teresa de Á vila. Passado outro século, ao celebrarmos o IV centenário da morte da grande Reformadora, eis Santa Teresa proclamada Doutor da Igreja no seu carisma e na sua doutrina, sancionados pelos Decretos do Concílio Vaticano 11, e ilustrados pela vivência de Santa Teresinha de Lisieux, proclamada Padroeira das Missões". Pelo texto acima vemos perfeitamente que as duas Teresas se completaram: Santa Teresa tornando-se Doutor da Igreja "no seu carisma e na sua doutrina", o chamado "essencial teresiano", a "clausura e a comunidade, o silêncio e a caridade" e Santa Teresinha que ilustrou esse "essencial" pela vivência, tendo sido proclamada Padroeira das Missões.

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Como temos pequeno espaço para o nosso trabalho, não nos vamos deter em dados biográficos, preferimos usá-lo com excertos de suas obras. A DIFERENÇA QUE HA ENTRE OS CONTENTAMENTOS E AFETOS OU TERNURAS NA ORAÇÃO E OS GOSTOS "Se a alma nunca se vir tentada, o demônio poderá misturar enganos aos gostos que o Senhor dá, fazendo-lhe muito mais mal do que com suas tentações. Por outro lado, a alma não lucrará tanto, mergulhada num embevecimento constante e isenta de tudo o que pode ser ocasião de merecimento para ela. Quando o embevecimento é contínuo e imutável, não o tenho por seguro. Não julgo possível que, neste desterro, o espírito do Senhor permaneça em nós sempre no mesmo estado. Trataremos agora da diferença que há entre as consolações e os gostos na oração. Parece-me que se podem chamar consolações, ou contentamentos, o que adquirimos por meio de nossas meditações e súplicas a Nosso Senhor. Procedem de nossa natureza e - está claro- do auxílio da graça de Deus. Desse modo, sempre haveis de entender o que eu disser, pois sem o Senhor nada podemos fazer. As consolações nascem na obra virtuosa que realizamos. São, de algum modo, fruto de nosso trabalho. Com razão ficamos contentes quando trabalhamos em coisas tão boas. Mas, considerando bem, sente-se o mesmo contentamento em muitas circunstâncias da vida. Assim, por exemplo, ao herdar inesperadamente uma grande fortuna, ao avistar de súbito uma pessoa muito amada, ao realizar um negócio importante ou algum feito ilustre que todos engrandecem, ou ao ver regressar vivo um marido, irmão ou filho que se julgava morto. Derramam-se lágrimas de viva alegria. Até a mim já tem acontecido algumas vezes. Assim como são naturais estes contentamentos, penso que o mesmo acontece com os que nos dão as coisas de Deus. Estas apenas têm origem mais nobre, embora as outras não sejam más. Em suma: as consolações começam em nossa própria natureza e terminam em Deus. Os gostos têm seu princípio em Deus e vêm a nós. Deixam-se fruir com tanta satisfação quanto as alegrias de que falei, e ainda muito mais. Jesus, quanto desejo saber explicar este ponto! que o entendo bem e parece-me haver notável diferença. Mas o meu pouco saber não tem capacidade para explicá-lo suficientemente. O Senhor o faça por mim. Acode-me agora à lembrança um versículo do último salmo que rezamos em Prima, que termina assim: Cum dilatasti cor meum (SI 118,32: Como dilatais o meu coração). Quem tiver muita experiência, só por estas palavras entenderá a diferença que existe entre consolações e gostos. Quem não a tiver, precisará de mais algumas explicações. Os contentamentos não dilatam o coração. Ao contrário, parecem apertá-lo um pouco, sem tirar a alegria que a alma sente ao fazer alguma coisa por Deus.

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Os contentamentos são muito de estimar, quando há humildade para entendermos que nem por isso somos melhores. Não sabemos com certeza se são todos efeitos do amor. Ainda que houvesse certeza, são simplesmente dons de Deus. Como me estendi muito sobre este assunto em outras partes, não o repetirei aqui. Só quero que vos compenetreis bem do seguinte: para

aproveitar muito neste caminho e subir às moradas desejadas, o essencial não é pensar muito- é amar muito. Escolhei de preferência o que mais vos conduzir ao amor. Talvez não saibamos o que é amar, o que não me espanta. Não consiste o amor em ser favorecido de consolações. Consiste, sim, numa total determinação e desejo de contentar a Deus em tudo, em procurar, o quanto pudermos, não ofendê-lo e em rogar-lhe pelo aumento contínuo da honra e glória de seu Filho e pela prosperidade da Igreja Católica. São esses os sinais do amor. Não julgueis . que a oração consista em fixar

o.pensamento numa só coisa, nem que tudo esteja perdido quando vos distrais um pouco. Tenho andado às vezes bem apertada, por causa dessa barafunda das distrações. Haverá pouco mais de quatro anos que vim a compreender, por experiência, que o pensamento ou - para me dar melhor a entender a imaginação, não é a mesma coisa que o intelecto. Consultei um teólogo que me confirmou esta verdade, o que me causou não pequena satisfação. E que sendo o intelecto uma das faculdades da alma, causava-me pesar vê-lo tão avoado. A imaginação, pelo contrário, geralmente voa tão depressa, é tão instável, que só Deus a pode deter, fixando-a na oração a ponto de parecer que, de certo modo, a alma está desatada do corpo. Eu verificava que as faculdades interiores se mantinham aplicadas em Deus e recolhidas nele. De outra parte, via a imaginação agitada por distrações infindas. Ficava zonza. O Senhor, levai em conta o muito que se padece neste caminho da oração por falta de instrução. O mal está em supor que tudo consiste em pensar só em vós. Não consultamos pessoas doutas, nem nos lembramos de que haja necessidade de consultar alguém. O resultado é passarmos terríveis trabalhos por não nos entendermos à nós mesmos. Chegamos a considerar grande culpa o que, longe de ser ·mal, é até bom. Daqui procedem as aflições de muita gente que trata de oração, ao menos daqueles que são pouco instruídos. Queixam-se de sofrimentos interiores, tornam-se melancólicos e acabam perdendo a saúde e até abandonando a oração, por não saberem que há um mundo interior dentro de nós. Assim como não podemos deter o movimento do céu, impedindo que ande depressa, com incrível velocidade, tampouco podemos deter nosso pensamento. Se confundimos todas as faculdades da alma com o pensamento ou imaginação, parece que estamos perdidos, empregando mal o tempo na presença de Deus. E, muitas vezes, pelo contrário, a alma está muito unida a ele, nas moradas mais elevadas, vizinhas da sua, enquanto a imaginação vagueia pelos arrabaldes do castelo, padecendo e lutando

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contra mil animais ferozes e venenosos e merecendo com este padecer. Fique, pois, assentado: a maior parte de todos estes sofrimentos e inquietações provém de não nos entendermos a nós mesmos. Não nos devem perturbar, nem há motivo para deixarmos a oração - que é o que pretende o demônio." Uma das razões que me levaram a trazer para vocês este trecho do mundo maravilhoso e extraordinário da obra de Santa Teresa, foi exatamente procurar ajudar aqueles que julgam que sua oração vai mal porque se distraem às vezes quando conversam com Deus. Santa Teresa aqui nos quer dizer que Deus em sua Misericórdia saberá medir o tamanho do "copo de cada um".

-oPRANZINI, MEU PRIMEIRO FILHO "A partir desta noite de luz, começou o terceiro período de minha vida, o mais belo de todos, o mais repleto de graças do Céu ... A tarefa que em dez anos não me foi possível desempenhar, Jesus a executou num ápice, contentando-se com minha boa vontade, que nunca me faltou. Como seus Apóstolos, poderia dizer-lhe: "Senhor, pesquei toda a noite, e nada apanhei". Para comigo, mais misericordioso ainda, do que para com seus Discípulos, o próprio Jesus tomou a rede, lançou-a e recolheu-a cheia de peixes ... Fez-me pescadora de almas. Senti grande desejo de trabalhar pela conversão dos pecadores, desejo que nunca sentira de maneira tão pronunciada. . . Senti, numa palavra, a caridade penetrar-me no coração, a necessidade de esquecer-me a mim mesma, para ser obsequiosa, e desde então fui feliz! ... · Quando num domingo olhava uma gravura de Nosso Senhor na Cruz, impressionei-me com o sangue que escorria de uma das mãos divinas. Acometeu-me grande dor, considerando que o sangue caía por terra, sem que a ninguém interessasse recolhê-lo. E tomei a resolução de manter-me em espírito de fé junto à Cruz, para receber o divino orvalho que dela promana, compreendendo que, depois, deveria espargí-lo por sobre as almas ... No coração me repercutia também, continuamente, o brado de Jesus na Cruz: "Tenho sede!" Estas palavras acendiam em mim um ardor estranho e acendrado. . . Queria dar de beber ao meu Bem Amado, e sentia-me a mim própria devorada de sede pelas almas . .. Não eram ainda as almas de sacerdotes que me empolgavam, mas as de grandes pecadores. Ardia no desejo de desviá-los das chamas eternas ... Com o fito de incitar meu zelo, o Bom Deus mostrou-me que meus desejos lhe eram agradáveis. - Ouvira falar de um grande facínora, que acabava de ser condenado à morte, por crimes horrendos. Tudo levava a crer que morreria impenitente. A todo custo queria eu impedí-lo de cair no inferno. Para o conseguir, aplicava todos os meios imagináveis. Sentindo que nada poderia por mim mesma, ofereci ao Bom Deus todos

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os infinitos méritos de Nosso Senhor, os tesouros da Igreja. Pedi afinal a Celina mandasse celebrar uma missa em minha intenção, não me animando a fazê-lo pessoalmente, pelo receio de ser obrigada a declarar que era por Pranzini, o grande criminoso. Não queria também declará-lo à Celina, mas ela fez-me perguntas tão carinhosas e insistentes, que lhe confiei meu segredo. Longe de zombar de mim, pediu-me para me ajudar na conversão do meu pecador. Aceitei-o reconhecida, pois quereria que todas as criaturas se unissem a mim, para implorarmos o perdão do culpado. Sentia, no fundo do coração, a certeza de que nossos desejos seriam atendidos. Entretanto, na intenção de criar coragem para continuar a rezar pelos pecadores, declarei ao Bom Deus que estava muito segura de seu perdão ao mísero e desditoso Pranzini; que nisso acreditaria, apesar de que não se confessasse nem manifestasse alguma sombra de arrependimento, tanto era a minha confiança na infinita misericórdia de Jesus; mas, que para meu simples consolo lhe pedia, unicamente, um "sinal" de arrependimento . .. Minha oração foi atendida ao pé da letra! Não obstante a determinação de Papai não lêssemos nenhum jornal, julguei não estar desobedecendo, quando lia os tópicos que se referiam a Pranzini. No dia imediato à execução, tomo em mãos o jornal "La Croix". Abro-o pressurosa, e que vejo? . . Oh! minhas lágrimas trairam minha emoção, foi preciso recatar-me. . . Não tendo confessado, Pranzini subiu ao patíbulo e preparava-se para meter a cabeça no lúgubre buraco, quando, levado por súbita inspiração, se volta e agarra o Crucifixo, que o sacerdote lhe apresentava, beijando três vezes as Sagradas Chagas! . .. Sua alma foi então receber a misericordiosa sentença Daquele que declara haver no Céu maior alegria por causa de um só pecador que faz penitência, do que por noventa e nove justos que não precisam de penitência! . . Obtive o "sinal" pedido, e o sinal era um expressão fiel de graças que Jesus me tinha outorgado, para me induzir a rezar pelos pecadores. Não foi diante das Chagas de Jesus, vendo correr seu Sangue Divino, que a sede de almas me calou no coração? Queria eu dar-lhes a beber esse Sangue imaculado, e os lábios do "meu primeiro filho" foram colar-se às sagradas chagas!!! . . . Que resposta de inefável doçura!. . . Oh! a partir dessa graça singular, dia por dia se avolumava meu desejo de salvar almas. Tinha a impressão de que Jesus me dizia, como à samaritana: "Dá-me de beber!" Era um verdadeiro intercâmbio de amor. As almas dava o Sangue de Jesus, a Jesus oferecia as mesmas almas retemperadas com seu divino orvalho. Assim me parecia tirar-lhe a sede. Mas, quanto mais lhe dava de beber, tanto mais crescia a sede de minha pobre alminha, e era esta sede ardente que Ele me dava como a mais deliciosa poção de seu amor . .. " FONTES: História de uma alma - Carmelo do Imaculado Coração de Maria e de Santa Teresinha; Castelos e Moradas - Santa Teresa de Jesus - Edições Paulinas. -20-

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O dia 12 de outubro é consagrado a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, nossa mãe e padroeira do Brasil. Para homenageá-la, o belo poema de Patrício Sciadine.

MARIA DO MEU BRASIL Não há aldeia que não te venere, O Maria, mãe de Jesus e nossa. No alto dos morros, Capelas se erguem ao teu nome E multidões acorrem para louvar-te E consagrar-se ao teu amor. Nas imensas planícies da nossas terra, No meio dos trigais e dos. arrozais, Ou entre os cafezais verdes, Surgem igrejas dedicadas ao teu nome, Sinal de amor por ti, Amor que arde dentro do coração Da gente pobre e humilde. Ao teu nome, ergue-se na nossa terra O teu santuário - N. Senhora Aparecida Que reúne aos seus pés, Homens do Norte e do Sul, Do Leste e do Oeste que, Em busca de paz e de tua misericórdia, Não medem sacrifícios, lutas, distâncias, Doença, fome, pobreza. Na solidão dos sertões, o teu nome Como eco de esperança descido do céu, Infunde coragem ao viajante solitário. Aos teus pés dobram os joelhos, os homens visitados pela dor, pela seca, À procura de um amparo seguro. De um sorriso consolador, De uma carícia maternal. Maria do meu Brasil, Passa continuamente no meio de nós, Ajuda-nos no nosso processo de Desenvolvimento; guia-nos no caminho Que nos levará a sermos adultos Responsáveis pelo nosso futuro.

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Faze-o, 6 Maria, Que não haja os que tudo possuem: Terra, gado, dinheiro, bem-estar, E os que nada têm, nem um metro de terra Para abrir a própria cova no dia de sua morte. Ilumina-nos para que a justiça não seja Um insulto à nossa dignidade de homens livres. Maria do meu Brasil, Entra nas nossas casas Para que a unidade familiar Não seja destruída pela inveja, Pelo ciúme ou pelas aventuras sentimentais Na fidelidade os cônjuges santifiquem os lares, Na obediência os filhos construam o futuro. Que nos hospitais dedicados ao teu nome, Não se use o homem como objeto de pesquisa. Não se mate a vida no seu desabrochar, Com o aborto. Que os enfermos sejam tratados Com respeito e amor. Nas cadeias, onde os irmãos sofrem As penas do próprio erro, Resplandeça, ó Maria, O teu sorriso que perdoa e alivia a culpa. O Maria do meu Brasil, Onde estiver alguém pisando a nossa terra Que esteja ali Com tua mensagem de infinito e de paz. Enfim, ó Maria, Seja a tua presença no meio de nós Um autêntico sinal de esperança que, Diante dos sofrimentos, Das derrotas, das desilusões, Nos dê a força para acreditar Que só levantando-nos depois de cada queda Chegará o dia em que o amor Reinará dentro e fora de nós. Amém!

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ELEIÇÕES E CONSTITUINTE O texto seguinte é um dos trechos da palestra que o Pe. Dagoberto Boim, assessor da CNBB para a Pastoral da Família, fez durante o Encontro Nacional de Responsáveis em Itaicí em 17/05/86

"A próxima eleição é ocasião de discernir, a partir das exigências da Fé, os critérios que devem nortear a escolha dos deputados e senadores que serão nossos constituintes. O voto é uma espécie de procuração: dá ao eleito poderes para agir em nome dos cidadãos. E fundamental que as eleições apresentem alto nível de credibilidade perante o povo. Daí o repúdio a qualquer forma de compra de voto. Para merecer a confiança do eleitor cristão não bastam um discurso religioso e uma retórica democrática e popular. Requer-se uma ética e uma prática social política comprometidas concretamente com a luta pela justiça e com a causa dos marginalizados, empobrecidos e oprimidos. Também não se pode confiar em promessas e propósitos "generosos" para com o bem do povo, quando o candidato tem um passado comprometido com interesses pessoais ou de grupos privilegiados ou apresenta um comportamento marcado pela desonestidade, corrupção e oportunismos". (Doc. CNBB 36, n. 0 26-28-29-30). ASSEMBLEIA CONSTITUINTE A ação dos cristãos durante o funcionamento da Assembléia Constituinte é tão importante quanto nas etapas anteriores. Será preciso verificar se os eleitos estão sendo fiéis aos compromissos assumidos e coerentes com as opções dos que os elegeram. Será indispensável acompanhar, fiscalizar, oferecer novas contribuições e até mesmo pressionar, para que os constituintes exerçam seus mandatos como verdadeiro serviço ao bem comum, e sintam que estão sendo seguidos, apoiados, questionados ou criticados pelo povo. Os cristãos devem estar atentos ao andamento dos trabalhos constituintes para que possam posicionar-se e intervir oportunamente: quando se tentar introduzir na Constituição elementos incompatíveis com a dignidade e os direitos da pessoa humana; quando eventuais manobras, manipulações e entendimentos de cúpula frustarem aspirações democráticas; quando se tentar limitar a liberdade e a soberania da Constituição; quando houver manifesto abuso do poder econômico; - quando valores éticos e religiosos fundamentais estiverem sendo postergados". (Doc. CNBB 36, n. 0 37) O empenho cristão terá como objetivo a edificação de uma sociedade em que sejam respeitadas a dignidade e a liberdade da pessoa e sejam promovidos todos os seus valores e direitos inalienáveis.

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TESTEMUNHO

VIúVO ALEGRE E NA CONTRA-MÃO Vivemos nos dias 5 e 6 de julho, no 2.0 EACRE de Juiz de Fora, um fim de semana inesquecível, tendo como cenário o Seminário da Floresta. A cada hora, desde a chegada, sentia-se um desenrolar tranqüilo e suave, sem atropelos e improvisações. As palestras, todas, continham mensagens maravilhosas que "tiraram os tapetes" sob os pés daqueles que acreditavam ser uma repetição das anteriormente ouvidas em outros EACRES. Nosso casal animador, Antonio e Dauria; nosso casal anfitrião Alvaro e Selma, todos perfeitos e mostrando sempre a presença da mão de Deus, mesmo no fato de a carne assada só ter chegado após terminado o jantar de sábado. Tudo bom demais. Dos cânticos muito bem escolhidos e melhor ainda interpretados até a hora dos adeus. Depois das informações de Dona Nancy sobre as Equipes de Nossa Senhora no Brasil e no Mundo, o Dragan, que com a Elfie levou o movimento para Juiz de Fora, foi convidado a dizer umas palavras. Com seu "Sotaque baiano" e sua maneira própria de dizer o que sente, revelou que por estar sempre alegre em sua viuvez e por sentir sempre a Elfie a seu lado, mesmo em vidas (planos) diferentes, muitas vezes não é compreendido ou entendido, parecendo viver na "contra-mão". Com este testemunho o Dragan, que com a Elfie já se havia "inserido" em permanentes ações e serviços, confirmou, na prática, a sua "ASCESE", o que fez desse 2.0 EACRE de Juiz de Fora, nosso 3. 0 EACRE, o melhor de todos os EACRES. Gilda e Manoel Petrópolis

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TESTEMUNHO

A PRESENÇA DE DEUS "Vocês acreditam na ressurreição de Cristo?" A pergunta foi lançada antes da bênção final e antes de rezarmos (25 casais e o Pe. Paulo), o "Magnificat", formando uma grande corrente de mãos dadas, ao redor dos bancos da capela. Ficamos todos calados diante da pergunta, cada um imaginando como responderia, mas o próprio Pe. Paulo nos deu a resposta: - Gente, a ressurreição de Cristo existe a partir do momento em que sentimos tanta felicidade em estarmos todos juntos. Se Ele não existisse, porque durante séculos, estaríamos fazendo tudo isto, e com tanta devoção, fé e alegria?" Sim, nós sentimos ali a felicidade em toda a sua plenitude. Cristo estava entre nós, como está, sempre que nos reunimos em nome Dele e invocamos o nome de Maria. Foi maravilhoso sentir tudo aquilo. Foi fundamen,tal )Para mim. Talvez alguns achem que eu estou blefando, mas';-s'ou equipista há um ano e trabalho pa Bemfam (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil). Há 3 anos atrás, houve um processo de mudança dentro da instituição, e, no final das contas, somente alguns elementos modificaram o seu modo de trabalho e acabaram saindo, pois não houve a mudança esperada e continuou-se trabalhando com planejamento familiar, sem dar importância à vida em toda a extensão da palavra. Passados alguns anos, houve outra mudança, pois o material estava escasso. ·Fiquei pensando que finalmente, teríamos novo modo de pensar, mas, mais uma vez, me enganei. De minha parte, continuava trabalhando do mesmo modo, pois havia conseguido convencer alguns de que o método natural, quando bem utilizado, bem orientado, poderia dar ótimos resultados. Mostrei a agressão que o anticoncepcional oral poderia ser para algumas mulheres e sempre abominei o DIU (dispositivo intra-uterino). O tempo passou ... Nova época, o diretor executivo foi substituído por outro com novas idéias e teríamos a nova Bemfam, na qual teríamos os métodos anticoncepcionais usados com um critério rigoroso. O método natural ganhou destaque a partir do momento em que não se poderá utilizar o anticoncepcional oral além dos 35 anos e, para aquelas que fumam, o limite será de 30 anos. Mas, após tanto projeto, vejo que o fundamental não vai mudar. E, após lançar um trabalho como protesto, por escrito, para muitas coisas que me incomodavam, solicitaram que me retirasse. "Um médico que tem qualquer preconceito contra a pílula ou não aceita qualquer um dos métodos estipulados, não pode trabalhar entre nós." Ainda não saí, porque acho que posso fazer algo por aqueles que estão lá e estão na dúvida, já que o depoimento frio de quem não co·

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munga com as idéias da instituição, abalou as estruturas. Na última reunião, pude perceber isso, claramente. E a Nova-Bemfam não consegúiu sair do papel, aonde não se falava mais em DIU, o Norplante estava sendo retirado de cada uma das usuárias e a laqueadura tubária estaria restrita a casos especiais. Afinal, haveria planejamento familiar no Brasil, do próprio Brasil. Mas, infelizmente nem mesmo conseguiram deixar de receber ajuda monetária internacional, o que é lamentável. I! uma grande empresa, organizada e rica, disposta a educar a população pobre brasileira, mas, quando se atenta para os detalhes, esta educação é apenas com a finalidade de exibir o real trabalho da Bemfam. A Bemfam, é em síntese, uma entidade particular que faz planejamento familiar no Brasil, e foi fundada com a finalidade de diminuir o número de abortos existentes no País, devido a falta de orientação ou mesmo de acesso aos métodos anticoncepcionais. Mas, começou a espalhar postos e a distribuir indiscriminadamente pílulas, o que provocou a revolta de algumas entidades, principalmente das eclesiais e da classe médica. Mas, continuou existindo e já vai para 21 anos de existência, pois recebe ajuda moral e financeira do IPPF, que é uma entidade americana (do Norte), que faz PF nos países em desenvolvimento, sabe Deus com que mais razões além das que nós conhecemos, e também de outros grupos estrangeiros. Aliás, pelo que pude perceber, jamais faltará quem ajude, quando se trata deste assunto. Esperei, esperei realmente, que houvesse alguma mudança para melhor, mas, não posso mais esperar e terei que sair. Pelo menos deixarei um lugar de respeito para os métodos naturais e, a sensação d~ que algo de errado paira no ar. Sabem, o que senti ontem, na tarde de estudos? Aquela paz, aquela felicidade de estar com Deus. Trouxe-me o sentido maior da existência Dele. E, a partir do momento citado, pude comparar o que sinto participando da Bemfam: aversão a mim mesma. Obrigada meu Deus, por poder escrever estas linhas, por poder enxergar tudo isto. Agora entendo que tinha uma missão a cumprir. Marize Sacramento ENS 5 Valença/RJ Apenas um adendo: sem a ajuda de meu marido, o apoio de nosso conselheiro espiritual, D. Amaury Castanho, a força que a Equipe 5 sempre me deu, não teria conseguido escrever o trabalho anterior e nem estas linhas. Quero crer que todos foram instrumentos utilizados por Deus. Só tenho que agradecer.

M. S. -27-


12 DE OUTUBRO -

DIA DA CRIANÇA

"Jesus, todavia, disse: Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, pois delas é o Reino dos Céus" (Mt. 19, 14). A mensagem que transcrevemos foi escrita para uma criança. Não para uma criança em idade, mas sim no espírito de pureza, . na alegria e na bondade. Maria da Conceção Milagres Santos (Consolinha), equipista de Belo Horizonte, recentemente retornou à Casa do Pai. Para seus irmãos de equipe, Consolinha era a criança alegre, sorridente, entusiasmada, que a todos se doava. Para ela esta mensagem revestida de saudade, mas plena de esperança.

"Dorme.. criança, pois teu· sonho é paz embala em tu'alma, o canto profundo de um amor imenso que manifestaste em cantos mil. Dorme, dorme, o amanhã é ternura é dia de sol, é dia de luz. Canta teus cantos, brinca teus pássaros, faz da tua vida, a beleza de uma aventura que é graça, também dom de Deus. Sonha, sonha, 6 infância amada que os poetas acalentem o teu repouso em teus braços frágeis, trazes flores para enfeitar o mundo das dores para uma realidade maior. Faz da tua paz, a nossa paz, de teu olhar, nosso olhar, mesclado de claro-escuro dimensão de todo ser, profundó, imenso, sopro a encher um espaço vazio. Inexistente no infinito do Amor! Dize-me em que braços andas, quem sonha teus sonhos, para que veja a clareza de teu espírito. -28-


Faze dele o sonho do Nazareno que também foi criança, sonhando como tu sonhas. Enfeitas de esperanças uma pequena aldeia, uma Nazaré humana, abrigo dos pobres, sustento dos fracos, grandeza dos pequenos como tua pequenez". Virginia e Carlos Equipe Nossa Senhora da Glória Belo Horizonte

Aguardem mais notícias sobre este lindo ícone.

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RESENHA DOS BOLETINS

ORAÇÃO CONJUGAL (SÃO CARLOS) O movimento das ENS nos oferece meios para melhor vivermos como cristãos a dupla relação de amor à qual Cristo nos convida: amor a Deus e amor aos homens. Em equipe, vamos nos entre-ajudar a viver plenamente nossa vida de casais cristãos: - abri-la ao amor do Pai - partilhar esse amor com o cônjuge e filhos - dar testemunho disto ao redor. Os meios são: - oração conjugal - dever de sentar-se - hospitalidade. A oração conjugal parece-nos um dos meios que os casais têm tido mais dificuldade em assumir inteiramente. Gostaríamos de lembrar algumas condições para se cumprir esse meio: - que sejaam realmente um casal: homem e mulher unidos não só materialmente, mas também espiritualmente - que tenham consciência de que Cristo está .impaciente por louvar o Pai através deles - que escutem o Cristo juntos: para rezar com Cristo é preciso conhecer e compreender os pensamentos, os sentimentos e intenções para os adotar e exprimir a Deus. Escutar o Cristo significa ler a Bíblia, meditar, procurar o pensamento do Senhor sobre o dia que terminou e aquele que vai começar, falar a Deus de maneira espontânea. Várias são as dificuldades encontradas pelos casais: - desconhecem o que é a oração conjugal - diferença de temperamentos - divergências de espiritualidade - de formação religiosa - não sentem necessidade de se unir ao cônjuge em oração. Os benefícios são, nessas condições, desconhecidos: - quando rezamos a Deus em voz alta comunicamos, um ao outro, o próprio íntimo, os nossos impulsos de vida interior. - só avaliamos o valor dessa descoberta quando consideramos que o conhecimento verdadeiro e profundo de uma pessoa é a condição primordial da estima e do amor verdadeiro.

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- a oração conjugal contribui para a unidade espiritual e até para a unidade dos esposos. - para construir a unidade é preciso por fim às discórdias. Diante de Deus somos obrigados a nos despojarmos do orgulho, deixar de "bancar" o mais forte e pedir perdão um ao outro. - a oração conjugal estimula a vida cristã do casal e a torna mais fecunda. Silvia e Edmar Equipe 2

DEPOIMENTO (S. JOSE DOS CAMPOS) Devido ao grande número de pessoas com problemas de saúde dentro do nosso movimento, o Setor nos pediu que procurássemos transmitir alguma coisa de experiência vivida por nós e por nossa família nos momentos difíceis pelos quais acabamos de passar. Procuraremos relatar os fatos e nossas reações diante deles. No dia 11 de abril passamos pela experiência dolorosa da perda de um amigo e companheiro de equipe, o Gian Carlo. Ele esteve conosco durante 1O anos e como vocês todos sabem perder um Il).embro da Equipe é tão ., doloroso como perder um irmão de sangue. No dia seguinte, quando ainda nos encontrávamos bastante abalados com esse fato o Luiz Fernando, meu marido, teve um enfarto do miocárdio. Ele havia saído para jogar tênis e assim, relaxar um pouco quando, ao terminar a partida, começou a sentir-se mal. Dirigiu-se então à Urgencor onde foi atendido e constatado o enfarto. Após ser medicado e de ter ficado em repouso, ele foi removido para a Policlin onde permaneceu por oito dias, sendo cinco na UTI. Normalmente nós nos achamos invulneráveis. Jamais imaginamos que algo de mal possa nos acontecer. As coisas ruins geralmente acontecem com os outros. Agora eu entendo o que Deus nos quer dizer com "VIGIA! e ORAI ... " e entendo também que se Deus nos dá um fardo muito pesado também nos ajuda a carregá-lo. Basta que tenhamos confiança Nele. E foi assim que eu me senti. No primeiro momento foi o choque. Como o Luiz poderia ter tido um enfarto? Ele nunca havia tido nada de coração. Tem 44 anos, não é obeso, não é hipertenso, fazia um controte anual, etc., etc. Após o choque vem a realidade e a constatação inevitável, temos que enfrentá-la. Meu Deus! Como vai ser? Se alguém me perguntar se eu senti medo, desespero, sei lá o que, eu posso responder com toda certeza. Eu não tive tempo de sentir nada. Parece que não está acontecendo conosco.

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Os fatos se sucedem com tanta rapidez que sem nos apercebermos já estamos reagindo e tomando as providências que se fazem necessárias. Pode parecer incrível, mas estas providências, às vezes burocráticas, acabam servindo de ajuda. Você te mtantos detalhes a resolver que é obrigada a reagir aos sentimentos negativos para poder tomar, com tranqüilidade, certas decisões imprescindíveis. Minha cabeça fervilhava de perguntas para as quais eu teria que achar as respostas certas. - Para que hospital transferí-lo? No Pio XII eu não queria, pois havíamos acompanhado todo o problema do Gian nesse hospital e isso poderia agir negativamente no estado de espírito do Luiz. - Que médico chamar? Gostaria _que fosse o Daher pela confiança que o Luiz tinha nele. - O hospital deveria ser credenciado da Petrobrás, pois, seria uma preocupação a menos. Será que é necessário fazer depósito? Seria necessária uma guia de internação. Tudo isso deveria ser providenciado e com urgência. - Como avisar meus filhos adolescentes, sem traumatizá-los. Para eles o Luiz era o Luizão, o atleta símbolo das Olimpíadas da Petrobrás, aquele que se gabava de ter mais medalhas que eles. - Como transmitir a notícia aos nossos pais lá no Rio, sem deixá-los mais preocupados do que o necessário? - Como parecer tranqüila, despreocupada e confiante diante do Luiz? - Como reagir ao isolamento do meu marido dentro de uma UTI? - Como fazer para que a vida dentro da minha casa não saia da rotina? Vocês estão vendo que diante de tantas preocupações eu não tinha tempo nem de sentir medo. Mas a pergunta que eu mais me fazia era com arranjar forças para vencer todos esses obstáculos. Quem me respondeu a todas essas indagações foi Deus. Não pensem que é pretensão não. Ele respondeu sim. E o faz como só Ele sabe fazer. Para tornar o homem mais forte, Ele usou o próprio homem. Essas respostas me chegaram através: - dos amigos que desde o primeiro momento, ainda no Urgencor, estiveram ao meu lado, me dando força e oferecendo seus dons. - Das orações feitas por vocês porque eu, sinceramente, não .conseguia nem rezar. - Do amor conjugal que faz com que você se torne gigante, superando suas limitações para pensar apenas no outro. - Da dedicação de um grupo de enfermeiras da UTI. - Da atenção e do carinho de um médico-amigo ou amigo-médico, como vocês preferirem, que, através de sua dedicação profissional e da sua tranqüilidade, me ajudou a superar a fase mais difícil e a quem eu nunca poderei pagar. - Dos nossos pais que souberam ser fortes e com isso me ajudaram a segurar a barra.

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- Dos meus filhos, que no momento certo, souberam ser adultos. - E de todos os amigos, equipistas ou não, que através de seu constante interesse, atenção e carinho, nos ajudaram a ultrapassar aqueles momentos difíceis. Todos nós estamos sujeitos a situações desagradáveis que a vida, às vezes, nos oferece, mas agora eu sei que existem coisas imprescindíveis para que possamos superar esses momentos. Dentre todas eu destacaria duas: Fé em Deus e amigos do peito. Obrigado a todos vocês que torceram e rezaram por nós. Sonia e Luiz Fernando Boeira Equipe 12

OS FILHOS SÃO NOSSA RIQUEZA. . . (ARARAOUARA) "Os filhos são o grande dom de Deus; crianças, a herança do Senhor." (Sl126,3) Atualmente nos preocupamos com a paternidade responsável, mas sempre que se toca nesse assunto, a preocupação parece ser dirigida para o controle da natalidade, ou seja, programar um ou dois filhos, para poder escolher para eles as melhores escolas, adquirir os brinquedos mais caros, comprar-lhes as melhores roupas, sonhar com seu ingresso na UNICAMP., PUC, USP, etc ... Será que não é muita ansiedade da nossa parte? Não estaremos com tais atitudes e anseios sufocando a criatividade deles, impingindo-lhes uma pseudo realização? Já paramos em algum momento para nos perguntar quais são realmente os valores cristãos que devemos legar-lhes? A caridade, a pureza de sentimentos, a simplicidade, o amor incondicional a Deus e ao próximo fazem parte do legado que desejamos outorgar-lhes? Claro que não existe nenhuma cartilha que nos ensine a educar os filhos, que possa ser seguida passo a passo ... Porém, dispõe-se de muitas publicações com esse fim, e até exemp1os mostrados pela TV podem auxiliar nesta tarefa, que é a de criar os filhos não como sendo nossos filhos, mas sim filhos da ânsia da Vida por si mesma (Gibran Kalil Gibran). E a melhor escola para eles é nossa vivência e nosso comportamento . . . Mas nem sempre oonseguimos ser para eles os exemplos de fé ·e amor que deveríamos ser. Queremos ser pacientes e firmes, mas o muito que conseguimos é ameaçá-los com chineladas e gritos. Por isso é que neste aspecto a Equipe é importante para os pais, pois, além de nos possibilitar a convivência com outros pais que podem nos auxiliar nesta tarefa, ainda nos faz voltar a Cristo e a Maria, como fontes de amor e compreensão, exemplos a serem seguidos por nós e transmitidos aos nossos filhos. Quantas vezes nos angustiamos diante das doenças de nossos filhos, de seus problemas escolares ou de comportamento, ou pela dificuldade que temos em aceitá-los como são, ou aceitar seus namoros, etc. . . Sentimos, porém, que é através dessas dificuldades que Deus nos está mostrando como real-

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mente somos: nossa dificuldade em aceitar o que não é "nosso espelho". E, assim, como está continuamente solicitando nossa transformação, nossa conversão em todos os aspectos. Difícil? Sim; mas estreita é a porta ... Que Deus nos ilumine a todos e nos ajude a poder vivenciar o que ' ouvimos de uma senhora - que por coincidência se chama Maria: "Os filhos dão trabalho, mas vale a pena. Quando se fica mais velho, tudo passa, e aí é que percebemos que os filhos foram realmente nossa única riqueza". João e Didi Equipe 2

-oRETIROS A Carta Mensal foi informada da programação dos seguintes retiros: OUTUBR0/86 17/18/19 17/18/19 24/25/26 24/25/26 24/25/26 25/26 25/26 25/26

José Bonifácio Porto Alegre Rio de Janeiro São Paulo São Carlos Piracicaba Mafra Criei uma

Casa Sta. Terezinha Vila Manresa Setor D Cenáculo Soe. S. Vicente Paula Casa São Lourenço

NOVEMBR0/86 07/08/09 07/08/09 15/16

Porto Alegre São Paulo Porto Alegre

21/22/23 21/22/23 21/22/23 22/23

Belo Horizonte Rio de Janeiro Porto Alegre Araçatuba

Setor A Vila Betânia

Florianópolis

Morro das Pedras

Vila Manresa Barueri Vila Betânia (p/ filhos de equipistas)

DEZEMBR0/86 19/20/21

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VIDA EM EQUIPE

BRASIL E EUROPA Porque o nome de Magda e o do Felicio, da equipe 16 do setor B de São Paulo, foram mencionados num artigo da Carta Mensal AngloIrlandesa, chegou às mãos deles uma cópia desse artigo. E porque esse artigo revela muito do comportamento fraterno do pessoal de equipe e nos encoraja a crescermos nesse sentido, aquí incluimos sua tradução resumida. "COMO AS EQUIPES FUNCIONAM" Há alguns anos nossa Equipe, a "Barnet 2", estabeleceu uma amizade com o Brasil! Fomos contactados por um casal que, morando em Londres e pertencendo às ENS, no Brasil, queriam unir-se à nossa equipe. Foi assim que Leonor e Luís Carlos Gayotto deram nova dimensão à vida de "Barnet 2". Tinham uma tremenda vitalidade e profunda espiritualidade e seus quatro filhos ajustaram-se lindamente à horda dos demais filhos de equipistas naquele ano de 1972. Nossa equipe disse-lhes "até logo", com muita tristeza em 1974. Em 1981, durante a peregrinação a Roma, quando 300 brasileiros lá estiveram, sentamos ao lado de um casal brasileiro e, por mera curiosidade perguntamos se conheciam os "Gayottos" de São Paulo ... e foi assim que acabamos amigos da Monique e do Gérard que, além de editores da Carta Mensal eram da mesma equipe dos "Gayottos"! Há um ano mais ou menos a Monique e o Gérard, que tinham passado a se corresponder regularmente conosco, perguntaram-nos se conseguiríamos alguma acomodação temporária para um casal, se possível na casa de algum equipista, que viria a Londres por um ano, até que conseguissem moradia própria. Para encurtar a história, Carlos e Renata (genro e filha de equipistas) chegaram a Barnet ficando na casa de Roy e Paulette Coombs, que moram em frente à nossa própria casa. Como Carlos não tivesse tido oportunidade de conseguir trabalho enquanto Renata fizesse seu curso, motivo de sua ida à Inglaterra, reter-

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nou a São Paulo ficando muito grato por poder deixar sua jovem esposa na segura e calorosa convivência da família Coombs. E assim foi seguindo o ano, Renata trabalhando firme, seu inglês melhorando e aí um outro casal, "Felicito e Magdala Saddalla" chega à Inglaterra dando-nos mais oportunidades para confraternização. Perto do Natal Renata ficou muito contente pois Carlos tinha conseguido serviço na Embaixada Brasileira aqui e começaria a trabalhar no princípio do ano. Além disso Renata estava exultante pois colegas do curso a haviam convidado para visitar Madrid e também para passar parte dos feriados de Natal na Suíça. Renata planejou, então, encontrar o Carlos em Madrid, passar aí o Natal, viajar para a Suíça e retornar à Inglaterra em janeiro. Antes de partir, Renata veio nos visitar e aí a aconselhamos a procurar alguma equipe em Madrid e sugerimos o nome do Dr. Lorenzo Rubio e sua esposa, que havíamos conhecido na peregrinação a Roma- "nunca se sabe, pode ser que você queira simplesmente bater um papo com eles ... " e Renata levou o endereço. Só ouvimos o resto da história quando voltaram depois dos feriados ... Carlos chegou a Madrid com uma terrível dor de garganta, num fim de tarde, quando já não havia nenhum médico disponível. Assim fizeram um primeiro telefonema ao Dr. Lorenzo que, tão logo foi possível, chegou para visitá-los trazendo a medicação apropriada e os convidando a visitar sua família. No dia seguinte, sentindo-se melhor o Carlos, passaram o dia visitando a cidade e, no fim da tarde, encontrando-se num grande centro comercial, decidiram trocar algum dinheiro. Aparentemente a maneira de fazer isso, no Brasil, é comprar dólares americanos e depois trocá-los pela moeda corrente do país visitado. Carlos apresentou seus dólares, o caixa examinou-os um a um, sacudindo a cabeça e a terrível verdade abateu-se sobre êles: eram todos falsos! ... mas não aqueles de Renata, só os que Carlos tinha trazido do Brasil. Assim, trocaram o dinheiro de Renata mas, quando estavam saindo, mãos os seguraram pelos ombros e os empurraram por uma porta e escadas abaixo para uma sala de interrogatórios. Foram empurrados de um lado para outro, algemados entre si e forçados a esperar por um par de horas, de pé, vendo ladrões e malandros serem interrogados e tratados com rudeza. Pediram para telefonar mas isso lhes foi negado e aí ficaram mesmo apavorados. Finalmente foi-lhes permitido telefonar e ligaram para o Dr. Lorenzo, que estava numa reunião da equipe. O Dr. Lorenzo e outro companheiro da equipe acorreram imediatamente em socorro mas, a despeito de muita conversa, nada mais puderam

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fazer por aquela noite. Reasseguraram à Renata e ao Carlos que viriam "resgatá-los" o mais depressa possível, que a Equipe estava rezando por eles e que não se preocupassem. Carlos e Renata não esquecerão aquela noite passada na prisão espanhola, Carlos com os homens, alguns dos quais drogados, e Renata com as mulheres. No dia seguinte o Dr. Lorenzo chegou o mais rápido possível e após muitas negociações e entrevistas o casal foi libertado e levado para um jantar de comemoração com a equipe toda. O Natal foi passado com a família do Dr. Lorenzo e a última coisa que Renata e Carlos nos mostraram, quando já estavam sãos e salvos com Roy e Paulette, foi uma carta de desculpas do governo espanhol. Para todos os que são novos em equipes podemos afirmar que a maior parte das história de hospitalidade entre equipistas pode não ser tão dramática. Não obstante o mesmo espírito de ajuda mútua está aí, no mundo todo, e é muito recomendável que nos demos ao trabalho de procurarmos alguns endereços (de equipistas) antes de visitar países distantes do nosso!

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NOTICIAS DOS SETORES Sessão de Formação -

regos da qual, com sua esposa Maria

Marília/SP

Complementando o que noticiamos no último número de agosto (n.0 5, pág. 37) d~ Carta Mensal, Informamos que, além dos oito casais de Araçatuba, participaram da Sessão de Formação dois casais de Marília, três de Dracena, dois de São José do Rio Pre· to, dois de Assis e um de Pederneiras, totalizando 18 casais.

Volta ao Pai -

Evaldo Brandão (Equipe 2-C - Rio I)

Juntamente com Lola, sua esposa, era um dos equlplstas mais antigos do Rio de Janeiro, sempre partlçlpante. Ultimamente vinha residindo erh Marlcá/RJ. -

Meza (Equipe 49-B - Rio I) ·

Foi vitimada, juntamente com seu filho Roberto, de 21 anos, por um acidente automobllfstlco próximo a Petrópolis. Meza e seu marido Demerval acabavam de assumir a responsabilidade pelo setor D e Iriam trabalhar na Sessão de Formação de agosto. Seus irmãos qeuiplstas, na certeza de que Meza e Roberto já habitam na casa do Pai, rogam a Deus que conforte e ilumine a Demerval. -

Olavo Antonio Cestari (Dois Corregos - SP)

Voltou para o Pai que sempre esteve com Ele, em 5 de julho, deixando esta certeza para conforto de seus irmãos da Coordenação de Dois Cor-

era o responsável. Amou as equipes sem medir as conseoüências e por elas daria a vida se preciso fosse e, como vlcentlno, multo fez pela velhice desamparada. Deixa-nos ao partir um legado maravilhoso pois foi esposo dedicado, pai amoroso, equipista entusiasta e cristão fiel, colocando-se sempre disponível ao chamado de sua amada Igreja. Seus irmãos, saudosos, esperam o dia de seu reencontro com Maria, sua esposa, que traz em seu semblante e em seu modo de ser, tantos reflexos daquele que foi com ela, dois numa só carne. -

Silvio Teodoro de Oliveira (Equipe 5 de Dois Corregos · SP) Silvio, esposo de Clotilde, foi para Deus em 17 de julho último. Morreu como viveu santamente, pois tudo o que realizou fê-lo com carinho, dedicação a emor. Na profissão, foi mestre; na família, foi pai e esposo exemplar; na Igreja, cristão ativo e grande devoto de Nossa Senhora; na cidade, querido por todos; na equipe, um irmão multo amado. Uma de suas últimas participações nas ENS, foi na missa de posse dos novos casais responsáveis quando, no ofertório, levou a Imagem de Maria até o altar. No seu funeral, Pe. Danoel rememorou o fato e acrescentou : "Hoje é Nossa Senhora que leva nos braços nosso irmão Silvio para junto de Deus." !: esta, exatamente, a última lição que ele nos deixa: só chega a Deus aquele que se deixa conduzir por Maria.

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Filho de Equlplstas ingressa no Seminário Informam Therezlnha e João Batista da Equipe 1 (N. S. de Nazaré) de Manaus que seu filho Adelson Ingressou no Seminário dos Jesultas em Sal· vador/BA. Seus pais estão multo fell· zes com a decisão de seu filho em tornar-se missionário de Cristo. Adelson, desde criança muito lnte· ligente e responsável era conhecido, na famllla, como o " velhinho". Aos 16 anos terminava o curso secundário e era aprovado no vestibular da Facul· dade de Direito do Amazonas onde formou-se aos 20 anos. Inscreveu-se na Ordem dos Advogados e preparava-se para iniciar uma

carreira provavelmente brilhante, quando a voz do Senhor falou mais alto. Embora sentindo saudades por sua ausência, seus pais vivem na fé a esperança de ver um dia seu filho ordenar-se sacerdote.

Mudança de Quadros Aconteceu em 27 de junho a renovação do Casal Responsável pelo Setor de Criciuma · SC. Após três anos Sonia e Cezar transmitiram o cargo para Cylésia e Hélcio, da Equipe 5. A transmissão do cargo ocorreu durante a missa de passagem da respon· sabilidade das equipes de base e contou com a presença de todos os casais equipistas de Criciuma e também de irany e Nereu, Casal Regional.

Posse do novo C.R. do Setor de Crlcluma.

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CARTAS DOS LEITORES

.,.. ..,

Carta Mensal Recebemos carta do Pe. Ciraudo Marino elogiando a CM e indagando a forma de recebe-la regularmente. A equipe da CM esclarece que a Carta Mensal é enviada regularmente aos Conselheiros Espirituais do Brasil todo e que seria ótimo que houvesse maior número de Conselheiros Espirituais, assistindo a Equipes, para quem devessemos enviá-la.

Peregrinação Sandra e José Augusto, da Equipe 79-C, do Rio de Janeiro, escrevem-nos dando conta da alegria que sentiram em participar do EACRE e do entusiasmo com que estão convocando seus companheiros para, numa reunião informal, transmitir-lhes o calor do convívio fraterno que tiveram nesse encontro, principalmente no que toca à partilha. Relatam também que deverão iniciar, ainda em outubro, uma peregrinação à Terra Santa, passando por lugares bíblicos e de notoriedade religiosa, como Assis e, dos nossos dias, Medjugorje. Consideram que essa viagem será "uma viagem de conversão, de mergulho na oração e no Espírito Santo" pois serão acolhidos, a maior parte ads vezes, em casas religiosas e mosteiros onde terão oportunidade diária de freqüentar a mesa eucarística. A equipe da CM deseja-lhes uma boa viagem, um feliz regresso e que,

com os demais peregrinos, recebam as bênçãos de Nossa Senhora. Sugestão Da Marilda e Waldon chegou-nos uma carinhosa carta falando da nova roupagem da CM. Ela nos conta que têm quatro filhos e uma menina que criam, estando, além disso, em contacto freqüente com jovens através das aulas de religião que ministra no colégio "Arnaldinum", cujo Diretor é, também, Conselheiro Espiritual das equipes 1 e 2 de Belo Horizonte. Entusiastas do movimento das equipes - ". . . amamos o movimento que nos levou à felicidade colocando Deus em nossa vida nos fazendo ver o verdadeiro sentido do Matrimônio", - sugerem que se Ç!ie, na CM, um espaço para intercâmbio com famílias ou filhos de equipistas, colocando, mesmo, sua própria casa à disposição. Agradecemos essa carta tão simpática e a sugestão nela contida, que está sendo estudada pela equipe da Carta Mensal.

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MEDITANDO EM EQUIPE Neste mês de OUTUBRO temos no dia 12 a festa de NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA , PADROEIRA DO BRASIL.

TEXTO DE MEDITAÇÃO- Jo 2,1-11 No terceiro dia , houve um casamento em Caná da Galiléia e a Mãe de Jesus estava lá. Jesus foi convidado para o casamento e os seus discípulos também. Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do casamento tinha-se acabado. Então a Mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm mais vinho". Respondeu-lhe Jesus: "Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou" . Sua Mãe disse aos serventes: " fazei tudo o que ele vos disser". Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas. Jesus lhes disse: "Enchei as talhas de água". Eles as encheram até à borda. Então lhes disse: "Tirai agora e levai ao mestre-sala" . Eles levaram. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho - ele não sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventes que havia retirado a água - chamou o noivo e lhe disse: "Todo homem serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora!" Esse princípio dos sinais, Jesus o fez em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele." ORAÇÃO LITúRGICA HINO Ao trono acorrendo da Virgem Maria, exulta o Brasil de amor e alegria.

Maria! Na rede de três pescadores vem ser prisioneira de nossos amores.

Ave, ave, ave, Maria Nossa Senhora Aparecida .

Nas cruzes da vida clamemos "Maria", oh! nossa esperança, vem ser nosso guia.

Nas curvas de um eme no rio Brasileiro, Maria aparece, à luz do "cruzeiro".

O Mãe e Rainha, no manto de anil Guardai nossa pátria. B vosso o Brasil.


Um momento com a Equipe da Carta Mensal ........ .. . . .. . . . . . . Editorial: Escutai-o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A Palavra do Papa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Lineamenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O sentido da co-participação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A Reunião de Equipe: Magnificat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A impossibilidade da partilha ......... . . .. . .. . . . . . ... . . ....... .

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A ECIR conversa com vocês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A escuta da Palavra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Lourdes/ 88 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Vida e Obra dos Santos: As duas Teresas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Maria do meu Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Eleições e Constituinte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Testemunhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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12 de outubro -

Dia da Criança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Resenha dos Boletins . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Retiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Brasil e Europa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Noticias dos Setores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Cartas dos Leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Meditando em Equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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EQU IPES DE NOSSA SENHORA 01050 Rua João Adolfo. 118 · 9' · cj. 90J ·Tel. 34 8833 São Paulo · SP


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