Livro de memorias

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No ano de 1996, o Ex.mº Diretor Regional da Educação do Norte, incumbiu-me a mim e aos colegas António Humberto Naia Ferreira e António Coelho Rodrigues de procedermos à instalação da nova Escola do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico da Junqueira, escola que agora se designa por Escola do Ensino Básico dos 2.º e 3.º ciclos, Dr. Carlos Pinto Ferreira de Junqueira.

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Esta equipa assumiu, logo de início, que tudo faria para que esta escola se revelasse numa escola de referência, o que julgo estarmos a conseguir ao fim destes dezoito anos. Tendo em conta que as escolas de Vila do Conde, da altura, Escola do Ensino Básico dos 2.º e 3.º ciclos, Frei João, a Escola do Ensino Básico dos 2.º e 3.º ciclos, Júlio Saúl-Dias e a Escola Secundária José Régio, estavam sobrelotadas, não tendo capacidade para receber nem mais um aluno, e contrariando o que era normal acontecer aquando da abertura de novos estabelecimentos de ensino dos 2.º e 3.º ciclos, que 3


iniciavam só com turmas dos 5.º e 7.º anos de escolaridade, decidimos que a nossa nova escola iria abrir com todas as turmas dos 5.º, 6.º, 7.º. 8.º e 9.º anos, num total de seiscentos e setenta e três alunos e assim descongestionar as outras escolas de Vila do Conde. É com muita satisfação que me recordo do dia 15 de Julho de 1996, quando a nossa equipa, a direção, acompanhado do chefe de serviços administrativos Manuel Antonio Ferreira da Silva, a segundo oficial dos serviços administrativos Ana Fernandes Oliveira do Carmo Henri-

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ques, a terceiro Oficial dos serviços administrativos Lígia Maria da Lage Fernandes, a chefe do pessoal não docente Maria Fátima Nunes Russa Ferreira Silva, entrámos pela primeira vez na escola, que ainda estava com obras de acabamento, salas de aula ainda com as paredes por revestir, corredores a serem colocados azulejos, exteriores com tudo por concluir, enfim, o impacto foi grande, questionámo-nos se iriamos conseguir iniciar as atividades letivas ao mesmo tempo que as outras escolas de Vila do Conde, mas esta equipa estava predisposta a ultrapas-

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sar todos os obstáculos e tudo fazer para o conseguir. E assim foi. Em setembro, mesmo com obras a decorrer, iniciámos as atividades letivas. Pensamos que foi uma caminhada de sucesso. A História o dirá. Estamos cientes, do importante papel que tivemos durante estes dezoito anos, na educação e formação de centenas de jovens e sabemos que a nossa escola foi também, e de algum modo, a casa e a família de muitos alunos. O espaço onde aprenderam a viver mais intensamente os valores humanistas da liberdade, da democracia e da tolerância. 6


Foi casa de muitos amores e de profundas amizades. Por isso, a tão portuguesa palavra saudade é a que melhor sintetiza todas as sensações que habitam as mentes e os corações daqueles que a frequentaram. Tenho muito orgulho no trabalho que vimos fazendo, a esta data, e é com um misto de alegria e de responsabilidade, que continuo a abraçar este projeto. Não podendo citar todos quantos contribuíram para a concretização do sonho de muitos, uma palavra especial para todos os professores e funcionários que, nestes dezoito anos, 7


muito dignamente serviram esta escola e para todos quantos tivemos a honra de educar. O prestígio desta escola deve-se ainda às famílias dos alunos que ao longo destes anos nos têm dado a honra da sua preferência e, se de algum modo contribuímos para a educação dos seus filhos, é de inteira justiça sublinhar o importante contributo que deram na construção e afirmação da nossa identidade. Junho de 2014 José Manuel do Carmo Henriques XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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Memórias da minha passagem pela Escola da Junqueira

Há dias, remexendo velhos papéis – coisa que nós, os reformados, fazemos amiúde, para nos desenvencilharmos daqueles que já não têm préstimo e para, também, ocuparmos algum do nosso tempo -, deparei com uma “Nota de notificação”, proveniente dos Serviços do Ministério Público da Comarca de Vila do Conde, comunicando-me que, “por despacho do Ministério Público”, haviam sido arquivados os autos de inquérito em que eu fora queixoso, 9


por danos provocados, por “desconhecidos”, na minha viatura. Olhando para a data da comunicação, 23 de novembro de 1996, logo me veio à memória o episódio que estivera na origem da minha queixa, uma queixa movida contra o ignoto autor de uns riscos profundos feitos em duas das portas do meu automóvel, riscos que, a não ser encontrado aquele, me forçariam a uma despesa não prevista, sem cabimento no meu magro orçamento, cujas receitas se encontravam, desde há muito, consignadas a despesas a que não podia fugir. 10


Indignado e revoltado; com alguma dose de desespero à mistura, mais ainda porque os últimos tempos, os tempos que precederam a abertura do ano escolar, haviam sido vividos por todos nós, os que dirigíamos e trabalhávamos na escola, sob uma enorme pressão; movido talvez, um tanto ingenuamente, reconheço-o agora, pela esperança de que um qualquer milagre viesse a acontecer, apresentei queixa na Guarda Nacional Republicana. Em vão, como seria de esperar.

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Como em vão, e com alguma perda de tempo à mistura, terão sido, também, as queixas dos que, como eu, viram, nesse dia aziago, as suas viaturas, estacionadas, tal como a minha, nas imediações da escola, vandalizadas, que muitas foram. Se é que, obviamente, ingénuos como eu, as apresentaram… Um outro episódio que me deixou marcas na memória prende-se com uma quadra natalícia, que, sem certeza, presumo ter sido a de 1996 (a idade favorece este tipo de lapsos), e com um bem-humorado e artístico postal de Boas Festas enviado por nós, que dirigíamos a 12


escola, a todos aqueles que nos mereciam carinho e admiração e, em alguns casos, tão-só o respeito institucional, postal a que alguns, poucos, não terão achado graça nenhuma, certamente por não apreciarem a genialidade de Carlo Collodi e da sua obra As Aventuras de Pinóquio… Que eu saiba, esse episódio não desmoralizou - E ainda bem! - os dirigentes da escola, que mantêm bem viva essa feliz tradição, continuando a enviar-nos postais artisticamente ilustrados e, agora, enriquecidos com belos poemas, tudo da lavra do arquiteto Magalhães. 13


Foram estas duas das várias memórias que ainda guardo da minha passagem pela Escola dos 2.º e 3.º ciclos da Junqueira, nos já distantes anos letivos de 1996-1997 e 1997-1998, há quase vinte anos, pois. Uma escola onde tive o privilégio de trabalhar com gente maravilhosa, funcionários e alunos incluídos, e a cuja Comissão Instaladora me coube a honra de pertencer, graças à generosidade do professor Henriques. Prof. Naia Ferreira XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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As funções da ação social escolar

O início de qualquer atividade é sempre um grande desafio, principalmente quando os responsáveis dessas organizações não possuem verba atribuída no arranque. A escola EB2 e 3 Carlos Pinto Ferreira (na Junqueira- Vila do conde), também sofreu essa maligna, o que criou imensos problemas á escola. Como disse, os problemas foram muitos mas apenas vou descrever um, por ele se relacionar com as funções do SASE, que era o Pelouro 15


da minha responsabilidade direta e do conselho diretivo, e ao mesmo tempo se relacionar com a ação escolar e humana. A certa altura do ano verificamos que alguns alunos sofriam sincopes na escola, principalmente nas salas de aulas e sobretudo no período da manhã. A todos estes casos foi dado o tratamento que se imponha, que foi o encaminhamento para o hospital. Depois de observados esses alunos regressaram á escola acompanhados por responsáveis da escola, trazendo com eles o respetivo relatório médico. Foi para

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nós, comissão diretiva e toda a comunidade escolar, uma enorme supressa verificar que a maioria dos quadros clínicos de síncopes se devia á falta de nutrição dos alunos. De imediato, foram investigadas supostas causas, tendo sido concluído que uma grande parte desses alunos não tomava qualquer alimento antes de vir para a escola, e para alguns alunos a única refeição digna desse nome era a refeição recebida ao meio dia na escola. De imediato foram tomadas as medidas necessárias e alertadas as autoridades competentes, nomeadamente a ação social da Camara de 17


Vila do Conde e outras instituições relacionadas com esses fins. Por falta de uma resposta em tempo útil recorreu-se ao Banco Alimentar contra a fome, que de pronto se colocou á disposição da escola no fornecimento de alguns alimentos de primeira necessidade. O sucesso foi tal que nos permitiu fornecer leite gratuitamente, a todos os alunos da escola e ainda, aos alunos com escalões A e B, receberem um pão com manteiga, queijo ou fiambre, sem qualquer custo nos períodos da manhã e da tarde. Os res-

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tantes aluno também podiam adquirir as referidas sandes pagando apenas o valor simbólico do pão. Desta forma foi possível acabar com o drama verificado na escola dentro e fora da sala de aulas, assim como aumentar o aproveitamento escolar dos alunos.

Professor António Coelho Rodrigues

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A Minha Escola Há lugares assim. Lugares que povoam a memória e se cravam na carne como coisa viva. Lugares que nos chamam. Lugares que passam por nós e corrigem nossos passos. Lugares com quem tínhamos um encontro marcado inconscientemente. Lugares que nos possuem e passam a ser nossos. Há lugares assim. Lugares que dificilmente cabem em palavras. Lugares carregados de pequenas e grandes histórias, agrestes e doces, mais doces que agrestes. Testemunhos e experiências inesquecíveis. Lugares que nos ajudam 20


a crescer. A olhar para lá do imediato. Do que pesa fundo. Dos gestos e silêncios que realmente contam. Do que fica. E depois, há as pessoas. Os sorrisos. Os rostos. Há lugares assim. Onde as pessoas contam. Onde cada sorriso é uma dádiva. Onde cada rosto é um rosto. Pessoas, sorrisos, rostos, que passam continuamente por dentro dos olhos, como se morassem lá. Não. Não vou falar de nomes. Seria transformar este texto num inventário. E vocês sabem de quem falo. Do que falo. Direi apenas que esses rostos, esses sorrisos, nunca serão 21


anónimos. Nunca serão indiferentes. Há rostos e sorrisos assim. Que nos acompanham, como uma sombra interior. Há lugares assim. Lugares a que nos abandonamos por aquilo que em nós deixaram. Que persistem. Que confortam. Que caminham connosco. Lugares aonde regressaremos sempre, sem nunca deles termos saído. Domingos Santos XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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Memórias entrelaçadas Estávamos no ano letivo de 1994/95. Eu era professora na Escola Saúl Dias, em Vila do Conde. Abriu o concurso para o ano letivo 1995/96 e eu decidi concorrer. Nas listas de escolas encontrei uma, também do concelho de Vila do Conde, que abriria na Junqueira. Decidi concorrer. Aí fui colocada mas… a escola não abriu! Mas era a “minha” nova escola. Pertencia ao quadro de uma escola inexistente! O que fazer então?

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DREN, CAE, DREN, CAE, DREN, CAE… até que surgiu a possibilidade, e o grande desafio, de abrir uma escola perto de Caldas de Vizela. Aceitar? Não aceitar? Aceitar, implicava um percurso diário de 140 quilómetros. Não aceitar, implicava renunciar a mais um desafio profissional. O segundo sobrepôs-se ao primeiro. Perguntarão, e com razão, o que poderei então recordar se não lecionei nesta escola nos seus dois primeiros anos de vida?

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Posso recordar o contacto que sempre mantive com a direção, na pessoa do meu amigo José Henriques. Conhecera-o durante a minha breve passagem pela escola Saúl Dias, onde ele era então Presidente do Conselho Diretivo e, quando me vi a braços com a direção de uma comissão instaladora, sabia que teria sempre, neste homem sábio e experiente, um amigo que me aconselharia, me ajudaria, me guiaria sempre que eu necessitasse. E assim foi. A nossa relação profissional, felizmente nem sempre pacífica, mas afortunadamente sempre salutar, desenvolveu-se e mantem-se 25


até hoje com um enorme respeito e reconhecimento mútuos. Não poderei terminar estas “memórias” sem fazer uma inconfidência. Sempre que, nesses dois primeiros anos, vim a esta escola para tratar de algum assunto e dizia ao diretor que, no próximo ano, aqui me teria, ele respondiame: “Dizes sempre isso, mas nunca vens!” Agora posso afirmar: “Como vês, amigo diretor, vim… e nunca mais de cá saí! Por que razão será?” Cada um encontrará uma justificação, eu tenho uma explicação: fiquei porque gostei e 26


gosto, fiquei porque fui e sou acarinhada, fiquei porque fui e sou respeitada, fiquei porque encontrei um diretor que, tal como eu, adora desafios! EmĂ­lia Maria Santiago Miranda

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Foi na Junqueira

Foi na Junqueira que iniciei A aventura de ensinar Muitos e bons alunos conheci Nesta escola que estava a inaugurar

Presidente, colegas e assistentes Que pessoas fantásticas encontrei Alunos com grande coração Que bons momentos desfrutei

Assisti ao seu nascimento Participei no seu crescimento A adolescência está a atravessar E cá estou eu para testemunhar…

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OBRIGADO a todos pelos grandes momentos que aqui passei. José Américo Barros

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Doze anos… Dos doze anos que integrei o corpo docente da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira (de 97/98 a 08/09), recordo com saudade todos os colegas que me acompanharam, bem como os alunos que tive e que, com certeza, alguns serão já adultos. Nunca vou esquecer a simpatia dos funcionários e dos elementos da Secretaria, e o nosso Diretor Henriques e exSubdiretor Domingos – sim… ainda os recordo como “nossos” porque, para mim, continuam a ser uma referência.

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Apesar de já terem-se passado cinco anos após a minha saída, guardo com muito carinho e saudade as memórias dos bons momentos que vivi ao longo desse tempo. Despeço-me com um bem-haja a todos os colegas, alunos e funcionários especiais com quem eu convivi. Da professora Ana Cristina Fernandes. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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“Recordar e esquecer” Amigos, citando Gabriel García Márquez, “recordar é fácil para quem tem memória, esquecer é difícil para quem tem coração”. Na verdade, há marcas que ficam para sempre! Estive destacado na Escola Básica 2,3 da Junqueira, no primeiro ano de funcionamento, sendo delegado da disciplina de História e Geografia de Portugal, grupo pequeno, mas dinâmico…

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Guardo ótimas recordações da Escola: as relações humanas, o comportamento dos alunos, a organização e asseio de todo o espaço escolar… Recordo o entusiasmo e dedicação do meu grupo disciplinar e dos alunos do 2º ciclo, na preparação e participação, em Lisboa, na 2º Sessão Parlamentar para jovens, 1ª para a nossa Escola. Nesta atividade, destaco o trabalho dos elementos do grupo disciplinar, o empenho do presidente da Comissão Instaladora, José Henriques, e a colaboração da Câmara Municipal de Vila do Conde, patrocinando a atividade. 33


Recordo-me da maior parte dos colegas, embora já confunda alguns nomes. Trabalho no Agrupamento de Escolas de Rates, onde continuo a desempenhar as minhas funções e onde me sinto feliz como nos bons velhos tempos. Fernando Sousa. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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Os momentos vividos Os momentos vividos nessa escola mantém-se inscritos e presentes em mim, no meu quotidiano, porquanto foram especiais e essenciais para a pessoa que sou hoje. O prof. Henriques foi/é para mim uma figura de referência, pois sempre fui tocada por pessoas que inspiram e expiram o que são... pautando o comportamento por verticalidade e verdade... e eu senti isso... sempre agradecerei e sempre lembrarei o quanto o prof.Henriques, enquanto diretor, e a D.Ana, enquanto chefe de

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secretaria, me facilitaram o processo de prosseguir os meus estudos, sem que isso pusesse ou colidisse com a minha responsabilidade enquanto funcionária. Foi também aí, nesse contexto, que encontrei a minha amiga/irmã Maria José que se tem mantido presente na minha Vida e também ela foi e é exemplo de grande integridade, honestidade, verdade, responsabilidade, sentido de missão, leal, amiga... sempre a lembrarei e sempre a refiro no meu contexto de trabalho por ser tão raro encontrar alguém assim... lembro quando o prof. Henriques lhe pedia algo que ela 36


ainda não tinha feito porque estava dependente da execução do meu trabalho de ela não o referir ou queixar-se... simplesmente dizia... amiga temos de fazer isto... e juntas... de mão dada... não competindo, mas cooperando... fazíamos... lembro da vinda da inspeção e de algo que faltava fazer no SASE e da Maria José entrar em pânico e de eu lhe dizer... tranquila amiga... fico contigo... e sinto o quanto cooperar é bem mais importante que competir... o quanto sozinha posso ir mais rápido, mas o quanto acompanhada posso ir mais longe... ainda neste con-

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texto de amizade... e fruto da minha impulsividade e frontalidade, afinal nasci no mesmo dia do prof. Henriques... heheheheheheheh... a Maria José teve um papel preponderante... dizia... importante teres dito o que disseste... mas nem sempre o outro compreende... nem sempre o outro tem a mesma visão... nem sempre... e neste... nem sempre... fui-me apercebendo da condição do outro... que jamais será igual à minha... e fui aprendendo a calar... curiosamente a Maria José diz que eu a ensinei a falar... heheheheheheheheheheh... tão bom!

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Isto tudo para vos dizer, não apenas aos que referi especificamente, mas a todos, a todos mesmo, inclusive àqueles a quem eu possa em algum momento ter ido mais além... que foram muito importantes e que vos trago no coração. Nesse dia dificilmente conseguirei estar presente, mas vou tentar ir para vos dar um abraço e dizer pessoalmente o quanto foi/é importante para mim... Nesse entretanto, faço um apelo, que cuidem bem a minha amiga/irmã... que lhe possam

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dar o carinho, o aconchego, a tranquilidade, a paz... OBRIGADA!!!!!!!!!!!!! Tudo de bom! Abraço com muito carinho Prof. Henriques e Prof. Emília Miranda... acho maravilhoso que exista uma Equipa da Ação de Melhoria... muito bom! Cristina Bastos XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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Com dez anos… Com 10 anos entrei pela primeira vez na Escola Básica 2,3 Dr. Carlos Pinto Ferreira. Ainda tenho a composição que escrevi logo nas primeiras aulas de Língua Portuguesa com a Professora Delfina Amado e que chegou a ser publicada no “Aguarela”. Nela lembrava, com certa nostalgia, as grades verdes, as árvores, o pequeno recreio e a Professora Clotilde, que acompanhou a nossa turma de Bagunte da 2.ª à 4.ª classe — grupo que acabou por permanecer unido na transição para o 5.º ano: o 5.º B. A nova escola estava igualmente rodeada por 41


grades verdes, mas o recreio era enorme, havia um professor para cada disciplina e a sala raramente era a mesma. Uma grande mudança que, dizia eu, me dava “outras responsabilidades”. Trouxe-as realmente, assim como trouxe experiências marcantes e pessoas que ainda hoje, felizmente, fazem parte da minha vida. É sempre com carinho que recordo o Professor Domingos Santos, que nos lecionou História e Geografia de Portugal no 5.º e no 6.º ano, mas que acabou por seguir de perto o nosso percurso até ao 9.º. Foi uma proposta 42


sua que me levou a empreender com a Diana a construção de uma habitação típica do período castrejo — um projeto que só chegou a bom porto graças à ajuda do pai dela. Foi também o Professor Domingos quem acompanhou as listas vencedoras — e das quais fiz parte — ao Parlamento das Crianças e Jovens na Assembleia da República nos anos de 1998 e de 1999. Ajudou ainda a nossa turma a organizar a viagem que fizemos no 7.º ano a Manzaneda e que foi, sem dúvida, um marco importante na história do nosso grupo.

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Ainda no 5.º ano, foi com enorme entusiasmo que participei na preparação do disfarce que a nossa turma construiu para o cortejo do Carnaval de 98, em Vila do Conde. Era um grande dragão vermelho feito com caixotes de papelão, realizado com a ajuda dos docentes de EVT, a Professora Sílvia e o Professor Garrido. Recordo-me que, ao aproximar-se a data do desfile, convenci a minha avó e a minha tia a ajudarem na recolha de caixotes pelas lojas dos arredores e trouxe algumas colegas de turma para minha casa para adiantarmos o trabalho. 44


Guardo igualmente felizes lembranças de outros professores do 5.º ano que não voltei a encontrar: o Professor Jaime Afonso de Educação Moral e Religiosa Católica, a Professora Luísa Garcia de Ciências da Natureza e a Professora Emília Castro que veio substituir a Professora Delfina Amado a Língua Portuguesa. Desta última professora, recordo o entusiasmo e a forma como incentivava à leitura; foi a responsável por eu ter lido, pela primeira vez, uma obra de Alves Redol, “A Vida Mágica da Sementinha”.

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Senti-me muitas vezes como a Sementinha da história do Alves Redol à medida que o tempo passava. O 5.º ano foi o desconhecido e a novidade, um período de transição e de adaptação. No 6.º ano já estávamos plenamente integrados, já conhecíamos os cantos à casa e quase todos os funcionários sabiam o nosso nome. Longe iam os tempos em que jogávamos à macaca, às escondidas e à “mãezinha dá licença” no recreio da escola primária; o que estava na moda então era ouvir e cantar as músicas dos Santamaria, dos Excesso, d’ Os Milénio, das Spice Girls, dos Backstreet Boys e, 46


mais tarde, dos Anjos e da Britney Spears. Era assim nos intervalos das aulas e durante as viagens de estudo organizadas pela Professora de Matemática e de Ciências, Maria José. O momento ideal para dar azo à veia artística de alguns foi o “Chuva de Estrelas”. Julgo que a iniciativa partiu do nosso Professor de Educação Musical do 6.º ano, Ricardo Pinto; uma pessoa extremamente dinâmica, que envolvia sempre os alunos em atividades e em projetos. Guardo boas lembranças dessas atividades e dos momentos — alguns bem embaraçosos — em cima do palco das estrelas. 47


Nunca mais sairia daqui se relatasse todos os trabalhos que fizemos em EVT com o Professor Magalhães e com a Professora Deolinda e que adorei. As sessões dedicadas ao tema da poupança da água, em que utilizámos placas de linóleo, foram as que mais me marcaram. Guardo religiosamente todos os trabalhos, com os quais pude ficar, numa grande capa que começou a ser personalizada no 5.º ano e que foi reaproveitada e remodelada no 6.º. Também não me esqueci das aulas de gramática da Professora Sílvia de Língua Portuguesa, das atividades que organizava e da 48


forma como nos incentivava a participar em concursos de leitura e de escrita. A chegada do 7.º ano anunciava novas mudanças. Despedimo-nos de professores que nos tinham acompanhado durante o 5.º e o 6.º ano, entre eles a Professora Odete Ferreira de Inglês e a Professora Manuela de Educação Física. E despedimo-nos igualmente de alguns colegas. Novos elementos foram integrados no ano letivo de 1999/2000, dando corpo ao 7.ºA. Este grupo, que continuava a reunir muitos elementos de Bagunte, foi suficientemente unido para 49


angariar fundos para realizar a viagem a Manzaneda e um acampamento de finalistas, no 9.º ano, na casa da nossa colega Kelly. Dividíamos tarefas e fazíamos escalas para vender bolos e outras gulosices, para lavar carros e para vender as rifas para o cabaz de Natal. A ida Manzaneda foi, além de convívio e de divertimento, uma primeira experiência de emancipação: três dias longe de casa e longe dos pais, na companhia dos amigos e dos colegas de turma. Nessa aventura, acompanharam-

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nos as Professoras Carla Galante de Língua Portuguesa, Daniela Gomes de Matemática e Ana Ricardo. O 7.º ano não trouxe apenas isso de positivo, mas também as sessões de Cinema no auditório da escola: recordo-me de ter visto o “E.T”, o “Toy Story 1”, o “Titanic” e “A Cidade dos Anjos”. Eram igualmente agradáveis as tardes de estudo e de trabalho na casa da Tânia com a Diana, o Lívio e a Andreia — reuniões que finalizavam sempre com os deliciosos lanches da D. Fátima. Ou as tardes em que observávamos os jardins e recolhíamos minhocas e 51


bichos-de-conta para os nossos projetos de Ciências com a Professora Sónia Magalhães. Neste período, se houve pessoa que me marcou foi a Professora Isilda Amorim de História. Nunca mais a voltei a ver, mas lembrome do cabelo curto e loiro, dos brincos dourados e do jeito calmo. Foi quem despertou o meu gosto pela História e o desejo de vir a ser um dia professora dessa disciplina — tantas vezes cheguei a casa e fiz de conta que estava a dar uma aula sobre o Egito Antigo ou sobre o Período Clássico, tal como antes o fazia com as matérias de Ciências ou de Língua Portuguesa. 52


No 8.º ano aumentaram as responsabilidades: fizemos a nossa primeira prova global, a de Ciências da Natureza com o Professor Américo Barros, e iniciámos uma nova disciplina, a de Ciências Físico-Químicas com a Professora Dalila Barros. Desse ano letivo, guardo excelentes recordações das aulas de Língua Portuguesa com o Professor Serafim Faria e de atividades como a biblioteca de turma. Foi nessa altura que eu e um pequeno grupo da turma resolvemos iniciar a escrita de um livro de aventuras, reunindo sempre em casa da Rita Leal para discutir as 53


personagens, as cenas e os diálogos. Não sei o que aconteceu à história; melhor recordo as tardes de riso e do escreve e apaga e torna a escrever que nos entusiasmou durante um bom tempo. Nesse mesmo ano, além da Professora Isabel Silva, tivemos igualmente professoras estagiárias na disciplina de História, que eram muito dinâmicas e organizavam atividades muito engraçadas e enriquecedoras. No entanto, nem tudo eram rosas, e, como diz Rui Veloso numa das músicas que

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analisámos nas aulas do Professor Carlos Araújo de EMRC (ainda no 7.º ano): «Não vês como isto é duro, ser jovem não é um posto, ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto». Nesta fase de entrada na adolescência, a nossa turma, quase sempre citada pelo seu bom comportamento, começou a viver alguns momentos de rebeldia, que foram muito bem geridos pela nossa diretora de turma e professora de Matemática, Lúcia Figueiredo. Também guardo boas lembranças desta Professora, que nos acompanhou ainda no 9.º ano. Adorava as aulas e as matérias, o que me 55


levou a participar com assiduidade no concurso “Problema do Mês”, organizado pelo Departamento de Matemática da Escola. Do 9.º ano, tenho imensas recordações das aulas de Francês da Professora Bárbara Sousa — ainda há dias, passeando pela Feira do Livro de Lisboa, encontrei uma coletânea de poemas de Jacques Prévert e nela o poema “Pour toi mon amour” que examinámos numa das suas lições. Adorava também os dias em que ouvíamos canções e estudávamos as letras. Atividades semelhantes realizou connosco

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a Professora Carla Marina de Inglês — incluindo a apresentação de trabalhos e os testes orais, que deviam ser odiados por todos! As aulas e as visitas de estudo organizadas pela Professora Margarida de Geografia eram muito interessantes, sobretudo as sessões de debate em que cada grupo ia previamente bem preparado para defender a sua posição. Recordo-me igualmente das aulas da Professora Olga Veloso, em que analisámos “O Auto da Barca do Inferno” e “Os Lusíadas”, e, claro, das aulas de História do Professor Abílio Santos. Se dúvidas havia sobre a área que queria seguir 57


no futuro, começaram a dissipar-se no 9.º ano: as suas sessões eram verdadeiras lições de história, de geografia, de língua portuguesa, de cultura geral. Com ele fui estando em contacto ao longo dos anos e, ainda hoje, lhe peço bibliografia emprestada e para me dar a sua opinião sobre alguns dos meus textos. Foi nesse ano letivo que resolvi dedicarme a um outro projeto: escrever um filme. A verdade é que não me consigo lembrar se a iniciativa partiu de mim, mas nela me envolvi com grande entusiasmo. Comecei com um pequeno grupo de colegas de turma a preparar as 58


primeiras cenas; no entanto, com brevidade, praticamente toda a turma estava envolvida e quase todos tinham um papel a representar. Chegámos mesmo a filmar uma cena no Museu dos Transportes e Comunicações no Porto. No final do ano letivo, o acampamento que fizemos na casa da Kelly foi um momento de convívio e de despedida de colegas e amigos que, em alguns casos, permaneciam juntos desde o infantário ou desde a escola primária. A partir daí, cada um estava preparado para escolher e trilhar novos caminhos.

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Ao longo dos cinco anos em que estive na Escola, houve outros eventos de festa e de partilha que recordo com certa nostalgia como as Feiras da Primavera e as Comunhões Pascais. Lembro-me igualmente da Semana Aberta — que se realizou quando eu andava no 5.º ou no 6.º ano — repleta de atividades que proporcionavam momentos de aprendizagem e de convívio antes do início das férias de verão. Para finalizar, deixo apenas estes dois apontamentos: Primeiro, estas notas soltas resultam da minha perceção desse tempo e, como diria 60


Alice Munro, algumas destas linhas podem não ser exatamente verdades de facto — porque muita coisa foi esquecida, pensada, repensada e reconstruída — mas são-no de sentimento. Em segundo lugar, sei que não referi funcionários, alguns professores e muitos colegas de turma porque, nesse caso, teria de escrever um livro! No entanto, é com muito carinho que recordo a maioria. Filipa Lopes XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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18 Anos depois escola Dr. Carlos Pinto Ferreira volta a reunir os primeiros alunos Com o atingir da maioridade, a Escola EB 2+3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, na freguesia da Junqueira, em Vila do Conde, decidiu reunir os alunos que entraram neste estabelecimento de ensino no ano da sua inauguração. Poderia ser este o início de uma notícia sobre o estabelecimento de ensino que me acolheu há 18 anos, quando passei da primária para o básico. Mas, este texto terá um cariz diferente, falará de memórias passadas durante os

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cinco anos que frequentei a ‘escola da junqueira’. Na carta que recebi pediam para escrever um ou vários momentos marcantes da minha vida no período em que frequentei a escola Dr. Carlos Pinto Ferreira. Eu optei por escolher o conjunto de memórias, pois a minha passagem, por este estabelecimento de ensino, foi constituída por vários momentos bons e maus. Posso dizer que foi na ‘escola da junqueira’ que descobri o fascínio pelo jornalismo e me fez querer abraçar esta profissão que hoje exerço. Encontrei esta minha vocação no dia em que 63


formaram o jornal “Aguarela”. Ainda me lembro dos meus dois artigos. Um foi sobre o Bill Clinton (ex-Presidente dos EUA) e outro sobre o Papa João Paulo II (recentemente beatificado e que morreu em 2005). Talvez daí o meu outro fascínio. O pela política, mais concretamente pelo internacional. Também foi aí que descobri o cinema, quando juntamente com outras colegas formamos um grupo de vídeo. Ainda me lembro da grande adesão que o filme ‘Titanic’ teve. A escola também tinha uma rádio, que eu achava estar a ser desperdiçada. Muitas vezes 64


dizia que podiam passar músicas diferentes (já na altura tinha uns gostos peculiares na área musical), podiam passar notícias sobre a escola, etc. Mas, nunca me deram ouvidos! Lembro-me, por exemplo, das sessões de dança nos intervalos das aulas. De as bandas preferidas dos adolescentes serem os ‘Black Street Boys’ ou as ‘Spice Girls’. De no 5º ano tentarmos ser sempre os primeiros a chegar à sala de aula e à porta da cantina. Lembro-me da austera Dª Fátima, que segundo a minha irmã ainda exerce funções na ‘escola da junqueira’.

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Foi nessa escola que descobri o fascínio pela História e pelas Ciências, onde aprendi aprendendo, e descobri que o mais importante nesta vida é o conhecimento. Pois, uma pessoa sem o conhecimento não é nada, não sabe defender-se do mundo perverso e não tem, sobretudo, uma opinião na sociedade. Uma pessoa sem conhecimento não questiona, não luta pelos seus ideais. Daí a importância do conhecimento, do saber, da língua. Quando passam uns anitos, depois de sairmos da escola, apercebemo-nos do quão importante é a matemática, o português, as ciências, as artes, as línguas. A 66


vida ensina-nos que aquilo que apreendemos ao longo da vida académica é muitíssimo importante para o nosso dia-a-dia. Todos os dias usamos equações matemáticas, como por exemplo, quando vamos ao supermercado e temos de calcular os descontos. O português é importante para lermos um livro, para percebermos as notícias, para comunicar. Já Fernando Pessoa dizia: “A minha pátria é a Língua Portuguesa”. Eu por exemplo, todos os dias aprendo algo novo, daí adorar o jornalismo. Tenho uma licenciatura e um mestrado, estou a tirar um curso de inglês e pensar em tirar uma pós-graduação. 67


Depois deste pequeno parêntesis, sobre a importância da aprendizagem, vamos voltar ao tema principal deste texto: as memórias vividas na escola Dr. Carlos Pinto Ferreira. A coisa mais importante que me lembro são as amizades que aí fiz, dos bons amigos que conheci nessa escola e que ficarão para sempre na minha memória. Como a Fátima Ramos, a Fátima Matos, a Fátima Alexandra e Verónica. Éramos uma espécie de cinco Mosqueteiros. Andávamos sempre juntas, vivíamos aventura e partilhávamos histórias.

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Mas, nem tudo foram coisas boas. Já na altura existia o famoso bullying, que na altura não tinha este nome e nem lhe era dado a devida importância. Primeiro chamavam-me sorriso metálico (porque usava aparelho) e depois quando comecei a usar óculos, passaram-me a chamar caixa de óculos. Nada disto me deitou a baixo, mas pelo contrário, tornou-me mais forte. Concluindo, que o texto já vai longo e tenho de deixar espaço para as memórias de outros ex-alunos, todas as experiências vividas nessa escola foram importantes. Mesmo as 69


más. Tudo me ajudou a formar a minha personalidade, a arquitetar a pessoa que sou hoje. A palavra ‘desistir’ não existe no meu vocabulário. Luto todos os dias por um país e por um mundo melhor. Espero que este texto inspire os alunos, que passados 18 anos, frequentam a mesma escola que eu frequentei.

Marisa Alexandra Costa Ferreira 1996/2001 XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

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