ENS - Carta Mensal 1974-8 - Outubro

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1974

NC? 8 Outubro

EDITORIAL -

Reconciliação consigo mesmo ..

Planejamento familiar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A Ecir conversa com vocês . . . . • . . . . . . . . . . . . .

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Sabemos rezar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Os jovens e a Evangelização . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A palavra de Deus em nosso lar . . . . . . . . . . . . . .

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O mundo religioso contra o aborto . . . . . . . . . . . .

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Um sacerdote no meio dos "hippies" . . . . . . . . .

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Brasil, terra de missão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Dever de sentar-se... no outono . . . . . . . . . . . . .

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O pão meu de cada dia . . . . . . . . . . . . .. . . . . . .. .

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Notícias dos Setores . . . . . . . . . . • . • . . . . . . .. . • . . .

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Mutirão -

Guanabara-1974 . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Oração para a próxima reunião . . . . . . . . . . . . . . .

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EDITORIAL

RECONCILIAÇÃO CONSIGO MESMO

O cristão de hoje nem sempre está à vontade na sua relação consigo mesmo. Numerosos de nossos contemporâneos sentem-se, por assim dizer, mal na própria pele. Nós mesmos, certamente, não escapamos a uma certa confusão. Não seria oportuno refletir na necessidade e nas condições de uma reconciliação consigo mesmo? É necessário, logo de início, tomar consciência da "divisão" que em nós habita. Tem necessidade de se reconciliar consigo mesmo todo aquele que está "dividido, dilacerado, descontente de si". E quem não o está de algum modo? Entretanto, arriscamo-nos a ver somente a dimensão psicológica desse fenômeno e, como tal, susceptível de tratamento por meio de qualquer método adequado. Na realidade, trata-se de algo mais profundo. "Não estamos somente separados uns dos outros: é em nós mesmos que estamos também divididos. . . É em si mesmo que o homem está dilacerado". E aquilo que convém reconhecer em nós e condenar é "esta mistura de egoísmo e de desprezo de si que nos persegue constantemente, que nos impede de amar os outros e que nos impede de nos perdermos no amor com que somos amados para a eternidade", escreve Paulo Tillich. Sim, a divisão em nós é tão profunda que pode abolir as condições para amar a Deus e ao próximo. De forma mais positiva, todos os mestres da vida espiritual - e entre eles Fray Luiz de Leon, em páginas de rara beleza - sempre fizeram observar que "a paz consigo mesmo pode ser considerada como a fonte das duas outras: a paz com Deus e a paz com o próximo." Constitui portanto uma necessidade para nós, não ficar, por assim dizer, na superfície de nós mesmos, mas sim ficar atentos a tudo o que faz de nós um recinto fechado, um lugar -1-


de confrontações: desejos caprichosos, afetos instáveis, aspirações inconciliáveis, estados de espírito imprevisíveis, em suma, todas estas "contradições" que é urgente apaziguar e reconciliar. Jesus Cristo que nos diz: "Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz" (Jo 14, 27) é o único capaz de nos reconciliar com nós mesmos. Porquanto não pode haver paz para aquele que, voltado sobre si mesmo, obstina-se em tolerar esta mistura de egoísmo e de desprezo de si, de que falava Tillich. Mas haverá paz para aquele que, deixando-se converter para Jesus Cristo, deixa-se também reconciliar com Deus. (cf. 2 Cor. 5, 20). "Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho" (Rom. 5, 10). Compreendamos bem, diz-nos São Paulo : "nosso homem velho foi crucificado com Ele, para que fosse destruído este corpo de pecado e que assim não sejamos mais escravos do pecado" (Rom. 6, 6). Na origem de todas as nossas divisões interiores não se encontrava por acaso este pecado, doravante vencido em Jesus Cristo? Cristo triunfa de todas as divisões pelo ''sim" total e permanente que é dito a seu Pai. E é o caminho que nos aponta para fugirmos à nossa própria divisão. Como Paulo, conhecemos também nós, este "antagonismo" (Gal. 5, 17) entre a lei do Espírito e a lei do pecado (cf. Rom. 7 e 8). Mas, como para Paulo, a graça do Cristo dele nos liberta. A reconciliação de nós mesmos não esvaziará de um só golpe este antagonismo, mas em vez de provocar em nós mal-estar e perturbação, suscitará uma tensão fecunda: este esforço da vida espiritual, que consiste em "curar sempre mais nossa liberdade de seu amor pelo mal, para que, finalmente, seja somente amor desinteressado, caridade" (Y. de Montcheuil). Cura que é obra de Deus, mas com a qual devemos cooperar com todas as nossas forças. A reconciliação supõe portanto a nossa participação. O Autor de nossa salvação não nos quer passivos. Convida-nos a dizer "sim" ao Pai, como Ele mesmo o fez. Um "sim" ao que somos e àquilo para o que somos chamados. Não se trata de um "sim" superficial, para nos tranquilizar com facilidade: "precisam.os nos aceitar como somos". . . e nada fazemos para que haja mudança em nós! Mas um "sim" impregnado de confiança e de esperança: "se Tu o quiseres, podes curar-me"; aceito a espera, mas creio na vitória, creio na salvação. Devemos aceitar-nos a nós mesmos como o Pai nos aceita. Ele espera de nós (e nos torna possível) um amor sadio de nós mesmos. Quer que lutemos contra a decepção de nos sen-

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tirmos tão fracos e contra o desprezo de nós mesmos que esta decepção acarreta. "Jamais vos deveis desprezar!" dizia Bernanós. "É difícil desprezar-se a si mesmo sem desprezar Deus em nós... O desprezo de si mesmo conduziria ao desespero". Desprezo de si mesmo, desespero, são adulterações da humildade. Além do mais, a caminhada de que Cristo nos deu o exemplo assumindo todo o homem exceto o pecado e indo até o extremo do amor, é preciso que seja por nós percorrida com Ele, já que Ele é o Caminho. Mas só poderemos realmente percorrê-la meditando sobre ela sem cessar. A meditação é a primeiríssima etapa da reconciliação consigo mesmo: a contemplação do Cristo nos conforma a Ele, habitua-nos a revestir os seus sentimentos (Fil. 2, 51), ensina-nos a fugir a todo antagonismo, caminhando sob o impulso do Espírito (Gal. 5, 16-18).

ROGER TANDONNET, s.j .

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A PALAVRA DO PAPA

PLANEJAMENTO FAMILIAR

Em carta entregue ao Secretário-Geral da Conferência das Nações Unidas sobre população, Antonio Carrillo Flores, e ao Diretor-Executivo da ONU para Atividades Demográficas, Rafael Salas, o Papa Paulo VI, reafirmando os princípios das Encíclicas Humanae Vitae e Populorum Progressio, fez um apelo à Conferência da ONU sobre questões demográficas, no sentido de que seja estudada uma melhor distribuição dos recursos mundiais ao invés da redução da população.

"Sabemos que o número crescente de seres humanos, em todo o mundo em geral e em alguns países em particular, apresenta à comunidade dos povos, assim como a seus dirigentes, um verdadeiro desafio. Para alguns é violenta a tentação de acreditar-se num verdadeiro beco sem saída e de querer frear o aumento da população através de medidas drásticas que não respeitam a dignidade da vida humana e a justa liberdade dos homens. Não é nossa intenção repetir aqui detalhadamente, os princípios básicos da posição da Igreja no campo da população, e que ficaram claramente expressos em nossas encíclicas Populorum Progressio e Humanae Vitae. Estes documentos, cujo conteúdo monstraram como o ensinamento da lação é firme, e ao mesmo tempo se princípios e profundamente humanos

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vocês conhecem bem, deIgreja no setor da popumostraram respeitosos dos em sua aplicação pastoral.


Nenhuma classe de pressões fará desviar a Igreja de compromissos doutrinais através de soluções a curto prazo. O ensinamento da Igreja que, não cessamos de recordar, ajuda os fiéis a compreenderem melhor sua própria responsabilidade, é a contribuição que eles precisam dar na solução destes problemas. Nesta procura, eles não devem deixar-se influenciar pelas afirmações de pessoas ou grupos que pretendam apresentar a posição da Igreja omitindo certos aspectos essenciais da doutrina do magistério autêntico. Todo programa de população deve, pois, colocar-se a serviço da pessoa humana. Deve reduzir as desigualdades, combater as discriminações, liberar o homem de suas escravidões e torná-lo capaz de ser o responsável de seu progresso moral e de sua expansão espiritual. Por isso deve evitar tudo o que se opõe à vida em si mesma ou que fere sua personalidade livre e responsável. A decisão relativa ao número de filhos que vão ter depende unicamente do julgamento dos esposos e não pode ser deixada sob responsabilidade da autoridade pública. Um dos grandes temas que deve ser examinado é, pois, o da justiça social. Uma vida plenamente humana, dentro do caminho da liberdade e da dignidade, será assegurada a todos os homens e a todos os povos quando os recursos da terra forem distribuídos de forma mais equitativa, quando as necessidades dos menos privilegiados obtiverem a prioridade efetiva na distribuição das riquezas de nosso planeta, quando os ricos, trate-se de indivíduos ou de comunidades, se empenharem seriamente num esforço novo de ajuda e de inversão a favor dos mais desprotegidos. O ano da população deveria significar uma renovação do compromisso de todos, a favor de uma plena justiça do mundo, a fim de se trabalhar junto para a edificação do futuro da humanidade. Os poderes públicos, dentro dos limites de sua competência, podem intervir, favorecendo uma informação apropriada e, especialmente, tomando medidas aptas a favorecer o desenvolvimento econômico e o progresso social" .

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A ECIR CONVERSA COM VOC.:S

CAROS AMIGOS:

No final da conferência pronunciada pelo Pe. Caffarel em Roma, por ocasião da peregrinação das Equipes, em 1970, há uma pequena frase que pode ter passado despercebida a muitos. "As Equipes de Nossa Senhora, - diz ele - Movimento de espiritualidade, serão um Movimento de oração - isto é lógico." Estas palavras foram ditas logo depois de ter ele falado sobre as novas orientações então introduzidas dentre os "meios de aperfeiçoamento": a ascese, a escuta da Palavra de Deus, a oração mental, cuja prática ele considerava indispensável para os equipistas que queiram estar "realmente prontos para assumir a missão de testemunhas do Deus vivo, ante um mundo que o ateísmo invade." A afirmação do Pe. Caffarel não foi lançada como mero recurso de oratória. Era a convicção profunda de um homem de Deus que vinha dedicando toda a sua vida de sacerdote no sentido de ajudar os casais cristãos a caminharem para a sua realização integral como batisados. E todos nós sabemos com que zelo, dedicação e sacrifício ele o fez, como Diretor Espiritual das Equipes de Nossa Senhora.

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A urgência da oração como meio de salvar não somente o mundo mas a própria cristandade tornou-se nele uma convicção tão profunda que, após 35 anos dedicados às Equipes, não hesitou em deixá-las - sabe Deus com que sentimento - para entregar-se a uma nova cruzada: ensinar os cristãos a rezar ... E, em Troussures, oásis de paz a alguns quilômetros de Paris, reúne homens e mulheres, moços e velhos, padres, religiosos e 1eigos, para uma semana inteira de oração. Os resultados podem ser avaliados pela procura de inscrições que sempre superam de longe a lotação da casa. Caros amigos. A atitude do Pe. Caffarel presta-se a reflexão profunda. Aliás, o seu apelo não foi esquecido e, em todo o Movimento, vem sendo feito um esforço para o aprofundamento do espírito de oração - o que, diga-se de passagem, não é privilégio das E.N.S. É um objetivo que deve animar cada uma das nossas equipes, cada um de nossos casais.

A oração foi sempre considerada a parte fundamental da reunião. Desdobrada na coleta das intenções, na oração pessoal, na oração litúrgica, deve ser, realmente, o ponto alto de nosso encontro mensal. "Onde falta a oração, tudo perece; onde há oração tudo renasce, tudo floresce", lemos ainda na conferência citada de início. E, se há problemas, dificuldades, falta de vitalidade em algumas equipes, não seria, quase sempre, porque a oração está sendo mais ou menos escamoteada nas suas reuniões? Tal esforço deve ser objeto de cada equipista, através dos dez minutos de meditação diária (que, na realidade, constituem um mínimo) ; de cada casal, através da oração conjugal e familiar. Nesta ordem de idéias, queremos lembrar a vocês uma prática que se vem difundindo promissoramente: a vigília de orações, ou seja, uma hora de oração por mês, entre meia-noite e seis horas, em dia e hora previamente marcados, marido e mulher lado a lado, louvando a Deus e intercedendo pelas necessidades do mundo, pelas necessidades do Movimento e dos irmãos espalhados por todos os quadrantes. Se uma equipe assumir a responsabilidade de um determinado dia do mês, aquela noite toda, um casal pelo menos estará em oração diante do Senhor. Se 30 equipes assumirem cada uma um dos dias do mês, teremos, todas as noites, durante o ano todo, em algum lugar, um casal equipista rezando e intercedendo por seus irmãos.

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Esta vigília de orações foi iniciada pelas Equipes da Europa há já vários anos e está se difundindo através das equipes de todo o mundo. Dada a diferença dos fusos horários, pode-se pensar numa oração permanente das Equipes de Nossa Senhora! Mas, deixando de parte esta perspectiva um tanto aleatória, o que é certo é que todos aqueles que já fazem a sua hora de vigília são unânimes em afirmar o quanto é rico e fecundo este tempo que oferecem ao Senhor, contribuindo para isso, além da graça, o silêncio e a ausência de preocupação por qualquer outra atividade. Caros amigos, vamos realmente um Movimento uma alma ao mundo em Elisabeth Leseur: "Uma

contribuir para que as Equipes sejam de oração. Vamos contribuir para dar crise, lembrados daquelas palavras de alma que se eleva eleva o mundo".

Com fraterna amizade A ECIR

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SABEMOS REZAR?

Na verdade, não sabemos rezar. E a meu ver isto acontece porque não vemos claramente, não entendemos perfeitamente o que é a oração. Ela não consiste, em si, no fato de se dedicar algum tempo, durante o dia, à meditação, ou à leitura de um trecho da Escritura Sagrada, ou de obras de santos, e no esforço de pensar em Deus ou em nós mesmos para nos transformarmos interiormente: isto não é oração na sua essência. Do mesmo modo, a recitação do terço, ou as orações da manhã e da noite, nem sempre coincidem com a oração. Ou melhor, uma pessoa pode fazer tudo isso durante o dia sem nunca ter realmente rezado um minuto sequer. A oração, para que seja realmente tal, requer antes de tudo que tenhamos um relacionamento com Jesus, que consigamos com o espírito ir além da nossa condição humana, das nossas ocupações, das nossas orações, embora belas e necessárias, para descobrir que o importante é ter uma relação íntima, pessoal com Ele. É indispensável que façamos a extraordinária descoberta de que Jesus nos ama e nos chama. Mas afinal, o que vem a ser a "vocação"? Parece-me que tenha sido descrita do modo mais excelente no encontro de Jesus com o jovem rico. Diz o Evangelho de Marcos: "Jesus, então, fixou o olhar sobre ele e o amou. E lhe disse: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me".

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Jesus tem este olhar para cada um de nós e nos ama, e nós confusamente sentimos este seu amor e podemos nos decidir a segui-lo. A vida de oração, na sua essência, consiste em manter este relacionamento filial e fraterno com Jesus o dia todo, todos os dias. Rezar significa falar, embora um falar sem palavras, com Jesus, com a Trindade e um silencioso ouvir o que Ele nos diz. Este relacionamento entre nós e Jesus se estabelece se conseguirmos fazer "a escolha de Deus", que consiste em colocar Jesus em primeiro plano na nossa vida, em todas as nossas ações. Então as nossas orações podem se tornar "oração", a verdadeira forma substancial de oração, porque nelas se exprime profundamente a alma em sua relação com Jesus. As maneiras podem ser muitas. Um tipo de "oração mental" é, por exemplo, a meditação, que se faz seguindo vários métodos. Um dos mais simples é a leitura lenta e meditativa das Escrituras Sagradas ou de escritos de santos. Mas, indo além do método que se usa, a meditação deve ser uma ocasião para encontrar um momento de calma, de tranquilidade com Jesus. Pode ser que nestes momentos surjam preocupações. Então conversamos com Jesus a respeito delas. Dizemos: "Cuida Tu do caso, eu nada posso fazer, posso apenas conversar contigo". E poderemos chamar esta oração de oração de pedido. Mas a oração, na sua essência, mesmo quando é de "pedido", é uma oração de abandono a Deus: mesmo quando pedimos alguma coisa, nos abandonamos ao que Ele quer; se deseja que façamos experiências dolorosas, na nossa vida ou na de entes queridos, falamos-lhe a respeito com tranquilidade, pois sabemos que nos ama e ama todas as pessoas muito mais do que nós podemos fazer. No entanto, a melhor oração é a de quem sabe que Jesus conhece todos os nossos problemas, as nossas dificuldades, as coisas de que necessitamos (diz o Evangelho: "O Pai já sabe do que nós precisamos") e se põe a rezar, que é justamente falar com Jesus num estado de doação, de abandono total, de alegria do encontro que se pode ter com Ele. A verdadeira oração nos transforma. E os outros nos encontram felizes porque temos uma paz que vai além dos sofrimentos que também nós sentimos como qualquer pessoa. Os outros encontram em nós a serenidade, sentem a alegria de estar conosco, aquela alegria que Jesus diz que o mundo não sabe dar, porque trazemos no nosso coração um pedacinho daquele céu em que vivemos durante o tempo da oração.

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O mundo todo tem sede de Deus, e se nós não conseguimos saciá-lo é porque lhe damos somente palavras nossas, que "falam" de Deus. No entanto, o mundo precisa de Deus, mesmo sem as nossas palavras e mesmo sem que se fale nele. Conseguiremos fazê-lo se tivermos feito a escolha de Deus, se ouvimos o chamado de Jesus e permanecemos num contínuo colóquio com Ele. Trata-se de dizer a Jesus, à Santíssima Trindade: tu conheces todas as minhas dificuldades, as minhas misérias, a minha pouca fé, tu conheces as minhas faltas, as dores e as dificuldades que encontro na vida. Portanto, agora posso estar contigo e contemplar-te. É o momento em que saímos de toda uma realidade contingente que nos cansa e faz sofrer, para entrarmos em contato com Ele, para O encontrarmos, para Ele viver em nossa casa.

Pe. P. Foresi

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OS JOVENS E A EVANGELIZAÇÃO Em Roma, bispos do mundo inteiro estão reunidos para debater o tema "A evangelização do mundo moderno". O assunto é tão vasto e tão importante para a Igreja que não nos pode deixar indiferentes: é preciso que acompanhemos na oração este acontecimento. Ademais, a evangelização é um assunto que nos diz respeito diretamente, pois, como disse o Cardeal Hoeffner, Arcebispo de Colônia, "o anúncio do Evangelho não é somente tarefa do padre, mas de todos os fiéis. A evangelização não se faz unicamente pela palavra, mas também pelo testemunho da vida cristã. em todos os setores da vida do mundo atual."

O Episcopado da França preparou-se para o Sínodo com uma reflexão sobre a juventude. V árias razões levaram os bispos da França a essa escolha. "Os jovens serão amanhã os mais numerosos na humanidade, eles são os construtores do futuro e também eles colocam de uma maneira radical a questão da fé em Jesus Cristo neste novo contexto". O Cardeal Marty, Arcebispo de Paris, manifestava o seu otimismo: "Mil indícios parecem mostrar que os jovens não rejeitam a verdade evangélica. Eles têm sede de um Absoluto do qual procuram desenhar o rosto. Eles querem comunidades de fé autênticas, nas quais a partilha possa se estabelecer, pois possuem o sentido do mundo relaciona!. Aspiram a reunificar o homem deslocado. Creio que um mundo novo está prestes a nascer. Estou convencido que a juventude busca Deus, que ela quer escolher a Mensagem, com a condição de nós não lha impormos, de não a exprimirmos em roupagens, em filosofias, em mentalidades que são de uma outra época." Não acreditamos que as observações do arcebispo de Paris sejam demasiadamente otimistas. Também no Brasil essa busca da juventude por expressões autênticas da mensagem, por expressões de uma verdadeira comunidade, por despojar a religião cristã de formas humanas herdadas dum passado que para eles nada mais significa, é uma tônica constante. Mas nem sempre é fácil distinguir, separar o acidental do essencial, aquilo que pertence a reais valores evangélicos daquilo que foi acrescentado pelos homens em diversas épocas. Ansiosamente esperamos que o Sínodo possa nos indicar pistas, fornecer dados esclarecedores, para que aqueles que são os construtores do mundo de amanhã possam acolher a salvadora mensagem de Cristo. Pe. Dario Bevilacqua -12-


A PALAVRA DE DEUS EM NOSSO LAR

Damos a seguir a experiência de um casal. Ele médico de uma pequena cidade do interior. Sete filhos , entre 8 e 20 anos. Numerosos compromissos: preparação ao casamento, conselho municipal, casa de cultura.

Somos assíduos à Palavra de Deus? Com bastante regularidade: mais ou menos todos os dias. Duração? O maior tempo possível: cinco a vinte minutos. Quando? Assim que nos é possível tomar fôlego. Já me aconteceu adormecer sobre o livro, mas ficava em mim a impressão de "companheiro de vida". Tinha procurado "parar" tendo Deus como Presença. Enviou-me o sono, todo impregnado dEle. O que procuramos na Palavra de Deus? Deus. É o nosso Criador, nosso Pai, nosso Amigo, nosso tudo. É portanto muito simples e fácil. Como procedemos à leitura? De todas as maneiras, isto depende dos momentos. A partir dos temas das Equipes de Nossa Senhora. A partir da oração familiar, na qual há vinte anos apresentamos a Palavra aos filhos. A partir dos retiros. Lemos, por exemplo, num tema de estudos: como se comporta Jesus com os pobres, os ricos, os discípulos? Sempre procurei vivê-la através da liturgia, mas é difícil para nós. Dificuldades encontradas? As que decorrem de nossa vida de médico de uma pequena cidade, de nossas responsabilidades em vários domínios. É preciso, certamente, organizar-se, de acordo com a nossa resistência ao cansaço, a nossa necessidade de repouso, de silêncio, de ordem. É preciso considerar que Deus deve ser o primeiro a ser servido, deixando porém lugar para os seres humanos que nos rodeiam. Nós os levamos conosco nesta procura de Deus, embora respeitando a sua liberdade. -13-


Reservamos um tempo para o repouso, este tempo englobando o tempo de rezar, de tomar parte em retiros, de conversas, durante as quais pomos em comum as nossas r iquezas. Nossa disponibilidade para com os filhos poderia ter sido um obstáculo: tornou-se dinamismo. Numa época em que as formas de vida evoluem, foi certamente necessário pôr em destaque o que há de essencial em todas as gerações e nisto encontrar um ponto de apoio. A Palavra de Deus é de todas as épocas. O que este encontro com a Palavra nos proporciona? Alegria de viver. Sentido de nossa vida. Força para tudo suportar com serenidade, mesmo quando nos vem a vontade de gritar para desabafar. Possibilidade de rezar, de utilizar este valor essencial de respiração humana no plano de Deus. Qual o lugar que a Palavra ocupa na nossa vida familiar? O primeiro. Os filhos sabem disso, vivem disso, disso se alimentam. Começamos já antes deles nascerem, desejando-os, orando por eles, procurando as realidades de nossos dois corpos num espírito de descoberta da criação de Deus, para que cada um de nossos filhos chegasse no momento adequado de nossa vida de casal. Nossos · corpos, assim respeitados e descobertos, tornaram-se realmente para nós templos de Deus, criadores com Deus dos seres que Ele poderia amar. Sempre o dissemos aos nossos filhos e, nestes vinte anos, tivemos múltiplas ocasiões de o dizer. Se assim os respeitamos como filhos de Deus, Deus se torna deles o Pai ao longo dos dias de suas vidas. Somos assim os seus companheiros, para ir com eles a Deus. Não há necessidade de discursos ... Sendo a Palavra de Deus a que mais lemos, conduzir ao diálogo se torna freqüente com os filhos. É preciso porém saber aproveitar o momento favorável em que eles querem falar. Depois, se os trabalhos caseiros ficaram em suspenso por causa disto, não hesitemos em convidá-los a ajudar. O melhor m omento é em geral à noite, na oração familiar. Ou na hora do café, depois de uma refeição. Ou no momento em que, descontraídos, uns e outros contam os fatos do dia ou as proezas vividas num passeio ou nas férias. (Da Carta Mensal Internacional)

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O MUNDO RELIGIOSO CONTRA O ABORTO

O Episcopado católico da Suíça acentua claramente que "o aborto provocado constitui sempre um grave atentado contra a vida humana". E acrescenta: "As pessoas ou grupos de pessoas que menosprezam ou descuidam das exigências sociais para a proteção da família, especialmente das mães solteiras, para a educação e a promoção de todo e qualquer homem, para o respeito da dignidade do amor humano, são, muitas vezes, tanto ou mais culpáveis que aquelas que aceitaram fazer o aborto". "Esta responsabilidade de proteger toda a vida humana e especialmente a das crianças a nascer pertence ao Estado", dizem os Bispos suíços.

-o OoA Bélgica, recentemente, tomou pos1çao entre os países que admitem a legalidade do aborto - crime condenado pela ética mais elementar e pela moral cristã de modo muito especial. Já de há muito o Episcopado belga vem lutando pela manutenção da lei tradicional. No entanto, a corrente contrária acaba de impor-se, baseada no conhecido bom número de mulheres belgas que recorriam às facilidades que lhes brindavam outras nações européias. A insistência dos Bispos tinha por base o imperativo incontestável do respeito e proteção à vida, em qualquer grau de seu natural desenvolvimento. A Igreja cultivará sempre o respeito e o amor pela pessoa humana, principalmente os mais pobres, humildes e indefesos. Mas quem mais indefeso que uma criança em gestação? Matá-la? Por mais que o tecnicismo, em nome do progresso, o admita, a moral deverá lançar seu brado de repulsa. -15-


Os Bispos do Canadá de expressão francesa declaram: "A propaganda atual em favor do aborto livre põe radicalmente em causa o próprio conceito em que assenta a nossa civilização cristã: a idéia de que todos os homens, criados à imagem de Deus, são iguais por natureza e que, homens ou mulheres, jovens ou velhos, brancos ou negros, ricos ou pobres, saudáveis ou doentes, todos, desde o nascimento, e desde a concepção, possuem os mesmos direitos fundamentais, a começar pelo direito à vida, que é a condição e o suporte de todos os outros."

-o OoNoutros p,ai,::~es, como na Dinamarca, igual luta tem sido travada, desta v~~:':..~~ntre os defensores do aborto e os 10 Bispos Anglicanos que · r~gem o cristianismo luterano, religião oficial nesse país do norte · europeu. Nos Estados Unidos, o problema da legalização do ~borto continua a suscitar as mais desencontradas opiniões, so~r~W.~.o baseadas em três períodos da gestação, objeto de distinção p~ir~ ,aplicação da lei, referendada pela Corte Suprema. Duran~e · os 3 primeiros meses, a mulher e seu marido ficam inteiramente livres para decidir. Do 3. 0 ao 6. 0 mês, o Estado poderá intervir, mas somente para assegurar que a intervenção não ponha em perigo a vida da mãe. A Igreja, pela voz do Presidente da Conferência Episcopal Estadunidense, Cardeal Krol, Arcebispo da Filadélfia, declarou que esta decisão da Corte Suprema: "é uma tragédia sem nome e uma monstruosa injustiça."

-oOoQuando o Episcopado italiano recorreu ao argumento da fé para se opor ao aborto, foram muitos os que se opuseram, não obstante reconhecerem que eram certas as bases da argumentação: "O aborto, entendido como interrupção voluntária e diretamente buscada na gestação de uma vida humana, não pode deixar de repugnar à consciência humana." Igualmente o reprovaram a "Gaudium et Spes" e a "Humanae Vitae". E por detrás do senso comum, da ética dos povos, da voz do Magistério da Igreja Católica, seguido por outros credos, está o 5.0 Mandamento: - Não Matarás!

-o OoO órgão católico de Buenos Aires, "Esquiu", alarmado com a realidade argentina de 300 mil abortos clandestinos por ano, comenta: "A Igreja Católica nunca mitigará sua intransigência frente ao aborto, pela simples razão de que o respeito pela vida alheia é um dos pilares fundamentais da convivência humana.

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I


Aqui não se trata já de doutrina mas de princ1p10s aceitos pela humanidade de todas as épocas. Suprimir a vida a um ser humano, inocente, indefeso, configura um horrendo crime para qualquer pessoa normal, de qualquer religião, raça ou época."

-o OoA Igreja Ortodoxa italiana considera "o ser que está para nascer como pertencendo, não ao pai ou à mãe, mas a Deus." Afirma ainda o dever das comunidades de darem assistência material e moral "às mulheres que estão dominadas pelo desespero, pela angústia, pelo cansaço, e que não vêem outra solução senão o aborto."

-oOoEm recente congresso, os rabinos franceses exprimiram sua posição contra o aborto. "A liberação do aborto se deve condenar em nome da "Torah" (isto é, da lei mosaica, expressa sobretudo no Pentateuco) , que prega o respeito fundamental pela vida". Segundo a doutrina hebraica, afirmaram, o aborto constitui uma "gravíssima infração moral, e só se pode justificar com o efetivo perigo de morte para a mãe."

-o OoOs Bispos africanos, embora conhecendo as dificuldades da raça negra em geral, seu subdesenvolvimento, desnutrição, analfabetismo e outras dificuldade de todo gênero, numa reunião conjunta, realizada em Zâmbia, condenaram o aborto e toda ajuda do exterior (dos países chamados supercivilizados e superdesenvolvidos) com este fim, pedindo que essas verbas astronômicas destinadas à esterilização e aborto sejam aplicadas na elevação do homem de cor africano que, em seu conjunto, é dos mais atrasados do mundo.

-o OoA Federação Evangélica da França se pronunciou, através de um comunicado à imprensa, contra a liberação do aborto. O comunicado afirma que "o embrião é um ser humano completo desde o primeiro dia de sua existência" e que o aborto equivale, pois, a matar um ser humano. A Federação Evangélica da França, acrescenta o comunicado, declara que a mulher não tem direito de dispor, a seu modo, da criança "que ela apenas carrega" e que não faz parte de seu organismo. Disse, ainda, que "o aborto é uma ação retrógrada, que avilta a dignidade do homem e menospreza o caráter sagrado da vida humana criada à imagem de Deus." -17-


UM SACERDOTE NO MEIO DOS "HIPPIES"

A Rádio Vaticano entrevistou o Oblato de Maria Imaculada, Pe. Carmelo Conti Guglia, que se consagra há vários anos ao apostolado dos "hippies" que se agrupam nas praças e nas ruas características da velha Roma. O Pe. Conti Guglia contou como ele foi levado a esse apostolado: "Minha iniciativa não nasceu sobre o papel, ela não provém de esquemas preparados porque o mundo dos "hippies" é o mundo da espontaneidade e do imprevisto. Nos primeiros dias de julho de 1971, disse o padre, eu subia a escada de Trinitá dei Monti, na Praça de Espanha, e ali se encontravam centenas de "hippies". Eu me desviei deles mas ao mesmo tempo me perguntei: que fazer por estes jovens? Nesse mesmo instante, um "hippie" me abordou- olá, Padre - e me convidou: sente-se aqui conosco, nós devemos lhe falar. Eu me sentei, conversamos longamente e nos tornamos amigos. Depois, todas as tardes, eu voltava à Praça de Espanha, na escadaria de Trinitá dei Menti ... "Que falav·a com eles?", perguntou o entrevistador da Rádio Vaticano. O Pe. Guglia respondeu: falava da sociedade, da moral, da Igreja, do Cristo, de Deus.. . O Cristo é sempre o centro das preocupações de todos eles. Eu procuro responder a todos e termino sempre desejando para todos um encontro pessoal com Cristo. E me torno amigo e confidente de todos. Algumas -comunidades religiosas me ajudam a hospedar os "hippies", dar-lhes de comer e cuidar deles em caso de necessidade. A propósito da relação "família-jovens desadaptados", o Pe. ·Conti Guglia afirma que, no fundo, e por três razões, a família é protagonista destes dramas juvenis. Oitenta por cento dos j ovens, disse ele, não têm família ou é como se não a tivessem. -18-


Um não sabe quem são seus pais, outro não conhece o pai, um outro tem vergonha de ter uma mãe ... , eles nunca falam da família e reagem estranhamente quando se faz alusão à família. E se eles contam suas histórias nos levam às lágrimas e à indignação. De outra parte, a juventude "hippie" passou por rápida evolução. Ela estava cheia de ideologias, desejava reformar o mundo, vivia heroicamente, amava as discussões sérias. Agora ela se aburguesou. Entretanto minhas relações com os jovens continuam com a mesma amizade. Eles querem o padre, confiam-lhe tudo, recomendam-lhe tudo, recomendam-lhe seus amigos que se encontram em situações difíceis. Eles pedem para ser ajudados. Mas com eles mantenho um pacto: jamais lhes dei um centavo. Há três grandes problemas a serem resolvidos, declarou o Pe. Conti Guglia: 1 - estar presente em todos os pontos de encontro do centro de Roma: é necessário uma equipe de padres e de leigos preparados a tudo tentar pelo Cristo; 2 - ocupar-se dos adolescentes que fugiram. É o problema mais delicado; somente uma comunidade de mulheres corajosas e santas poderá se aproximar deles, amá-los e salvá-los. Nós temos boas razões para esperar que esta comunidade se organize muito em breve; 3 - é necessário organizar um centro para acolher e cuidar destes jovens, quando um momento de boa vontade se manifeste e os torne recuperáveis. "Se nós não os separamos de seu meio, nós os perdemos", concluiu o apóstolo dos "hippies" de Roma. (Ciec-Sp)

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BRASIL, TERRA DE MISSÃO

Vocês leram, na Carta Mensal de outubro do ano passado, o depoimento do Bispo de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, sobre a sua Diocese? Que espetáculo desolador nos revela Dom José Nicomedes Crossi! Um sacerdote para cada 70.000 pessoas! ... Um Bispo, quatro padres seculares - reduzidos a três, pois um já idoso e doente -, três padres redentoristas, dedicados mais especificamente ao Santuário, e oito religiosas vicentinas. Como panorama de penúria em matéria de assistência religiosa a uma comunidade, este é paradigma!. . . E o Bispo relata o esforço que dispende para atender a tal Diocese de 216.400 habitantes, a que se somam mais 300.000 pessoas nas épocas de romarias. A redação da Carta Mensal, em seu comentário, mostra quanto é arrasadora tal situação. E conclui que pouco poderíamos fazer, além das orações. Confessamos que ficamos tocados por esse artigo da Carta Mensal. Sentimos que ele é apenas um pano de amostra do que deve existir por esse Brasil afora, mesmo nas cidades maiores. Estávamos em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, no domingo das Missões. Participamos da Santa Missa, na Capela das Carmelitas; e o sacerdote, na homilia, ocupou-se do problema, demonstrando que o Brasil é também uma terra de Missão. E advertia, com muito acerto, para o papel do apóstolo que cada qual deveria desempenhar, no lar, na escola, no trabalho, na sociedade. E como é importante esse trabalho que devemos assumir! Não há dúvida que aos equipistas cabe também esse papel, pois cada um de nós deve ser testemunha de Cristo, estando reservada igualmente a nós uma parcela do trabalho que o Senhor designou para os seus apóstolos: "Glorificai o Pai na terra e salvai os homens para a edificação do Corpo de Cristo" (Vaticano II, Decreto "Christus Dominus" 1). Se nós pensássemos na nossa cidade grande, mais bem aquinhoada com o quadro -20-


numenco de sacerdotes do que aquela Diocese de Bom Jesus da Lapa, verificaríamos ser também desolador o quadro. Quanto é Ele substituído por orixás e babalaôs, crendices e fetiches que dominam pessoas supostamente esclarecidas e de categoria social! Pessoas que aplaudem outras inteligências argutas empregadas em usar tais fetiches para impressionar, ter público, adquirir leitores, espargindo venenos, disseminando tóxicos da alma através de belas imagens teatrais ou literárias que excitam o corpo e aviltam o espírito. O Brasil é de fato terra de missão! Nosso trabalho é grande, não há dúvida!. . . É preciso rezar: rezar muito, qual fazemos quando a doença se nos afigura intratável e colocamos na oração e em Deus nossa única esperança. Rezemos, pois, os equipistas, pelas vocações sacerdotais. Rezemos pelas vocações dos leigos que auxiliam os sacerdotes nos seus trabalhos de pastoral. Rezemos pelas nossas Dioceses. Rezemos pela nossa Pátria. Rezemos pelas nossas Equipes, para que elas sejam fortes, ativas, realmente testemunhas vivas desse Cristo que, por intercessão de nossa Mãe e Protetora, salvará toda a humanidade.

Helyeth e Jorge Machado (Petrópolis)

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VIDA DE EQUIPE

DEVER DE SENTAR-SE . .. NO OUTONO

O Casal Responsável de uma das mais antigas equipes de Curitiba, percebendo que seus equipistas estavam fraquejando no Dever de Sentar-se, apresentou numa de suas recentes reuniões, o trabalho que abaixo transcrevemos. Pelo teor do mesmo, percebe-se facilmente que não se trata de "brotinhos" e por isso quis alertá-los para a chegada do outono . .. e para o novo estilo que, nessa quadra da vida, o dever de sentar-se deveria assumir. Ouçamos as suas palavras:

"Já ouvimos muitas vezes a definição do Dever de Sentar-se:

é um longo momento que passam calmamente, todos os meses, marido e mulher juntos, para um balanço de sua vida, sob o olhar de Deus". Simples.

Claro como água.

Bem compreendido ...

Todos os equipistas sabem quantos benefícios tiram de um dever de sentar-se. No entanto é, talvez, entre os meios de aperfeiçoamento, aquele onde eles mais falham . . . "A vida desgasta, separa ; cada cônjuge tem seu caráter, seus gostos, seu temperamento. É preciso harmonizar tudo isso. É preciso, acima de tudo, planejar a vida em comum e a vida do lar: e planejar não significa apenas fixar horários, programas, atitudes. Planejar é pôr as partes em contato, as pessoas em comum acordo; respeitando cada um as fraquezas do outro e valorizando suas qualidades. -22-


Planejar é, sobretudo, dialogar, comunicar o mais íntimo de si, conservar o entusiasmo, a grandeza e o ideal do matrimônio cristão, como no primeiro dia de casados". (Carta Mensal de junho de 1971). Se é importante planejar quando se é jovem, quando se está na primavera, também é muito importante fazer planos quando se está no outono. . . e, por que não, para o inverno, quando ele se aproxima ... que o inverno é uma estação dura, difícil, longa ... Há o frio. E como é penosa a falta de calor!... Mais penoso ainda é o frio no coração, na vontade, na alma, no amor ... É

Há a neve. Gelo que mata a colheita, que seca os prados, que apaga as cores e afugenta as aves. . . Como é penoso o gelo que entorpece a vida ... Há que armazenar provisões. Há que empilhar a lenha para a lareira. Deus nos livre de uma lareira apagada durante o inverno! Então vamos sentar para planejar. Calmamente, na presença de Deus, nós que já estamos no outono (e já se vê neve em algumas cabeças ... ) , vamos conversar, vamos trocar idéias ... vamos fazer uma revisão da nossa caminhada na primavera e no verão que ficaram para trás ... Que as tristezas, que os erros, que os desacertos, que os pequenos desamores, que todos os obstáculos do caminho sejam vistos com os olhos novos, com os olhos da experiência, com os olhos de quem aprendeu a discernir o dedo de Deus em todos os passos do caminho. E que as alegrias, as coisas felizes nos sirvam de estímulo para a entrada do inverno que se anuncia. Que esta troca de idéias, singela, humilde, franca, seja ao mesmo tempo compreensão mútua, ação de graças, firme resolução de olhar sem temor para o futuro que nos aproxima cada vez mais de Deus. Que cada um de nós, os "velhinhos" de coração jovem, encare com toda a confiança a nova fase do amor que os espera e que, vivido sob o olhar de Deus, pode ter a beleza serena do entardecer.

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O PÃO MEU DE CADA DIA

Que o trigo dos trigais dourados produza o pão meu de cada dia, mas que, na hora de comê-lo, eu me lembre do gesto divino da Multiplicação e possa ter a grandeza humana da Divisão. Que o trigo dos trigais dourados produza o pão meu de cada dia, mas que eu não tenha apenas o pão do trigo dos trigais dourados. Que eu tenha o pão do Amor. Não do amor que me faz pensar em mim mesmo, mas do Amor que brota do coração dos bem-aventurados e se expande pelo Universo, envolvendo tudo e todos num abraço de Eternidade. Que eu tenha o pão da Caridade. Não da caridade dos que apenas dão esmolas, mas da Caridade dos que também se dão. Que eu tenha o pão da Coragem. Não da coragem dos que a têm somente para viver, mas da Coragem dos que a têm também para morrer. Que eu tenha o pão da Fé. Não da fé proclamada para as multidões, mas da Fé silenciosa, consciente, mostrada através de atos, de comportamento. Que eu tenha o pão da Humildade. Não da humildade dos que se proclamam humildes, mas da Humildade dos que são proclamados humildes.

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Que eu tenha o pão da Justiça. Não da justiça dos que olham para os lados, mas da Justiça dos que olham para a frente. Que eu tenha o pão do Perdão. Não do perdão dos que o dão a quem o pede, mas do Perdão dos que perdoam as ofensas que ainda não foram feitas. Que eu tenha o pão da Sabedoria. Não da sabedoria dos que se preocupam em aprender o que é complicado e que é fácil demais para ser aprendido, mas da Sabedoria dos que se propõem a aprender o que é simples e que é complicado demais para ser aprendido. Que eu tenha o pão da Verdade. Não da minha própria verdade, mas da Verdade de todos. Que que mas que

o trigo dos trigais dourados produza o pão meu de cada dia, me alimenta o corpo para prosseguir vivendo, que eu coma também o pão místico do banquete divino, me alimenta o espírito para ser digno de viver.

Luiz Homero

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NOTíCIAS DOS SETORES

TAUBAT~

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Mensagem do Bispo Diocesano

D. Francisco Borjas do Amaral assistiu a uma reunião de equipe em Taubaté, após a qual enviou uma mensagem às Equipes, externando seu entusiasmo pelo Movimento. Transcrevemos esta mensagem, publicada pelo Boletim: "Muito edificante a reunião das Equipes de Nossa Senhora. Uma hora de alta espiritualidade. Enquanto, em mesa comum, vários casais participam do ágape, elevam a mente a Deus, em preciosa meditação comunitária, baseada no Santo Evangelho. Oxalá todos os casais pertençam a esta ínclita e inspirada organização, que visa a melhor e maior compreensão do Sacramento do Matrimônio e orientação sobre a Família, baseadas na doutrina da Santa Igreja Católica, sabiamente governada hoje, nestes dias agitados, por Sua Santidade Paulo VI. Neste Ano Santo - Ano de Conversão e Reconciliação, Ano, outrossim, da Família, é ocasião oportuna para que muitos esposos freqüentem estas reuniões, de grande vantagem para a mais linda harmonia das famílias e a reta educação dos filhos, para que sejam a alegria de todos e a honra da Religião e da Pátria". Carta de despedida de lrene e Dionísio

Ao deixar o Setor para assumir a Região, !rene e Dionísio dirigiram uma carta a todos os equipistas, através do "Mensagem". Alguns trechos da carta:

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"Como é paradoxal! Entramos para dar e no entanto recebemos mais do que demos! E ganhamos muito. Ganhamos a amizade de vocês, não uma amizade comum, mas uma amizade diferente, fraterna, confiante, duradoura, uma amizade-doação. Aprendemos muito. Aprendemos a confiar em Deus, mas não apenas a confiar simplesmente, mas ilimitadamente, colocando nossas vidas conscientemente em Suas mãos. Aprendemos a invocar o Espírito Santo em todas as atitudes de nossa vida. . . para tomar uma decisão, para entender o Evangelho, para redigir (tal como o fazemos neste momento), para nortear, enfim, a nossa vida. É isso que, ao deixarmos o Setor, queríamos que vocês guardassem bem, a confiança ilimitada em Deus através de seu Espírito de Amor, o Espírito Santo. E não é difícil consegui-lo, especialmente quando se tem um Movimento como o nosso que fornece tantos meios para redescobrirmos o Cristo. Não devemos desperdiçar esses dons que estão ao nosso alcance". Várias iniciativas

Já foi há alguns meses, mas merecem destaque: - a Missa do Dia das Mães, quando, no momento do ofertório, as crianças ofereceram um botão de rosas às mães, que as depositaram aos pés de Nossa Senhora; - a Missa do Dia dos Namorados, seguida de uma conferência do Pe. Pedro Lopes, sobre os namorados; - o Dia de Informação Cristã, reunindo 40 adolescentes. entre componentes das "equipinhas" e outros jovens, com palestras dadas, na maioria, por membros do movimento "Shalon" de São José dos Campos, e seguidas de grupos de trabalho. Os assuntos: Personalidade; Família; Namoro-Sexo; Cristo, Nosso Irmão; Sacramento. Todos os jovens receberam o sacramento da penitência e participaram vivamente da Santa Missa, um pouco cansados pelo dia (que começou às 8,00 horas e terminou às 19,00 horas), mas vibrantes e alegres. Os pais aguardavam, ao final do encontro, os seus filhos, com grandes e felizes abraços. As Reuniões de equipes mistas, muito bem planejadas e com tema centralizado sobre a Família. Na co-participação, os casais colocaram em comum suas reflexões em torno da questão: "Quais os problemas que perturbam sua família no mundo moderno?" Como oração litúrgica, todos rezaram a "Oração do Lar", tirada de "As mais belas orações do nosso tempo". Para os debates, havia duas questões, que deram oportunidade de analisar o com-27-


portamento familiar com relação ao pensamento da Igreja e a maneira de levar o testemunho dentro da sociedade: 1) A Igreja d~fine a família como sendo formadora de pessoas, educadora na fe e promotora do desenvolvimento; a nossa tem sido assim? 2) Como as E.N.S. podem levar esse conceito cristão de família à sociedade?"

BAURU -

Ainda o Ano da Família

Neste segundo semestre, por determinação do Setor, todas as equipes com mais de três anos estão estudando os Roteiros de Reflexão publicados pela CNBB, respondendo obrigatoriamente por escrito às perguntas e debatendo as mesmas nas reuniões mensais. Os casais novos continuam respondendo aos temas das Cartas Mensais das Equipes Novas, conforme vinham fazendo. Mas os Roteiros são estudados por eles também, embora não sejam respondidos por escrito. Algumas equipes que estão fazendo uma revisão dos temas obrigatórios procedem da seguinte maneira: as perguntas dos temas obrigatórios são debatidas na co-participação e as respostas dos Roteiros de Reflexão são estudadas (sem precisarem ser respondidas por escrito) na hora do debate do tema; os casais responsáveis se encarregam de anotar as opiniões e de fazer um resumo que, juntado aos das demais equipes, é enviado à Comissão Geral do Ano da Família em São Paulo. Ano Santo

A Equipe 10 resolveu adotar, para oração diária em família, a Oração do Ano Santo que acompanhou a Carta Mensal de junho. Decidiu também rezá-la no encerramento de suas reuniões mensais. Parabéns, Bauru! Aguardamos notícias de outras iniciativas relativas ao Ano da Família e ao Ano Santo.

Um Retiro entusiasmante

O Boletim de agosto é quase todo dedicado ao retiro realizado em julho, tal a impressão que deixou em todos. Alguns extratos: " 'O homem que 'capitulou' diante de Deus, o homem que disse sim, muitas vezes obtém imediatamente sua recompensa. O

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Senhor fá-lo saborear a alegria de possuí-lO e de ser por Ele possuído. As palavras são débeis demais para exprimir este amoroso amplexo de Deus.' Acreditamos que estas palavras de Michel Quoist traduzem bem o sentir dos participantes do retiro espiritual que fizemos, guiados pela palavra, pelos gestos, pelas colocações sempre diretas e certas de Frei Estêvão.'' "Achamos o retiro magnífico, bem organizado, alegre, conseguindo realizar os objetivos colimados. As palestras do Frei Estêvão foram muito originais e profundas, expostas com uma facilidade e com uma objetividade que jamais havíamos experimentado. Naturalmente a qualidade de professor do pregador e os longos anos do magistério influíram para que ele tivesse aquela didática excepcional, de nos mostrar coisas julgadas misteriosas e inexplicáveis com tanta simplicidade e profundidade. Gostamos mesmo de Frei Estêvão, que reúne todas as condições para um retiro. Tanto a sua figura simpática como a sua voz, a sua cultura e principalmente o método expositivo, deixaram uma marca profunda em nós. A escolha do palestrante foi felicíssima.''

• NOVOS RESPONSAVEIS Taubaté

Quando !rene e Dionísio deixaram o Setor para assumir a responsabilidade da Região do Vale do Paraíba (São Paulo/E), foram substituídos por Celina e Rubens Jorge Roston. São Carlos

Neide e Ayrton, que ganharam bem merecida aposentadoria, têm como substitutos na responsabilidade do Setor Maria Aparecida e Mário Duarte de Souza. Blumenau

Substituindo Sônia e Mauro Luís Kreibich à testa da Coordenação estão Marina e Mansueto Tontini. -29-


EQUIPES NOVAS São Carlos

Só agora recebemos notícia da admissão da equipe n. 0 4, de São Carlos. Pilotada por Aparecida e Mário Duarte, tem como Casal Responsável J acira e Edgard Molck e como Conselheiro espiritual Mons. José Geraldo Crescenti. É composta de oito casais, reunidos sob a invocação de "Nossa Senhora Rainha da Paz". Agradecemos a comunicação e aproveitamos para pedir, mais uma vez, aos Responsáveis de Coordenação e de Setor que enviem ao Secretariado, ao mesmo tempo que ao seu Regional, comunicação de novas equipes. Pode ser por via de carbono, diretamente num envelope, mas, por favor, mantenham o Secretariado informado!

Juiz de Fora

Lemos no "Equipetrópolis" que está sendo pilotada mais uma equipe em Juiz de Fora, ou seja, a de n. 0 5. Brasília

Também pelo Boletim, ficamos sabendo que nasceu a Equipe n. 0 5 da Capital Federal, composta de oito casais. Está sendo pilotada por Beatriz e Leônidas, e o Conselheiro Espiritual é o Côn. Affonso Hammes.

• SESSÃO DE FORMAÇÃO DE QUADROS:

Guanabara -

31 out. -

1, 2 e 3 novembro.

RETIROS

Outubro - 4 a 6. Organizado pelo Setor de Santos, no Instituto Paulo VI, no Taboão da Serra. Pregador: Frei Gilberto Longo

Outubro - 18 a 20. Organizado pela Região São Paulo Capital, no Cenáculo, Taboão da Serra. Pregador: Pe. Paulo Raabe, s.v.d.

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MUTIRÃO - GUANABARA - 1974

Realizou-se em Nova Iguaçu, RJ, nos dias 14 a 16 de junho, o Mutirão da Guanabara de 1974. O encontro teve lugar nas instalações do Centro de Formação de Líderes da diocese daquela cidade fluminense e contou com a participação de 15 casais equipistas, dos quais um das equipes de Manaus e um das de Brasília, o casal Helenie e Sérgio Henrique, da Equipe 2, N. S. das Vitórias, a quem cabe agora dar esta pequena notícia. O Mutirão teve por finalidade desenvolver e aprimorar nos participantes a mística das equipes, contribuindo dessa forma para seu aperfeiçoamento espiritual. Tivemos, durante aqueles dias, quatro ótimas palestras, realizadas na parte da manhã, versando sobre "Espiritualidade Conjugal", "O Sentido dos Meios de Aperfeiçoamento", "Adultos em Cristo" e "Alegria no Serviço". Após cada palestra dedicava-se meia hora à meditação sobre o assunto tratado, sendo metade do tempo destinada à meditação individual e a outra metade à meditação do casal. Na parte da tarde eram reunidos grupos de co-participação, formados por diversos casais com a presença de um orientador espiritual, nos quais eram debatidos os temas das palestras. Tivemos também a projeção de um filme tratando de relações humanas, uma reunião de equipe na qual foi demonstrado como deve ser o seu desenrolar, uma reunião festiva de confraternização, em que os "artistas" foram alguns presentes ao Mutirão, e a celebração especial e emocionante de duas missas. A organização do Mutirão esteve perfeita em todos os seus aspectos, cabendo aqui destacar o notável trabalho da equipe de serviço. Os seus frutos foram excelentes e deixamos nesta oportunidade registrado nosso testemunho: de que todo casal equipista deve participar de uma reunião de tal natureza, face aos seus benefícios espirituais e ao melhor conhecimento que proporciona do que são as Equipes de Nossa Senhora e seus propósitos. (do Boletim de Brasilla)

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T '

-...

ORAÇÃO PARA A PRÓXIMA REUNIÃO TEXTO DE MEDITkÇAO -

(Ef. 4, 1-3, 5, 1-2)

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro do Senhor, que vos porteis de um modo digno da vocação à qual fostes chamados: com toda humildade, doçura e paciência, suportai-vos uns aos outros no amor, solícitos em conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Sede imitadores de Deus, como filhos amados, e procedei com amor, à semelhança de Cristo, que nos amou e se entregou por nós a Deus, oferenda e sacrifício de agradável odor.

ORAÇAO LITúRGICA

Virgem, transbordante de alegria, Virgem, transpassada pela dor, Rainha revestida de glória, acolhe no céu nosso louvor. Salve, exultando de júbilo, Quando concebes, quando visitas, dás ao mundo, ofereces a Deus, encontras no Templo o Senhor! Salve, ó Mãe dolorosa, Sofrendo em teu coração, a agonia, os flagelos, os espinhos, a dura cruz de teu Filho! Salve, com teu Filho triunfante, Recebendo as chamas do Paráclito, Acima dos Anjos e dos Santos, Rainha resplendente de glória! Vinde, nações, colhei, as rosas destes mistérios, e à Mãe do puro amor radiosas coroas tecei! (Hino do Ofício do Rosário, composto por Frei Tomãs Ricchini, no .século XVII)

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