Anuário 10 Unesco/Metodista -primeira parte- Teoria da Comunicação

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A G ALÁXIA

DE

GUTENBERG

E A DE

MARSHALL MCLUHAN

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muito treino e porque os africanos não aceitam o nosso papel de consumidores passivos perante os filmes. Recorrendo à história antiga, McLuhan afirma que os gregos somente promoveram a inovação artística e científica depois que interiorizaram o alfabeto, partindo para uma “ênfase visual”, que os alienou da arte primitiva. O mesmo está acontecendo agora, quando a idade eletrônica reforjou o primitivismo, depois de “interiorizar o campo unificado da simultaneidade elétrica”. Mas apenas uma fração da história da alfabetização foi tipográfica. A escrita não conseguiria quebrar o poder da oralidade, porquanto somente os romanos e, muitos séculos depois, nos fins da Idade Média, introduziram-se técnicas de uniformização e reprodução. Assim mesmo, à falta de uma interiorização global da técnica manuscrita, tanto na Antiguidade como nos tempos medievais “ ler era necessariamente ler em voz alta”. E mais: “a cultura manuscrita é coloquial, ainda que somente pelo fato de o escritor e sua audiência estarem fisicamente pela forma de publicação como desempenho (...). A cela medieval para a leitura dos monges era, na realidade, uma tenda para cantar”. A escola era “cantada” e nela “a gramática servia, acima de tudo, para estabelecer fidelidade oral”, pois “o estudante medieval tinha de ser paleógrafo, revisor e editor dos autores que lia. “A ascensão dos escolásticos ou moderno, no século XII, provoca um rompimento definitivo com os antigos da sabedoria tradicional cristã (...). O método escolástico, como o de Sêneca, era parente direto das tradições orais do aprendizado por aforismos”. Entretanto, o aumento na quantidade do movimento de informação favoreceu a organização visual do saber e do aparecimento, primeiro da perspectiva e depois da tipografia. “ A cultura amanuense e a arquitetura gótica preocupavam-se ambas com a luz ATRAVÉS e não SÔBRE (...). As iluminuras, comentários e esculturas medievais eram igualmente aspecto da arte da memória, centros de cultura amanuense”. Mas o mundo medieval termina “num delírio de conhecimento aplicado a recriação da antiguidade (...). A Itália da Renascença tornou-se uma espécie de coleção hollywoodeana de tomadas da antiguidade” e o nôvo antiquarismo visual abria nôvo caminho intelectual e político para os homens de tôdas as classes, que viria com a revolução tipográfica. TIPOGRAFIA E MUDANÇA SOCIAL A invenção da tipografia confirma e amplia a nova ênfase visual do conhecimento aplicado, ensejando o primeiro utensílio uniformemente reproduzido. Era, portanto, uma forma de comunicação ainda mais restritiva e unidimensional: os livros tornaram-se pràticamente o único meio pelo qual o saber era adquirido ou armazenado; os impressos periódicos, o meio através o qual as comunicações sofriam contrôle. O processo tecnológico tipográfico era visual, linear e fragmentário: as seqüências formavam o padrão – uma letra após a outra, uma a palavra após a Anuário Unesco/Metodista de Comunicação Regional, Ano 10 n.10, 59-64, jan/dez. 2006


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