ENS - Carta Mensal 1983-5 - Agosto

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1983

5 Agosto

ANO VOCACIONAL Número Especial


Esperamos vivamente que toda a comunidade eclesial saberá partilhar a nossa angústia apostól ica e encontrará uma ocasião favorável para se dedicar a reflet ir profu ndamente sobre o valo r, o sen t ido e a necessidade das vocações na Igreja e para a Igreja. Que nenhum fiel se sinta estranho a este problema, mas, pelo contrár io, que cada um se interrogue a si mesmo e meça as suas próprias respo nsabi li dades . PAULO VI

o

"Eis agora o tempo favorável . . . " (2 C or . 6, 2b )


EDITORIAL

VOCAÇÃO DO LEIGO NA IGREJA

Dom Cândido Padim Bispo Diocesano de Bauru

Pela sua oportunidade, transcrevemos o Editorial do Boletim de Bauru de agosto de 1982.

O mês de agosto foi escolhido como mês vocacional pela CNBB para promover uma reflexão mais consciente de todos nós sobre a importância do sentido vocacional da vida cristã. Cabe particularmente aos movimentos leigos promover essa reflexão entre os seus membros. Só assim toda a Igreja passará a ter uma ação dinâmica para a militância de todos os cristãos. Já não deve prevalecer, hoje, a idéia de vocação reduzida apenas ao sacerdócio e à vida religiosa. O leigo também é um vocacionado, e convocado pelo Cristo para a missão de salvação do mundo. A vocação fundamental é o convite à santidade na comunhão com Deus Pai. Viver na graça de Deus, santificando todos os trabalhos e atividades que realizamos. De um modo espf.cial, o leigo deve ser fermento na massa, de fato, bem dentro da realidade do mundo onde vive. Pela sua palavra e pelo seu exemplo deve iluminar as diversas situações da vida, ajudando seus irmãos a compor uma convivência fraterna e conforme às exigências da justiça. A família constitui uma das primeiras situações concretas que deve ser objeto de evangelização e de comunhão. A vocação do leigo para constituir uma família é um dom de Deus. Deve ser cultivada com o mesmo carinho e senso de responsabilidade como as vocações que incluem uma consagração da Igreja. Pais e filhos devem considerar-se como ministros de uma santificação mútua, que se realiza no dia-a-dia da convivência. -1-


O trabalho, qualquer que seja o seu tipo, é a segunda situação concreta a ser consagrada pela vocação do leigo. Sem esquecer que o exercício de uma profissão inclui a responsabilidade pela participação na formulação das estruturas sociais que envolvem a empresa, assim como o sindicato. É bem amplo, portanto, o campo de atuação e de evangelização que abrange a vocação do leigo. Sem esquecer as vocações que ele tem à sua disposição nas diferentes tarefas pastorais dentro do âmbito da própria Igreja. Felizmente, estamos vendo os maiores exemplos de leigos que assumem com grande responsabilidade essas várias vocações pastorais.

Abre-se assim, uma nova era na renovação da Igreja. O leigo se situa por vocação na Igreja e no mundo. Membro da Igreja, fiel a Cristo, acha-se comprometido na construção do Reino em sua dimensão tempor al. Em íntima comunicação com seus irmãos leigos e com os Pastores, nos quais vê seus mestres na fé, o leigo contribui para construir a Igreja como comunidade de fé, de oração, de caridade fraterna, e faz isto por meio da catequese, da vida sacramental, da ajuda a seus irmãos. Mas é no mundo que o leigo encontra seu campo específico de ação. Pelo testemunho de sua vida, por sua palavra oportuna e sua ação concreta, o leigo tem a responsabilidade de ordenar as realidades temporais para pô-las a serviço da instauração do Reino de Deus. Que o leigo não fuja às realidades temporais para buscar a Deus, e sim persevere, presente e ativo, no meio delas e ali encontre o Senhor.

(Puebla, n ºs 787, 788, 789 e 797 )

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A PALAVRA DO PAPA

VOCAÇÃO DE TODOS: O TESTEMUNHO EVANGtLICO

Dirijo a todos o mesmo encorajamento premente e confiante: sede o que deveis ser em relação ao Senhor que vos chamou, e aos olhos do mundo que precisa do vosso testemunho evangélico! E isto segundo a vocação que é própria ·a cada um. lt uma questão de fidelidade ao Senhor, de lealdade para convosco mesmos, de respeito pelos outros e de solidariedade eclesial. 1\.os sacerdotes Que o Cristo seja como que a respiração da vossa vida quotidiana!

A

vossa. fidelidade de todos os dias e a vossa irradiação têm este preço. Vivei esta renúncia evangélica à paternidade segundo a carne na perspectiva constante da paternidade espiritual que enche o coração dos sacerdotes totalmente consagrados ao seu povo. Vivei estas exigências e estas alegrias no espírito dos apóstolos de todos os tempos. Aos religiosos e religiosas

A vossa vida religiosa é, num·a palavra, o mistério de Cristo em vós e o mistério da vossa pobre vida nEle. lt isto que deve transparecer cada vez mais. As comunidades cristãs têm tanta necessidade do vosso testemunho! E o mundo, mesmo o pouco crente, espera confusamente de vós um ideal de vida. Assim, os vossos três votos religiosos não são lições dadas aos outros mas sinais capazes de os abrir para os valores que não passam. Aos leigos

Evangelizai a vossa própria vida, estai sempre em estado de conversão, se quereis participar verdadeiramente na evangelização do mundo; os outros têm necessidade da vossa experiência da vida cristã. Reservai-vos tempos de retiro e de revisão de vida. Considerai atentamente as situações concretas em que vive o povo do vosso bairro, da vossa região, do vosso pais, tudo o que estas situações têm de positivo e também o que, infelizmente têm de desumano. E, todos juntos, discerni com sabedoria a ação a empreender ou a prosseguir, a nível religioso ou a nível humano. Coragem e confiança! A luz e a força do Espírito do Pentecostes foram sempre dadas em abundância aos intrépidos operários do Evangelho.

JOAO PAULO 11

(11 / 5/ 80, na Costa do Marfim)

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VOCAÇÃO EQUIPISTA, ONTEM E HOJE

O tema da "vocação" é mais antigo do que o próprio cristianismo. Já desde o Antigo Testamento, encontramos numerosos exemplos de "vocacio,nados". O próprio Jesus se diz "vocacionado" por Deus e, por sua vez, chama e envia determinadas pessoas. Também no contexto das Equipes de Nossa Senhora, o tema da "vocação equipista" volta freqüentemente à tona. Por isto mesmo, e porque os temas muito "batidos" costumam perder seu vigor original, parece-me que convém recofdar alguns elementos permanentes de toda vocação, e particularmente da vocação equipista. Mas, aó lado dos elementos permanentes, há outros que assumem um colorido novo, de acordo com o contexto histórico. Daí o título: vocação equipista, ontem e hoje. A vocação não existe em si mesma. É sempre uma vocação de alguém para cumprir alguma missão, uma tarefa histórica. Assim, Abraão, Moisés, os profetas, não foram chamados em benefíCio . próprio: foram chamados para exercer uma tarefa junto ao Povci de Deus. Da mesma forma, os Apóstolos não foram chamados apenas para santificar-se no seguimento de Cristo: foram vocaçionados para serem .os continuadores da missão de Jesus Cristo. É importante notar desde o início que, embora a vocação tenha um aspecto pessoal (Deus chama as pessoas pelo nome) , ela comporta simultaneamente uma dimensão comunitária e social. Todos são chamados para exercerem uma missão junto ao Povo de Deus . . É a partir destas observações preliminares que devemos entender a vocação equipista. Nenhum casal equipista é chamado somente, nem sobretudo, para construir a sua santificação. O casal equipista é chamado para exercer uma missão junto ao Povo de Deus. Uma pergunta brota espontaneamente: que missão é elita? A resposta dada há alguns anos era muito simples: para cultivar a. espiritualidade conjugal. É o ontem, o elemento permanente da vocação equipista. Entretanto, a vocação é sempre uma realidade dinâmica. Uma vocação parada no espaço e no tempo perde a sua identidade. É preciso sempre de novo acertar o passo com a própria vocação. Acertar o passo em termos equipistas é acertar o passo com a

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Igreja, o Povo de Deus em marcha. Não se trata, evidentemente, de acertar o passo abstratamente, com uma Igreja abstrata, mas concretamente, com uma Igreja situada dentro de um contexto histórico e de uma realidade local. Esta tônica, impressa desde o Vaticano II, retomada e especificada por Medellin e principalmente Puebla, talvez não tenha ainda sido devidamente assimilada por um bom número de cristãos, mesmo equipistas. É isto que explica um certo "espiritualismo" de alguns que teimam em cultivar uma vocação de caráter iutimista. Ora, "A missão da Igreja em meio aos conflitos que ameaçam o gênero humano e o Continente latino-americano, face às violações da justiça e da liberdade, face à injustiça institucionalizada, é mais necessária do que nunca. Para cumprir esta missão, requer-se a ação da Igreja toda - pastores, ministros consagrados, religiosos, leigos, cada qual em sua missão própria. Uns e outros, unidos a Cristo na oração e na abnegação, se comprometerão, sem ódios nem violência, até às últimas conseqüências, na conquista de uma sociedade mais justa, livre e pacífica, anseio dos povos da América Latina e fruto indispensável de uma evangelização libertadora" (Puebla, n. 0 562) . Afirmando que "para chegar a ser realmente centro de comunhão e participação, a família latino-americana deve encontrar caminhos de renovação interior e de comunhão com a Igreja e o mundo" (568), Puebla ainda sublinha "a necessidade de uma educação de todos os membros da família na justiça e no amor, de tal sorte que possam ser agentes responsáveis, solidários e eficientes para promover soluções cristãs da problemática social latino-americana" (604). Impõe-se então repensar a vocação equipista a partir destas novas coordenadas. Ser fiel à vocação é saber conjugar o ontem e o hoje.

Frei Antonio Moser Conselheiro Espiritual das Equipes 10 12 e 14 de Petrópolis

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A VOCAÇÃO DE MARIA Vocação é um chamado. Um convite. Uma convocação. Tudo isto significou para Maria a Anunciação. Em seu Amor persistente, teimoso mesmo, Deus resolveu nos seus planos insondáveis presentear o homem com a felicidade. Criou o mundo e no-lo deu de presente. Não nos forçou, porém, a aceitar uma dádiva tão generosa. Respeitou nossa liberdade. E nós dissemos um declarado "Não" à liberalidade infinita do Criador. E com esta nossa negativa perdemos o Paraíso. É que atrás do Não de nossos primeiros pais estava o desejo ambicioso de nos igualarmos a Deus. O Amor teimoso de Deus voltou à carga. Enviou à terra o seu Filho, que assumiu nossa natureza humana, e novamente nos ofereceu a felicidade que tínhamos rejeitado. E desta feita o Amor de Deus foi ainda ·m aior, porque seu Filho morreu numa cruz para salientar o quanto valia essa felicidade. Valia a morte de um Deus. Em sua onipotência infinita, Deus poderia ter escolhido um processo incruento. Mas quis que a forma fosse esta. Uma forma sublinhada em vermelho. O vermelho do sangue de seu Filho.

Não conseguiríamos chegar até Ele. Desceu então até nós. Fez-se homem como nós. Para tanto precisou de uma mulher que desse à luz a natureza de seu Filho. Que gerasse o Homem-Deus. Esta foi a vocação de Maria. Para tão grandiosa missão é que Maria foi chamada. Para Mãe do Redentor é que Maria foi convidada. Para colaborar na Redenção da Humanidade é que Maria foi convocada. Enquanto nossos primeiros pais abandonaram maravilhas na tentativa de se igualar a Deus. Enquanto Eva instigava e seduzia seu companheiro a ser maior que Aquele que oferecia para eles, e neles para nós, um Mundo. Enquanto Eva trabalhava para que um Não fosse dito a tão enorme felicidade oferecida, uma outra Eva perdia-se na sua humildade de virgem com o estranho convite que lhe era feito para ser a Mãe de Deus. -Ô -


O orgulho de nossos primeiros pais disse Não ao Amor de Deus. A humildade franca e recolhida de Maria, a Eva salvadora, disse um Sim incondicional à graça de Deus. Esta foi a vocação de Maria, ser Mãe de nosso Redentor, dizer Sim à vontade de Deus. Tanto amou Maria a Deus que Deus, o Amor por excelência;. fez sua residência no seu seio virginal. E desta forma iniciou-se · a nossa Redenção. A humildade venceu a empáfia do orgulho. Esta foi, esta é a vocação de Maria, gerar o Homem-Deus, dar à luz a nossa Redenção. Bendita vocação que nos salvou!

José Guimarães Peàroscr Equipe 4/ A, São Paulo

• Dom de Deus é Jesus Cristo enviado pelo Pai para nos salvar. Dom de Deus

é Maria seu Sim trouxe ao mundo o Redentor. Dom de Deus é a Eucaristia Pão da Vida alimento no caminho. Dom de Deus é a Igrej a

portadora de esperança para todos os homens.

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"VEM E SEGUE-ME"

CHAMADOS QUE SAO DONS DE DEUS

Iniciamos um novo ano equipista precisamente no momento em que a Igreja do Brasil, dentro do Ano Vocacional, celebra o mês das vocações. A hora parece-nos muito propícia para nos :interrogarmos sobre os diversos chamados que recebemos de Deus -e como a eles temos respondido. Do primeiro chamado que Deus nos fez , para conhecê-lo e fazermos parte de seu povo, decorrem os demais, pois tudo na vida cristã tem a sua raiz no Batismo, pelo qual fomos mergulhados na morte de Cristo para sermos homens novos para a sua glória. Nós, casais, fomos a seguir chamados para servi-lo no e através do matrimônio. O cristão adulto que éramos, fortalecido pelo sacramento da Crisma, foi chamado a unir-se a outro cristão para constituir a menor comunidade a serviço do Reino, a sociedade conjugal - chamada por sua vez a "crescer e multiplicar-se", a formar uma comunidade familiar , chamada também ela a ampliar-se e a abrir-se ao mundo. Em algum momento de nossa vida conjugal fomos chamados a ingressar nas Equipes de Nossa Senhora, isto é, a formar, com outros casais, uma comunidade maior destinada a nos ajudar a progredir no conhecimento, no amor e no serviço a Deus, que se caracteriza no amar e no servir ao próximo. Nessa nossa caminhada, o Senhor nos chama a compartilhar mais intimamente de sua vida atr avés da escuta da sua Palavra e da participação na Eucaristia - pela qual Ele renova e vivifica a nossa união conjugal , dando novo alento ao nosso sacramento do matrimônio, e nos fortalece para sermos suas testemunhas junto aos nossos filhos e nos ambientes onde atuamos. Como temos acolhido esses chamados, que são dons de Deus para o nosso crescimento e para a santificação da Família? Temos sido fiéis, como bons administradores das graças recebidas? Em outras palavras, temos sido "dignos da vocação a que fomos chamados"?

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Vocação é sempre para um serviço. Em nosso lar e através dele somos chamados a servir. E o primeiro serviço é dar a conhecer, pelo Amor, o maior dom de Deus: Jesus Cristo. Afirma o Papa que "a família tem a missão de guardar, revelar e comunicar o amor" (F.C. 17) . João Paulo li também fala no "ministério do casal na educação dos seus filhos para que eles possam chegar a uma plena maturidade humana e cristã" (Alocução aos Bispos do Canadá, 28-4-83). Somos verdadeiramente os sacerdotes, reis e profetas dessa pequena Igreja doméstica que Deus nos confiou? Temos colocado em primeiro lugar o culto a Deus, o anúncio da Boa Nova, através da or ação, das circunstâncias, do acolhimento ao próximo? Estamos educando os nossos filhos para uma vida humana e cristã responsável e generosa? E mais: temos criado o clima para que possam ouvir o chamado de Deus caso deseje elegê-los para servi-lo mais de perto, como sacerdotes, como religiosas, como missionários, ou mesmo como leigos consagrados? Se estamos realmente vivendo como casal e em família a nossa fé e partilhando-a com os outros, se estamos pondo esse dom de Deus que é o nosso sacramento do matrimônio a serviço da Igreja enquanto comunidade familiar e como leigos engajados, não só na pastoral familiar mas também nas diversas pastorais da nossa paróquia ou da nossa diocese, não terá sido em vão que ouvimos um dia o chamado - "Vem e segue-me" - para ingressarmos nessa pequena comunidade cristã de casais que é uma Equipe de Nossa Senhora. A ECIR

Os EACREs: na Carta Mensal de setembro teremos a cobertura desses Encontros em que os casais chamados a assumir a responsabilidade de sua equipe viveram tempos fortes de abastecimento espiritual e de aprofundamento na mística e nos métodos do nosso Movimento.

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João Paulo 11 convida .. .

Convido todas as comunidades cristãs e cada um dos fiéis a tomarem consciência da grave responsabilidade que têm de contribuir para o incremento das vocações consagradas. Satisfaz-se este dever "sobretudo mediante uma vida plenamente cristã" (Opt. Tot., 2). A vida gera a vida! Com que coerência poderíamos nós rezar pelas vocações se a oração não fosse efetivamente acompanhada de uma aplicação sincera pela conversão? Convido, por fim, com sincera confiança, todas as famílias que professam a fé cristã a refletir sobre a missão que receberam de Deus pelo que se refere à educação dos filhos para a fé e para a vida cristã. ~ uma missão que comporta responsabilidade também quanto à vocação dos filhos. "Os filhos, mediante essa educação, sejô.m formados de tal modo que, chegados à idade adulta, sejam capazes de seguir com pleno sentido de responsabilidade a sua vocação, incluindo a sagrada" (G .S., 52). A cooperação entre a família e a Igreja, também no que respeita às vocações, tem raízes profundas no mistério e no próprio "ministério" da família cristã: "Com efeito, a família que está aberta aos valores transcendentes, que serve os irmãos com alegria, que desempenha as suas funções com generosa fidelidade e que tem consciência de sua participação quotidiana no mistério da Cruz gloriosa de Cristo torna-se o primeiro e o melhor seminário da vocação para a vida de consagração ao Reino de Deus" (Fam. Cons., 53).

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FILHO DE EQUIPISTAS É

ORDENADO EM FLORIANóPOLIS

Rejubila-se o coração de todos aqueles que amam a Igreja: ordenou-se mais um sacerdote a serviço do Povo de Deus. Rejubila-se o coração da mãe e rejubila--se o pai, lá do Céu: o filho chamado foi ungido e consap-ado. ~ jubila-se o coração dos equlpistas de Florianópolis e do MoTimento como um tudo: é o primeiro filho de equlpistas a ordenar-se sacerdote. Para as Equipes representa algo multo especiaL Principalmente neste Ano Vocacional, é motivo de ação de p-aças e semente de esperança. A "nossa" primeira vocação! Bastante significativo que esta primeira vocação tenha vindo de Florianópolis, cujo setor - o segundo do Brasil e o primeiro fora de São Paulo - sempre primou pela espiritualldade e por uma espiritualldade pro· fundamente engajada. Nada mais justo que o primeiro sacerdote nascido numa famílla equlpista seja de lá. E que venha do lar de Dilma e Miguel, apóstolos da primeira hora, e também da última - quando a vida de Miguel foi ceifada a serviço da lp-eja. No sábado 2 de julho, às 9,30 horas da manhã, na Capela do Colégio Catarlnense, Frei Francisco Oroflno recebeu a unção do Espírito pela imposição das mãos de D. Afonso Nieheus e tornou-se sacerdote para sempre. A alegria e a emoção que este fato nos traz é indizível .. . Neste jovem filho de São Francisco repousa a esperança da Igreja de que a sua consagração a Deus possa ser semente de D)uitas outras vocações, através do seu testemunho e da sua doação. Eis a entrevista que, embora "muito avesso a entrevistas", Frei Francisco concedeu à Carta Mensal em nome da amizade que nos Uga a seus pais.

Como nasceu a sua vocação? De que forma pode a família ajudar os filhos a ouvirem o chamado de Deus e a perseverar, caso se sintam vocacionados? Acho que não se pode dizer que vocação nasce deste ou daquele fato. Mas ela vai surgindo de um processo. É uma decisão que vai amadurecendo na caminhada da vida. Importa colocar-se à escuta dos fatos da vida e tentar ler em cada um deles -11-


a vontade de Deus. Creio que, neste processo, a decisão final é o que há de mais fácil. Assim, penso que esta decisão para mim 8urgiu clara numa determinada "virada" de minha vida, entre os 18/22 anos. Se por um lado dizemos que vocação é dom de Deus, por outro não podemos esquecer aquelas pessoas que, por uma abertura de coração às coisas de Deus, se tornaram para mim como sinais que me ajudaram a perceber o que fazer. E, neste aspecto, meus pais, Miguel e Dilma, foram importantes sinais. Tudo que pude construir tem por base o que deles recebi, um alicerce sólido onde construí, com liberdade, minha vida. Equipistas desde que nasci, o ambiente cultivado em casa traduzia o que eles viviam nas Equipes. Pontos importantes como a oração em família, o diálogo aberto ou simplesmente a presença e o apoio são marcas inesquecíveis. Creio que quem se sente chamado a uma mudança radical em sua vida sem dúvida busca na família apoio e compreensão. E a família deve ajudar criando este ambiente de compreensão, sem interferir abertamente, ou colocar obstáculos, como muitas vezes acontece. O que deve ficar claro desde o início é que entre o jovem vocacionado e a família, cedo ou tarde haverá rupturas. Enfrentar isso da melhor maneira possível, com carinho e incentivo, é a grande ajuda que a família pode dar.

Qual foi a reação dos seus amigos ao saberem de sua decisão? Por que tão poucos jovens pensam no sacerdócio como uma opção de vida, principalmente na classe média? - A mudança brusca de um estilo de vida: de universitário de medicina para frade franciscano provocou questionamentos naqueles que conviviam com a gente. Creio que esta foi a maior reação entre meus colegas. A pergunta que muitos me colocaram foi: "Mas é preciso fazer isso?" Para mim estava claro que era ... Mas percebi sempre uma receptividade bastante grande entre eles, principalmente entre meus antigos colegas de Faculdade. Creio que todos se chocam porque têm em mente a antiga imagem do "padre" desconhecendo a caminhada da Igreja nos últimos anos, onde vai surgindo um novo papel para o sacerdócio ministerial. Não se pode falar hoje numa crise de vocações já que de ano para ano cada vez mais jovens buscam este caminho. Mas o que acontece é que a vitalidade da Igreja no Brasil hoje é tão intensa e profética que se acentua mais a necessidade de um maior número de ministros e agentes de pastoral, principalmente nas áreas mais carentes. Daí que o questionamento quanto à classe média é importante: se não surgem jovens vocacionados na classe média, é que ela não está sabendo acompanhar a caminhada da -12-


Igreja nas suas opções esboçadas em Puebla. Creio que se a classe média e seus movimentos assumissem o trabalho com os pobres e marginalizados, seus jovens se sentiriam toéados a continuar o trabalho como agente de pastoral ou sacerdote. A classe média deve também assumir a decisão profética de fazer a sua opção preferencial pelos marginalizados. O que o levou a escolher a vida religiosa e a Ordem de São

Francisco? - São Francisco de Assis sempre esteve presente na minha vida, consider ado que era meu "padroeiro", embora durante grande parte do tempo fosse um ilustre desconhecido. Foi quando me caiu nas mãos uma biografia dele, num momento em que buscava caminhos e opções. Diante de sua vida e de suas opções caí numa certa incredulidade que mais me aprofundou nas pesquisas. Aos poucos fui fazendo minha opção de também buscar viver o "Evangelho de Cristo na pobreza", conforme São Francisco sugere. Dele aprendi que a vida só toma gosto quando somos capazes de tomar rumo, ainda que desconhecido, mas confiando que esta é a vontade de Deus. E na nossa vida importa sempre fazer a vontade de Deus.

-oDurante vários anos, as equipes de Florianópolis foram ligadas por Da. Nancy e Dr. Moncau, que conheceram Dilma e Miguel "brotinhos". Pela amizade e ainda por ser o primeiro filho de equipistas a assumir a vida sacerdotal, Dona Nancy esteve lá. E fez para nós a "reportagem" que segue:

Para quem tem acompanhado as Equipes em todos esses anos, o nome de Orofino deve ser familiar. Ao lado de Dilma, Miguel Orofino foi um entusiasta do movimento e um grande difusor da espiritualidade conjugal e familiar. A vocação de Francisco, seu segundo filho, era uma das grandes alegrias de sua vida. Todos os dias, contou Dilma, a oração familiar, que faziam nas refeições, terminava com o pedido: "Enviai, Senhor, operários à Vossa messe". Mesmo antes de casar-se, ela já rezava essa jaculatória. No entanto, foram discretos. Respeitaram as opções dos filhos, embora acalentassem no seu coração o desejo de que Deus Escolhesse algum dentre eles. Francisco foi o escolhido. Abandonou a Faculdade de Medicina no 3. 0 ano e ingressou na Ordem de São Francisco. -- 13 - -


"Quem enviarei eu? E quem irรก por nรณs? -

EJa-~e

aqoJ.

clfsse eu, enviai-me." (Is. 6, 8)

Frei Francisco recebendo a tmposlc;lo das mรฃos. "Sei em quem pus a minha confianรงa." (U Tim. 1, 12)

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E agora estávamos ali para assumir com ele a consagração de sua vida ao Senhor. Foi com grande emoção que cantamos "A barca" enquanto uma procissão de 32 sacerdotes adentrava a igreja, precedendo D. Afonso Nieheus, arcebispo de Florianópolis, e Francisco, acompanhado de sua mãe e ladeado pelos irmãos, Miguel e Paulo, representando o pai. Ao iniciar a celebração, D. Afonso lembrou as circunstâncias que pouco a pouco foram despertando a vocação de Francisco: sua participação nos movimentos de jovens, como o "Pólen", e a espiritualidade do seu ambiente familiar. Após o Evangelho, começa a cerimônia da Ordenação propriamente dita. O representante do Pe. Provincial apresenta a D. Afonso o testemunho de alguns membros da comunidade, confrades e amigos de Frei Francisco. Entre eles destacamos o do Vigário da Paróquia de Patí do Alferes, município de Vassouras, que congrega vinte e cinco comunidades rurais: ali Frei Francisco colaborou durante três anos, nos fins de semana, realizando casamentos, batizados e presidindo cultos, enquanto prosseguia sua preparação para o sacerdócio, no Convento da Ordem, em Petrópolis. Depois dos testemunhos, num solene diálogo, D. Afonso pede a Frei Francisco que confirme a sua disposição de servir a Deus assumindo os encargos próprios do sacerdócio. A seguir, a comunidade e o Bispo ajoelham-se, Francisco prostra-se diante do altar e é a Ladainha dos Santos, implorando a abundância da graça de Deus para o escolhido. Terminada a Ladainha, Francisco ajoelha-se e o Bispo lhe impõe as mãos, seguido por todos os sacerdotes presentes. De mãos estendidas, D. Afonso pronuncia as palavras consecratórias. A seguir, reveste o neo-sacerdote dos paramentos e procede à unção de suas mãos. Realiza-se então uma cerimônia profundamente comovente, própria de toda ordenação. Frei Francisco, já ordenado, paramentado, junta as mãos ungidas com o óleo da Crisma e as aprest>nta ao Bispo, que as envolve numa faixa. Essa faixa simboliza todas as ligações humanas de Francisco com seus familiares e a comunidade a que pertencia. Ele se diri~e ao lugar em aue estão sua mãe e seus irmãos, que desatam a faixa, shmificando aue o desli~am de todos os seus lacos e o liberam totalmente para Deus e o serviço de Sua Igreja. Então, no pleno exercício de seu ministério, Frei Francisco realiza o seu primeiro gesto sacerdotal dando à mãe e aos irmãos a sua primeira bênção. A Missa então prossegue, Frei Francisco concelebrando à dil'E'ita de D. Afonso, consagrando, pela primeira vez, o Corpo e o Sangue de Cristo. No final, depois da tríplice bênção de D. Afon- · -15-


so, recebida de joelhos, Frei Francisco volta ao altar e dá a sua primeira bênção aos fiéis, dizendo: "A todos vós que procurais a Deus com um coraç.ão sincero e que viestes aqui celebrar comigo · esta graça que o Senhor nos concedeu, fidelidade e paz na vossa caminhada. E agora, pela imposição de minhas mãos sacerdotais, pela intercessão de nossa Mãe, Maria Santíssima, de nosso Pai, São , Francisco, e de todos os santos, abençoe-vos Deus todo-poderoso . .. "

o Momentos de grande emoção nos estavam ainda reservados ao participarmos da primeira Missa de Frei Francisco. Já no início, o comentário inicial lembrava "a figura marcante de seu progenitor, conselheiro e verdadeiro pai, primeira escola de sua fé e fortaleza de sua vocação, que na comunhão dos Santos acompanhará passo por passo seu sacerdócio". Ao iniciar-se a liturgia eucarís., tica: "Neste momento, Frei Francisco faz sua homenagem a Maria, . que aprendeu a amar desde o berço na sua família, orientada pelas Equipes de Nossa Senhora .. . "

-oNuma rápida conversa que teve com ele, Dona Nancy pergun· · tou-lhe quais os momentos que mais o màrcaram na sua ordenação. Afirmou que foram a imposição das mãos e a bênção que deu à sua mãe. Dona Nancy ainda pediu-lhe que nos dirigisse uma men· sagem e ele então expressou toda a sua "gratidão pelo ambiente familiar, onde .a espiritualidade conjugal cultivada pelas Equipes fez. desabrochar a minha vontade em servir.a Igreja como o pai e a mãe serviram. Figura importante na m inha decisão foi o Pe. Caffrorel, ,que conviveu conosco uns dias em casa em 1972. Por tudo isso sow eternamente grato às Equipes. Pelo seu trabalho aprendi que o sacerdócio ministerial se realiza em acompanhar a Igreja, hoje, onde ela estiver".

"A ·nova etapa de minha caminhada que hoje se ·inicia, acrescentou, exige maior apoio e mais orações. E isso, eu peço às Eq-q,i- , pes. Não posso dizer que vou trabalhar com as Equipes, porque preciso primeiro tomar contato com ·meu novo trabalho, mas gostaria de realizar um trabalho junto às famílias, levando-as a cul- · tivar a •mesm_a espiritualidade cultivada em minha c;asa." · Desejiuiws de coração - e nos empenharemos em rezar nesse • intuito, conforme nos pediu, - que Frei Francisco se realize plenamente .como sa.cerdote, de acordo com o lema que escolheu para a sua vida sacerdotal: "O Senhor complete o que em mim come· çou" (SI. 137) . . -:- .16 -


Como a comunidade participou

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Nas três noites que antecederam a ordenação foram celebradas missas e horas santas, a cargo das Equipes (sobre o tema Família e Vocação), do Serra Clube (0 Sacerdote) e o Movimento "Pólen" (O chamado).

A alegria da mãe e do filho.

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Além do comparecimento maciço das 31 equipes de Florianópolis e de equipistas das cidades mais próximas, houve grande participação de toda a comunidade, dos vários movimentos principalmente do Movimento "Pólen". O clima de recolhimento e oração era notável.

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Encarregaram-se da preparação do almoço que foi servido após a ordenação as Equipes de Brusque Dilma e Miguel lançaram e pilotaram a primeira equipe daquela cidade, hoje um florescente Setor, cujos ramos se estenderam ·a té Blumenau e Itajaf.

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Para marcar a data, uma equipe de casais jovens, todos filhos de equipistas, realizou a sua primeira reunião na noite da ordenação.

-oComentário da mãe: "Ele está tão feliz, tão feliz! Está mais feliz que um noivo!" E ela sabe do que está falando : já casou dois filhos e duas filhas ...

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Da mensagem final da primeira Missa, que fazemos nossa:

Receba, Frei Francisco, a nossa gratidão pelo seu sim corajoso e radical. Acolha os nossos votos de felicidade e de paz. Aceite o nosso compromisso de fé, esperança e amor no sacerdócio de Cristo que o revestiu. Conte com o nosso apoio moral e espiritual. Tenha em cada um de nós o prolongamento de sua missão evangélica. Muito obrigado pelo seu exemplo de renúncia e doação. Muito obrigado pela sua família que o entregou ao serviço da Igreja. Nós agradecemos a sua fortaleza interior nos momentos difíceis que enfrentou e nos quais nos deu grandes lições. Nós bendizemos o Senhor pelo seu pai Miguel, que entregou a sua vida em favor da vida de todos nós. Nós louvamos o Senhor por sua mãe DUma, que o ofereceu à Virgem Mãe como mensageiro do Evangelho. Nós damos graças pela Fraternidade Franciscana que o acolheu e o plasmou num autêntico filho de São Francisco. O Movimento Pólen louva o Pai que na sua Providência escolheu um de seus filhos para a intimidade sacerdotal. A Igreja de Florianópolis bendiz a Trindade que elegeu um de seus filhos para o serviço do altar. Todos os cristãos proclamam as maravilhas que o Senhor realizou em você, capacitando-o para o múnus sacerdotal, profético e régio. Vá, Frei Francisco, pelo mundo afora, cumprir a sua missão, e que o "Senhor complete o que em você começou"!

• Os Frades Franciscanos

São a congregação mascullna mais numerosa do mundo (20.000 para 26 .000 Jesuítas) e a que mais aumenta. Se fôssemos somar todos os que se reclamam da espiritualidade franciscana nas diversas congregações (Capuchinhos, Franciscanos Conventuais, etc.) , teríamos quase o dobro. No Brasil também é a congregação que mais atrai os jovens. Em 1982, 33 frades terminaram o noviciado e outros 39 o iniciaram. . . São atualmente 80 os estudantes de filosofia e teologia. A at_ração exercida pelp Poverello de Assis não está perto c;le diminuir: o ideal da pobreza evangélica vivida na alegria continua falando alto ao coração dos jovens.

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A fidelidade tem um caráter dialogal, interpessoal, esponsorial e comprometido. Significa. uma mútua doação, uma amizade profunda., uma confiança plena, um compromisso permanente. A fidelidade não é uma atitude estática, mas um seguimento amoroso, que se concretiza na doação pessoal a Cristo para o prolongar na sua Irreja. e no mundo. A vossa entrega deve ser marcada por esse compromisso totaL O "Sim" do sacerdote é dado uma vez por toda:s, ainda que se Ienove todos os dias. E tem o seu modelo no "Sim" pronunciado pelo próprio Cristo. Seu chamamento é declaração de amor. A vossa resposta é entrega, amizade, amor manifestado na doação da própria vida como seguimento definitivo e como participação permanente na Sua missão e na Sua consagração.

JOAO PAULO D

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O CHAMADO E SUAS EXIGtNCIAS

. . . O Santo Padre João Paulo II vem insistindo, em todas as Ordenações Sacerdotais que faz, no mistério do Chamado. "Antes que no seio fosses formado, eu te conhecia. Antes do teu nascimento, eu te havia consagrado e designado como profeta" (Jer. 1, 3). Este Chamado, que no escolhido é a vocação divina, está primeiro em Deus. A iniciativa é de Deus. Foi assim com Abraão - "Sai da tua terra". Foi assim com Moisés, com Jeremias e Davi. Foi assim com os pescadores do Lago Tiberíades: "Serás pescador de homens". Enraíza-se nesta consciência do chamamento divino o segredo da identidade sacerdotal, ensina-nos João Paulo II (Homilia em Valência, 8 Nov. 82). "Chamado por uma eleição, consagrado com uma unção, enviado para uma missão". Estas três notas identificam o padre: chamado, ungido e enviado. É Deus quem chama. É o Espírito Santo que unge, o Espírito de santidade, de que fala a forma da Ordenação. É a Igreja que envia, por meio do bispo, para o serviço dos irmãos. Quando o padre perde o sentido interior do chamado, a consciência nítida do Privilégio desta eleição divina, começa a procurar os nefastos álibis de sua realização pessoal e humana. Quando o calor do Espírito esfria e o perfume da unção se desvanece, perde o padre a alegria de viver para seu Deus. Descempromete-se com a santidade. Desbota-lhe na alma a "imagem gravada pelo fogo do Espírito", que é a semelhança com Cristo Sacerdote. A Missão eclesial é que leva o padre a ser, por força da caridade pastoral, o humilde servidor de seus irmãos, o disponível para Deus e para os fiéis. O serviço dos homens é conseqüência da consagração. Se se tolda a clareza desta verdade, o padre começa burguesamente a buscar "status" social: o cargo mais alto, a paróquia julgada mais importante, o título mais honorífico, a ribalta das exibições vistosas. E nesta hora passa a ser o acomodado, o funcionário; não mais o "cooperador da ordem episcopal", mas a cruz do seu bispo ...

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O Evangelho de Lucas (18, 18 ss) nos fala das Exigências para o seguimento do chamado: deixar tudo! Os bens, a família, o lar, a cidade. A Escritura nos atesta que "Abraão partiu como o Senhor lhe tinha ordenado": do jeito de Deus, limpidamente, sem sofismas, sem tergiversações, sem arrazoados. E o Evangelho nos relata que os pescadores deixaram os barcos, as redes e o pai (Mat. 4, 18-22); que Mateus deixou a banca e o dinheiro do câmbio (Mat. 9, 9) ; que Paulo deixou o "status" de fariseu (Atos, 9). Sem deixar, não há liberdade de seguir. Porque o peso da bagagem retarda a ligeireza dos passos. E esta escolha não é ato acabado num momento. É contínuo exercício de renúncia (Mat. 16, 24) , no desprendimento dos bens, na entrega celibatária da vida, na corresponsabilidade madura da obediência. A recompensa, é grande: o céu. Vale dizer: DEUS! Na vida terrena, o cêntuplo, isto é, alegrias tão fundas que compensam as renúncias buscadas por amor.

(De hom111a de Dom Benedito de IDhoa Vieira Arcebispo metropolitano de Uberaba -no "O COM-PASSO", n9 45, dez. 82)

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FAMíLIA EQUIPISTA E VOCAÇÃO Em meio à imensa alegria que a ordenação de Frei Francisco Orofino representa para os que tiveram a gr aça de conviver com Miguel e Dilma e participar da história dessa vocação, e no contexto deste Ano Vocacional, impõe-se uma reflexão sobre a posiçã<? do casal equipista em face da vocação sacerdotal e religiosa. João Paulo II afirmou em Puebla que "uma das provas do compromisso dos leigos é a fecundidade nas vocações à vida conS(lgrada". Em 1981, por ocasião do Dia Mundial de Oração pelas Vocações, foi mais explícito: "1Como um terreno mostra a riqueza dos próprios sulcos vitais pela pujança e viço da messe que nele se desenvolve, assim umà comunidade eclesial dá prova do seu t'igor e da sua maturidade com o florescimento das vocações que chegam a nela afirmar -se." Uma comunidade eclesial dá prova do seu vigor. . . É hora de confrontarmos a imagem utilizada pelo Papa com a realidade que vivemos em nossas equipes, em nossas famílias. Que tipo de solo somos nós? A semente da vocação tem chance de brotar e desenvolver-se em nossos lares? Preocupamo-nos com isto na equipe? Qual o nosso estilo de vida? A autenticidade da nossa oração? A cüerência de nossas atitudes? O nosso empenho em servir? Quais, afinal, as nossas prioridades? Não será nunca suficiente insistir em nossa responsabilidade em darmos a conhecer Jesus Cristo aos nossos filhos, pela palavra e, principalmente pelo exemplo, sendo para eles "testemunhas da fé e do amor de Cristo" (LG 35). É essencial que atr avés de nós eles descubram Jesus Cristo como alguém presente no íntimo do seu coração, Alguém presente no irmão, principalmente no irmão que sofre, Alguém presente no mundo. Embora o Santo Padre nos advirta de que ''não é permitido falar deste problema (das vocações) em termos numéricos, burocráticos, como se se tratasse de simples recrutamento", pois a vocação é algo de sagrado, da ordem do espiritual e não do material, parece-nos importante perguntar-nos quantos sacerdotes, quantas religiosas as nossas famílias equipistas estão dando à Igreja ... Quando da celebracão dos 30 anos do Movimento no Brasil, divulgamos, na Carta Mensal de maio de 1980, pequena relação das vocações surgidas nos lares equipistas. Estivemos atualizando esses dados. Levando em conta algumas desistências e as novas vocações, temos, neste ano de 1983, 22 jovens se preparando para

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viver ou já vivendo uma vocação de especial consagração. Até julho, eram 16 rapazes em seminários - com a ordenação do Kiko, são agora 15 e 1 sacerdote! - e 6 religiosas. Se indicamos a seguir sua procedência, não é evidentemente, num intuito estatístico, mas com o objetivo de permitir que nos seja assinalada alguma omissão que possa ter ocorrido. Assim: no Sul, 7 são de Santa Catarina (1 de Blumenau. 4 de Brusque, 1 de Criciuma, 1 de Florianópolis) e 1 de Porto Alegre (Setor C); do Rio 2 (Setores B e E); de Juiz de Fora, 1; de Manaus, 1; no Estado de São Paulo, 4 são da Capital, 1 de Campinas, 1 de Dois Córregos, 2 de Itú, 1 de São Carlos e 1 de São José dos Campos. Possam esses números ajudar-nos a conscientizar-nos melhor da nossa responsabilidade. Para as 5. 000 famílias que somos, 22 vocações é pouco. . . - mesmo considerando que muitas dessas nossas famílias ingressaram no movimento em anos recentes. É o que nos leva a insistir na necessidade de uma · séria reflexão, em nível de equipe e, principalmente, em nível de casal._ Para orientar esse verdadeiro exame de consciência - pode- . da ser o tema do nosso dever de sentar-se neste mês vocacional - nada nos parece mais apropriado do que as palavras de João Paulo II na "Familiaris Consortio": "A família que está aberta aos valores do transcendente, que serve os irmãos na alegria, que realiza com generosa fidelidade os seus deveres e tem consciência de sua participação cotidiana no mistério da Cruz gloriosa de Cristo torna-se o primeiro e o melhor seminário da vocação à vida consagrada ao Reino de Deus" (F. C. 53). Finalmente, le~bremo-nos em nossas orações desses jovens que souberam ouvir o chamado de Deus: possam eles levar até o f1m a opção que fizeram. E possa o seu exemplo despertar em muitos outros, irmãos e amigos, a disponibilidade e a coragem de responder t ambém eles um sim generoso Aquele que não se cansa de chamar: "Vem e segue-me ... " Pesquisas revelam que 30 % dos jovens possuem o germe da vocação - mas não existe um clima vocacional no seio das famílias. Que não seja assim com as nossas. Possamos ser o terreno bem adubado e bem regado para que a semente possa desabrochar. E não deixemos de oferecer constantemente os nossos filhos, caso o Senhor da messe deseje chamar - sinal de Sua predileção - algum deles para servi-lo numa vocação de especial consagração. E se Ele porventura dignar-se atender à nossa prece, saibamos acolher , na alegria e na ação de graças, esse dom de Deus à nossa família para a Sua Igreja.


"RESPOSTA DE DEUS A COMUNIDADE ORANTE"

Esta é urna das melhores e mais completas definições de vocação que já encontrei: "Vocação é a resposta de Deus providente à comunidade orante" (Puebla, 882). Se é Deus quem escolhe, quem toma a iniciativa, totalmente gratuita de sua parte (cf. Jo. 15, 16), fazendo-nos, por seu amor, "aptos para ser ministros da Nova Aliança" (2 Cor. 3, 4-6), esta escolha pode ser alcançada também pela força da oração. A comunidade que tem -

um profundo senso de fé

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corresponsabilidade na ação missionária da Igreja

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consciência de que Deus não falha quando o homem se deixa guiar por Seu Espírito,

esta comunidade recebe de Deus a graça de ver florir, em seu meio, muitas e boas vocações sacerdotais e religiosas, para o bem de todo o povo cristão. Jamais o Senhor se deixa vencer em generosidade. A comunidade que ora, trabalha e se sacrifica em prol das vocações, a providência de Deus supre com a abundância de sua bênção. É

sempre a mesma história que se repete: quando o chão está bem preparado, a semente produz muitos frutos (cf. Mt. 13, 1-23).

Talvez haja espinhos e pedras a remover. Talvez haja terra que necessita um pouco m .a is de adubo. Tudo isso, porém, é trabalho que nos cabe fazer.

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O Senhor é o semeador. A semente da vocação é lançada, constantemente. Se encontrar terra boa, preparada, receptiva; ter· ra cultivada -

pela oração constante pela fé comprometida pelo sacrifício consciente pela esmola generosa,

ela crescerá para desabrochar numa vida de doação e de renúncia pelos outros. A vocação é, assim, UMA CONQUISTA DA FÉ. Resposta amorosa de um Deus que é Pai e quer que nada falte a seus filhos. "No complexo problema vocacional é necessário sempre e em todos os níveis, o recurso ininterrupto à oração pessoal e comunitária. Quem chama é Deus; quem dá a eficácia à evangelização é Deus. O próprio Cristo nos diz: 'A messe é grande e poucos os operários. Rogai ao Senhor da messe que envie mais operários' (Lc. 10, 2)" (Puebla, 862). É

preciso, pois, orar. E orar muito.

Orar no Espírito de Jesus, que nos recomendou expressamente que pedíssemos mais operários, visto os campos estarem maduros para a colheita, e faltarem ceifadores. Se tudo isso, em termos de oração, vale para grande comunidade, muito mais vale ainda para a pequena comunidade: a

família. É lá que tudo se inicia. É lá que são tomados os primeiros cuidados, no cultivo do coração. No desabrochar da fé. No senso da solidariedade. A influência dos pais, muitas vezes, é decisiva.

"A árvore boa produz bons frutos" (cf. Mt. 7, 17). De uma árvore má, o que se pode esperar? É no convívio com os pais que tudo se inicia. É seu testemunho que faz o jovem agir.

E se o coração dos pais for vazio de Deus, como será o dos filhos? ... Pe. Carlos A. Schmitt (Do livro ''Pais conscientes, filhos realizados - O futuro começa em casa - Reflexões Vocacionais")

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ALGUMAS PERGUNTAS PARA REFLETIRMOS EM CASAL, EM EQUIPE, EM COMUNIDADE

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Quais os valores cristãos que deveriam ser vividos para que a. fa.müia. se tornasse um celeiro de vocações?

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Estamos nós, pais, sendo "os primeiros e insubstituíveis educadores e catequistas dos nossos filhos", ou descarregamos esta responsabilidade sobre o colégio e as catequistas?

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Como pais cristãos, desejamos, explícita e conscientemente, que algum dos nossos filhos seja por Deus chamado para o sacerdócio ou a vida religiosa?

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Costumo, pessoalmente, rezar pelas vocações e costumamos fazê-lo em família?

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A nossa comunidade tem consciência da dimensão comunitária da vocação, de que todos somos responsáveis pela existência ou pela falta de vocações?

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Se o futuro dos filhos depende em grande parte do testemunho e da influência dos pais, nossa vida conjugal está sendo um incentivo a uma vocação que se vive com alegria e abnegação?

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Se Deus quer a salvação de todos e espera a minha colaboração, o que estou eu fazendo de concreto para que os outros descubram e amem sem~ pre mais o Cristo?

· (Do

livro "Pais conscientes filhos realizados")

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COM A PALAVRA OS CONSELHEIROS ESPIRITUAIS

... Compete à família em primeiro lugar educar os filhos para uma boa opção vocacional. O Concílio Vaticano 11 afirma: "Nesta espécie de Igreja doméstica que é a família, os pais devem ser para os filhos, pela palavra e pelo exemplo, os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria de cada um, especialmente a vocação consagrada" (LG 11). Infelizmente, porem, o que se observa é que a maioria das famílias, no tocante à profissão e à vocação, apenas se restringem a uma educação domesticadora, isto é, a que tende a adaptar o filho para que ele seja feliz em uma sociedade injusta e competitiva. Se falamos a adolescentes e jovens utilizando os mesmos critérios e valores da sociedade de consumo, não fazemos outra coisa que amoldá-los às regras do jogo dessa mesma sociedade. Nada mudará então, de geração em geração. Falar de vocação sacerdotal e vida religiosa, preparar os jovens e as famílias para debaterem esse assunto sem preconceitos e tabus supõe uma profunda mudança de critérios e um sincero amor à Igreja. Quem tem coragem de agir assim, na teoria e na prática? Minha pergunta é esta: Nossos católicos, nossas famílias estão preparadas para dar orientação vocacional a seus filhos, para ajudá-los no discernimento vocacional? É urgente, a meu ver, que os movimentos familiares comecem a abrir novos caminhos nesse sentido, inserindo sistematicamente o tema Vocação em seus roteiros de reuniões, em seus dias de formação, na preparação dos jovens casais. É urgente mudar a ment<Jlidade de nossas famílias, infelizmente ainda tão fechadas e mesquinhas em se tratando de vocação.

É

preciso passar do receber ao dar.

Cada vez mais me convenço de como é verdadeira esta afirmação que já ouvi tantas vezes: Todo movimento de Igreja que não tem uma dimensão vocacional está fadado a se tornar um movimento falido. Pe. Achiles Paceli Pinheiro Conselheiro Espiritual da Equipe 12 de Marília

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NóS, OS PAIS "CATóLICOS", E A VOCAÇÃO SACERDOTAL Sondagem realizada por Maria Enid

Perguntei a 27 casais católicos se gostariam de ter um filho sacerdote. 13 responderam: sim, e muito. Onze disseram: não. Três disseram aceitar sem muito entusiasmo. Os motivos alegados para o "sim" foram: -

Que seria a maior dignidade recebida em suas vidas. Que seria uma grande graça recebida de Deus.

-

Que quem casa um filho perde-o, e quem tem um filho padre ganha um santo.

-

Que um filho sacerdote ajudaria a salvar o mundo. Que um filho padre representaria Cristo na terra. Que o filho sacerdote teria uma vida difícil, porém, desde que fosse realmente vocacionado, conseguiria assumi-la, passando a vivê-la dedicando-se aos outros.

Os motivos alegados para o "não": -Todo ser humano tem direito a uma família e pode servir a Deus dentro do estado matrimonial. - Sendo o sacerdócio uma vida de renúncia e abnegação, nossos filhos não estão habituados ou preparados pa~a ela. - Por possuírem um ou dois filhos, esperam vê-los casados para terem seus netos. O sacerdócio afasta o filho do convívio familiar. Os padres são por demais solitários. Muitas vezes os padres vão para países distantes. Se o celibato fosse optativo e não obrigatório, não teriam objeção quanto a terem um filho sacerdote. Esta última declaração, aliás, foi a mesma da maioria dos jovens de 18 anos que também consultei. -

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Quanto aos adolescentes de 12 a 14 anos, preocupam-se mais com o aspecto de o padre precisar saber falar fluentemente e sem erros para a boa compreensão dos ouvintes. Temem também viver longe da família e, ainda, não terem mais tempo para o lazer e os esportes.

o Conversando depois com Padre Guilherme, reitor do Seminário dos Missionários do Verbo Divino, mostrei-lhe o resultado da minha pequena pesquisa e perguntei-lhe o que achava das respostas. Respondeu que já esperava por elas. Acha que de lares onde reina muito conforto e, principalmente, onde ninguém está habituado a doar-se, repartir, sacrificar-se pelos outros, é muito difícil sair uma vocação religiosa. Os pais, dentro de uma sociedade de consumo, se preocupam mais em dar tudo aos filhos, em termos materiais e de bem estar, e assim não os preparam para uma vida de doação. Atualmente, aqui no Brasil, das comunidades mais simples, onde as pessoas assumem realmente as suas responsabilidades, é que surgem as vocações sacerdotais.

• De modo particular, dirijo o meu pensamento às famílias, que tanta importância têm no favorecer o desenvolvimento dos gern:1es da vocação. Espero que tenham sempre em grande estima e apreço o dom da vocação religiosa para os seus filhos e para as suas filhas, sentindo-se honradas se o Senhor quiser chamar algum deles a. segui-lO de perto, na entrega de si a Deus na vida sacerdotal ou religiosa.

JOAO PAULO 11 (No Dia Mundial de Oração pelas Vocações, 24 de abrll de 1983)

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PAI...

E

PADRE

Desde menino queria ser padre. E ficara esperando um chamado de Deus. Por não sentir uma manifestação direta do Pai, não se achava digno - e acabou casando. Uma sua irmã, freira, m·ava para que Deus chamasse ao sacerdócio um irmão entre aqueles que ainda não se haviam encaminhado para o casamento. Ao perceber que esses se afast avam da religião, então rogava: pelo menos um sobrinho! E Deus ouviu. Naquele ano em que a tia pedia tão intensamente, nasceu Aniger, que hoje conta: desde que me lembro - já com 5 anos de idade - , sempre quis ser padre. Quando, nos seus dez anos, procurou o pai para manifestar-lhe o seu desejo, o pai - esse mesmo pai que tanto quisera ser padre - lhe disse: meu filho . esta é uma decisão muito séria , você precisa pensar bastante; dentro de um ano, se você ainda quiser, veremos. Um ano depois, o menino adentra o escritório do pai. .. Quem poderia imaginar que este mesmo menino, 40 anos depois, iria ordenar sacerdote o próprio pai? O Dr. Vicente Mellilo, aos 80 anos de idade, foi ordenado pelas mãos do próprio filho! A história começa com a decisão, aos 14 anos, de tornar-se vicentino. Um trabalho que foi desenvolvendo cada vez m ais, inclusive com todo o apoio, mais tarde, da esposa e no qual foi seguido pelo filho mais velho. No fim de sua vida, já viúvo, um dia - era o dia 10 de maio de . 1963 "7• ao queixar-se ao Cardeal Rossi, então Arcebispo de São Paulo, da falta de assistência sacerdotal para seus velhinhos dos asilos da Vila Mascote e de Bussocaba, pediu-lhe que lhe desse um padre, mesmo que fosse um padre idoso, que não fizesse falta numa paróquia. Então o Cardeal, que conhecia o Dr. Mellilo desde o tempo em que este fazia palestras no Seminário, lembrou-se que, um dia, o Reitor (hoje Arcebispo de Uberaba) lhe sugerira: por que não ordenar o Dr. Vicente Mellilo? E respondeu-lhe que, se quisesse, ele mesmo poderia ser esse padre ... "Eu sempre quis ser padre, Dom Agnelo, mas . . . agora, como posso?"

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Três meses depois, no dia 15 de agosto, era a ordenação sacerdotal daquele que, aos 80 anos, via finalmente realizado o sonho de sua juventude. Preparou-o o próprio filho, Dom Aniger, então Bispo de Piracicaba, que para isso tirou uma licença dos seus encargos pastorais. Ninguém pode conceber a emoção dos dois: o filho, ao ordenar o pai, o pai, ao ser ordenado pelo filho ... Três anos o Padre Vicente Mellilo exerceu seu sacerdócio junte aos queridos assistidos dos asilos da Sociedade de São Vicente de Paulo, levando à plenitude a obra à qual dedicara a vida. Com 83 anos, Deus achou que estava na hora de o servo bom e fiel entrar na alegria do seu Senhor e chamou-o para mais perto de si. A história desse homem, que, ao tornar-se vicentino, desde cs 14 anos de idade fez a sua opção pelos pobres, que, desde menino, queria servir a Deus da maneira mais perfeita, e acabou realizando uma e outra coisa, merece ser contada, para edificação de todos - e uma de suas filhas está empenhada em escrevê-la. Neste Ano Vocacional, a história excepcional de um homem que Deus chamou para ser pai de um sacerdote para mais tarde ele mesmo ser sacerdote, a quem Deus inspirou servi-lO nos seus pobres muito antes que a Igreja da América Latina proclamasse a sua opção pelos pobres, precisa ser conhecida e divulgada.

o Outra de suas filhas, Pérola, que, com Cícero, foi um dos casais pioneiros das Equipes de Nossa Senhora em Campinas, escreve: Papai desde pequeno parecia predestinado ao serviço do Senhor: reproduzindo em casa os sermões que ouvia aos domingos na Igreja, foi aos poucos trazendo para uma vivência mais cristã O'> seus familiares, a começar por seus pais e irmãos mais velhos. Suas irmãs aprenderam com ele a recitação do terço e o espírito de sacrifício, tendo três delas, mais tarde, se tornado religiosas. Fez-se vicentino desde a mais tenra mocidade. Antecipando-se a Puebla, sua "vocação" de se voltar para os pobres e desamparados já desabrochava. Ao mesmo tempo, endereçava-se ao jornalismo, com sua pena brilhante e vigorosa. Confessou mais tarde a seu filho bispo que se naquela ocasião tivesse ouvido um chamado direto de Deus ter-se-ia feito sacerdote. Deus, porém, tinha para ele outros caminhos e chama-lo-ia apenas na "undécima hora". . . talvez para recompensá-lo logo depois e entre os primeiros. -31-


Casando-se com Regina Morato do Canto, escolheu a pessoa ideal para compartilhar a sua Missão. De fato, foi ela, por mais de cinqüenta anos, a fonte de energias, a força propulsora que o animou nos períodos de dificuldades e de desânimo; foi ela a incentivadora dos grandes passos que deu na vida, como o tornar-se advogado e filósofo, já depois de casado e enquanto se rodeava de numerosos filhos (onze ao todo). E os frutos não demoraram a aparecer. O trabalho junto aos pobres: a "Assistência Vicentina aos Mendigos", os Asilos de "Vila Mascote" (em terrenos doados pelo casal, em grande parte); o Sanatório para Tuberculosos, com sua capelinha envidraçada no centro do pátio, para que os doentes pudessem assistir à Santa Missa de seus leitos; a Casa para Crianças Excepcionais; o grande "Asilo de Bussocaba", com pavilhões e pavilhões a se multiplicarem em progressão geométrica! A construção do enorme edifício da Assistência Vicentina, brotado como que do nada. . . Seu trabalho na direção da Casa Maternal, e tantos outros, difíceis de enumerar ... A par de tudo isso~ sua palavra de leigo consciente - já muito antes do Concílio Vaticano l i - vibrava no ar e até hoje ressoa nas praças públicas e nos claustros, nas Universidades e nos Tribunais, como a da Igreja Viva: eram as grandes causas, defendidas sempre com calor; eram as conferências, as teses nos vários Congressos Eucarísticos do país, os retiros pregados a Padres e Seminaristas (!), as Conferências semanais vicentinas. . . Sabia fazer-se compreender tanto pelos intelectuais como pelos mais humildes velhinhos, pois falava a linguagem do Evangelho. Houve uma época, porém, em que Papai ficou desarvorado : foi quando a sua rainha partiu e ele perdeu o apoio da retaguarda. O impulso que levava, no entanto, era tão forte que venceu mais aquela etapa. Continuou a caminhada com esforço redobrado. Lá adiante, Cristo estendia-lhe a mão: - "Pedro, tu me amas? Apascenta minhas pobres ovelhinhas". E respondeu: SIM! Respondeu com todas as forças que lhe restavam, aos 82 anos de idade, mas com o entusiasmo de um jovem. E ordenou-se Sacerdote - "Sacerdos in aeternum". Disse dele D. Paulo de Tarso Campos: "Os Sacerdotes, em geral, primeiro se ordenam para depois desempenharem a vida de padres no mundo ; ele, fez o contrário: viveu uma vida verdadeiramente sacerdotal e depois, como um coroamento, ordenou-se Ministro do Senhor." -32-


A vida cristã é uma vocação. Há uma vocação em todos os estados. A vida familiar, a vida matrimonial é uma vocação se procuramos vivê-la bem, na plenitude do que ela contém, na plenitude dos deveres e do ideal cristão. ~ uma vocação, em certo sentido, exemplar,

porque também a vocação sacerdotal vem inscrita no quadro das núpcias, as núpcias de Cristo com a Igreja. Estas núpcias -

Cristo esposo da Igreja

e a Igreja esposa de Cristo -

são uma imagem bíblica,

de São Paulo, muito eloqüente, tão profunda é a vocação dos esposos.

João Paulo 11

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OLHANDO PARA TRAS "De agora em diante, fazei, Senhor, que estes Vos bendigam sempre mais." (Tobias, 8, 19)

Esta frase, nós quisemos colocá-la no nosso convite de casamento e repeti-la no nosso convite de Bodas de prata. Vinte e cinco anos se passaram ... tempo de reflexão, revisão, retorno ... Lembro-me do início de tudo e de como Deus sempre esteve presente, em todos os momentos, de uma maneira tão clara. quase palpável. 8 de dezembro de 1956. Festa da Imaculada Conceição. O Coral do qual eu participava cantou durante a Missa solene e, mais u:::na vez, eu pedia a Nossa Senhora que me fizesse encontrar um r apaz que me amasse verdadeiramente. A noite, fui a uma festa. Estava muito amargurada, com graves problemas familiares, mas consegui dizer: "Meu Deus faça-se a Vossa vontade, e não a minha ... " E a vontade de Deus se realizou ali, da forma mais maravilhosa possível! Naquele exato momento encontrei aquele que fora escolhido desde toda a eternidade para junto comigo palmilhar o caminho do Amor!

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Um mês depois ficamos noivos, para nossa alegria e de todos os que nos amavam. Depois, meu noivo teve de fazer uma viagem à Europa. Essa separação, porém, serviu para fortalecer ainda mais os nossos sentimentos e para documentá-los através de uma assídua correspondência. Destas cartas retiro alguns trechos que considero importantes porque marcaram para sempre o rumo da nossa vida: · . "Não é o maior milagre do mundo eu ter te descoberto no meio de milhões de pessoas? E logo aquela com quem eu sonhara a vida toda! Quero te fazer imensamente feliz, desejo com todo o meu ser e minha alma ser seu marido. esposo, amante eterno, companheiro, amigo íntimo em todas . as horas ... na alegria, na tristeza, na tribulação, no gozo; sentir como você sente, rir como você ri, chorar, espelho de minh'alma!" . "Sempre quis ter um amigo íntimo e nunca consegui encontrá-lo. . . Deus, porém me mandou um amigo intimíssimo - você! Amiga para toda a vida! mulher, irmã, alma gêmea! Tive uma ligeira sensação do Amor de Deus, de como esse Amor é grande, infinito! Amando você tanto é que passo a compreender a imensidão do Amor divino! Muitas verdades da nossa religião, através do nosso am,or começam a se tornar claras. Começo a compreender uma das finalidades do matrimônio: a santificação e aperfeiçoamento mútuos. Espalhe a nossa alegria para todo mundo, qual · perfume contagiante. Que a nossa união sirva de exemplo para muita gente, e traga para junto de Deus muitos que vivem afastados dEle". . "Você queria ter uma felicidade tão grande sem sofrer um pouquinho? Os nossos pais querem ter a sensação de participarem de nossa felicidade, eles têm o direito de falar o que quiserem, isto em nada alterará a nossa vida, se soubermos conviver com eles. As vezes isto é muito duro, mas vamos levar as oposições deles com bom humor e nunca alimentemos sentimentos de raiva cu despeito. Aliás, o que representa tudo isto comparado com o tesouro do nosso Amor? São Paulo diz que da mesma maneira que se purifica o ouro fundindo-o num cadinho, assim também o nosso amor, para ser provado e melhorado, precisa passar pelo cadinho de sofrimento, da paciência... Com amor se vence tudo!" . "Se nós que somos humanos conseguimos passar horas pensando um no outro, então quando se possuir o verdadeiro Amor de Deus, pode-se pensar nele por toda a eternidade - isto é, uma meditação eterna. Por isso, compreendo que para os santos não era nenhum sacrifício e até pelo contrário era um imenso prazer ficarem continuamente unidos a Deus em pensamento.

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Depois de casados amar-nos-emos mais ainda, pois as alegrias se renovam sempre e raramente se atinge a estagnação. E os nossos momentos de tristeza serão apenas uma fração do tempo feliz ... Viva quem criou o Amor! Obrigado, meu Deus! Porque me fizeste conhecer o meu Amor! Eternamente obrigado!"

o Ele voltou um mês antes do casamento. Um amigo, Luís Saraiva, convidou-nos para assistirmos a uma reunião de equipe em sua casa. Nem é preciso dizer que ficamos encantados e nos propusemos finnemente a formar uma equipe logo depois de casados. Alguns dias depois, por "acaso" (por Deus!), o Pe. Caffarel veio ao Brasil e mais uma vez nós (os privilegiados!) fomos convidados a participar de uma reunião com ele. Fomos apresentados ao querido Caffarel que, com um carinho todo especial, nos desejou felicidade em nosso matrimônio e se disse muito impressionado ao ver que nós, noivos ainda, já nos interessávamos pelas Equipes. Nossa Senhora devia estar sorrindo .. .

o Casamo-nos na Igreja Nossa Senhora do Paraíso- Ela queria apenas nos cochichar que preparara para nós, desde aquele dia, um paraíso aqui na terra que não terminará nunca! Formamos nossa primeira equipe com casais recém-casados, com os quais compartilhamos alegrias e tristezas. Nosso casal piloto - outra graça especial - Darcy e Dagmar Veluttini, marca· ram e orientaram com sabedoria a nossa vida. A semente plantada com carinho sempre dá bons frutos.

o Quando olhamos para trás, nos perguntamos: valeu a pena? recomeçaríamos de novo? foi tudo tão maravilhoso como sonhamos? Sim! Mas não podemos mentir: tivemos dificuldades, in· certezas, sofrimentos bem grandes. Deus, porém, sempre nos socorreu e guiou, transformando as nossas angústias numa paz mis· teriosa e inexplicável. Descobrimos, quando esperamos o nosso primeiro filho, que o nosso RH não combinava. Nem por isso desistimos de ter uma família numerosa. Apesar das contra-indicações, vieram os 6 sadios e maravilhosos dons de Deus! Depois de dez anos de casados, um incêndio destrói em quinze minutos a nossa fábrica. Mais uma vez Deus se manifesta e nos protege de uma maneira especialíssima, pois em dois meses tudo -36-


volta ao normal - e melhor ainda: num local mais amplo e, ainda por acréscimo, viajamos para a Europa para poder equipar melhor a fábrica, o que foi como uma segunda lua de mel! Um tem servido sempre de apoio para o outro. Quando um desanima, o outro o encoraja. Quando os filhos percebem que nós dois estamos desanimados, são eles que, por sua vez, inspirados pelo Espírito Santo, nos sacodem e nos relembram tudo aquilo que até hoje lhes procuramos ensinar e transmitir, ou seja, que "para Deus nada é impossível e, quando Ele quer, opera maravilhas". Um lar é uma porta que se abre para acolher a todos os que nela batem, mas principalmente os tristes, angustiados, órfãos, abandonados, doentes e sofredores. É isto que procuramos e procuraremos sempre viver em nossa casa. É muito difícil tentar traduzir em palavras a nossa maravilhosa aventura de amor. Tudo é importante, tudo é grandioso, e Deus nos cumulou de graças e milagres nestes vinte e cinco anos. Deixamos alguns dos nossos filhos testemunhar por nós:

"Acho que o melhor presente que já recebi foi ter nascido nesta casa. Quando eu paro e penso, o que eu recebo de vocês é amor demais! Eu sinto uma alegria constante. Não me lembro de nunca ter sentido falta dessa alegria. Todo dia sinto esse calor interior, esse receber, sempre e sempre tudo. Se existe alguma coisa em que acredito realmente, é que isto é Deus. Esse sentimento vem por vocês. Este Deus está em vocês. E eu sou super-feliz por isso." (N., 20 anos). "Deus é grande, Deus é maravilhoso. E nos pôs no mundo para nos unirmos uns aos outros cada vez mais. E nos deixou uma luz muito forte bem pertinho de nós. E que sempre está acesa para iluminar o nosso lar; essa luz tão grande e tão cheia de calor humano são vocês vivendo o amor aqui." (L, 14 anos). E o amor que Ele fez nascer em nossos corações hoje cresceu, se fortaleceu, frutificou e procura se irradiar através de nossa família para todos os que cruzam o nosso caminho. Só podemos agradecer e louvar o bom Deus por nos ter dado a Graça imensa de conhecê-lo, amá-lo e servi-lo. M. e F.

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J U N T O S Num trabalho intitulado "A minha esposa", Tertuliano, autor cristão do fim do Século II, escreve esta bela página sobre a vida conjugal.

Como parar de celebrar a felicidade do matrimônio?... Que doce jugo para dois crentes unidos pela mesma esperança, a mesma fidelidade, a mesma maneira de viver, a mesma religião ... Uma só carne, mas também um só espírito: eles rezam juntos, se ajoelham juntos; jejuam juntos. Eles se instruem um ao outro se exortam um ao outro, se apoiam um sobre o outro. Juntos são vistos na Igreja juntos vão comungar; na necessidade, como na adversidade, como nos dias felizes, eles estão juntos! Não têm segredos um para o outro; não fogem um do outro, e não são um fardo um para o outro. Visitam de bom grado os enfermos e ajudam os necessitados. Não dão esmolas a contra-gosto suas oferendas são levadas com alegria; dedicam-se tranqüilamente à sua tarefa cotidiana. O sinal da cruz não é feito às escondidas A ação de graças não é truncada a oração é feita em alta voz. Eles cantam alternando os salmos e os hinos ; rivalizam no louvor do Senhor. Onde vê e ouve isto, Cristo se regosija Àqueles, Ele envia a sua paz . .. E onde Ele está, não está o Maligno. Tertuliano

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Aí encontram os esposos a sua vocação própria de serem um para o outro e para os filhos as testemunhas da fé e do amor de Cristo. A família cristã proclama em alta voz as virtudes presentes do Reino de Deus e a esperança da vida bem-aventurada. E deste modo, pelo exemplo e pelo testemunho, argúi o mundo do pecado e ilumina aqueles que buscam a verdade.

Lumen Gentium 35

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AJUDANDO OS CASAIS A VIVER A SUA VOCAÇAO

Quando a vocação matrimonial se apoia na vocação sacerdotal (e muitas vezes vice-versa), grandes são as maravilhas operadas por Deus. Alguns sacerdotes, talvez por acreditarem mais que outros na vocação do casal à santidade, são especialmente vocacionados para serem Conselheiros Espirituais de equipe. Através dos exemplos que seguem desejamos homenagear os sacerdotes que são e têm sido luz para a nossa caminhada e agradecer esse Vel'· dadeiro dom de Deus ao nosso Movimento.

CARTA DE UM CONSELHEIRO A UM CASAL AMIGO

14 de março de 1983 Meus queridos e inesquecíveis em Cristo ... Por aqui as coisas correm maravilhosamente. Urna cidade muito mais tranqüila, onde a gente respira mais ar em todos os sentidos, apesar de que a minha função continue a ser a mesma de sempre, encarregado de disciplina, função esta que gostaria já de deixar, para dedicar algo mais a minha vida em função do meu sacerdócio. São 24 anos na mesma função, além de ser esta muito ingrata pela tensão permanente e pela violência que a gente tem que se fazer para que a ordem possa se manter. Mas ... Deus assim o quis até agora, e o importante não é o agrado ou desagrado na minha vida, mas o reino de Deus, a sua vontade, tantas vezes tão oposta à nossa. Aqui, com a graça de Deus e a proteção de nossa Mãe querida, consegui formar urna Equipe, a primeira de São José do Rio Preto. Parece que vai indo muito bem. Tem a pilotagem de um casal do Setor de Catanduva. Pretendo formar mais uma até junho, e aí parar até que estas duas equipes adquiram o verdadeiro espírito do Movimento. Não gostaria que fossem corno a espuma, lindas, mas sem consistência alguma. Não tenho pressa. Não me interessa o número, mas a qualidade. Fui convidado para o movimento dos Cursilhos, mas não aceitei porque, sem desprezar este,

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valorizo mais o movimento das ENS, e acho que aqui há um bom campo, e é, ao meu ver, uma necessidade urgente. Eu acredito Qlle a partir destas duas Equipes, uma vez que estejam bem formadas, rapidamente haverá de se estender o Movimento, com alicerces firmes. Peço as vossas orações, como igualmente as orações dos demais equipistas, para que o Movimento possa se desenvolver nesta cidade, e sempre em benefício do povo de Deus. Que Deus nos assista em todos os momentos, para que a sua vontade seja o princípio, o meio e a meta de todas as nossas atividades. Que nada se faça sem ser a sua vontade, mesmo que isto implique o sacrifício da minha vida. Lembro-me muito de todos vocês e a Deus encomendo nas minhas orações. Que Deus vos abençoe em todos os momentos, para que a vossa dedicação e os vossos esforços frutifiquem em beneficio da messe do Senhor. Não vos desanimeis pelo fato de estardes ainda sem Conselheiro Espiritual, Deus não vos abandonará. Não esqueçais que quando aparentemente Cristo estava sozinho na cruz, seu Pai estava junto a Ele, embora sem nada poder fazer, porque se empenhou em amar ao homem com toda a sua infinitude, até entregar-se no próprio Filho. Quando não é possível trabalhar dentro das condições e possibilidades humanas, deve-se trabalhar então com a fé e na fé. Essa fé nua, crua e não poucas vezes cruel, mas sempre amorosa, pois é a única forma de entregar-se totalmente, e sem condição alguma, ao próprio Deus. É então que com mais propriedade nos tornamos meios para os fins de Deus, porque de outra forma é muito possível que façamos de Deus um meio para os nossos próprios fins. Parabéns pela escolha de que fostes objeto... É motivo de grande satisfação, mas também de não menor responsabilidade. Em ambas as circunstâncias, só cabe uma coisa, entregar-se total e incondicionalmente nas mãos de Deus. Nunca esqueçais que somos escolhidos por Deus como meios para Ele realizar seus planos. Sempre terão a sua graça. Não é o mais importante saber o que se faz, mas fazer por Ele aquilo que se faz, mesmo sem compreendê-lo. As coisas de Deus não estão tanto para serem compreendidas como para serem sentidas, amadas e realizadas. Se agirmos sempre nestes termos, podeis ter a certeza absoluta de que Seu Reino será realizado e ampliado. Possivelmente não o nosso, mas o dEle sim. Que Deus vos acompanhe em todos os instantes da vossa vida, para que saibais ser fiéis colaboradores com Ele. Carinhosa e saudosamente vos abraça o amigo em Cristo que vos abençoa e se encomenda às vossas orações. Pe. Chiquinho, O.S.A.

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RECADO DE UM CONSELHEIRO A SUA EQUIPE Antes de uma reunião à qual não podia comparecer

Meus queridos irmãos da Equipe 3: Mais do que nunca considero vocês como os "meus" da Equi- · pe de Nossa Senhora. Quero entrar na reunião de hoje, como o Anjo Gabriel, e dizer a vocês, através deste "recado": "Boa noite, meus queridos e amados de Deus; que vocês estejam "cheios de graça"; o Senhor está com vocês. · Que vocês reflitam, rezem e compartilhem suas vidas: estas reuniões são momentos fortes, privilegiados, horas de "graça" na vida de vocês. Se alguma perturbação os domina, se algum receio ou dúvida os perturba, lembrem-se: o Senhor está com vocês; vocês são agraciados do Senhor nosso DEUS. Então, não tenham receio. Nas reuniões vocês terão a luz, conceberão a luz e poderão transmitir luz aos seus lares, aos seüs filhos e também a outros lares. Deixem o Cristo entrar em seus corações; concebam-no em suas mentes, para "dar à luz" a tanta gente que vive nas trevas. Acreditem: eu amo vocês no Senhor Jesus. De vocês: Padre José. <Obs.: A equipe, que tinha então seis meses de vida, está no seu sétimo ano.>

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HA UM ANO ... DR. MONCAU VOLTAVA PARA O PAI

Sua presença física, tão franzina, não está mais entre nós, mas sua forte presença espiritual estará sempre tão ou mais viva em nosso coração, pois agora ele entrou na posse da comunhão plena com o Pai. Todos nós, nas ENS, somos devedores de seu imenso amor, de sua enorme capacidade de trabalho e de sua entrega total a Deus e às ENS juntamente com sua querida esposa, Da. Nancy. Mas . . . "Um grande amor jamais morre''. Morre o invólucro, mas não o amor. Ele continua vivo e ativo em nós, no meio de nós. Que ele nos transmita essa força do amor que transcende toda limitação humana para irromper na Comunhão Divina. Que ele nos ajude, a todos nós que ainda sentimos o peso, as incertezas, as dores e a pobreza desse invólucro humano, que tanto nos limita no encontro do "Caminho, da Verdade, da Vida". Que ele nos ajude a termos forças para seguir seu exemplo de pioneiro, de bravo, de lutador, de amigo, de pai, de despojado, de simples . . . mas sobretudo, de crente e de filho de Deus, que dedicou toda a sua vida ao trabalho da expansão do seu Reino de Amor aqui na terra. Felizes fomos nós por termos tido o privilégio de sua amiza· de e do seu convívio enriquecedor. Felizes somos nós por contarmos com mais um intercessor a pedir por aqueles que em vida ele amou e pelas ENS, pelas quais se doou até o último dia de sua vida. Marisa e Fleury

o Trecho dos "Cadernos de Reflexão" do Dr. Moncau, nos quais transparece a sua vocaçio para as Equipes de Nossa Senhora.

Estou lendo a belíssima conferência do Pe. Caffarel, "A Ecclesia". Dentre as condições para que uma reunião de cristãos, uma reunião de equipe seja uma "ecclesia", está a ruptura. Romper

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- separar-nos daqueles a quem estávamos ligados - farnílüi, filhos, trabalho, profissão, preocupações e atender à convocação com a alma inteiramente disponível. E o Pe. Caffarel recorda os chamados feitos a Levi: "Vem e segue-me ... ", a presteza com que ele responde ao chamado, abandonando o Telônio e tudo o màis... O chamàmento coletivo do povo hebreu: "Sai do Egito ... " Atender a esta convocação de Deus, que se concretiza na Aliança feita no Sinai, exigiu dos Hebreus abandonarem o Egito, cs seus hábitos, o seu pequeno conforto e que se pusessem em marcha e consentissem na dura lei do deserto! Meu Deus, estas palavras são a concretização de minhas . preocupações para convosco. Um dia, há alguns anos, eu recebia a carta do Pe. Caffarel. . . Eu compreendi, eu ouvi a vossa convocação e eu me entreguei de todo o coração ao trabalho das Equipes. Eu não hesitei em abandonar mesmo uma parte do meu trabalho, a abrir mão de uma parcela do meu salário mensal, para poder me dar mais às Equipes e responder à vossa convocação. Meu Deus, os anos passaram, as Equipes se desenvolveram, eu achei outras almas generosas que responderam à convocação que representou a vind:;t do Pe. Caffarel, pela palavra deste homem de Deus. Mas eu sinto, Senhor, que as Equipes exigem que alguém dê mais de seu tempo para poder "pensar" os problemas que se apresentam, coordenar o trabalho e as ta~efas que, por estarem muito dispersas, perdem sua unidade! Est.a rá aí uma nova convocação, a exigir uma nova ruptura? Não haverá aí um pouco de presunção de minha parte em crer que é a mim que incumbe esta tarefa? E isto exigiria que eu deixasse uma ou outra de minhas ocupações, reduzir ainda mais a receita, quando a família, com o crescimento dos filhos e a inflação crescente, exige cada vez mais despesas . .. Entrego-me sem mais às mãos da Providência, em vossas mãos, Senhor. Não seria tentar o Senhor?... Julgar-me com o direito a esse olhar especial de Deus? . .. Temeridade? ... Senhor, abra-me os olhos! Senhor, suscite apóstolos em nossas equipPs, para vossas Equipes. (4-8-1958)

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CARTA DE UM CASAL COMEÇANDO SUA V!DA MATRIMONIAL

Salvador, 12 de maio de 1983

Querida família, tudo bem?

Estou escrevendo-lhes hoje porque faz três meses que nos casamos e este é um dia em que minha alegria cresce mais e mais, pois nunca pensei que pudéssemos viver com tanta felicidade e amor. Até mesmo a grande saudade que sentimos de vocês é melhor suportada com esse nosso amor. E isso é algo que desejo a todos nessa casa. Quando telefonamos, no dia 8 de maio, ficou difícil falar, pois é tanta coisa a mostrar, e não só a dizer, que dá raiva ter apenas um telefone. Fiquei contente em saber que você, pai, está de serviço novo. E ficaria muito mais feliz se soubesse como está se sentindo, pois ' você é muito importante para mim. E agora, neste apartamento, com coisas que nós compramos, é que sinto todo o amor que meus pais têm por seu filho, e tudo o que fizeram e fazem por todos. E ném sei o que dizer para mostrar tudo que fizeram por nós. Aqui, distante de vocês é que entendemos as coisas de uma maneira diferente e é por isso que tudo isso sai do meu coração agora. Sinto que vocês devem estar com uma felicidade diferente, pois criaram seus filhos com tanto amor, para depois eles se casarem e irem morar em outros lugares. Mas eu falo em nome de todos: vocês sempre estarão junto de nós e tudo faremos por vocês, pois tudo merecem.

Um beij ão dos filhos, Paulo e Ana

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OPÇãO PELOS JOVENS

"O FUTURO, HOJE, NA AGUA SANTA" ou Uma experiência diferente de catequese

ll: sempre primeiro Deus que chama. Mas a nós compete criar condições para que os nossos jovens possam ouvir o chamado: é preciso que, desde crianças, sintam Jesus Cristo presente na sua vida e se acostumem a dialogar com Ele em seus

COllações.

Da proposta de se criar com as crianças o mesmo clima de amizade das nossas reuniões, dando-lhes a oportunidade de participar das alegrias que Deus preparou para aqueles que recebem a Sua mensagem de Amor, surgiram as "Equipinhas" na Agua Santa (Setor D do Rio de Janeiro) . No momento, estão em atividade duas "equipinhas" : - a "Equipestinha", com filhos de casais das Equipes 60 e 63, coordenada por dois filhos de equipistas; a "Equipimentinha", com filhos de casais da Equipe 68, coordenada por um casal da 68, e que recebem um grande alento espiritual do Conselheiro, Pe. Raimundo. Os grupos são formados por mais ou menos dez crianças, com idades que vão de 5 a 14 anos. As reuniões são feitas mensalmente, por iniciativa das próprias crianças, no dia seguinte à reunião dos casais, na casa de um deles, que fica responsável pelo lanche. O (s) tema (s) discutido (s) têm como objetivo comunicar o Reino de Deus aos pequeninos. Fazendo assim nascer na criança uma atitude de vida cristã. Tanto que se constata o quanto as crianças sentem a mensagem do Evangelho, através de suas reflexões e também nas orações espontâneas. Tudo é feito por elas em linguagem de criança, bem simples e informal.

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O entusiasmo e a amizade entre elas crescem a cada reumao. Há também grandes oportunidades de convívio fraterno e horas de lazer: nos momentos passados juntos em ltaipava, participando de várias brincadeiras e jogos recreativos, e também, na época do Natal, quando da festa de confraternização das três equipes, quando as crianças apresentaram peças teatrais preparadas e montadas por elas mesmas. Em paralelo a tudo isso, todo mês as Equipinhas têm um programa de atividades que vai desde o uso dos livros da Coleção "Mundo Jovem" e "Jesus nos leva ao Pai", com pesquisas bíblicas e educacionais, até o desenvolvimento da parte recreativa. É para nós uma felicidade imensa sentirmos concretamente que as sementes que plantamos já estão brotando e os nossos esforços não têm sido em vão.

Ana Maria e Sérgio Luiz Equipe 68, Setor D, do Rio de Janeiro

• última hora . . . JUBILEU DE OURO SACERDOTAL

O Padre Horta acaba de completar, no dia 26 de julho, 50 anos de sacerdócio, muitos deles dedicados aos casais, e ultimamente também às Equipes, no Rio de Janeiro. Enquanto aguardamos noticiário relativo à comemoração desse grato jubileu, associamo-nos às ações de graças de todos os que louvam a Deus pelas maravilhas que vem realizando através do querido sacerdote. Parabéns, Padre Horta, e continue assim com essa disposição por muitos anos ainda!

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NOTíCIAS DOS SETORES MANAUS -

Foi a Santarém . . .

Recebemos de Ana e Bosco, casal secretário do Setor, a gratificante notícia de que "imbuídos do espírito cristão que emana do próprio batismo, Neusa e Antonio, casal responsável pelo Setor, foram até Santarém, cidade paraense localizada às margens do Rio Tapajós, e lá lançaram as primeiras duas sementes das E.N.S. Nos dias 20 e 21 de maio, foram lançadas as Equipes 1 e 2, que têm como Conselheiro Espiritual o Pe. Waldir e como Casal Piloto, Neusa e Antônio. Devido às dificuldades de locomoção, aliadas ao alto custo das passagens (uma hora de Boeing), a pilotagem se fará em meses alternados." Unamos as nossas orações aos dos equipistas de Manaus para que a semente, caindo em boa terra, produza fruto e cr esça (cf. Me. 4, 8). CRICIUMA -

Retiro de jovens

Participaram 76 jovens, de 13 a 17 anos, do retiro organizado em maio pelo Setor de Criciuma na casa de encontros de Urussanga. Foi esse o segundo retiro para jovens - o primeiro foi realizado em 1982. A avaliação mostrou que houve um índice de aproveitamento muit o alto por parte dos jovens. As palestras foram feitas pelo Pe. Manuel, bem como por vários casais equipistas. A cozinha também ficou a cargo dos casais equipistas. No final , escrevem Sonia e Cezar, casal responsável pelo Setor, viam-se sorrisos estampados no rosto dos jovens, pelas mensagens recebidas, e no rosto dos equipistas que trabalham, por mais uma missão cumprida." -

Mês de Maria

Diariamente, durante o mês de maio, as equipes do Setor uniram-se para rezar o terço na Igreja Matriz, onde, além dos equipistas, participaram fiéis que aguardavam a missa das 19 horas. No domingo 19, além da missa de encerramento, procedeu-se à coroação de Nossa Senhora. JUIZ DE FORA -

Compromisso

Na festa do Corpo de Deus, a Equipe 8, N.a Sr.a da Imaculada Conceição fez seu compromisso solene com as E.N.S. Preparado com muita oração e seriedade, teve seu fecho na missa celebrada pelo Pe. Edmundo, da qual participaram também todos os casais que de algum modo fizeram parte da história da equipe: antigos membros, informador, piloto, ligação e responsável de Setor.

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O casal responsável foi muito feliz na preparação espiritual do::, membros da equipe para o importante acontecimento. Entre as mensagens que preparou, destacamos esta:

Queridos irmãos. Que a Paz de Cristo esteja com vocês! Estamos a uma semana exata do nosso Compromisso com as E.N.S. Sugerimos que pensem seriamente na responswbi-lidade desta palavra: Compromisso! Para tal já estudamos 16 Cadernos, Cartas, participamos de reuniões ... Mas nada disso adianta se em nós não existir coerência em atos e vivência no .lar, no trabalho. Ninguém é obrigado a prometer nada, mas é obrigado a cumprir o prometido, ainda mais quando está em jogo o Evangelho, o próprio Cristo." -

Preparando a eleição

Como é de tradição em Juiz de Fora, cada uma das equipes do Setor se prepara, através de tempos fortes de oração, para a eleição do novo casal responsável. A forma de fazê-lo é deixada, obviamente, à criatividade das equipes. A Equipe 4, por exemplo, uniu-se na meditação do terço nos cinco dias imediatamente anteriores à reunião; a equipe 9 realizou uma noite de oração; a equipe 1 rezou o terço, seguido de um dever de sentar-se em equipe, "'espécie de prévia do balanço". Na semana de Pentecostes, a Equipe 8 rezou em família a Novena do Espírito Santo. -

Maria e as crianças

Com o objetivo de levar as crianças da equipe 9 e as das equipes da periferia de Juiz de Fora a viverem um tempo de reflexão sobre Maria, realizou-se, no domingo 15 de maio, um "Encontro com Maria", coordenado pela Astrid, com a ajuda de alguns jovens e de alguns equipistas que levaram as crianças. Tomaram parte no encontro 41 crianças, na faixa de 8 a 13 anos. O Encontro foi dividido em duas partes: um tempo de estudo e reflexão sobre Maria, onde as crianças, divididas em quatro grupos, executaram atividades de acordo com suas idades; e um tempo de recreação. Muitas crianças têm procurado a Astrid para saber se ia haver outro Encontro no mês seguinte: segundo as avaliações, o encontro foi bom, mas não suficiente para se poder conhecer melhor a nossa Mãe. BRASILIA -

Retiro

Trinta e cinco casais participaram do retiro organizado pelas E·quipes 9 (C) e 31 (A). "A alegria de mais um encontro de irmãos. Depois, muito silêncio e uma profunda interiorização. Mons. Damasceno abordou o sentido espiritual do Anb Santo; a

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nalidade do pecado; a Redenção, resposta de Deus ao pecado do homem. O Pe. Oscar Duque Estrada, por sua vez, apresentou a ·reconciliação através do Sacramento da Penitência; a Redenção na vida litúrgica, sacramental e espiritual da Igreja e a Eucaristia, prf:.sença permanente da Redenção." "Vivemos momentos da elevação espiritual, escrevem ainda as equipes 9 e 31, e, quando uma comunidade cristã se eleva, eleva-se um pedaço do mundo. Quase à hora do Angelus, termina o retiro e começa nosso dia-a-dia, mais humano e mais cristão!" APARECIDA DO NORTE -

Criada a Coordenação

Na véspera do Dia das Mães, durante a santa missa celebrada por D. Geraldo Maria de Moraes Penido, Arcebispo de Aparecida e Conselheiro Espiritual do Setor de Guaratinguetá, foi criada a Coordenação de 1.0 grau. A missa foi concelebrada pelo Pe. Aristides de Menezes Pedro, Conselheiro Espiritual da Equipe 5 de Aparecida e que na ocasião tomou posse como Conselheiro da Coordenação. Foram empossados como casal responsável pela Coordenação Melinha e Dito. Presentes vários casais das equipes de Guaratinguetá. Durante a homilia, Dom Geraldo salientou a disponibilidade de Melinha e Dito e pediu que todos fossem co-responsáveis pela missão assumida. Alertou os casais sobre a importância de as E.N.S. batalharem pelo salvamento da Família, sob a proteção de Nossa Senhora. Marlene e João Roberto, Casal Responsável Regional, recordaram a criação, dez anos atrás, da primeira equipe de Aparecida, da qual foram casal piloto. Seguiu-se uma confraternização, num clima de muita alegria e esperança. ARAÇATUBA- Ajudando os deficientes

O casal secretário do Setor, Shirley e Luigi, nos comunica notícia enviada pelas equipes 6 e 12: "Em todas as nossas reuniões, a falta de ação era nossa maior preocupação. Foi quando tomamos conhecimento da existência da ADEFA (Associação dos Deficientes Físicos de Araçatuba) e de sua carência. Sentimos que ali poderíamos ser úteis, e fomos! Eles precisavam de um salão mais amplo para poderem fazer melhor uso de suas cadeiras de roda e para os seus trabalhos. Para conseguir este salão, pedimos a ajuda de muitas equipes, e ninguém nos negou auxílio. Para levantar o capital necessário, fizemos um jantar, e trabalhamos todos juntos. Continuaremos trabalhando por eles e, no segundo jantar, pretendemos, desse salão, fazer uma pequena indústria. Fica aqui a mensagem de duas equipes que se juntaram e que sabem que não salvaram o mundo, mas melhoraram a vida de muita gente." -50-


-O terço Organizada com muito carinho pela equipe 11, uma noite de oração, que contou com a participação de aproximadamente 100 equipistas. Houve a meditação do terço e a distribuição de um terço para cada casal, com o objetivo de incentivar a oração do terço, principalmente em família, atendendo assim ao pedido da Virgem Maria. JACAREf -

Peregrinação

No encerramento do mês de Maria, os casais do Setor realizaram uma peregrinação, saindo, às 6 horas da manhã - rezando o terço, meditando e cantando - da Igreja de São João Batista em direção à Igreja Matriz, Nossa Senhora da Imaculada Conceição, onde participaram, às 7 horas, da santa missa. Escrevem Ângela e Zezinho: "Sentimos o grande valor dessa peregrinação pela aceitação, disponibilidade e espírito de sacrifício de todos os casais, alguns inclusive com filhos pequenos. Nesse ano da Redenção, estivemos rezando para, juntos, pedir que Maria Santíssima interceda por nós junto a seu Filho muito amado. Que Deus nos ajude, através de atos como este, a despertar no povo cristão a necessidade de sentir-se peregrino, lembrando-se que Deus nos pede fraternidade, amor e muito testemunho de que Ele é Amor." -

Tarde de reflexão

Ainda dentro do espírito do Ano Santo da Redenção, o Setor organizou uma tarde de reflexão sobre o Sacramento da Penitência. Veio de São José dos Campos o Pe. Genésio, que enriqueceu a todos com muita bagagem espiritual a respeito dos valores fundamentais da confissão. Lembrando que o que nos leva a pecar é querer construir um mundo sem o plano de Deus, afirmou o Pe . Genésio que a confissão é um bem necessário, que não deve ser abandonado, pois confessar-se é "mergulhar na misericórdia de Deus". CATANDUVA -

Equipes de recém-casados

Neida e Célio, casal coordenador de Pastoral Familiar do Setor e membro da Equipe 2, estão empenhados na criação de equipes de jovens casais. Assim, nasceu, há um ano e meio, a "Equipinha" N.a Sr.a do Amparo, constituída por oito casais jovens, todos recém-casados, e pilotada por Isa e Minso, da Equipe 6. A quase totalidade de seus componentes havia feito o curso de Preparação ao casamento e a maioria freqüenta a mesma paróquia, sendo assí-51-


duos às missas de preceito. Além do dia da reunião, os casais se encontram todos os sábados na missa das 19 h, e também no dia em que se reza o terço. "Estando já bem encaminhada a primeira equipinha, escrevem Neida e Célio, criamos a segunda, a "Equipinha N.a Sr.a da Sagrada Família, formada por sete casais, também jovens, pilotados por Delinha e Célio, também da Equipe 6, e assistida por Pe. Vicente. As reuniões, realizadas uma vez por mês, com duração de mais ou menos três horas, são sem jantar, com um pequeno intervalo para água e café." Pretendiam reunir os casais das duas equipinhas para um Dia de Reflexão, que seria equivalente ao Retiro das Equipes, e, até julho, formar a 3.a Equipinha, só que desta vez com casais de mais de 10 anos de vida conjugal. Escrevem Neida e Célio: "Como equipistas há quase 9 anos, afirmamos a vocês: recebemos muito de Deus, e esse tempo já foi suficiente para o nosso enriquecimento individual e familiar. Agora muitos esperam por nós. O pouco que se dá é tudo para eles. E o que se recebe é o dobro!" AMERICANA -

Novo Responsável

Numa cerimônia tocante, dentro da santa missa concelebrada pelos padres José Bryan, Conselheiro Espiritual do Setor, Angelo Marigueto, conselheiro de uma equipe de Sumaré, Encarnação e Victório, responsáveis pelo Setor, fizeram a passagem do cargo para Célia e César. Presentes Yvonne e Tharcísio, da ECIR, 01guinha e Toninho, casal Regional, e ainda Maria Luiza, levando o abraço do Constantino, na qualidade de ex-regionais. Com uma lembrança ofertada a Encarnação e Victório pelos equipistas de Americana, Santa Bárbara d'Oeste e Sumaré, uma mensagem de agradecimento pelo trabalho realizado durante vários anos à frente do Setor, na qual lia-se, entre outras coisas, um pensamento de Kalil Gibran: "Pouco dais quando dais de vossas posses. É quando dais de vós mesmos que realment e dais." GRANDE ABC -

Dia de estudos

Com a participação de 54 casais, do Bispo Diocesano, D. Cláudio Hummes, do Conselheiro espiritual do Setor, Frei Mariano e do Pe. José Carlos Gomes, realizou-se o 3. 0 Dia de estudos do Setor do Grande ABC. A primeira palestra esteve a cargo da Equipe de Relações Públicas do Setor, que, através de transparências cuidadosamente preparadas, expôs o organograma das E.N.S. Na segunda, o Pe. José Carlos procurou despertar nos casais reflexões sobre a realidade social, onde as desigualdades geram a injustiça, contrária ao Plano de Deus. D. Cláudio Hummes apresentou "As funções da -52-


família no mundo de hoje", destacando que a família deve "realizar uma comunidade de pessoas, no amor, ser um serviço à vida, transmitindo a vida e educando os filhos como pessoas humanas e filhos de Deus, para a liberdade com responsabilidade e para o sentido da verdadeira justiça" e formar em seus membros o es-pírito comunitário". Assegurou S. Excia. que a Diocese de Santo André confia nas E.N.S. e conta com elas na realização do projeto de Deus para um mundo mais humano e mais fraterno. Espera a integração do movimento na grande comunidade da Diocese, pois a participação de todos na vida da Diocese é fundamental para a sobrevivência das diversas comunidades.

VOLTARAM PARA O PAI Rodrigo Mundo

Da Equipe 1 de Astorga. Escreve a própria esposa, Alvarina: "Vítima de um edema pulmonar e enfarte fulminante, deixou esta vida, assustando a cidade inteira tal a brutalidade da surpresa. Ainda momentos antes, estava querendo visitar novos casais para fazer o convite para entrarem nas Equipes. Não deu tempo. . . O que marcou a sua vida foi a dedicação à família. Com treze anos, perdeu o pai e assumiu a responsabilidade de ajudar a mãe e os irmãos menores até vê-los encaminhados para a vida. Casou-se com 36 anos. Pai carinhoso, esposo fiel, equipista entusiasta. Seu desprendimento era marcante. As dificuldades financeiras não o assustavam. Vivia bem com o que tinha. Não ambicionava riquezas. Na equipe, era um exemplo de fé em Deus, força de vontade, c:rientando os mais desanimados, aconselhando os casais para uma vivência sem brigas e em paz. Apesar de sua pouca instrução, lia todos os livretos e Cartas Mensais. O Movimento perdeu um equipista convicto e Deus ganhou um homem justo. O seu enterro foi acompanhado por uma imensidão de pessoas, de todas as classes sociais." (As equipes de Astorga foram pilotadas e são ligadas por equipistas de Londrina, que também se fizeram presentes, segundo informam Olga e Francisco, casal de ligação da equipe). Leopoldo Baeta Neves

Da Equipe 11 de Niterói. Casado com Eliane. Depois de doença prolongada e em meio a muito sofrimento. "Sempre viveu uma fé madura, era um grande vocacionado por Maria, disse seu "sim" até o último minuto", escrevem Helô e Décio, responsáveis pelo Setor. "Na equipe, escrevem Lilar e Carlos, seus companheiros de equipe, foi sempre um exemplo, com a sua assiduidade, pala-53-


vra tranqüila, sua simplicidade. Emprestou todas as suas qualidades para o Encontro de Casais com Cristo. Apesar de ter desejado muito exercer mais este apostolado de ajuda ao próximo, não pôde ser Ministro da Eucaristia: sua hora já era chegada. Foi difícil aceitarmos a sua ausência, mas, passados os primeiros momentos, entendemos que aquela alma tão pura, por direito, pertencia a Deus." Hauser Grael

Da Equipe 5 de Niterói. Casado com Maria Lúcia. Repentinamente, em conseqüência de problemas cardíacos crônicos. "Ele era o imão-pai: onde houvesse problemas, ele logo se fazia presente, querendo ajudar. Para nós, seus irmãos de equipe, deixou um testemunho de fidelidade, esperança, humildade, entusiasmo pela Equipe e seus meios de aperfeiçoamento. Estava sempre presente, com Lúcia, a todas as atividades do Movimento." De fato, deveria o casal participar do Dia de estudos do Setor. "Foi um dia bem difícil para todos nós, que eramos muito ligados ao casal, escrevem Helô e Décio. O dia de estudos - que havíamos planejado muito alegre e descontraído - pode ser apenas como foi: uma parada, procurando ver e refletir sobre o que Deus quer de nós através dos acontecimentos: um irmão equipista é chamado de volta ao Pai (e nós estudávamos e debatíamos "Os problemas da família hoje", dentro da F.C.). Percebemos o sinal e a partir daí nos questionamos: como devemos interpretá-lo? A presença muito inspirada de Frei Hugo Baggio nos ajudou muito. Falou-nos dessa força que trazemos dentro de nós, força que nasce com a vida e a morte e que pode implodir a qualquer momento: a Ressurreição!"

EQUIPES NOVAS Santarém, Pará

Equipe 1, Nossa Senhora da Conceição - Casal Piloto: Neusa e Antonio; Conselheiro Espiritual: Pe. Waldir. Equipe 2, Nossa Senhora Medianeira - Casal Piloto: Neusa •e Antonio; Conselheiro Espiritual: Pe. Waldir. 1Brasília

Equipe 37 (Setor A) - Casal Piloto: Zezé e Afonso ; Conse]heiro Espiritual: Pe. Dino Barbieri. -54-


Rio . de Janeiro

Equipe 69 (Setor B) - Casal Piloto: Ana Maria e Manuel ;. Conselheiro Espiritual: Pe. Joel Portella Amado. Equipe 77 (Setor E) ro Espiritual: Pe. João.

Casal Piloto: Elza e Ary; Conselhef- -

Equipe 78 (Setor B) - Casal Piloto: Marilena e José Maurí- cio; Conselheiro Espiritual: Pe. Roberto Augusto Santos de Albu- querque. Equipe «nova" 23 (Setor C) - Casal Piloto: Aparecida e Ru:cemah; Conselheiro Espiritual: Mons. Bessa. Ribeirão Preto

Equipe 20 - Casal Piloto: Marilda e Eloi; Conselheiro Espiritual: Frei José Walter Rossini. o SESSAO DE FORMAÇÃO EM LONDRINA

A celebração da vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos reunidos no Cenáculo coincidiu com a realização da Sessão de Formação de Londrina. De fato, o que ali ocorreu foi um verdadeiro Pentecostes. Ao invés de partas, medas e elamitas, estavam reunidos casais de Londrina, Astorga, Curitiba, Mafra, Assis, Garça, Catanduva, São Paulo e Rio de Janeiro. O Espírito Santo manifestou-se das mais variadas maneiras, pelas celebrações litúrgicas, pelos grupos, pela vida em comunidade, e, de forma especial, pela palavra do Freii Estevão, que foi o Conselheiro Espiritual do Encontro. Para que isto ocorresse, sem dúvida contribuíram muito as orações dos j·ovens das Equipes de Jovens de Nossa Senhora de Londrina, reunidos, como num verdadeiro Cenáculo, em vigília de oração. Estamos convictos de que, ao nos dispersarmos e estando com Maria em nosso meio, fomos por toda a parte apregoando as maravilhas que o Senhor oferece entre nós. Inegavelmente, as Equipes de Nossa Senhora estão hoje mais vivas porque esses seus casais e sacerdote tiveram a graça desse Encontro com o Senhor. Dirce e Rubens -55-


O QUE REPRESENTOU PARA NóS A SESSÃO DE FORMAÇÃO (JUIZ DE FORA)

Para nós, que tivemos a oportunidade de vivê-la, em contato com casais irmãos daqui e da Região Centro-Leste, ~oi um complemento indispensável para a nossa vida equipista. Foi uma etapa importantíssima para nosso aprimoramento espiritual. Foi uma verdadeira regra de vida, que nos moldou, que aparou nossas arestas, que nos deu aptidão para continuarmos a caminhada a dois. Representou também um aclarar de certos pontos que ainda .nos eram obscuros, através das palestras inspiradas do Padre Chi-quinho (São José do Rio Preto), de Mary-Nize e Sérgio (Rio) , ~e Lilian e Quadra (Petrópolis). Ajudados por um pastor por excelência, por irmãos de vasta experiência no Movimento e por uma incansável equipe de serviço, pudemos entregar-nos de corpo e alma à ação do Espírito Santo. Fizemos várias reuniões de equipe, com metodologia diferente, onde a tônica foi a coparticipação da vivência das palestras do dia. Houve excelente abertura, com rica troca de experiências. Enfim, renovados pela ação do Espírito Santo nesses quatro dias, mais conscientes e com nítida noção da responsabilidade que nos cabe, podemos dizer, com Santo Agostinho: "Aquele que te escuta não está fora de ti. Não an des, não corras para tocá-lo, Ele está dentiro de ti." Maria Ju Lieta e José Carlos Equipe 5 de Juiz de For a

o RETIROS Araça tuba Rio de Janeiro Niterói Limeir a São P a ulo Curitiba C Taubaté São Paulo Rio de Janeiro São P aulo

5 a 7 de agosto 19 a 21 de agosto

2 a 4 de setembro 23 a 25 "

(ltaipava) (Atalaia ! (V alinhos) (Cenáculo)

14 a 16 de out ubro 21 a 23 "

4 a

6 de n ovembro

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(Cenáculo) (Sumaré) (Barueri)


A VOCAÇÃO

TEXTO DE MEDITAÇÃO -

Jer. 1, 4-10

A palavra de J ahvé me foi dirigida nos seguintes termos: Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci ; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constitui profeta para as nações. Mas eu disse : "Ah! Senhor Jahvé, eis que eu não sei falar , porque sou ainda uma criança!" Mas Jahvé me disse: Não digas: "Eu sou ainda uma criança!" Porque a quem eu te enviar, irás, e o que eu te ordenar, falarás . Não temas diante deles, porque eu estou contigo para te salvar, oráculo de Jahvé. Então Jahvé estendeu a sua mão e tocou-me a boca. E Jahvé me disse: Eis que ponho as minhas palavras em tua boca. Vê! Eu te constituo, neste dia, sobre as nações e sobre os reinos, para arrancar e para destruir, para exterminar e para demolir, para construir e para plantar.

ORAÇÃO PELAS VOCAÇõES

Senhor da Messe e Pastor do Rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: "Vem e segu.e-me!" Derrama sobre nós o teu Espírito, que Ele nos dê Sabedoria para ver o Caminho, e Generosidade para seguir tua Voz. Senhor, que a Messe não se perca por falta de Operários. Desperta nossas comunidades para a Missão. Ensina nossa vida a ser serviço. Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino, na Vida Consagrada e Religiosa. Senhor, que o Rebanho não pereça por falta de Pastores. Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres e ministros. Dá perseverança a nossos seminaristas. Desperta o coração de nossos jovens rara o ministério pastoral em tua Igreja. Senhor da Messe e Pastor do Rebanho , chama-nos para o serviço de teu povo. Maria, Mãe da Igreja, modelo dos servidores do Evangelho, ajuda-nos a responder SIM. Amém.


, EQUIPES DE NOSSA SENHORA Movimento de casais por uma espiritualidade conjugal e familiar

. Revisão , Publicação e Distribuição pela Secretaria das :EQUIPES DE NOSSA SENHORA 01050 -

Rua João Adolfo, 118 - 99 - conj . 901 SAO PAULO. SP

Te!.: 34-8833


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